terça-feira, 7 de junho de 2016

Concurso de Trovas Orlando Woczikosky (Resultado Final)

Comemoração ao Cinquentenário de fundação da UBT-Curitiba

Festividades acontecerão nos dias 14 e 15 de setembro vindouro, cuja programação será divulgada nos próximos dias.

Tema: Plantio

Categoria: Veterano

1º Lugar: 
Manoel Cavalcante 
(Pau dos Ferros - RN)
Quão triste é ver na paisagem
a esperança do plantio
morrer impressa na imagem
da lama seca de um rio...

2º Lugar: 
Luiz Damo 
(Caxias do Sul - RS)
Vitrine, fonte de encanto,
de traje em exposição,
pouco faz lembrar, no entanto,
o plantio do algodão.

3º Lugar: 
Dodora Galinari 
(Belo Horizonte - MG)
Mesmo pisando em espinhos
por travessias penosas,
em todos os meus caminhos
farei plantio de rosas!

4º Lugar: 
Carolina Ramos 
(Santos - SP)
Planta, com garra e ternura,
esse chão ao teu redor,
mesmo a terra seca e dura
se abranda com teu suor!

5º Lugar: 
Maria Luíza Walendowsky 
(Brusque - SC)
Desde o plantio a semente
cumpre um destino fecundo:
o combate permanente 
à fome que ameaça o mundo.

6º Lugar: 
Edmar Japiassú Maia 
(Nova Friburgo - RJ)
Semeia o bem no vazio
de um coração, que ele aceita...
E se é de amor o plantio,
será de amor a colheita!

7º Lugar:
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho 
(Juiz de Fora - MG)
Quando a seca em solo ardido
toda a plantação alcança,
o que não fica perdido
é o plantio da esperança.

8º Lugar: 
Jaime Pina da Silveira 
(São Paulo - SP)
Só saciar-lhe a fome, é vão.
Ensina o plantio, amigo.
Quem tem fácil, sempre, o pão,
nunca vai plantar o trigo!
9º Lugar: 
Carolina Ramos 
(Santos - SP)
No solo certo e fecundo,
Senhor, que eu saiba plantar
as sementes que, no mundo,
só frutos bons possam dar!!!

10º Lugar: 
Jaime Pina da Silveira 
(São Paulo - SP)
Era um terreno vazio...
estéril...seco...Entretanto,
a enxada... o suor e o plantio,
devolvem verde o que planto.

11 º Lugar: 
Antonio de Oliveira 
(Rio Claro - SP)
Comete um grave desvio
a sociedade que aceita
ver o suor do plantio
não se fartar da colheita!

12º Lugar: 
Gilvan Carneiro da Silva 
(São Gonçalo - RJ)
Regue o plantio que eu ponho
certeza no que plantamos,
porque a semente de um sonho
nunca morre se a regamos!

Tema: Plantio
Categoria: NOVO TROVADOR

1° lugar: 
Aparecida Gianello 
(Martinópolis - SP)
É quando amoleço o peito,
que Ele chega com a semente...
Deus tem lá seu próprio jeito
de plantar o amor na gente.

2° lugar: 
Tarcísio José Fernandes Lopes 
(Brasília- DF)
Meu pai deu-me um desafio
ao me dar a educação:
repassá-la no "plantio"
da terceira geração.

3° lugar: 
Maria do Carmo M. Zerbinato 
(Niterói - RJ)
Terra fértil, terra santa
é a que enfrenta o desafio
de salvar aquela planta
que atrofiou no plantio!

4° lugar: 
Valter Rodrigues Mota 
(Taubaté - SP)
No campo quando amanhece,
camponês faz o plantio.
E de noite ele agradece
Por mais esse desafio.

RESULTADO ÂMBITO ESTADUAL -

Tema: Colheita
Categoria: Veterano

1º Lugar: 
Maria Helena Oliveira Costa 
(Ponta Grossa)
Terra infértil, ressecada,
teu peito negou-me - eu sei -
toda a colheita sonhada
dos grãos de amor que plantei!

2º Lugar: 
Lilia Maria Machado Souza 
(Curitiba)
Ao findar a madrugada,
toda a serra se extasia,
e o vermelho da alvorada
nas mãos colhe um novo dia!

3º Lugar: 
Janske Niemann Schlenker 
(Curitiba)
Na vida, as coisas têm preço
e da colheita, hoje sei:
eu ganho mais que mereço,
colho mais do que plantei.

4º Lugar: 
Sônia Maria Ditzel Martelo 
(Ponta Grossa)
Quando a colheita se faz
de uma maneira bem feita
o mundo cintila em paz
e a vida fica perfeita!...

5º Lugar: 
Mário Zamataro 
(Curitiba)
Já não tenho o que falar, 
já não choro, já não rio, 
já não tenho o seu olhar... 
Colho a saudade e o vazio.

6º Lugar: 
Lucília Alzira Trindade Decarli 
(Bandeirantes)
Quem se ocupa do plantio
e zela pela colheita,
não tem celeiro vazio
e nem mente insatisfeita...

7º Lugar: 
Maria Aparecida Pires 
(Curitiba) 
Tenho a colheita no colo,
mas meu olhar não se cansa
de ver plantado no solo
o punhado da esperança!

8º Lugar: 
Sônia Maria Ditzel Martelo 
(Ponta Grossa)
Ó Senhor, quanta emoção,
plantar, zelar e colher,
de um só pequenino grão
vejo a vida renascer!...

9º Lugar: 
Antonio Augusto de Assis 
(Maringá)
Semeia na mocidade
o bem que fores capaz.
Terás na terceira idade
farta colheita de paz.

10 º Lugar: 
Maurício Fernandes Leonardo 
(Ibiporã)
A boa colheita é fruto,
de tempo e dedicação,
que o agricultor resoluto
dispensou à plantação!

11 º Lugar: 
Maria Helena Oliveira Costa 
(Ponta Grossa)
Driblando todo o desgaste,
nós tentamos outra vez.
Semeei. Tu semeaste,
e a colheita então se fez!

12º Lugar: 
Dari Pereira 
(Maringá)
Quem planta com muita fé
semente boa e perfeita,
mantém o Brasil de pé,
por desfrutar da colheita...

13º Lugar: 
José Feldman 
(Arapongas)
Para uma vida perfeita,
devemos ter sempre em mente, 
que toda e qualquer colheita,
deve-se à boa semente.

14 º Lugar: 
Maria Aparecida Pires 
(Curitiba)
Quando a colheita abundante
ganha valor no mercado,
todo trabalho constante
vê o suor recompensado!

Tema: Colheita
Categoria: Novo Trovador

1º Lugar: 
Nilsa Alves de Melo 
(Maringá)
Contemple os campos dourados
que ao bom lavrador deleita:
ontem, bons grãos semeados;
hoje, o prazer da colheita.

2º Lugar: 
Madalena Ferrante Pizzatto 
(Curitiba)
Enxada e foice nas mãos,
com persistência e firmeza,
o agricultor planta os grãos;
mas colher, é uma incerteza.

3º Lugar: 
Wellesley Nascimento 
(Curitiba)
No papel a pena planta,
uma trova tão perfeita...
Seduzindo quem a canta,
pelo encanto da colheita!

4º Lugar: 
Paulo Roberto Walbach Prestes 
(Curitiba)
Enxada e foice na mão,
a família vai unida:
chuva e sol e pé no chão
para a colheita da vida!

5º Lugar: 
Karla Cristiane Bitencourt 
(Curitiba)
Quem planta em solo profundo,
as sementes do perdão,
tem nos braços deste mundo
a colheita da união.

6º Lugar: 
Nilsa Alves de Melo 
(Maringá)
Plante a semente do bem,
da caridade perfeita,
que com o tempo, aqui e além,
surgirá farta colheita.

7º Lugar: 
Lucrécia Welter 
(Toledo)
No calendário das flores
A colheita é permanente
A chama dos seus amores
Aquece o peito da gente

8º Lugar: 
Paulo Roberto Walbach Prestes 
(Curitiba) 
De sol a sol, o seu João
- para alimentar os seus -
da colheita, espera o pão
e no mais, graças a Deus!

9º Lugar: 
Paulo Roberto Moreira Gomes 
(Curitiba)
A colheita quando grande
faz brilhar os olhos meus,
pois assim também se expande
sob as bênçãos do meu Deus.

10º Lugar: 
Paulo Roberto Moreira Gomes 
(Curitiba)
Quem na cama muito deita
deixa o seu tempo passar.
Minguada será a colheita
de quem não soube plantar.

11º Lugar: 
Madalena Ferrante Pizzatto 
(Curitiba)
O caboclo de mão grossa,
com seu penoso labor,
planta com fé sua roça,
colhe o fruto com sabor.

12º Lugar: 
José Arildo Vieira 
(Curitiba)
Das sementes que plantou,
você terá o resultado,
quando a terra que lavrou, 
for plantada com cuidado!

13º Lugar: 
Lila Tecla 
(Curitiba)
Olhei para o chão, perplexo,
a semente que nascia
desabrochando em reflexo
daquilo que eu fiz um dia.

14º Lugar: 
Osires Haddad 
(Curitiba)
Quem se doa em gentilezas
encaminha seu destino:
na colheita vêm grandezas,
mesmo sendo pequenino.

Âmbito Estudantil 
Tema: Semente

1º Lugar: 
Miriam Cristina de Jesus Gouveia 
(10 anos) 
Quando voa o passarinho
lança a semente no chão
que cresce bem de mansinho
enchendo a terra de grão.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

2º Lugar: 
Elias dos Santos de Araújo 
(11 anos) 
O agricultor vai plantar 
uma semente de trigo,
no dia que ela brotar
vai alimentar o amigo.
Projeto Social Dorcas - Escola Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

3º Lugar: 
Tainara Cristina de Oliveira da Cruz 
(13 anos) 
Plantei no meu coração 
uma semente do bem
e nascerá a gratidão,
vou colhendo o amor também.
Projeto Social Dorcas- Escola Estadual Prof. Rosa Frederico Johnson - 8º ano

