segunda-feira, 8 de junho de 2015

Trovadora Homenageada: Eulinda Barreto Fernandes

Abra a janela da vida
e mostre o alegre viver!
Que essa saudade doída
não a faça se esconder.
Acumular sentimento
dentro do meu coração,
não deixar no esquecimento
o carinho ao nosso irmão.
A jovem que se escondeu
nas manhãs da minha aurora,
de repente apareceu
bem diferente de outrora.
A medalha pendurada
que está encostada em meu peito,
foi um presente da amada
hoje ... um romance desfeito.
A minha casa tem grade
servindo de proteção;
suspeitos em liberdade,
delinquente sem prisão.
A ponte do ódio e do amor,
precisa ser balançada
para que o amor, triunfador,
passe livre em caminhada.
Busco teu querer em vão,
e vou vagando sem rumo.
Tropeço na solidão...
meu produto de consumo.
Cai a tarde e vem à mente,
as que eu vivi no sertão:
– Meu pai, trazendo a semente,
que lhe cabia na mão.
Da cadeira que balança,
e dos seus olhos tristonhos,
trago, na minha lembrança,
a vovó no fim dos sonhos.
Da casinha... que saudade
- perto da linha do trem -
Faz lembrar a mocidade
e as rodas em vai e vem.
Desfolhei as margaridas
pra saber do bem querer...
Mal querer às escondidas,
estava sempre a vencer!
Em cada página um poema,
em cada verso a emoção
de encontrar, sem ter dilema,
estampada a inspiração.
Foi do campo de batalha ...
- que tristes lembranças traz! -
Trouxe consigo a medalha
e o que queria era a paz!
Foi no calor da lareira...
com seu cheiro em toda casa,
me tomaste por inteira
deixando meu corpo em brasa.
Folhas mortas ... e eu revivo,
a cada outono que vem,
o nosso laço afetivo
e desse amor sou refém!
Há um renovar de energia
e um futuro de esperança,
ao sentir, na mão macia,
o carinho da criança!
Minha idade vem rolando
como as pedras no caminho.
Pedra a pedra vou juntando,
edificando o meu ninho.
Minha trova aprisionei
em moldura colorida,
o fato é que ali deixei
um pouco de minha vida.
Murmúrio que vem no vento,
com certeza deve ser
a voz de Deus, em lamento,
querendo nos proteger.
Na travessia da vida
 enfrentamos a batalha:
 - Ora se perde a investida...
 - Ora se ganha a medalha!
Na vida de um trovador
há sentimentos variados
e é da alegria e da dor,
que faz seus versos rimados.
No jardim em que plantei
para decorar minha alma,
lindas flores cultivei...
Espinhos? Tirei com calma.
O adeus assina a sentença...
e eu vejo, em meu padecer,
quando a tua indiferença
vira a página...sem ler!
O descendente italiano
sempre tem um sonho a mais:
– atravessar o oceano,
ver a terra de seus pais.
Para matar a saudade,
o meu diário eu abri.
Recordei, da mocidade,
momentos bons que vivi!
Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história...
Na página envelhecida
eu te prendi...na memória!
Por medo de te perder
ou por falta de coragem,
procurei sempre esconder
a minha parte selvagem.
Quando o feitiço acontece,
na loucura da paixão,
o nosso corpo padece
e perdemos a razão.
Se dói voltar ao passado,
quero sentir essa dor.
Lembranças... de um namorado:
– único e primeiro amor.
Sentindo o peso da idade
e, agora em compasso lento
vem, em mente, a mocidade
que se foi... tal qual o vento.
Sobreviver nesta vida
é travar uma batalha:
– chora-se a cada partida;
vibra-se a cada medalha!
Tantos anos e eu ausente...
Anos que eu sobrevivi.
Hoje vivo intensamente
compensando o que perdi.
Tristeza de um pescador
com a canoa no rio,
pensando no lar... e a dor
da fome e também do frio.
 BRINCANDO COM A SAUDADE
Anos atrás, as crianças
criavam as brincadeiras.
Eu trago, em minhas lembranças,
algumas mais costumeiras.
A tampinha da garrafa
era o jogo de botão.
Figurinha em bafa-bafa
e sempre de pé no chão.
Cantava escravo de Jó,
sem largar minha boneca.
Da galinha carijó,
as penas viram peteca.
Salva, carrinho de lata,
aviãozinho de papel,
como era quente a batata...
melhor é passar anel!
Cinco Marias trazia,
guardadas em embornal
e também quando chovia
o barco era de jornal.
Chega à noite, ao me deitar
e estando muito cansada,
estória vou escutar,
contada por uma fada.

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