quarta-feira, 19 de julho de 2023

Daniel Maurício (Mosaico de Sentimentos)


AMAR

Amar
palavra fácil de rimar.
Amar
difícil acontecer.
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APARTAMENTO

Olhar janela
panorama
um... dois... mil!
Luzes, esplendor
céu escuto
eu sozinho
no computador.
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JANEIROS

O verde dos teus olhos
encheram-me de esperanças para o amor.
Mas os janeiros foram passando,
rápidos como as águas
barulhentas entre as pedras
para as quais jamais retornam.
Hoje, os olhos já não choram
mas o peito ainda arde
estranhamente.
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LUAR

A lua
de tão cheia
espremia-se entre os prédios
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NOSTALGIA

Uma velhinha
olhando pela vidraça
quebrada
a chuvinha
que teimava a cair.
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PAPEL

Papel
por que falar das coisas grandes?
Suas grandezas, bastam-se a si mesmas.
Por que não falar
desse retângulo de sulfite branco
que fita-me
coisa-me
cochicha-me
segredos
que só eu posso entender?
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PARDAL SOLITÁRIO

Como um pardal solitário
pulando entre telhados
gorjeio com tintas e lágrimas
nos muros da cidade
à procura do meu amor juvenil.
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PÁSSARO FERIDO

Escorria a poesia.
O ambiente conspirava.
Os lábios entreabertos
resfolegavam
suplicantes.
Escorria a poesia.
As pernas tremiam.
Num movimento de ancas...
Pássaro ferido em meus lençóis,
Escorria…
Pura sedução.
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POEMA ACANHADINHO

Deflorei um livro
abri suas pernas-páginas
meus olhos bêbados
de tanta beleza
devoraram um poema
acanhadinho
que sangrava em minhas mãos.
Lágrimas, suor e céu.
Foi assim meu primeiro amor
pela poesia.
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POR AÍ

Andei por aí
todo solto na vida,
na vã esperança
de me curar de você.
Mas em cada ato
em cada fato
sempre vem você,
revivendo todo o amor
despertando toda a dor.
Ai, ferida que não sara!
Será que só você pode curar?
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QUEM É?

Quem é esta doida
santa ou devassa
que no meio da noite
por onde ela passa
exala a lascívia
respira a luxúria
vaca profana
de que me ama
e também a José?
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TEIMOSIA

Uma dor
que não quer curar
um amor
que não quer vingar
um botão
que teima em não desabrochar
um adeus
que não quer dizer
é o medo de poder
ter o que não se quer.
Seria pelo mesmo amor?
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VENTOS DA LIBERDADE

Vera Aurora
verdadeira deusa do amanhecer.
Nem preciso fechar os olhos
para rememorar a imagem
de tuas belas pernas
sob a eterna saia de veludo bordô.
Passos altivos
caminhar esnobante
aos olhares gulosos.
Desejos guardados,
pecados encobertos pelo medo,
Hoje, não há espaço para os segredos
a paixão ficou grande demais
para continuar sendo sussurrada
às escuras.
Vera Aurora,
verás a aurora do amor,
quando cortares as amarras
que te ligam ao velho cais.

Fonte:
Daniel Maurício. Mosaico de Sentimentos. São Paulo: Scortecci, 2013.
Enviado pelo poeta.

Aparecido Raimundo de Souza (As abelhas ETs)

O POLICIAL QUE VIERA da capital para investigar a estranha e misteriosa morte de um pescador num dos braços do rio que cortava aquele pequeno vilarejo perdido nos cafundós da floresta, se achegou do ancião que todos nas redondezas diziam ter sido a única testemunha que presenciara os derradeiros momentos do falecido antes que ele perdesse a vida quase alcançando a linha da marina onde, aliás, também ficava sediado o barracão da colônia de pescadores. O velhinho fumava seu cachimbo e espiava, em silêncio, para as águas barrentas do rio que se perdia ao longe. Pigarreou para se fazer notar e indagou:

— E então, meu bom homem, vai me contar direitinho como tudo aconteceu com seu amigo?

— Se o senhor quiser realmente ouvir...

— Pode começar. Sou todos ouvidos.

O ancião deu uma tragada longa em seu cachimbo e encarou o policial que o contemplava encostado na entrada que acessava a ponte onde alguns barcos estavam amarrados:

— Seu Manoel, moço, vinha vindo embora para casa. Estava bem ali, ó. Tá vendo aquela ilhazinha quase perto da margem?

— Ali? Aquela perto da barranca?

— Não, lá, depois dos manguezais.

— Tudo bem. Continue...

— Ele viajava numa piroga.

— Piroga?

— Canoa. Piroga, por aqui, é o mesmo que uma espécie de embarcação.

— Entendi. 

— Seu Manoel é um grande pescador.

— Melhor dito: era!

— Não, meu prezado. É. Mesmo depois de morto, ele continuará sendo um pescador. Um grande pescador.

O policial sorriu à essa observação infantil, mas percebendo a humildade de seu interlocutor, concordou com ele: 

— Está bem. Vamos supor que seja assim. E daí?

— Seu Manoel segurava dois remos enormes. A canoa dele era do tipo daquela, às costas do senhor, está vendo? A pintada de azul. Vinha cheia de peixes. Abarrotada. Então aconteceu...

— O que aconteceu exatamente?

— As abelhas chegaram em bando. Vieram dali.

O pescador apontou para uma espécie de bosque fechado:

— Chegaram em um enxame?

— Que seja, se assim o amigo está dizendo. 

— Mas eu soube, pelos vizinhos do senhor, que seu Manoel morreu afogado. Afinal, foi afogado ou picado?

— Acho que “Afopicado...” 

— Como?! Afo... afo o quê? — Quer, por favor, repetir?

— “Afopicado”, moço. Afogado com picado e vice-versa. Veja bem: quando as abelhas estavam se aproximando, o barco dele, velho de guerra, sentindo a presença fria da morte e temendo ser mordido...