4º Lugar: 
Miriam Cristina de Jesus Gouveia 
(10 anos) 
Da semente nascem flores 
a rosa, o cravo e o jasmim.
Se juntam em muitas cores 
para enfeitar meu jardim.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 5º ano

5º Lugar: 
Eduarda Sara Rocha Schwonka 
(12 anos) 
Uma semente no chão,
com água, luz e cuidado,
um pé de arroz ou feijão,
assim crescerá no prado.
Projeto Social Dorcas - Escola Tancredo Neves - 6º ano

6º Lugar: 
Ana Caroline Moreira de Oliveira 
(12 anos) 
Vou no Dorcas aprendendo 
sobre a semente do amor.
Dia a dia vou crescendo
formando um jardim com flor.
Projeto Social Dorcas - Colégio Tancredo Neves. - 7º ano

7º Lugar: 
Kauany Maiara Schroh Silva 
(11 anos) 
Da semente nasce a planta 
desta planta surge a flor.
E sempre uma flor encanta
e de uma flor nasce o amor…
Projeto Social Dorcas - Colégio Estadual Tancredo Neves - 6º ano

8º Lugar: 
Kauê Felipe Bento 
(8 anos) 
A semente cai na terra,
espalha e cresce no chão,
floresce por toda a serra
pra depois colher o grão.
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 4º ano

9º Lugar: 
Thainá Archanjo Ribeiro 
(8 anos) 
Da semente nasce a planta,
com muito amor e cuidado 
cresce no jardim e encanta,
bonita por todo o lado
Projeto Social Dorcas - Escola Municipal Mirta Naves Prosdócimo - 4º ano

10º Lugar: 
Tainara Cristina de Oliveira da Cruz 
(13 anos) 
Da semente nascem flores: 
as rosas e as margaridas, 
com tantos tipos e cores 
crescem lindas e floridas. 
Projeto Social Dorcas - Escola Estadual Prof. Rosa Frederico Johnson - 8º ano

11º Lugar: 
Emanuelle Rodrigues da Silva 
(13 anos) 
Plantei semente amarela
logo nasceu com amor,
e cresceu bem alta e bela…
- É um Girassol esta flor.
Projeto Social Dorcas - Escola Tancredo Neves - 8º ano

12º Lugar: 
Nicole Cristina Camargo do Pilar 
(12 anos) 
Sei que existe uma semente,
está no meu coração, 
pode ser amor ardente
crescendo com emoção.
Projeto Social Dorcas - Colégio Estadual Tancredo Neves - 7º ano

13º Lugar: 
Kauã Machado da Costa 
(9 anos) 
A semente tão contente
No ar ela vai a brilhar.
Ela é tão independente
Que sozinha vai plantar
Escola Municipal Elevir Dionísio - 5º Ano

14º Lugar: 
Beatriz Mendes 
(12 anos) 
A semente brotará
e com amor vai crescer
todo o mundo gostará
do seu belo florescer. 
Projeto Social Dorcas - Colégio Tancredo Neves - 6º ano

Elen de Medeiros (Nelson Rodrigues e as Tragédias Cariocas: A Estética do Trágico Moderno) 2a. Parte

Vejamos este exemplo de O beijo no asfalto:

CUNHA – Noiva. Vai se casar. Eu quando eu olho pra você, penso na minha filha. Nunca se sabe o dia de amanhã. Vamos que o meu genro. Essas coisas, sabe como é. Casamento é loteria, mas eu, quero que você, entende? (Para o repórter) Você não acha, Amado? (Para Selminha novamente) Quero que você me veja como um pai. Agora responda: – ainda tem medo de mim? (RODRIGUES, 1990:133)

Ou então, em Toda nudez será castigada, peça escrita poucos anos depois:

HERCULANO – Meu bem, raciocina! Você vai ter sua noite de núpcias, como se eu fosse deflorar você. E outra coisa. Eu tenho uma casa, longe da cidade. No subúrbio. Mobiliada, tem tudo lá. A família que estava lá saiu. Vamos pegar um táxi. Te deixo lá. Mas, já sabe: – eu volto, nada de dormir. Só quando for minha esposa. Você fica lá e não sai, não sai. (Idem, ibidem:198)

Vê-se que, principalmente, há quebra das orações, numa tentativa de transpor a oralidade para dentro do texto. As frases quebradas, principalmente pelo ponto final, estabelecendo a desordem sintática no diálogo, fazem de Nelson um autor peculiar nesse aspecto.

A época do drama moderno é sempre o presente. Quando o presente passa, se torna passado, mas não estará mais em cena. Como absoluto, o drama funda o seu próprio tempo. Isso só é possível pela sua estrutura dialética, baseada na relação intersubjetiva. Esse, então, é o terceiro elemento constitutivo do drama: o tempo presente.

