quarta-feira, 2 de maio de 2018

Isabel Furini (Poemas Avulsos) I

O POETA

Sonha com poemas 
e acorda na noite, 
escrevendo com os dedos 
versos no ar.

Adora 
navegar sobre ondas de folhas em branco, 
velejar nos cadernos novos, 
pular sobre areias de palavras, 
correr na praia procurando o Verbo. 
Livros, cadernos, papéis e mais papéis...

Continua a lutar com ondas indomáveis, 
organiza os termos, 
mas só ancora no oceano dos sentimentos. 
Nesse instante, 
o poeta compreende o poder do caos primordial.

TULIPAS

Lateja a vida nos meteoros das cores e das formas.
A artista pinta tulipas
no universo da tela,
e as flores alegram as retinas.

A MAGIA DO POETA

Serpenteiam os versos
de Quintana...
Caravanas de Poemas batem à porta do poeta,
tangem liras,
cata-ventos...
lâmpadas dilaceram a escuridão
dos pensamentos. 
Espelho mágico
reflete
o aprendiz de feiticeiro.

Versos... infinitos versos
acenam,
entoam canções. 
O poeta dança, dança...
Sombras começam a rir
na escuridão.

Os versos flutuam ao luar
e desenham
diadema de diamantes
na testa do poeta. 
Poeta?
Epigramático?
Dono de infinitos roteiros
e mármore e obsidiana...
Serpenteiam os versos de Quintana!..

REFLEXÃO

Fácil é a crítica, 
difícil a auto-crítica.
Fácil é reclamar,
difícil assumir o nosso destino.

POEMAS CORCUNDAS

Estes, meus poemas corcundas, são apenas
lembranças nebulosas, 
alfinetes no oceano de tristezas. 
Transitam famintos de letras e de verbos
e ao esculpi-los nas águas
só permanece erguida a ideia-semente ,
rocha de granito
arranhada pelas garras dos leões 
e  pelas unhas dos suicidas,
chicoteada 
na busca sem descanso das palavras.

META

A poesia é a meta do poeta.
- metida a poeta -
ser poeta   é minha meta.
A poesia é a meta de minha meta.

O VÉU

Na viagem da vida

os poema, as flores
e os sonhos arrasadores
são artifícios da alma para retirar o véu
revelar o seu lado oculto
e surpreender o nosso eu

esse eu
sempre obnubilado
com infantilidades.

O POÇO

a Poesia é poço sem fundo
 (profunda loucura)
às vezes é euforia
e outras vezes é triste agonia

Poesia é trovão
que ensurdece as ruas
ou é vento galáctico
arrasando
o lado escuro da Lua.

OBSCURO RETRATO DE CLARICE

Duas Luas (torrentes impetuosas,
espelhos de paixão)
soterradas nas órbitas dos olhos
e nos lábios
agulhas de palavras (palavras fascinam
os ouvidos e o fluxo do pensamento crava
estacas na areia).

Planta rosas (carmesins e indestrutíveis rosas
que resistem a foice de Cronos).

Enfeitiçados contornos transfiguram a realidade
entre ondas e monólitos de pedra,
A Paixão segundo G.H.
quebra intrincados muros de angustias,
abrem-se perfumadas pétalas artísticas
e no orbe da solidão
é cinzelada a paixão de Clarice.

ISOLADO

o poema faz uma marca na ampulheta
(tenta acelerar o tempo)

o poema ama as flores do jardim
mas odeia ficar isolado no caderno
e fazer parte do conjunto de trastes velhos
esquecidos no porão

LABIRINTO DE PAPEL

sombras sobre o palco
o mundo de papel é destruído
pelas traças
e a realidade quebra a ilusão do mundo

o poeta observa o mundo do avesso
descobre paragens de espanto
avança
desvela o mistério
da criação poética
e dança
no labirinto da subjetividade

nos muros do labirinto
sobrevivem fragmentos do passado
imagens e palavras
e as dúvidas ocultas nas retinas
que em surdina
perguntam sobre amores quase olvidados.

AS NEREIDAS E OS CORVOS

a dama (da ma)drugada
chama um poeta
para poetizar as nuvens
e as ondas do mar
e às belas Nereidas
e cantar às profundezas

o  poeta solicita um copo
de elixir sagrado
elixir criado na Constelação do Corvo

o mar respira e as Nereidas cantam
mas as gaivotas (des)mentem
as palavras veementes
dos duendes
(do outro mundo)

gaivotas e corvos
são amigos no mundo astral
mas somente as Nereidas
guardam as palavras de um mágico funeral

enquanto as Nereidas cantam
os corvos crocitam
aos ouvidos humanos poemas puros e sagrados
que serão cinzelados no momento final.

CHUVA POÉTICA

                                              Dedicado à Cassandra Joerque

os corvos crocitam
nos campos de trigo
sob a Chuva Poética

nesses campos florescem
diversos poemas
que alimentam as almas
com belos perfumes
de rosas, jasmins e alfazemas

porque a Poesia é água
que abençoa a Terra.

Fontes

Um comentário:

Isabel Furini disse...

Muito obrigada por divulgar os meus trabalhos, prezado poeta Feldman.