quinta-feira, 7 de julho de 2011

III Encontro Catarinense de Escritores e o I Encontro Internacional de Escritores de Alfredo Wagner e Região


A pequena e pacata cidade de Alfredo Wagner na região serrana de Santa Catarina receberá, no mês de Setembro, escritores de diversos países, estados e cidades.

Será o III Encontro Catarinense de Escritores e o I Encontro Internacional de Escritores de Alfredo Wagner e Região nos dias 2 e 3 de Setembro de 2011 na Sociedade Recreativa União Club na Praça da Bandeira, S/N.

O Encontro receberá muitos escritores que já estão se cadastrando. Destacamos especialmente a presença de
  • Dr. Mário Carabajal Lopes, Presidente da Academia de Letras do Brasil;
  • Prof. Dra. Lorena B. Ellis da Queensborough Community College, da Universidade de Nova York;
  • Dr. Prof. Ramesh Chandra, Fundador e Diretor da Ambedkar Center for Biomedical Research, da Universidade de Delhi, Índia;
  • Eng. Altair Wagner, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, Fundador da Fundação Alfredo Henrique Wagner que mantem o Museu Arqueológico da Lomba Alta e membro fundador e vicepresidente da Academia de Letras do Brasil/SC municipal Alfredo Wagner;
  • Poetisa Neida Rocha, Coordenadora do Núcleo UBE - Canoas/RS e imortal da Academia de Letras do Brasil/RS, municipal Canoas.
Entre os palestrantes os alunos da Universidade do Planalto Catarinense, que estão se formando no curso de Letras, terão um espaço para apresentar seus trabalhos.

Cabe destacar que a Dra. Lorena Balensifer Ellis virá ao III Encontro para conhecer escritores, entrevista-los e inclui-los na Revista Virtual de Cultura Hispanoamericana e divulgar suas obras. Tornando-se uma ocasião importante para que escritores brasileiros tenham suas obras divulgadas a nível internacional.

A Academia de Letras do Brasil/SC municipal Alfredo Wagner, em Sessão Solene durante o Encontro, entregará diplomação para iniciativas e ações que visem o desenvolvimento humano e sóciocultural no município e no Estado.

Participe você também do III Encontro Catarinense de Escritores e o I Encontro Internacional de Escritores de Alfredo Wagner e Região. Acesse www.encontrodeescritores.com.br e faça sua inscrição.

Fonte:
Neida Rocha

UBT Curitiba (Notícias de Julho)


18 de julho.
Irmãos trovadores!

Dia 18 de julho comemoramos o Dia do trovador -

Envie-nos sua Trova sobre este tema, para publicação!

Até dia 10 de julho
para:
andrea_motta@terra.com.br
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Solenidade de Premiação em Maringá

Aconteceu em Maringá de 24 a 26 de junho próspero passado as festividades de premiação do V Concurso "Cidade de Maringá", o evento promovido pela Academia de Letras de Maringá, reuniu prosadores, poetas e trovadores de diversas regiões do País. Os anfitriões proporcionaram aos presentes momentos de plena magia, de elevação de sentimentos poéticos e de proveitosa convivência.

Festa Literária de Maringá

de 24 a 26 de junho de 2011

Visualizar álbum das Festividades em Maringá

Outras imagens no Blog Simultaneidades
http://simultaneidades.blogspot.com
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OFICINA DE TROVAS

OFICINA PERMANENTE DE POESIA –
Projeto: ACADEMIA PARANAENSE DA POESIA em conjunto com a UBT-Curitiba -
BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ:
terceira 5ª feira, das 18 às 19 h:
Oficina de Trovas.

21/07 - A TROVA NO PARANÁ (IV) - Rose Mari Assumpção

Biblioteca Pública do Paraná
18 horas.
R.Cândido Lopes 133 – 3º andar - Sl. de reuniões -

CONCURSO INTERNO - AGOSTO

Tema para o concurso interno do mês de Agosto:

- Loucura

* Participe com uma trova inédita por categoria, entregando-a até o término da reunião ( dia 20 de agosto de 2011), pelo sistema de envelope 8 cm X 11 cm (sem identificação externa).

Prazo: Dia 20 de agosto de 2011

Rua Fernando Moreira, 370.Centro - Curitiba- Paraná.

Fonte: Andrea Motta

Poesia no Ônibus “Poetas do Comércio”, em Ponta Grossa (Classificação Final)


reportagem de Patrícia Antunes

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo divulgou, nesta terça-feira (5), os poetas selecionados para o Programa Poesia no Ônibus “Poetas do Comércio”, versão 2011/2012. Uma comissão de alto nível literário fez o julgamento dos poemas e selecionou 10 para circulação nos veículos do Sistema Integrado de Transporte Urbano, no período de julho de 2011 a junho de 2012. De acordo com a secretária de Cultura e Turismo, Elizabeth Schmidt, o programa “objetiva estimular e divulgar a produção literária dos escritores da cidade, tornando a arte acessível a todos e oferecendo à comunidade uma nova alternativa de acesso à arte literária, fomentando o hábito da leitura entre os usuários do transporte coletivo”.

Além de serem exibidos no interior dos ônibus, os poemas selecionados também serão publicados na Antologia dos Concursos Municipais de Poesias e Contos, numa edição especial, com 1.000 exemplares, editada pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, no 2º semestre de 2011. Cada poeta selecionado terá uma cota de 10 unidades a título de direitos autorais desta edição. O restante dos exemplares será distribuído gratuitamente em bibliotecas, escolas, instituições e críticos literários.

Desde 2003, o programa buscou diversificar as vertentes de produção poética envolvendo a comunidade geral, os estudantes do Ensino Fundamental e Médio, os acadêmicos, os escritores já conhecidos na cidade e os trabalhadores de diversos segmentos. Nesta versão, participaram os trabalhadores do comércio de todas as categorias, oriundos de empresas localizadas no município de Ponta Grossa.

Poemas Selecionados:

- "Bênção dos Anjos"- de Alice de Fátima Mendes de Oliveira, Governanta do Vila Velha Hotéis e Turismo;

- "O que vejo" - de Edimarcia das Neves Silva, balconista da Mercearia Atlanta;

- "Sentidos d'alma"- de João Gilberto Agner da Holm/Holm & Advogados
Associados;

- "As crianças" de Kyoma Franceschi, Professora da Educação Infantil da Escola Bom Pastor;

- "Núpcias" e "Menino-violão" de Phellip Willian de Paula Gruber, Vendedor e Contador de Histórias para Crianças da Livraria Universo da Leitura;

- "Quando te sentires sozinho" de Rosemari Aparecida de Oliveira, Auxiliar Administrativa da Academia Universal Arte e Profissão;

-"Minha solidão" de Scheila Domingues, Auxiliar Administrativa da SANEPAR;

- "Cobrador de ônibus" e "Sentimento canino" de Suzana Schulhan Lopes, Cadastro de Livros e Controle de Encomendas da Livraria Universo da Leitura.

Fonte:
Boletim Informativo da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, enviado por Fábio Palhano

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) III – As Estrelas


Com o reaparecimento do Visconde, agora transformado em Doutor Livingstone, a vida do sítio voltou a ser a mesma de outrora. Acabaram-se os suspiros de saudades, mas o Visconde ficou sendo duas coisas: Visconde e Doutor Livingstone. Todos o tratavam ora dum jeito, ora de outro — como saía.

Numa das noites daquele mês de abril estava Dona Benta na sua cadeira de balanço, lá na varanda, com os olhos no céu cheio de estrelas. A criançada também se reunira ali. Pedrinho, de cócoras no último degrau da escada, abria com a ponta do canivete um furo no seu pião novo de brejaúva. Diante dele o Doutor Livingstone seguia o trabalho com a maior atenção.

— Vai ser uma caviúna batuta! — exclamou o menino. — Se este piãozinho não assobiar que nem um saci, perco até o meu canivete.

— Que quer dizer caviúna? — perguntou o novo Visconde.

— É por causa da cor preta — respondeu Pedrinho, — Aquela madeira caviúna, ou cabiúna, tem exatinha esta cor de brejaúva madura. Há brejaúva, ou brejaúba, lá na sua África?

— Não há coco que não haja no continente africano — respondeu o Doutor Livingstone — mas por que essa história de caviúna ou cabiúna, brejaúva ou brejaúba? Que preocupação é essa?

Pedrinho riu-se.

— É que o tal “b” e o tal “v” parecem que são uma e a mesma coisa. As palavras com “b” ou “v” ora aparecem dum jeito, ora de outro. Tudo que aqui dizemos com “b”, os portugueses lá em Portugal dizem com “v”, e vice-versa; e aqui mesmo há um colosso de palavras que a gente diz com “b” ou “v”, à vontade — como essas duas.

Dona Benta continuava com os olhos nas estrelas. Súbito, Narizinho, que estava em outro degrau da escada fazendo tricô, deu um berro.

— Vovó, Emília está botando a língua para mim!

Mas Dona Benta não ouviu. Não tirava os olhos das estrelas. Estranhando aquilo, os meninos foram se aproximando. Ficaram também a olhar para o céu, em procura do que estava prendendo a atenção da boa velha.

— Que é, vovó, que a senhora está vendo lá em cima? Eu não estou enxergando nada — disse Pedrinho.

Dona Benta não pôde deixar de rir-se. Pôs nele os olhos, puxou-o para o seu colo e falou:

— Não está vendo nada, meu filho? Então olha para o céu estrelado e não vê nada?

— Só vejo estrelinhas — murmurou o menino.

— E acha pouco, meu filho? Você vê uma metade do universo e acha pouco? Pois saiba que os astrônomos passam a vida inteira estudando as maravilhas que há nesse céu em que você só vê estrelinhas. É que eles sabem e você não sabe. Eles sabem ler o que está escrito no céu — e você nem desconfia que haja um milhão de coisas escritas no céu...

— Desconfio sim, vovó, mas fico nisso. Sou muito bobinho ainda.

— Bobinho como todos os grandes astrônomos na sua idade, meu filho. Os maiores sábios do mundo foram bobinhos como você, quando crianças — mas ficaram sábios com a idade, o estudo e a meditação.

Narizinho interrompeu o tricô para perguntar:

— Fala-se muito em sábio aqui neste sítio, mas eu não sei, bem, bem, o que é. Conte, vovó — e retomou o tricô.