A totalidade do drama é de origem dialética. Ela se desenvolveu mediante a superação, sempre efetivada e sempre novamente destruída, da dialética intersubjetiva, que no diálogo se torna linguagem. O diálogo é o suporte do drama.(SZONDI, 2001:34)

Quando verificada a crise do drama, Szondi identifica-a por volta do final do século XIX, pois há negação de seu conteúdo dialético e absoluto. Quando os três fatores da forma dramática entram em relação com sujeito ou objeto, eles são relativizados e perdem sua força. Grande parte dos dramas dessa época traz a oposição entre sujeito e objeto, que é representada pelas cenas épicas inseridas nas cenas dramáticas. Assim, o drama começou a sofrer algumas invasões de elementos épicos, que foram a causa principal de sua crise e de sua transformação.

Na tragédia clássica, o homem não tinha domínio sobre seus atos e decisões, era dominado por forças metafísicas, transcendentes – as forças dos deuses. Assim, o homem figurava como objeto dos deuses, o que resultava numa oposição entre sujeito e objeto no drama, e o herói não era sujeito das suas ações.

No drama moderno, conforme explica Szondi, a distinção entre sujeito e objeto não é perceptível, pois ao mesmo tempo em que o homem é sujeito de suas ações, ele também é objeto de outros homens. Ou seja, ao mesmo tempo em que o herói do drama moderno é dotado de arbítrio para suas atitudes – e por isso a esfera do “inter” da qual fala Szondi –, ele também é o objeto de outros homens, dotados de poderes superiores que o dominam.

Portanto, a grande crise do drama moderno é justamente quando, com a inserção de elementos épicos e com a impossibilidade do diálogo, essa distinção entre sujeito e objeto volta à tona, tirando do herói sua própria existência, colocando-o como objeto. Ou melhor, o herói perde a possibilidade de ser, ao mesmo tempo, o sujeito e o objeto da ação. Nisso Szondi identifica a crise do drama moderno.

Os três elementos constitutivos do drama moderno, conforme o aborda Szondi, são reformulados segundo a necessidade surgida após o Renascimento. Por isso que, a partir de então, a ação transcorre na esfera do “inter”. Esta é uma necessidade efetivamente moderna. Com o herói enfrentando suas vontades naturais, entrando em conflito consigo mesmo, toda a condução da trama parte da relação intersubjetiva do herói com a ação. Penso que o ponto culminante da esfera do “inter” relatada por Szondi aconteceu no expressionismo, quando toda a ação transcorria a partir da vontade interna da personagem e tudo o que se passava era fruto da sua imaginação – inclusive as outras personagens.

Quanto aos elementos trágicos, em se tratando de uma configuração moderna, Raymond Williams define-os muito bem em Tragédia moderna (2002). A diferença entre “tragédia” e tragédia – sentido acadêmico e senso comum – permeia toda a primeira parte do livro de Williams. Ele afirma que tragédia pode ser uma experiência imediata, pode ser um conjunto de obras, um conflito teórico, um problema acadêmico. O nome tragédia se tornou comum para alguns tipos de experiência, mas ao mesmo tempo é um nome específico de arte dramática.

Tragédia não é só sofrimento e morte, mas é um tipo específico de acontecimento e de reação trágicos que a tradição incorpora. O que parece que está em jogo é mais um tipo específico de morte, de sofrimento e uma interpretação dessas questões do que propriamente o termo “tragédia” para descrever algo diverso de uma obra da literatura dramática.  Ora, as “tragédias” de Nelson estão repletas de tragédias. Ainda que mescladas a situações grotescas e risíveis, elas são trágicas, fortalecendo e auxiliando na elaboração de um gênero trágico moderno. São momentos de agonia, morte, desespero das personagens que, enclausuradas em um modo de vida específico, cheias de vícios, misturam os sentimentos com as atitudes, criando situações farsescas, tragicômicas ou melodramáticas.

Hegel, explica Williams, definiu a tragédia como um tipo especial de ação espiritual, mais do que acontecimentos específicos. Essa ideia marca a necessidade de ideias trágicas modernas. Para Hegel, o importante na tragédia são as causas do sofrimento, e não apenas o mero sofrimento. Assim, a definição hegeliana de tragédia está centrada num conflito de substância ética. Como condição para que a tragédia ocorra, é preciso que a personagem esteja consciente da sua individualidade e os conflitos individuais e naquilo que acarretam são essenciais para a efetivação da ação trágica. Ou melhor, tanto os propósitos do indivíduo quanto o conflito resultante são essenciais e substanciais.

A diferença entre tragédia antiga e moderna é que a primeira trabalha a personagem representando fins éticos de uma sociedade, enquanto a última volta-se à necessidade individual. Na tragédia moderna, pelo fato de as personagens serem mais individualizadas, a questão toda da resolução é mais difícil. A justiça é mais abstrata, mais fria. Quando ocorre reconciliação, acontece no interior da personagem, é mais completa e menos satisfatória. Assim, o isolamento do herói trágico é uma característica da tragédia moderna. Visto isso, pode-se perceber que Williams e Szondi convergem suas ideias de moderno, que estão voltadas, principalmente, para a necessidade individual do herói.

Segundo Raymond Williams, a teoria trágica é interessante pois, por meio dela, compreendemos mais a fundo o contorno e a conformação de uma cultura específica. Mas a tragédia deve ser compreendida dentro de um determinado contexto, caso contrário ela se transformará apenas em um aglomerado de experiências, convenções. “Em situações nas quais o sofrimento se faz sentir, nas quais ele abrange o outro, estamos, claramente, no âmbito das possíveis dimensões da tragédia.” (WILLIAMS, 2002:71) E a tragédia acadêmica é uma ideologia. O que está em jogo é a característica e a qualidade do sentido geral, não o processo que vincula um evento a este sentido geral. Separar tragédia de “mero sofrimento”, além de moderna, é o ato de separar o controle ético e a ação humana da nossa compreensão da vida política e social.

A interpretação mais comum da tragédia a vê como uma ação que destrói o herói. Porém, essa é apenas uma interpretação parcial, pois nem todas as tragédias terminam com a destruição do herói. O herói pode até ser destruído, mas isso não implica o fim da ação trágica. Pensamos na tragédia como aquilo que acontece com o herói, mas a ação trágica usual é o que acontece por meio do herói. 

A falecida, encenada pela primeira vez em 1953, é a peça que abre o novo ciclo da dramaturgia de Nelson Rodrigues. Sob a classificação de farsa trágica[5], ela vem apresentar ao público uma nova perspectiva do autor, substituindo o clima tenso e complexo das peças míticas – repletas de incestos e assassinatos – por um clima mais ameno, menos tenso, em que o riso tem seu lugar certo.

Coerente com seu propósito, Nelson mescla elementos constitutivos da farsa e da tragédia, compondo, assim, a farsa trágica. Os elementos que irão constituir a parte farsesca da peça são justamente os elementos cômicos, presentes em grande parte das cenas, que por parte aliviam a tensão causada pelos elementos trágicos. Em geral, além de trazer à tona o riso, esses elementos também são utilizados como recurso para que o público possa sentir-se mais à vontade com algumas situações cotidianas, que denunciam fatores repressivos da sociedade. Ou seja, os elementos da farsa são formas de uma subversão, pois o espectador pode rir e liberar-se de alguma repressão provinda da sociedade. Exemplo disso são algumas cenas grotescas, que evidenciam um cotidiano grosseiro do subúrbio carioca, da peça em questão.

Logo no início da peça, já na primeira cena, em que Zulmira vai à cartomante, Madame Crisálida depõe contra si mesma: com um pano de enxugar pratos, aparência desgrenhada, de miséria, acompanhada de um menino de pés no chão que permanece durante toda a cena, “bravamente, com o dedo no nariz” (RODRIGUES, 1985:57). E assim compõe-se quase toda a peça, de elementos do grotesco do cotidiano. Mais adiante, há uma passagem na terceira cena do mesmo ato em que Tuninho fica com dor de barriga por causa de um pastel que comeu e precisa ir para casa. Ao tentar entrar no banheiro, Zulmira está lá dentro, numa posição de “O Pensador”, de Rodin. Saindo Zulmira, entra Tuninho e assume a mesma posição. Assim há várias cenas, principalmente as que retratam uma relação matrimonial enfadada e desgastada, completando uma aparente decadência financeira da família:

(Larga os sapatos. Deita-se, numa melancolia medonha. Ao lado, sentada, no meio da cama, Zulmira se torce, em acessos tremendos.)
TUNINHO – Às vezes, eu tenho inveja de ti. Tu não te interessa por futebol, não sabes quem é Ademir, não ficas de cabeça inchada, quer dizer, não tens esses aborrecimentos... Benza-te Deus!
(Tuninho vira-se para o lado. Acesso de Zulmira.)
ZULMIRA – Ai, meu Deus, ai meu Deus!
(Tuninho, ao lado, já ronca. Nova golfada de Zulmira. Encosta o lenço na ponta da língua. Olha e, patética, sacode o marido.) (Idem, ibidem:94)

O misto entre os elementos cômicos e trágicos evidencia um misto de gêneros, característicos do autor. A distinção de gêneros já não cabe a Nelson, ao seu teatro. Aqui, os próprios elementos cômicos são trágicos e vice-versa. Assim, é difícil distinguir quais são os elementos meramente cômicos ou meramente trágicos, visto que eles se fundem, se mesclam, tornando-os tragicômicos.
_______________________
Nota

[5] À farsa geralmente se associa um cômico grotesco e bufão, um riso grosseiro e um estilo pouco refinado: qualificativos condescendentes e que estabelecem de imediato e muitas vezes de maneira abusiva que a farsa é oposta ao espírito, que ela está em parte ligada ao corpo, à realidade social, ao cotidiano. A farsa sempre é definida como forma primitiva e grosseira que não poderia elevar-se ao nível de comédia. (PAVIS, 1999:164)

continua…

Fonte:
Literatura : caminhos e descaminhos em perspectiva / organizadores Enivalda Nunes Freitas e Souza, Eduardo José Tollendal, Luiz Carlos Travaglia. - Uberlândia, EDUFU, 2006. ©Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia e autores

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Irmãos Grimm (Frederico e Catarina)


Houve, uma vez, um moço que se chamava Frederico e uma moça que se chamava Catarina. Tinham-se casado e viviam a vidinha dos recém-casados. Um dia, disse Frederico:

- Vou ao campo, querida Catarina, e, quando eu voltar, quero encontrar qualquer coisa bem quentinha em cima da mesa, para matar a fome, e cerveja bem fresquinha para matar a sede.

