sábado, 19 de outubro de 2024
José Feldman (Mais filas na Comédia da Vida)
Ah, as filas continuam! Esses longos e intermináveis serpentários que, mais do que um mero aborrecimento, se tornaram verdadeiros palcos de comédia na vida cotidiana. Se você já se viu preso em uma fila, sabe que, por mais frustrante que possa ser, sempre há espaço para boas risadas. Vamos explorar o fascinante mundo das filas em cinco cenários clássicos, onde a paciência é testada.
FILAS DO BANHEIRO: O GRANDE ENIGMA
Comecemos pela fila do banheiro, o local onde o tempo parece parar e a necessidade se torna uma questão de vida ou morte. Você está lá, na fila, e percebe que cada pessoa na sua frente parece estar enfrentando um dilema existencial. Uma mulher, com uma expressão de concentração digna de um filósofo, observa o relógio e parece estar calculando a média de tempo que cada um leva dentro da cabine.
Enquanto isso, uma criança na fila começa a fazer perguntas filosóficas sobre o que acontece dentro do banheiro. “Mamãe, por que o tio está demorando tanto? Ele está fazendo xixi ou tentou entrar em outra dimensão?” E você, ali, tentando não rir da situação, se pergunta se a resposta envolve um portal mágico.
Quando finalmente é sua vez, você entra e percebe que, em um universo paralelo, o banheiro é um spa luxuoso, mas na realidade, é só um cubículo apertado com uma descarga que faz mais barulho do que alívio. No momento em que você sai, a fila aumentou e a pergunta filosófica da criança ecoa em sua mente: “O que é mais estressante: esperar ou estar dentro?”
FILAS PARA O CINEMA: O SHOW DO ENTRETENIMENTO
Depois de sobreviver ao banheiro, você decide ir ao cinema, acreditando que a fila para comprar ingressos será mais tranquila. Mas, ah, a inocência! Na fila, você se depara com uma verdadeira assembleia de cinéfilos. Um grupo discute fervorosamente o último filme de super-herói, enquanto outro faz teorias mirabolantes sobre quem é o verdadeiro vilão da trama.
Quando finalmente chega sua vez, você percebe que o atendente tem a velocidade de um caracol em dia de folga. Enquanto você espera, começa a sentir a pressão. Decidir entre a pipoca doce ou salgada se torna um dilema filosófico. “E se eu escolher a pipoca salgada e, no meio do filme, desejar a doce? E se a pipoca doce não combina com o filme de terror que escolhi?” As angústias cinematográficas são reais!
Finalmente, você consegue comprar seu ingresso e, ao entrar na sala, descobre que a única vaga disponível é ao lado do grupo que não parou de comentar sobre o filme, mesmo durante a exibição. E assim, a fila se transforma em uma experiência de cinema interativa.
FILAS PARA O ATENDIMENTO MÉDICO: O CONSULTÓRIO DO DRAMA
Agora, é hora de ir ao médico. As filas de espera nos consultórios são um espetáculo à parte. Você entra e se depara com uma sala cheia de pessoas que parecem estar em um reality show de “Quem Tem a Doença Mais Estranha”. Ao seu lado, um senhor está explicando para a esposa que ele tem certeza de que sua dor nas costas é causada por um ataque alienígena.
Enquanto espera, você se distrai contando as plantinhas da sala, que tentam, em vão, melhorar o clima. E então, quando finalmente é chamado, você se sente como um jogador de loteria que acabou de ganhar o prêmio. Mas, ao entrar no consultório, o médico parece ter saído para um café e você acaba esperando mais cinco minutos dentro da sala, pensando se a espera estava realmente valendo a pena.
FILAS NO CARTÓRIO: O LABIRINTO DA BUROCRACIA
Depois da consulta, você precisa ir ao cartório. Ah, o cartório, onde a burocracia é elevada à categoria de arte. Você entra e se depara com uma fila que parece ter saído de um filme de terror, onde os cidadãos estão ali, cada um com sua história de desespero.
A conversa entre os que estão na fila é digna de uma comédia de stand-up . “Você já viu como é o novo formulário? Parece que é mais fácil se alistar na NASA do que tentar registrar um documento aqui!” E todos riem, compartilhando suas experiências de como preencher um simples papel se tornou um verdadeiro teste de paciência.
Quando finalmente chega sua vez, a atendente parece ter saído de um filme de ação, digitando tão rápido que você se pergunta se ela está tentando salvar o mundo ou apenas registrando um documento. E você, claro, esquece todos os documentos que deveria ter trazido.
FILAS PARA O ÔNIBUS: O TEATRO DA VIDA URBANA
Por fim, mas não menos importante, a fila para o ônibus. Chegar à parada é como um jogo de estratégia. Você se posiciona no lugar certo, mas logo percebe que alguém mais ousado já está na sua frente, como se tivesse um mapa secreto do caminho mais curto.
Enquanto espera, você ouve conversas hilárias. Um grupo de adolescentes discute se a nova série da moda é melhor que a anterior, e você se pega pensando se a vida real é tão dramática quanto as tramas que eles discutem. E quando o ônibus finalmente chega, a “luta” para entrar se transforma em uma cena de ação digna de Hollywood, com empurrões e acrobacias.
E assim, ao final de um dia repleto de filas, você percebe que a vida é um grande circo, e cada fila é uma atração à parte. Rir das situações absurdas, compartilhar histórias e até mesmo fazer amigos inesperados no caminho é o que torna tudo mais divertido. Portanto, da próxima vez que você se deparar com uma fila, lembre-se: não é apenas uma espera, é uma oportunidade de viver um pouco mais da comédia da vida!
Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Vereda da Poesia = 137=
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Poemas
são pássaros
livres,
que de vez
em quando
pousam
em nossos
corações.
= = = = = =
Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…
= = = = = =
Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Filigrana
Nem sempre o que sinto é o que escrevo...
Atrevo-me a pensar, perco o poeta,
Poesia é amor em alto-relevo...
Desejo é só ânsia... incompleta.
Nem sempre o que escrevo é o que eu sinto,
Não minto - todavia - as emoções,
O amor é uma taça, o vinho... tinto
É a transfusão do sangue das paixões.
Nem sempre o que me mata é o que me inspira,
Mas há, na minha dor, tanto sentido,
Que quando estou ferido, agindo a lira
Transformo em canção, o meu gemido.
Nem sempre o meu sempre é poesia,
O tempo fantasia a abstração...
O amor dilui a dor na alegria
E tudo flui em forma de emoção.
Meu sempre é ter, dentro da retina,
A luz que ilumina quem respeito...
O amor é uma doce bailarina
Que dança... cristalina... no meu peito.
O amor é sempre um sempre... e é tão bonito
Sonhar... com a ingenuidade de um menino,
Que crê que todo amigo é infinito
E é mais que um presente do destino.
Meu sempre é tão... singelo... e natural,
E o meu sorriso triste, tão... humano...
Que quando me maltrata algum... igual,
O meu amor se ri do desengano.
No fundo, tudo é fina porcelana
Que enfeita a solidão de uma estante,
O amor é muito mais que a filigrana
Que não precisa mais de um diamante.
Amar requer afeto... aceitação
E não um sentimento possessivo,
Que faz do egocentrismo, uma prisão
E a libertação me mantém vivo.
Meu sonho é real ou impreciso,
Porém nunca me encanta o desencanto...
Se choro, a semente do meu riso
Irriga-se no sal que vem do pranto.
O sempre é fugaz... o tempo corre
E escorre como o sangue em cada veia,
Mas minha esperança, que não morre,
Aguarda o diamante na bateia.
Porém o inequívoco anseio
De ter a inspiração brotando em mim,
Dilui meu sonho bom no que semeio
E afaga a brotação do meu jardim.
= = = = = =
Trova Premiada em Irati/PR, 2023
EDY SOARES
Vila Velha / ES
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Há dias assim...
A lembrança do seu olhar,
Do perfume permanece.
A música da última dança...
E a saudade insiste!
Há dias assim
E noites também...
= = = = = =
Trova Popular
Eu casei-me e cativei-me,
inda não me arrependi;
quanto mais vivo contigo,
menos posso estar sem ti.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
História antiga
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube porque foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...