Dona Benta, quando tinha de dar uma explicação difícil, tomava um fôlego comprido, engolia em seco e às vezes até se assoprava resignadamente. Mas não falhava.

— Os sábios, menina, são os puxa-filas da humanidade. A humanidade é um rebanho imenso de carneiros tangidos pelos pastores, os quais metem a chibata nos que não andam como eles pastores querem e tosam-lhes a lã e tiram-lhes o leite, e os vão tocando para onde convém a eles pastores. E isso é assim por causa da extrema ignorância ou estupidez dos carneiros. Mas entre os carneiros às vezes aparecem alguns de mais inteligência, os quais aprendem mil coisas, adivinham outras, e depois ensinam à carneirada o que aprenderam — e desse modo vão botando um pouco de luz dentro da escuridão daquelas cabeças. São os sábios.

— E os pastores deixam, vovó, que esses sábios descarneirem a carneirada estúpida? — perguntou Pedrinho.

— Antigamente os pastores tudo faziam para manter a carneirada na doce paz da ignorância, e para isso perseguiam os sábios, matavam-nos, queimavam-nos em fogueiras — um horror, meu filho! Um dos maiores sábios do mundo foi Galileu, o inventor da luneta astronômica, graças à qual afirmou que a Terra girava em redor do Sol. Pois os pastores da época obrigaram esse carneiro sábio a engolir a sua ciência.

— Por que, vovó?

— Porque a eles pastores convinha que a Terra fosse fixa e centro do universo, com tudo girando em redor dela.

— Mas por que queriam isso?

— Para não serem desmentidos, meu filho. Como os pastores sempre haviam afirmado que era assim, se os carneiros descobrissem que não era assim, eles pastores ficariam desmoralizados.

— Ficariam com caras de grandes burros, que é o que eles são — berrou Emília indignada.

Dona Benta suspirou.

— Ah, meus filhos, eu até nem gosto de pensar no que os sábios têm sofrido pelos séculos afora... Aquela coitadinha da Hipácia, por exemplo...

— Quem era ela, vovó? — quis saber a menina.

— Hipácia foi uma sábia grega nascida em Alexandria no ano 370. Não só muito culta, como de grande beleza. O pai educou-a muito bem e depois mandou-a aperfeiçoar-se em Atenas, que era a Paris do mundo antigo. De volta a Alexandria, Hipácia abriu uma escola onde ensinava as grandes idéias de Sócrates e Platão. Tornou-se queridíssima do povo, sobre o qual derramava ondas de sabedoria. Pois sabe o que aconteceu com a coitada?

— Casou-se e... — ia dizendo a Emília, mas Narizinho tapou-lhe a boca. — Que foi, vovó?

— Mataram-na! Um grupo de capangas, instigados por um tal Bispo Grilo, atacou-a na rua, matou-a e esquartejou-a.

Os quatro coraçõezinhos ali presentes pulsaram de indignação. Dona Benta continuou:

— E a Sócrates, que foi um dos maiores iluminadores da ignorância dos carneiros, os pastores da época obrigaram-no a beber cicuta, um veneno horrível. E Giordano Bruno? Ah, este foi queimado vivo numa fogueira, no ano 1600 — sabem por quê? Porque era um verdadeiro sábio e estava iluminando demais a escuridão dos carneiros.

— Queimado vivo! — repetiu Narizinho com cara de horror. — Eu nem consigo imaginar o que isso possa ser. Outro dia queimei o dedo na chapa do fogão — e doeu tanto, tanto... Imagine-se agora uma fogueira queimando a gente inteira — a pele, os olhos, o nariz, as orelhas, as mãos, tudo, tudo... — e a menina tapou a cara como para não ver a cena.

Dona Benta deu um suspiro.

— Pois, minha filha, contam-se por centenas de milhares os mártires da fogueira, e quase sempre por isso: enxergar mais que os outros e ensinar aos ignorantes. Por felicidade minha, eu vivo neste nosso abençoado século; se eu vivesse na Idade Média, já estava assada numa boa fogueira — e também vocês, pelo crime de terem aprendido comigo muita coisa. Até Quindim ia para a fogueira como feiticeiro, se os pastores soubessem daquele passeio gramatical que ele fez com vocês.

— E o Burro Falante, vovó? — perguntou Pedrinho.

— Também ia para a fogueira, meu filho. O simples fato de o nosso bom burro falar, já seria considerado crime merecedor de uma dúzia de fogueiras.

— E eu? — indagou a boneca.

— Você tem dito tantas heresias, Emília, que eles a queimavam numa vela até ficar reduzida a carvão, e depois moíam esse carvão e o assopravam aos ventos, de medo que a poeirinha se juntasse e vivesse outra vez.

— E hoje, vovó? — quis saber Pedrinho. — Por que é que hoje não há mais fogueiras para os sábios?

— Porque apesar de todas as perseguições os sábios foram abrindo a cabeça dos carneiros, e os carneiros já não deixam que os pastores queimem os seus mestres de ciência. Mas mesmo assim volta e meia um sábio vai para o beleléu, destruído pelos pastores. Não os queimam vivos, é verdade, mas prendem-nos em cárceres e às vezes até os fuzilam. Ou então perseguem-nos de outras maneiras, tornando-lhes a vida difícil. Em todo caso, já melhoramos bastante, e a prova temos aqui em nós mesmos: estamos vivos!
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Continua … IV – O Céu da Noite
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 265)

Francisco J. Pessoa (CE) em Maringá/PR (Foto por José Feldman)
Uma Trova Nacional

Quando a seca nos acossa
e o rio mostra seu leito,
a tristeza que há na roça
roça com força em meu peito.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

Se ela reza, ao santuário,
rogo aos céus, perdão à Deus,
pois me enciúma, o seu rosário,
quando toca os dedos seus...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - Nova Friburgo/RJ
Tema: INSTANTE - M/H

Tu chegas, só por instantes,
e as minhas mágoas contenho:
se não há depois, nem antes,
vivo os instante que tenho!
–TEREZA COSTA VAL/BH–

Uma Trova de Ademar

Em forma de um lenitivo,
Deus me fez compreender
que eu jamais terei motivo
para chorar, nem sofrer!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Louco artista é o trovador
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia

–GILBERTO CARDOSO/RN–
Graças

Graças ao computador
ao rádio e celular
se escuta o trovador
aqui e no além-mar.

Graças à boa vontade
de quem mal consegue andar
o canto da liberdade
chega até nosso lar.

No PC, livres das traças,
tais poemas recebemos
são graças sobre as desgraças
que todos na vida temos.

Estrofe do Dia

Um poeta deu-me um mote,
para eu desenvolvê-lo,
quem quiser notar anote
que agora eu vou escrevê-lo;
é sobre a espada e a cruz
morte e vida de Jesus
que foi o judeu mais forte;
está na bíblia sagrada
a cruz venceu a espada
e a vida venceu a morte.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–
Sonhos...

Às vezes, quando estamos bem sozinhos,
sentimos desprender-se o coração
que, à procura de sonhos, de ilusão,
transpõe grandes barreiras e caminhos...

Na arrancada veloz, vales e ninhos
explora, sem temor, na solidão,
deixando atrás de si a imensidão
dos sonhos de amargor, nesses caminhos...

Vai e volta, trazendo as esperanças,
abrandando os ódios e vinganças
na agrura dessas trilhas percorridas...

E sempre assim, no decorrer dos anos,
vem trazendo esperanças, desenganos,
deixando atrás as ilusões perdidas!...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Lu Oliveira (O Vendedor de Livros\


Que coisa interessante! Parece que meu espírito nostálgico tem encontrado “adeptos”. Certamente leitores que já passaram dos 30, mas há até alguns na casa dos vinte e poucos anos se mostrando com saudades dos tempos de infância.

Ser uma blogueira que gosta de escrever sobre o passado pode ser um risco, afinal, talvez os mais novos rejeitem meu trabalho. Prometo mesclar, ok? Mas não vou mentir: amo contar minhas histórias de um tempo bom…

Nesse momento, por exemplo, veio à minha mente o vendedor de enciclopédia. Naquela época era algo comum permitir que pessoas entrassem em nossa casa para vender “coisas”. Sei lá, não se pensava muito nos riscos que essa visita poderia oferecer.

E então, em um sábado à tarde, ele chegou e foi responsável por um episódio que jamais esqueci. Meu pai o recebeu com muita simpatia, característica comum a esse homem que amo tanto. O vendedor trazia consigo uma infinidade de livros e estrategicamente foi depositando os exemplares em cima de uma grande mesa de madeira.

Naturalmente, para uma criança de 8 anos, os livros infantis, com todas as suas cores, saltaram aos olhos. Havia uma coleção lindíssima, de capa dura, com pelo menos uma dezena de títulos. As crianças de hoje não conseguem entender isso, mas fiquei “babando” por aquele tesouro, ali, tão perto e tão longe de mim.

Consegui tocá-los, consegui admirar algumas ilustrações, rapidamente tentei ler algumas histórias. Mas o vendedor não tinha o dia todo e precisávamos decidir sobre a compra. Não sei exatamente qual foi a confusão, só me lembro de que meu pai se equivocou com o valor da coleção pela qual eu tinha me apaixonado e, por um minuto talvez, tive a doce ilusão de que aqueles livros seriam meus, só meus.

Mas qual foi a minha decepção quando a confusão se desfez e meu pai entendeu de fato quanto teria que desembolsar.

Com muita educação, ele se desculpou com o vendedor e disse a famosa frase “Hoje não”. Eu sabia, no fundo, que não seria naquele dia e nem em outro que conseguiríamos comprar uma coleção daquelas.

Depois que o vendedor foi embora, chorei copiosamente. Tiraram o doce da criança, ou melhor, o livro. Quando contei essa história para meus alunos, eles disseram: “Professora, você chorou por causa de um livro?”

Ah, eles não conseguiram entender. Não eram somente livros. Eram passaportes para viagens inesquecíveis, eram a porta de entrada para um mundo de fantasias. Para nossa geração, eles representavam a grande oportunidade que tínhamos para aprender, para descobrir, para nos emocionar, para rir e chorar…
Nunca culpei meu pai. Eu sabia que ele desejava tanto quanto eu ter comprado aqueles livros.