— Picado... – emendou o policial:

— ...Com medo de ser, como o senhor bem colocou, picado, o barco não esperou pelo pior. Se armou e pá, puf! Saiu correndo...

O policial não pode deixar de dar um largo sorriso e aproveitar para fazer uma piadinha:

— O barco saiu correndo! Correndo ou nadando?

— Escuta só, meu senhor. Acho que nem uma coisa nem outra. A embarcação, a meu ver, deixou o local em desabalada “navegância”, ou, a toda velocidade, como se costuma dizer na linguagem dos pescadores. O senhor entende, não é mesmo?  Os barcos navegam. Resumindo: o barco antes de “tirar o time” emborcou. Antes que o senhor me pergunte o que é emborcar, vou logo esclarecendo. Virou de barriga para baixo. Depois que se livrou da carga, deu no pé. Se deixou ser levado pela correnteza...

— E as abelhas?

— Como perderam de vista o barco, caíram matando em cima do infeliz do seu Manoel. 

— Dentro da água?

— Aquelas abelhas nadavam. 

— Ué! Abelhas nadam?

— As daquela marca, sim...

— O senhor quis dizer, daquela espécie?

— Quis dizer e, de fato, disse. Perceba. As daquela espécie, são inimitáveis. Mergulham, nadam de costas, de frente, de lado, de banda. São feras. Inteligentes, ladinas. Mais até que os homens que, como eu, mais o velho Manoel (que o Bondoso Pai o tenha na glória), trabalharam a vida inteira em braços de rio como este que o senhor está vendo aqui.  Tem umas destas espécies que pulam de cabeça em busca do néctar, para produzirem o mel.

Mais gargalhadas: 

— O senhor está me dizendo que as abelhas picaram seu Manoel dentro da água?

— Perfeitamente.

— Mas...

— Até alguns peixes, na hora da confusão, saíram lanhados.

— Se entendi direito, picados?

— Mais ou menos a mesma coisa. A ordem dos fatores... sabia que encontrei um par deles com ferrões no cachaço do pescoço?

O policial estava às voltas de desistir daquela conversa fiada. Afinal, não chegaria à lugar algum dando atenção aquele infeliz, ouvindo a sua prosa de bocó sem noção. Perdera tempo. Um tempo precioso, à sua visão centrada dentro de um objetivo que ele tinha como lógico e real. Entretanto, antes de sumir do pedaço dando adeus definitivo ao seu interlocutor, se abriu feito mala velha em mais uma de suas enormes risadas barulhentas. Parecia um menino bobo diante de um fato inusitado:  

— No pescoço? Essa foi boa... e na barriga do falecido não encontraram nada que nos possa levar à alguma solução?

O velhinho, muito sério e tremendamente compenetrado, continuou firme, sem mover um músculo das faces cheias de cicatrizes provocadas pelo tempo que ficaram expostas aos raios solares:

— Perto das guelras... o senhor precisava estar aqui, na hora fatal. Ia se certificar de que não estou mentindo.

— O senhor já viu, alguma vez, essas abelhas por aqui?

— Até acontecer essa fatalidade com meu amigo, não. 

— Saberia informar, ao menos, de onde poderiam ter vindo?

O ancião apontou, com o cachimbo voltado para o céu azul acima da cabeça deles, um lugar no distante apartado do infinito:

— De lá.

O policial seguiu a indicação para onde a remota figura sinalizava:

— Das nuvens?

— Não, seu moço. De outro planeta. Acho que as tais abelhas têm parentesco com seres de outra galáxia desconhecida.

— Nessas alturas do campeonato o senhor vai querer me convencer de que, se eu sair por aí, posso encontrar uma nave?

O longevo ficou deveras chateado com esta observação inoportuna:

— Não digo que o senhor tope com a nave. Mas, com certeza, tropeçará ou cairá num buraco enorme...

— Buraco enorme?

— Sim, meu bom amigo. Uma cratera de dimensões espetaculosas que ela deixou logo ali na frente, na hora em que as abelhas se preparavam para empreenderem a viagem de volta ao desconhecido de onde, suponho, tenham partido para chegarem até aqui. 
Fonte:
Texto enviado pelo autor

terça-feira, 18 de julho de 2023

Baú de Trovas LXVII – Dia do Trovador


A UBT do bom Luiz
seu grande ideal mantém:
ser sempre a forja e a matriz
da poesia do bem.
A. A. de Assis
Maringá/PR


Luiz Otávio, em nossas mãos
as suas a gente vê.
- Onde há um encontro de irmãos,
há um reencontro com você!
A. A. de Assis
Maringá/PR


Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
Adelmar Tavares
Rio de Janeiro/RJ

Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
Adelmar Tavares
Rio de Janeiro/RJ

Quando a inspiração lhe acena,
o bom Trovador se expande.
Numa Trova tão pequena,
faz um Poema tão Grande!
Ademar Macedo
Natal/RN


Inspirado na lembrança
de pensamentos diversos,
o trovador é criança
brincando de fazer versos.
Adolfo Macedo
Magé/RJ


Pequena e cheia de graça,
a trova é tão dadivosa,
que um trovador quando passa
deixa um perfume de rosa!
Amália Max
Ponta Grossa/PR


Canta, canta, trovador
e promove a festança,
convidando com amor
todo mundo para a dança.
Ana Maria Gazzaneo
Bragança Paulista/SP


Trova é sempre o bom amigo,
de quem se diz trovador.
Tem nos versos, manso abrigo,
de quem o perdeu na dor.
André Ricardo Rogério
Arapongas/PR

Quatro versos de beleza,
plenos de amor ou de humor,
com presteza e com destreza,
desenvolve um trovador.
Ângela Guerra
Rio de Janeiro/RJ

Parabéns, Trovador,
o que, em pequeno poema,
faz grande qualquer supor,
pois fez da Vida o seu tema.
Angela Togeiro
Belo Horizonte/MG

