domingo, 8 de janeiro de 2012

Oscar Batista (Trovas da Esperança)


Esperança – doce alento
De quem serve, ama e confia,
Escora no sofrimento,
Pão nosso de cada dia.

O mundo – furioso mar;
A vida – prova de fé!...
Esperança – a nau serena
Que não se rende à maré.

Artigo da Lei Celeste
Para a vitória do bem:
Não arredes a esperança
Do coração de ninguém.

Quando a gente tudo perde
E nada mais tem à mão,
Esperança lembra a estrela
No meio da escuridão.

Esperança – eterna chama
Que ampara, aquece e ilumina!...
Luar refletindo o Sol
Da Providência Divina.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (Almirante Tamandaré, Antonio Olinto, Arapoti, Clevelândia, Palmeira, Piraí do Sul)


ANTONIO OLINTO
O caixão


Em um rio de Antonio Olinto há um caixão, todo feito de cimento, que vaga pelas águas; poucas pessoas conseguiram vê-lo, pois ele aparece às vezes. Dizem que um dia, quando um homem estava pescando viu o tal caixão. O pescador, que sempre levava uma arma, naquele dia já a havia utilizado para atirar em uma pomba na beira do rio; mas quando ele foi pegá-la só havia penas e o misterioso caixão. Assustado, foi contar para os amigos e vizinhos que logo foram ver no local o caixão.

Ao chegarem no local, nada havia; desapareceu o misterioso caixão. Contam, também, que para retirar esse caixão da água é preciso que se tenha dois bois gêmeos. As pessoas que viram esse caixão já tentaram tirá-lo da água, mas, até hoje, ninguém conseguiu.

ARAPOTI
O preço da farra


João era um homem fanfarrão que não vivia sem um baile e diversão e, mesmo depois de casado, freqüentava bares e galpões por Arapoti afora.

Certa noite, ele encontrou uma bela moça e, após duas ou três músicas, não esperou nenhum instante e acompanhou-a até à casa dela. A mulher tinha ótima aparência, bem vestida e devidamente maquiada; era a figura mais notável da festa. Mas sua presença por ali já não se via há muitos e muitos anos. Chegando à casa da moça, eles entraram em uma sala enorme, o homem tirou seu casaco e colocou-o sobre uma cadeira. Após o lanche, e muito papo, ele despediu-se com a certeza de que voltaria a vê-la mais vezes.

No outro dia, o coveiro que era seu amigo foi até sua casa e entregou-lhe o casaco. A princípio, João duvidou, mas reconheceu como sendo seu aquele casaco e contou que havia esquecido na casa daquela moça. O seu amigo sorriu, dizendo que o havia encontrado dentro de um mausoléu no cemitério.

ARAPOTI
O espírito do cemitério


Há anos atrás ocorreu um fato no cemitério da cidade. Alguns jovens, em uma brincadeira de mau gosto, apostavam quem pegava mais cruzes, brincadeira esta que era muito comum naquela época.

Certo dia, uma moça muito bonita faleceu por causa não relatada, deixando um clima sombrio no local. Ao chegar o dia de finados, mais ou menos duas semanas depois do acontecimento, um rapaz senta-se sobre um túmulo e repara em uma bela garota ao seu lado. Inicia-se a conversa entre os dois que acaba repentinamente quando ele revela que roubava cruzes. Ela o desafia a roubar uma cruz naquela noite, a sua própria. Ela entrega-lhe uma rosa e desaparece no meio de outras pessoas. Ele guarda a flor dentro do bolso, envolta em um lenço azul.

Naquela noite, para a surpresa dele e de seus amigos, não havia nenhuma lápide e nenhuma cruz; era como se aquele lugar nunca tivesse existido. Ele lembrou-se da rosa. Quando pôs a mão no bolso teve uma terrível surpresa: a rosa transformara-se em um pedaço de osso humano.

CLEVELÂNDIA
A escrava


Há muitos anos atrás, em uma fazenda de nosso município, um fato curioso aconteceu. Certa amanhã de inverno, dona Maria esquentava-se na boca de seu fogão à lenha, quando sua escrava começou a falar, que quando morresse, não gostaria de ser enterrada no cemitério municipal e sim no cemitério da fazenda. Ali era o lugar que ela gostava. Dizia ela: “aqui eu nasci, aqui vivi e aqui quero ficar; naquela colina de onde poderei ficar enxergando os meus senhores, os quais foram tão bons para mim”. Sua patroa ria muito e não ligava para o que ela falava.

Como, naquela época, morriam muitas crianças ainda bebês, do chamado mal dos sete dias, a fazendeira fez um cemitério para as crianças, bem embaixo de um lindo pinheiro. Foi todo cercado com uma linda cerca branca. Muito tempo se passou e a escrava faleceu. Foi velada na fazenda, depois colocada em uma carroça para ser enterrada no cemitério municipal.

Porém, para sair da fazenda era preciso passar bem ao lado do cemitério das crianças e veja só o que aconteceu: quando chegaram bem perto do cemitério da fazenda, a carroça parou e os bois não iam nem para frente nem para trás. Puxavam, batiam nos bois, gritavam e nada adiantava. No mesmo instante, dona Maria lembrou do pedido que a escrava havia feito e determinou que voltassem, pois ela seria enterrada no cemitério das crianças, assim fazendo a vontade da escrava.

Os bois, então, começaram a andar sem que ninguém precisasse comandá-los. Andaram e chegaram até o portão do cemitério ali parando. Enterraram a escrava ali, realizaram seu último pedido, seu desejo de permanecer para sempre perto de seus senhores. Como dizia a escrava: “aqui nasci, aqui vivi e aqui quero ficar”.

PALMEIRA
Túmulo fora do cemitério


No verão de 1872, Zeca Paula, filho de rico estancieiro do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, trazia uma grande tropa, com destino à feira de Sorocaba, em São Paulo. Exaustos pela travessia do caminho do Viamão, chegando aos campos gerais estes resolveram fazer uma
pausa forçada.

Enquanto os peões zelavam pela tropa, Zeca Paula hospedava-se na freguesia de Palmeira, foi então que deparou com uma linda jovem, filha de importante família local. Os dois logo se apaixonaram. Conta a lenda que o pai não apreciava aquele namoro. Foi então que a jovem deixou de ser vista na janela. Dizem que a linda moça padecia em um sítio muito distante, consolada por sua mãe. Com o desaparecimento da moça o namorado entristeceu-se, de tal ponto que foi ao desespero. Pouco tempo depois, encontraram-no morto, enforcado em seu próprio quarto.

Sendo esta grande injúria contra Deus, no seu sepultamento o pároco não permitiu que seu corpo fosse enterrado no cemitério da capela Bom Jesus, ficando assim do lado de fora e em cova rasa.

Não se passando muito tempo, veio seu pai a Palmeira, substituir aquela modesta cruz de madeira por uma sepultura de pedra e cal, onde colocou uma lápide com os dizeres: “aqui jaz José de Paula e Silva filho do Barão de Ibicuí, nasceu em 2 de abril de 1835 e faleceu em 7 de março de 1873”. Com a reforma do cemitério, os restos mortais foram levados para o cemitério municipal onde se pode ver a referida placa em seu túmulo.

PALMEIRA
Lenda dos dois cavaleiros


Como um tropeiro cometeu uma injúria muito grave a Deus, o pároco não permitiu que o seu corpo fosse enterrado dentro do campo santo. Foi então enterrado fora dos muros do cemitério da capela do Senhor Bom Jesus. Entretanto, nesse mesmo período, um outro homem havia se enforcado, também cometendo grave injúria contra Deus.

Dizem que esses homens visitam-se. Passam pela “rua do Banhado” correndo, montados em cavalos sem cabeça e quando se encontram, descem de suas montarias e começam a cavar o solo, em sinal de cumprimento. Depois de voltar cada um ao seu lugar, desaparecem misteriosamente.

PIRAÍ DO SUL
O túmulo de Maria Quebra


Já existindo como aglomerado populacional desde o início do século XVII, o então Bairro da Lança manteve até o início do século XX as mesmas características das povoações habitadas por portugueses e seus descendentes, em sua convivência com o índio e o negro.

A Proclamação da Independência, a libertação dos escravos, a Proclamação da República ou a Revolução Federalista, ou outro fato nacional, em muito pouco modificaram o dia-a-dia dos habitantes do Bairro da Lança. Localizado às margens do caminho do Viamão a Sorocaba, o pequeno povoado que englobava as localidades de Cercadinho (Campo Comprido), Lança, Silva, Fundão, Machadinho, Furnas (Murtinho), Tabor e Jararaca, assistia à passagem do viajante que demandava São Paulo ao Rio Grande do Sul, ou dos Pampas ao Norte do País. Por ser o único caminho de ligação com o sul do Brasil, ou acolhia o tropeiro em sua passagem para a feira de Sorocaba, ou na volta aos campos de criação do Sul, sem que as características do seu dia-a-dia fossem modificadas significativamente.

Os mortos eram enterrados com o tradicional cerimonial da época, nos cemitérios existentes nas concentrações mais importantes do bairro como: Campo da Lança, Campo Comprido, Furnas e Fundão e mais recentemente no cemitério da Vila Piraí, localizado no Alto da Rua XV, onde os portugueses, brasileiros, índios ou escravos recebiam sepultura sob as bênçãos da fé cristã, o respeito às Leis, aos costumes e à tradição.

Entre os séculos XIX e XX, residia na rua hoje denominada Julieta Veiga Queiroz, nas imediações da casa de dona Zelinda Miro, uma senhora a quem chamavam “Maria Quebra”. Tinha esse nome em razão do gênio atirado, ou por suas atitudes violentas e rudes, o que era motivo constante de brigas e desentendimentos, o que lhe valeu o apelido.

A passagem para o século XX veio trazer a Piraí do Sul sensíveis modificações em todos os segmentos da vida local, notadamente em seus costumes e hábitos, comércio, sociedade, modificações estas que perduram até o final da Primeira Guerra Mundial.

A população local que era constituída essencialmente de descendentes de portugueses, com suas mesclas com o índio e o negro, recebeu o choque da imigração européia (alemães, poloneses, russos/ucraínos e italianos), bem como um significativo contingente árabe. Novos rumos tomou o aglomerado populacional, com um significativo aumento na construção de casas em novos estilos e o traçado de novas ruas. O dia-a-dia da Vila Piraí foi modificado sensivelmente, com novos hábitos na vida social, na igreja, no casamento, na comida, na escola, no comércio e na política, conservando até hoje a influência da imigração italiana. Com o aumento da população da sede da Vila, o pequeno cemitério da rua XV (alto), passa a receber os mortos não só da zona urbana, mas também da zona rural, recebendo melhoramentos, bem como túmulos artisticamente construídos.

Maria Quebra, na sua vivência com bebidas e festas e pela vida devassa que levava, contraiu o mal de Hansen, tendo padecido por longos anos desta enfermidade. Em meados do ano de 1917 veio a falecer, preparando-se o seu sepultamento, que seria realizado no cemitério ao alto da rua XV, como era de costume para os moradores da Vila. Sepultamento esse que não foi autorizado, sob a alegação de que Maria Quebra havia morrido de lepra e não poderia ser enterrada junto aos mortos daquele cemitério. O cemitério mais próximo da Vila era o Campo da Lança, que estava sendo desativado, primeiro pelo novo hábito de se utilizar o cemitério da Vila e, também, porque o local estava infestado de tatus rabo mole, ou testa de ferro; animais que profanavam as sepulturas, levando a que as famílias se negassem a enterrar seus mortos naquele local. O cadáver de Maria Quebra, insepulto, esperava local para seu merecido descanso, tendo em vista a negativa da autorização do uso do cemitério municipal.

Por fim, decidiu-se que ela poderia ser enterrada nas proximidades daquele campo santo, desde que fora dos muros. Assim, Maria Quebra recebeu sepultura ao lado direito da estrada que passa nos fundos do cemitério municipal e vai em direção ao bairro do Bonsucesso. Sua sepultura está a uns 700 metros além dos muros, ao pé de um centenário cedreiro, onde até hoje alguns devotos depositam suas preces e oferendas.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Guerra Junqueiro (O Talismã)


Dois habitantes da mesma cidade exerciam nela a mesma indústria, mas com resultados bem diversos: um enriquecia-se e o outro arruinava-se, o que não era de espantar, pois que o primeiro zelava os seus negócios com uma actividade infatigável, enquanto que o segundo, entregue inteiramente aos seus prazeres, encarregava os estranhos da direção da casa.

– Explica-me, disse um dia este último ao seu colega, qual é a razão porque a sorte nos trata de modo tão diverso? Vendemos iguais mercadorias, a minha loja está situada corno a tua e apesar disso, enquanto ganhas, eu não faço mais do que perder. E não é porque eu seja estroina: não bebo, nem jogo. Chego a pensar algumas vezes se não terás por acaso algum feitiço ou talismã.

– Efetivamente, respondeu o outro, herdei de meu pai um talismã de uma virtude incomparável. Trago-o ao pescoço e ando assim com ele todo o dia por toda a casa, do celeiro à adega, e da adega ao celeiro. E o caso é que me corre tudo às mil maravilhas.

– Olé, meu querido colega, empresta-me, pelo amor de Deus, essa relíquia milagrosa!

– Pois vem buscá-la amanhã de manhã.

Quando ao outro dia foi procurar o seu generoso concorrente, apresentou-lhe este uma avelã, através da qual tinha passado um fiozinho de seda.

O nosso homem pô-la imediatamente ao pescoço, e começou a correr por toda a casa. Observou então a completa desordem de tudo aquilo. Na adega faltava-lhe vinho, cerveja e azeite; na cozinha, o pão, a carne e os legumes; no celeiro, o milho, o trigo, o feijão; na estrebaria, o feno e a aveia, roubados das manjedouras dos cavalos; viu finalmente, como os seus livros e registros andavam mal escriturados; viu tudo isto e que era necessário remédio, compreendendo que o dono da casa nunca pode ser substituído por terceira pessoa na direção dos seus negócios.

Passados dias foi entregar ao dono o precioso talismã, agradecendo-lhe duplamente o bom conselho, e a maneira delicada por que lho tinha dado.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Adelmar Tavares (Trovas Depois da Morte)


O regozijo da morte
Que ninguém sabe dizer
Tem a beleza da noite
No instante do amanhecer.

Ouvi, alguém que dizia:
-Lá se vai o poeta morto,
Sem perceber a alegria
Do sonho chegando ao porto.

No momento derradeiro,
Antes do sono feliz,
Compus em gotas de pranto
A trova que nunca fiz.

Afeições enternecidas,
Meus derradeiros amores!...
Deus vos salve, mãos queridas,
Que me cobristes de flores!...

Morte!... No termo das provas,
Senhor, agradeço a luz
Com que adornaste de trovas
As trevas de minha cruz!
---
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Circo de Cavalinhos – I – A operação cirúrgica


Depois do concurso para a fabricação do irmão de Pinóquio, houve no sítio de dona Benta outro concurso muito engraçado – o concurso de “quem tem a melhor idéia”. Quem venceu foi a Emília, com a sua estupenda idéia de um “círculo de escavalinho”. Dona Benta, que era o juiz do concurso, achou muito boa a lembrança, mas deu risada do título.

— Não é “círculo”, Emília, nem “escavalinho”. É circo de cavalinhos.

— Mas toda gente diz assim — retorquiu a teimosa criaturinha.

— Está muito enganada. Eu também sou gente e não digo assim.

O Visconde, que está quase virando gente, também não diz assim.

Emília teimou, teimou, e por fim acabou aceitando só metade da emenda.

— Já que a senhora “faz tanta questão”, fica sendo circo de escavalinho.

Dona Benta ainda insistia, dizendo que o diminutivo de cavalo é cavalinho e que portanto escavalinho era asneira. Mas a boneca não se deu por vencida.

— É que a senhora não está compreendendo a minha idéia — explicou. — Escavalinho é o nome do diretor do circo, o célebre Senhor Pedro Malasarte Escavalinho da Silva, está entendendo?

Dona Benta riu-se da esperteza, mas Pedrinho gostou da idéia e aceitou que o circo teria o nome inventado pela boneca. Em vista disso começaram os três a formular planos e a distribuir papéis.

Emília seria a dama que corre no cavalo e pula os arcos. João Faz-de-conta seria o homem que engole espada e come fogo. E palhaço?

Estava faltando justamente o principal, que era o palhaço.

— O Visconde daria um bom palhaço, se não fosse a sua mania de ciência; mas creio que podemos curá-lo. Vou chamar o doutor Caramujo.

— Acho boa a idéia — concordou Narizinho. — Além disso...

Mas não pôde concluir. Rompera um bate-boca na cozinha, no qual se ouvia a voz de tia Nastácia gritando:

“Puxe daqui pra fora”! Os meninos correram a ver do que se tratava e encontraram-na tocando o Visconde com o cabo da vassoura.

— Que é? Que foi?

— Pois é este senhor Visconde que está me bobeando — explicou a negra. — Eu aqui bem quieta escamando estes lambaris para o almoço, e o “estrupício” aparece de livrinho na mão e começa a mangar comigo, com uma história de “seno” e “co-seno” e não sei que história de “mangaritmos”. Eu estou cansada de dizer que não sei inglês, mas o diabo parece que não acredita...

— “Mangaritmos!” — exclamou o Visconde erguendo os braços para o céu — e plaf! caiu por terra com o ataque.

Narizinho correu a socorrê-lo e levou-o para a casinha dele, onde o acomodou dentro da lata que lhe servia de cama. Depois gritou:

— Depressa, Pedrinho. Mande Rabicó chamar o doutor Caramujo. O nosso Visconde está muito mal.

A casa do Visconde era um vão de armário na sala de jantar. Dois grossos volumes do Dicionário de Morais formavam as paredes. Servia de mesa um livro de capa de couro chamado O Banquete, escrito por um tal Platão que viveu antigamente na Grécia e devia ter sido um grande guloso. A cama era formada por um exemplar da Enciclopédia do Riso e da Galhofa, livro muito antigo e danado para dar sono. Mas desde que o Visconde ficou uma semana inteira atrás da estante e criou bolor pelo corpo inteiro, não era ali que ele dormia, para não sujar o chão com o seu pozinho verde; dormia na lata. Outros “móveis” — armarinhos, cadeiras, estantes, também eram formados dos livros de capa de couro, que dona Benta havia herdado de um seu tio, o Cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira. Era naquela casinha que o Visconde passava a maior parte do tempo, lendo, lendo que não acabava mais. E tanto leu que empanturrou.

Rabicó fora chamar o médico. Meia hora depois chegava o célebre doutor Caramujo, afobadíssimo, de malinha debaixo do braço.

— Quem é o doente? — foi logo indagando.

— É o senhor Visconde de Sabugosa, que teve hoje um ataque. Venha vê-lo, doutor.

O médico dirigiu-se para a lata do Visconde, examinou-o e franziu a testa.

— Hum! O caso é dos mais graves. Tenho de operá-lo imediatamente. Sua Excelência está empanturrado de Álgebra e outras ciências empanturrantes. Tragam-me uma bacia d’água, toalha e também uma pedra de amolar.

Pedrinho trouxe as coisas pedidas; o médico amolou na pedra a sua faquinha e abriu de alto a baixo a barriga do Visconde.

— Xi! — exclamou fazendo uma careta. Vejam como está este pobre ventre. Completamente entupido de corpos estranhos.

Pedrinho e Narizinho espiaram aquela barriga aberta e viram que em vez de tripas o Visconde só tinha uma maçaroca de letras e sinais algébricos, misturados com “senos” e “co-senos” e “logaritmos” — ou “mangaritmos”, como dizia a tia Nastácia.

— Coitado! — exclamaram ambos, compungidos. Está mesmo muito mal.

O doutor Caramujo tomou uma colherzinha e começou a tirar para fora toda aquela tranqueira científica, depositando-a num pequeno balde que Pedrinho segurava.

— Não tire todas as letras — advertiu o menino. Se não ele fica bobo demais. Deixe algumas para semente.

— É o que estou fazendo. Estou tirando só o que é Álgebra. Álgebra é pior que jabuticaba com caroço para entupir um freguês.

Terminada a operação, o doutor colou a barriga do doente com um pouco de cola-tudo.

— Temos agora de deixá-lo em repouso durante três dias — recomendou. Depois desse prazo poder dar seus passeios pelo campo, a fim de tomar sol e respirar as brisas da manhã. Também é preciso esconder quanto livro de Álgebra exista por aqui, para evitar recaída.

Pedrinho pediu a conta, pagou-a e despediu-se do doutor, recomendando-lhe que desse muitas lembranças ao príncipe Escamado, a dona Aranha e outros personagens do reino.

— Que bom médico! — exclamou a menina logo que o doutor Caramujo partiu. Com um doutor assim até dá gosto ficar doente. Mas estou notando que esquecemos duma coisa, Pedrinho.

— Que foi?

— Esquecemos de botar casos engraçados dentro da barriga do Visconde. Como vai ser palhaço de circo, ficaria ótimo se nós o recheássemos como tia Nastácia faz com os perus.

— Recheio de quê? — indagou o menino.

— De anedotas, por exemplo.

— Bem pensado! Mas ainda está em tempo, porque a cola não secou.

E abrindo de novo o Visconde, puseram dentro três páginas bem dobradinhas dum livro do Cornélio Pires Depois colocaram-no outra vez e deixaram-no a secar em paz.

— Venha ver, Emília, quanta letra saiu de dentro do coitado — disse a menina, indo ao quintal despejar o balde. — Eu bem digo que é muito perigoso ler certos livros, Os únicos que não fazem mal são os que têm diálogos e figuras engraçadas.

Passados os três dias de repouso, o Visconde pulou da sua lata e foi passear pelo terreiro, conduzido pela Emília, ainda muito fraco mas perfeitamente curado das suas manias.

— Agora sim — disse Pedrinho — nosso circo vai ter um palhaço ainda melhor que o tal Eduardo das Neves que tia Nastácia tanto gaba. Você, Narizinho, precisa fazer-lhe uma roupa bem pândega.

— Estou pensando em fazer-lhe uma roupa de palhaço de verdade, com um grande sol amarelo atrás.

— Pois vá cuidar do sol que eu vou organizar o programa da festa.

Dali a pouco o programa estava pronto — e que lindo!

— Está muito bom — aprovou a menina. — Só falta a música.

— Já pensei nisso e está difícil de resolver. Vovó não pode ser música, porque precisa ficar recebendo os convidados. Tia Nastácia também não pode, porque precisa ficar tomando conta das cocadas. Não sei como este para ser...

— Rabicó! — sugeriu a menina. — Rabicó pode ser música. Não é muito afinado, mas passa.

— Esse não; preciso dele para outra coisa. — e Pedrinho cochichou-lhe ao ouvido um segredo.

— Ótimo! — exclamou a menina batendo palmas. — Vai ser uma sensação! Acho que é a melhor idéia que você já teve, Pedrinho!

— Mas veja lá! Não diga nada a ninguém — nem à Emília, senão a coisa perde a graça.

E ainda cochicharam por vários minutos, dando grandes risadas espremidas.
––––––––––––––
Continua… Circo de Cavalinhos – II – O plano de Emília

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sábado, 7 de janeiro de 2012

Paraná em Trovas Collection - 38 - Ceciliano Ennes Neto (Curitiba)

Concurso de Oxímoros da UBT São Paulo (Trovas Vencedoras)


O oximoro ou oxímoro é a figura de pensamento em que se exprime um paradoxo. Consiste na associação de dois termos contraditórios, duas imagens, que na realidade se repelem, que aproximam dois sentidos totalmente incompatíveis. Não se deve confundir com a antítese, uma vez que o oximoro é uma intensificação especial da antítese. Seguem-se alguns exemplos:

"(...)e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos."
(Camões, Lírica, "O fogo que na branda cera ardia")

"ela ouviu as palavras condenadas
Que puderam tornar o fogo frio"
(Camões, Lírica, "Aquela triste e leda madrugada")

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TROVAS VENCEDORAS


1.
A imprensa tendenciosa
é sincera quando mente –
diz a verdade enganosa
à burrice inteligente!
RENATA PACCOLA/SP

2.
Sinto um ventura triste
se estou contigo e sozinho,
enxergo o nada que existe
nos traços de meu caminho…
VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR

3.
Vendo você sorridente,
na foto que me deixou,
sua ausência é mais presente
que a saudade que ficou
CÉLIA GUIMARÃES SANTANA/MG

4.
De antigo romance, instável
a minha lembrança traz
um número inumerável
de calmas noites sem paz!
HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ

5.
No pranto em forma de riso
disfarcei a minha dor…
Mesmo à sombra de um sorriso
cabe o ocaso de um amor!
HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ

6.
Bendita a alegre tristeza
que ao poeta empresta os dons
com que ele à dor dá a beleza
de um murmúrio em sete tons!
A. A. DE ASSIS/PR

7.
Ter mil bens sem ser do bem,
que triste prazer produz…
– É ter tudo, sem porém,
ter nada que leve à luz.
A. A. DE ASSIS/PR

8.
Pobre riquinha sem freio,
vaporosa e deslumbrada:
pescoço de jóias cheio,
cabeça cheia de nada…
A. A. DE ASSIS/PR

9.
Minha sogra é tão bondosa,
põe prá mim pratada e meia,
pois quer ver-me bem charmosa
com corpinho de baleia!
CÉLIA GUIMARÃES SANTANA/MG

10.
Mesmo que você me ofenda,
eu me vingo ao retorquir:
A sua beleza horrenda
faz o meu pranto sorrir.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR

Fontes:

- Colaboração de A. A. de Assis, com página do Informativo da UBT São Paulo, de janeiro de 2012.
- Explicação de Oxímoro = Infopedia
- Imagem = criação por José Feldman com imagens obtidas na Internet

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 4a. Parte


" BICHOS ? DEUSES ? "

... E para continuar a viver
tivemos que sair de nós
e voltar à nossa primitiva condição
de bichos...

- Éramos apenas dois bichos...
(ou Deuses?)

... Nem podia ser mesmo humana
tão grande felicidade…

" BOCÓ "

Você não pode ficar zangada, amor,
quando eu chamo você de boba,
quando eu digo que você tem um arzinho bocó,
um desajeitado jeito de quem ainda
não foi colhida
pela vida...

Agora, vou confessar:
gosto de você assim
com todas as pequeninas coisas, tão você,
ingênuas, comovidas...

E quer saber por quê?
- Eu já estava mesmo ficando cansado
das "sabidas"…

" CICERONE "

No primeiro dia em que te vi
tu me olhaste
como se já me trouxesses em teus olhos...

Ou como se andasses sobre nuvens
ou como se eu não tivesse os pés no chão...
......................................................

e eu te segui
porque compreendi
que tu eras a Cicerone do Paraíso…

" CINDERELA "

Brincaste de Cinderela em meu Destino.
Eu fiz o Príncipe Encantado
em tua imaginação
e em teu amor.
...............................................

Que não acordes de teu sonho deslumbrado
para te convenceres que ofertaste apenas
o coração
à um pobre trovador…

Quando acordei
já te encontrei de olhos abertos
me espiando...

Curiosidade a tua!
querias ver com certeza como eu sou
sonhando contigo!

" ...DE VIDRO "

Pudessem ser de vidro estes versos
para quebrá-los. como quem quebra
um frasco inútil, vazio,
que teima em guardar um recalcitrante perfume
como um desafio…

" DESCONFIANÇA... "

Que vale a vida afinal
quando chegamos a este ponto?
Deixou de ser romance:
é crônica banal
ou conto.

Vale a pena seguir ?
Sem aquele entusiasmo
aquelas ânsias,
sem aquela força de querer,
só para continuar, e se repetir...
( mais pelo hábito da vida
que pela alegria de viver ?)

Vale a pena continuar ?
Ou é melhor fugir ( fugir ou parar
que são formas diferentes de morrer...)

Já de nada me espanto,
talvez seja tudo paradoxal
mas começo a desconfiar que está chegando esse momento
extraordinário,
em que devo me recolher para ouvir o canto
de meu coração solitário…

" DESCOBERTA "

De repente
seus olhos se encheram de passado
inexplicavelmente...

e eu percebi, com amargor,
que não havia presente
( nem haveria futuro )
em nosso amor…

"DO OUTRO LADO "

Quando enfim abri os olhos
debruçado sobre ti, eu olhava teus cabelos finos
tão leves, como um tênue mistério em tua nuca...
E o pequenino lóbulo de tua orelha
onde pendurei o brinco do meu beijo.

E fiquei a pensar que estava ali, tão presente
em ti
e nem me vias...

...Tu estavas do outro lado,
em toda parte de minha vida,
e nem sabias…

" DUALIDADE "

Sei que é Amor, meu amor...porque o desejo
o meu próprio desejo tão violento,
dir-se-ia ter pudor, ter sentimento,
quando estás junto a mim, quando te vejo.

É um clarim a vibrar como um harpejo,
misto de impulso e de deslumbramento.
Sei que é Amor, meu amor...porque o desejo
é desejo e ternura a um só momento.

Beijo-te a boca, as mãos, e hei de beijar-te
nessa dupla emoção, (violento e terno)
em que a minha alma inteira se reparte,

- e a perceber em meu estranho ardor,
que há uma luta entre o efêmero e o eterno,
entre um demônio e um anjo em todo Amor!

" DUETO "

Bendita sejas tu, que escancaraste
uma janela em minha solidão,
e trouxeste com a luz, esse contraste
de luz e sombra em que meus passos vão...

Bendita sejas tu, que me encontraste
como um mendigo a te estender a mão,
e que inteira te deste, e assim, tornaste
milionário o meu pobre coração...

Bendita sejas tu, que, de repente
fizeste renascer um sol no poente
reacendendo esse ardor com que arremeto

e com que espero novamente a vida,
e transformaste, sem saber, querida,
a cantiga do só... num canto em dueto !
--
Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Isabel Aguiar Barcelos (Um Café na Internet)


O QUE VÊEM OS TEUS OLHOS?

a criança tirou um espelho de dentro do seu cestinho e perguntou-lhe onde estou?
o espelho mostrou-lhe uma nuvem a encolher-se para se ver ao espelho e depois um torrão de terra, ressequido da falta de água, e a criança percebeu que depois do último sono todos os lugares da terra eram o mesmo lugar.

o céu começou a escurecer e a deixar cair muito gelo. todas as pedras ficaram brancas.
o limão estava roxo, do frio.
quando o inverno aparece, é preciso vestir a saia pura de lã.

a criança contou vinte e três carneirinhos, cobertos de lã macia, para sentir menos frio a lembrar-se da mãe a tricotar umas botas de dormir cor de rosa bebé.

onde está o rosto da mãe?
o rosto da mãe está no universo e está também num cestinho com violetas.

as sandálias escorregavam nas pedras cobertas de lodo seco. dantes a ilha enchia-se de conchinhas na maré vazia, agora a lua está triste porque não há marés

a voz da mãe é um segredo que está dentro de um búzio cor de pérola

a criança encostou o búzio ao ouvido e não conseguiu saber se a voz da mãe estava triste ou contente

uma criança, um limão e uns sapatos não podem ir muito longe, por isso quase não tinham mudado de lugar.

se o fundo do mar tivesse um furinho
a água ia para o fundo da terra
uma ilha sem mar à volta deixa de ser uma ilha

agora o vestido mudou de cor
mudar de cor não é ser outro vestido
também não é ser o mesmo vestido com outra cor

a criança vestiu o vestido de algas alaranjadas e deu a mão ao limão para que nenhum dos dois tropeçasse nas rochas ainda escorregadias, cobertas de limos que lembravam o mar.

NÃO HÁ GRANDES DIFERENÇAS ENTRE UM LUGAR
E NENHUM LUGAR


também a menina que existe e sonha
é quase a mesma menina que não sonha e por isso não existe

(In Nunca se Regressa ao mesmo Lugar,Edições Quasi, 2005)
-----------
Isabel Aguiar Barcelos nasceu no Funchal. É professora do ensino secundário, e para além de poetisa, com vários livros publicados, é tradutora e autora de literatura infantil. Também colaborou na preparação de várias antologias poéticas.

Fonte:
Viagem dos argonautas

Ricardo Júnior (Idéias e Trovas)


Estranho quadro da Terra:
Medicina estende as mãos,
Cura os doentes que encontra.
Vem a guerra e mata os sãos.

Cultura quanto mais alta,
Mais serviço tem por dom.
Entendimento não vale
Se não pratica o que é bom.

Ventura terrestre apenas
É a mesma em qualquer lugar,
Tanto se ganha em perder
Quanto se perde em ganhar.

Ninguém diga o que não saiba,
Se desejar ser feliz,
E nunca diga o que sabe
Sem saber como se diz.

Caridade quando surge
Amparando um coração,
Recorda chuva caindo
Na planta seca do chão.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Versos Verdes (Parte 2)


AÉCIO OLIVEIRA ARAÚJO
J
ABOATÃO DOS GUARARAPES / PE

Rosa dos ventos


Na fase da lua de mel,
o Jardineiro duvidou da virgindade da Flor.
Falou que o Sol tinha chegado primeiro,
que havia levado o néctar do seu amor.

O Botão era o juiz,
as Folhas jurados, o Galho promotor.

Uma Nuvem baixou derretendo,
os Pingos gritaram: " Rosa se apaixonou".

O Jardineiro chorou sambando,
afinou sua faca, a Lua cortou.
Um Beija-Flor saiu de mansinho,
enquanto a Rosa, Folhas a condenaram.

Os Soldadinhos o Jardineiro pegaram.
O Galho, sem dúvida, convenceu o Botão.

Logo após o veredito:
o Canário voou, o Bem te vi coçou o bico.
O Vento a beijou,
a Rosa se espatifou no chão.

AIRTON SOUZA
MARABÁ / PA

O verde, os pássaros, as flores e a poesia


O verde que plantei outrora
Foi desplantado, desamado, descomposto
O verde que fiz ontem
Foi desfeito, desapropriado, desvelado
Os pássaros que adejavam lá
Foram desconsolados, desolados, desconsentidos
Os pássaros que pousavam no verde...
despautério, desconjunto, descontente
As flores que nasceram lá
Foram descartadas, descangotadas, desconceituadas
As flores sem vida e sem aroma
Foram descosidas, descoradas
A poesia que nasceu depois
Foi descabida, desbriada, descaída
O verde que tinha lá
Os pássaros que felizes adejavam
As flores que aromatizavam
São figuras meramente ilustrativas
Enquanto a poesia é descrita.

ANNA KARINA KAMINSKI
CURITIBA / PR

Primavera


Contemplo a beleza divina
De tão belas flores...
Primavera seja bem vinda
Irradiando todas as cores.

São tons, formas e texturas
Azuis, rosas ou amarelos
Cada um com sua mistura
Deixando o mundo mais belo.

Aquarelando o caminho
Begônias, rosas e camélias
O cravo, dália e narciso
Flores do campo e a bromélia.

Ao por do sol vão surgindo
Brincos de princesa e esporeiras
Orquídea, margarida vão se abrindo
Papoula, tulipa e amoreira...

Hibiscos!! Chegou a primavera!
Copos de leite e jasmins....
O colorido também tem a hera...
Mais cores tem meu jardim.

APARECIDO DONIZETTI HERNANDEZ
ITAPEVI / SP

Chuva e terra


Hoje é um dia especial,
Depois do frio,
Vejo e sinto a chuva,
Uma chuva leve e suave.

Chuva que lentamente molha a terra,
Suavemente absorvida para o subsolo,
Filtrada pelo filtro da natureza.

As plantas que vejo de minha janela,
Estão sorrindo, os pássaros gorjeiam,
A melodia é linda.

Juntos, pássaros,
Gotas de chuva batendo nas folhas,
E o cheiro de terra molhada,
Não há como descrever.
Mas dá para sentir.

Sentir a natureza filtrando,
Filtrando...e se recompondo!

CLÁUDIO MANOEL NASCIMENTO GONÇALO DA SILVA
SALVADOR / BA

Primavera


Poesias líquidas em vasos de flores que perfumam o amanhã
Cujas pétalas e folhas pululam ao sabor dos silfos em plena luz do dia.
Há um buquê perfumado com a relva e a madressilva,
E as gotas de orvalho destilam seu frescor com os elementais.
Quero a alegria da primavera e o cantar dos pássaros,
Pois toda leveza gera paixão pela vida a se aproveitar.

Nestes dias, até a superfície do lago é mais bela,
O vento ousado beija a face virgem da aquarela...
... que dança como água pelos córregos a procura do mar.

O orvalho desce pelo mundo lambendo folhas e flores,
E seu sabor revela a alquimia da natureza e de todos os amores,
Em um mistério que um boticário sabe revelar.

Hoje em dia, o dia é o Sol e o Sol toda uma noite,
A Lua que alumia se fez uma mania de se iluminar.
Aquela Eva tem um botão de rosa perfumado,
E como uma borboleta abre suas asas para receber o raio do Sol.
Talvez haja uma nudez que incite a vida numa inocência a se dizer
E como Vênus fecundada numa espuma, exale o arroubo de seu prazer…

EDILOY FERRARO
SÃO PAULO / SP

Detalhe verde


mangueira
frondosa
abrigo fresco

assassinada
na noite
desaparecida

na calçada
a caçamba
ocultada

resta o passeio
alheio
sem sombras

sem folhagens
frutos
aragens

ausência
tristeza
vilania…
--
Fonte:
Versos Verdes. RJ: Câmara Brasileira dos Jovens Escritores, 2010.

Lívio Barreto (Trovas de Amor Imortal)


Duas certezas na Terra,
Nas lutas de qualquer nível:
A vida – navegação.
A morte – porto infalível.

Por mais sábio ou mais profundo
Que se articule um conceito,
Na há conceito no mundo
Que defina o amor perfeito.

Amor que nunca se olvida
Guarda sempre a mesma sorte:
Ligação de vida em vida,
Saudade de morte em morte.

Morri... Deixei-te...Casaste...
E nosso amor não tem fim...
És rosa fora da haste,
Mas rosa do meu jardim.

Amor... Amor que eu conheço
Pode ser obsessão,
Mas persiste a qualquer preço,
Nunca sai do coração.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Martina Sanchez (Pequeno Tratado da Literatura Infantil e Infanto-Juvenil)


Partindo do princípio que a criança é produto de fatores biológicos e do meio em que vive, e que a sociedade não é estática, ela é dinâmica, a autora chama a atenção para a importância deste gênero literário Infantil e Juvenil, com valores universais preservados, cumprindo assim os objetivos básicos de um livro destinado às crianças: FORMAR, INFORMAR e RECREAR.

Através de 140 páginas com dez capítulos e mais Apêndices, temos uma resposta coerente às necessidades dos jovens leitores, orientando pais e educadores na escolha de textos adequados.

O que é um livro Infantil? Segundo Cecília Meireles, livro infantil não é aquele que é escrito para as crianças, mas é aquele livro que as crianças gostam de ler e que deixa um ponto de partida para novas buscas. Assim, através da Introdução e do Conceito e Objetivos da Literatura Infantil, vamos entendendo a importância do texto falar à mente imaginativa da criança nas diferentes fases de seu desenvolvimento.

No capítulo III cita autores “Clássicos” da Literatura Infantil e analisa o que eles tinham para ler em sua infância bem como essas leituras e como o meio em que viviam influiu em suas criações literárias. As fontes de leitura iam desde a leitura da Bíblia, textos sacros, mitologia, literatura épica, heróica, etc.

Em a “Psicologia Infantil e a Importância da Literatura no Desenvolvimento Infantil” destaca a importância de respeitar as fases de crescimento da criança para que ela assimile gradativamente os modos de ver, julgar, agir e organize as realidades, após as fases iniciais em que o mundo objetivo e subjetivo se confundem. O crescimento psíquico e o crescimento orgânico tem certas semelhanças; portanto um desenvolvimento harmônico é muito importante. Na fase de 0 a 2 anos a criança só tem experiências sensoriais e motoras; de 2 a 7 anos tem o início do domínio da linguagem; é a fase pré-conceitual ainda sem separação entre o mundo objetivo e subjetivo; a terceira fase dos 7 aos 11 anos é o das “operações concretas” quando já organiza as realidades que experimenta, e na 4ª fase dos 12 aos 15 anos temos as “operações formais”; é aí que já é capaz de dar expressão formal às idéias. Daí a importância dos símbolos, do Herói, da mensagem ou moral da história, fazer parte do contexto formativo do pequeno leitor.

Na seqüência são analisados alguns autores “Clássicos”, indo do Realismo de Charles Perrault (O Gato de Botas/ A Borralheira, etc.), da Sátira de J. Swift (Capitão Gulliver) e D.Defoë (Robson Crusoé), exaltando a coragem dos heróis, até Júlio Verne, o geógrafo e repórter de sua época, passando por outros autores como Fénelon, Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen, Silvio Romero, Monteiro Lobato, etc.

Destaca a importância de cada um em sua época, mas que até hoje são leitura do agrado dos leitores de todas as idades pelo seu valor cultural, ético-moral, mágico, lúdico, que nunca vai perder a validade, pois são calcados em valores universais.

No capítulo VI temos as “Formas de Literatura Infantil” – o Folclore, as Lendas, os Mitos, os Contos de Fadas, as Fábulas, as Histórias Narrativas e Novelas, a Poesia e os Jogos, o Teatro Infantil, a Fábula de Walt Disney.

Antes da Conclusão faz um comentário sobre a “Mensagem Universal Formativa” e lembra a importância da Biblioteca Infantil e o Livro na Escola, os Problemas da Literatura Infantil. Na Conclusão lembra as palavras de Isaac Bashevis Singer, Prêmio Nobel de Literatura, justificando porque gostava de escrever para crianças: -“ adoram histórias interessantes, acreditam em Deus, na Família, em anjos, demônios, bruxas, duendes, na clareza, na pontuação e outras coisas obsoletas”.

Fonte:
http://pt.shvoong.com/books/1767570-pequeno-tratado-da-literatura-infantil/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 445)


Uma Trova de Ademar

O Viagra me conduz
ao êxtase da fantasia...
Pode até faltar-me luz
mas não me falta energia!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

Bem pior que a dor de dente
a de rins costuma sê-lo.
Não, porém, mais deprimente
do que a dor de cotovelo...
OSVALDO REIS/PR

Uma Trova Potiguar


Olhem bem para o dilema
que aflige essa solteirona...
seu noivo tem um problema:
nem casa, nem funciona...
FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


... Não ventava, nem chovia.
Tudo silêncio, asseguro...
Somente a rede gemia
naquele quartinho escuro!!!
ADELIR MACHADO/RJ–

Uma Trova Premiada


2010 - Curitiba/PR
Tema: PIJAMA - Venc.


Noite e dia, usa pijama,
depois que se aposentou.
E a sogra, ao vê-lo na cama:
- Vai dormir... ou acordou?...
–MARIA NASCIMENTO/RJ–

Simplesmente Poesia


Mote :
LAVANDEIRA DO NORTE/CE

Sou tudo quanto não presta,
mas sou melhor do que tu.

Glosa :
RODRIGUES NETO/RN


Sou azar de fim de festa,
sou desumano, sou bicho,
sou peste, veneno e lixo;
sou tudo quanto não presta.
Sou tapuru da floresta,
sou carniça de urubu,
sou filho de Belzebu,
sou do mundo, a podridão,
sou pior que a mãe do cão
mas sou melhor do que tu!...

Estrofe do Dia

Sem dormir, eu me apavoro
Numa cama de espinho,
Mudou da água pro vinho
A mulher que mais adoro,
Na madrugada eu imploro
Fico todo transtornado
Mas sabe um trator ligado?
O ronco dela é assim;
Quem suspirava por mim
Agora ronca ao meu lado.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

Minha Nora Vidente
–MARCOS SATORU KAWANAMI/SP–


Achei, de minha parte, coisa boa
os zelos e cuidados que agora
ao meu filho dispensa minha nora,
a qual varre, cozinha, e ensaboa.

Pois, antes, nem sequer mesquinha broa
degustava meu filho ao vir da aurora,
moído a sustentar a tal senhora
que ao banho não se dava, tão à toa...

Hoje em dia, meu filho passa bem:
a mulher tomou viço e se perfuma
cuida do lar com ânimo também!

Mas a transformação se deu, em suma,
depois que um anjo lá chegou, de trem,
por benzer as mulheres, uma a uma!
-
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Proposta de Ensino para a 1a. Série (O Tesouro Encantado no Reino dos Castelos.)


Justificativa

Ah! Tu, livro despretensioso, que, na sombra de uma prateleira, uma criança livremente descobriu pelo qual se encantou, e, sem figuras, sem extravagâncias, esqueceu as horas, os companheiros, a merenda... tu, sim, és um livro infantil, e o teu prestígio será, na verdade, imortal. (Cecília Meireles, 1984).

Os castelos compõem o cenário de muitas das famosas histórias dos contos de fadas, que envolvem personagens importantes do imaginário infantil: princesas, príncipes, reis e rainhas. E cada vez mais, se percebe a importância e a influência dos contos de fadas, no desenvolvimento do imaginário infantil.

A criança ao ouvir contos de fadas, transforma em sua memória as palavras que lhe são contadas, trazendo em seu imaginário lembranças, sonhos, desejos, personagens, dúvidas, medos e associações com a sua realidade.

O contato da criança com histórias amplia o seu horizonte cultural, linguístico e literário; o autor Valotto (p. 19, 1997) nos afirma que: "A imaginação da criança, estimulada a inventar palavras, aplicará seus instrumentos sobre os traços da experiência, que provocarão sua intervenção criativa".

"O livro infantil é caracterizado por três requisitos básicos: simplicidade, clareza e fantasia" (SANCHEZ, 1983, p. 19). Esses valores resultam da associação de outros que, ao longo de séculos, preponderavam como mensagens sublineares em histórias destinadas a adultos e crianças.

Todas as histórias infantis que envolvem a vida nos castelos, despertam o imaginário infantil, pois seus enredos são ricos em personagens maravilhosos que as crianças desejam ser.

Os castelos em sua história são caracterizados como símbolos de defesa, força, conquistas e histórias que marcaram significativamente o tempo. Hoje muitos dos castelos estão em ruínas proporcionando para nós um resgate histórico e cultural da época, em que eles eram poderosas fortalezas.

Durante os primeiros séculos da Idade Média (até o século XI, aproximadamente), os castelos eram construídos com troncos de madeira retirada das florestas. Seu interior era rústico e não possuía luxo e conforto, como contam as histórias infantis.

A partir do século XI, a arquitetura de construção de castelos mudou completamente, pois eles passaram a ser construído com blocos de pedra. Tornaram-se, portanto, muito mais resistentes e com o design que as histórias infantis relatam.

E as crianças encantadas com toda esta nobreza, transportam os detalhes que percebem nas ilustrações dos livros infantis, para as suas brincadeiras de faz de conta. Sentadas na areia da praia ou do quintal, realizando construções, camada por camada, elas constroem partindo de sua imaginação, um reino de castelos.

O autor Derdyk (p. 131, 1989), nos afirma que:

Imaginar é projetar, é antever, é a mobilização interior orientada para determinada finalidade antes mesmo de existir a situação concreta. A imaginação possui uma natureza visionário, detectando a intencionalidade contida na ação humana.

A capacidade da criança de imaginar é fundamental para a construção do conhecimento. Na infância uma das formas da criança expressar o seu conhecimento é através do desenho, sendo que através dele também podemos observar e compreender como os contos de fadas influenciam no imaginário infantil.

Conforme o autor Lajolo e Zilberman, (p.13, 1991) nos afirma que:

Se a literatura infantil se destina as crianças e se acredita na qualidade dos desenhos como elemento a mais para reforçar a história e a atração que o livro pode exercer sobre os pequenos leitores, fica patente a importância da obra infantil. É o caso, por exemplo, da ilustração.

É fundamental na infância que o adulto proporcione momentos em que a criança possa ouvir e contar histórias, proporcionando que ela desenvolva a sua identidade. Através desta experiência elas têm a possibilidade de ensaiar seus futuros papéis na sociedade, adaptando-se a situações reais e colocando-se dentro da história, proporcionando que elas se sintam autoras da sua história.

Quando a criança entra no mundo da fantasia e da imaginação de um conto de fadas, ela estimula as suas ideias sobre o assunto, opiniões, sentimentos e a sua criatividade. Com todos estes estímulos, ela consegue elaborar hipóteses para a resolução de seus problemas, antecipando situações de liderança ou passividade, modificando o seu comportamento e tomando atitudes além daquelas de sua experiência cotidiana, que só iria experimentar na vida adulta.

É o que nos afirma o autor Novaes (p. 9, 1987), "[...] o que nelas parece apenas infantil, divertido ou absurdo, na verdade carrega uma significativa herança de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida".

No faz de conta, seus desejos podem facilmente ser realizados e quantas vezes a criança desejar, criando e recriando situações que ajudam a satisfazer algumas necessidades presentes no seu cotidiano.

"Os contos, representam valores que se cruzaram através de ciclos históricos." (KHÉDE, p. 24, 1990).

Lendo e ouvindo os contos de fadas, a criança pode vivenciar os valores na relação com os seus amigos, pois as histórias são instrumentos poderosos de transmissão de valores de geração em geração. Por meio delas, perpetuam-se valores como solidariedade, companheirismo, amor, carinho, respeito e entre outros que contribuem para a formação da identidade da criança.


Objetivos gerais

Propiciar através das histórias de contos de fadas o envolvimento das crianças com a cultura escrita transformando o aprendizado em um processo prazeroso.
Vivenciar os valores na relação com os amigos no cotidiano, resgatando através das histórias, sentimentos importantes para a vida em harmonia.
Instigar através do tema Castelos o conhecimento de uma época com estilo de vida e cultura bem diferente dos atuais, fazendo com que elas possam refletir a partir das diferenças da nossa condição atual de vida.

Objetivos específicos

- Despertar o imaginário e a criatividade através das linguagens artísticas: artes visuais, música, teatro e dança.
- Conhecer diferentes histórias infantis que envolvem em seu enredo o tema "Os Castelos" e seus personagens.
- Identificar os diferentes tipos de habitação confeccionados pelo homem e seu modo de vida em cada época.
- Instigar o conhecimento histórico cultural sobre castelos medievais no Brasil e no mundo.

Conteúdos conceituais

- Estudo sobre diferentes tipos de habitação confeccionados pelo homem e seu modo de vida em cada época.
- Conhecimento de diferentes histórias infantis que envolvem em seu enredo "Os Castelos".
- Aprendizado de adivinhas, poesias e histórias em quadrinhos sobre o tema abordado.
- Estudo dos valores, o seu significado e a sua importância para a nossa vida em harmonia.

Conteúdos procedimentais

- Identificação no mapa de castelos presentes no Brasil e no mundo.
- Conhecimento das partes que compõem um castelo: fosso, muralha, caminho da ronda, ameias, porta, cisterna.
- Confecção de trabalhos com materiais de texturas diversificadas.
- Identificação de fonemas e sílabas através de exercícios de consciência fonológica.
- Representação de desenhos com detalhes de objetos, pessoas e cenários.
- Vivência com os pais sobre os trabalhos confeccionados pelas crianças durante o semestre.

Conteúdos atitudinais

- Incentivo a criatividade como fonte de criação de castelos e vestuário da época.
- Valorização da história dos castelos e época em que simbolizavam a defesa, força e conquistas.
- Reaproveitamento de materiais.
- Desenvolvimento da responsabilidade social e cultural.
- Importância da convivência em grupo.
- Vivência de valores, como: amor, companheirismo, bons modos, bondade, responsabilidade, abraçar, paciência, obediência, honestidade, alegria, compartilhar, consideração, cuidado, compreensão, gratidão, justiça e sucesso.

Procedimentos

- Pesquisa sobre como era a vida nos castelos;
- Pesquisa sobre os castelos que existem no Brasil e no mundo;
- Conhecer as partes que compõem um castelo e como era construído;
- Descobrir quais eram os membros da nobreza (rei, rainha, príncipe, princesa);
- Recordar que Joinville também é reconhecida como Cidade dos Príncipes, devido a sua história;
- Confecção de um castelo gigante com caixas de leite;
- Realizar estimativas de contagem com as crianças sobre quantas caixas são necessárias para construir um castelo;
- Confecção de coroas e cetros com material reciclável;
- Construir castelos na areia;
- Confeccionar castelos com argila e material reciclável;
- Confecção do Jogo de Xadrez, que possui em suas peças os personagens desta época: rei, rainha, bispos, cavalos, torres e peões.
- Brincar de dramatizar histórias infantis (O quebra nozes) e parlendas (A linda rosa juvenil) que envolvem o enredo dos castelos;
- Ampliar o vocabulário das crianças sobre o tema, formando bancos de palavras;
- Confeccionar textos coletivos sobre o tema e realizar releituras de obras de arte.

Avaliação

As crianças serão avaliadas durante todo o projeto através de atividades coletivas e individuais realizadas conforme a descoberta de detalhes de cada novidade trazida ou apresentada. Como fechamento deste projeto faremos a apresentação de uma peça teatral e exposição, na qual estarão presentes o livro do projeto e diversos trabalhos de artes visuais que serão confeccionados durante o semestre.

Referências bibliográficas

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.
KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática, 1986.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira Histórias e Histórias. 5 ed. São Paulo: Ática,1.991.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
NOVAES, Nelly. Coelho: O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1987.
SANCHEZ, Martina. Pequeno tratado da literatura infantil e infanto-juvenil. Goiânia: Imery, 1983.

VALOTTO, E. R. Contando e encantando. São Paulo: S.M. edições, 1998.
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Diretora: Cladis L. Lermen
Coordenadora: Cláudia Cristina Dietrich
Professoras: Janaina Jerlane Coelho
Solange Marília da Silva

Fonte:
Associação Educacional Luterana Bom Jesus/IELUSC
http://www.ielusc.br/portal/?ENSFUN1_3=714

Lauro Pinheiro (Trovas, Apenas)


Amor que existe na Terra,
E entendo agora daqui,
É uma alegria que chora
Num sofrimento que ri.

O que se ganha da vida
(Ensino de lá e cá)
Depende em qualquer momento
Daquilo que se lhe dá.

Nos problemas de melhora
Dos sentimentos humanos,
Doença faz mais num dia
Que estudo de muitos anos.

O Céu conta com dois ralos
Para limpar o destino,
Instrução é o ralo grosso,
Sofrimento, o ralo fino.

Se sofres dores crescentes,
Não esmoreças na estrada.
Quando chega a meia-noite,
É hora da madrugada.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (Morretes /Nova Cantu /Palmital /São José dos Pinhais /São Mateus do Sul /Tomazina/ Verê/ Virmond)


MORRETES
Saci-pererê


Em Morretes, aconteceu o caso de um jovem que, voltando para casa após uma noite de festa, levou uma chicotada do saci. Assustado, ele entrou em casa e até o dia amanhecer ouviu os assobios do saci, que perambulava por seu quintal.

Segundo os moradores de Morretes o assovio é uma das melhores maneiras para descobrir
se o saci está perto, ou não. Ele tem um assovio duplo e curto, um aspirar e um expirar que soa fino. Outra forma de visualizá-lo é em seu segundo corpo, pois afirmam que à noite ele tem o corpo de Fin-Fin, um pássaro que habita nas florestas e difícil de ser encontrado.

MORRETES
As bruxas


As bruxas apareciam principalmente em noite de lua cheia, nas fazendas e nos engenhos de Morretes. Ainda hoje elas galopam, sentadas no pescoço do cavalo, fazendo em suas crinas tranças finas e unidas para servir de estribo. São trançadas de tal modo, que não se pode desfazer, só cortando. Segundo a lenda, quem consegue desmanchar a trança, é uma bruxa ou bruxo.

Temos vários relatos de pessoas, pertencentes às famílias tradicionais de Morretes, que tiveram oportunidade de ver de perto a trança feita pela bruxa. Dizem, também, que a noite elas vão aos engenhos, em forma de patas, para beber; depois vão reunir-se aos outros patos, numa lagoa dourada, onde se banham.

NOVA CANTU
Lenda do lobisomem


Contam os antigos moradores, que em época de quaresma ninguém podia sair nas ruas durante a noite, pois havia um homem andarilho que virava lobisomem. Ele saía à noite e andava pelos quintais das residências, nos galinheiros, nos chiqueiros e nos currais. Os cachorros saíam correndo atrás do lobisomem, que se transformava num monstro barbudo com rabo bem grande e era o terror da quaresma.

Esse ser estranho amedrontava as crianças e os adultos, pois todos acordavam com os urros e gemidos estridentes. Os antigos diziam que para o lobisomem ir embora, e saberem quem era o andarilho, devia-se jogar sal nele e mandá-lo vir buscar no dia seguinte sal emprestado. Curioso é que na manhã seguinte o andarilho passava nas casas pedindo sal emprestado.

PALMITAL
Bicho-homem


Em épocas passadas, ouviam-se muitas histórias do tal bicho-homem: o lobisomem. Em uma fazenda aqui em Palmital, morava uma família. Ela residia em uma grande casa e possuía garotos muito sapecas, que não tinham medo de nada.

Certa noite, resolveram prender um bicho que os incomodava e pelas características deduziram que fosse o tal lobisomem. Prenderam o animal e ficaram aguardando o amanhecer, enquanto lentamente a fera sofria transformações, retomando as características humanas.

Após a tal mudança de bicho para homem, ele começou a gritar desesperadamente pedindo que o soltassem, mas os meninos o mantiveram preso e lhe deram uma boa surra, soltando-o logo em seguida. Este, totalmente sem roupa, saiu correndo e nunca mais voltou a incomodá-los.

PALMITAL
A surpresa


Era uma vez uma família que morava em um sítio, nas redondezas de Palmital. Nesse sítio também morava outra família, a do seu João, que cuidava da terra, trabalhando-a e ocupando-se com tarefas que necessitavam ser feitas. Seu João gostava de contar histórias e suas preferidas eram as de lobisomem.

Certa noite de lua cheia, estava muito frio e o dono do sítio resolveu acender uma fogueira no meio da casa, pois naquela época, nas casas não havia assoalho e sim chão batido, facilitando-se o acender do fogo, onde todos poderiam aquecer-se.

Fizeram o fogo e todos estavam alegremente conversando enquanto se aqueciam. De repente, ouviram que algo arranhava as paredes pelo lado de fora. Mais do que depressa, o dono da casa pegou sua espingarda e ficou aguardando, pois poderia ser uma onça, um tigre ou outro animal qualquer, pensou ele. Os ruídos aumentavam, assim como a angústia em meio às preces, dos que estavam dentro da casa.

Assim, o clima tenso permaneceu por alguns minutos, até que a dona da casa lembrou que poderia ser o lobisomem, pois era época de quaresma; e foi logo dizendo ao bicho que retornasse pela manhã para apanhar um pouco de sal, dito isto, o barulho cessou.

Na manhã seguinte, acordaram com batidas à porta; ao atenderem, para surpresa de todos era João, que estava ali para apanhar o pouco de sal que haviam lhe prometido.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
Chico Bracatinga


Pouco antes do sol se pôr, passava pela rua Voluntários da Pátria; todo dia, o Chico Bracatinga, meio velho, manco; mais pra pequeno do que pra gente grande, magro, enrugado e ajudado por um bastão de Cambuí. Dizia boa tarde pra famílias que se sentavam à frente da casa, vendo as crianças brincarem de ciranda, cirandinha, bete, búrico, polícia e ladrão e outras. Nunca ninguém viu o Chico Bracatinga voltar. Ele ia até o centro de São José dos Pinhais e todo mundo sabia que, à noite, ele virava lobisomem.

SÃO MATEUS DO SUL
História real


Havia um casal que tinha acabado de se casar, o marido tinha dado à mulher um lindo vestido de seda vermelha, pois naquele tempo as mulheres usavam só vestidos e de seda. Toda noite o marido saía e chegava antes do sol sair.

Sua mulher, cansada de ficar sozinha, falou a ele que também iria passear à noite. Lá havia um carreiro muito escuro, com árvores de cambuí. Ele, porém, lhe falou: “não vá, você vai tomar um susto”. A mulher não deu importância, só disse: “eu não tenho medo de nada”.

Ela saiu e ela foi passear na casa da sua vizinha. Quando estava voltando com seu lindo vestido de seda, avistou um cachorro muito grande embaixo da árvore, que pulou nela e rasgou todo o vestido de seda vermelho.

Quando chegou em casa seu marido ainda não tinha chegado. Quando ele chegou, perguntou a ela se não tinha visto nada. Ela lhe disse: “só um grande cachorro que me avançou e rasgou meu vestido vermelho, aquele que você me deu, lembra?”

Então, ele sorriu com os pedaços do vestido dela em seus dentes.

SÃO MATEUS DO SUL
A cobra


Há muitos anos atrás, uma família humilde que morava numa casa simples, de chão batido, foi vítima da maldade de uma cobra. A senhora tinha uma filha recém-nascida e quando ia amamentar o bebê a cobra as hipnotizava e se alimentava do leite da senhora, enquanto dava o seu rabo para a criança chupar, assim a criança não chorava. Desconfiado, seu marido resolveu sondá-las, ao perceber que sua filha tinha assaduras em toda a boca.

Certa noite, sua desconfiança se confirmou, havia uma cobra se alimentando do leite materno da criança e, ao satisfazer-se, voltava para o seu lugar. Neste momento, o marido da vítima matou a cobra, mas, infelizmente, a filha nunca se livrou da conseqüência de tal fato, pois ao morrer com seus setenta anos ainda possuía as assaduras na boca.

TOMAZINA
Lenda da cobra encantada


Conta-se que duas moças tiveram duas crianças. Para esconder o nascimento delas uma jogou seu filho no rio, à altura da corredeira, e a outra jogou o seu na curva da prainha.

Na prainha existe um redemoinho; dessa maneira, as crianças ali jogadas subiram o rio, ao invés de descer. As duas crianças se encontraram na curva do rio, atrás da Igreja. Assim, transformaram-se em uma serpente, que se encontra adormecida com a cabeça embaixo da igreja e o rabo no rio, embaixo da ponte. Conta a lenda que as rachaduras da igreja são conseqüências dos movimentos da serpente tentando acordar.

Dizem que os pecados dos tomazinenses é que irão acordar a serpente. Ela destruirá a igreja e unirá o rio das Cinzas em linha reta, provocando a junção das duas corredeiras, acabando com a curva do rio e destruindo a cidade.

VERÊ
História de lobisomem


Minha mãe Vergínia não queria que a gente voltasse para casa, depois do anoitecer. Ela dizia que, à noite, aparece o lobisomem, ainda mais numa sexta-feira. Um dia eu estava de namoro com uma moça do Sbalqueiro.

Fui ficando, escureceu e era uma sexta-feira. Joguei os baixeiros e os pelegos no cavalo e saí apressado.

Logo que passei o rio Tigre, apareceu um vulto, o cavalo se assustou, deu uma corcoveada, jogou-me no chão e saiu em disparada. Quando me vi ali caído, calculei que era o lobisomem que vinha me pegar. Mas já que ele ia me pegar mesmo, abri os olhos para ver como ele era. Aí entendi a história.

Era só um tatu que tentava subir um barranco e quando chegava numa certa altura, não conseguia e descia rolando. Quando eu cheguei em casa, com o baixeiro e o pelego debaixo do braço, o cavalo já tinha chegado. E a mãe preocupada, porque o cavalo chegou sozinho.

VIRMOND
O lobisomem


Antigamente, no início da colonização de Virmond, as pessoas costumavam sair muito para passear, visitar seus parentes e vizinhos à noite. Um homem sempre saía sozinho, não gostava de levar sua esposa. Ela começou a desconfiar dele e então pediu para ir junto, no caminho ela sentiu que seu esposo estava estranho; quando de repente ele pediu para entrar na floresta.

Da floresta logo saiu um lobisomem, tentando morder a mulher. Ela foi agarrada pela saia, que era vermelha, esta ficou toda despedaçada. Depois disso, o lobisomem sumiu no meio da floresta. A mulher correu muito e voltou para casa; chegando lá viu seu esposo dormindo, com a boca aberta, e entre seus dentes haviam pedaços vermelhos de sua saia. Descobriu, então, que seu próprio marido era o lobisomem.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Guerra Junqueiro (O Pinheiro Ambicioso)


Era uma vez um pinheiro que não estava contente com a sua sorte. «Oh! dizia ele, como são horrendas estas linhas uniformes de agulhas verdes, que se estendem ao longo dos meus braços! Sou um pouco mais orgulhoso que os meus vizinhos, e sinto que fui feito para andar vestido de outro modo. Ah! se as minhas folhas fossem de ouro».

O Gênio da montanha ouviu-o, e no dia seguinte pela manhã acordou o pinheiro com folhas de ouro. Ficou radiante de alegria, e admirou-se, pavoneou-se todo, olhando com altivez para os outros pinheiros, que, mais sensatos do que ele, não invejavam tão rápida fortuna. À noite passou por ali um judeu, arrancou-lhe todas as folhas, meteu-as num saco e foi-se embora, deixando-o inteiramente nu dos pés à cabeça.

«Oh! disse ele, que doido que fui! Não me tinha lembrado da cobiça dos homens. Despiram-me de todo. Não há agora em toda a floresta uma planta tão pobre como eu. Fiz mal em pedir folhas de ouro: o ouro atrai as ambições.

«Ah! se eu conseguisse um vestuário de cristal! era deslumbrador e o judeu avarento não me teria despido.»

No dia seguinte acordou o pinheiro com folhas de cristal, que reluziam ao sol como pequeninos espelhos. Ficou outra vez todo contente e orgulhoso, fitando desdenhosamente os seus vizinhos. Mas nisto o céu cobriu-se de nuvens e o vento rugindo, estalando, quebrou com a sua asa negra as folhas de cristal.

«Enganei-me ainda, disse o jovem pinheiro, vendo por terra, feito em bocados, o seu manto cristalino. O ouro e o cristal não servem para vestir os bosques. Se eu tivesse a folhagem acetinada das aveleiras, seria menos brilhante, mas viveria descansado.»

Cumpriu-se o seu último desejo e, apesar de ter renunciado às vaidades primitivas, julgava-se ainda mais bem vestido do que todos os outros pinheiros seus irmãos. Mas passou por ali um rebanho de cabras, e vendo as folhas tenrinhas e frescas, comeram-lhas todas sem lhe deixar uma única.

O pobre pinheiro envergonhado e arrependido, já queria voltar à sua forma natural. Conseguiu ainda este favor e nunca mais se queixou da sua sorte.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Moisés Eulálio (Trovas – Lembretes)


Quem busque felicidade
Atente nesta lição:
Excesso de liberdade,
Caminho de escravidão.

A paixão tem dois venenos
Que sempre lhe são fatais:
Entendimento de menos
E reconforto demais.

Sabedoria avançada
Nesta lição das mais nossas:
O que em mim te desagrada,
Corrige em ti como possas.

Fé sem obras – sonho vão,
Mão fechada, vida oca,
Bela conversa vazia
Enclausurada na boca.

Quem não sofre nem teme
E tão-só de si se agrade,
Parece barco sem leme
Na hora da tempestade.
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Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir