quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Josué de Vargas Ferreira (1925 - 2017)


A abelha até que se acabe
não para pra descansar!
Nem "fazer cera" ela sabe...
- logo pega a trabalhar!
-
À deriva, no caminho,
tanta saudade ajuntei,
que cismo, velho e sozinho:
- saudade... jamais deixei!
-
- A Madame, pelo exame,
foi mordida por "barbeiro"!
- Mas, Doutor... aquele infame
me disse que era banqueiro!
-
Após transpor as barreiras
com talento e dignidade,
restaram, por companheiras...
- a solidão e a saudade!
-
Bicho inteiro na goiaba
jamais me causa aperreio.
Mas dá nojo, fico braba,
se, comendo, vejo meio!
-
Como velho motorista
vou dar minha opinião:
- pior que animal na pista
é um burro na direção!
-
Dar aulas e gastar sola
é a vocação do Nogueira.
Corre de escola em escola...
- é professor de carreira!
-
Dar um sorriso é tão nobre 
que o gesto nos engrandece,
quem dá não fica mais pobre
mas quem ganha se enriquece.
-
Diz o guarda ao namorado:
– Use também a outra mão!
Retruca o moço “avançado”:
- quem segura a direção?
-
Diz ser poço de virtude
o meu compadre Pacheco!
Tão magro, tão sem saúde...
só se for um poço seco!
-
Do jeito que anda o salário,
do jeito que as coisas vão,
é arroz pelo crediário
e consórcio de feijão!
-
É cômica a minha terra
e eu vivo rindo, aliás!
O doutor Armando Guerra
é nosso Juiz de Paz!
-
Ela tem sorte tamanha,
que bastou pedir divórcio
e logo seu carro ganha,
sem nem entrar em consórcio.
-
Entre e não seja apressada...
visita me dá prazer!
- Quando não for na chegada,
na despedida há de ser!
-
Era uma pensão pacata...
por vez, lembrava um cortiço!
A comida era barata...
- E bota "barata" nisso!
-
Grande poetisa! Porém,
do verso tão orgulhosa,
que não fala com ninguém!
-Dizem que detesta “prosa”!
-
- Meu bravo soldado, então
você pôs o outro a correr?
- Que corrida, Capitão...
mas não me deixei prender!
-
Minha fonte de ventura,
onde lavo o meu desgosto,
jorra em constante doçura
das covinhas do teu rosto!
-
Minha ventura retrata
pobre brinquedo distante:
- carrinho de velha lata,
puxado por um barbante!
-
Minha vida amiga e boa
deu-me a senda desejada:
– se canso de estar à toa,
depois não faço mais nada!
-
Não canso de gargalhar
das ironias da vida:
- como é fácil de se achar
a mulher que está perdida!
-
Não cedo livro emprestado!
Não o devolve, ninguém!
- Estes que eu tenho guardado,
pedi emprestado também!
-
Não te cases com mulher
entendida de finança.
Não te deixará sequer
passar a mão na poupança!
-
Não traz perene alegria
taça de cristal na mão!
Esse prazer não expia
as nódoas do coração!
-
- Na pinga que eu bebo, tento
a minha mágoa afogar!
- E consegues teu intento?
- Qual, ela sabe nadar!
-
Naquela manhã, no hospício,
houve incomum alarido.
- Junto ao lixo do edifício
estava um doido varrido!
-
No açougue faz alvoroço
este cartaz que contém:
- vendemos carne com osso...
e idem, sem idem, também!
-
O jovem de hoje, não nego,
tem muito tato e razão:
– de fato, sendo o amor cego,
só namora com a mão!
-
Ó Pai, dai-me mais saber
para entender meu patrão!
- Mais força nem vou querer,
porque nele eu taco a mão!
-
O pileque faz das suas!
Pra mim, porre nunca mais!
- Minha sogra virou duas...
castigo assim é demais!
-
O tempo bom já se foi!
Eu mesmo, sem ser patife,
pra não brigar, dava um boi!
- Hoje... brigo por um bife!
-
O tesouro do meu sonho,
que guardo no coração,
vem do sorriso que ponho
na face de cada irmão.
-
Pequena, três não comporta
a casa da Gabriela.
Marido entra pela porta,
alguém sai pela janela.
-
- Posso assentar-me ao teu lado,
meu anjo doce e gracioso?
- Detesto velho assanhado!
- Assanhado e... mentiroso!
-
- Quanto custou teu carrão?
- Só um beijinho, quase nada!
- Que deste no maridão?
- Não, que ele deu na empregada!
-
Quebra o cristal dessa taça,
que a bebida é falso conto!
Foge da alegre trapaça...
Por si só, quem bebe é tonto!
-
Quero buscar-te, Senhor,
mas meu barco é fraco até!
Por vez, ouço o teu clamor...
longe... à deriva, sem fé!
-
Que sentido pitoresco
deste termo incoerente!
O pão que achamos mais fresco
é justamente o mais quente!
-
Que vale fazer promessa,
rezando pra não chover,
se quando a chuva começa
queremos nos esconder?
-
Salve quem, entre o inimigo,
com talento e decisão,
insiste em lançar o trigo
e repartir o seu pão!
-
Se a gente cruzar minhoca
com macho de borboleta,
será que dá "borbonhoca"
ou dará "minhocoleta"?
-
Sempre foi franga avoada
e agora está mais travessa!
De tanto levar bicada,
só tem galo na cabeça!
-
Somou e multiplicou
mas a morte o subtraiu!
Depois que os pés ajuntou,
a família dividiu.
-
Sou, por fim, aposentada!
Trabalho?  Nem pensar nisso!
- Prefiro subir escada
a elevador de serviço!
-
Tu serás velho e paspalho
quando a coisa se inverter:
– o prazer te der trabalho
e o trabalho der prazer!
-
Vejam que vida mesquinha!
Conserto o mundo não tem!
A mulher que andou na linha
um dia, matou-a o trem!
-
Zebra, que belo animal,
de branco e preto pintado.
- Quem o pintou, por sinal,
entendia do riscado!
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Josué de Vargas Ferreira nasceu em Leopoldina/MG,  em 9 de outubro de 1925 e faleceu em Ribeirão Preto/SP, onde se radicou, a 3 de outubro de 2017. 

Era contador e aposentado do Banco do Brasil. 

Na literatura foi premiado em poemas e trovas em diversos concursos. 

Pertenceu a diretoria da UBT - União Brasileira de Trovadores e participou de diversos Jogos Florais como membro das comissões nomeadas pelo executivo local. 

Editou Trovas de Graça em vários formatos distribuindo de graça a populares e estudantes aproximadamente 10.000 exemplares. Tem trovas editadas em publicações da Editora Vozes. Tem trovas nos volumes II e III de "Meus Irmãos, os Trovadores" e antologias de Aparício Fernandes.

Fonte da biografia:
Nilton Manoel

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