segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Antonio Brás Constante (Os Jardineiros de Sábado II)

Os jardineiros de sábado são mais do que simplesmente pessoas limpando seus pátios. São membros individuais de uma confraria sem líder.  Homens determinados, que indiferentes ao tempo fazer chuva ou sol, usam de toda sua criatividade para não precisar executar a árdua tarefa de cuidar de seus quintais.

São habilidosos em desenvolver as mais esfarrapadas, porém convincentes, desculpas para isso. A ponto de suas esposas terem que apelar para uma atitude extrema: ou eles se mexem para arrumar o pátio, ou elas irão chamar o Fernandão (em alguns casos o Robertão, ou o Tonhão), que se encontra desempregado, para desempenhar esta função.

Isto acaba sendo o mesmo que um ultimato, pois nenhum homem gosta de ter seu território invadido por outro homem, principalmente se este terminar seu nome com um “ao” de “grandão”. Sendo assim, vencido pelas circunstâncias, segue enfim o valoroso pretenso jardineiro, rumo as suas obrigações.

Primeiramente verifica se dispõe de tudo que precisa: Enxada, garrafas de 600ml de cerveja, máquina de cortar grama, garrafinhas “long neck” de cerveja, luvas e latinhas de 300ml de cerveja. Não foi possível trazer o barrilzinho de chopp, pois sua esposa achou exagero de sua parte. Terá de contentar sua sede apenas com o que tem na mão, ou melhor, com o que tem dentro de sua inseparável caixa de isopor, cheia de gelo e recheada de deliciosas cervejas.

Lança um olhar de contemplação para seu gramado, antevendo as ervas daninhas que terá de arrancar, as pedras ali escondidas, prontas para serem descobertas pelas lâminas de sua máquina, que as arrancará e arremessara de encontro as suas desprotegidas canelas, e principalmente as formigas. Aqueles bichinhos minúsculos que por ali habitam.

Elas já devem estar pressentindo sua presença, esperando para poderem lhe atacar com unhas e dentes. Alias, você começa a imaginar se aquela história das crianças deixarem seus dentes de leite para a formiguinha carregar, não teriam um fundo de verdade. Onde as mesmas estariam desenvolvendo dentaduras com os dentes arrebanhados, utilizando-as para morder quem se aventure a cortar grama em seu território.

A ideia vai tomando forma em sua mente, mas é interrompida por sua esposa que consegue gritar mais algo que o som ensurdecedor de sua cortadora de grama. Dizendo aos berros que em sua distração você passou com a máquina por sobre o canteiro de rosas dela.

Após vários pedidos de desculpas e promessas de replantar as flores, pode finalmente continuar com seu trabalho.

O suor escorrendo de seu rosto. Os braços juntamente com sua barriga de cerveja empurrando a máquina sob o sol escaldante, e você pensando que talvez a idéia de chamar o Fernandão para cortar a grama não seja tão ruim assim, principalmente se você lambuzar o equipamento e as ferramentas com algum tipo de melado, deixando para ele uma calorosa e conhecida recepção de suas velhas amigas, as formigas.

Fonte: O Autor

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