Hoje incentivo meus filhos a ler. Compro livros de presente e também leio os meus perto deles, para que vejam que gosto dessa atividade. Mas confesso que não consegui ainda despertar neles a paixão que fez chorar depois da visita daquele vendedor.
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Lucilene Oliveira é curitibana de nascimento e maringaense de coração. Formou-se em Letras pela UEM e trabalha como professora de Língua Portuguesa há 13 anos. Escreve por prazer desde os tempos da faculdade e encontra nas palavras uma forma de dizer ao mundo o que pensa e sente, mesmo correndo o risco de não ser compreendida. Seus textos são crônicas do cotidiano: um olhar particular sobre o universo coletivo.

Fonte:
http://www.odiario.com/blogs/luoliveira/2010/09/19/o-vendedor-de-livros/

terça-feira, 5 de julho de 2011

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poesia, Soneto e Trovas II)


Estribilho
Antonio Manoel Abreu Sardenbera
São Fidélis "Cidade Poema"


Sol a pino acena a seca
Lá na lagoa o sapo coaxa
Lavrador constrói a cerca
Lavadeira lava a colcha
O lenhador decepa a acha.

Tarde tarda, mas não falha
Noite é feita pra folia
Água fresca está na talha
Peixe que foge da malha
É fisgado um outro dia.

O trem só anda no trilho
Mede-se o alqueire com a trena
Ouro puro tem mais brilho
E estrofe com estribilho
Repete o trecho da cena.

Menina que usa decote
Querendo mostrar o colo
Está mais sujeita ao bote
Quem tem sede vai ao pote
E a presa acaba no solo.

Toda noite sempre encanta
Quando tem lindo luar
Passarinho que não canta
Nunca consegue encantar.

E eu fico aqui no meu canto
Louquinho pra lhe falar:
Deixe-me enxugar o pranto
No calor que vem do encanto
Do fogo do seu olhar...

Amor à Roça

Amilton Maciel Monteiro
São José dos Campos/SP


Idoso, já comendo de apisteiro,
Sem condição alguma de voltar
À minha antiga faina de vaqueiro,
Eu passo o dia todo a meditar...

Mas não lamento estar o tempo inteiro
Deitado, sem poder me levantar,
Pois aproveito bem ainda o cheiro
Gostoso do curral que vem no ar...

Vem-me à lembrança o verde da campina
Bastante esbranquiçada de nelore,
Mal dissipava o sol toda a neblina...

E vou compondo versos, quanto possa...
Não quero que a saudade me estupore,
Com tanto amor que tenho pela roça!

TROVAS

Eu, no RUMO das gaivotas,
no mar rendado de espumas,
dentre centenas de rotas,
busco o roteiro em que rumas!...
Hermoclydes Siqueira Franco - RJ

Nos braços do bailarino,
na garganta do cantor,
em cada tango argentino
geme uma história de amor!
A. A. de Assis – PR

Velho farol apagado,
as ondas vêm te beijar,
pelo serviço prestado
aos navegantes do mar.
Evandro Sarmento – RJ

Depois que fiquei sozinho,
meu cantar emudeceu;
o mais triste passarinho
canta mais feliz que eu!
Francisco Garcia – RN

Amigo é firme presença,
seja no riso ou na dor;
é uma forte bem-querença
que chega a ser quase amor!
Alice Cristina Brandão – RS

A vida é renovação
(é amor, é sonho e alegria);
é feita só de emoção,
recomeça a cada dia!
Gislaine Canales – SC

Das estrelas não esperes
mais que palavras ao vento;
as estrelas são mulheres
que piscam sem sentimento.
Selma Patti Spinelli – SP

Ao ver o cair da tarde,
sinto vontade de estar
longe do mundo covarde,
perto do céu para amar...
Carmem Pio – RS

A máscara é camuflagem
do que oculta a veleidade,
pois perdeu toda a coragem
de confrontar a verdade.
Sônia Sobreira da Silva – RJ

Soltei o teu nome ao vento...
e o vento, só por maldade,
repete a todo momento
o nome desta saudade.
Conceição Abritta – MG

Quando de noite o cansaço
envolve-me de mansinho,
busco a paz em teu abraço,
sedenta do teu carinho
Vanda Alves da Silva – PR

Liberdade inconsequente
é tolice, é ilusão;
é liberdade demente,
bem pior que a escravidão...
Antonio Manoel Abreu Sardenberg/RJ

Fonte:
Textos enviados por Sardenberg

Américo Facó (Livro de Poesias)


NOTURNO

Quando jamais na ausência escura,
Na imensa noite sem memória,
Há de repetir-se a aventura
Da antiga floresta ilusória?
Dormência lunar vaga e pura,
Flores, folhas, troncos, raízes,
Revivas de extinto mistério...
Quando na tépida espessura
Há de tornar o sono aéreo,
Os límpidos sonhos felizes?

Mimar de múrmura magia!
Remansear de sombra fremente!
Magia e sombra pesam onde
Se ouvia a voz de um deus presente...
De ouvir a terra estremecia,
O céu profundo se acendia,
Noturnamente, brandamente!
Depois... Depois a voz sombria
Se velou na treva, que a esconde,
Atrás do universo silente.

Ó tempo em flor e folha, menos
Amarga fora esta lembrança,
O mais sutil de teus venenos,
Se cansasse do que não cansa...
Lembrança! filtro acerbo e quente,
Que eu bebo, e quero mais! – espelho,
Mágico espelho contemplado,
Miragem de cristal vermelho
Que fixa o tempo eternamente,
E faz presente do passado!

Imagem nunca mais perdida,
Surta na sombra, que demora!
Noturno ardor, boca de aurora
Que oferta a fruta apetecida!
Forma de si mesma despida,
Imagem sempre a mesma – embora
Paire suspensa além da vida,
Penso que a vejo viva agora,
Não porque a veja revivida,
Só por sonhá-la a igual de outrora.

Sonho! É sonho, minha alma! Vede
O avito engano em que se agita
Para matar a própria sede,
Aumentando a própria desdita...
É sonho! Traz no riso mudo
Certeza e dádiva de tudo...
Sonho!... E sonho, por ele a nua
Negra floresta reverdece;
Por ele, outra vez, no ar flutua
A Presença, que não esquece.

Odor e flor a terra, estuante,
Trescala, arrouba-se no espaço,
Esto que impele ansiosa amante
A procurar no ansiado abraço,
Maviosa vertigem do instante,
A unidade do ser disperso;
E o deus aspira a morna essência
Por que se desvela, diverso,
Múltiplo e solto na consciência
Predestinada do universo.

De novo a Lua, mãe propícia,
Derrama o leite de seu seio;
A vida, a vida esponsalícia,
Vibra total no que era alheio!
Desce de novo a claridade
Por nova confusa carícia,
Enquanto o gesto de bondade
Da vestal dourada derrama
Em lábios eleitos a flama
Da mais que perfeita delícia.

Delícia eterna sempre nova!
Porque a merece a alma sincera
Nem se teme do mal que prova
Nem teme a dor que desespera...
Respiro da noite sonora,
Cujo segredo o dia ignora!
Repouso ao fim de escusas trilhas!
Recompensa de estranho rito,
Maravilha das maravilhas,
Dom do Infinito, – indefinito!

Em teu limiar, porta secreta,
Onde a imensidade começa,
Ressoa a resposta completa,
Murmúrio florido em promessa...
Livre, – livre da aérea bruma
Por que o mistério azul inquieta,
Cria o sonho de si a suma
Graça, a ingênua suma surpresa,
A novidade que perfuma
Esta promessa de beleza.

Fecham-se os braços sobre a escolha
Sem nome, nata do desejo;
De flor a flor, de folha a folha,
A selva salva o suave ensejo,
Encontro prometido e lento,
Ou sonho ou destino, composto
Em um só beijo, – claro intento,
Um mel de música no gosto,
Rosto abismado em outro rosto,
Forma prima de pensamento.

Eu beijo o beijo e abraço o abraço,
Meu raro instante luminoso,
Que se exclui do tempo e do espaço
Na eternidade de um regaço,
A dar-me sem medir seu gozo...
Mago instante que não refaço!
Divino instante que me adverte!
Fugiu-me cedo...
– Onde ir a esmo,
Alma ferida, corpo inerte,
Buscar a ilusão de mim mesmo?

AR DA FLORESTA NOTURNA


Sumida sombra, secreta espessura,
– A noite em meio, ou lembrança do dia,
Selva! selva abismal do tempo, escura,
Onde a força renasce, que não dura,
E fulge a imagem, forma fugidia:

Selva – assombro, sombrio fundo emerso!
Ardor indene, força fria e mansa!
Ventre que gera a suma do universo!
– Tornas o sonho múltiplo, diverso,
O tempo em sonho tornas, sem mudança.

Ou tempo ou sonho, em teu seio, sozinha,
Perdeu-se uma alma, e sozinha consulta
A sombra e, sombra ela mesma, caminha...
Acaso busca, alma enganosa e minha,
Atrás da sombra a maior sombra oculta.

Eu mesmo, o mesmo, bebo neste engano,
E outro, que sou, indago, diferente,
Se a aparência me engana, ou se me engano,
Ao pensar dispartir-me ao desengano
Que faz sentir mais grave o que se sente.

Perdidos evos, quem vos acha o traço?
Existe um norte onde não adivinho?
Qual nume ou nome procuro de espaço?
Importa apenas o gesto que faço?
– No chão noturno escondeu-se o caminho.

Muda-se o mudo momento em surpresa,
Ambíguo pasmo, ao vir de outro momento...
Jamais se muda a sutil incerteza,
Jamais! jamais! – porta de ouro defesa
Da Fábula, que alerta um mundo isento.

O perpassar de uma sombra ligeira
Corta a noite, vai onde a noite a some...
Assim perpassa a doce mensageira
Saudade, que não sinta quem não queira,
E a noite acorda a música de um nome!

Talvez de novo a dileta presença,
Atando enleios de amorosa trama,
Ora tornasse, eterna amante infensa,
Para fugir quando menos se pensa...
E volta, e parte, e quer, e ilude, e chama!

E chama! E vem de novo, como vinha,
A meu desejo, adorada visita,
Perdida para sempre, e mais vizinha,
A minha toda bela, a minha minha;
Meu bem! meu mal! minha amante infinita!

Ela, e não ela, imagem dela ainda,
Certeza dela, e divina conquista,
Veste as rosas da noite, e vem, bem-vinda...
Florido engano! E o doce engano finda,
E se deflora sobre a imagem vista.

Bem longe estais, meus tesouros de outrora,
– Carícias de sol, palores de lua,
Cúmplice olhar ofertando o que implora,
Vermelho riso esparzido na aurora
Da paisagem de linho branca e nua!