Em versos, o poeta canta
esta vida tão ditosa,
e a trova parece planta:
...pétalas formando rosa
Angela Togeiro
Belo Horizonte/MG

Achei uma forma nova
de tornar-me trovador:
nossos lábios – uma trova
na doce rima do amor.
Anis Murad
Rio de Janeiro/RJ

As trovas feitas a esmo,
são difíceis de fazer:
conversa contigo mesmo,
que a trova sai sem querer.
Anis Murad
Rio de Janeiro/RJ

Bendito aquele que trova,
como aquele que semeia;
em seu céu, a lua nova
sempre lembra lua cheia.
Antonio Cabral Filho
Rio de Janeiro/RJ

Nas trovas de um trovador,
este exemplo se repete:
–  Quatro pedaços de amor
contados de sete em sete…
Antonio Colavite Filho
Santos/SP
 
Ao tempo tudo se rende,
tudo passa ou se renova;
só não passa o que se prende
nos quatro versos da trova!
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA

A trova é gota de pranto
Que cai dos olhos de alguém
E por alguém chorou tanto
Que nem mais lágrimas tem.
Antonio Salomão
Curitiba/PR

O bom trovador comprova
a seguinte teoria:
-Quem é perito na trova
o é também na poesia!
Antonio Valentim Rufatto
Bauru/SP

A Trova não morre nunca,
retempera a humanidade
e vence a tristeza adunca,
alegrando a mocidade!
Apollo Taborda França
Curitiba/PR

Em cantilena divina
sua voz, cheia de amor.
Porque você me fascina
eu tornei-me um trovador!
Benedito C. G.Lima
Corumbá/MS

Quem deixa forte lembrança,
como Luiz Otávio deixou,
é símbolo de esperança
e do amor que ele plantou.
Carmen Pio
Porto Alegre/RS

Pequenina, saborosa,
tão redondinha e macia...
- A trova é, sem ser prosa,
filé "mignon" da poesia!
Carolina Ramos
Santos/SP

Trovador, quando padece
ao enfrentar duras provas,
guarda a angústia numa prece
e reza… fazendo Trovas.
Carolina Ramos
Santos/SP

Não sei se vivo a trovar
ou se trovar é viver.
Só sei que não sei ficar
sem minha trova escrever.
Celina Figueiredo
Belo Horizonte/MG

Luiz Otávio, com ciência,
fez da trova uma alegria;
com carinho e competência
fez dos versos melodia.
Cidinha Frigeri
Londrina/PR

A métrica pondo à prova,
quatro versos eu componho
ao fazer mais uma trova
com tinta, papel e sonho!
Cláudio de Cápua
Santos/SP

Luiz Otávio, com nobreza,
elevando-nos autores,
não foi rei, mas com certeza,
“Príncipe dos trovadores”…
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte/MG

De ser grande trovador
Luiz Otávio deu provas:
- Versejava com amor
foi o Príncipe das Trovas.
Conceição P. Abritta
Belo Horizonte/MG

As minhas trovas de agora;
não guardam nada de novo.
São pensamentos dos sábios,
com pensamentos do povo.
Cornélio Pires
São Paulo/SP

Trovadores pintam, bordam,
contam fatos, fazem rir,
falam do que se recordam...
Põe neurônios pra agir!
Cristiane Borges Brotto
Curitiba/PR
 
Trovador é consciente
e respeita a natureza;
quer dar ao mundo da gente
tranquilidade e beleza!
Cynira Antunes de Moura
Santos/SP


Luís Otávio, não morreste,
aqui na Terra, ficaste,
entre os livros que escreveste
e as trovas que nos deixaste!
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS


É na dor de uma saudade,
quando um mau dia anoitece,
que a mulher em mim se evade
e a trovadora aparece.
Denise Cataldi
Nova Friburgo/RJ

Busco apenas, vigilante,
saber seu comportamento:
-Trova, sendo a nossa amante,
não fique no esquecimento!
Diamantino Ferreira
Campos/RJ


Duvidar ninguém se atreve,
de que as estrelas que eu fito
são Trovas que Deus escreve
no livro azul do Infinito!…
Dias Monteiro
Taubaté/SP


Trovador quando ama a rosa
respeitando seus espinhos,
da flor, carinho ele goza
perfumando seus caminhos.
Dinair Leite
Paranavaí/PR


Príncipe dos trovadores,
nos canteiros que mantinha,
cultivou todas as flores
e fez da rosa a rainha.
Divenei Boseli
São Paulo/SP


Luiz Otávio, em teu reinado
onde o plágio não se aprova,
que bom fosse plagiado
em teu amor pela trova!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ


Sou trovador e transponho
os céus da imaginação,
pelo galope do sonho
e no dorso da ilusão!
Eduardo Toledo
Pouso Alegre/MG


– Se eu me sinto um trovador?
De fato não sei dizer...
Tudo que sei, meu senhor,
são quatro versos fazer!
Edweine Loureiro
Saitama/Japão


Independente de crença,
minha intuição comprova
de Luiz Otávio a presença
toda vez que se faz trova.
Élbea Priscila Souza e Silva
Caçapava/SP


Amo a trova a cada dia
e o farei a vida inteira...
Na tristeza ou na alegria
ela é sempre companheira!
Ercy M. Marques de Faria
Bauru/SP


Depois que o mundo criou,
fez o homem... e, sonhador,
Deus deu-lhe um dom e o ensinou
a ser poeta e trovador.
Eulinda Barreto Fernandes
Bauru/SP


Pequenina, mas imensa
para o poeta a trova é,
pois que nela condensa
sua vida, sua fé.
Fernandina Marques
Curitiba/PR


Vem de lá do monte verde
a trova que não entendo,
mas é um som bom que se perde
enquanto se vai vivendo.
Fernando Pessoa
Lisboa/Portugal


Desde a infância, um sonhador,
muitos sonhos já sonhei,
em tornar-me um trovador
- confesso - nunca pensei.
Flávio Ferreira da Silva
Nova Friburgo/RJ


Numa escolha certa e infinda,
com requintes de magia,
uma trova é a flor mais linda
dos jardins da poesia!
Flávio Roberto Stefani
Porto Alegre/RS


Luiz Otávio se encantou;
tinha que partir um dia!
Mas para o mundo deixou
um canteiro de poesia!
Francisco Garcia
Caicó/RN


Sou solidão, sou saudade
sou sonho, sou tudo enfim,
que tenha cumplicidade
com o trovador que há em mim!
Francisco José Pessoa
Fortaleza/CE


A trova nascida da alma
tem mensagem diferente,
pois ela incendeia e acalma
as atitudes da gente.
Francisco Neves Macedo
Natal/RN


Com rima alegre ou plangente,
trovador é trovador:
toca o coração da gente
com seu jeito encantador!
Geraldo Trombin
Americana/SP


A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!
Gislaine Canales
Porto Alegre/RS


Não tem dia, não tem hora
em que sonha um trovador;
ao por do sol ou na aurora,
ele canta o seu amor!
Glória Tabet Marson
São José dos Campos/SP


Luiz Otávio, em verdade,
teve um viver bem risonho:
– Cantou, sereno, a saudade,
sendo o Príncipe do sonho!
Helvécio Barros
Bauru / SP


Gramática: Rege a língua.
Tanta gente descompassa
que certas trovas, à mingua
das regras, perdem a graça.
Hermoclydes S. Franco
Nova Friburgo/RJ


Trovador, longe da infância,
contando as horas da idade
rima tempo com distância
e distância com saudade!
Héron Patrício
São Paulo/SP

 
Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.
Ialmar Pio Schneider
Porto Alegre/RS

Ser trovador me seduz…
Eu sinto em cada momento
que a trova é facho de luz
no pano do firmamento…
Ivone Taglialegna Prado
Belo Horizonte/MG

Meu conflito e meu fracasso
é que as trovas que componho
têm sempre os versos que eu faço,
e nunca os versos que eu sonho…
Izo Goldman
São Paulo/SP

Faço trova quando deito,
outra quando me levanto.
Agora não tem mais jeito:
-Fui tomada pelo encanto!
Janske Niemann Schlenker
Curitiba/PR


Luiz Otávio plantou
com afeição e carinho,
e onde ele semeou
trovas brilham no caminho.
J. B. Xavier
São Paulo/SP


A trova, conta de um canto,
poça d’água sobre o chão
– tão pequenina, e entretanto,
reflete toda a amplidão!
J. G. de Araújo Jorge
Rio de Janeiro/RJ


A trova é como uma conta
de um rosário multicor,
é a cantiga que desponta
do peito de um trovador.
J. G. de Araújo Jorge
Rio de Janeiro/RJ


Trovador é o arquiteto
que no seu pequeno espaço
faz das estrelas seu teto
e do céu o seu terraço!
João Batista Xavier Oliveira
Bauru/SP


Dia 18 de Julho,
os Mensageiros do Amor,
celebram cheios de orgulho
o Dia do Trovador!
João Costa
Saquarema/RJ

Quanta lembrança querida
de quem pintou céus risonhos:
– Gilson de Castro...na Vida
– Luiz Otávio...nos Sonhos!
João Freire
Rio de Janeiro/RJ


A trova pra ser bonita
tal qual filhinha dileta,
traz sempre o laço de fita
da inspiração do poeta!
Joaquim Carvalho
Curitiba/PR


Ah, se eu fosse um construtor!...
Eu faria estradas novas,
incrustadas com amor,
pelo chão... milhões de trovas!
J. Feldman
Campo Mourão/PR


Qual a Gralha Azul que voa.
cultivando o Paraná.
A trova, a terra povoa,
espalhando o seu maná.
J. Feldman
Campo Mourão/PR


Em momentos mais risonhos,
sei que já fiz trova linda,
mas a trova dos meus sonhos
não pude fazer ainda!
José Lucas de Barros
Natal/RN


De alma pura e generosa,
o Príncipe Trovador,
de uma pequenina rosa
criou um mundo de amor!
José Maria Machado de Araújo
Rio de Janeiro/RJ


A trova, quando termina
em perfeita construção,
é uma casa pequenina,
com requintes de mansão!
José Messias Braz
Juiz de Fora/MG


Para o meu viver tristonho
um motivo mais ressalta:
na trova feliz que eu sonho
és a rima que me falta…
José Tavares de Lima
Juiz de Fora/MG


O trovador é poeta
de inspiração influente,
que nos seus versos projeta
a plenitude da mente!
Kathleen Evelyn Müller
Curitiba/PR


Por certo ninguém reprova
o vício que me domina:
-Cultivo o vício da trova
que começa e não termina...
Lacy Raymundi
Garibaldi/RS


Sou poeta trovador
na solidão desta rua.
Minhas serestas de amor
só tenho entoado à Lua.
Lairton Trovão de Andrade
Pinhalão/PR


Uma trova bem singela,
feita com arte e primor,
demonstra toda a cautela
de quem é bom Trovador.
Leonilda Yvonetti Spina
Londrina/PR

 
A mãe pro recém-nascido
pediu graças ao Senhor.
E Ele, ouvindo o bom pedido,
deu-lhe o dom de Trovador.
 Lília de Souza
Curitiba/PR


A trova é a alma da gente
desventurada ou feliz.
Em quatro versos somente,
quanta coisa a gente diz!
Lilinha Fernandes
Rio de Janeiro/RJ


Enquanto houver um luar
e um sol cheio de esplendor,
há de se ouvir o cantar
da lira de um trovador!
Lisete Johnson
Porto Alegre/RS

Noite clara, lua cheia...
Um trovador...um violão...
O coração se incendeia,
ante a chama da paixão.
Lucy Rangel Fraga
Bauru/SP


Luiz Otávio – alma inquieta -
só cantou coisas de amor...
não foi somente poeta:
- Ele é o maior Trovador!
Luiz Carlos Abritta
Belo Horizonte/MG


Á trova tenho um apreço
qual fora livro de bolso,
pequenino e de bom preço,
vale sempre o desembolso.
Luiz Hélio Friedrich
Curitiba/PR


A trova, quando perfeita,
três reações pode causar:
a gente ri… ou suspira,
ou então, fica a pensar…
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


A trova tomou-me inteiro...
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Bendigo a Deus ter-me dado
a sorte de trovador
pois o mal, quando cantado,
diminui o seu rigor...
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Em nossa crença elevada,
num mundo de paz e flores,
a Trova é Hóstia Sagrada
no templo dos trovadores!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Por estar na solidão,
tu de mim não tenhas dó.
Com trovas no coração,
eu nunca me sinto só.
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Tirem-me tudo que tenho,
neguem-me todo valor...
-Numa só glória me empenho
a de humilde trovador!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever …
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Trovador é sonhador
e tem grande inspiração.
Das palavras, gladiador
com rimas do coração.
 
Madalena F. Pizzatto
Curitiba/PR


Trovador a lapidar
o seu "achado" tesouro
faz o sonho se tornar
um legado duradouro!
 
Maria da Conceição Fagundes
Curitiba/PR


Trovadores… luz… ribalta!
No cenário: a poesia.
Trova nasce… verso salta…
na maior coreografia.
Maria da Graça Stinglin de Araújo
Curitiba/PR


Há trovas que o vento leva;
outras, o fogo desfaz…
Mas, as minhas, sem reserva
são trovas que o vento traz.
Maria Nicolas
Curitiba/PR


Quando uma trova acontece,
nasce com ela um sorriso
no rosto de quem conhece
o gosto de um improviso.
Mário A. J. Zamataro
Curitiba/PR


Plantou rosas, toda a vida
o príncipe trovador...
E ao ver a messe cumprida
foi ser jogral do Senhor
Marina Bruna
São Paulo/SP


E desse dia festivo
eu venho participar,
pois das trovas sou cativo:
não sei ficar sem trovar.
Mário Roberto Guimarães
Rio de Janeiro/RJ


Trovador que canta a vida,
canções com trovas de amor,
assim dá leveza à lida.
Trovador é um sonhador!
Marly Rondan Pinto
São Paulo/SP


Da poesia fiz meu canto,
do meu canto a alegria!
Fiz meus versos com amor,
a canção do trovador.
Maurélio Machado
São Bento do Sul/SC


Um romântico poeta
tem seu dia, sim senhor,
e, por ser do amor esteta,
com certeza é um trovador!
 Maurício Norberto Friedrich
Curitiba/PR


De modo sempre profundo,
sempre escravo da verdade,
o trovador mostra ao mundo
seus sonhos de claridade.
 Messias da Rocha
Juiz de Fora/MG


As trovas no dia a dia
atuam como remédio.
São drágeas de poesia,
contra a depressão e o tédio.
Miguel Russowsky
Joaçaba/SC


Luiz Otávio sabia
que sua paixão mais forte,
a trova, conquistaria
o Brasil de Sul a Norte.
Milton Souza
Porto Alegre/RS

No Dia do Trovador,
eu repito novamente:
trova é um pedaço de amor
que invade a vida da gente.
Milton Souza
Porto Alegre/RS


O trovador é poeta
que na vida põe sabor,
e tem sempre a mesma meta,
decantar versos de amor!
Nadir Nogueira Giovanelli
São José dos Campos/SP


Quando tenho agulha nova
no pano da fantasia,
com quatro linhas de trova
costuro a minha alegria.
Nazareno Tourinho
Belém/PA


Deus fez tudo o que quisera:
– fez o céu, e fez as flores,
fez mais linda a primavera
e, depois, os Trovadores!
 Nei Garcez
Curitiba/PR


Luiz Otavio, no infinito,
em sua estrada traçada,
nos ensina quão bonito
é uma trova declamada!
Nei Garcez
Curitiba/PR


Sofre n’alma o trovador
ao buscar rima escorreita
quando está em seu compor
e lhe “foge” a mais perfeita!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE


- Cadê tu, rima? - pergunta
o trovador, desolado;
de repente ela se assunta,
num verso bem descolado!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE


Trovador que crias trovas,
nem sabes aonde vão.
Elas vêm, dou-te provas,
parar no meu coração.
Nilsa Melo
Maringá/PR


Na madrugada silente
o trovador faz nascer
tudo o que sua alma sente
e o que não pode esquecer.
Nilsa Melo
Maringá/PR


O mundo ganha mais cor
neste dia de poesia,
quando todo trovador
faz trovas pelo seu dia!
Nilton Manoel
Ribeirão Preto/SP


Do trovador o penar
se descreve deste jeito:
– é a luta para encontrar
o verso que não foi feito.
Olympio S. Coutinho
Belo Horizonte/MG


Sou trovador concursado
na grande escola da vida.
Eu tenho a trova ao meu lado,
por que a trova é tão querida.
 Paulo R. Moreira Gomes
Curitiba/PR


Sou um velho trovador
que vive só por aí.
Canta a vida com amor
no canto do bem-te-vi.
 Paulo Roberto Walbach Prestes
Curitiba/PR


Carícia mais eloquente
que meu coração aprova
é te dar um beijo ardente
nos versos da minha trova!
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ


Luiz Otávio ficou,
nunca morreu de verdade:
– Em cada trova deixou
pedaços de eternidade!
Renata Paccola
São Paulo/SP


O sonho do trovador
é fazer trova perfeita;
não consegui ser o autor,
mas consegui vê-la feita!
Roberto Pinheiro Acruche
São Francisco de Itabapoana/RJ


A trova bem construída...
que aos bons princípios conduz,
pelos escuros da vida
é uma cascata de luz!
Roberto R. Vilela
Pouso Alegre/MG


Foi amigo e conselheiro,
um poeta, um sonhador.
Dom Luiz Otávio I
um Príncipe Trovador!
Rodopho Abbud
Nova Friburgo/RJ


Num ritmo de eternidade
e encanto que se renova,
há comboios de saudade
nos quatro trilhos da trova.
Roza de Oliveira
Curitiba/PR


Pequenina no formato,
mas imensa no que cria,
a trova é como um retrato
três-por-quatro da poesia.
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ


Mês de Julho...Os trovadores
vestem seus trajes de festa
e cantam, nos seus louvores,
a esperança que lhes resta!
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP


Luiz Otávio, é tão patente
o teu trabalho fecundo,
que viraste o "remetente"
das trovas de todo o mundo!
Sérgio Bernardo
Nova Friburgo/RJ


Ó TROVADOR meu irmão
quando fizeres POESIA,
proclama sempre a UNIÃO
razão de toda a alegria.
Sílvia de Araújo Motta
Belo Horizonte/MG


Nos acordes da Poesia
versos de muito valor
traduzem a nostalgia
do peito de um Trovador !...
Sônia Maria Ditzel Martelo
Ponta Grossa/PR


No dia do trovador
quero fazer homenagens
a quem faz com tanto amor
essas divinas mensagens.
Suerda Medeiros de Araújo
Caicó/RN


O trovador é pra mim
um ser muito especial.
É pra Deus um querubim
com um dom angelical.
Suerda Medeiros de Araújo
Caicó/RN


Na trova, que é seu veleiro,
singrando temas diversos,
trovador é marinheiro
que navega em quatro versos.
Thereza Costa Val
Belo Horizonte/MG


A trova vence barreiras,
criando caminhos novos
e ultrapassando fronteiras
busca a amizade entre os povos.
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

De Luiz Otávio, eu sabia
de cor seus versos mais ternos...
Todo o seu sonho cabia
nas folhas dos meus cadernos
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP


Trovador tu dizes tanto
e tão sinteticamente
que do mundo todo encanto
cabe no peito da gente.
 
Ubiratan Lustosa
Curitiba/PR


Ser trovador: meu encanto,
criar as rimas, tão minhas...
e o verso virar recanto
à minha alma, em quatro linhas...
Vanda Alves da Silva
Curitiba/PR


A trova é um clã gigantesco,
onde todo mundo é irmão,
sendo o grau de parentesco
os laços do coração.
Vanda Fagundes Queiroz
Curitiba/PR


Em tédio avassalador
daqueles que não têm cura,
num minuto o Trovador
transforma tudo em ventura!
Vânia Ennes
Curitiba/PR


Trovador - que trova a dor
e a transforma em poesia...
Voas alto qual condor:
Parabéns pelo teu dia!
 Vera Rolim
Curitiba/PR


Quando chora um trovador
não é o seu pesar somente,
canta, sofre e chora a dor
colhida de toda gente.
Victorina Sagboni
Joaquim Távora/PR


Trova é cantiga bonita,
nascida do coração!
Dessa inspiração bendita
vertida em linda canção.
Zélia Nicolodi
Curitiba/PR

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Vanice Zimerman (Tela de versos) 20

 

Artur de Azevedo (Uma noite em Petrópolis)

O Gustavo era literato e quase jornalista. Casou-se muito novo, aos vinte e três anos, e fez-se guarda-livros, porque decididamente a literatura não lhe dava com que manter a família.

O casamento havia sido muito contrariado por uma dona Puquéria, tia da noiva, senhora já bastante idosa, que morava em Cascadura. Depois de casado, o Gustavo guardou um profundo ressentimento contra essa velha: não a podia ver nem pintada.

Ora, uma bela manhã, seis anos depois do casamento, a mulher de Gustavo foi despertá-lo mais cedo que de costume.

— Gustavo!

— Hein? Que queres tu? Para que me acordas tão cedo? Bem sabes que com este calor infernal só posso pegar no sono pela madrugada! Deixa-me dormir!

— Ouve; trata-se de uma coisa grave.

O Gustavo deu um pulo da cama.

— Hein?

— Tia Pulquéria...

— Morreu?

— Não; mas está morre não morre. Mandou-me pedir que fosse lá com os pequenos; quer despedir-se da gente.

— Responda-lhe que morra quantas vezes quiser, e nos deixe em paz!

— Gustavo, lembra-te que ela é irmã de meu pai...

— Lembro-me que esse diabo inventou contra mim as maiores calúnias, para impedir o nosso casamento!

— Pois sim, perdoa-lhe... aquilo foi rabugice de velha.

— Vai tu, se quiseres, com os meninos e a Máxima. Eu tenho mais que fazer; não os acompanho.

Uma hora depois, a sobrinha de dona Pulquéria, em companhia dos quatro pequenos e da Máxima — a ama seca de todos os quatros — tomava o trem para Cascadura.

O Gustavo tentou dormir ainda, mas não o conseguiu. Ergueu-se de mau humor, tomou um banho frio, vestiu-se, e foi para o escritório. Almoçava em casa do patrão.

Ao meio dia recebeu um bilhete de sua mulher dizendo-lhe que tia Pulquéria tinha expirado às dez horas da manhã e que ela ficaria lá todo o dia e toda a noite com os meninos e a Máxima “fazendo quarto”; só iria para casa no dia seguinte, depois do enterro.

O marido ficou bastante contrariado. Era a primeira vez, depois de seis anos de casados, que ia passar uma noite longe da família.

Um dos seus companheiros de escritório, homem já maduro e também pai de família, disse-lhe:

— Eu, no seu caso, Gustavo, tratava de aproveitar esta noite de liberdade...

— Aproveitar como? Não sou pândego nem tenho recursos para meter-me em cavalarias altas... Já sei que esta noite vai ser pior que a passada, em que não preguei o olho... Fazia um calor terrível.

— Pois aproveite a noite dormindo bem.

— Onde?

— Em Petrópolis. Você vai hoje na barca das quatro; chega lá às seis; janta no Bragança; depois do jantar vai dar um giro pela cidade; volta ao hotel; pede um quarto; passa uma noite deliciosa, e amanhã toma o trem para cá às sete horas da manhã.

A ideia sorriu ao Gustavo. Que bom seria passar a noite em Petrópolis, gozando a agradável temperatura da serra! Com que prazer ele se estenderia numa caminha fresca, para no dia seguinte, ao primeiro raio de sol, despertar alegre como um pássaro e leve como uma flor! Demais a mais, Gustavo nunca fora a Petrópolis, e Petrópolis era um dos seus sonhos. Uns desejam ir à Europa, outros à América do Norte, outros ao Oriente; ele desejaria ir à Petrópolis, embora para ali passar apenas uma noite.

O Gustavo foi à casa, acondicionou a roupa indispensável numa maleta de mão, e às quatro horas partiu para o ex-Córrego-Seco, munido de bilhete de ida e volta.

O programa traçado começou por ser fielmente cumprido. No hotel Bragança deram ao Gustavo um bom quarto, e serviram-lhe um bom jantar, que ele não apreciou bastante porque estava a cair de sono e na sala o termômetro marcava trinta graus.

Acabado o jantar, o nosso viajante saiu para dar um giro pela cidade; mas, como entrasse a chuviscar, voltou para o hotel, dizendo aos seus botões:

— Ora, adeus! vou deitar-me... Há de ser um sono só pela manhã!

Quis porém a fatalidade que, ao entrar no hotel o Gustavo encontrasse o Miranda, que fora, sete anos atrás, um dos companheiros de “lutas” literárias, um bom rapaz que tinha apenas um defeito, mas um grande defeito: bebia. Um pobre diabo, um maluco desses de quem se diz: — Coitado! é mau só para si.

— Olhe quem ele é: O Gustavo!...

— Oh, Miranda!

— Que fazes tu em Petrópolis?

— Vim dormir, e tu?

— Eu resido aqui.

— Ah! E em que te empregas?

— Em coisa nenhuma. Dissipo os restos do meu patrimônio.

O Gustavo notou que o Miranda tinha a língua um pouco presa, e como não há companhia mais desagradável que a de um bêbado, tratou de despedir-se.

— Não! Já não te deixo!... – protestou o Miranda. – Anda daí tomar comigo um copo de cerveja.

— Não... desculpa-me...

— Não admito desculpas!

— Pois sim, mas há de ser aqui mesmo no hotel.

— Nada! Nada! Cerveja em hotel não tem bom sabor. Vamos a uma brasserie que ali há... atravessemos aquela ponte...

— Isso é uma extravagância: está chovendo!

— Ora! Um chuvisquinho à toa! Vamos!

— Perdão, Miranda, eu vim a Petrópolis para dormir e não para tomar cerveja! Não preguei olho toda a noite passada, estou a cair de sono!

— Oh, desgraçado! Pois tu queres dormir às oito horas da noite? Bem se vê um poeta lírico degenerado, um trovador que se encheu de filhos e se fez guarda-livros! Anda daí!…

E Gustavo deixou-se levar, quase de rastros, à cervejaria.

Os dois amigos sentaram-se a uma mesa, diante de dois copos de cerveja alemã. O Miranda esvaziou imediatamente um deles, e pediu reforço.

— Era o que faltava! Dormir às oito horas noite! Nada; temos muito o que conversar, meu velho: vou expor-te um plano, um grande plano; quero saber se o aprovas.

— Fala! – disse Gustavo contrariadíssimo, arrependido, mas resignado.

— Pretendo fundar uma folha diária aqui, nesta cidade vermelha!

O Miranda esperava que Gustavo perguntasse: — Vermelha, por que? — O Gustavo calou-se; ele porém, acrescentou, como se o outro houvesse feito a pergunta:

— Pois não reparaste ainda que tudo aqui em Petrópolis é vermelho? As pontes, as grades, as montanhas, as casas, os criados de servir, e até os cabelos dos respectivos indígenas? Olha!

E apontou para o moço que trazia novo reforço de cerveja, um petropolitano ruivo, verdadeiro tipo teutônico.

— Em Petrópolis há um jornal, mas imagina, meu velho, que esse jornal se intitula o Mercantil! Vê que tolice! Um Mercantil nesta cidadezinha de vilegiatura, neste oásis de verão, residência de diplomatas, capitalistas e mulheres elegantes! O Mercantil, ora bolas!

E o Miranda expôs longamente o plano do seu jornal, com grandes gestos, os olhos muito abertos e injetados, as narinas dilatadas, os bigodes cheios de espuma. Seria uma folha artística, parisiense, catita, e sobretudo, escandalosa... não escandalosa como o Corsário, mas como o Gil Blas ou o Eco de Paris... Levantando a pontinha, só a pontinha do véu que esconde um mistério de amor... intrigando a sociedade inteira com uma inicial ou duas linhas de reticências...

Inflamado, o Miranda indicava os lucros prováveis da empresa, os capitalistas com que contava para lançá-la, os redatores e colaboradores que contrataria, e mais isto, e mais aquilo, e mais aquilo outro.

O Gustavo, que por diversas vezes tentava erguer-se, era subjugado pelo Miranda. Ouvia-o com as pálpebras semi cerradas pela fadiga, embrutecido, sem dizer uma frase, nem mesmo uma palavra, porque o futuro redator do Petrópolis — era esse o título do projetado jornal, — com a língua perra, dando murros na mesa, quebrando copos, expectorava abundantes períodos, sem vírgula, sem pausa. Só se calava de vez em quando para beber, ensopando os bigodes em cerveja e lambendo-os em seguida.

A chuva caía agora a cântaros.

Na cervejaria só estavam os dois amigos e o petropolitano teutônico, este encostado ao balcão de braços cruzados, cabeceando. O Miranda continuava com mais entusiasmo a exposição do plano da sua futura empresa, quando o dono da casa, um alemão robusto, irrompeu dos fundos do estabelecimento:

— Endão que é isto, meus zenhores? Já bassa tas tuas horas... não bosso der a minha casa aperda adé alda noide!...

O Miranda tentou recalcitrar, mas o cervejeiro não lhe deu ouvidos. O Gustavo pagou a despesa, e puxou pelo braço o beberrão, que parecia pregado ao banco em que se sentara. Afinal, conseguiu arrastá-lo até a rua. O alemão fechou imediatamente a porta.

O Miranda, mal deu dois passos, perdeu o equilíbrio e caiu redondamente na lama. O Gustavo abaixou-se para erguê-lo, mas o outro deixou-se estar, não fez o mínimo esforço para levantar-se, e resmungou quase ininteligivelmente: — Estou muito bêbado!

Imaginem a situação do guarda-livros: tonto de sono, de madrugada, à chuva, numa rua deserta, numa cidade que ele absolutamente não conhecia, às escuras, porque Petrópolis não tinha iluminação, e vendo aos seus pés um amigo embriagado, um companheiro de “lutas”, que não podia abandonar ali!

Imaginem os trabalhos porque passou o ex-poeta lírico para remover a pesada massa de carne e osso que jazia inerme no chão, e encontrar a casa em que habitava o Miranda. Felizmente este, mesmo bêbado, conseguiu orientá-lo. Mas que trabalho!...

Era perto de quatro horas quando o Gustavo bateu à porta do hotel Bragança. O criado que lhe veio abrir, de vela acesa na mão, teve um sorriso malicioso, e disse:

— Ai! Ai! Estes moços felizes que vêm passar uma noite em Petrópolis e se recolhem ao hotel de madrugada... Ai! Ai!

O Gustavo às sete horas da manhã desceu a serra aborrecido, doente, com uma enxaqueca terrível, estupidificado pelo sono e atribuindo as suas desgraças à tia Pulquéria.

Felizmente a velha deixou-lhe uns cobres que até certo ponto o consolaram daquela malfadada noite em Petrópolis.
Fonte:
Artur de Azevedo. Contos fora de moda. Publicado em 1894.
Disponível em Domínio Público

Dorothy Jansson Moretti (Trovas ao Entardecer) – 2


 A chama em minha alma acesa
que o vento instigava forte,
hoje é lume sem defesa
que um sopro conduz à morte.
= = = = = = = = =

Agrediu nosso romance,
rasgando cartas, retrato,
como se em último lance,
desse termo a um pugilato.
= = = = = = = = =

A loira cor do arrebol
que os campos de trigo enfeita
é mel que emana do sol,
dulcificando a colheita.
= = = = = = = = =

A verdade, transparente,
me diz que não vais voltar,
mas meu coração, carente,
se recusa a acreditar.
= = = = = = = = =

Bendigo o canto das águas
que fiel à correnteza,
arrasta angústias e mágoas
e cicatriza a tristeza.
= = = = = = = = =

Desperdiçou toda a vida
semeando ódio e falsidade;
e hoje, enferma e esquecida.
colhe o fruto da maldade.
= = = = = = = = =

Do bom e do que sofri
no percurso das estradas,
resta a paz que eu adquiri.
O mais... são águas passadas.
= = = = = = = = =

Ela, ansiosa, em sobressalto,
ele a esboçar um poemeto...
E o flerte era o ponto alto
pelas voltas ao coreto.
= = = = = = = = =

É símbolo de confiança
e a tensão nos descontrai,
a mãozinha da criança
aninhada ò mão do pai.
= = = = = = = = =

Levando minhas imagens,
a musa me abandonou,
e inerme, ao léu das voragens,
o meu verso naufragou.
= = = = = = = = =

Leva o barco as nossas mágoas,
sulcando as ondas além,
mas do outro lado das águas,
leva esperanças a alguém.
= = = = = = = = =

Na seara de minha vida,
dos fracassos já refeita,
semeio, e em nova investida,
calma eu aguardo a colheita...
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O amor chega sem aviso,
e em surdina, sem razão,
no mais tranquilo improviso,
se instala em um coração.
= = = = = = = = =

Orgulhoso, o mar gigante
desdenha dos rios a frágua,
sem lembrar, nem por instante,
que surgiu de um olho d'água.
= = = = = = = = =

O sol, silencioso, desce,
e é mais um dia a morrer,
mas do outro lado uma prece
lhe agradece o renascer.
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Pela faixa policroma,
mensageira da bonança,
traz o arco-íris que assoma
o retorno da esperança.
= = = = = = = = =

Poeta, em doce magia,
eleva-se do seu chão,
atrelando a fantasia
às correntes da razão.
= = = = = = = = =

Que alegre repique o sino
trazendo mensagem tal
como a do arauto divino:
"Paz na Terra! Hoje é Nata!!''
= = = = = = = = =

Que ao som dos brindes em festa,
Natal a comemorar,
Jesus encontre uma fresta
e retorne ao seu lugar!
= = = = = = = = =

Reverencia o amigo
que te amparou na subida,
que esteve sempre contigo
nos maus momentos da vida!
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Sempre que a insônia me apanha,
eu busco a voz das estrelas.
Vem-me a paz e... coisa estranha,
eu nem preciso entendê-las.
= = = = = = = = =

Uma flor despetalada,
por acaso ou ironia,
é a imagem desalentada
de um amor em agonia,
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Vendo, em mudo sofrimento,
a vida me desertar,
entendo enfim, porque o vento
se recusa a silenciar.
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Vi no esplendor do arco-íris
desprezo à prece que fiz;
pois cada faixa, ao partires,
foi perdendo o seu matiz.
= = = = = = = = =
Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.