sábado, 23 de fevereiro de 2008

Rodrigo Volponi Leal (1979)

Nome: Rodrigo Volponi Leal
Apelido: Volponi, Volps, Volpa e variantes
Idade: 28 (05/09/79)
Time: Timão (é que nem gonorréia: passa de pai pra filho) e Linense (o Elefante da Noroeste)
Formação: 4-4-2 (e Publicidade na ECA)
Ocupação, por obrigação: webdesigner/webmaster/webslave
Ocupação, por interesse: testador de bugs do SimCity, pseudo-tocador de violão, mas prefiro ocupar mesmo é a rede (não a web, a de dormir).
Livro de cabeceira: Pequeno Príncipe. Veríssimo, Veríssimo, Veríssimo. Guimarães. Rubem Fonseca, Mário Prata, João Ubaldo. Saramago, Cortázar, Calvino.
Influências: Veríssimo, Jorge Ben, BB King, Natural Born Killers, O Mistério do Cinco Estrelas, Papai Papudo, Corra Lola, Corra, There’s Something About Mary. South Park, Picapau. Doce de abóbora da vovó.
Se você fosse Presidente da República, qual seria sua primeira medida?
90 de busto, 60 de cintura e 90 de quadril.
Se você fosse chefe do Comando Vermelho, qual seria sua primeira medida?
Dar uma variada nas cores do Comando. Monocromatismo dá sono. Poderíamos montar uma bela paleta de cores, mesclando a impetuosidade do vermelho, a força do preto, a leveza do…

Volponi por Rafael da Paixão Uyeda:
Esse é o cara. Se tudo vai mal, ele vai bem. Se tá triste, fica alegre. O coisa ruim é pra frentex (e no cabelo só gourmex). Incomunmente inteligente. Às vezes a inteligência para em um copo americano de cerveja, mas ninguém é de ferro! Sorriso largo, jeito bonachão (sempre quis dizer isso de alguém), é um cara alegre, um rapaz alegre (sem versões em inglês). Volponi, inteligente alegria que vai por aí ….

Volponi por Paulo Coelho:
O Volpa é o nosso candidato a integrante do STOMP. Às vezes, tenho certeza que batucar é para ele tão necessário quanto o ar para nós. E como em qualquer batuqueiro que se preze, sobra agitação e empolgação. Mesmo a tristeza, quando aparece, fica menos séria. Esse nosso amigo é um batuque animado e inquieto, muito mais interessante do que samba enredo e… Ô… Ei…. Especialmente amarrado na cadeira! Quer parar de batucar e me deixar escrever?

Volponi por Volponi
Que coisa ! Sei lá como eu sou. A gente é a gente e pronto, certo? Então… só conseguimos saber como é uma pessoa (e nós mesmos!) por partes. Sempre em pedacinhos, sempre de uma forma fragmentada. Não tente reunir esses cacos: o mosaico é sempre mais belo que o vidro plano, transparente e sem graça. Eu também sou vários pedacinhos ao mesmo tempo: às vezes, um cara que corre pro interior (Lins) pra curtir um sossego, os amigos e um churrasco. Outras vezes, um cara ansioso que não pára de se mexer (e de batucar, e de falar, e de escrever, e etcéteras…). Outras vezes ainda, um cara que quer só ficar no seu cantinho, curtindo um Guimarães na buena. Ou South Park. Ou discutindo a força da mídia. Ou querendo ser radical contra conformismos e hipocrisias. Outras vezes sendo conformado e hipócrita. Mas o que importa é ir tocando o barco pra frente, de uma maneira leve e aproveitando o que a vida tem de bom ou ruim. Tá, tudo isso é um papo meio chato, meio babaca, mas pôxa! Vamos rir e chorar (principalmente rir) à vontade…

Fonte:
http://www.cronistasreunidos.com.br/quemsomos/volponi/

Rodrigo Volponi Leal (Confecções Saxofone)

Esta é uma história verídica, sobre uma loja que realmente existe, chamada “Confecções Saxofone Ltda”. Só o resto é que é fictício, claro. Ou você consegue imaginar como esse nome ridículo foi escolhido para uma lojinha? Pura obra de ficção.

Digamos que o nosso personagem se chame Carlos. Não, Lucas. Melhor: Lálio. Isso, Lálio é sonoro, aliterante, perfeito. Vejamos. Ele tem mulher, dois filhos, talvez um cachorro. E é desempregado. Por que desempregado? Bom, já que estamos imaginando uma história do dono das “Confecções Saxofone”, nada mais óbvio de que esse cara tem que ser um desempregado para escolher um nome desses. Portanto, desempregado. Ou artista. Melhor: desempregado e aspirante a artista. Aspirante a artista é quase o mesmo que desempregado, mas você entende a diferença semântica entre o que ele acha que é e o que a mulher acha dele.

Ótimo, agora já temos até um começo de trama: a mulher o chama de desempregado. E ele sempre retruca dizendo que é um aspirante a artista, que ela não entende, que ele um dia vai fazer sucesso. “Não existe tocador de timba melhor do que eu num raio de 2 quilômetros!”, dizia ele. Temos que explicar a você, leitor, para que esta história faça um pouco de sentido, que Lálio não é apenas o tocador de timba do grupo, que se chama, vejamos, Ótica do Samba. Lálio é um aspirante a músico. Por isso, além de timba, ele toca cavaquinho, pandeiro e até bateria, quando os vizinhos estão viajando. Sua casa respira música. Bom, pelo menos o Lálio respira música, porque sua mulher respira o cheiro de cachaça e cigarro da roupa dele.

— Lálio, seu vagabundo! Estava de novo no Knex’s Bar com “aqueles” amigos ?
— Calma, querida, estava só ensaiando para o novo sucesso do Ótica do Samba.
— Sucesso, Ótica do Samba, cachaça… você pensa que eu sou idiota? Precisamos de sustento, e a grana que veio do falecido ja-já acaba. Quando é que vai começar a trabalhar, hein?
— Vai dar certo, desta vez vai dar certo.
— Sei, sei… como aquela vez, daquele coral idiota, como é que se chamava?
— Cobra Coral.
— E olha o nome, meu Deus, olha o nome!
— Você queria o quê? Era o coral de ex-recrutas do Batalhão! E a gente até cantava afinadinho…

Um dia, o grupo se desfez. O Carlinhos, que comandava o bumbão, desistiu. Foi vender Bíblia no centro. Espírita. Justo ele, que era primo do dono do Knex’s, o boteco dos ensaios. Agora não haveria novos ensaios. E o bairro da Suprema Caixeta não tinha mais o Ótica do Samba como grupo oficial.

Lálio sentia-se desolado. Como poderia sair dessa? Agora ele se via sem trabalho, sem grupo de pagode, sem desconto no bar e sem o maço de cigarros, que ele perdeu. Tomou uma atitude inesperada. “Vou comprar cigarros”. E foi. Depois do décimo-terceiro cigarro, veio-lhe a idéia: comprar um saxofone. Um saxofone dourado, reluzente, o som dos céus. Era o instrumento que sempre desejara tocar. Um saxofone seria o símbolo do prestígio que coroaria sua carreira de aspirante a artista. E pensar que ele tinha começado lá no Knex’s, batucando caixa de fósforo recheada de pedrinhas. Primeiro o pessoal do grupo tentou agredi-lo, mas viram que não adiantaria e deixou Lálio fazer parte, contanto que ele dançasse no ritmo. Foi difícil, mas ele conseguiu. E o saxofone deixaria todo mundo morrendo de inveja do seu talento.

Correu até a mulher para contar a brilhante idéia. Ela o esperava carinhosamente, de braços cruzados e com um enorme martelo de amaciar bife na mão esquerda. Por uma estranha razão que Lálio não compreendeu, a mulher não gostou da proposta. Para ela, um saxofone seria um absurdo, e essa “palhaçada” só faria sentido na cabeça de alguém que era, numa tradução livre de sua fala, um “bêbado desempregado que chega em casa cheirando a cigarro e que não quer nada da vida, seu vagabundo”. Ela tinha uma idéia muito, muito melhor, mais pé no chão. Abriria uma lojinha de roupas para gatos, copiando a madame da revista “Excêntricos Per Si” que tinha um siamês vestido de marinheiro. E eles ficariam ricos, e Lálio poderia ajudar na loja como um vendedor atencioso, limpo e cheiroso, bem diferente desse músico de “um quarto de tigela”.

— Mas Martifestana - era esse o nome da mulher -, meu amor !!! Que idéia absurda é essa? Roupa pra gato?
— Melhor que gastar o dinheiro com um saxofone, pra nada!
— E quem é que quer vestir gato?
— Ué, não comida pra gato? Não tem cama pra gato? Não tem médico pra gato? Só falta roupa e cabeleireiro…

No fim, não foi uma coisa nem outra. Martifestana viu que os únicos possíveis clientes roubavam o bife da cozinha, e esses não tinham dono algum para vesti-los. Ainda mais com a última tendência da moda. A “Miau Confecções” não saiu do papel. Mas o saxofone saiu, graças ao empenho de Lálio. Está lá, na plaquinha na frente da garagem da casa. “Confecções Saxofone”, onde Lálio finalmente aprendeu as diferenças entre “robe” e “bustiê”.

Fonte:
publicado em 17/07/2001 em
http://www.cronistasreunidos.com.br/volponi/2001/07/confeccoes-saxofone/

Paulo Coelho (Como Andar de Bicicleta)

- Numa boa, eu já te falei o que é isso.
- O que?
- Estamos ficando velhos.
- Isso é bobagem. Temos só 30 anos. Não é o suficiente para causar todo esse estrago. Ou é?
- É isso sim. Para sobrevivermos aos 40 temos que nos mexer já.
- E vamos fazer o que?
- Exercício. Chega de ser sedentário.
- Putz, não tem outro jeito não?
- Que outro jeito?
- Sei lá. Um comprimido, uma massagem, ou uma injeção que seja.
- Caramba. Você prefere tomar uma injeção do que fazer exercício?
- Claro. Todo mundo. Você vê, de graça, até injeção na testa, mas nada de correr na esteira…
- Faz sentido.
- Todo.
- Mas não tem jeito não. Nosso problema só se resolve com exercício. Escolhe um aí.
- Ah, sei lá. Qual que tem?
- Como qual que tem? Você quer o que? Um cardápio de exercícios?
- É assim que entendo o mundo. Cardápios ou catálogos.
- Bem, então vai ter que aprender uma coisa ou outra agora. Não se precisa de cardápio para fazer exercício, está em nossa natureza.
- Cara, numa boa, minha ligação mais próxima com a natureza é o tabaco do meu charuto.
- Ok. Vou facilitar pra você. Você pode correr.
- Correr de que? Pra onde?
- Só correr.
- Mas por qual motivo?
- Pra fazer exercício.
- Não faz sentido. Se for correr tem que ser para algum lugar.
- Não precisa. Você pode correr na esteira.
- Ah sim, agora faz sentido. Vou ficar me matando de correr para não sair do lugar.
- Ta bom , ta bom. Então nada.
- Nada? Ótimo, isso eu sei fazer bem.
- Palhaço. Natação. É o exercício mais completo que existe.
- Ah, eu não acredito em natação. Acho que não é exercício.
- Como assim?
- Não acredito num exercício que não te faz suar.
- Mas você está dentro da água, como poderia suar.
- Não me importa. Só é exercício quando sua. Isso eu sei. Vi na ESPN.
- Falaram isso na ESPN?
- Não. Mas é a única fonte que lembrei.
- Numa boa. Chega.
- Ótimo, paramos com essa besteira então.
- Paramos vírgula. Você parou. Eu vou fazer exercício.
- Pó.
- Pó o que?
- Achei que estávamos juntos nessa.
- Nessa o quê?
- Ah, nessa. De morrer com 40.
- Não, eu tenho muito o que fazer ainda depois dos 40.
- O que por exemplo?
- Escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho…
- Blé. Bando de coisa sem graça.
- Pagar mais barato por ser idoso.
- Hummm. Verdade.
- É.
- Me convenceu. Me ajuda aí. Eu faço exercício. Faço o que você fizer. É só falar.
- Vou andar de bicicleta.
- Ah, isso eu não posso. Já faz muito tempo que não ando. Esqueci como faz. Melhor deixar pra lá.