Nomais a mim, nomais de mim suponho
Rever-me a ver renovar-se de opressa
Pena de amor um tumulto risonho!
Na sombra a Sombra desfez-se... Foi sonho,
Mal acabou... – Novo sonho começa.

Como se aspira a presença ignorada
De uma flor – pura flama de mil vidas,
Que tanto mais esparsa mais agrada,
Aqui se ouve o silêncio... Ó tudo! ó nada!
Silêncio – voz de harmonias perdidas!

Silêncio – trama infinita do instante!
No afastamento, onde a memória alcança,
Move-se imensa tua vaga, avante,
Inunda, vai, sorve a noite de amante,
Até morrer na inconcessa lembrança...

Lembrança inútil, silêncio indiviso!
Espelho de arremedos e de mágoas!
Sepultou-se na treva um paraíso,
Entre águas negras... Treva! nem me aviso
Do espírito que voga sobre as águas.

Luz, mas luz presa no abismo indistinto,
O pensamento furta-me o que penso,
Outro abismo... Atro abismo! – E cedo! e sinto,
Imagem dupla de mim mesmo, o instinto,
Meu ser de treva entre dois caos suspenso.

A mão de leve se alonga, palpita,
Procede lenta no ar soturno e quedo,
Procura... – Que procura a mão aflita?
Quem guarda a sombra assombrosa onde habita
O instante, imoto, eviterno segredo?

Não sou? não fui? – A unânime verdade
Se faz ínvio jardim de ausência pura;
E no aroma selvagem que as invade,
Gêmeas fatais, a noite e a soledade
Respiram sós de impossível doçura...

Respira livre a noite sem destino,
Sem limite... Respira, ignota e calma,
Respira sobre um delírio divino,
Transmuta-se em temor quando imagino,
E a magia do Sol me extingue na alma!

Recresce o caos... Onde a purpúrea argila
Se turba, tombam as rosas que dantes
Frescas sangravam da manhã tranquila...
E tomba a flor de sonho, que cintila,
– Ouro sutil das estrelas distantes!

Eu cego! Eu só! E a negra plenitude
No ausente espaço urde a surpresa enorme
De um mundo esconso, ermo, repulso, rude...
Não mente a noite, a mente não se ilude,
É teu, minha alma, este mundo que dorme.

É tua a noite, a voragem secreta,
Fora do tempo, alheia ao tempo insonte,
E as aves torvas do fundo sem meta,
– Lascívias idas, que a palavra inquieta,
Imagens, nuvens de inviso horizonte:

É tua a soledade em que te apagas,
Imane mar de morte sonolento...
E elas revoam de inauditas plagas,
Informes, – formas dissolutas, vagas,
Flutuantes entre a noite e o pensamento.

Meu pensamento – minha noite escura!
Desejos, iras, penas, alegrias,
Foram de novo insuspeita amargura
Se foram mais que a sombra, que perdura
No abismo das memórias erradias...

Dormi, lembradas iras! Dormi, penas,
Desejos baldos que nunca dormistes!
As alegrias passaram apenas
Como as furtivas mágoas mais serenas...

Dormi, sombras! Dormi, fantasmas tristes!

Fonte:
FACÓ. Américo. Poesia Perdida. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951.

Américo Facó (1885 – 1953)


Américo Facó (Beberibe, CE 21 de outubro de 1885 — Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 1953) foi um poeta e jornalista cearense, viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Publicou poemas em vários períodicos de seu tempo, como o Jornal do Ceará e o Álbum Imperial, de São Paulo.

Considerado pela crítica literária como surrealista, seus primeiros versos (em torno de 60 poemas) foram publicados no periódico Jornal do Ceará, de Fortaleza, entre 1907 e 1908. Lá publicou também artigos políticos de oposição ao governo de Nogueira Acioly ("um dos mais poderosos oligarcas do Norte", segundo Edigar de Alencar). Por causa desses artigos, em "21 de dezembro de 1908, dois ou três soldados da polícia à paisana deram violenta surra no poeta nas imediações da Praça Marquês do Herval", segundo afirma Gustavo Barroso, que diz ainda que "salvou-lhe talvez a vida a intervenção do Capitão do Exército Castelo Branco, morador na casa da esquina, atraído pelos seus gritos".

Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1911, já fazia parte dos círculos literários mais importantes do país. Sua obra, porém, só seria publicada em livro em 1946, com Sinfonia Negra. Em 1951, publicou Poesia Perdida, renegando tudo o que produzira no Ceará. Seus poemas revelam o cultivo da forma e das rimas raras, talvez reflexo da leitura dos clássicos portugueses.

Foi diretor da parte literária da revista Fon-Fon. Trabalhou no Instituto Nacional do Livro e no Senado Federal.

Foi grande amigo de Carlos Drummond de Andrade, que dedicou a Américo Facó o livro Claro Enigma. Em O Observador no Escritório, Drummond escreveu: "Na casa da rua Rumânia, durante três noites, confiei-lhe os originais do meu livro Claro Enigma e ouvi suas opiniões de exímio versificador. Eu 'convalescia' de uma amarga experiência política [...]. Paciente e generoso, Facó passou um mínimo de nove horas, contando as três noites seguidas, a aturar minhas dúvidas e indecisões. Se não aceitei integralmente suas observações, a verdade é que as três vigílias me deram ânimo a prosseguir [...]. E me fizeram sentir a nobreza do seu espírito de autêntico homem de letras, mais preocupado com a linguagem e seus recursos estéticos do que com a fácil vida literária das modas e dos bares."

Segundo Vagner Camilo, no livro Drummond: da rosa do povo à rosa das trevas, "a interlocução Facó-Drummond merece e deve ser considerada marcante na composição do livro de 1951" (ou seja, Claro Enigma).

A convite de Américo Facó, Drummond trabalhou na frustrada remodelação do Departamento Nacional de Informações, antigo DIP.

Após a morte do amigo, Drummond iniciou uma campanha para que a biblioteca de Américo Facó fosse doada à Fundação Biblioteca Nacional. A família, no entanto, optou por vender os livros. Segundo José Mindlin, eles foram comprados por Libano Calil, proprietário da Livraria Calil Antiquária, o sebo mais antigo de São Paulo.
A venda dos livros provocou, na época, grande discussão na imprensa. A Fundação Casa de Rui Barbosa tem em seus arquivos carta de Elda Facó Marchese, filha do Gen. Edgar Facó, em que comenta crônica de Drummond sobre "a dissolução da biblioteca de Américo Facó, por iniciativa de um dos 'seus primos generais'. Nos arquivos da casa de Rui Barbosa, consta que há anotações de Carlos Drummond de Andrade no corpo da carta.

Américo era irmão da Doutora Aglaêda Facó Ventura, professora de Teoria Literária na Universidade de Brasília.

Fonte:
Wikipedia

William Shakespeare (Sonho de uma Noite de Verão)


Vigorava em Atenas uma lei que concedia aos cidadãos o direito de casar as filhas com quem eles julgassem conveniente. Se alguma se opusesse aos desígnios do pai, este podia fazer com que a condenassem à morte. Mas como os pais em geral não desejam a morte das filhas, nem mesmo quando elas se mostram um tanto teimosas, sucedia que nunca ( ou quase nunca) fora executada a referida lei, embora não poucas vezes os pais com ela ameaçassem as raparigas da cidade.

Houve, porém, um velho, de nome Egeu, que foi realmente queixar-se a Teseu (então o governante de Atenas), de que sua filha Hérmia, a quem ele ordenara desposar Demétrio, de uma nobre família ateniense, recusava-se a obedecer-lhe, porque amava a outro jovem, chamado Lisandro. Egeu pedia justiça a Teseu e desejava que a cruel lei fosse aplicada em sua filha. Hérmia alegava, como desculpa para sua desobediência, que Demétrio anteriormente declarara amor a Helena, com quem ela mantinha amizade, e que Helena o amava loucamente. Nem essa considerável razão demovia o severo Egeu.

Teseu, embora fosse um grande e generoso governante, não tinha poder para alterar as leis de seu país. Por isso, apenas concedeu a Hérmia quatro dias para refletir sobre o assunto; no fim desse prazo, se ela ainda se recusasse a desposar Demétrio, seria condenada à morte.

Depois da entrevista com o governante, Hérmia foi procurar seu enamorado Lisandro, dizendo-lhe o perigo em que se achava: ou o abandonava e casava com Demétrio, ou perderia a vida dali a quatro dias.

Lisandro ficou muito aflito com o que ouvira; mas, lembrando de uma tia que morava a alguma distância de Atenas, num local em que a rigorosa lei não atingiria Hérmia (pois não vigorava alem dos limites da cidade), propôs que fuglssem naquela noite para a casa dessa tia, onde ambos se casariam.

– Irei encontrar-te – disse Lisandro – no bosque, a poucas milhas da cidade, naquele delicioso bosque em que tantas vezes passeamos em companhia de Helena, no aprazível mês de maio.

Hérmia concordou alegremente com a proposta e a ninguém contou a planejada fuga, a não ser à amiga Helena. Helena (pois as mulheres cometem verdadeiras loucuras por amor) resolveu contar o caso a Demétrio, embora nenhum proveito esperasse de tal traição, a não ser o triste prazer de surpreender seu infiel amado no bosque, pois bem sabia que Demétrio lá iria ao encalço de Hérmia.

O bosque em que Lisandro e Hérmia combinaram de se encontrar era o sítio predileto dessas pequeninas criaturas conhecidas pelo nome de duendes.

Oberon, o rei, e Titânia, a rainha dos duendes, com todo seu minúsculo séquito, celebravam naquele bosque suas festas da meia-noite.

Entre esse reizinho e a rainha dos espíritos ocorria naquele tempo um sério desentendimento. Sempre que se encontravam ao luar nas macias alamedas do delicioso bosque, punham-se a discutir, até que todos os gnomos se escondessem de medo nas pinhas dos carvalhos.

A causa dessa desagradável desavença era que Titânia não queria dar a Oberon um menininho, de cuja mãe ela fora amiga. Após a morte desta, a rainha das fadas roubara a criança, levando-a para ser criada nos bosques.

Na noite em que os namorados iam encontrar-se naquele bosque, Titânia passeava com algumas das suas damas de honra e encontrou Oberon, acompanhado de seu séquito de pequenos cortesãos.

