Ubiratan Lustosa
(Curitiba/PR)
FOLIA
Quis brincar no carnaval,
mas não tinha fantasia,
mesmo assim foi pra folia
e festou a se esbaldar.
Mostrou que pra ser igual
aos que dizem ser felizes
basta esconder cicatrizes
e pular, sorrir, cantar.
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MIFORI
(São José dos Campos/SP)
Pantum:
APRENDER COM O SILÊNCIO
Olhe suas qualidades,
respeitando a sua vida,
a viver em sociedade,
esse silêncio o convida...
Respeitando a sua vida,
saber ouvir e calar,
esse silêncio o convida:
é preciso meditar!
Saber ouvir e calar,
num silêncio poderoso
é preciso meditar:
o viver é prazeroso!
Num silêncio poderoso
surge a voz da consciência;
o viver é prazeroso
se houver amor e decência.
Surge a voz da consciência
mostra todas as verdades,
se houver amor e decência,
olhe suas qualidades.
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Luiz Poeta
(Rio de Janeiro/RJ)
ESPER...ÂNSIAS
Ela desenha uma letra... a mão pesa...
o lápis fura a folha lisa do caderno;
a professora a incentiva, o jeito terno
flui no silêncio com a pureza de uma reza.
Ela se esmera, o resultado é perfeito
e apesar de não ter tanta habilidade
com as palavras, é tanta felicidade
no seu olhar, que ela até sorri... sem jeito.
O mal de parkinson inibe o traço certo,
mas ela insiste, pressiona, comprimindo
a trajetória da palavra, no deserto
da folha em branco que o amor vai imprimindo.
Quando, afinal, a visão fraca está cansada,
ela repousa mansamente e descansa.
Na folha branca, uma palavra está grafada
trêmula, forte e poderosa: e s p e r a n ç a.
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Francisco José Pessoa
(Fortaleza/CE)
VERSEJANDO
As palavras me faltam e, sem dizê-las,
A mudez verbaliza o sentimento
Tal a folha já morta entregue ao vento
Tal o céu tão escuro sem estrelas.
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Rubens Jardim
(São Paulo/SP)
O POEMA DO AVESSO
O que há em mim
é a lenta preparação
do que há em ti
sombra segada
sangrada
e sagrada
até nos olhos dos meninos
que nasceram sem olhos
vidência única
(vide o verso)
visão múltipla
(vede o anverso)
e tudo que está
do outro lado
do espelho.
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Samuel da Costa
(Itajaí/SC)
EM DIAS DE SOL E CALOR, EM NOITES DE TEMPESTADE E FRIO
Para Victória Butler Rodríguez e
Mari Gomes
Em dias de sol e calor
Minha alma serena
Passeia livremente
Pela charneca em flor
Nesses dias de extrema felicidade
Eu tenho sentimentos bons
Eu tenho pensamentos probos
Eu sou uma pessoa feliz
Minha alma leve
Navega serenamente
Pelo mar da tranquilidade
A brisa matinal oceânica
Faina o meu negro cabelo
E beija o meu rosto hialino
Eu sou feliz
Em dias de sol e calor
Minha jovem alma aventureira
Não conhece mais limites
Percorre o mundo livremente
Encontra e abraça a vida
Aceita o convite dela
Para um eviterno bailar
Eu encontrei a felicidade
Eu sou uma pessoa feliz
Em noites de tempestade
E de muito frio
Minha cansada e sôfrega alma
Voa perdidamente
Pela negra noite sem fim
Em noites de tempestade e frio
Vagueio solitária e languidamente
Pelo mítico vergel da solidão
Choro e sofro
Todas as dores do mundo
Pelo amor que se foi
Por tudo que não veio
E por tudo que nunca virá
Em noites
De fortes ventos intempestivos
E glaciais
Minha alma diáfana
Percorre o deserto dentro de mim
Na alvorada
No dilúculo de um novo dia
A minha crença
De tê-lo ao meu lado
Esvaece por fim
Na aurora de um novo dia
Vivo sem esperanças alguma
De viver dias melhores
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Nei Garcez
(Curitiba/PR)
"Dentro e fora" do Universo,
em que, aqui, tudo é infinito,
um só Deus é tão diverso
sobre tudo... Tenho dito!
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Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú/SC)
BARULHOS
No barulho das ruas
algumas horas
de paz e recolhimento
não há música no ar
nem palavra a ser dita
No barulho das casas
alguns minutos
de repouso e acolhimento
não há discurso
nem a fala do ator
no barulho em geral
instante em que o silêncio
aprofunda o gosto
não há como rasgar a folha
nem recitar a prece.
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João Batista Xavier Oliveira
(Bauru/SP)
O CAMINHO DA ROSA
Se cada um fizer a sua parte
não sobra parte para repartir;
não sobra aparte que preocupe a arte...
mundo destarte só resta sorrir.
Se cada um plantar uma roseira
a vila inteira será um jardim;
não sobra beira à espinhosa asneira...
dessa maneira é sorriso sem fim.
Se cada um olhar-se na verdade
fraternidade romperá vereda;
o pensamento terá mais espaço
e minha parte será rosa e há de
ser a verdade daquele que ceda
do seu caminho todo seu abraço!
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Olivaldo Júnior
(Mogi-Guaçu/SP)
EU MESMO
Pois é,
era uma vez
eu mesmo.
Eu mesmo,
que vou e que venho,
que risco e desenho,
que tenho e mantenho
esta (in)certa
dis - tân - cia.
Pois é,
era uma vez
distância.
Grades feitas de dor,
cola e muito isopor,
tudo que é anti-flor,
anti-sonho, anti-amor.
Pois é,
era uma vez
o amor.
O amor
que eu chamo e reclamo,
que eu amo e proclamo
o senhor
de mim mesmo.
Pois é,
era uma vez
eu:
uma vez
eu mesmo.
Um comentário:
Grata pela divulgação de um poema de minha autoria, querido poeta José Feldman. Parabéns pelo belo site literário.
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