sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Isabel Furini (Comadres)

Janine sempre fora uma mulher bonita. Sabia agradar e seduzir, mas os anos passaram e ela – como uma flor – foi perdendo a louçania, mas parecia não tomar conhecimento disso, ao contrário de Ângela.

Ângela, 65 anos, é uma mulher alegre e brincalhona. Rechonchuda, a pele clara, o cabelo preto e as bochechas sempre vermelhas. No dia 15 de Fevereiro, dia do aniversário do neto, a família estava reunida em volta do bolo. Ângela deliciava-se com os brigadeiros. De repente, a campainha toca várias vezes, com um som longo e agudo. Quem será? pensou. 

Seu filho, Daniel, correu até a porta e abriu. Janine, a sogra, entrou correndo, os olhos esbugalhados e respirando com dificuldade. 

– Onde está minha filha? – perguntou.

Marli colocou as empadinhas sobre a mesa e correu ao lado de sua mãe.

– O que aconteceu, mamãe?

– Filha... filhaaaa... – repetiu a Janine quase chorando – desci do ônibus e um homem me seguiu. Não sei o que queria... não sei o que queria.

– Mamãe! – gritou a filha, abraçando-a – você esteve em perigo? Ele disse alguma coisa?

– Não, não falou, mas olhava para mim, com um olhar... e ao descer do ônibus vi que ele desceu atrás de mim, e começou a seguir-me. Você entende?.. Ele tinha um olhar sensual.

Dona Ângela, pegou mais um brigadeiro e olhou a Janine de cima para baixo – o rosto enrugado, a barriga volumosa, as pernas com varizes e, ocultando um riso malvado, falou. 

– Fique tranquila!. Ele ia a querer o quê? Quando uma mulher é jovem, nunca se sabe... um homem que a segue pode querer sua bolsa ou pode estar pensando em outra coisa, mas, na sua idade?!!! Sejamos honestas, dona Janine, ele ia querer o quê?.. Só sua bolsa, mulher, só sua bolsa.

Minutos depois, outra vez, o som da campainha. A festa de aniversário era um êxito. Daniel correu de novo para a porta e abriu. Boa tarde, disse o homem de camisa listrada.

– É ele... é ele... – gritou dona Janine, escondendo-se atrás da filha.

– Olá, Geraldo... – disse a filha, um pouco encabulada com a atitude da mãe- mamãe, esse é o nosso vizinho, o pai do Albertinho.

– Ah!... é sua mãe mesmo. Pegamos o mesmo ônibus e achei que era ela... mas como não tinha certeza.... não falei nada. 

– Ah!... Ah!... meu pai disse que sua avó olhava assustada. A velha é medrosa, né? – perguntou o Albertinho, o filho do Geraldo.

– Ela é –disse o netinho rindo – ela é bem medrosa...

– É assim mesmo, pessoal – afirmou Ângela, quando se é tão linda e sexy quanto dona Janine, qualquer olhar fixo pode ser considerado assédio sexual.

Fonte:
Conto obtido no blog da escritora. isabelfurini.blogspot.com.br

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