A criança é sempre bela
seja de que raça for.
Branca, preta ou amarela
— a inocência não tem cor!
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À injustiça não me inclino.
Ante o mal não me atormento.
Podem mudar meu destino
— não mudam meu pensamento.
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A morte às vezes bendigo
em singular euforia.
Se sonho à noite contigo
— bendigo a morte do dia!
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A rosa da castidade
brota na infância em meiguice.
Fenece na mocidade,
torna a florir na velhice.
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A saudade é como o açoite
do vento que a rosa espalma.
É o chamamento da noite
batendo à porta da alma.
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Deus nos deu tudo o que emana
das riquezas que criou.
Foi pela ambição humana
que a miséria começou.
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Diz um sábio singular
este aforismo, a valer;
Deus criou o Bem e o mal
compete à gente escolher.
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Dormir sem sonhar, é sorte!
Ter a alma adormecida.
Se é esta a imagem da morte
por que tanto amor à vida?
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É triste quando a saudade
imolada em duro arcano,
enfrenta a realidade
no encontro com o desengano.
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Eu vivo sonhando à toa...
a minha vida é sonhar.
Quem sonha tudo perdoa!
O mal do sonho é acordar!
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Há muito homem perfeito
que usa justiça a meio.
Reconhece seu direito
e esquece o direito alheio.
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Igualdade! Inutilmente
vive o mundo a procurá-la.
A vida separa a gente,
a morte é que nos iguala!
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Já sofri revés profundo,
no mundo muito chorei;
mas nunca maldisse o mundo
porque nele te encontrei!
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Meu coração magoado
perdoa a seus devedores.
A terra que sofre o arado
é aquela que dá mais flores.
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Na infância eu sonhava tanto.
meus sonhos eram reais.
Hoje ainda sonho, e quanto!
Mas são sonhos — nada mais.
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Na infância o tempo floresce
em folguedos e esperança.
Passa o tempo. A gente cresce,
mas continua criança!
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Na massa da realidade
do teu pão de cada dia,
mistura com suavidade
um pouco de fantasia...
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Não há fim ou abandono.
A vida a tudo supera.
A flor que morre no outono
renasce na primavera!
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No orgulho de cada olhar
que de Deus não sente a Graça,
eu vejo gente passar,
sem pensar que a gente... passa!
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O amor leal ninguém dobra,
nenhuma força o invalida.
É nau que jamais soçobra
no mar revolto da vida.
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Os anjos cantam e rezam,
teu céu em flores desata...
quando todos te desprezam,
quando a vida te maltrata.
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Perdeu a lua o mistério
do seu giro encantador.
Ela é hoje um cemitério
sem a esmola de uma flor.
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Que importa do vento a voz,
a neve, o sol, as sazões,
se tudo reside em nós
na cor de nossas paixões?
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Quis descrever a Saudade,
palavras não encontrei.
Tracei letras à vontade,
formei teu nome; chorei!
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Se o amor traz alegria
mesmo quando faz sofrer,
o de Mãe já principia
antes de nos conhecer.
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Seriam vãos os temores
de nossas almas inquietas,
se em versos, cantando as flores
todos fôssemos poetas!
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Fonte:
Argentina de Mello e Silva. Trovas dispersas. Curitiba/PR: Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1984.
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