– Mau encontro ao luar, orgulhosa Titânia – disse o rei dos duendes.

– Como! És tu, ciumento Oberon? Fadas, retiremo-nos! Não quero a companhia dele.

– Devagar! Não sou eu teu senhor? Por que, Titânia, se opõe ao seu Oberon? Dá-me o menino para meu pajem.

– Esqueça. Nem com todo o teu reino me comprarás o pequeno.

E foi-se embora, deixando Oberon cheio de raiva.

– Bem, vai-te! – disse ele. – Antes do amanhecer, hei de vingar tal afronta.

Oberon então mandou chamar Puck, seu ministro favorito e conselheiro privado.

Puck ( ou Camarada Robin, como era, às vezes, chamado) era um brejeiro e astuto diabrete, que costumava pregar engraçadas peças nas aldeias vizinhas. Às vezes, introduzia-se os nos currais e azedava o leite. Outras vezes, mergulhava seu leve e aéreo corpo na batedeira e, enquanto dançava lá dentro, impedia as mulheres de transformar a nata em manteiga. Também os aldeões eram mal-sucedidos, quando Puck resolvia fazer das suas no vaso de cobre em que se fabricava a cerveja, que, decerto, ficaria estragada. Quando alguns vizinhos se reuniam para beber juntos, Puck, transformado em caranguejo, pulava para dentro da caneca – se alguma velha ia beber, grudava-se nos lábios dela, derramando-Ihe a cerveja pelo queixo murcho. Logo depois, quando a mesma velhota estava gravemente sentada, a contar aos vizinhos uma triste e melancólica história, Puck puxava o banquinho em que ela se achava e derrubava a pobre de pernas para o ar. Então, os presentes apertavam a barriga, rindo perdidamente e confessando nunca terem passado hora mais divertida.

– Vem cá, Puck – ordenou Oberon ao brincalhão notívago. – Traz-me a flor que as moças chamam de amor-perfeito. O sumo dela, derramado sobre os olhos de quem dorme, fará com que, ao despertar, a pessoa apaixone-se pela primeira criatura que a viste. Quero verter um pouco do tal sumo entre as pálpebras de Titânia, enquanto ela estiver adormecida. E a primeira coisa que ela enxergar ao abrir os olhos a deixará enamorada, ainda que seja um leão, um urso, ou um macaco. E, antes que eu tire o encantamento de sua vista, o que poderei fazer com outro feitiço que conheço, hei de obrigá-la a dar-me aquele menino para pajem.

Puck, que adorava pregar peças, muito se divertiu com a idéia do amo e correu em busca da flor. Oberon, enquanto esperava a volta de Puck, viu Demétrio e Helena entrarem no bosque. Ouviu Demétrio censurar Helena por havê-Io seguido. E depois das ásperas palavras de Demétrio e das gentis queixas de Helena, relembrando-lhe o antigo amor e os juramentos passados, ele abandonou-a (como disse) à mercê dos animais ferozes, mas ela correu no seu encalço o mais depressa que pôde.

O rei dos espíritos, que sempre fora amigo dos amantes sinceros, sentiu grande compaixão por Helena. E, como Lisandro dizia que costumavam passear ao luar naquele bosque, é bem possível que ele já tivesse visto Helena nos felizes tempos em que Demétrio a amava. Assim, quando Puck voltou com a referida flor, ordenou Oberon ao seu favorito:

– Fica com um pouco desta flor. Há aqui uma encantadora ateniense que se acha enamorada de um desdenhoso jovem. Se o encontrares a dormir, pinga algumas gotas do sumo em seus olhos, mas trata de fazê-Io quando ela estiver perto, para que a dama desprezada seja a primeira criatura que ele veja ao acordar. Reconhecerás o homem pelos seus trajes atenienses.

Puck prometeu cumprir fielmente essas ordens. Oberon dirigiu-se em seguida, sem que Titânia o notasse, ao caramanchão em que ela se preparava para dormir e que era uma espécie de vale em miniatura, no qual cresciam tomilhos, primaveras e delicadas violetas, sob um dossel de rosas silvestres e eglantinas. Era ali que Titânia sempre dormia uma parte da noite; seu cobertor era uma pele de cobra que, embora pequena, era bastante ampla para cobrir uma fada.

Encontrou Titânia a dar ordens às fadas sobre o que elas deviam fazer durante seu sono:

– Algumas dentre vós têm de matar os bichos dos botões de rosa. Outra precisa caçar morcegos, para lhes tirar as asas, que servirão de capa aos meus pequenos duendes. As demais devem fazer com que a coruja, que pia de noite, não se aproxime de mim. Mas, primeiro, cantem para me adormecer.

E então elas começaram a cantar:

Para longe daqui, espinhentos ouriços!
Para longe, ó morosas serpentes rajadas!
Lagartixas e vermes, incômodos bichos,
Afastai-vos da linda Rainha das Fadas.

Rouxinol, vem tu agora,
Com a doçura de teu canto...
Vem ajudar; noite afora,
Nosso doce acalanto.

Nina, nana, nina, nana
Nada aflige, nada empana,
Nada quebra o teu soninho.
Nina, nana, nana, nina
Boa noite, bem baixinho,
Boa noite nós te damos.
Nina... nana... nina... nana...

Quando as fadas viram que a canção adormecera a rainha, deixaram-na para ir fazer os importantes serviços de que ela as encarregara. Então, Oberon se aproximou cautelosamente de Titânia e lhe instilou o sumo de amor entre as pálpebras, dizendo:

O que tu enxergares primeiro
Há de ser teu amor verdadeiro.

Mas voltemos a Hérmia, que fugira da casa paterna naquela noite, a fim de evitar a morte a que estava destinada, por se haver recusado a casar-se com Demétrio. Quando entrou no bosque, encontrou seu querido Lisandro a esperar por ela, para a conduzir à casa da tia. Mas antes de atravessarem metade do bosque, Hérmia sentiu-se muito fatigada. E Lisandro, cuidadoso ao extremo com sua querida, que lhe provara afeto arriscando a própria vida, convenceu-a de que deveria descansar até o amanhecer num macio relvado. Ele próprio deitou-se no chão a alguma distância dela e dali a pouco estavam ambos adormecidos.

Ali foram encontrados por Puck que, vendo um belo jovem a dormir, vestido à moda ateniense, e uma linda moça adormecida perto dele, concluiu que deviam ser a rapariga ateniense e seu desdenhoso amado que Oberon o encarregara de procurar. E, como se achavam sozinhos um ao lado do outro, Puck. naturalmente conjecturou que ela seria a primeira criatura que o jovem avistaria ao despertar. E assim, sem mais delongas, pingou algumas gotas do sumo nos olhos de Lisandro. Mas aconteceu que Helena passou por ali e, em vez de Hérmia, foi ela a primeira pessoa que ele viu. E, por mais estranho que pareça, tão forte era aquele filtro amoroso, que todo o seu amor por Hérmia desapareceu e Lisandro se enamorou de Helena.

Se primeiro tivesse visto Hérmia ao despertar, o equívoco de Puck não teria conseqüências, pois Lisandro já a queria bastante. Mas foi na verdade um triste acaso ele ser forçado, por um encantamento, a esquecer sua amorosa Hérmia e correr atrás de outra, deixando Hérmia adormecida num bosque à meia-noite, inteiramente só.

Foi assim que tal desgraça aconteceu: Helena, como já ficou dito, tentou correr no encalço de Demétrio, quando este tão acintosamente lhe fugira, mas não pôde prosseguir nessa desigual carreira, visto que os homens são melhores corredores do que as mulheres. Helena logo o perdeu de vista e, andando errante por ali, abandonada e triste, chegou ao lugar onde dormia Lisandro. i

– Oh! – exclamou ela. – Eis Lisandro ali deitado no chão. Estará morto ou dormindo? – Tocou-o então de mansinho e disse: – Lisandro, se estás vivo, acorda.

A isto, Lisandro abriu os olhos e ( começando o feitiço a agir) imediatamente se dirigiu a ela, em termos de delirante amor e admiração. Disse que ela tanto ultrapassava a Hérmia em beleza quanto uma pomba a um corvo e que, por sua causa, seria capaz de atravessar as chamas. E muitas outras coisas do mesmo gênero. Helena, sabendo que Lisandro era namorado da amiga e se comprometera solenemente a desposá-la, encolerizou-se ao ouvi-lo falar daquela maneira, pois pensava que ele estivesse a troçar dela.

– Por que nasci para servir de escárnio a todos? Já não basta eu nunca obter um olhar doce ou uma palavra amável de Demétrio, para que tu, Lisandro, ainda venhas cortejar-me de maneira tão desdenhosa? Eu pensava, Lisandro, que fosses um cavalheiro mais gentil...

Após dizer estas palavras, vibrando de cólera, a pobre fugiu. E Lisandro saiu correndo atrás dela, completamente esquecido de Hérmia, que continuava dormindo.

Quando despertou, Hérmia sentiu medo de se ver sozinha. Pôs-se a vaguear pelo mato, sem saber o que era feito de Lisandro, nem que caminho seguir para procurá-lo. Nesse meio-tempo, Demétrio, incapaz de encontrar Hérmia e seu rival Lisandro e já exausto da infrutífera busca, foi surpreendido por Oberon num sono profundo. Sabia o rei dos duendes, pelas perguntas que fizera a Puck, do engano em que este incorrera e, encontrando a pessoa que procurava, verteu nos olhos do adormecido Demétrio o sumo milagroso. Demétrio logo acordou e a primeira pessoa que viu foi Helena e, como antes fizera Lisandro, começou a dirigir-lhe palavras de amor. Justamente nesse instante apareceu Lisandro, seguido por Hérmia (pois, devido ao infeliz equívoco de Puck, agora era Hérmia quem corria atrás do namorado) . Então Lisandro e Demétrio, ambos a falar ao mesmo tempo, puseram-se a fazer declarações de amor a Helena, cada um deles sob a influência do mesmo encantamento poderoso.

Pasma, Helena pensava que Demétrio, Lisandro e sua outrora querida amiga Hérmia estavam todos combinados para zombarem dela.

Tão surpresa quanto Helena, Hérmia não sabia como Lisandro e Demétrio, que outrora a amavam, achavam-se agora enamorados de Helena. Para ela, aquilo não parecia brincadeira.

– Hérmia cruel – dizia Helena –, foste tu quem mandou Lisandro ofender-me com elogios zombeteiros. E teu outro namorado Demétrio, que antes quase me repelia com o pé, acaso não o mandaste chamar-me de deusa e ninfa, de rara, preciosa e celestial? Ele não falaria desse modo a mim, a quem odeia, se tu não o tivesses instigado a fazer troça de mim. Cruel, Hérmia, juntares-te a estes homens, para escarnecer de tua pobre amiga! Já esqueceste nossa amizade dos tempos de escola? Quantas vezes, Hérmia, nós duas, sentadas na mesma almofada, cantando a mesma canção, com as nossas agulhas bordando a mesma flor, fizemos ambas o mesmo trabalho, crescendo juntas como uma dupla cereja, que mal parece bipartida? Hérmia, não é próprio de amiga, não é próprio de moça, tu te aliares a homens para amesquinhar tua pobre companheira.

– Muito me espantam tuas exaltadas palavras – disse Hérmia. – Eu não zombo de ti; tu é que pareces zombar de mim.

– Ai, continua... Finge seriedade e faze caretas quando eu virar as costas; depois, pisquem os olhos uns para os outros e continuem à vontade vosso divertimento. Se tivesses comiseração, simpatia ou boas maneiras, não procederias assim comigo.

Enquanto Helena e Hérmia trocavam essas coléricas palavras, Demétrio e Lisandro as deixavam, para irem bater-se no bosque pelo amor de Helena.

Quando deram pela falta dos dois, elas se puseram uma vez mais a vagar pelos bosques, em busca deles.

Assim que todos se retiraram, o rei dos espíritos, que estivera com o pequeno Puck a escutar aquelas desavenças, disse ao último:

– Tudo isso foi por negligência tua, Puck, ou fizeste de propósito?

– Acreditai-me, rei das sombras – respondeu Puck –, foi um engano. Não me dissestes que eu reconheceria o homem por seus trajes atenienses? Contudo, não me aborreço que isso tenha acontecido, pois acho divertidíssimas as suas complicações.

– Ouviste que Demétrio e Lisandro foram procurar um local conveniente para se baterem. Ordeno-te que cubras a noite com um denso nevoeiro e faças esses dois belicosos namorados se perderem no escuro, de modo que não possam encontrar um ao outro. Imita a voz de cada um deles e, com pesadas zombarias, provoca-os a te seguirem, na impressão de que estão ouvindo os desafios do rival. Continua assim, até que eles fiquem tão cansados que não possam ir mais longe. Quando vires que eles estão adormecidos, instila o sumo desta outra flor nos olhos de Lisandro e, quando este despertar, terá esquecido seu novo amor por Helena e voltará à antiga paixão por Hérmia. Então, cada uma das duas lindas raparigas poderá ser feliz com o homem a quem ama, e todos pensarão que tudo não passou de um sonho mau. Anda, apressa-te, Puck. Vou ver com que doce amor a minha Titânia topou.

Titânia continuava dormindo, e Oberon viu perto dela um rude camponês que se perdera no bosque e que se achava igualmente adormecido.

– Este nosso amigo – disse ele – será o verdadeiro amor da minha Titânia.

Dito isso, enfiou no rústico uma cabeça de burro, a qual lhe assentava tão bem como se com ela tivesse nascido. Embora Oberon lhe fixasse a cabeça com o máximo cuidado, o homem despertou e, inconsciente do que lhe haviam feito, ergueu-se e dirigiu-se para o caramanchão onde dormia a rainha das fadas.

– Oh, que anjo vejo eu? – exclamou Titânia, abrindo os olhos, enquanto o sumo da florzinha mágica produzia seu efeito. – És acaso tão sábio quanto formoso?

– Bem, senhora – disse o parvo –, se eu tiver sabedoria suficiente para me safar deste bosque, já tenho o que me basta.

– Não queiras sair do bosque – pediu a enamorada rainha. – Não sou um espírito vulgar. Eu te amo. Fica comigo e te darei fadas para te servirem.

Chamou então quatro das suas fadas: seus nomes eram Flor-de-Ervilha, Teia-de-Aranha, Mariposa e Grão-de-Mostarda.

– Atendei – disse a rainha – a este belo cavalheiro. Saltai no seu caminho, fartai-o de uvas e damascos, roubai para ele os sacos de mel das abelhas. Vem sentar-te comigo – falou ao campônio – e deixa-me brincar com as tuas bonitas faces peludas, meu lindo burrico! Beijar-te as belas e grandes orelhas, ó alegria de minh'alma!

– Onde está Flor-de-Ervilha? – perguntou o Cabeça-de-Burro, sem ligar muito aos galanteios da rainha, mas cheio de orgulho pela gente que tinha a seu serviço.

– Pronto, senhor – respondeu Flor-de-Ervilha.

– Coce-me a cabeça – disse o campônio. – Onde está Teia-de-Aranha?

– Pronto, senhor – respondeu Teia-de-Aranha.

– Dona Teia-de-Aranha – pediu o tolo – , mate-me aquela abelha que está pousada ali naquele cardo. E traga-me a bolsa de mel. Mas não se arrisque muito, Dona Teia, e tenha o cuidado de não furar o saco. Onde está Grão-de-Mostarda?

– Pronto, senhor – respondeu Grão-de-Mostarda –, que deseja?

– Nada, sr. Grão-de-Mostarda, é apenas para ajudar Dona Flor a coçar-me. Eu preciso é ir a um barbeiro, sr. Grão-de-Mostarda, pois me parece que estou com uma incrível barba.

– Meu doce amor – disse a rainha – , que desejas comer? Vou mandar uma fada minha buscar-te algumas nozes na dispensa do esquilo.

– Eu preferia uma porção de ervilhas secas – disse o campônio, a quem a cabeça de burro dera um apetite asinino. – Mas, por favor, não deixe ninguém de sua gente perturbar-me, pois tenciono dormir um bocado.

– Dorme, então, e eu te embalarei em meus braços. Oh, como te amo! Como estou louca por ti!

Quando Oberon viu o campônio adormecido nos braços da rainha, aproximou-se e censurou-a por desperdiçar seus carinhos com um burro.

Ela não podia negá-lo, pois tinha o campônio a dormir-lhe nos braços, com a sua cabeça de burro, que ela coroara de flores.

Depois de a ter molestado por algum tempo, Oberon lhe pediu de novo o menino. E ela, envergonhada por ter sido descoberta pelo seu senhor com o novo favorito, não se atreveu a recusá-lo.

Oberon, tendo assim obtido o menino que por tanto tempo desejara para pajem, condoeu-se da desgraçada situação a que, por obra sua, arrastara Titânia, e pingou um pouco do sumo da outra flor nos olhos dela. Logo, a rainha das fadas recuperou a razão e espantou-se de sua passada loucura, confessando o quanto lhe repugnava agora a vista daquele estranho monstro.

Oberon tirou do campônio a cabeça de burro e deixou-o terminar a soneca com a cabeça que Deus lhe dera.

Estando agora de pazes feitas, Oberon contou a Titânia a história dos namorados e suas querelas noturnas. E ela concordou em ir ver, na companhia dele, como acabariam aqueIas aventuras.

O rei e a rainha encontraram os quatro namorados a dormir sobre a grama, a pequena distância uns dos outros; pois o travesso Puck, a fim de reparar seu equívoco, conseguira habilmente trazê-los a todos para o mesmo local, sem que nenhum desse pela presença dos outros. E, com o antídoto que lhe dera o rei, removera cuidadosamente o feitiço dos olhos de Lisandro.

Hérmia acordou primeiro e, vendo o seu perdido LiMndro a dormir tão perto dela, ficou a olhá-lo espantada com sua estranha inconstância. Lisandro então abriu os olhos e vendo sua querida Hérmia, recuperou a razão que o feitiço lhe havia nublado e, juntamente com a razão, seu amor por Hérmia. E começaram a falar das aventuras da noite, duvidando se aquelas coisas teriam realmente acontecido ou se haviam estado ambos a sonhar o mesmo extravagante sonho.

A esse tempo, já Demétrio e Helena estavam despertos. E tendo um suave sono acalmado o confuso e raivoso espírito de Helena, esta ouviu dele todas as confissões de amor que Demétrio ainda lhe fazia e que, tanto para sua surpresa quanto para seu prazer, ela começava a considerar sincero.

Aquelas lindas raparigas notívagas, agora não mais rivais, se tornaram de novo amigas verdadeiras. Esqueceram as más palavras trocadas, e todos serenamente conferenciaram sobre o melhor a fazer naquela situação. Logo ficou acertado que Demétrio, visto que desistira das suas pretensões acerca de Hérmia, interviria com o pai desta no sentido de ser revogada a cruel sentença de morte contra ela lavrada. Preparava-se Demétrio para voltar a Atenas com esse propósito, quando foram surpreendidos com a chegada de Egeu, pai de Hérmia, que viera ao bosque em busca da filha.

Quando Egeu compreendeu que Demétrio já não queria casar com Hérmia, não mais se opôs ao casamento da filha com Lisandro e deu consentimento para que a cerimônia se realizasse dali a quatro dias, isto e, no mesmo dia em que Hérmia devia ser executada. Nesse mesmo dia, Helena prazerosamente consentiu em casar com seu querido e agora fiel DemétrIo.

O rei e a rainha dos duendes, espectadores invisíveis dessa reconciliação, ao presenciarem o feliz desenlace daquela história de namorados, que tão bem terminara graças aos bons ofícios de Oberon, encheram-se de alegria, resolvendo comemorar as próximas núpcias, por todo o reino encantado, com jogos e festins.

Agora, se alguém se escandalizou com esta história de espírito e de suas proezas, julgando-a incrível e estranha, é só levar em conta que todos os seus personagens estiveram dormindo e sonhando e que todas estas aventuras foram visões ocorridas durante o sono: e espero que nenhum dos meus leitores seja tão desarrazoado para estranhar um lindo e inofensivo sonho de uma noite de solstício de verão.

Fonte:
Charles & Mary Lamb. Contos de Shakespeare. Tradução de Mario Quintana.

Aurélio Buarque de Holanda (À margem da “Canção do Exílio”)

pintura a óleo sobre tela de Nicéas .
As Laveiras do Rio São Francisco. pintado na Bahia em 1982.

Discorda Manuel Bandeira do receio da ênfase que levou José Veríssimo a chamar “quase sublime” à “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. Admirando irrestritamente o poema, Bandeira não vê razão para o “quase”. Embora eu não morra de amores pelo sublime, estou de acordo com o poeta de A Cinza das Horas. Afinal de
contas, o bom ou mau gosto do qualificativo é questão pessoal: o certo é que a ideia nele contida me parece bem ajustada àqueles versos de 20 anos, de uma beleza tão simples e tão alta.

Esta simplicidade será uma das razões mais seguras da boa fortuna da “Canção”. Pela altura de 1943 ocorreu o centenário dela: viu-se que ainda estava bem viva, a ponto de ter recebido festas em sua honra, promovidas por aquele excelente Nogueira da Silva, um possesso da glória de Gonçalves Dias, e que parece só haver mesmo esperado a comemoração para liquidar contas com a vida.

Refletindo no segredo de tal simplicidade, vejo que ele reside em mais de um ponto. O principal é talvez o seguinte: a ausência de qualificativos. A falta desse elemento valoriza de maneira singular os substantivos do poema, dando–lhes relevo, dilatando-lhes a sugestão emocional.

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Observe-se: além dos conectivos – onde, que, como, sem que, por, para – tudo o mais são substantivos (ou pronomes pessoais) e verbos, elementos básicos da oração; advérbios de lugar – aqui, cá (a terra do exílio) e lá (a pátria distante); possessivos – minha, nosso – e o quantitativo mais (aqueles e este repetidos tantas vezes); e, por fim, o não. Nada de qualificativos.

Quanto aos possessivos e ao quantitativo, a presença deles basta para sugerir a antítese: “minha terra tem palmeiras” (e subentende-se: e esta terra não as tem), ou o segundo elemento da comparação: “Nosso céu tem mais estrelas” (do que o céu desta terra); “Mais prazer encontro eu lá” (do que aqui). Só duas vezes a comparação, ou correlação, aparece integral: “As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”, e “Minha terra tem primores, / Que tais não encontro eu cá”. O não, nestes dois casos, serve para mostrar a inferioridade da terra de exílio; e no terceiro e último – “Não permita Deus que eu morra” – indica o receio do poeta de morrer sem tornar a ver o chão natal.

Alguém poderá lembrar-me que sozinho figura no poema e é um qualificativo. A rigor, porém, não merecerá tal denominação: falta a sozinho (como a só, está claro) a essência pictural característica das palavras daquela categoria, corno, por exemplo, azul, branco, bom, forte, largo, rico.

E por que razão a ausência de qualificativos valoriza tão fortemente os substantivos do poema, conforme foi dito? Porque o poeta usou de substantivos carregados, já por si, de um denso conteúdo sugestivo – seres e coisas da natureza, na maioria, ou abstrações: elementos que, assim despojados, nus, ganham fundo em intensidade; que se fazem valer melhor por si sós: terra, palmeiras, Sabiá, aves, céu, estrelas, várzeas, flores, bosques, vida, amores, noite, prazer, primores, Deus.

De tais elementos o mais importante é Sabiá, que, por sinal, Gonçalves Dias escreveu com inicial maiúscula. Sabiá aparece quatro vezes na poesia, e rimando com as palavras cá e lá, de tão vivo poder de sugestão, pois designam, respectivamente, o país estrangeiro e a terra natal.

Repare-se, agora, na posição destas palavras – Sabiá, cá e lá –, seguramente as mais importantes do poema, ao lado de terra e palmeiras: posição de relevo, em fim de verso; a mesma do vocábulo palmeiras, quatro vezes empregado. Na segunda estrofe, o encadeamento, somente usado nela e, em parte, na última, contribui para a variedade, quebrando o que poderia haver de monótono pela insistência em determinados efeitos de repetição e criando novo efeito. Com exceção dos substantivos finais da segunda estrofe – estrelas, flores, vida, amores –, precedidos do quantitativo mais para fim de comparação (a qual, como se viu, fica subentendida), todos os demais substantivos de fim de verso vêm desacompanhados de adjetivos de qualquer natureza. Por outro lado, todos os substantivos usados em meio de verso, fora aves, acham-se modificados por um adjetivo: “minha terra”, “nosso céu”, “nossas várzeas”, “nossos bosques”, “nossa vida”, “mais prazer”. O próprio aves está modificado por uma oração adjetiva: “que aqui gorjeiam”.

Na lista de substantivos do poema incluí noite. Normalmente, talvez não devesse fazê-lo, pois o termo é parte integrante de uma locução adverbial. Mas a palavra, aliada ao sozinho, traduz tão poderosamente o abandono do poeta que a sinto como obstinada em não se diluir no conjunto da locução. E quanto aquele sozinho, à noite é fundamente sentido (as cismas noturnas, na solidão do exílio!), é o mesmo Gonçalves Dias quem o mostra: usando-o por duas vezes, da segunda procura dar-lhe relevo, ladeando-o de travessões.

Vejamos a admirável técnica da repetição.

Dos 24 versos do poema, nada menos de sete (o 11.o, o 12.o, o 15.o, o 16.o, o 17.o, o 18.o e o 24.o) repetem na íntegra versos anteriores, e quatro (o 13.o, o 21.o, o 22.o e o 23.o) são repetições parciais. Os elementos da segunda estrofe, paralelística, não se reiteram nunca. A terceira estrofe constitui-se de dois versos novos, mais os dois iniciais da primeira.

Na quarta nota-se a repetição quase integral do primeiro verso do poema, com a simples mudança de palmeiras em primores (palavra esta, por sinal, em que a primeira letra de cada sílaba é exatamente a mesma que em palmeiras, fato possivelmente intencional); depois, um verso inteiramente novo – “Que tais não encontro eu cá” – e a repetição de toda a estância anterior, constituindo-se assim uma sextilha.

A última estrofe, sextilha também, admirável de sentimento, é um achado de poética: um verso formado de palavras inteiramente novas; outro em que aparece uma das constantes mais poderosas do poema – lá; dois que repetem parcialmente o 13.° e o 14.°, terminando o segundo deles com outra constante das mais valiosas – cá; no penúltimo verso, a repetição de nova palavra de igual natureza – palmeiras; por fim, integralmente, o verso mais repetido de toda a composição; o único, pode-se dizer, em que se apresenta um ser vivo, o Sabiá – a nota mais típica da terra pátria.Oúnico, sim; porque aves, nome também de ser vivo, é usado assim, genericamente, no plural, uma só vez, apenas para, desenvolvendo a ideia de que no lugar do exílio não havia o Sabiá, poder o poeta frisar que as mesmas aves comuns aos dois países gorjeiam na terra natal com maior beleza.

Ainda mais: o encadeamento, desprezado na terceira e na quarta estrofe, retoma aqui, na última, o seu lugar, utilizando agora o autor um expediente de efeito: a aliança daquele processo de repetição – elemento tão largamente valorizador do poema – “Sem que eu volte”, “Sem que desfrute”, “Sem qu’inda aviste” (uma sequência só interrompida pelo antepenúltimo verso – “Que não encontro por cá”) – com a iteração, no fim de cada um dos versos começados por “Sem que”, de palavras-temas várias vezes repetidas ao longo da composição – lá, palmeiras – e primores, empregada uma vez antes. E se, no encadeamento, a sequência perfeita é quebrada por aquele antepenúltimo verso – “Que não encontro por cá” – a arte do poeta fez que ele fosse quase uma repetição integral, e talvez melhorada, do “Que tais não encontro eu cá”.
Abril de 1944.

Fonte:
Revista Brasileira n. 64. Academia Brasileira de Letras.

Leon Eliachar (O Precavido)


Há seis meses que foram morar no prédio novo e há seis meses que Eurico não botava os pés na rua. A mulher vivia reclamando.

— Quando é que você vai trabalhar, Eurico? Ele repetia sempre o seu ponto de vista:

— Quem quis morar na Zona Sul foi você,não fui eu. Já lhe disse que tenho medo de ir pra rua, porque é muito perigoso. Os jornais estão aí pra não me deixar mentir.

E abria sempre nas seções policiais e exibia pra mulher:

— Olha aí: “Padeiro esfaqueou freguês por¬que reclamou o troco”... “Barbeiro degolou a manicure na porta do açougue”... “Chofer de ônibus estrangulou o guarda-civil pra não pagar a multa”... “Passageiro assaltado e despido pelo motorista de praça”...

Eurico não só tinha medo de sair como estava ficando maníaco. Passava o dia inteiro cortando jornais e colando nas paredes as manchetes poli¬ciais. Em criança, quis ser detetive, mas desistiu da idéia quando um amigo lhe disse:

— Sabe quem morreu? O Sócrates.

— Quem?

— O Sócrates, aquele nosso amigo que era detetive.

— Morreu de quê?

— No cumprimento do dever. Deu um fla¬grante na mulher de um coronel e levou bala.

Desse dia em diante, preferiu ser corretor de imóveis. Nada de flagrantes, nada de se meter com a vida dos outros. Cada um que cuidasse da sua — e já não era pouco. Mas não perdeu a mania de ler as seções policiais. Tinha verdadeira adoração por crime e quanto mais complicado melhor. Até que veio morar na Zona Sul, influenciado pela mulher. No dia em que botou os pés dentro do apartamen¬to, exclamou:

— Agora vai ser fogo pra sair daqui, Arlete. Estamos morando bem na fonte das manchetes. Isto aqui é uma verdadeira “universidade do crime”. Sujeito que mora na Zona Sul, ou mata ou morre.

Foi assim que comprou o seu primeiro revól¬ver. Mas nunca teve coragem de atirar, nem pra caçar passarinho. Tinha pena de matar bicho, muito menos gente. Mas a mulher já não agüentava mais aquele homem o dia inteiro dentro de casa, de pija¬ma, recortando e colando manchetes pelas paredes: “Vizinha do sexto assalta a vizinha do quinto”... “Matou o transeunte por causa de meio quilo de carne”... “Encontrado boiando na praia duas se¬manas depois de ter desaparecido”...

Eurico era antes de tudo um revoltado. Tinha estudado pra melhorar a ação da polícia e a prin¬cipal conclusão a que chegou foi que a polícia era deficitária de policiais. “Se fosse deputado”, dizia, “ia fazer um projeto pra erguer um monumento ao cadáver desconhecido.''

— A polícia não tem culpa. O saldo de cri¬minosos encalhados na rua é muito maior que o estoque de policiais enfileirados nos distritos.

Mas a mulher não suportava mais nem as suas manchetes nem as suas teorias:

— Amanhã faz seis meses e dois dias que você está aqui dentro, Eurico. Vai pra rua de qualquer maneira, nem que seja pra comprar cigarro.

Dito e feito. Eurico relutou um pouco, mas acabou saindo. Mal chegou na porta do edifício, ouviu quatro disparos. Não deu tempo de correr, um balaço o acertou no pé. Quando a vizinhança veio socorrê-lo, deu por falta da carteira. Disse pra mulher:

— Está vendo? E não venha me dizer que não tenho razão.

Arlete não teve outra saída:

— Foi coincidência. Ele gritou:

— Coincidência você vai ver de agora em diante pra me tirar de dentro de casa. Nunca mais.

Dois meses depois, deu ladrão em sua casa e roubou todas as jóias da mulher. Eurico nem viu, estava colando manchetes no quarto da empregada.

Fontes:
ELIACHAR, Leon. A mulher em flagrante. Círculo do Livro. Digitalizado, revisado e formatado por Susana Cap
Imagem = http://www.luzdegaia.org/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 264)


Uma Trova Nacional

Procure espalhar, na vida,
alegria em sua estrada,
que a alegria dividida
é sempre multiplicada!
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP–

Uma Trova Potiguar


Que o mais lindo sol desponte
sobre o milênio terceiro,
e que debaixo da ponte
ninguém ponha o travesseiro!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada


2008 - Bandeirantes/PR
Tema: AUDÁCIA - M/E.

Meu velho peito se inflama
sob a chama da paixão,
porque a audácia de quem ama
é maior do que a razão!
–EDMAR JAPIASSÚ/RJ–

Uma Trova de Ademar


Poetas e Trovadores,
com inspiração divina,
são os interlocutores
dos versos que Deus ensina!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Tudo a juntar-nos: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor. . .
- Só nos separa a Distância.
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

–HÉLVERTON BAIANO/GO–
Compreensão

O que eu construir
tem destino certo
é feito pra ruir
quando for aberto.

O que eu destruir
pelo meu caminho
se fará porvir
nesse torvelinho.

O corpo carrega
novelos de sonhos
tece e sonega
o que eu componho.

E o medo medonho
que a gente sofre
por temê-lo, ponho
guardando meu cofre.

Estrofe do Dia

Toca doze por oito na batida,
este sino de carne funciona,
o seu eco na alma excursiona
e fala toda paixão da nossa vida;
estremece na hora da partida,
tange triste no fim das ilusões,
se alimenta no fogo das paixões,
na esquerda do peito faz seu leito;
toca o ritmo silente em nosso peito
o maestro de nossas emoções.
–OLIVEIRA DE PANELAS/PE–

Soneto do Dia


–JOSÉ OUVERNEY/SP–
A Semente

Nós que herdamos de Deus o dom da fala
temos que nos ater ao seu valor,
fazendo do bom senso o seu censor,
no intuito natural de preservá-la.

Sabendo sempre, como e quando usá-la,
a vida terá muito mais sabor:
é tão fácil, tão bom falar de amor!
Basta gostar da idéia e adotá-la!

Nós precisamos da seara rica
que o bom uso da fala dignifica:
por isso Ele nos fez semeadores;

porque a palavra em qualquer solo medra:
se mal plantada, irá nascer só pedra...
- E o mundo é mais feliz... quando há mais flores!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Élbea Priscila de Sousa e Silva (Pequena e Doce Crônica)


Segunda das cinco cronicas vencedoras do V Concurso Literário “Cidade de Maringá” (Cronicas Vencedoras) Troféu Laurentino Gomes.

ÉLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
(Caçapava/SP)
PEQUENA E DOCE CRÔNICA

A sua despensa era o seu “celeiro”.

Ali ela guardava ovos de suas adoradas galinhas, as quais batizava: Branquinha, Dengosa, Gorda, Andeja e por aí afora. Estocava o feijão mulatinho da última safra, o arroz vermelho, socado no pilão, a farinha de trigo integral, as frutas do pomar... Ah! E os potes de geléia e vidros de conserva e a ardida e deliciosa pimenta dedo-de-moça... e os doces cristalizados e a goiabada cascão... e os queijos e manteiga...

Aquele celeiro de provisões e guloseimas era o orgulho de minha mãe. Era parte de seu doce mundo.

Quando chegava uma visita inesperada, ela me chamava:

- Querida, vá até o “celeiro” e traga queijo, geléia, manteiga, que eu já vou aprontar um café para a nossa amiga. E também, traga broinhas de fubá e caramelos para as crianças...

A mesa do café ficava um sonho só, com a toalha branca, de linho bordada, herança da vovó, e com os guardanapos ao lado das xícaras de porcelana. Era uma festa para os olhos e paladares.

Nós morávamos na roça, mas... cultura vem do berço, e aqueles requint3es todos acariciavam a alma de mamãe e de todos nós, filhos e marido.

Aquela mesa era o carinho concretizado de seu espírito sensível.

Quando ela se foi, com ela se foi o “celeiro”.

Ninguém continuou a tradição porque os tempos são outros...

A fazendo foi vendida, os filhos partiram e papai mora comigo.

Eu lhes conto, porém, um segredo: ele, o celeiro, se transferiu para o meu peito, e aí está sempre repleto de doces sabores, de olores suaves e da presença etérea e eterna de uma adorável quituteira.

O “celeiro” e ela vivem aqui, em cores, em meio às demais lembranças, em branco e preto.

Fonte:
AGULHON, Olga. PALMA, Eliana. V Concurso Literário “Cidade de Maringá”. Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Giuseppe Garibaldi)


– In Memoriam – Nascimento do herói em 4.7.1807, em Nice, França

Foi “herói de dois mundos” e lutou
pelo nobre ideal do farroupilha,
quando os imperiais ele enfrentou,
do seu barco Mazzini sobre a quilha.

Em Laguna encontra Anita que amou
e com ela então forma uma família,
e o filho Menotti em Mostardas gerou,
quando pra Montevidéu segue a trilha.

Giuseppe Garibaldi, sempre lembrado
pelos que lutam contra a tirania
e veem em seu exemplo augusta glória.

Lembrem-se: quem não evoca o passado,
vai ter, com certeza, no dia a dia,
volta à opressão que já viu na História !

Porto Alegre – RS, 4 de julho de 2011-07-04
às 13h48min. – Bairro Tristeza.
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Sobre Giuseppe Garibaldi
Conhecido como "herói de dois mundos" por ter participado de conflitos na Itália e na América do Sul, dedicou sua vida à luta contra a tirania. Ainda menino, tornou-se marinheiro e conheceu a vida no mar. Aos 25 anos chegou ao posto de capitão da marinha mercante, ao mesmo tempo que se aproximava do movimento "Jovem Itália", que lutava pela independência e unificação dos diversos Estados em que se dividia a península itálica.

Foi condenado à morte e fugiu para a América do Sul, desembarcando no Rio de Janeiro em 1835. Logo, porém, segue para o Rio Grande do Sul e se junta aos republicanos da Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, destacando-se nos combates às forças imperiais. Juntamente com o general Davi Canabarro, tomou o porto de Laguna, em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana.

Em Laguna, Garibaldi conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro, com quem se casaria. Ela se tornou sua companheira de lutas na América do Sul e na Europa e entrou para a história com o nome de Anita Garibaldi. Pouco antes do fim da Guerra de Farrapos, foi dispensado por Bento Gonçalves de suas missões e mudou-se para o Uruguai.

Naquele país, em 1842, foi nomeado capitão da frota uruguaia na luta contra o ditador argentino Juan Manoel Rosas. No ano seguinte, exerceu papel fundamental na defesa de Montevidéu, impedindo que a cidade fosse tomada pelos argentinos.

Em 1848, Garibaldi voltou à Itália para combater os exércitos austríacos na Lombardia (norte da Itália) e dar início à luta pela unificação italiana. Fracassou na tentativa de expulsar os austríacos e foi forçado a refugiar-se primeiro na Suíça e depois em Nizza (hoje Nice, na França). Visando conquistar Roma ao papado, os liberais italianos marcharam contra aquela cidade e a tomaram. Garibaldi partcipou da campanha com um corpo de voluntários e foi eleito deputado na assembléia constituinte da República Romana.

Contudo, os franceses e os napolitanos cercaram a cidade, visando a restabelecer a autoridade papal. A cidade caiu em 1º. de julho de 1849. Garibaldi recusou um salvo-conduto do embaixador americano e empreendeu uma retirada com 4 mil soldados, sendo perseguido por três exércitos (franceses, espanhóis e napolitanos), que somavam dez vezes o seu número de homens. Ao norte da Itália, o exército austríaco, com 15 mil soldados, também aguardava Garibaldi. Durante os combates, Anita foi morta, em 4 de agosto de 1849.

Condenado ao exílio, Garibaldi morou na África, em Nova York e no Peru. Entretanto, voltou à Itália em 1854, participando da Segunda Guerra de Independência contra os austríacos. O Conde de Cavour, primeiro ministro do Piemonte (norte da Itália), nomeou-o comandante das forças piemontesas e sob seu comando a Lombardia foi tomada à Áustria. Com isso, a Itália do norte estava unificada.

Garibaldi voltou-se então para o centro do país, com o apoio de Vítor Emanuel 2º, rei do Piemonte, e de seu ministro Cavour. No centro da Itália, porém, a política e a diplomacia prevaleceram sobre as armas e os acordos com que Cavour e o rei cederam Nice e Savóia à França foram considerados uma traição por Garibaldi, que decidiu agir por conta própria. Seguiu para o sul, onde conquistou a Sicília e o reino de Nápoles.

Governante absoluto do sul da península, Garibaldi promoveu um encontro de suas tropas com as de Vítor Emanuel, que se tornou o primeiro rei da Itália unificada, ou quase. Ainda faltava libertar Veneza dos Austríacos (1866) e Roma do papa, o que Garibaldi tentou em vão em 1869, sendo derrotado mais uma vez pelos franceses.

Ainda assim, em 1871, uniu-se a eles na guerra Franco-Prussiana, onde venceu algumas batalhas, apesar das quais, a França perdeu a guerra. Não havendo aceitado o título de nobreza e a pensão vitalícia que o rei Vítor Emanuel lhe oferecera, Garibaldi retirou-se para sua casinha na ilha de Caprera, e lá permaneceu até o fim da vida.

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Biografia = Uol Educação