- Está bem, querido Frederico! - respondeu a mulher - Podes ir sossegado, que arranjarei tudo direitinho.

Ao se aproximar a hora do almoço, ela tirou uma salsicha do fumeiro, colocou-a na frigideira, com manteiga, e levou ao fogo. Não demorou muito, a salsicha começou a fritar fazendo espirrar gordura por todos os lados. Enquanto isso, Catarina segurava o cabo da frigideira, muito pensativa. De repente, lembrou-se: "Enquanto a salsicha vai fritando, poderias ir buscar a cerveja na adega." Então arrumou direito a frigideira, pegou uma jarra e desceu à adega para tirar cerveja. Abriu a torneira, a cerveja começou a jorrar para a jarra e ela olhava pensativa, mas lembrou-se: "Oh, e se o cachorro na minha ausência entra na cozinha e rouba-me a salsicha da frigideira? Era só o que faltava!" Largou a jarra e disparou para a cozinha.

Mas chegou tarde demais, o velhaco já estava com a salsicha na boca e ia arrastando-a para fora. Catarina saiu correndo atrás dele pelo meio do campo, mas o animal era mais esperto e mais ligeiro das pernas do que ela, não largou a salsicha e meteu-se no meio do mato.

- Pois que vá! - exclamou Catarina voltando pelo caminho, cansada e afogueada de tanto correr. Assim, muito calmamente entrou em casa enxugando o suor do rosto.

Enquanto isso, a cerveja ficou escorrendo do barril, porque ela se tinha esquecido de fechar a torneira. Enchendo a jarra, a cerveja passou a escorrer pelo chão, espalhando-se pela adega inteira. Quando chegou no alto da escada que ia dar à adega, Catarina viu aquele desastre e exclamou:

- Meu Deus! Que hei de fazer agora para que Frederico não veja esse estrago?

Depois de refletir um pouco, lembrou-se de que ainda sobrara da última quermesse um saco de farinha de trigo. Foi buscá-lo no canto onde estava e espalhou-o por cima da cerveja esparramada.

- Muito bem! - disse ela - Quem sabe guardar sempre encontra no momento preciso. Mas, arrastando o saco com muita pressa, esbarrou desastradamente na jarra cheia, entornando-a, e a cerveja ajudou também a lavar a adega.

- Bem! - disse ela - Aonde vai um deve ir o outro também.

E espalhou bem a farinha por toda a adega. Depois disse, muito satisfeita com o trabalho:

- Agora sim! Vejam como está tudo limpo e bonito!

À hora do almoço, Frederico voltou para casa.

- Então, mulher, que me preparaste de bom?

- Ah, querido Fred! - respondeu ela - eu quis fritar uma salsicha para ti, mas, enquanto fui buscar a cerveja na adega, o cachorro roubou a salsicha. Enquanto fui correndo atrás do cachorro, a cerveja derramou-se, espalhando-se pela adega. Quando fui enxugar a cerveja com a farinha, entornei a jarra. Mas não te aborreças, a adega está toda limpinha e brilhante outra vez!

- Ah, Catarina, - disse Fred. - Não devias ter feito isso. Deixas roubar a salsicha, esvazias a cerveja e ainda por cima espalhas, perdendo toda a nossa melhor farinha!

- É, Fred, eu não sabia, devias ter-me dito.

O marido, então, se pôs a pensar: "Com uma mulher assim, é preciso precaver-se!" Ele tinha justamente economizado uma soma regular de moedas de prata, trocou- as em moedas de ouro e disse a Catarina:

- Olha aqui, mulher, são tremoços loirinhos. Vou guardar dentro deste pote e enterrar no estábulo, sob a manjedoura da vaca. Mas não te metas com ele, pois do contrário te arrependerás.

- Não, Fred! - disse ela - Não o farei, com toda a certeza.

Mas assim que Fred saiu, chegaram à aldeia alguns vendedores ambulantes, levando potes e vasilhas de barro para vender. Chegando à casa de Catarina, perguntaram se desejava comprar alguma coisa.

- Ah, boa gente! - disse ela - Não posso comprar nada. Dinheiro não tenho, só se quiserem tremoços bem loirinhos.

- Tremoços loirinhos? Por quê não? Deixa-nos ver.

- Ide procurar no estábulo por baixo da manjedoura da vaca, lá está enterrado um pote cheio deles. Eu não posso ir.

Os patifes não perderam tempo, puseram-se a cavar e logo desenterraram o pote cheio de moedas de ouro. Meteram tudo nos bolsos e, mais que depressa fugiram, deixando na casa a pobre mercadoria de barro.

Catarina então pensou: Já que ficara com todas essas vasilhas novas era preciso aproveitá-las. Como na cozinha não precisasse de nada, tirou os fundos dos potes e colocou-os como ornamento nas estacas da cerca em volta da casa. Quando Fred voltou e viu aquela decoração de um gênero diferente, perguntou:

- Que significa isso, Catarina?

