terça-feira, 12 de julho de 2011

Bruno Camargo Manenti (Resenha do livro de Miguel Sanches Neto, “Então Você Quer Ser Escritor?”)


Miguel Sanches Neto é considerado um dos autores nacionais de maior destaque dos últimos anos, com a publicação de mais de dez livros, dois deles traduzidos para o espanhol. Em "Então você quer ser escritor?", (Record, 2011, 222 páginas), o novo livro de Sanches Neto, é possível entender o porquê . São 16 contos, alguns inéditos, outros já publicados com títulos diferentes em coletâneas, revistas ou jornais.

As histórias são, de um modo geral, uma busca por algo que falta ou que se perdeu: um amor, um mentor, uma inocência. O filho que perde o pai e tenta entender por que ele não voltará; a esposa que procura um motivo para continuar cozinhando lasanha de frango no almoço como sempre fez durante anos de casamento; o pretenso escritor que quer conhecer seu ídolo; o professor que busca nos alunos o nascimento de um grande autor, sem sucesso.

Grande parte das narrativas do livro se passa em cidades interioranas ou tem uma passagem em local parecido, com acontecimentos que serão marcantes para o que acontece na cidade grande. A representação do interior do estado, do interior de cada um, que espera encontrar na capital um motivo a mais para viver, sem perceber que é no interior que moram todos os motivos.

"Então você quer ser escritor?" traz personagens belamente criados para serem fracos, sentirem ao longo da narrativa a necessidade de mudança e buscarem seus ápices (durante o texto ou ainda que continuem a jornada depois do ponto final). Lembram de tempos melhores ou de acontecimentos que foram marcantes e decisivos, com reflexos em suas vidas até o momento presente da narrativa.

As falas não são indicadas em nenhum momento com travessões ou aspas, deixando no ar um suspense: será que o personagem disse isso realmente? Ou é apenas fluxo de pensamento extravasado? São as atitudes que demonstram quão reais são os diálogos, alguns que talvez devessem se manter em silêncio, caso do professor do conto que dá nome ao livro. Fala sozinho em uma livraria, citando Ernest Hemingway: "A maioria dos escritores vivos não existe", fazendo uma jovem ao seu lado rir com desprezo. A riqueza dos personagens pouco reconhecida pelos seus companheiros é destacada por Sanches Neto, para o prazer do leitor.

Pequenos detalhes fazem a diferença nas histórias. Às vezes, um conto começa por um fato e termina com outro bem diferente, não-linear como de costume. O que importa aqui são as miudezas, um olhar, um sapato, um pé de manga. Em "Vestindo meu avô", por exemplo, há uma frase que se repete, e ela é o elo de todo o texto e peça-chave para o entendimento da narrativa, o que a deixa muito emocionante, bela.

A forma de narrar de Miguel Sanches Neto é bem particular, mostrando os detalhes mais importantes logo no início do texto, muitas vezes, mas de forma tão sutil que só percebemos a sua importância quando chegamos ao fim. Embarcamos na busca de um conhecimento que sempre tivemos, mas precisávamos da busca para compreender a totalidade de cada elo dos contos. O caminho dos personagens através de suas histórias se confunde com o do leitor pelas palavras. Um toque leve e preciso que Sanches Neto desenvolve com maestria.

Fonte:
Croni-Médias, de Isabel Furini.

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