Fonte:
Disponível em http://www.cronistasreunidos.com.br/paulocoelho/arquivo.htm
acesso em 23 de fevereiro de 2008.

Larissa Evelyn de Oliveira (Nossas Lendas, Nossos Medos)


Nasceu no dia 01/10/94 em Taquarituba, SP. Gosta muito de ler e é “freguesa de carteirinha” da Biblioteca Municipal. Seu gosto pela leitura começou desde cedo e aos 10 anos já tinha lido diversos livros de Richard Bach. Ela adora Hemingway, porém, lê também escritores nacionais. Já fez alguns cursos de teatro e de pintura em telas. Gosta de ler e escrever poesias. Parece que em suas veias corre um sangue literário, pois ela é irmã da jovem escritora Ana Paula de Cássia, também colunista no Sorocult.com. Seu passatempo predileto é desenhar, o que ela faz com grande desenvoltura e prazer.
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Nossas Lendas, Nossos Medos

Eu não deveria mas vou te contá
Pois com toda certeza
Nessa história você não vai acreditá
Foi numa noite de rara de beleza
Depois de um barulho algo fui avistá
O bicho era feio, assustei-me com sua braveza
E de tanto medo comecei a gaguejá
Foi então que percebi que aquela criatura era o famoso boi-tá-tá

Sai dali desesperada
E o que aconteceu vou contá para você
Ao passar por uma encruzilhada
Minhas pernas bambearam e eu não consegui corrê
Seitei-me e o que vi deixou-me mais apavorada
Minha voz se calou, nada eu consegui dizê
Pois ali do meu lado estava o danado do Saci-pererê

Depois disso acho até que desmaiei
E já era madrugada quando eu acordei
Tentei andá, pois dali eu teria que ir embora
O perigo era grande, tinha que sair dali agora
Pois atrás de uma árvore, olhando para mim, eu vi uma Caipora

Fiquei chorando e nem imaginei que o meu susto derradeiro
Fosse um susto tão bom, pois avistei aquele cavaleiro
Que ao passar por mim disse: vamos, pois eu não sou um menino arteiro
Eu sou apenas um garoto do bem,
sou conhecido como o Negrinho do Pastoreiro

Fonte:
Sorocultinho. Disponível em
http://www.sorocult.com/

Joaquim Evónio (1938)

Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos nasceu na Freguesia de Santa Maria Maior, Funchal, Madeira, a 3 de Setembro de 1938.

- Licenciado em Ciências Militares - Coronel de Infantaria na situação de Reforma Extraordinária. -Licenciado em Ciências Sociais e Política Ultramarina pela UT de Lisboa.
- Auditor do Curso de Defesa Nacional - CDN 83
- Certificado de "Proficiency in English" - British Institute - Lisboa.
- Aposentado como Assessor Principal do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC).
- Condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com Palma
- Grau de Comendador da Ordem Heráldica da Paz Universal (Brasil).
- Medalha de Ouro Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Melo, do Parlamento Mundial para Segurança e Paz, Palermo.
- Honorary Knight of the Royal Order of the Lion of Rwanda (atribuída pelo Rei KIGEL V).

- Gera, desde Fev 04, a "Varanda das Estrelícias - Uma Ponte sobre o Atlântico" seu site - www.joaquimevonio.com - onde promove a difusão da língua e cultura lusófonas, (artes plásticas, poesia e prosa).

• Associações a que pertence:
- Associação Portuguesa de Escritores (APE)
- Associação Cultural SOL XXI (extinta recentemente)
- Instituto Açoriano de Cultura (IAC)
- Sócio honorário da Ordem Nacional de Escritores do Brasil (ONE)
- Associação Escadote Cultural
- Associação de Música e Artes dos Arquipélagos (A.M.i.M.A.R)
- Associação de ex-Auditores dos Cursos de Defesa Nacional
- Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA)
- Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES)
- Núcleo de Apoio ao Centro Desportivo Universitário de Lisboa (NACDUL)

• Publicações:
POEMAS

ESBOÇOS PESSOANOS - Poemas sobre desenhos de José Jorge Soares - Ceres Editora, Lda., Ponte de Lima, 1994.
• Poesia:

CONTOS:
SOMBRA EM CLAVE DE SOL , Universitária Editora Lda., Lisboa, 1999. Desenhos de José Jorge Soares.

PREFÁCIOS:
MARCELLO E SPÍNOLA - A RUPTURA (1.ª edição), Manuel Bernardo, Edições Margem, Lisboa, 1994.

MATA-COUROS OU AS "GUERRAS" DO CAPITÃO AGOSTINHO, Carlos Gueifão, Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

A ÚLTIMA ESTAÇÃO - Simone Maia, Gráfica Expressão, S. Paulo, Brasil - Copyright 2004 by Simone Maia, Fundação Biblioteca Nacional sob o n.º 332 218

MARGENS DO ATLÂNTICO - (Antologia internacional) - PROJECTO ABRALI - Curitiba, Brasil, Março 2006

ENSAIOS:
A FUNÇÃO UNIFICADORA DO CONFLITO Trabalho apresentado no âmbito do Curso de Sociologia (1.º ano, pós-graduação, 1.º Semestre) na disciplina "História dos Conflitos Sociais", Universidade Livre de Lisboa - 1981

A AZENHA E AS TECNOLOGIAS TRADICIONAIS Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "Tecnologias Tradicionais Peninsulares", regida pelo Prof. Doutor João Pereira Neto, 1983/84

DIÁRIO DE CAMPO - As Azenhas do Rio Boição Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "Planeamento de Trabalhos de Campo em Antropologia" regida pelo Prof. Manuel Alfredo Morais Martins, 1983/84

O SISTEMA DE PARENTESCO COMO FACTOR DE SOBREVIVÊNCIA Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, " Sistemas de Parentesco " regida pelo Prof. Manuel Alfredo Morais Martins, 1983/84 A

SOCIOBIOLOGIA E O SISTEMA DE CRENÇAS Trabalho apresentado no âmbito da Cadeira Semestral do Curso conducente ao Mestrado em Ciências Antropológicas, ISCSP, "O modelo biológico", regida pelo Prof. Dr. Luís E. Franco Ré, 1983/84

LIVROS COLETIVOS:
-INDIVIDUALISMO E SOLIDARIEDADE HOJE - compilação dos trabalhos premiados nos VI Jogos Florais, edição da Junta de Freguesia de Amora, 1994.

-CÂNTICO EM HONRA DE MIGUEL TORGA - Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra - Coimbra, 1996.

-ANTOLOGIA DE CONTOS, Edição SOL XXI, Carcavelos, 1997.

-FLORILÉGIO DE NATAL, pelos poetas da Tertúlia "Rio de Prata", Universitária Editora Lda., edições de 1997, 1998 e 1999.

100 ANOS - FEDERICO GARCÍA LORCA - Antologia, Homenagem dos Poetas portugueses, Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

-RIMBAUD - Révue Semestriel Internacional de Création Littéraire, Editeur John Donne & Cie., France, 1998.

-Homenagem a FERREIRA DE CASTRO, pelos escritores da Tertúlia "Rio de Prata", Universitária Editora Lda., Lisboa, 1998.

-GABRAVO - colectânea - ARTDOMUS, S. Pedro de Sintra, 2002

-NA LIBERDADE - Antologia Poética - 30 anos - 25 Abril - Coordenadores: Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho - Garça editores.

-Homenagem a TEIXEIRA de PASCOAES - pelos escritores da Tertúlia "Rio de Prata" e convidados - Execução Gráfica: E. Santos - Artes Gráficas, Lda.

Antologia de Escritas 2, Organização de José Félix, Impressão Quilate, Lda.

Antologia de Escritas 3, (Homenagem ao Poeta José António Gonçalves), Organização de José Félix, Impressão Quilate, Lda.

-CASANOVA Ferreira - A Marecida Homenagem - Uma filha convida uma vintena de Amigos a depor sobre o Homem. O Livro surge de surpresa no almoço do seu 75.º. aniversário.

-CANTOS DO MUNDO - Antologia Literária Internacional - Versos e Prosa - -PROJECTO ABRALI, Curitiba, Brasil, Março 2006

-POETÂNEA 5, Coordenação de Julião Bernardes, 1.ª edição, Setembro de 2006)

COLABORAÇÃO:
em poesia e/ou prosa nas revistas:
SOL XXI, VIOLA DELTA, ATLÂNTIDA, GAZETA DE POESIA, ARTES & ARTES e LÍMIA.

Recensões e apresentações de obras literárias:

Diversas Revisões tipográficas:

Diversas obras literárias e textos avulsos em poesia e prosa

Fonte:
www.sorocult.com

Joaquim Evónio (Carta-Poema do Amor Universal)

foto de Martos Ribeiro

Não invoque meus poderes soberanos... depois não os poderá controlar... nem a eles, nem aos efeitos que provocam sobre nós!

Deixe-os descansar na concha em que dormem desde épocas remotas...

Vamos brindar aos tempos antigos em que nossas almas desnudas passeavam por entre as flores do paraíso... e os corações revoltos ansiavam asas para ganharem eternidades...

Momentos em que o mais ligeiro e efêmero afago epidérmico era um vulcão de primavera florida, transpondo almas e corações para o apex do universo...; numa transmutação que já não se sabia onde começava ou acabava, exatamente porque não tinha princípio nem fim...

Também não tinha morada, era mudança em andamento perpétuo, órbita estelar em movimento, beijos caídos do espaço e recolhidos nas taças quentes dos seios sequiosos...

Vôos sem pássaros ou borboletas dentro, apenas harmonia ou música sem pauta ou instrumento, melodia ou som flutuante sem apoio material, beijo sem lábios ondulantes caído nas mãos seduzidas duma amante amada para sempre abraçada ao seu amor...

Sem braços, sem corpo, só alma... chuva na ausência de tempestade sobre o sensível orvalho brotante em gotas de gineceu... à espera do fecundo néctar vindo do sidério, puro e filtrado pelas nuvens caprichosas de todos os céus, para descansar finalmente naquelas pétalas abertas, quase receosas mas abertas, altar iluminado à espera do amor...

Aproveita o silêncio da campina e faz dele o sino desta noite, bebamos o maná que brota de nós e trocamos de forma só nossa e profunda, transforma toda a canção em emblema de amor... E voa... Voemos como prosélitos que somos, por entre as nuvens de flocos brancos ou cinzentos, qualquer côr serve à limpidez dos sentimentos que nos enlevam e transportam por esse espaço etéreo...

Não fales, deixa selar de beijos esses lábios cansados da vida de mágoas, guardá-los num recôndito espaço do meu coração grande e forte, ali ficarão para sempre como recordação de toda a ternura da vida, até que a vida dure...

E enquanto formos capazes de voar, haverá juventude nestes corações ágeis e turbulentos, criadores e aventureiros, navios nos desertos dos ares ou gigantes contra todas as agruras que se lhes deparem....

Navegadores somos para sempre, objetivos temos e os buscamos com ardor, havemos de descobrir todas as terras por descobrir, e os céus também, e os espaços... e o que para além deles porventura ficar...

Somos os argonautas da amanhã porque já de ontem viemos e construímos um ninho de amor donde nasceram estes pássaros viandantes capazes de descortinar futuros inesperados e de lançar olhares de fogo sobre as madrugadas receosas de amanhecer para os corações apaixonados...

Viajaremos à vela ou apenas impulsionados pelo vento do amor... chegaremos ao nosso Shangri-lá e aí repousaremos e meditaremos para continuar a viagem eterna a que nos propusemos a bem da humanidade que acreditou em nós!...

Lá em baixo, aquela aldeiazinha é cada vez mais pequena, liliputiana, quase tão ridícula como as disputas dos homens, e aqui vamos nós, supernos e viajantes, nautas de hoje e de sempre, espargindo pelo universo o que somos e o que queremos...

A missão é grande mas ao nosso alcance, precisa de força, de muita força, daquela que só as sinergias do amor podem recolher para distribuir por todos quantos dela precisam para nos acompanharem nesta navegação de rumo certo e decidido!

Deram-se as mãos, entrelaçaram-se os corações, a humanidade ficou mais forte! Que poderá recear? Está mais do que nunca pronta para enfrentar o futuro. Este é o desconhecido e o desconhecido é o amanhã. Para lá chegar é indispensável ter aprendido o ontem e dissecado o hoje... Temos a certeza, porque não estamos sós, de que lá chegaremos....

O nosso objetivo, qualquer forma que revista do ponto de vista formal, só pode ter um nome, pois foi prosseguido e consolidado por nós. Esse nome só pode ser VITÓRIA!
Março de 2006

Fonte:
Site Varanda das Estrelícias
http://www.joaquimevonio.com/

Douglas Lara (Uma Reserva no Meio da Noite)

Acordei recordando claramente de um sonho que tive. Nele, recebi um telefonema de uma mulher desejando reservar uma mesa. Seria a primeira vez que ela iria a um de nossos bailes e sempre que isto acontece damos atendimento especial. Este atendimento poderá resultar num novo/a sócio/a. Cuidadosamente, disse a ela que não sabia se ainda tínhamos mesas disponíveis, mas que, com certeza, daríamos um jeito. Na realidade, eu estava preocupadíssimo porque não saberia se poderíamos acomodar uma mulher na festa. Sendo assim, procurei saber um pouco mais daquela senhora, fazendo algumas perguntas para obter mais detalhes.

Neste sábado especial do mês – afinal é dia do baile mensal do Clube da Amizade de Sorocaba – acordei recordando claramente de um sonho que tive. Nele, recebi um telefonema de uma mulher desejando reservar uma mesa. Seria a primeira vez que ela iria a um de nossos bailes e sempre que isto acontece damos atendimento especial. Este atendimento poderá resultar num novo/a sócio/a.

Cuidadosamente, disse a ela que não sabia se ainda tínhamos mesas disponíveis, mas que, com certeza, daríamos um jeito. Na realidade, eu estava preocupadíssimo porque não saberia se poderíamos acomodar uma mulher na festa. Sendo assim, procurei saber um pouco mais daquela senhora, fazendo algumas perguntas para obter mais detalhes.

- Você vem só ou acompanhada?

Ela, sem me dizer seu nome, respondeu:

- Gostaria de ir acompanhada do meu amor, só que ele é casado e num sábado não pode deixar a família para sair só à noite...

Pensei: aí tem treta. Então arrisquei:

- Se não tem a possibilidade de dançar com seu amor, venha com seu marido mesmo!

Sabia que estava sendo abusado, só que o diálogo no sonho era tão amigável que achei que poderia continuar sendo mais atrevido nas minhas perguntas, e, repentinamente, tentar lhe proporcionar um bom divertimento, mesmo que fosse com o marido. Então continuei:

- Senhora, caso não venha com o marido, pode dançar com um 'free-dancer'.

- Moço, chamou-me perguntando, o que é este tal de 'free-dancer'?

Expliquei-lhe que como existem alguns cavalheiros disponíveis para mulheres desacompanhadas no baile, para que estas não fiquem sem dançar.

- Moço, com jeito dúbio indagou-me, e isto não custa nada a mais?

Era óbvio ela perguntar sobre isso. Tudo se paga hoje em dia! Se bobear, daqui um tempo estará pagando para respirar. E ela precisava saber o que estava comprando, senão depois agüenta o Código de Defesa do Consumidor! E ela tinha o direito de saber. Mas o que mais me intrigava era tudo isso num sonho! Deve ser o subconsciente. Disse a ela que no preço do convite já estava incluído o 'free-dancer', aproveitando para informar que ela podia dançar a vontade sem limite de contra-danças.

Mas minha curiosidade era forte e resolvi sair da passividade e perguntar, afinal telefone sempre nos dá mais coragem, não estamos olhando para o rosto da pessoa mesmo!

- Quando a senhora beija, costuma beijar de olhos fechados ou abertos?

Ela mudou o tom de voz na mesma hora e voltou à formalidade. Parou de chamar de moço. Deve ter pensado “respeito é bom e eu gosto, não acha que tais perguntas devem ser feitas apenas quando temos intimidade?”. Fiquei sem graça e pedi que esquecesse esta questão, apenas perguntei por perguntar.

Decidi ser um pouco mais objetivo e menos abusado nas perguntas.

- Senhora, por gentileza, a mesa e convites são para quantas pessoas?

Ela, que deveria estar perdida até mesmo em saber o que queria, respondeu “ainda não sei”.

Esta venda dura de fazer!!! Parti para outra pergunta, tentando direcionar a conversa e resolver o problema da dançarina.

- E a senhora costuma dançar de rosto colado?

- Lá vem o senhor novamente com perguntas inconvenientes!! Por quê? Neste baile não se pode dançar de rosto colado?

- Pode sim, desde que seja com respeito! – retruquei.

- Senhor, perguntou-me finalmente, por que tantas perguntas?

- A senhora está desde o início dizendo que gostaria de vir ao baile e dançar com seu amor, só que ele é casado! Estou apenas tentando acomodar uma situação que a maioria das pessoas que vem ao baile tem. Desculpe. Não vejo problema em a senhora beijar e dançar com olhos fechados. Não importa que seu parceiro não seja seu amor. Dance e beije de olhos fechados, imaginando estar dançando e beijando seu amado. Dá no mesmo!

Precisava terminar aquela conversa e desligar o telefone, então disse:

- Senhora, preciso desligar, pois tenho outro interessado esperando na outra linha. Pense e telefone mais tarde e diga qual foi a decisão. Terei o maior prazer em fazer a reserva.

Acordei com o telefone tocando. Atendi, ainda meio dormindo, pensando que seria a mulher novamente. Não era, não. Era um dos diretores: “Douglas, acorde e venha ajudar a preparar o clube para o baile de hoje à noite, estamos precisando de você”.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

O êxito do Código da Vinci (Umberto Eco)

Todos os dias vem parar em minhas mãos um novo comentário sobre O Código da Vinci, de Dan Brown. Se quiserem uma informação atualizada sobre todos os artigos a respeito do tema, basta visitar o site da Opus Dei. Podem confiar, mesmo se forem ateus. Quando muito - como veremos - a questão talvez seja por que o mundo católico se azafama tanto para arrasar o livro de Dan Brown; mas quando a parte católica explica que todas as informações que o livro contém são falsas, podem acreditar.

Que fique claro. O Código da Vinci é um romance, e como tal, teria direito de inventar o que quisesse. Além disso é escrito com habilidade e o lemos de um só fôlego. Nem é grave que o autor de início diga que o que nos conta é verdade histórica. Só faltava essa! O leitor profissional está acostumado a esses apelos narrativos à verdade, fazem parte do jogo ficcional. A encrenca começa quando percebemos que um grande número de leitores ocasionais acredita realmente nessa afirmação, da mesma forma que no teatro de marionetes siciliano os espectadores insultavam Gano de Maganza, o traidor.

Para desmontar a suposta veracidade histórica do livro, bastaria um artigo razoavelmente breve (e já andaram escrevendo uns ótimos) que diga duas coisas: a primeira é que todo o episódio de Jesus que se casa com Maria Madalena, de sua viagem à França, da fundação da dinastia merovíngia e do Priorado de Sion é tudo quinquilharia que já circulava há décadas numa pletora de livros e livrinhos para os devotos das ciências ocultas, desde aqueles de Gérard de Sède sobre Rennes- le-Chateau ao O Santo Graal e a linhagem sagrada de Baigent, Leigh e Lincoln.

Ora, que tudo isso contivesse uma longa série de lorotas já foi dito e demonstrado há um bom tempo. Além disso, parece que Baigent, Lincoln e Leigh ameaçaram (ou realmente iniciaram) uma ação judicial contra Brown, por plágio. Como assim? Se eu escrever uma biografia de Napoleão (narrando eventos reais), depois não posso processar por plágio alguém que tenha escrito outra biografia de Napoleão, ainda que romanceada, narrando os mesmos eventos históricos? Se eu fizer isso, então me queixo do roubo de uma originalíssima invenção minha (ou seja fantasia, ou lorota, como preferirem). Brown dissemina seu livro de inúmeros erros históricos, como aquele de ir buscar informações sobre Jesus (que a igreja teria censurado) nos pergaminhos do Mar Morto - os quais não falam nunca de Jesus, mas de assuntos hebraicos como os Essenes. É que Brown confunde os manuscritos do Mar Morto com aqueles de Nag Hammadi. Ora, acontece que a maioria dos livros que aparecem sobre o caso Brown, mesmo e especialmente aqueles bem feitos, para poder alcançar o número de páginas suficiente para fazer um livro, contam tudo o que Brown saqueou, tintim por tintim. Esses livros, em alguma medida perversa, embora sejam escritos para denunciar falsidades, contribuem para fazer circular e recircular todo aquele material oculto. Assim (assumindo a interessante hipótese que O Código seja um complô satânico), toda refutação que se lhe faz reproduz as insinuações, e com isso acabam se tornando seu megafone.

Por que, mesmo quando é contestado, O Código se autoreproduz? Porque as pessoas têm sede de mistérios (e de complôs) e basta que se lhes ofereça a possibilidade de pensar sobre mais um mistério (e até no momento em que você lhe diz que era a invenção de alguns espertinhos) e pronto, todos começam a acreditar naquilo.

Acho que seja isso o que preocupa a igreja. A crença no Código (e em outro Jesus) é um sintoma de descristianização. Quando as pessoas não acreditam mais em Deus, dizia Chesterton, não é que não acreditem em mais nada, mas acreditam em tudo. Até nos meios de comunicação de massa.

Fiquei impressionado com a figura de um jovem imbecil que, na praça São Pedro, enquanto uma multidão imensa aguardava a notícia da morte do Papa, ele, de celular no ouvido, dava tchauzinho para a câmara de TV. Por que é que estava ali (e por que estavam ali tantos outros como ele, enquanto talvez milhões de verdadeiros crentes estavam em suas casas, e orando)? Em sua espera de um sobrenatural midiático, não estaria ele pronto a acreditar que Jesus tenha se casado com Madalena e estivesse mística e dinasticamente ligado pelo Priorado de Sion a Jean Cocteau?

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 6 - Outubro 2005
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Entrevista com Gonçalo M. Tavares (Joca Terron)

Gonçalo M. Tavares é um abalo sísmico no panorama da literatura portuguesa atual. Após estrear em 2001 com Livro da dança, publicaria no ano seguinte nada menos do que outros quatro títulos de poesia, teatro e ficção. Na época, foi recebido pelo decano ensaísta Eduardo Prado Coelho como já “um dos maiores poetas para o século XXI”. O escritor português nascido em Angola tem cumprido a sina: em tão pouco tempo, lançou 21 livros em 12 países e é bem recebido pela crítica.

No Brasil sua fulminante trajetória não é diferente: apenas nos últimos meses saíram Um homem: Klaus Klump (Companhia das Letras), seu primeiro romance, além de O senhor Juarroz, O senhor Kraus e O senhor Calvino, habitantes da série O Bairro (Casa da Palavra) que vieram se juntar a O senhor Brecht, publicado em 2005. Tamanha proficiência é coroada agora com a seleção deste último e do romance Jerusalém ao prêmio Portugal Telecom, ao qual ambos concorrem como finalistas.

Autor de obra caracterizada não somente pela exuberância criativa, mas também por rigorosos jogos de lógica que misturam poesia e filosofia sem nunca deixar de divertir o leitor, Gonçalo M.Tavares revela alguns de seus enigmas. Livros, para ele, têm principalmente a missão de aumentar a lucidez.

ENTRELIVROS – Qual era a sua disciplina para escrever no período que antecedeu a publicação de seus primeiros 14 livros, vindos à luz incrivelmente em apenas três anos?

GONÇALO M. TAVARES – Escrevo desde muito cedo, mas as coisas ficaram sérias a partir, talvez, dos 20 anos. E publiquei o meu primeiro livro só aos 31. Sempre foi meu desejo não publicar antes dos 30; uma fixação como qualquer outra. Queria ter um percurso anterior que me desse grande confiança. Bem, nesses dez, 11 anos – entre os 20 e os 30 – levantava-me muito cedo, uma obsessão, e normalmente às 6h30 da manhã já estava a ler e a escrever. Esses dois atos estavam e estão ainda muito ligados: lia-escrevia. Fazia isto todas as manhãs, com uma ou outra exceção, mas rara. E o que aprecio mais no meu percurso é mesmo este período; foi necessário muita disciplina, autodomínio. Às vezes pergunto-me como fui capaz de seguir essa disciplina. Agora é bem mais difícil.

EL – E havia tempo para viver? Como você concilia o mergulho na escrita com o convívio com os seus?

TAVARES – Sim, havia e há muito tempo para viver. Mas antes de continuar, deixe-me dizer-lhe que a pergunta pressupõe que ler-escrever não é viver; mas acho que é viver sim, e muito, de uma forma muito intensa. Ler e viver são experiências de vida claramente, e experiências humanas. Não são experiências de extraterrestre ou exteriores à vida. Não saímos da vida para ir ler, e depois voltamos. Não sei por exemplo se é possível hierarquizar a experiência de fazer uma viagem importante e a experiência de ler um livro como O homem sem qualidades, de Musil, ou Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski. São coisas diferentes, mas ambas fortes. Voltando à sua pergunta: como me levantava muito cedo, às 11 h, 11h30 estava no resto da vida, por assim dizer, e mergulhava nela por completo. Fiz o que tinha a fazer nessa idade, viajei bastante, sofri o suficiente – não quero mais disso, tenho a minha dose.

EL – Você era um ávido leitor na infância? Ainda é na mesma proporção?

TAVARES – Sempre li bastante, mas na infância não era daqueles meninos que ficam de lado a olhar para os outros. Passei a minha infância, parte dela, na rua a jogar a bola com amigos, ao soco por vezes, nos namoricos, vivi muito no exterior. Comecei a ler cada vez mais e a certa altura percebi que a leitura era um eixo central na minha vida. Li e leio constantemente, e sinto, tal como para a escrita, falta de alguma coisa quando não leio um único dia. Tornou-se uma coisa muito biológica, orgânica. Preciso de ler. Tal como necessito de escrever. Por vezes, quando não escrevo fico irritado como se não tivesse ainda almoçado e já tivesse passado a hora para isso. É algo muito fisiológico. Mas não se deve romantizar a coisa: claro que posso passar sem escrever ou ler; mas se o fizer sinto falta.

EL – Há um poema de Juan José Saer que diz “Bem-aventurados os que estão na realidade/e não confundem suas fronteiras”. Há, na sua opinião, alguma distinção drástica entre a vida que escritores e leitores vivem nos livros e a vida supostamente real?

TAVARES – Bem, como lhe disse, considero-me um bom leitor – estou atento, tento ler o que é bom, se alguém que eu respeito me fala de um autor que eu não conheço no dia seguinte estou a ler esse autor, mas, apesar disso, estou bem metido no real. Dou aulas numa universidade, o que me faz estar em contato com alunos, com gerações de rapazes e raparigas de 20 e poucos anos e isso é muito bom – obriga-me a não estar fechado. Por outro lado, tenho uma robusta família: tenho três filhos: conhece maior chamamento à realidade do que esse? Aí, não há que inventar, e a imaginação não resolve problemas: é a vida real no seu sentido mais urgente. Os filhos exigem de nós tudo e dependem de nós, desde a comida, às frases que lhes dizemos, aos contatos corporais; tudo é importante e muito real. Felizmente, tenho filhos porque realmente o perigo era ficar como Dom Quixote, louco dos livros e da escrita. Eles são o real, que está mesmo ao pé de mim. Se estão com fome, preciso agir.

EL – Há algo de verdadeiramente novo no panorama da literatura portuguesa, além da pouca idade de alguns de seus praticantes mais recentes? Há ainda a possibilidade do novo em literatura?

TAVARES – Bem, em primeiro lugar só se pode fazer o novo se se conhecer o velho. Como posso saber se estou a fazer algo de novo se não sei o que os outros fizeram? Daí que um escritor, para mim, tenha de ser, primeiro, um leitor. Há escritores que escrevem sem ler nada e depois pensam que fizeram coisas muito novas. Como leram pouco não podem saber que milhares de escritores já fizeram aquilo. Os chineses têm um ditado que é ao mesmo tempo uma maldição: “Não te atrevas a escrever um livro antes de ler mil”, parece-me sensato. Quanto a fazer o novo, acho que é isso: temos de saber o que já se fez e o que se faz, tal como um investigador em física conhece as investigações de física dos séculos passados e também as actuais. Depois, sim, pode-se investigar a sério, tentar algo novo.

EL – Parece surgir uma voga de autores cujas imaginações não se limitam aos limites geográficos de seus países. Você se sente um autor português?

TAVARES – Julgo que o mais importante quando se escreve é a língua e por isso é evidente que me sinto um autor português e, mais importante que isso, um autor de língua portuguesa. Penso que a língua deve ser o mínimo denominador comum. O que julgo não fazer sentido é falar-se em “temas portugueses”. Os temas que me interessam pertencem ao homem, não ao homem português. Interessa-me perceber o medo, o mal, a violência, mas também os gestos surpreendentemente bondosos; interessa-me ainda a lógica da linguagem etc. Não são temas portugueses, são temas humanos. Mas, de qualquer maneira, um escritor ao utilizar a língua portuguesa tem logo uma ligação inatacável à sua origem. Repare que um artista plástico, português ou brasileiro, aí, sim, pode fazer, no limite, obras de que não saibamos identificar a origem ou a nacionalidade. Eu escrevo em língua portuguesa, portanto é fácil identificar a minha origem. E tenho orgulho em escrever nesta língua.

EL – Da mesma forma, seguindo a derrocada das linhas geográficas, o hibridismo de gêneros literários é uma constante em sua obra. A que isso se deve e como se configura?

TAVARES – Os gêneros literários são quase sempre definidos pelo receptor e não pelo emissor, digamos assim. O que me parece preocupante é que o emissor, o escritor, antes de escrever já se submeta às lógicas de recepção, e portanto se sente na cadeira a pensar: agora vou escrever um romance, agora um poema, agora um conto. Penso que o ponto de partida de um escritor não é um gênero literário qualquer, o ponto de partida é o alfabeto. Há letras e com elas formo palavras, mas posso escrever o que quiser, ir por qualquer caminho. O alfabeto não tem gênero literário. Por isso, por mim, tento sentar-me e escrever, simplesmente. E às vezes sai de uma maneira, outras vezes sai de outra e realmente há livros que eu não sei classificar: são
ensaio, um romance? Por exemplo, eu designo alguns livros que fiz como “bloom books”, outros como “investigações”. Enfim, tento por vezes dar-lhes o nome que me parece mais próprio. Mas alguns textos não sei mesmo o que são. O importante é que façam pensar, aumentem a lucidez do leitor, provoquem se possível reações, outras criações etc.

EL – Suas ficções fazem uso de uma linguagem poética. Gonçalo M. Tavares é essencialmente um poeta?

TAVARES – Não, eu acho que sou um escritor. Escrevo. Depois saem livros muito diferentes entre si. Julgo é que tudo pertence a uma mesma massa de instinto, racionalidade, angústias, ironia etc.

EL – Da mesma forma, sua poesia trava intenso diálogo com a filosofia. É possível filosofar em português? Quando surgirá um livro seu de filosofia pura?

TAVARES – Tenho muito respeito pela filosofia e pelos filósofos. Sou um leitor atento de ensaios. Mas precisamente por esse respeito tenho de dizer que é evidente que não sou um filósofo. Penso que a filosofia e as idéias são muito importantes para a escrita, não gosto de livros que não pensam e não nos fazem pensar. Acho sinceramente que isso é um desperdício. Se neste século a literatura não nos fizer pensar, o que é que nos vai fazer pensar? A televisão, o teatro, o cinema, as artes? Bem, eu acho que tudo isto pode ajudar-nos a pensar, mas, apesar de tudo, penso que a literatura ainda é, e deve ser cada vez mais o espaço por excelência do pensamento, da reflexão, enfim, da lucidez. E não precisa de ser pensamento filosófico, nada disso. Através de uma história podemos fazer pensar. Mas claro que não é uma historieta qualquer, não pode ser novela porque aí a televisão faz melhor. A literatura é outro mundo, é o mundo em que alguém está a ler um livro e pára, se necessário, numa linha, numa frase e interrompe a leitura e a partir dessa frase, se necessário, reflete ou põe em causa toda a sua vida. A literatura tem um tempo que dá ao leitor; na literatura o tempo é do leitor, acho isso muito importante. O mesmo livro de 100 páginas pode ser lido em duas horas, em dois meses, ou em dois anos. E nenhum tempo de leitura é melhor do
que outro. É o leitor que o define.

EL – É raro um autor ter tão organizada sua produção na forma de séries. Sua forma de conceber a literatura é tão racional como essa idéia de serialização sugere?

TAVARES – Não, não sou assim tão racional. Aliás, acho que a organização dos meus livros por linhas e séries é uma maneira de eu tentar colocar alguma ordem na desordem do que vou fazendo. Interesso-me por muitas coisas de várias maneiras e depois de fazer algo tento organizar, até para facilitar a vida do leitor.

EL – Qual a importância dos exercícios lógicos em sua obra? Gonçalo M. Tavares seria um leitor de Lewis Carroll e Georges Pérec?

TAVARES – Sou leitor desses autores,como de autores completamente diferentes, Jünger ou Musil ou Thomas Mann. Acho que o que me caracteriza como leitor é partir para um livro para receber o que ele me quer dar e não para exigir que ele me dê o que eu quero receber. Se eu ler Borges, por exemplo, é evidente que ele não me dá coisas que me dá Dostoiévski. Da mesma forma,se eu ler Dostoiévski à espera que ele me dê coisas que Borges ou Calvino dão, vou sair frustrado. Nenhum autor dá tudo o que precisamos na nossa vida, em todos os momentos. O maior dos autores não nos dá tudo, e ainda bem. Por isso, tento receber o que o livro quer dar. Mas em relação à lógica e aos paradoxos, julgo que isso é uma das linhas que me interessam, apenas uma das linhas. A esse nível, é um pouco como se investigássemos os limites do mundo e da linguagem. E, por exemplo, os paradoxos lógicos são muito importantes a esse nível: mostram-nos as limitações da nossa forma de ver o mundo.

EL – Há em Um homem: Klaus Klump uma cena de violação sexual (no capítulo 11) de extrema violência e ao mesmo tempo narrada de forma poética. A poesia pode ser violenta? Quais são os poetas contemporâneos que o agradam?

TAVARES – O que eu julgo importante é não ver o mundo como se fosse claro/escuro. O mal e o bem são coisas que estão misturadas e muitas vezes se confundem. Tal como a beleza e o horror. Julgo que a lucidez passa muito por chamar a atenção de que a beleza esconde por vezes coisas terríveis e que no terrível há por vezes coisas que merecem ser olhados com atenção e que nos ensinam muito.

EL – Não há nos senhores de O Bairro uma relação direta de seus nomes (o senhor Brecht, o senhor Kraus, o senhor Juarroz, o senhor Valéry) com suas biografias. São as idéias que conformam esses personagens ou eles seriam apenas homônimos?

TAVARES – O Bairro, no seu conjunto, e quando estiver todo pronto, é um projeto enorme. Vai durar toda a minha vida. Acho que no final vai ficar algo como se fosse uma história da literatura, mas em ficção. É, se calhar, a minha forma de fazer ensaios. São personagens que, embora guardando um pouco o espírito do nome que levam – quer seja pelo tema, pela lógica de pensamento, escrita etc. –, são ficcionais, autônomas, personagens que fazem o seu caminho.

EL – A recepção crítica ao seu trabalho tem sido formidável, apesar dos matizes inegavelmente experimentais nele presentes. Como se dá isso? E a recepção do público, acompanha a da crítica?

TAVARES – É bem agradável ser bem recebido por críticos; é fundamental para um escritor ser acompanhado no que vai fazendo e críticas inteligentes permitem que o escritor por vezes esclareça na sua cabeça coisas do seu próprio trabalho. Uma crítica de qualidade é fundamental; considero, no geral, não falando no meu caso pessoal, que os críticos são muito, muito importantes. E é assim com muita pena que vejo em Portugal a diminuição drástica do espaço que os jornais dão à crítica literária. Cada vez há menos espaço, os críticos, agora, têm dois parágrafos para escrever sobre um livro. Isso é terrível. Não sei se está a acontecer o mesmo no Brasil, espero que não, mas em Portugal os suplementos literários dos grandes jornais estão a desaparecer e o espaço para a reflexão pensada está também a evaporar-se. Quanto à recepção do público é também bastante simpática, mas tenho a consciência absoluta de que os meus livros não são best-sellers, nada disso. Mas o relevante é que entre os leitores há belos leitores e há ainda outros criadores. Das coisas mais agradáveis é ver artistas plásticos, pessoas do teatro, do cinema etc. fazerem obras a partir dos meus livros. Isso é muito bom. É a sensação de que há uma corrente eléctrica que me ligou antes a outros autores e continua agora ligando outros autores aos meus livros.

EL – Jerusalém recebeu alguns dos mais importantes prêmios da literatura portuguesa e agora é finalista do Portugal Telecom no Brasil. Devemos nos fiar no atestado de excelência que os prêmios dão? E qual seria esse atestado?

TAVARES – A qualidade dos prêmios depende, antes de tudo o mais, da qualidade dos que dão o prêmio, dos jurados. Se pessoas de qualidade me dão prêmios fico contente. Quanto ao resto, eu considero- me muito filho de Sêneca. As Cartas a Lucílio, de Sêneca, é talvez o livro que mais marcou a minha vida. Tenho uma parte estóica: guardo alguma distância em relação ao que vai acontecendo. O importante é fazer o meu caminho. Prêmios são agradáveis, claro, mas apesar de tudo são coisas laterais ao nosso trabalho.

EL – Em certa ocasião, Paulo Leminski disse que, dada a pouca representatividade no mundo de hoje, escrever em português ou não escrever é a mesma coisa. Como você espera ultrapassar as barreiras impostas por uma língua não majoritária?

TAVARES – Bem, apesar de tudo o português é falado por muitos, muitos milhões de pessoas. Não é assim tão minoritário. Há dias estive com escritores eslovenos, e aí a coisa é mais dura. A língua eslovena é falada por 2 milhões em todo o mundo. Isso é mesmo minoritário. Mas é evidente que faz sentido o que Paulo Leminski diz, pois todas as línguas são de certo modo provincianas face à língua inglesa, que é mesmo o centro. De qualquer maneira, felizmente, os meus livros estão a começar a ser muito traduzidos, a uma velocidade pouco comum. Estão a sair, em 12 países, 17 livros diferentes – é bom. Mas, claro, escrever diretamente em inglês é ganhar 50 anos em relação a quem escreve noutra língua.

EL – Você tem sofrido alguma “pressão” para que haja algum habitante lusitano em O Bairro?

TAVARES – Tenho sofrido pressões para várias entradas (risos). Mas em relação ao habitante lusitano ele já lá está, no desenho do projeto do bairro. É o sr. Pessoa, mora no prédio do sr. Pirandello.

EL – Da mesma forma, os leitores brasileiros podem ter esperança de terem um compatriota vivendo em lugar tão ilustre? Um senhor Machado ou uma senhora Clarice, por exemplo? Por falar nisto, os habitantes de O Bairro não sentem falta de mulheres por lá?

TAVARES –O meu Bairro de senhores é um bairro como outro qualquer: há pessoas que se podem mudar para lá, e há outras que podem sair. O senhor Machado era muito bem-vindo ao Bairro, e daria uma grande personagem, tenho a certeza, tal como a senhora Clarice. Aliás, a senhora Clarice tenho a sensação de que se vai mesmo mudar para lá... e, sim, senhoras fazem sempre falta, mas já vivem lá a sra. Wolf e a sra. Bausch. Inédito: O país ingênuo `A tristeza era tanta que os sorrisos passaram a ser pagos. Alguns funcionários do Estado, disfarçados, diluídos na multidão das cidades, observavam os poucos cidadãos sorridentes que passavam, e, discretamente, mandavam-nos parar.

Apresentavam-se: Funcionários do Estado!, diziam, e pediam depois a identificação do sorridente. Registavam nome e morada.

Ao fim do mês, os referidos cidadãos recebiam o cheque. Durante o mês de fevereiro foi visto três vezes a sorrir na rua – estava escrito – com data e hora - no pequeno documento que acompanhava o dinheiro.

A quantia dada por cada sorriso não era uma fortuna, mas digamos que ser visto pelo Estado a sorrir nove vezes durante um mês dava perfeitamente para viver sem dificuldades.

Pois bem, em pouco tempo o clima emocional do país alterou- se por completo. Seja por avidez ou pela própria natureza das coisas o país em dois anos tornou-se conhecido pelo “permanente e impressionante optimismo dos seus cidadãos”, como se dizia numa agência de notícias internacional.

Os subsídios do Estado aos sorrisos terminaram pouco tempo depois; mas como ninguém informou os cidadãos eles mantiveram aquele sorriso estúpido, repugnante, desadequado, inútil, sem razão de ser.´

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 29 - Setembro 2007
Gonçalo M. Tavares: “Ler para ter lucidez”.
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Em Tempo [Lançamento de Livro de Alexandre Castanheira]

No próximo dia 28 do corrente mês (fevereiro), quinta-feira, às 21h 30m, no Salão de Festas da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, haverá o lançamento do livro de poesia Tempo Meu, de Alexandre Castanheira, um dos mais conceituados escritores, comendador da Ordem da Liberdade (uma forma de reconhecimento público e institucional pelo seu empenho na conquista dos valores da Democracia). Mas esta é, também, a data do 80.º aniversário deste "poeta da liberdade".

Passe um serão poético e musical que, decerto, não esquecerá. E traga um amigo consigo (ou vários).

Fonte:

Alexandre Castanheira (1928)

Alexandre Castanheira nasceu em 1928.
Licenciou-se no curso Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa.
Poeta, desde sempre se interessou pela divulgação da poesia, fazendo recitais em escolas, colectividades, festas em todo o País.
Perseguido pela PIDE, devido às suas actividades políticas, partiu para o exílio em França, onde casou com Madeleine Nennig, uma jovem comunista francesa que o acompanhou na clandestinidade. Ao longo da sua vida esteve sempre ligado ao Partido Comunista Português.
Exilado em França, licenciou-se em Literatura Moderna e alarga a divulgação da poesia moderna e contemporânea aos círculos de portugueses imigrados em França. Regressado a Portugal, começa finalmente a publicar a sua obra, em que se destacam, em poesia, os volumes Poesia... sem Distanciação e Desilusão Optimista a par de outros livros como teatro, crônicas, ensaio e contos. Com o ensaio "Camões, Nosso Contemporâneo" ganha o Concurso Literário do IV Centenário de Camões, promovido pela Câmara Municipal de Almada. Multiplicam-se em seguida os recitais de poesia não só em Portugal como na Galiza (Vigo, Baiona, Universidade de Santiago de Compostela) e as conferências-recital dedicadas a Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Mário Sá-Carneiro, Manuel da Fonseca, Sidónio Muralha, Fernando Pessoa, entre outros.
Professor na Escola Superior de Educação Jean Piaget, de Almada, cidade de onde é natural, nos vários cursos do Básico 2.º Ciclo e no de Animadores Socioculturais, participou com comunicações em quase todos os encontros e congressos organizados pelo Instituto Piaget.
ALEXANDRE CASTANHEIRA é professor efetivo do Instituto Piaget, tendo lecionado na Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada, onde continua ligado ao cancioneiro e à Unidade de Investigação em Antropologia.

Fontes:
http://www.ipiageteditora.com.br/
http://naoapaguemamemoria2.blogspot.com/

Rodamundinho 2008 (Coletânea Infanto-Juvenil até 15 anos de idade)

Quem quer ser escritor?

O Rodamundinho 2008 é uma coletânea infanto-juvenil que reunirá 25 autores (textos de crianças e adolescentes) de até 15 anos de idade. Será uma antologia (seleção de textos) reunindo poesias, contos e crônicas com o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens sem que eles precisem pagar nada por isso. Cada autor terá quatro páginas para mostrar seu talento que será publicado num belíssimo livro de 100 páginas.

Para participar é preciso ter até 15 anos de idade completos até o dia 31 de julho de 2008 e ter textos de sua autoria que sejam inéditos e digitados. Podem participar jovens de todas as localidades.

Os textos (crônicas e/ou contos) devem conter 100 linhas para preencher três páginas do livro. As poesias podem ter o número menor de linhas porque cada poesia receberá uma página do livro. Lembrando que, as somas de todos os textos não devem ultrapassar a quantidade de linhas discriminada acima.

Junto aos textos, deverá ser entregue um currículo do autor contendo nome completo e assinatura, nome e assinatura do responsável, endereço, telefone, e-mail (se possuir), escolaridade e outras informações que sejam complementares para a sua biografia que será publicada na primeira página antecedendo os textos do autor.

A seleção dos textos para a coletânea será feita por experientes escritores.

Os textos e os currículos deverão ser entregues das 09 às 12h e das 13 às 16h dos dias 03, 04, 05, 06, 07 e 08 de março de 2008 na Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural, na Rua Brigadeiro Tobias, nº 73 - Sorocaba/SP.

No momento da entrega, os participantes receberão um recibo contendo o mesmo número do envelope onde ficarão guardados em sigilo os seus textos.

O recebimento e os envelopes estarão sob a responsabilidade da jornalista Cintian Moraes.

Até o dia da entrega dos textos pode-se obter mais informações no horário comercial pelo telefone (15) 3226.4178.

O Rodamundinho 2008 é um projeto do escritor Douglas Lara e do editor Mylton Ottoni, tem o apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete Sorocabano de Leitura e da Fundec - Fundação de Desenvolvimento Cultural. (Página 9 do Cruzeirinho de 10 de fevereiro de 2007)

Contatos:
Cintian Moraes
cintian.moraes@yahoo.com.br

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=31&id=58388

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

EM TEMPO (Nota de Falecimento de Altimar de Alencar Pimentel)

Faleceu ALTIMAR DE ALENCAR PIMENTEL, presidente da Comissão Paraibana de Folclore, dia 21 de fevereiro de 2008, às 18h30, em João Pessoa.

O corpo foi velado na Academia Paraibana de Letras.


Se guardará de ALTIMAR PIMENTEL a lembrança do notável administrador público que dirigiu o Theatro Santa Roza, fez aparecer os projetos de conservação e segurança dos edifícios públicos da Paraíba, engrandeceu a cultura popular ao dirigir o Departamento de Extensão Cultural do Estado e a rádio Correio da Paraíba.

A Universidade Federal da Paraíba, da qual foi professor do Departamento de Artes, sempre lhe será reconhecida pela atuação na criação e coordenação do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular e na introdução dos estudos de Comunicação Social.


Sua dimensão nacional se afirmou quando secretariou o conselho consultivo de alto nível do Instituto Nacional do Livro e, ao mesmo tempo, prestou assessoria ao Congresso Nacional. Os folcloristas que o conheciam, dele guardam a lembrança do reconhecido e extraordinário mestre da arte de fazer amigos.


A profa. Paula Ribeiro, presidente da Comissão Nacional de Folclore, recomendou que dissesse do seu pesar e que apresentasse condolências à família de ALTIMAR, que o perde e também, à Comissão Paraibana de Folclore e ao Estado da Paraíba que estão de luto.


Dona Cleide Rocha Pimentel, sua viúva, recebe correspondência eletrônica pelo endereço altimarpimentel@hotmail.com


O sepultamento de ALTIMAR DE ALENCAR PIMENTEL se deu em João Pessoa, dia 22 de fevereiro, às 10:00 horas da manhã, no cemitério de Santa Catarina, no bairro Treze de Maio.
Fonte:
comunicação enviada por Douglas Lara (Sorocaba/SP)
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Em nome da União Brasileila dos Trovadores - UBT/PR, partilho dos pêsames por esta perda, pela sua obra realizada para as novas gerações que estão engatinhando e que ainda virão. A saudade que deixa, gostaria de estende-la por meio de versos de nossos colegas trovadores.
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Saudade, ponte encantada
entre o passado e o presente,
por onde a vida passada
volta a passar novamente!
Archimimo Lapagesse

Quando a saudade me embala,
o teu nome a repetir,
o silêncio tanto fala,
que não me deixa dormir!
Carolina Ramos

Não há palavra nenhuma
tão grande quanto "saudade",
que em sete letras resuma
a dor e a felicidade!
Diamantino Ferreira

Saudade, momento onírico;
saudade, momento trágico;
saudade, momento lírico;
saudade, momento mágico!
J. J. Germano

A saudade às vezes fala
e até grita – quem diria! –
quando a rede, a sós, se embala
numa varanda vazia...
Miguel Russowsky

Lembra a saudade uma estrela
nas águas de um ribeirão
que fica sempre a retê-la,
enquanto as águas se vão...
Luiz Antônio Pimentel
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Assim será sempre Altimar, uma estrela a brilhar nas águas de nossas vidas, elas correrão, mas ele sempre estará presente em nossos corações.
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José Feldman
Ubiratã/PR

Altimar de Alencar Pimentel (1936 - 2008)

Altimar de Alencar Pimentel nasceu a 30 de outubro de 1936 na cidade de Maceió, capital de Alagoas. Filho do comerciante Altino de Alencar Pimentel e Maria das Neves Batista Pimentel, Altimar aos nove anos, em 1945, perdeu o pai, sendo ele o primeiro dos seis irmãos órfãos. Sua mãe, paraibana, logo em seguida voltou para João Pessoa, onde arrostando dificuldades criou sua prole.

Altimar foi casado com Dª. Cleide Rocha da Silva Pimentel, formada em Letras, de cuja união tem os seguintes filhos: Tatiana, economista; Altino, advogado; e Hilda, titulada em letras e informática.

Iniciou seus estudos primários ainda na capital alagoana, concluindo o ginasial e o clássico no Colégio Estadual da Paraíba. Pela Universidade Federal da Paraíba, em 1971, concluiu o curso de Licenciatura em Letras – Vernáculo e pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília, bacharelou-se em Comunicação Social – Jornalismo, em 1976.

Dedicado ao teatro, Altimar fez curso de especialização em Direção Teatral na Federação das Escolas Isoladas do Rio de Janeiro e na Universidade Federal da Paraíba, em 1978.

Ainda em 1975 ingressou no magistério do 2° grau, tornando-se professor de Educação Artística no Colégio Estadual da Paraíba e em Cabedelo. Daí foi um passo para ingressar no magistério superior, lecionando as disciplinas Evolução do Teatro e Dança (1977) e Introdução às Técnicas de Comunicação (1979), na Universidade Federal da Paraíba.

Foi Diretor do Teatro Santa Roza, Diretor do Departamento de Extensão Cultural do Estado, Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular da UFPB e Diretor da Rádio Correio da Paraíba.

Participou de vários colegiados, entre eles o Conselho Estadual de Cultura, a Comissão Executiva do IV Centenário da Paraíba, o Conselho da Lei Viva a Cultura, na Paraíba, e foi Secretário do Conselho Consultivo de Alto Nível do Instituto Nacional do Livro, no Rio de Janeiro. No jornalismo também sua atuação foi brilhante.

Como teatrólogo foi autor de inúmeras peças, muitas delas consagradas nacionalmente. Presidente da Comissão Paraibana de Folclore, Altimar Pimentel tem 17 livros publicados sobre temas folclóricos. Dedicou-se, também, à história paraibana, com vários livros publicados, o último dos quais – Cabedelo – alcançou grande receptividade nos meios culturais.

Bastante premiado por seus trabalhos, era natural seu ingresso como sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, o que ocorreu no dia 22 de novembro de 2002, quando passou a ocupar a cadeira n° 10, sucedendo ao historiador José Pedro Nicodemos, sendo saudado pelo consócio Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins.

Além das publicações em revistas e jornais, lançou dezenas de livros. No Folclore, destacam-se: O Coco Praieiro – Uma Dança de Umbigada, Editora Universitária, João Pessoa, 1ª. ed., 1966, 2ª. ed., 1968; O Diabo e Outras Entidades Míticas no Conto Popular, Coordenada Editora, Brasília, 1969; O Mundo Mágico de João Redondo, Serviço Nacional do Teatro, Rio de Janeiro, 1971; Saruâ, lendas de árvores e plantas do Brasil, Editora Cátedra, Rio de Janeiro, 1977; Sol e Chuva: ritos e tradições, Thesaurus, Brasília, 1981; O Mundo Mágico de João Redondo, 2ª edição revista e ampliada, Ministério da Cultura, Rio de Janeiro, 1988; Incantations, Thesaurus Publishing Co., Miami, Flórida, 1995; Contos Populares de Brasília, Editora Thesaurus, Brasília; Estórias de Luzia Teresa, vol. I, Editora Thesaurus, Brasília, 1995 e vol. II, Editora Thesaurus, Brasília, 2001; Barca, Bois de Reis e Coco de Roda, João Pessoa, FIC, 2005.

No Teatro, entre as peças de sua autoria já encenadas na Paraíba e outros Estados, registramos 20 peças, entre elas Auto da Cobiça, Auto de Maria Mestra, Viva a Nau Catarineta, Lampião vai ao inferno buscar Maria Bonita, Coiteiros. Registramos um destaque especial para a peça Como nasce um cabra da peste, adaptação da obra homônima de Mário Souto Maior, a qual conquistou mais de 40 prêmios em festivais na Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e realizou vinte apresentações em Portugal e uma em Cabo Verde. Possui dez peças inéditas.

Em História, o destaque é sua obra Cabedelo, em dois volumes, publicados em 2001 e 2002.

Pesquisador, Diretor de Teatro, jornalista, Altimar pertenceu a várias entidades culturais e recebeu, por sua vitoriosa carreira, elogiosas críticas, prêmios e condecorações.

Exerceu inúmeras funções, entre elas: diretor do Teatro Santa Roza (João Pessoa); na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), além de professor, foi diretor do Departamento de Extensão Cultural da Paraíba, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Documentação de Cultura Popular (NUPPO) e assessor cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários; diretor da Rádio Correio da Paraíba, assessor cultural do Instituto Nacional do Livro (Rio de Janeiro), assessor administrativo da Câmara dos Deputados (Brasília, 1980), membro do Conselho Estadual de Cultura da Paraíba (1963) e Membro do Conselho Fiscal e sócio fundador da Associação dos Dramaturgos do Nordeste e Membro da Academia Paraibana de Letras.

Exercia o cargo de Secretário de Cultura do Município de Cabedelo, Paraíba, antes de falecer.

Fonte:
http://ihgp.net/memorial4.htm
http://www.paraiba.com.br/noticia.shtml?62034

Altimar de Alencar Pimentel (O Alimento Doce e a Bebida Ardente)

Era verão. O sol, àquela hora, tornava-se abrasador. O calor insuportável martirizava quem passasse por aquela estrada marginada de vegetação rarefeita e ressequida. Nenhuma árvore havia que oferecesse frutos ou abrigo ao viajante. Também não se vislumbrava rio, riacho ou poço com água.

Mas, a sagrada missão daquele homem levava-o a todos os lugares onde a sua palavra fosse necessária à salvação das almas. E, no cumprimento dessa missão, Jesus seguia solitário, passos trôpegos, sob o sol abrasador.

Padecia fome, sede e cansaço.

Foi quando avistou um canavial. Seguiu em sua direção. Ali refrescou o seu corpo e matou a fome e a sede com alguns gomos de cana.

Ao retirar-se do canavial, recuperado e agradecido, Jesus estendeu as mãos sobre as canas e as abençoou:

— Eu as abençoo por me haverem alimentado e aplacado minha sede. De vocês o homem tirará um alimento bom e doce.

O canavial abençoado por Jesus recebeu, no outro dia, a visita do diabo.

À mesma hora, saiu o diabo de sua morada no inferno e lá vem galopando, desembestado, pela dita estrada.

— Um canavial! — exclamou ao ver as canas. — Vou-me refrescar que o calor das caldeiras do inferno hoje estava muito forte. Queimou-me o rabo e os chifres!

E mergulhou, estabanadamente, entre as canas.

Estas, aborrecidas com o importuno, atingiram o corpo do diabo com os seus pêlos. Ao sentir o comichão, o diabo começou a coçar-se.

Além do calor e da sede, a coceira! Agoniado, o diabo quebrou uma cana e começou a chupá-la com tal sofreguidão que o caldo, azedo, caiu-lhe no goto e abrasou-lhe as goelas. Ele atirou a cana. fora e praguejou:

— Maldição! De vocês o homem há de tirar uma bebida tão ardente como as caldeiras do inferno!

Assim é que da cana, graças à bênção de Nosso Senhor, o homem extrai o açúcar e, em virtude da maldicão do diabo, a cachaça.

Fonte:
Pimentel, Altimar de Alencar. Saruã; lendas de árvores e plantas. Rio de Janeiro, Livraria Editora Cátedra / Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1977.
Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br/setembro49/especial23.htm

Paulo V. Pinheiro (Todos os Dias)

Gota a gota o copo enche, assim como também esvazia.
Letra a letra as palavras vão cumprindo os seus papéis.
Dizer por dizer é como soletrar só letras.
É ruim para quem diz, pior para quem lê.
Fazer sem sentido é construir o incompreensível.
Ousar não é só se expor.
Usar e expor... um sentido supor... palavras em tintas tão nobres... extensas, sucintas... claro e escuro...

Ensurdecer com palavras escritas.
Dizer apenas o que se deve ouvir.
Criar um chão para que a razão se assente.
E se rir da própria vaidade,
de todo imprópria.

Sentidos...
ouvir dizer, sem saber quem diz;
ler sem saber o que;
cantar sem ter a razão;
unir letras sem o sabor das palavras que criam;
inalar todo prosa mal sã fantasia.

Palavras criam. O quê? Criam...
Expressar é regurgitar sentimentos com razão ou não.

Uma expressão fria é, ainda, uma expressão.
Fria, porque não?

Um jogo de contrastes.
A palavra busca atingir, muita vez, o contrário.
Faz sorrir os que choram.
Faz chorar os que riem.
Onde está a razão? Onde está o autor? Onde está o ator? Onde está o objetivo?

Para quem se escreve?
Para si mesmo?
Para alguém ler? Ou ninguém?
Qual o papel do autor?
Que não seja só a vaidade e se for que seja.

Fonte:
Paulo Vieira Pinheiro. 8 agosto 2007. paulovinheiro.blogspot.com

Em Tempo (Café com Literatura)

Mais um encontro dos amantes da literatura aconteceu em nossa cidade. O Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário – MMCL é uma reunião que acontece em várias cidades do estado e que reúne pessoas interessadas em literatura não científica. O Movimento foi criado em cinco de maio de 2005, pelo Professor Dr. William Moffitt Harris, auxiliado pela coordenadora Profa. Dra. Alitta Guimarães Costa Reis.

Trata-se de uma organização informal, alegre, democrática, sem custos, sem registro oficial, sem estatuto próprio ou regras rígidas e isento de corporativismo de qualquer espécie. Em sua 69ª Tertúlia que aconteceu na cidade de Sorocaba, reuniu 13 profissionais, entre eles médicos, atrizes, um professor, um administrador, um corretor de seguros, uma locutora, uma jornalista.

Todos os participantes amantes da literatura levaram a sua presença através de contos, crônicas, poesias e ensaios. Entre eles haviam poesias sobre o amor, a mulher, a morte e contos sobre experiências de vida, saúde e família. Esses encontros têm como objetivo a troca de conhecimento e traz principalmente a oportunidade de expor os trabalhos dos participantes em público, e claro aquecidos por um cafezinho paulista.

O próximo evento do MMCL será o I Congresso Paulista Comunitário de Letras que acontecerá na cidade de Santos entre os dias 2 a 4 de maio de 2008 com entrada franca. Será na sede da Associação dos Médicos de Santos – AMS na Avenida Ana Costa 388, Gonzaga – Santos/SP. Informações Dr. Willian M. Harris wmharris@terra.com.br

Fonte:
Notícia veiculada pelo colega Douglas Lara sob nome Sorocaba Dia e Noite 22 de fevereiro. Disponivel em http://www.vejosaojose.com.br/sorocabadiaenoite.htm

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Epigramas e Trovas

De Corrêa de Almeida a Millôr Fernandes


Epigrama: poesia breve, satírica; dito mordaz e picante.

Trova: composição lírica ligeira e mais ou menos popular; quadra popular.


Corrêa de Almeida:
Dedicatória

— É esta a cara cediça
do tal Corrêa de Almeida:
é padre que não diz missa,
poeta — sem ter Eneida...

(Em retrato oferecido a um amigo)

Laurindo Ribeiro:
Para mostrar que é mui sábio
E filho de boa gente,
E dos passados ministros,
Ser em tudo diferente,
Sua excelência da Guerra
Em tudo que der à luz,
Em vez de assinar o nome
Pretende assinar em cruz.

(visava ao ministro da Guerra, Cel. Manuel Felizário de Sousa e Melo)

***
Cabeça, triste é dizê-lo!
Cabeça, que desconsolo!
Por fora não tem cabelo,
Por dentro não tem miolo!

Martim Francisco:
Ó caso feio! Ó caso extraordinário!
Caso que me entrou fundo na lembrança!
Tem o vigário a cara da criança,
Tem a criança a cara do vigário!

***
O Moura-Bule é ilustrado,
Mas quase sempre se esquece
quando se usa de — s —
quando de c cedilhado

(visava ao deputado J.Ferreira de Moura, apelidado Moura-Bule pela atitude constante que assumia, de mãos nas cadeiras)

Belmiro Braga:
— Vi teus braços... que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
Que eu quero ver o teu rosto.
***
— Na noite de núpcias. O Gama
encontra a esposa envolvida
num lindo roupão e exclama:
— Posso, enfim, ver-te vestida!
***
— Mui decentes eu não acho
teus vestidos minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
***
— A beleza não te atrai?
Só te casas por dinheiro?
Tu pensas como teu pai,
Que morreu velho e... solteiro.

Roberto Correia:
Se espichas (vou ser-te franco)
os teus cabelos, ó João,
tu pretendes é ser branco,
ao menos em comissão...
***
Político e sempre graúdo,
De moço a quase senil,
Do Brasil tem tido tudo!
Nada tem dado ao Brasil...

Antônio Sales:

— Passa na estrada um camelo
e um corcunda palpitante
de alegria, disse ao vê-lo:
— "Mas que animal elegante!"
***
Um demagogo exemplar,
Com uma violência louca,
Levou a vida a clamar,
E só deixou de gritar,
Quando lhe encheram a boca!

Victor Caruso:
A um matemático

Jaz aqui um matemático.
Se dele queres saber
Pede à historia que to diga:
Sendo do cálculo amador fanático
Teve para morrer um meio prático
E resolveu morrer
De cálculos na bexiga...

Bocage:
A Moléstia e a Cura

Aqui jaz um homem rico
nesta rica sepultura;
escapava da moléstia,
se não morresse da cura.

Pe. Celso de Carvalho:

Natural que os noivos digam:
"Nosso ninho..." É bom sonhar!
Mas as aves, quando brigam,
xingam seus ninhos... de lar!
***
Se toda ilusão frustrada
se tornasse assombração,
que casa mal assombrada
não seria o coração!
***
Vá que se louve a formiga,
e à cigarra se condene...
Mas, quem teceu essa intriga
foi a cigarra — La Fontaine!

Vão Gogo (Millôr Fernandes):

Quando a garota morena
mergulha assim tão segura,
não sei por que lembro a frase
"água fria na fervura".
***
Namorar, minha menina,
é andar de caminhão:
a gente só passa à frente
se andar na contra-mão.
***

Epitáfio

Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.

Fonte:
Textos extraídos de
"Antologia de Humorismo e Sátira", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro,1957 (seleção de R. Magalhães Júnior), e "Humor e Humorismo - Poesias e versos", Editora Brasiliense - São Paulo, 1961,(seleção de Idel Becker). Disponível em http://www.releituras.com/

Pérolas do Vestibular

* Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigênio.

* O nervo ótico transmite idéias luminosas.

* O vento é uma imensa quantidade de ar.

* O terremoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas.

* Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

* Péricles foi o principal ditador da democracia grega.

* O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades.

* O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes se afogavam dentro d’água.

* A principal função da raiz é se enterrar.

* A igreja vem perdendo muita clientela.

* O Sol nos dá luz, calor e turistas.

* As aves têm na boca um dente chamado bico.

* A unidade de força é o Newton, que significa a força que se tem que realizar em um metro da unidade de tempo, no sentido contrário.

* Lenda é toda narração em prosa de um tema confuso.

* A harpa é uma rosa que toca.

* A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo.

* Os ruminantes se distinguem dos outros animais porque o que comem, comem por duas vezes.

* O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

* Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado.

* A insônia consiste em dormir ao contrário.

* A arquitetura gótica se notabilizou por fazer edifícios verticais.

* A diferença entre o Romantismo e o Realismo é que os românticos escrevem romances e os realistas nos mostram como está a situação do país.

* O Chile é um país muito alto e magro.

* As múmias tinham um profundo conhecimento de Anatomia.

* O batismo é uma espécie de detergente do pecado original.

* Na Grécia, a democracia funcionava muito bem, porque os que não estavam de acordo, se envenenavam.

* A prosopopéia é o começo de uma epopéia.

* Os crustáceos fora d’água respiram como podem.

* Os hermafroditas nascem unidos pelo corpo.

* As glândulas salivares só trabalham quando a gente têm vontade de cuspir.

* A fé é uma graça através da qual podemos ver o que não vemos.

* Os estuários e os deltas foram os primeiros habitantes da Mesopotâmia.

* O objetivo da Sociedade Anônima é ter muitas fábricas desconhecidas.

* A Previdência Social assegura o direito à enfermidade coletiva.

* O Ateísmo é uma religião anônima.

* A respiração anaeróbica é a respiração sem ar, que não deve passar de três minutos.

* O calor é a quantidade de calorias armazenadas numa unidade de tempo.

* Antes de ser criada a Justiça, todo mundo era injusto.

* Caracteres sexuais secundários são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais.

* O hino nacional francês se chama La Mayonèse...

* Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.

* Resposta a uma pergunta: "Não cei".

* Entres os índios de América, destacam-se os aztecas, os incas, os pirineus, etc.

* A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea (esta, a dos nossos dias).

* Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas.

* Resposta à pergunta: "Que entende por helenização?": "Não entendo nada".

* No começo os índios eram muito atrazados mas com o tempo foram se sifilizando.

* Entre os povos orientais os casamentos eram feitos "no escuro" e os noivos só se conheciam na hora h.

* Então o governo precisou contratar oficiais para fortalecer o exército da marinha.

* Em homenagem a Gutenberg, fizeram na Alemanha uma estátua, tirando uma folha do prelo, com os dizeres: "e a luz foi iluminada".

* No tempo colonial o Brasil só dependia do café e de outros produtos extremamente vegetarianos.
* A capital de Portugal é Luiz Boa.

* A Geografia Humana estuda o homem em que vivemos.

* O Brasil é um país muito aguado pela chuva.

* Na América do Norte tem mais de 100.000 Km de estradas de ferro cimentadas.

* Oceano é onde nasce o Sol; onde ele nasce é o nascente e onde desce decente.

* Na América Central há países como a República do Minicana.

* A Terra é um dos planetas mais conhecidos no mundo.

* As constelações servem para esclarecer a noite.

* As principais cidades da América do Norte são Argentina e Estados Unidos.

* Expansivas são as pessoas tangarelas.

* O clima de São Paulo é assim: quando faz frio é inverno; quando faz calor é verão; quando tem flores é primavera; quando tem frutas é outono e quando chove é inundação.

* "(...) quanto à opinião pública, podemos dizer que ela é mutável. Por exemplo: na hora do parto, a mulher pode optar pelo aborto."

* "A comunicação é importante porque comunica algo entre duas ou mais pessoas que querem se comunicar"

* "O Press release tem esse nome porque realiza as coisas com pressa".

* "O problema da comunicação social no Brasil é que ela é dirigida por brasileiros, deveríamos trazer os americanos.

* "O endomarketing é como se fosse o marketing endovenoso."
* "Eu acho que a resposta é não. Como o professor deve ter pensado numa armadilha, respondo que é sim.

* "O público mixto é composto por aquelas pessoas que entram e saem da empresa. Ou seja nunca estão totalmente dentro, nem totalmente fora."

* "(a questão dizia que a afirmativa era CORRETA, pedia a justificativa somente). "Disconcordo com a questão. Ela não pode ser positiva. Nunca fiz prova que o professor dissesse que era afirmativa uma questão. Deve ser uma pegadinha, tipo do Faustão.

* "A comunicassão social e feita de mim para voçês"

* "A televisão é influenciativa em nossas vidas. Quantas vezes não compramos um tênis porque vemos na TV? A programação deveria ser mais educante(...)".

* "A empresa e o público ixterno caminhão juntos, incluindo aí a emprensa."
* "O proficional de comunicação tem um mercado bundante a sua disposição, afinal, todos se comunicam na terra(...)".

* "O ruído realmente atrapalha muito a comunicação. Aqui na universidade fico atordoado quando passa o trem, quase não ouço o professor. As salas deveriam ser à prova de som".

* "O fidibeque é a mesma coisa que a retroinformação, ou seja a informação que vem por trás."

* "A comunicação é uma junção da verdade com a falsidade, afinal fofoca é uma coisa feia e é comunicação".

* "Faço comunicação porque acho importante ser comunicadora, mas não acho importante ler jornal (suja a mão), nem ficar em casa vendo TV. Acho melhor me comunicar entre si."

* "A comunicação é moderna porque usa modernidades da atualidade."

* "Os principais meios utilizados pelas comunicação são: meios orais (que são falados), meios auditivos (que são ouvidos) e mais tácteis (que são sentidos)."

* "A comunicação é de massa porque precisamos utilizar a massa cinzenta para compreendê-la".

* "Marketing em português é mercado, marketing pessoal, portanto é o mercado que freqüentamos."

* "Ao utilizarmos a comunicação nos comunicamos."

* "Se a comunicação é pessoal, envolvendo o emissor e o receptor, como podemos pensar em comunicação empresarial? A empresa se expressa por si só?"

Fonte:
www.releituras.com

Arnaldo Poesia (Um Estudo sobre Hamlet)


"O mundo é todo um palco."Lema do Globe Theatre, 1599
– Hamlet e Ofélia


Hamlet, príncipe da Dinamarca, peça escrita provavelmente em 1600/2, é seguramente a tragédia de Shakespeare mais representada em todos os tempos e a que mais se prestou a interpretações de toda ordem. Praticamente todos os escritores e pensadores importantes nos últimos quatro séculos deixaram suas impressões sobre o impacto que lhes causou a história do infeliz príncipe da Dinamarca, constrangido a fazer, sem nenhuma vocação para tal, uma terrível vingança.

~ Estrutura e inspiração ~

Estrutural e tecnicamente, Hamlet é a peça mais longa escrita por Shakespeare (4.042 linhas com 29.551 palavras, 73% delas em verso e 27% em prosa) e, provavelmente, a que mais lhe deu trabalho. Supõe-se inclusive a existência de um esboço original que teria sido alinhavado uns dez ou 12 anos antes da sua conclusão, ali por 1588. Texto que os críticos denominaram de Ur-Hamlet (um primeiro Hamlet). Isso porém são especulações, pois a influência mais direta sobre ele veio mesmo da peça The Spanish Tragedie,

Uma Tragédia Espanhola, de um autor de menor importância chamado Thomas Kyd, que a encenou possivelmente em 1590. Não seria a primeira vez na história cultural, nem a última, em que um traço tosco qualquer servisse como chispa para que alguém de talento ou gênio empolgue-se fazendo dele maravilhas.

~ A história de Hamlet ~

A fonte original da história do príncipe dinamarquês encontrou-se na Gesta Danorum, obra de Saxo Gramaticus, (1150-1206), escrita em latim, mas que recebeu o título de Danish History, na edição inglesa de 1514. A versão que chegou às mãos de Shakespeare é de se supor tenha sido a de Belleforest, intitulada de Histoires Tragiques, de 1570. Coube ao bardo alterar alguns aspectos do enredo e os nomes originais dos personagens. No Hamlet de Shakespeare, por exemplo, Fergon, o rei criminoso que mata o irmão para ficar com o trono e a cunhada chama-se Cláudio; o rei morto Horwendil passou a ser Hamlet-pai, enquanto a rainha Gerutha tornou-se simplesmente Gertudres. Amleth, o filho vingador, foi regravado como Hamlet (o mesmo nome que Shakespeare deu ao seu filho Hamnet, que morreu na infância). Tudo indica que a tragédia, que se passa no castelo de Elsenor, na Dinamarca, era muito popular entre os escandinavos em geral, havendo uma série de lendas dela derivada. Acredita-se que mesmo na época de Shakespeare, uma versão alemã da tragédia do príncipe dinamarquês corria encenada pela Europa.

~ Os personagens ~

Além de Hamlet, fingindo-se boa parte do tempo de louco — e que domina a peça do princípio ao fim como uma estrela lúgubre, sempre trajando preto, demonstrando o luto como um desagrado moral — está o seu rival, o tio Cláudio. Este teria assassinado o pai de Hamlet por meio de um estratagema covarde (Cláudio pingou gotas de um funesto licor no ouvido do rei Hamlet enquanto este dormia num banco de um jardim no castelo de Elsenor). Havia pois algo de podre no Reino da Dinamarca!

Em meio a esses dois leões que vão nutrindo, um pelo outro, um ódio crescente ao longo da história, tentando ser um algodão entre os cristais, está a rainha Gertudres, mãe de Hamlet, e também Polônio, o ministro da casa. Polônio não só é o típico cortesão que pretende acomodar tudo, como também é o pai da jovem Ofélia, a frágil prometida de Hamlet. Ele também tem um filho, Laertes, estudante como Hamlet, que mais tarde, cabalado por Cláudio, vai querer vingar a morte do pai, pois o desastrado Polônio terminara, por engano, mortalmente estocado por Hamlet ao esconder-se atrás de uma cortina no quarto da Rainha Gertrudes. Ao redor desses personagens centrais, circulam outros de menor expressão como Rosencrantz e Guildenstern, ex-colegas de Hamlet que também são aliciados na trama por Cláudio.

~ Um final terrível ~

Depois de peripécias mil, Hamlet, no ato final, vê-se desafiado para um duelo de espada por Laertes. O jovem, devidamente instrumentalizado por Cláudio, que lhe insuflou o desejo de vingança, ainda aceitou participar de uma perfídia. Sabendo ser Hamlet um bom espadachim, deixou-se convencer, pelo rei criminoso, em embeber com mortal veneno a lâmina da sua espada. Garantia-se assim de que o príncipe não sairia vivo do recinto da corte, fosse qual fosse o resultado da peleja. O desfecho, porém, foi tétrico. Deu-se uma sucessão avassaladora de mortes. A sala da corte do rei Cláudio tornou-se o sepulcro da dinastia dos Hamlet. Ferido de morte por uma estocada de Hamlet, Laertes, agonizante, revelou-lhe o plano monstruoso do tio. O príncipe, àquela altura, trazia no sangue a poção maligna, pois Laertes o atingira de raspão.

~ Espadas e venenos ~

Não querendo entregar-se à morte, que já lhe anuviava a mente, antes de poder cumprir com a vingança final, Hamlet concentra sua forças para, num só golpe, prostrar o rei Cláudio. Este morre na hora. A rainha Gertrudes, por sua vez, desconhecendo a segunda armadilha que o rei preparara para o seu filho, emborca num gesto só uma taça envenenada que o marido deixara de reserva sobre uma bandeja. Sofre uma síncope instantânea. A cena é brutal. Corpos jazem por todos lados. Laertes e Cláudio, sangram até a morte trespassados pela lâmina de Hamlet, enquanto esse e a rainha sua mãe contraem-se empeçonhados.

Nesse momento, eis que surge o jovem Fortimbrás, o novo rei da Dinamarca que viera reclamar o trono (o pai de Fortimbrás vira-se usurpado pelo rei Hamlet). Contemplando o horrível quadro, ele compreende que a justiça final fora feita. A ordem voltara a imperar no Reino da Dinamarca. Purificava-se o trono. A podridão de cercava o reino fora removida.

~ O Hamlet de Goethe ~

Goethe, por exemplo, (Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister, livro IV, cap. 3 e 13), registrou que a verdadeira tragédia de Hamlet, ou que pelo menos mais o tocou, a ele Goethe, deu-se pela súbita ruína que acometeu aquele jovem na sua até então vida segura e de aparente bom convívio familiar. Num repente, com a súbita aparição do espectro do pai, deu-se um terremoto na vida dele. Sofreu desmoronamento total da confiança na ordem ética que era representada pelo elo que o ligava aos pais, os quais amava e honrava, e que se rompera de uma maneira tão horrenda ao descobrir a sordidez que envolvia a morte do pai e o repentino casamento da sua mãe, a rainha Gertrudes.

Era Hamlet, para ele, um jovem terno, sensível, que procurava o mais elevado caminho ideal. Modesto, mas com insuficiente força interior, vê-se num repente diante da necessidade de: "uma grande ação" que lhe "é imposta a uma alma que não está em condições de realizá-la." ..... "um ser belo... que sucumbe sob a carga que não pode carregar sem a jogar para longe de si." Tornou-se uma espécie de paradigma involuntário do intelectual, pois quase sempre suas ações eram paralisadas pela exuberante atividade do seu pensamento.

~ O Hamlet de Freud ~

A "modernização" psicológica de Hamlet deu-se pela abordagem que Freud fez no seu A Interpretação dos Sonhos, de 1900, quando o comparou à figura de Édipo, o trágico rei de Tebas, personagem de Sófocles. Observou, porém, Freud que a fantasia infantil de Hamlet ficou por tempos reprimida, só aflorando numa situação similar à da neurose, bem mais tarde. Para Freud, Hamlet era um histérico que aparentava ter, como demonstram suas atitudes para com Ofélia, repulsa ao sexo.

Não o vê porém como um incapaz, concentrado apenas a executar vinganças imaginárias. Afinal ele livra-se, com uma maquinação digna de um discípulo de Maquiavel (obra que Shakespeare conhecia), dos cortesãos Guilderstern e Rosencrantz, que estavam ao serviço do rei Cláudio, como também foi capaz, como se viu, de, num gesto fulminante, trespassar com seu florete a Polônio (que o espionava por detrás da cortina no quarto da rainha Gertrudes). Freud observa que a inação de Hamlet devia-se a que o seu tio Cláudio fizera o que o jovem príncipe (ainda que em seus instantes mais sombrios e reservados momentos oníricos), desejava ter feito: matar o próprio pai!

Mesmo reconhecendo que a criatividade de um poeta é formada por diversos motivos, Freud enfatiza que (como não podia deixar de ser para o fundador da ciência da subjetividade), ao escrever Hamlet , fê-lo sob o impacto da morte do seu pai, John, o que explicaria a presença de um espectro paterno no primeiro ato da peça, e lembra também que um dos filhos dele chamava-se Hamnet, concluindo que "a vida anímica do personagem não era outra senão a do próprio Shakespeare".

Dessa maneira a mais longa peça de Shakespeare seria aquela que carregava as maiores evidências da subjetividade do autor, a que trazia as digitais do gênio por assim dizer.

~ Hamlet maquiavélico ~

Erich Auerbach (Mimesis, no capítulo 13) contraditando Goethe, considerou a interpretação do poeta alemão como adequada ao romantismo do século XVIII. Para ele, e também para Harold Bloom, o personagem de Shakespeare, bem ao contrário do parecer de Goethe, nada tem de rapaz inocente. Hamlet é isto sim astucioso e até temerário em seus ataques. Utiliza-se tanto da dureza selvagem no seu trato com Ofélia, como é capaz do mais absoluto sangue frio quando, ardilosamente, se desfaz dos já citados cortesãos que poderiam atrapalhar o seu plano. Não é, pois, um personagem débil. Ao contrário. É o mais forte da peça. Impõe respeito e temor e parece agir dominado por forças demoníacas. Os seus impulsos, por vezes, parecem predominar sobre tudo o demais. O retardo em agir pode ser visto apenas como um estratagema de um animal cauteloso, um tarimbado sobrevivente das cortes renascentistas, esperando a melhor hora de atacar, e não alguém fragilizado pela indecisão ou pelo medo.

~ A tragédia da inteligência ~

Hamlet é também uma tragédia da inteligência. As artimanhas cerebrais do príncipe são um poderoso instrumento na elaboração da grande vingança. É o que o orienta em reproduzir em frente a toda a corte, quase de improviso, aproveitando-se da presença de uma trupe de atores, a cena da morte do seu pai, para expor o seu assassino, o rei Cláudio. Quase toda a ação que ocorre na peça é geralmente precedida de uma concepção intelectual, que se alterna com rompantes bruscos e violentos que terminam conduzindo-o ao trágico final. Seja como for é um cérebro quem conduz a espada.

~ Hamlet e Édipo ~

Para o discípulo e biógrafo de Freud, o Dr. Ernest Jones (Hamlet e o Mito do Complexo de Édipo), a aparição do espectro do pai e o desejo de vingança que então o acomete não passa de um delírio psicótico, comum de ocorrer com quem é atormentado pelo complexo de Édipo. Hamlet não pode perdoar a mãe ter-se casado novamente. Imaginava-se, após a morte do pai, seu substituto, o centro máximo das atenções de Gertrudes. Eis que esse Édipo vê-se frustrado pelo casamento feito um tanto às pressas dela com seu tio Cláudio. Na sua fantasia, o tio usurpou-lhe não só o trono como o afeto da mãe. A vingança resultante nada mais era do que o pretexto para canalizar a frustração dele em ter sido preterido.

~ A mais bem sucedida das histórias ~

Hamlet é certamente a mais bem-sucedida história de vingança levada aos palcos. Ela, desde o início, coloca o público ao lado do jovem príncipe porque o ato da vingança, que Francis Bacon definiu como uma "forma selvagem de fazer justiça", sempre seduziu o a todos. Hamlet sente-se pois um reparador de uma injustiça, um homem com uma missão. A ela irá dedicar todos os momentos da sua vida, mesmo que tenha que sacrificar seu amor por Ofélia e ainda ter que tirar a vida de outras pessoas. Talvez seja essa obsessão, essa monomania que toma conta dele desde as primeiras cenas do primeiro ato, que eletrize os espectadores e faça com que eles literalmente bebam todas as palavras do príncipe vingador (Hamlet é o personagem que mais fala na obra de Shakespeare, recita 1.507 linhas).

~ Uma concepção excepcional ~

Além disso, a concepção da peça é espetacular. Os elementos que cercam a tragédia são impressionantes. O castelo assombrado de Elsenor, o espectro que ronda as altas torres clamando por vingança, o mal-estar e o clima de intrigas que se apossa da corte, um príncipe esquisito fingindo-se de louco, o belo achado shakespeariano de fazer teatro dentro do teatro, que o levou a encenar um pequeno drama para apurar um crime, as tramas paralelas, a visita noturna do jovem Hamlet ao cemitério, seguido do seu monólogo empunhando uma caveira, o horrível suicídio da bela e frágil Ofélia e, como conclusão, a tétrica dança da taça envenenada, sorvida em meio a um mortal duelo que encerram com um grand finale a tragédia, tudo isso faz dela um dos maiores achados teatrais de todos os tempos.

Quanto a sua construção literária, Hamlet expõe em cada ato, em cada cena, as mais belas imagens em verso e prosa da língua inglesa, beleza, diga-se, que consegue a façanha de manter-se mesmo nas adaptações e traduções que tem sido feitas até hoje. Não importando o idioma em que o traduziram. Pessoas de cultura média, e até sofrível, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, guardam com facilidade uma ou outra passagem hamletiana qualquer de cor. O que mais poderia Shakespeare ambicionar para merecer a imortalidade?

Fonte:
~ Arnaldo Poesia
http://www.starnews2001.com.br/