Desde então, transformou-se, de repente,
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para a frente...
Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…
= = = = = =
Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Canarinho, quando canta,
que será que o faz cantar?
– Sei lá... mas a mim me espanta
que ele cante sem cobrar...
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Sonetilho de
EUCLIDES DA CUNHA
Cantagalo/RJ, 1866 – 1909, Rio de Janeiro/RJ
Comparação
"Eu sou fraca e pequena..."
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tão serena,
Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.
Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:
Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela...
E no entretanto — é um mundo!
= = = = = =
Trova Humorística de
HELENA KOLODY
Cruz Machado, 1912 – 2004, Curitiba
Cresceu estranho tumor
no pé descalço do Zé.
Será que eu tenho, doutor,
apendicite no pé?
= = = = = =
Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Pedra bruta
Pedra bruta que sou, me dá trabalho
Tirar de mim as lascas a cinzel...
Quantas vezes que eu já errei o malho,
Deixando a outra mão feito um pastel!
Quantas vezes também eu me atrapalho,
Mandando o que já fiz pro beleléu...
E o recomeço deixa-me em frangalho,
Pois bem sei eu como isto é cruel!
Já foram, assim, dez lustros de labuta,
Mas continuo ainda pedra bruta...
E mil pedaços já arranquei de mim!
Vou ter que contratar alguém bem destro
Que a essa lapidação coloque um fim,
E eu volte a trabalhar só com meu estro!
= = = = = =
Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito:
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
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Soneto de
FLORBELA ESPANCA
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
A um livro
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.
Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! …
Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! … Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! …
= = = = = =
Trova Funerária Cigana
Sempre foste minha estrela,
eu com gosto te seguia,
na tormenta te apagaste,
fiquei sozinho e sem guia.
= = = = = =
Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
As folhagens agitadas
sentem o frescor
do crepúsculo
que vai de encontro
ao horizonte, enquanto
gaivotas repousam
no por do sol.
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Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Mateus do Sul/PR
Não julgue alguém pela imagem,
pois muitos fazem de tudo
para esconder na “embalagem”
a falta de conteúdo.
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Poema de
CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
São Luís/MA, 1863 — 1946, Rio de Janeiro/RJ
Recorda-te de mim
Recorda-te de mim quando de tarde
Gloriosa a morrer na luz do dia
E nos seios da noite a serrania
Em candores de neve se ocultar
Recorda-te de mim nesse momento
As estrelas saudosas do penar.
Recorda-te de mim quando alta noite
Escutares um canto de tristeza
Descontando por toda a natureza
Nos formosos harpejos do luar
Recorda-te de mim quando acordares
E sentires no peito do adolescente
Um espirito em mágoa florescente
Uma hora em teu peito a suspirar.
Recorda-te de mim quando no templo
Numa prece serena, doce e fina
Sob o altar florescido de Maria
Teus segredos à Virgem confiar
Recorda-te de mim nesse momento
Para que minha dor tenha um alento
E me deixe morrer com o pensamento
De que morro feliz só por te amar.
= = = = = =
Trova de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP
És o livro de poesias
de amor, a mim dedicadas!
Se me abraças, irradias
vida às frases arrojadas!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
Poeta à antiga
Quando o enxergam passar - passos pequenos,
a face magra, quieto, entristecido -
lançando às vezes , no ar, mudos acenos
em gestos de abraçar o indefinido;
Quando o enxergam passar(e o seu ouvido
não atende aos insultos dos terrenos)
todos, num quase acento comovido,
dizem: "deve ser louco, mais ou menos..."
Um dia (nem eu sei como se deu)
conversamos...Contou-me todo o seu
viver, cheio de angústias e revezes...
É poeta!...Arrependo-me dizê-lo
pois eu sei que dirão, agora, ao vê-lo:
-"Poeta?... Então é louco duas vezes!"
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Poetrix de
SÍLVIA MOTA
Belo Horizonte/MG
perda de tempo
de tempos em tempos
enquanto homens resmungam
renova-se o Tempo.
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Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP
- Vamos ao circo sozinhos
e, por favor, fiquem calmas.
E as mães dos dois mosquitinhos:
- É que o povo... bate palmas!
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Poema de
GERRIT KOUWENAAR
Amsterdam/Holanda, 1923 – 2014
É um dia claro
é um dia claro é um mundo escuro
entre a verde erva a carne é vermelha
homens deixam-se vergar por um naco de pão
é um dia escuro é um mundo claro
riem os homens e tudo é possível
percorri o caminho para colher uma maçã
mas no caminho havia uma cobra
a vida é boa mas a vida podia ser melhor
todas essas guerras entre tréguas eternas
todo esse morrer para viver ainda mais
a vida é boa mas a vida podia ser melhor
a carne é dura de roer mas mais tenra que os ossos
percorri o caminho para escapar à morte
mas no caminho havia um homem de ferro
enquanto a boca mastiga o ar rarefaz-se
enquanto o pão se digere a mão invalida-se
enquanto falamos na casa ela incendeia-se algures
é um dia escuro é um mundo escuro
os jornais noticiam como aconteceu e como não acontecerá
percorri o caminho para construir uma cidade
mas projetei torres em subterrâneos
no quadro o mestre-escola escrevia futuro amor e deus
salve a nossa pátria, e eu todo lábios e olhos
imitava-o na lousa
mas lá fora dançava a rapariga tangível
flutuando como se não houvesse leis da gravidade
percorri o caminho para encontrar o caminho
mas atrás do pudim havia um prato vazio
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Trova de
ANTONIO SALOMÃO
Altinópolis/SP, 1921 – ???, Curitiba/PR
Eu vejo a terra cansada,
a cada passo mais linda,
sofrendo golpes de enxada,
e dando frutos ainda.
= = = = = =
Hino de
Macaíba/RN
Foi nas margens do Rio Jundiaí
Onde o sonho de um povo começou
E nas sombras de uma palmeira
Que Fabrício seu nome elegeu
Foi na luta de gente que ama
Sua terra, seu povo, seu porto torrão;
Em batalhas e lutas ferozes
A aurora de grandes vitórias
No cultivo do chão da esperança
No horizonte queremos chegar
E agora queremos saudar
A uma terra que luta
Mas glórias terá;
Refrão
Eu te saúdo, óh Macaíba
Eu te saúdo, antiga Coité
Esperança é uma semente
Que nasce, que brota
Neste lugar;
É uma terra de gente de glórias
De Severo e o Pax seu balão
Defensores da nossa cultura
Aliados da educação
São poetas, são homens da Lei
Que viveram sonhando
Buscando ideais;
As riquezas do povo potiguar
Pelas águas do nosso rio passou
Pelas mãos desse povo valente
Que tirou o sustento do chão
E tão valioso ouro branco
De nossos engenhos da cana tirou;
Refrão
Eu te saúdo, óh Macaíba
Eu te saúdo, antiga Coité
Esperança é uma semente
Que nasce, que brota
Neste lugar.
= = = = = =
Trova de
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes/PR
Sem usar o pão sobre a mesa,
eu não reclamo, porquê…
em meio a tanta pobreza
minha fortuna é você!
= = = = = =
Poema de
ALVES COELHO
(José Adalberto Alves Coelho)
Lisboa/Portugal
Olhos Castanhos
Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.
Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
Olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição
são cruéis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.
= = = = = =
Trova de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Faça do livro, criança,
a rota dos sonhadores.
O livro é o barco que alcança
o porto dos vencedores.
= = = = = =
Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
Os dois homens e a Fortuna
Dois amigos numa aldeia
Viviam; um a cantar;
O segundo, volta e meia,
Descontente, a suspirar.
«Aqui, amigo, a abastança
Nos nega a sorte importuna;
Mas de lugar a mudança
Faz que se encontre a Fortuna.
— Não te quero dissuadir,
Vai ver mundo, vê se a apanhas,
Que eu ficarei a dormir,
À espera de que tu venhas.»
O ambicioso, neste intuito,
Lembrou-lhe a corte; partiu,
Chegou lá, procurou muito,
Mas a Fortuna não viu.
Busca monção oportuna,
Vai ao Mogol, mas em vão;
Dizem-lhe lá que a Fortuna
Se encontrava no Japão.
De novo ele sulca os mares,
E, não vendo a deusa amada,
Volta aos seus antigos lares,
Dando ao diabo a cartada.
E a Fortuna, seu castigo,
Veio encontrá-la a sorrir,
Sentada à porta do amigo,
Que dormia a bom dormir.
Arthur Thomaz (O velho e o vento)
Aqui fora, conversando com o sol e com as plantas, percebo a chegada do vento mansamente sem causar alarde.
Arrisquei um "buenas tardes”, mas me disse que podia falar na minha língua, pois ele percorrera os mais distantes rincões do planeta e conhecia todos os idiomas e dialetos.
Então perguntei a ele que bons ventos o traziam (não resisti a essa brincadeira). Indaguei se ele estava com alguma dúvida.
Respondeu que sim, se era verdade que uma mulher quis tentar me estocar.
Após muitas risadas respondi que não era uma mulher e sim uma alienígena, portadora de apenas dois neurônios, e que não deveria ser levada em conta.
Mais risadas.
Nisso uma garça branca chegou, vestida de bombacha e com uma cuia de chimarrão, e depois de saudar a todos perguntou ao vento se ele já tinha lido o texto do Luís Fernando Veríssimo, o qual afirmava que pessoas tristes ouvem o vento gemer e pessoas alegres, ouvem o vento cantar.
Nesse momento, o amigo vento entoou uma maravilhosa canção encantando todos nós.
Um quero-quero e uma maritaca, que observavam a cena, vendo a boa acolhida que a garça branca teve, juntaram-se a nós.
Formada a roda de chimarrão continuamos nossa conversa. O quero-quero, que também veio lá do sul do Brasil, disse com orgulho que tinha lido a trilogia "O tempo e o vento" de Érico Veríssimo. A maritaca já foi logo perguntando se ele tinha participado do filme "O vento levou". O vento sorriu e soprando levantou as penas da falante ave. Risadas de todos na roda.
Eu pedi que contasse algumas de suas peripécias mais atuais.
Com face de criança arteira perguntou se eu soube do cargueiro que com uma lufada o fez ficar atravessado e interromper a passagem do canal de Suez.
– Consegui o maior congestionamento de navios de todas as épocas: mais de quatrocentos.
Disse também que, às vezes, apenas se divertia levantando saias das moças ou arrancando a peruca de carecas e, há pouco tempo, levou areia do Saara e jogou nos olhos de pessoas em países que estavam atrapalhando a paz mundial.
Imaginando as cenas, rimos juntos por algum tempo.
Ele afirmou que vagara por bilhões de anos antes da vida surgir no planeta e necessitava umas peraltices para acalmar a tempestade interior (devolveu com outra brincadeira).
Um tanto nostálgico, falou que durante esses bilhões de anos no planeta, ainda sem nenhuma forma de vida, contou com a companhia de um fiel amigo: o tempo.
Ficaram tão unidos que pensaram em formar uma dupla sertaneja, Éolo & Cronos, mas desistiram porque o rádio ainda não havia sido inventado e não haveria audiência. Risos.
Indaguei o motivo de andar tão mal-humorado.
Calmamente, ele disse que não. E que até já convocara uma coletiva de imprensa para explicar e desmentir esse boato. Tudo inútil, mal prestaram atenção no que eu disse, distraídos olhando o celular.
Já havia implorado aos seres humanos que parassem de testar bombas atômicas, que não poluíssem o meio ambiente, que não jogassem lixo nos mares e rios. Explicou que isso aquecia o ar e o jogava em correntes diferentes do seu curso normal. Quando percebia, já se transformara em ciclones ou devastadores furacões.
Eu lhe disse, com ar consternado, que não via possibilidade desses ditos humanos alterarem esse tipo de conduta.
Que se preparem para acontecimentos piores, vaticinou.
Ele, então, me envolveu em um tépido abraço e assobiando deslocou-se para outras paragens, prometendo voltar para outras conversas.
E, de longe, brincou que por mais força que fizesse jamais despentearia o meu topete.
A borboleta, pousando em meu joelho, indagou se o vento tinha debochado de minha careca.
Até as plantas ao redor gargalharam.
Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: mirabolantes. Santos/SP: Bueno ed., 2021. E-book enviado pelo autor.