- Comprei tudo com os tremoços enterrados debaixo da manjedoura. Não fui eu que os desenterrei. Os vendedores tiveram que se arranjar sozinhos.

- Ah, mulher, o que fizeste? Não eram tremoços, mas ouro puro. Era tudo o que possuíamos na vida! Não devias ter feito isso!

- Oh, Fred! - respondeu ela - eu não sabia. Devias ter-me dito.

E Catarina se pôs a refletir, e depois de certo tempo disse:

- Escuta, Fred, vamos reaver o nosso ouro. Vamos perseguir os ladrões.

Fred respondeu:

- Sim, vamos tentar. Mas leva um pouco de manteiga e queijo para termos o que comer durante o caminho.

- Sim, Fred, levarei tudo.

Puseram-se a caminho, mas como Fred andava mais depressa, Catarina foi ficando para trás. "Tanto melhor, - pensava ela, - pois quando voltarmos eu estarei na frente um bom pedaço."

Daí a pouco chegaram a uma colina bastante íngreme, cuja estrada tinha sulcos profundos dos dois lados.

- Oh! Veja só como esta pobre terra está toda machucada e ferida! - disse ela - nunca mais se curará!

Profundamente penalizada, pegou a manteiga e untou as rachaduras de um lado e de outro para que não ficassem tão maltratadas pelas rodas. Mas quando se curvou para fazer o seu ato de misericórdia, um dos queijos caiu-lhe do bolso e desceu rolando pelo morro abaixo.

- Já fiz a caminhada para cima uma vez - murmurou ela - não vou agora descer para tornar a subir. Que vá outro buscá-lo.

Assim dizendo, pegou o outro queijo e jogou-o atrás do primeiro. Mas os queijos não voltavam, e então ela pensou:

- Talvez estejam esperando um companheiro, por não gostar de voltar sozinhos!

E fez rolar para baixo um terceiro. E como os três não se resolviam a voltar, ela pensou:

- Realmente não sei o que quer dizer isto! É provável que o terceiro queijo tenha errado o caminho. Vou mandar um quarto buscá-los.

Mas o quarto não se comportou melhor que os outros. Então Catarina irritou-se e atirou o quinto e depois o sexto queijo, que eram os últimos.

Ficou um certo tempo esperando que voltassem, mas como nenhum voltasse, exclamou:

- Lerdos e poltrões como sois, poderia mandar-vos chamar a morte! Se imaginam que vou esperar mais tempo, enganam-se! Eu vou seguindo o caminho. Podeis correr e alcançar-me se quiserdes, pois tendes pernas mais fortes que as minhas.

Catarina prosseguiu o caminho e alcançou Fred, que tinha parado para a esperar, pois estava com muita fome e desejava comer alguma coisa.

- Bem, deixa-me ver o que trouxeste para comer.

Catarina deu-lhe pão seco.

- E a manteiga? E o queijo? Onde estão? - perguntou o marido.

- Oh, Fred! - respondeu ela. - Passei a manteiga nos sulcos da estrada. Quanto aos queijos logo estarão aqui, um escapou do meu bolso e eu então mandei os outros atrás para que fossem buscá-lo.

- Não devias ter feito isso, Catarina! - disse Fred - Untar a estrada com a manteiga e mandar os queijos rolando morro abaixo!

- Oh, Fred! Se me tivesses dito! - exclamou vexada.

Tiveram, então, de comer pão seco. Enquanto comiam, Fred perguntou:

- Fechaste bem a casa, Catarina?

- Não, Fred, devias ter-me dito antes.

- Então volta para casa e tranca bem a porta, antes de irmos mais adiante, assim aproveitas para trazer o que comermos. Eu te ficarei esperando aqui.

Catarina voltou para casa, resmungando consigo mesma:

- Fred quer alguma coisa para comer. Queijo e manteiga não lhe agradam. Levarei um saco de peras secas e uma garrafa de vinho.

Tendo reunido essas coisas, fechou a parte de cima da porta com cadeado, arrancou a parte de baixo e carregou no ombro, imaginando que a casa ficaria melhor guardada se ela pessoalmente guardasse a porta. Pelo caminho, não se apressou, pensando com isso proporcionar um descanso mais prolongado a Fred. Quando chegou ao ponto onde ele a esperava, deu-lhe a porta da casa dizendo:

- Aqui está a porta da casa, Fred. Assim podes guardar tu mesmo a casa.

- Oh, Deus meu! - disse Fred - Como é inteligente a minha mulher! Trancou a parte de cima da porta e arrancou a parte debaixo, por onde qualquer pessoa pode entrar mais facilmente! Agora é tarde demais para voltar, mas já que trouxeste a porta até aqui, tu a poderás continuar a carregar.

- Carrego a porta de boa vontade! - respondeu Catarina - Mas as peras e o vinho pesam muito. Vou pendurar o saco e a garrafa na porta para que ela os carregue.

Pouco depois, chegaram a uma floresta e se puseram a procurar os ladrões, mas não os encontraram. Sendo já muito escuro, treparam os dois numa árvore, a fim de passar aí a noite. Nem bem tinham chegado lá em cima, surgiram os malandros que lhes tinham roubado as moedas e, por coincidência, sentaram-se justamente debaixo da árvore na qual os dois tinham subido. Acenderam uma fogueira e se dispunham a repartir a presa.

Fred cautelosamente desceu pelo outro lado da árvore, apanhou uma porção de pedras e tornou a subir, com a firme intenção de liquidar os ladrões a pedradas. Mas as pedras não os atingiram e os ladrões exclamaram:

- Daqui a pouco vai clarear o dia, o vento já está sacudindo as pinhas.

Durante o tempo todo, Catarina tinha ficado com a porta no ombro e como o peso era grande ela pensou que a culpa era das peras secas. Então disse:

- Fred! Preciso atirar fora estas peras.

- Não, Catarina! - respondeu o marido - Não faças isso agora, poderia nos trair.

- Ah, Fred, preciso atirá-las, estão pesadas demais.

- Então atira e que o diabo te leve.

As peras secas rolaram de cima da árvore, por entre os galhos, e os malandros disseram:

- Veja só o que estão fazendo os passarinhos!

Pouco depois, como a porta continuasse a pesar, Catarina disse:

- Ah, Fred, preciso atirar fora o vinho.

- Não, não! - respondeu Fred - poderia nos trair.

- Mas preciso atirá-lo, Fred! Está muito pesado.

- Então atira e que o diabo te leve.

Ela despejou o vinho em cima dos malandros e estes disseram:

- Olha, já está caindo o orvalho.

Daí a pouco, porém, Catarina refletiu: "Será que é a porta que está pesando tanto?" e disse:

- Fred, tenho de jogar a porta.

- Não faças isso, Catarina! Ela nos trairá.

- Ah, Fred, preciso fazê-lo. Não aguento mais o peso.

- Não, Catarina! Aguenta mais um pouco.

- Não, Fred, não posso... Já está escorregando!

- Então jogue e que o diabo te leve, - respondeu irritado o marido.

E a porta desceu, fazendo um barulhão enorme, por entre os galhos. Os malandros, assustados, disseram:

- É o diabo que vem descendo da árvore!

Então trataram de fugir a toda pressa, largando no chão o fruto da pilhagem. Quando amanheceu, Fred e a mulher desceram da árvore, encontraram no chão todo o dinheiro e voltaram para casa. Assim que chegaram, Fred disse:

- Agora, porém, Catarina, tens de trabalhar duro e fazer tudo direito!

- Sim, Fred, naturalmente! - respondeu ela - Irei ao campo ceifar o trigo.

Quando chegou ao campo, ela se pôs a pensar:

- "Será melhor comer antes de ceifar, ou será melhor dormir primeiro? Bem, comerei primeiro."

Depois de comer, ficou caindo de sono, começou a ceifar sem enxergar direito o que fazia, de tanto sono, e assim cortou a roupa em dois pedaços, avental, saia e blusa. Despertando dessa longa sonolência, viu-se meio nua, então perguntou a si mesma:

- Será que sou mesmo eu? Não, não pode ser! Não sou eu que estou aqui!

Nisso a noite foi escurecendo. Catarina correu para casa e bateu na vidraça da sala onde eslava o marido e chamou:

- Fred!

- Que aconteceu? - perguntou o marido.

- Quero saber se a Catarina está aí dentro.

- Está, sim! Está lá dentro dormindo.

- Nesse caso eu estou em casa! - disse ela, e saiu correndo.

Lá fora, Catarina viu alguns ladrões que queriam furtar. Aproximou-se deles e disse:

- Quero ajudar-vos também.

Os ladrões concordaram, julgando que ela conhecesse bem o lugar. Mas Catarina, colocando-se diante das casas, perguntava:

- Minha boa gente, que tendes aí? Nós queremos roubar!

Pensando que ela queria vingar-se deles, os ladrões trataram de se ver livres dela e disseram-lhe:

- À entrada da aldeia, o pároco tem uma porção de nabos amontoados no campo, vai buscá-los para nós.

Catarina foi até o campo e começou a apanhar os nabos, mas era tão preguiçosa que tardava a mover-se. Nesse momento, ia passando um homem que a viu e parou, julgando que ela fosse o Diabo que estivesse ali colhendo os nabos. Correu à casa do pároco e disse:

- Reverendo, o diabo está no vosso campo, arrancando todos os nabos.

- Pobre de mim! - respondeu o padre - Estou com um pó machucado e não posso ir lá exorciza-lo!

O homem, então, disse:

- Isso não tem importância, eu vos carregarei nas costas!

Quando chegaram ao campo, Catarina pôs-se de pé, espichando-se toda.

- Ah, é o diabo, é o diabo! - exclamou apavorado o padre, e deitou a correr juntamente com o homem.

Tão grande era o medo, que o pároco, com o pé machucado, corria mais depressa do que o outro que o carregara nas costas e que tinha os pés sãos.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles