sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Isabel Furini (Línguas Viperinas)


Minha amiga J. adora bons restaurantes. E quem não adora?... O problema é que minha amiga gasta a maior parte de seu polpudo salário em restaurantes. Há quatro meses ele decidiu mudar. Iniciou um regime. Continuava frequentando restaurantes chiques, mas em vez de pedir carnes e massas, começou a se conformar com saladas e alguma carne magra de frango ou de peixe. E os resultados começaram já estavam presente no primeiro mês. Aquele início tímido, poucos notado pelos outros, mas notado pela roupa que passa de apertada a um pouco folgada. E como dá alegria!

Pois bem, amiga ligou, convidou-me para almoçar em um shopping. Nos encontramos lá, olhamos lojas e depois fomos até a praça da alimentação. Ela, orgulhosa, só colocou no prato frango grelhado e salada variada. Na mesa do lado havia uma senhora sentada olhando para o prato de minha amiga. Mexia a cabeça para um lado e para outro com ar de reprovação. O que seria?

De repente, com voz de mãe autoritária dirigiu-se a minha amiga dizendo: “Não adianta querida, já não adianta, não vai dar resultado, você deveria ter pensado antes... agora é obesa não tem mais nada para fazer”. Depois dessa frase maldosa, levantou-se e saiu como de cabeça erguida, orgulhosa de seu ato de maldade.

Minha amiga olhou o prato, observou a própria barriga proeminente, e eu percebi que seus olhos se enchiam de lágrimas.

Tentei animá-la: - “Deixe falar, nem se preocupe”. E ela secou a lágrimas e sorriu - foi um sorriso forçado.

Antes de sair do shopping comprou um bombom e o deglutiu com prazer. Dias depois, ligou dizendo que não valia a pena fazer regime... só cirurgia de estômago podia ser uma solução. - “Mas você estava indo tão bem!” – exclamei.

- “Não sei não”, disse ela, “a mulher do restaurante tem razão não regimes não dão resultado”.

Minha primeira reação foi dizer que a mulher do restaurante, essa cobra com forma humana, deveria olhar para a própria vida, em vez de meter o nariz onde não é chamada. Eu deveria ter jogado o prato na cabeça dela - falei para minha amiga e ela riu.

Ao desligar fiquei pensando o que ganham essas pessoas de língua viperina que estão sempre procurando humilhar, ofender, e fazer desistir a quem tem um objetivo. Será que antes de dormir contabilizam os danos provocados com suas palavras e gritam:

- “Hoje consegui destruir três pessoas. Uauu! Eu sou demais! Qual será o triste dividendo que essas pessoas estão ganhando?…”

Fonte:

Um comentário:

Isabel Furini disse...

Muito obrigada pela publicação da crônica Línguas Viperinas, de minha autoria. Sinto-me honrada. Grata.