sábado, 29 de dezembro de 2007

Literatura Gótica (Andrea Peixoto)

Expressão que designa um tipo específico de literatura emergente no século XVIII, que tem como fundador Horace Walpole e a sua obra The Castle of Otranto (1764). Caracteriza-se pelos ambientes sombrios, pelo uso do sobrenatural e é geralmente aplicada a um conjunto de romances escritos entre 1764 e 1820. É possível encontrar, ainda no século XX, romances com características deste tipo de literatura.

A palavra gótico tem origem numa tribo germânica, os Godos, que por volta do século II a.C. se tinham instalado nas margens do Báltico. Esta palavra entra no vocabulário significando germânico e mais tarde, com o Renascimento e o Iluminismo, medieval. Gótico seria tudo o que se diz a respeito da Idade Média, vista como a Idade das Trevas e associada à brutalidade, às superstições e ao feudalismo. Assim, e até ao século XVIII, a palavra era usada de forma depreciativa.

Em arquitetura, o estilo gótico surge em meados do século XII e prospera até ao século XVI. Este estilo expressava a essência da fé católica, preocupada em criar um ambiente onde se sentisse a presença de Deus, incorporando algum simbolismo pagão - as gárgulas são um bom exemplo disso. A arte e arquitetura góticas tinham por objetivo criar um efeito sobrenatural e mágico no espectador, evocando uma espécie de terror, vulnerabilidade, temor, o sentir-se à mercê de um poder superior – ponto de vista do mundo medieval - e é isso que é recuperado em muitos dos romances góticos. Desta forma, a ligação entre o termo artístico gótico e o termo literário, encontra-se na ênfase que ambos dão às emoções.

No Século XVIII, e ao mesmo tempo que o Romance se estabelecia como forma literária, houve, por parte de alguns autores, um interesse por tradições mais antigas e orais, pelas sagas e baladas islandesas e pela literatura da Idade Média. Isto seria uma reação contra algumas das ideias do Iluminismo. Muito do imaginário do que futuramente se denominaria literatura gótica, existia já nos elementos sobrenaturais das baladas e nos excessos dos romances de cavalaria medievais. É na primeira metade desse século que aparece também a Graveyard School of Poets. Poetas como Thomas Parnell, Thomas Gray e Edward Young, que escreviam longos poemas meditativos sobre a morte e a imortalidade da alma, normalmente passados em cemitérios, lançaram algumas das sementes do movimento gótico. Os principais objetos poéticos destes autores eram os cemitérios, a noite, as ruínas, as almas penadas, a morte, todos eles futuros temas do romance gótico.

O século XVIII foi o século do revivalismo gótico, primeiro na arquitetura e jardinagem e só depois na literatura. O Romantismo, como movimento literário, dava preferência ao esplendor, ao pitoresco, à felicidade dos tempos passados, ao sublime espetáculo da natureza, à paixão e à beleza extraordinária. Era considerado o oposto do clássico. O gótico distinguia-se pelo seu fascínio pelo horrível, pelo repelente, pelo grotesco e sobrenatural, pelas atmosferas de mistério e suspense, pelo medieval. A junção desses elementos faz com que surja o romance gótico.

O primeiro autor a referir-se ao termo gótico relacionado com literatura foi Addison nos seus ensaios. No entanto, utiliza este termo como sinónimo de bárbaro. A obra de Tobias Smollet Ferdinand Count Phantom (1753) também possui alguns dos elementos góticos. Mas é só a partir da obra The Castle of Otranto. A Story Translated by William Marshal, Gent. From the Original of Onuphrio Muralto (1764), da autoria de Sir Horace Walpole, que a verdadeira literatura de característica gótica entra nos círculos literários. Esta obra, apesar de todas as suas inverosimilhanças, teve uma grande influência para os autores que se seguiram. É a partir dela que se começa a utilizar o terror, o sobrenatural e o macabro como possíveis fontes de ficção. O submundo do inconsciente não entrava, porém, nas criações de Walpole. O uso que faz do termo gótico deve-se à sua preocupação em reconstituir o ambiente medieval - logo longínquo - que permitiria o uso da superstição, de ambientes misteriosos e terríficos.

A escola gótica inglesa demonstrou-se sempre fiel à preocupação didática do século XVIII, que justificava o uso da crueldade e da perversidade como forma de glorificar a virtude - que no final sempre triunfava. Na sua essência, este tipo de romance é, primeiramente, um romance sentimental onde intervém o sobrenatural. O seu esquema fundamental implica uma donzela virtuosa, um herói apaixonado e um vilão que não discerne meios para obter os seus fins. A isto acrescentam-se as forças ocultas do sobrenatural e um ambiente tenebroso. Alguns dos elementos que constituem este romance gótico são, entre outros, os seguintes: a existência de um antigo manuscrito; a magia; os fantasmas ou espectros; a loucura e os sonhos proféticos; um castelo antigo ou em ruínas; as obras de arte, armaduras e espadas ferrugentas; os crimes e imenso sangue; a religião católica; a Itália; e a Natureza como leit-motif.

O romance gótico fica estabelecido, e muitos autores viram no romance de Walpole uma boa fonte de inspiração, como é o caso de Clara Reeves com o romance The Champion of Virtue. A Gothic Story, publicado em 1777, mais conhecido pelo nome com que é reeditado no ano seguinte: The Old English Baron. A Gothic Story.

No século XVIII racionalista, a incongruência do romance gótico encontrava-se na intervenção do sobrenatural. Isto foi resolvido por Ann Radcliffe que, no final dos seus romances, explicava sempre o sobrenatural por elaboradas causas naturais. É com os romances de Radcliffe que o gótico, com os seus elementos de terror e suspense, se assume como uma moda literária. Dos seus seis romances góticos, o mais famoso é, sem dúvida, The Mysteries of Udolpho, de 1794. É também a partir de Ann Radcliffe que as histórias passam a ser góticas, não por serem passadas em tempos distantes e medievais, mas pelo seu cenário. Há uma tentativa de aproximação do romance aos tempos mais próximos.

Se com Radcliffe se concretizou o «terror» gótico, é com Matthew Gregory Lewis e o seu romance The Monk publicado em 1796, que a violência brutal e os pormenores macabros passam para o romance e se concretiza o «horror» gótico. Lewis é o mais alto expoente da influência da escola gótica alemã em Inglaterra. A preocupação com a glória da virtude não existiu nesta escola, deixando espaço para a criação de formas de terror mais violentas por parte de Lewis.

Já no século XIX, o gótico continua a proliferar e os romances góticos, tanto Ingleses como Alemães, continuam a aparecer em abundância, apesar da sua aparente mediocridade. Na América, Charles Brockden Brown é o responsável pela difusão do gótico, embora tenha transposto a acção dos seus romances para palcos mais familiares aos seus leitores. Em vez de castelos em ruína, usa como palco florestas e longínquas localidades, que, no entanto, possuem o mesmo espírito gótico.

A última grande figura do panorama gótico desse século é, indubitavelmente, Charles Robert Maturin que, com o romance Melmoth, the Wanderer (1820), faz com que o gótico atinja alturas nunca antes vistas, em que o medo sai do reino do convencional e desaba sobre a humanidade. O terror inspirado é ao nível do espírito.

É no teatro que o domínio do «negro» entra mais cedo. Na Inglaterra, já Shakespeare utilizara, nas suas peças, uma parte dos elementos que se encontram na escola gótica, como é o caso do fantasma em Hamlet, as bruxas em Macbeth ou o carácter distorcido de Ricardo III na peça com o mesmo nome. Na Alemanha, o movimento do Sturm und Drang - nome de uma peça de Klinger - difunde um novo gênero de drama. A sua influência em Shakespeare e suposta liberdade dos padrões clássicos, eram uma revolta contra as convenções e doutrina do classicismo francês. Os dramas eram de índole nacionalista, caracterizados pelo fervor, entusiasmo, retrato de grandes paixões, fortes experiências emocionais e lutas espirituais que irão influenciar o drama gótico. Todavia, as suas convenções foram estabelecidas pela literatura gótica.

O efeito da popularidade dos romances góticos fez com que as produções dramáticas fossem em grande número. Robert Jephson foi o primeiro dramaturgo gótico: The Count of Narbonne (1781) é uma dramatização de The Castle of Otranto. Jephson simplificou e reduziu muito do romance, omitindo alguns dos elementos sobrenaturais que teriam sido difíceis de colocar em palco. Joanna Baillie distinguiu-se, com a peça De Monfort (1800), pela representação da mulher no gótico. A sua peça é uma crítica aos vários modos convencionais de dramatizar a mulher. É um thriller psicológico, que utiliza cenários, personagens e atmosferas góticas. Porém, a escola gótica tinha-se afundado no absurdo sendo um alvo fácil para a sátira, como o comprova Jane Austen em Northanger Abbey (1817).

O romance gótico sucumbe perante a sua própria extravagância, mas os mecanismos e imaginário góticos continuam a assombrar a ficção de escritores como Edgar Allan Poe e Nathaniel Hawthorne. Há uma incorporação de alguns elementos góticos em obras posteriores e embora possam ser chamadas góticas, não são consideradas como parte desse cânone. Um bom exemplo disso é Dracula de Bram Stoker, publicado em 1897.

No século XX, a literatura gótica encontra ainda alguns seguidores. Na primeira metade do século autores como M. R. James, Algernon Blackwood e Daphne du Maurier são figuras de destaque e após os anos 80, Anne Rice, Poppy Z. Brite e Patrick McGrath continuam a utilizar alguns dos consagrados elementos góticos. Com este novo impulso há um reviver do gótico, por parte de uma geração à procura de identidade, passando, entretanto, a influência da escrita também para a música.


Bib.: Alaister Fowler “The Formation of Genres – Primary, Secondary, and Tertiary Stages” in Kinds of Literature – An Introduction to the Theory of Genres and Modes (1982); Bertrand Evans: Gothic Drama from Walpole to Shelley (1947); David B. Morris “Gothic Sublimity” in New Literary History (1985); David Punter “Gothic Origins: The Haunting of the Text” e “Gothic After/Words: Abuse and the Body Beyond the Law” in Gothic Pathologies: The Text, the Body and the Law (1998); David Punter The Literature of Terror: The Gothic Tradition (1996); Filipe Furtado A Construção do Fantástico na Narrativa (1980); Frederick R. Karl “Gothic, Gothicism, Gothicists”, in A Reader’s Guide to the Development of the English Novel in the 18th Century (1975); H. P. Lovecraft: Supernatural Horror in Literature (1973); Jeremy Hawthorn, “Types of Novel – The Roman Noir / Gothic Novel“, in Studying the Novel: An Introduction (1997); Louis Vax: A Arte e a Literatura Fantásticas (Lisboa: Editora Arcádia, 1972); Maria Leonor Machado de Sousa: A Literatura “Negra” ou de Terror em Portugal (1978); Pam Morris “Women and the Novel – A More Subversive Tradition?” in Dennis Walder (ed.): The Realist Novel (1995); Richard Davenport-Hines Gothic: 400 Hundred Years of Excess, Horror, Evil and Ruin (1998)
Revisão realizada para o blog por José Feldman, do original português de Portugal.

Fonte:
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/literatura_gotica.htm

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Estudos feministas e pós-coloniais (Prof. Dr. Thomas Bonnici)

Seminário Internacional Fazendo o Gênero - Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC), 2006


PARA UMA TIPOLOGIA DA REPRESENTAÇÃO FEMININA NA LITERATURA PÓS-
COLONIAL EM INGLÊS

Thomas Bonnici
Universidade Estadual de Maringá

Sucesso incompleto


No auge do estruturalismo e pós-estruturalismo, as teorias feminista e pós-colonial têm percebido uma sensibilidade mútua. Indaga-se se a representação da mulher nos romances pós-coloniais teve um desenvolvimento significativo de acordo com as teorias veiculadas pelas duas disciplinas. Num planeta em diferentes fases de globalização, é inevitável que a mulher de 2006 seja muito diferente da mulher dos anos 1950 e 1960. Se há diferenças entre os personagens femininos em Things Fall Apart publicado em 1958 e Purple Hibiscus, publicado em 2003, por que muitos estudiosos do feminismo questionam ou problematizam o sucesso alardeado, enquanto outros contabilizam os prejuízos que o feminismo tem proporcionado à família e às mulheres em geral (Greer, 2001; Wolf, 2006).


O objetivo dessa pesquisa é uma tentativa para uma tipologia da representação feminina em romances pós-coloniais, escritos em inglês, através da análise das personagens femininas e suas respostas aos eventos do “Império”. Analisam-se alguns sujeitos femininos em Crossing the River (1993), do caribenho Caryl Phillips, em The Pickup (2001), da sul-africana Nadine Gordimer, em Fruit of the Lemon (1999) e Small Island (2005), da anglo-jamaicana Andrea Levy, em Disgrace (1999), de J.M. Coetzee, e em Purple Hibiscus (2003), da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. A escolha desses romances se justifica especialmente pela forte influência que o “novo imperialismo” tem exercido a partir de 1990 sobre as comunidades pós-coloniais e a subseqüente intervenção do sujeito feminino, representado nos romances, conforme as categorias de gênero e classe.


Personagens femininas da literatura pós-colonial


Destacam-se nesse período o envolvimento mais enérgico do feminismo negro e terceiromundista especialmente nas ex-colônias européias e a introdução de estudos femininos em praticamente todas as instituições de ensino superior e a publicação de obras de autoria feminina. Como havia previsto Fanon (1990), essa geração de autoras e de autores “politicamente correta” surgiu justamente no período em que a independência política não devolveu a liberdade, a igualdade e a libertação prometida porque a burguesia local, assumindo o poder, estancou a situação sociopolítica da maioria da população. Frequentemente, a diáspora, em todos os sentidos, tornou-se a característica transindividual nas ex-colônias durante as últimas décadas do século 20 e do início do século 21, afetando principalmente as mulheres (Spivak, 1996).


A análise dos romances acima mencionados mostrará como as produções literárias são inseridas nas estruturas sociais e históricas, as quais são refletidas na representação dos e na relação entre as personagens. A representação das personagens femininas, as quais tendem à desilusão e à decepção, mostrará ou a superação dos problemas, ou o auto-exílio, o enfrentamento da diáspora transnacional ou a liberdade de situações opressivas familiares. Embora em nível individual a representação do sucesso esteja à vista, a ambigüidade da situação é percebida na situação da maioria que ficou.


A agência da escrava “Martha


A secção “West” em Crossing the River (1994) narra a história de “Martha”, vendida pelo pai na costa africana em 1752, e sua trajetória, como escrava, do leste ao oeste dos Estados Unidos. A recepção deste romance acontece quando os Estados Unidos se consolidam como país hegemônico e quando o Caribe se aprofunda numa economia dependente devido às influências políticas aleijadoras dos países dominantes. A personagem Martha se caracteriza metonimicamente pela agência da contracultura iniciada e aprofundada pelo Negro nos Estados Unidos e no Caribe. Embora na década de 1990 o problema jurídico racial nos Estados Unidos já tivesse sido solucionado, pelo menos teoricamente, persiste ainda o preconceito de que o negro constitui uma “raça” no contexto da sociedade estadunidense ou uma classe de pessoas legitimamente excluídas. Phillips contrapõe-se a esse preconceito através da construção da comunidade e do trabalho a serviço da comunidade. A escrava “Martha”, encarando o ambiente senhoril, eurocêntrico e patriarcal como “inferno”, percebe essa tensão não apenas em nível étnico, mas, em nível classista e de gênero, já que o patriarcalismo é elemento integrante do colonialismo e do imperialismo. Sua autonomia pessoal será garantida numa comunidade negra cuja finalidade não é o ouro, mas a terra onde, através do trabalho, poderia alcançar a verdadeira subjetividade, longe dos brancos.


A história de Martha revela a tensão produzida pelo “ajustamento econômico” no Caribe, exigência do neoliberalismo, mesmo depois da independência política nos anos 1970 e 1980. À notícia da libertação dos escravos em 1865, Martha confessa que pouca diferença isso faria à população negra se persistissem o patriarcalismo e a mentalidade anticlassista e anti-racial. Phillips revela o difícil obstáculo, imposto pela comunidade branca, capitalista e excludente, aos negros nas comunidades-nações do Caribe, para os quais, frequentemente, o único caminho é a diáspora transnacional. Como “Martha” morre a caminho para a Califórnia, o sucesso do indivíduo caribenho em diáspora é ambíguo porque fica sujeito à política neoliberal e colonial.


A negra “Martha” poderia ser tipificada como (1) construtora da nação pelo trabalho, contrapondo-se às idéias de parasitismo e de ociosidade vigentes entre a população branca estadunidense; (2) formadora de inter-relacionamentos, contrapondo-se à globalização da exclusão, à maximização dos lucros, à minimização de atividades de colaboração; (4) sujeito num ambiente de patriarcalismo e de colonialismo contra os quais se rebela, embora seu sucesso seja marcadamente ambíguo.


Desafio para sul-africanas burguesas


Apesar de seu variado engajamento na luta anti-apartheid (Taubman, 1984; Glenn, 1994; Attwell & Harrow, 2000), Nadine Gordimer e J.M. Coetzee, de ascendência européia, concentram sua ficção pós-1990 sobre a situação sul-africana pós-apartheid e refletem sobre a utopia da construção de uma nação baseada nos princípios da reconciliação e da igualdade. Como Julie e Lucy, respectivamente protagonistas em The Pickup e Disgrace, pertencem à burguesia branca, num ambiente pós-apartheid, os dois romances parecem se identificar mais com a elite e a classe média que sofrem violência e sentem-se ameaçados do que com as massas de peões agrícolas e de trabalhadores urbanos.


Todavia, destacam-se e mediação e a interação entre essas forças sociais trans-individuais e as características das personagens. Embora The Pickup reflita a situação urbana do país, especialmente o patriarcalismo / colonialismo de sua família e a tutela do Estado pela população branca, a unheimlichkeit de Julie resulta numa situação própria da população deslocada e sua entrada numa cultura rural, religiosa, patriarcal, caracteristicamente prejudicial à mulher. A interação entre esses pólos antagônicos recria a mulher agente, conciliadora sem submissão, respeitada nas suas ações, e aparentemente reconciliada consigo mesma. A condição nova da África do Sul não satisfaz a Julie, enquanto o deserto, a vida simples e a vivência na comunidade lhe garantem a felicidade almejada. Destacando-se como sujeito, a diaspórica Julie constrói uma comunidade de amigas diante da investida do neoliberalismo na aldeia pobre de Ibrahim.


Semelhante a The Pickup, o romance Disgrace mostra a flexibilização na África do Sul pósapartheid imersa no neoliberalismo e na globalização. Revela também a implosão da desigualdade das classes, refletida principalmente no patriarcalismo e no patronato. Embora estuprada por uma gangue de negros, Lucy reforça a sua subjetividade quando recusa de incriminar os agressores, doa sua terra a Petrus, seu ex-empregado, e entra sob sua proteção. Essa atitude paradoxal é a utopia de uma reconciliação entre as etnias e as classes através de profundas mudanças na identidade, igualdade e cidadania. Parece que a atitude de Lucy indica as condições de reconciliação e de perdão que a África do Sul necessita nesse período pós-apartheid.


Na África do Sul pós-apartheid a representação da mulher branca poderia ser tipificada através do (1) aprofundamento da insatisfação e da ambigüidade, já que sua libertação ficou muito aquém de suas expectativas; (2) deslocamento, interno e externo, que, paradoxalmente lhe dá mais autonomia e agência frente às novas condições sociopolíticas; (3) aguçamento da responsabilidade para reverter, como primícias, através da construção da comunidade e da reparação, a histórica desigualdade e suas injustiças.


O desafio da mulher caribenha na diáspora


Lugar de dupla colonização no século 16 (Ashcroft, 1991) e de indentured labour após a Emancipação no século 19, a maioria dos países caribenhos se tornou politicamente independente somente em meados do século 20. Todavia, apesar de a mulher caribenha ter sido objetificada pelo patriarcalismo-colonialismo europeu e pelo patriarcalismo africano e asiático, a sua agência aumentou consideravelmente após 1980 devido a várias reformas sociais abrangentes. Em contraposição ressalta-se o novo controle que os Estados Unidos exercem na região, após 1950, o qual resultou na diáspora como uma condição transindividual constante no Caribe.


Fruit of the Lemon (1999) e Small Island (2004) são dois romances complementares: Small Island mostra o casal caribenho Hortense Roberts e Gilbert Joseph que emigra para a Inglaterra; Fruit of the Lemon revela as vicissitudes da britânica Faith Jackson, segunda geração caribenha, de volta à Jamaica.


Em Small Island Levy mostra, em retrospectiva, a formação individual de Hortense e Gilbert, pertencentes à classe social baixa, inseridos no regime colonial da Jamaica, sua emigração na Inglaterra e sua estada em Londres onde adotam uma criança negra nascida na Inglaterra. Aos olhos britânicos, a negra Hortense é estereotipada, objetificada racialmente, desqualificada como britânica, incapacitada em sua profissão, hierarquizada e rotulada como cidadã secundária.


No contexto histórico das décadas finais do imperialismo britânico e o início da diáspora caribenha, Hortense expõe o pioneirismo do sujeito colonial rejeitado em “sua própria casa” devido à etnia e à classe. Diante de profundos conflitos sociais a sua agência se sobrepõe quando toma a decisão de continuar vivendo na Inglaterra e adotar uma criança negra apesar do racismo e da ideologia classista vividos como mulher.


Em Fruit of the Lemon, a condição de nascida e criada na Inglaterra, mas de pais jamaicanos, não coloca Faith Jackson numa situação melhor daquela vivida por Hortense. No final da década de 1970, Faith Jackson negocia sua condição de ser negra no emprego e no ambiente multicultural e racista britânico. Vivendo uma crise de identidade, ela viaja para a Jamaica onde, através das histórias orais de parentes, se inteira das intricadas redes de parentesco construídas pelos colonizadores e colonizados no Caribe e, consequentemente, ela assume uma nova modalidade de ser. A experiência de Faith na Inglaterra e na Jamaica parece ser estritamente pessoal, mas o narrador constrói a condição da mulher diaspórica como o produto de profundas tensões sociais. Em Fruit of the Lemon, portanto, a convivência pacífica, o multiculturalismo, a suposta fácil ascensão social do migrante e o respeito entre britânicos nativos e pessoas oriundas das ex-colônias na sociedade britânica são denunciados como um mito.


A condição feminina em Small Island e Fruit of the Lemon mostra que (1) o progresso material da sociedade britânica não é sinônimo de diminuição de tensão inter-racial, especialmente quando o sujeito é mulher; (2) a agência feminina é um fato certo, apesar de tensões contra o patriarcalismo na família e no emprego num ambiente globalizado de exclusão e de valores não-comunitários; (3) a voz da mulher na sociedade tecnológica tem menos autoridade do que na comunidade do Terceiro Mundo; (4) a construção da comunidade através da tolerância e do multiculturalismo é caracteristicamente feminina e se contrapõe à competitividade e à exclusão dos países ricos.

Repressão e revide na Nigéria

Em Purple Hibiscus (2003) Adichie coloca a protagonista Kambili num ambiente de patriarcalismo, fundamentalismo religioso e resistência feminina, silenciosa e eficiente, na Nigéria infestada pela repressão. Essa situação revela as contradições individuais e as forças sociais transindividuais operando na construção da sociedade e as tensões inerentes a essas forças. Percebe-se o patriarcalismo e o neocolonialismo da “elite” da sociedade nigeriana que utiliza o poder em benefício próprio e não para o desenvolvimento cultural e tecnológico do povo da ex-colônia. Todavia, o silêncio de Kambili e o assassinato de Eugene pela esposa são revides preferíveis à tirania patriarcal


A condição feminina em Purple Hibiscus mostra (1) a íntima relação entre o patriarcalismo e a neocolonialismo formada pela burguesia nacional; (2) a opressão feminina naturalizada, sem nenhuma necessidade de explicações; (3) a liberdade física feminina como camuflagem para a carência da liberdade verdadeira; (4) os obstáculos profundos que as mulheres nas comunidades pós-coloniais encontram para conquistar a agência, apesar de sua participação nas lutas anticoloniais ou pela igualdade de gênero; (5) a reação feminina ambígua devido a sua semelhança à opressão do colonizador.

Caminhando ainda


O descompasso existente entre o conceito de libertação e o grau de igualdade e de heterogeneidade que se encontra em exercício no dia-a-dia da vida das mulheres nas últimas décadas do século 20 e no início do século 21 explica o senso de sua frustração nas sociedades pós-coloniais ou aquelas que, embora possuidoras de bens materiais, ainda estão hierarquizadas e fossilizadas em classes sociais e grupos étnicos excludentes, ou ainda quando a própria mulher, branca, cristã, financeiramente estável, carece consciência de que ela não representa todas as mulheres do mundo (Greer, 2001, p. 10-11).


Ademais, parece que o novo tipo de colonialismo pós-1990 é mais abrangente e mais corrosivo para as sociedades, apesar de estas são politicamente independentes e possuem as benesses da industrialização e uma extensa rede de comunicação. Embora não se possa dizer que os romances escolhidos revelem absolutamente a complexa tipologia da representação feminina pós-colonial, acredita-se que possam ser indicadores para retratar a condição feminina na literatura oriunda das ex-colônias britânicas. Em primeiro lugar, parece que os autores pós-coloniais preferem representar a mulher da classe média alta (Lucy, Julie, Kambili) e baixa (Hortense, Faith) à mulher estritamente operária (Martha), independente de sua opção sexual, profissão, etnia ou cor. Em qualquer status social a mulher enfrenta a ideologia patriarcal/colonial, representada ou por personagens concretas (pai, marido, empregadores, professores) ou pelo sistema capitalista e suas conseqüências (o racismo, os resquícios de apartheid, a exclusão, a subalternação). O deslocamento, característico da contemporaneidade, pode ser indicativo de frustração e insatisfação como também de busca para a ascensão social. Nesse último caso, a negra (Hortense, Faith) enfrenta problemas de emprego, moradia, aceitação social, competitividade, e de exclusão por causa de sua etnia e proveniência colonial. Por outro lado, apesar de sua condição social e étnica, Julie se integra na comunidade feminina árabe e encontra sua realização através da mística do deserto (realização pessoal) e do soerguimento educacional das mulheres árabes (realização comunitária).


A classe operária não se destaca nesses romances. A única exceção é a escrava Martha, consciente de que está construindo um novo tipo de sociedade baseada na cooperação, inclusão e trabalho enquanto rechaça e supera a sociedade excludente e em constante busca de lucro. O fato que só Martha retrata a condição operária pode ser indicativo da teoria de que a literatura é algo específico do capitalismo e baseia-se sobre a falsa supressão das condições materiais e ideológicas que a moldam.


Todavia, verifica-se que as personagens mostram um alto grau de agência apesar dos grandes obstáculos encontrados. A cor, a etnia, a classe, a religião não constituem mais impedimentos para elas se afirmarem como agentes autônomos e independentes, opondo-se às variadas restrições do colonialismo e do capitalismo. Apesar disso, o esforço e a luta para conseguir a agência não são iguais a todas, admitindo gradações: Hortense e Faith enfrentam o escárnio do racismo numa sociedade que finge ser democrática e inclusiva; Lucy enfrenta a inversão sociopolítica pós-apartheid pela escolha da reconciliação, do perdão e da auto-imolação; Kambili se opõe ao sadismo do pai e do regime ditatorial através da resignação ao assassinato.


O projeto utópico da construção da comunidade ainda está inacabado, muito embora vários romances vislumbrassem tal procedimento e conduto. Transpondo o olhar além do horizonte, Martha visualiza um mundo de reciprocidade, contrastando o “inferno” que o homem branco construiu no Novo Mundo; contra os horrores do ódio e da segregação, Lucy imagina na África do Sul uma comunidade heterogênea e reconciliada consigo mesma após séculos de hierarquização e binarismo; Hortense e Faith enfrentam a hostilidade britânica contra imigrantes negros e impõem sua cidadania. O sucesso preconizado pelas feministas é ambíguo, mas as respostas de tolerância, multiculturalismo, reciprocidade e agência contra o imperialismo e a dominação, as quais permeiam a literatura pós-colonial escrita em inglês, se encontram em toda parte. Talvez o horizonte da obra literária pós-colonial, especialmente aquela de autoria feminina e/ou em que a mulher é protagonista verifica-se no exato lugar descrito por Roy (2003, p. 112): “[A literatura] não deve apenas se opor ao Império, mas cercá-lo, sufocá-lo, envergonhá-lo, expô-lo ao ridículo. Com nossa arte, nossa música, nossa literatura, nossa teimosia, nossa exuberância, nossa alegria, nossa absoluta persistência e nossa capacidade de contar nossas próprias histórias. Histórias que são diferentes daquelas que eles tentam nos fazer engolir para nelas acreditar”.


Referências bibliográficas


ADICHIE, C.N. Purple Hibiscus. New York: Random House, 2003.
ASHCROFT, B; GRIFFITHS, G.; TIFFIN, H. The Empire Writes Back: Theory and Practice in
Post-colonial Literatures. London: Routledge, 1991.
ATTWELL, D.; HARLOW, B. South African Fiction after Apartheid. Modern Fiction Studies, v.
46, n. 1, 2000, p. 1-12.
COETZEE, J.M. Disgrace. London: Vintage, 2000.
FANON, F. The Wretched of the Earth. Harmondsworth: Penguin, 1990.
GLENN, I. Nadine Gordimer, J.M. Coetzee, and the Politics of Interpretation. The South Atlantic
Quarterly, v. 93, n. 1, 1994, p. 11-32.
GORDIMER, N. The Pickup. Farrar, Straus & Giroux, 2001.
GREER, G. A mulher inteira. Rio de Janeiro: Record, 2001.
LEVY, A. Fruit of the Lemon. London: Review, 1999.
LEVY, A. Small Island. New York: Picador, 2005.
PHILLIPS, C. Crossing the River. New York: Vintage, 1994.
ROY, A. War Talk. Boston: South End, 2003.
SPIVAK, G. Diasporas old and new. Textual Practice, v. 10, n. 2, 1996, p. 245-269.
TAUBMAN, R. Doris Lessing and Nadine Gordimer. In FORD, B. (Ed.). The New Pelican Guide
to English Literature: The Present, v. 8, 1984, p. 233-244.
WOLF, A. Working Girls. Prospect. April 2006.

Fonte:
http://www.fazendogenero7.ufsc.br/st_10_B.html

Ciência e Ficção: o futuro antecipado (Rodrigo Cunha)

Diversos cientistas de hoje, para justificar o financiamento às suas pesquisas, fazem prognósticos dos possíveis benefícios que elas trarão à humanidade no futuro. Mas muitos avanços da ciência foram antes previstos em obras de ficção. “A capacidade do futuro de ocupar a imaginação tem sido uma característica permanente da condição humana, expressa nos mitos, em desenhos, rituais, produções literárias e filmes de ficção científica”, diz Alice Fátima Martins, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que pesquisou em seu doutorado o cinema de ficção científica como expressão do imaginário social sobre o futuro. Segundo ela, um dos elementos que viabiliza esse imaginário social é o desejo de desbravamento e conquista de territórios desconhecidos, que também se expressa na literatura antes mesmo do surgimento do cinema.

O escritor francês Julio Verne, por exemplo, em seu livro De la terre à la lune (Viagem à lua), de 1865, previu não apenas que o homem conseguiria chegar ao satélite da Terra, mas também qual seria a velocidade necessária para essa jornada (11 km/s). Um editorial do The New York Times publicado um dia após o lançamento da espaçonave norte-americana Apollo 11 para a Lua, em 1969, reconhece que Verne estava certo ao afirmar que um foguete pode funcionar também no vácuo e não somente na atmosfera. Em Vinte mil léguas submarinas, de 1869, Verne também previu que os submarinos do futuro utilizariam um combustível muito eficiente e praticamente inesgotável. Os submarinos já existiam desde 1776, quando um aparato de madeira batizado de Turtle foi utilizado na guerra da independência dos Estados Unidos. Mas foi apenas em 1954 que submergiu o primeiro submarino da história movido por propulsão nuclear, batizado pelos norte-americanos de Nautilus, em homenagem ao veículo comandado pelo personagem capitão Nemo em Vinte mil léguas submarinas.

De acordo com Paul Saffo, do Institute of the Future, a exemplo dos construtores do submarino nuclear – leitores confessos de Julio Verne –, os cientistas e engenheiros de hoje responsáveis pela tecnologia que será utilizada daqui a vinte anos se inspiram lendo os livros de ficção científica mais populares do momento. E alguns pesquisadores, além de suas contribuições para a ciência, também são eles próprios consagrados autores de ficção científica. É o caso do britânico Arthur Clarke, autor de livros como a série Odisséia no espaço, que deu origem ao clássico filme 2001, de 1968, cujo roteiro ele assina junto com o diretor Stanley Kubrick. Desde 1951, Clarke publica livros de ficção com a temática do espaço, mas seis anos antes, ele já havia dado uma importante contribuição para as pesquisas espaciais: em artigo científico publicado no periódico Wireless World, Clarke – que era membro da Sociedade Interplanetária Britânica – propôs o conceito de satélites geoestacionários como ideal para as telecomunicações. Em 1957, os russos lançam na órbita da Terra o Sputnik, primeiro satélite de comunicação da história.

Para Ieda Tucherman, que pesquisa na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a relação entre as novas tecnologias e a ficção científica, esta última seria descendente do imaginário técnico-científico da modernidade e teria sido um fértil celeiro de existências lógicas que se tornaram possíveis. Hoje, porém, os especialistas de áreas envolvendo tecnologia de ponta fazem previsões para um futuro próximo que para o leigo – ou cético – podem parecer ficção. “As declarações proferidas por cientistas dessas áreas de ponta das biotecnologias e da informática são muito mais ousadas do que as fantasias apresentadas pela ficção-científica, literária ou cinematográfica”, afirma Tucherman. “Restou à ficção a função de expressar a inquietação humana diante das novas possibilidades”, completa.

Em Digital people – from bionic humans to androids, publicado este ano, o físico norte-americano Sidney Perkowitz elenca aspectos dos robôs que têm como objetivo atingir diferentes níveis da capacidade humana. Nesse livro, o autor também apresenta um conjunto de microprocessadores e softwares como o equivalente ao cérebro humano em seres artificiais. O êxito de projetos que busquem essa equivalência, no entanto, é colocado em dúvida por pesquisadores da área de informática. “Será que os sistemas de software são confiáveis o suficiente para que os robôs e outros seres artificiais façam apenas aquilo para o que foram projetados?”, questiona Virgílio Fernandes Almeida, chefe do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais. “A experiência com os complexos sistemas de software hoje existentes não nos permite ter certeza das respostas a essa questão”, avalia.

Dúvidas como essa aparecem em filmes como Inteligência artificial, de Steven Spielberg e Stanley Kubrick, de 2001. Nessa história, um casal com um filho praticamente desenganado – que permanece congelado pelo método criogênico – resolve acolher em casa a última novidade produzida pela Cybertronics Manufacturing: um meca-filho, robô idêntico a uma criança, programado para amar seus pais adotivos assim que eles lêem sete palavras previamente definidas pela empresa que o construiu. Quando o filho verdadeiro do casal supera as previsões médicas e se recupera, passa a disputar com o meca-filho o amor da mãe, que após diversos incidentes entre os dois, decide devolver o robô adotado para a Cybertronics. A empresa só o receberia de volta na condição de destruí-lo. Com pena da criatura que chegou a acolher como filho, a mãe adotiva resolve abandoná-lo em uma floresta. Daí em diante, a exemplo do personagem infantil Pinóquio, o meca-filho passa a tentar descobrir de forma incansável como fazer para se tornar humano.

A clássica história infantil As aventuras de Pinóquio, sobre o boneco de madeira que ganha vida após ser construído pelo mestre Gepeto, foi publicada pelo italiano Carlo Collodi em 1893. Quatro séculos antes, seu conterrâneo Leonardo Da Vinci, que viveu entre 1452 e 1519, já desenvolvia pesquisas sobre a anatomia humana que ajudariam na criação de articulações mecânicas. A partir dos estudos de Da Vinci, surgiram bonecos que moviam as mãos, os olhos e as pernas e conseguiam realizar ações simples como escrever ou tocar certos instrumentos musicais. A idéia de bonecos mecânicos de funcionamento previamente programado – como o robô do filme Inteligência artificial – só se desenvolveria após 1940, quando George Stibitz, da empresa Bell Labs, dos Estados Unidos, apresentou ao mundo o primeiro computador digital da história.

Leis fundamentais da robótica

Um robô nunca deve atacar a um ser humano, nem omitir socorro a um ser humano em perigo.
Um robô deve sempre obedecer às ordens dadas pelos seres humanos (a não ser que esta lei entre em conflito com a primeira).
Um robô nunca deve se auto-destruir e destruir a um dos seus (a não ser que esta lei entre em conflito com as duas primeiras).

O termo “robô” surgiu pela primeira vez em 1920, na peça do dramaturgo checo Karel Capek intitulada RUR (Rossum’s Universal Robots). Em 1926, o filme Metrópolis, de Fritz Lang, já apresentava um personagem com características de humanóide, meio máquina e meio mulher. Mas a robótica–como área de investigação científica–nasce de fato após o advento do computador, curiosamente, a partir da obra de um ficcionista (e também bioquímico): o russo naturalizado americano Isaac Asimov. O termo robótica aparece primeiro em uma pequena história sua, de 1942, intitulada Runaround. Em 1950, Asimov publica Eu, robô – cuja adaptação está atualmente em cartaz nos cinemas – uma coletânea de contos que mostra a evolução dos seres autômatos (os robôs), na qual ele postula as três leis fundamentais da robótica.

Essas leis propostas por Asimov sintetizam algumas inquietações humanas apontadas por Tucherman (UFRJ), expressas na ficção diante de novas possibilidades científicas e tecnológicas que não se restringem à área da robótica. No romance Frankenstein, publicado pela inglesa Mary Shelley em 1816, o personagem criado a partir da união de partes humanas retiradas de diversos corpos,acaba se voltando contra seu criador. Em A ilha do Dr. Moreau, de 1896,o também inglês H.G.Wells conta a história de um cientista que faz experimentos de hibridização de espécies animais com humanos, e as criaturas bestiais resultantes se revelam incontroláveis e também destroem quem as criou.Mais recentemente, inquietações como essa também aparecem em filmes como Blade Runner, de Ridley Scott, de 1982, onde andróides projetados por uma empresa de biotecnologia lutam para prolongar a sua vida, previamente programada para se extinguir em poucos anos; o líder dos andróides, diante da impossibilidade de conseguir seu objetivo, assassina o dono da empresa que os projetou. E no campo da informática, as preocupações de Asimov são centrais no filme 2001, uma odisséia no espaço, de Kubrik e Clarke: o supercomputador que comanda a espaçonave que realiza a odisséia acaba adquirindo vontade própria e passa a desobedecer os comandos humanos.

Rodney Brooks,do Laboratório de Inteligência Artificial do MIT,afirma que em 20 ou 30 anos,teremos capacidade tecnológica para construir um robô com a mesma capacidade de computação do cérebro humano, mas garante que a maior parte dos robôs que iremos construir não terá vontade própria. Parte da complexa capacidade de processamento do cérebro humano, no entanto,já foi igualada–e talvez até superada–por máquinas feitas pelo próprio homem. Em maio de 1997,o supercomputador Deep Blue da IBM,disputou com o campeão mundial Gari Kasparov uma série de seis partidas de xadrez. Kasparov venceu apenas a primeira, e houve três empates entre as duas vitórias do Deep Blue sobre o enxadrista russo na segunda e na sexta partida.

A ciência – esteja ela ancorada em afirmações ousadas, como a de Perkowitz, autor de Digital People, ou prudentes, como a de Brooks, do MIT – ainda não produziu máquinas ou seres que fugissem ao controle de seus criadores da forma como a ficção apresenta. Mas outras inquietações apresentadas na ficção acerca do futuro que não gostaríamos de ter suscitaram discussões que ajudam a mudar o curso da história. “Blade Runner, dentre outras questões relevantes que trata, mapeia inquietações e desdobramentos em termos das relações sociais a partir da queda vertiginosa da qualidade de vida em meio ao caos em que se tornaram as megalópolis”, exemplifica Alice Fátima Martins, da UFG. Segundo a pesquisadora, no filme de Ridley Scott já não há o entusiasmo com a fumaça das chaminés, que no cinema do início do século XX representava o prenúncio do progresso e a conquista do futuro.

Inteligência Artificial, de Spielberg e Kubrick, também vai além da questão filosófica acerca de seres previamente programados e reproduzidos em série: cidades costeiras como Nova Iorque, no futuro em que se passa o filme, estão totalmente alagadas em função do derretimento das calotas polares, um alerta para as discussões políticas envolvendo mudanças climáticas e aquecimento global (leia edição da ComCiência dedicada ao assunto). E obras clássicas da literatura, como Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, continuam sendo referência no debate sobre o risco de se ter uma sociedade totalitária – seja no futuro ou no presente.

Desde que o inglês H.G.Wells publicou o livro A máquina do tempo, em 1895, esse tema voltou a aparecer em diversas obras de ficção, incluindo filmes despretensiosos como De volta para o futuro (1989), de Robert Zemeckis, ou mais elaborados, como Os doze macacos (1995), de Terry Gilliam. E a partir da teoria da relatividade, elaborada por Einstein no início do século XX, a ciência também passou a encarar o tema com seriedade. Hoje já se sabe que um corpo que se move a uma velocidade próxima à da luz, como os raios cósmicos, pode atravessar uma galáxia em poucos segundos, embora para um observador terrestre essa travessia pareça levar milhares de anos.
Fonte:

O Fantastico e a Fantasia (Jefferson Vasques Rodrigues)

O FANTÁSTICO E A FANTASIA
Jefferson Vasques Rodrigues

“O abismo sonha um grito nos olhos de quem o sente”.


O mundo real deve ser entendido, de um modo geral, como aquele conteúdo da consciência constituído, por um lado, pela imagem do mundo mediada pela percepção (objeto), e do outro, pelo conteúdo dessa imagem mediado pelo sentimento e pensamento inconscientes (“ímago”). Assim, as duas “realidades” que se apresentam, o mundo da consciência e o mundo do inconsciente, não disputam a supremacia, mas tornam-se mutuamente relativos. Ninguém se oporá com obstinação a idéia de que a realidade do inconsciente seja relativa; mas que a realidade do mundo consciente seja posta em dúvida, eis o que não será tolerado com a mesma facilidade. No entanto, as duas “realidades” são vivências psíquicas.

Não há realidade absoluta, de um ponto de vista crítico. Conhecemos o mundo externo e interno, consciente e inconsciente, através das imagens mentais, como observado pelo psiquiatra suíço, Carl Jung: “Longe, portanto, de ser um mundo material, esta realidade é um mundo psíquico que só nos permite tirar conclusões indiretas e hipotéticas acerca da verdadeira natureza da matéria. Só o psíquico possui uma realidade imediata, que abrange todas as formas, inclusive às idéias e pensamentos “irreais”, que não se referem a nada de exterior”.

Quando se torna ambígua a distinção da origem de uma imagem mental, se essa provém do mundo externo (percepções) ou interno (sensações, imaginação), surge o estado de hesitação e simultaneidade pelo qual se caracteriza, em termos psicológicos, a fantasia. Essa impossibilidade de distinção pode ocorrer em estados alterados de consciência ou então pela projeção: um complexo afetivo (libido) associado a um objeto invade a estrutura consciente devido a repressão unilateral (a paixão é um exemplo).

Essa hesitação real é a mesma hesitação representada para o leitor num texto fantástico, hesitação que Todorov explicitou como característica marcante da literatura desse gênero. A oscilação entre uma explicação racional e conhecida (consciente) e a aceitação irracional de um evento estranho às leis da natureza (inconsciente) acaba promovendo a simultaneidade desses aspectos. Além disso, para que exista a hesitação é necessário que o leitor “participe” do texto e ao mesmo tempo perceba seu papel de receptor. Portanto o leitor não poderia interpretar o texto alegoricamente, o que o colocaria muito distante da narrativa, nem poeticamente, o que impediria o distanciamento necessário. Essa forma de participação coincide com a maneira ideal de compreensão das fantasias, descrita pela psicologia analítica, nas palavras de seu fundador, Jung: “...porque para ser vivida de um modo completo a fantasia exige, não só a visão passiva, mas a participação ativa do sujeito”. Só assim a fantasia pode escapar à sina de se tornar um movimento esdrúxulo da imaginação (rejeitado) ou de ser analisada ao pé da letra, concretamente, o que deixaria de lado seu conteúdo simbólico (não se entenda símbolo como alegoria e sim como “representação” de aspectos in/conscientes).

Todorov esclarece que em muitos casos a história fantástica, que nasce da coexistência de dois universos, acaba se dissolvendo em um dos pólos dessa tensão, característica que esse crítico utilizou para sua classificação. O texto é dito fantástico-estranho quando os acontecimentos insólitos são explicados de forma racional e essa explicação é aceita pelos personagens no mundo ficcional. Se os acontecimentos sobrenaturais afirmam-se como inexplicáveis caracteriza-se o texto como fantástico-maravilhoso.
Para Todorov, a função do texto fantástico é “subtrair o texto à ação da lei e assim transgredi-la”. Com isso seria possível burlar a censura social permitindo a incursão por temas tabus para a coletividade como incesto, amor homossexual, necrofilia, sensualidade excessiva, doenças mentais e vícios. Já para a narrativa, a emersão de eventos sobrenaturais, movimentos extraordinários, permite a saída de um estado de equilíbrio ou desequilíbrio constantes dinamizando assim a realidade que até o momento se encontrava estabilizada. Verifica-se, aqui também, semelhança com as funções da fantasia: apresenta ao seu receptor-emissor imagens que procuram romper uma fixação consciente (lei) procurando dar fluxo a libido estagnada trazendo assim, aos olhos da consciência, uma outra face da realidade psíquica. Como já mencionado anteriormente, isso apenas é possível, segundo a psicologia analítica, se o emissor-receptor encarar a fantasia sem desprezo (distanciamento) ou entrega (alucinação). Deve haver a simultaneidade de estados. Posição equivalente a que Todorov defende com relação ao leitor da literatura fantástica.

É interessante notar a evolução dos textos fantásticos, a partir dos textos homéricos e lendas antigas, verificando uma mudança importante que só veio a se cristalizar a partir do século XVIII : a conscientização da situação fantástica pelo próprio narrador, indicando um maior aprofundamento no entendimento da realidade, pelo menos da realidade ficcional, como algo mutável e suscetível. E já no século XX, a literatura fantástica passa a assumir o fato insólito, típico desse gênero, como um acontecimento normal dentro da narrativa, não sendo necessária a torrente de explicações racionais que o texto fantástico, da época do iluminismo, exigia. Pode-se fazer um paralelo entre o processo de conscientização da ir/realidade do mundo ficcional ao processo de conscientização da ir/realidade do mundo real (psicológico).

Referindo-se a esse último, Jung disse: “Quanto mais limitado for o campo consciente de um individuo, tanto maior será o número de conteúdos psíquicos (“imagos”) que se manifestam exteriormente, quer como espíritos, quer como poderes mágicos projetados sobre vivos (magos, bruxas). Num estádio superior de desenvolvimento, quando já existem representações da alma, nem todas as imagens continuam projetadas (quando a projeção continua, até mesmo as árvores e as pedras dialogam); nesse novo estádio, um complexo ou outro pode aproximar-se da consciência , a ponto de não ser percebido como algo estranho, mas sim como algo próprio.” - é o que vem acontecendo ao longo do desenvolvimento da literatura fantástica -

“Tal sentimento, no entanto, não chega a absorver o referido complexo como um conteúdo subjetivo da consciência. Ele fica, de certo modo, entre o consciente e o inconsciente, numa zona crepuscular: por um lado, pertence ao sujeito da consciência, mas por outro lhe é estranho, mantendo uma existência autônoma que o opõe ao consciente. De qualquer forma, não obedece necessariamente a intenção subjetiva, mas é superior a esta, podendo constituir um manancial de inspiração, de advertência, ou de informação”.


Verifica-se portanto o espelhamento entre a realidade psíquica e a realidade ficcional, ambas questionando a realidade dos padrões estabelecidos exemplificando que esses mesmos padrões, sejam ficcionais ou “reais”, não podem simplesmente ser encarados como sinais que ocultam algo de geralmente conhecido, mas sim como símbolos verdadeiros: tentativa de elucidar mediante a analogia alguma coisa ainda totalmente desconhecida ou em processo. A literatura, como as artes, representa esse processo de descoberta e a literatura fantástica representa a própria consciência dessa processo, questionando portanto a própria literatura diante da realidade.

Inicialmente apresentando o desconhecido como soturno e demoníaco, vide o “ O Corvo” de Poe, o Fantástico, com o passar do tempo e o fluir da libido inconsciente, vem se tornando natural e presente como em “Cem anos de Solidão”.


Bibliografia:
POE, Edgard “O Corvo – A Filosofia da Composição”, São Paulo, Editora Expressão, 1986
JUNG, Carl ”A Natureza da Psique”, Rio de Janeiro,Vozes, 1997
JUNG, Carl “O Eu e o Inconsciente”, Rio de Janeiro, Vozes, 1997
MARQUES, Gabriel “Cem Anos de Solidão”
RODRIGUES, Selma “O Fantástico”, São Paulo, ed. Ática, 1988
TODOROV, T. “As Estruturas Narrativas”, São Paulo, ed. Perspectiva, 1979
Fonte:

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Literatura Colonial e Pós-Colonial (Tereza Pinto Coelho)

A literatura colonial, identificada com um conjunto de textos que inclui romance, poesia, narrativas de viagem, relatos de missionários, diários, livros de notas e outros que propagandearam a ideia de império sobretudo a partir do século XIX , tem origem em textos muito anteriores aos quais vai beber metáforas e imagens, como as descrições de selvageria de Heródoto, os relatos de Marco Polo, Mandeville ou Haklyut. Seria, contudo, na virada do século, com a expansão colonial como a Inglaterra e a França, que iria desenvolver-se. A África, continente redescoberto pelos europeus nos anos 80 do século passado, surge então como cenário de inúmeros textos de autores como H. Rider Haggard, John Buchan, Mary Kingsley, Florence Dixie ou Joseph Conrad em Inglaterra e Pierre Loti, Paul Vigne D’Octon ou Paul Bonnetain em França. Também o império britânico na Índia é tema de Rudyard Kipling, E. M. Forster, G. A. Henty ou Alice Perrin.

Quanto à literatura pós-colonial considera-se, em geral, que tem início após a II Guerra Mundial sendo definida por Elleke Boehmer como “a literature which identified itself with the broad movement of resistence to, and transformation of, colonial societies.” (Colonial & Postcolonial Literature. Migrant Metaphors, Oxford University Press, 1995, p. 184). Entre as duas barreiras temporais citadas encontra-se todo um conjunto de textos que registram diferentes atitudes face ao império e que não poderão enquadrar-se numa designação única, já que, segundo a mesma autora, “initiatives which we now call postcolonial first began to emerge before,the time of formal independence, and therefore formed part of colonial literature” (Op.cit., p.5). Na verdade, já em Conrad e Forster se registram atitudes de resistência ao poder colonial, as quais iriam também encontrar expressão nos anos 20 e 30 nas obras de autores como Léopold Sédar Senghor (Senegal), Aimé Cesaire (Martinica) ou Bernard Binlin Dadié (Costa do Marfim). Vivendo em Paris, estes escritores tornaram positiva a imagem de “negritude”, anteriormente identificada como negativa e inferior pelo colonizador, passando a celebrá-la enquanto símbolo do institivo e misterioso da África negra.

É, porém, o movimento anti-colonial que se sucede a 1945 que traz consigo a literatura pós-colonial de que são exemplos autores como: Chinua Achebe, George Lamming, Ana Ata Aidoo, Alice Munro, Margaret Atwood, Patrick White (Prémio Nobel, 1973), Wole Soyinka (Prémio Nobel, 1986), J. M. Coetzee, Peter Carey ou Nadine Gordimer (Prémio Nobel, 1992), apenas para citar alguns.

É de se salientar que a partir dos anos 70, grupos cujas obras não eram até então consideradas, passam a figurar na literatura pós-colonial. São eles as mulheres (Am Ata Aidoo, Bessie Head, Keri Hulme, Michelle Cliff, Erna Brodber) e os povos indígenas (p. ex., os australianos aborígenes Sally Morgan e Mudrooroo ou os neozelandeses maori Witi Ilhimaera e Patricia Grace).

A eles se junta um terceiro grupo, os chamados migrant writers. Por diferentes razões, que vão desde a opção profissional ao exílio político, autores de nações outrora colonizadas passam a residir em Boston, Nova Iorque, Londres e Paris. É o caso de Salmom Rushdie, Ben Orki ou V. S. Naipul.

É também nos anos 70 que tem início a crítica literária pós-colonial, nomeadamente em 1978 com a publicação de Orientalism de Edward Said também ele migrant writer nos EUA e também ele, como Rushdie, com as suas obras atualmente banidas na Palestina. Desde então, a obra de Said tem dado origem a uma vasta bibliografia de análise crítica às suas teorias, bibliografia que muito tem influenciado as várias “leituras” de que têm sido objecto os textos coloniais e pós-coloniais. O que é sobretudo posto em causa na perspectiva “orientalista” de Said é o fato de este dividir o mundo em dois - o do colonizado - afirmando que o Orientalismo, que não existe na realidade sendo antes fabricado pelo Ocidente, constituir uma afirmação de poder por parte do colonizador ocidental face ao colonizado, sendo o primeiro sempre dominante e privilegiado do ponto de vista discursivo, social e político. Afirmações como “Orientalism depends for its stategy on this flexible positional superiority, which puts the Westerner in a whole series of possible relationships with Orient without ever losing him the relative upper hand” (Orientalism, Penguinm 1985, p. 7) têm sido postas em causa por vários autores. De uma forma ou de outra, todos apontam o reducionismo da metodologia de Said. Como afirma Bart Moore-Gilbert: “What unites such critics is a perception that said unifies homogenises the identity and operationality of colonial discourse to an unwarranted degree”(“Writing India, Reorienting Colonial Discourse Analyses”, in Writin India 1757-1990. The Literature of British India, 1996, p. 5).

Entre os críticos de Said destacam-se Homi Bhabha e Gayatri Chakravorty Spivak. Partindo da psicanálise, Bhabha mostra como as relações entre colonizadores e colonizados não são homogêneas, mas marcadas pela “ambivalência” (palavra-chave retirada da psicanálise) pondo em relevo a esfera insconsciente das relações coloniais e mostrando de que forma o sujeito colonial se converte em objeto de fantasia e desejo por parte do colonizador. Quanto a Spivak, põe em relevo a(s) história(s) do(s) “subalterno”(s), conceito que deve ser entendido como a diversidade dos grupos dominados e explorados silenciados pelo ponto de vista hegemônico da historiografia académica. Assim, propõe-se dar voz aos excluídos, nomeadamente às mulheres nativas subalternas, cujo ponto de vista nunca é ouvido, vítimas que são da visão de superioridade do feminismo ocidental que a autora considera sinônimo dos comportamentos do colonizador face ao colonizado e, portanto, mera reprodução dos axiomas do imperialismo.

Outros autores têm criticado Said e proposto novas formas de abordagem teórica sem, contudo, note-se, rejeitarem na íntegra o modelo orientalista. Porém, p. ex., Robert Young não deixa de apontar outros caminhos fazendo notar que não existe um modelo metodólogico para a análise de impérios como o português ou o espanhol ou para espaços geográficos que não a Índia, nomeadamente a África.

Nos anos 90 as literaturas pós-coloniais encontram-se, tal como a metodologia crítica, numa fase de proliferação e mudança. Parece-nos que uma perspectiva comparatista poderia ajudar, já que é a que passou a ser adotada para a própria História do colonialismo, como significativamente mostra o livro de Mac Ferro Histoire des colonisations (notar a utilização do plural) recentemente traduzido para português e inglês.

Jogos Florais

JOGOS FLORAIS

O período entre 28 de Abril e 13 de Maio do calendário romano marcava a celebração dos Jogos Florais (ou Florálias - do latim floralia, ium), assim denominados por se tratarem das festividades em honra de Flora, deusa da Primavera, das flores, dos cereais, das vinhas e das árvores frutíferas. A lenda diz que Flora é uma das divindades sabinas introduzidas em Roma por Tito Tácio e adorada pela populações itálicas, em geral. Desde então, associa-se o mel à deusa, como um dos presentes que esta terá concedido ao Homem, o mesmo acontecendo com todas as flores que conhecemos.
Segundo Brandão (1993), nesta data as cortesãs reuniam-se e dançavam ao som de trombetas, num concurso em que as vencedoras eram coroadas do flores, tal como era hábito fazer-se nas cerimónias de adoração da própria divindade. Por influência desta tradição romana, em toda a Península Ibérica, embora com especial incidência na zona do Algarve, ficou até aos nossos dias o costume de colocar nas portas e janelas das casas flores de giestas, também designadas por Maias (nome que provém do facto de florescerem em maior abundância do quinto mês do ano). Mais ainda, no início do século era habitual escolher-se nas aldeias uma jovem que, vestida de branco, era coroada de flores tal como a deusa.
Um pouco mais tarde, a partir do século XIII, esta celebração passou a abranger uma esfera mais alargada, agora enquanto concurso literário: os poetas e amantes da escrita, em geral, tinham nesta data a possibilidade de apresentar as suas produções num concurso.
Os Jogos Florais foram muito populares na Idade Média. Era um torneio cultural promovido anualmente em Toulouse, França, inspirado em tradições originárias da Roma antiga. Por se realizar na primavera, esse torneio, que envolvia várias modalidades literárias, oferecia prêmios (troféus) em forma de flores, daí o nome "Jogos Florais".
Em Portugal, os procedimentos se regem por um regulamento com características específicas: os participantes podem optar por várias modalidades de escrita, sendo as mais comuns o poema lírico ou as quadra populares de tema livre, o soneto (tomando como inspiração um determinado assunto), poesia obrigada à utilização de um mote específico ou alegórica à própria cidade onde se realizam os Jogos e, finalmente, o tratamento de um adágio popular. O número de trabalhos por concorrente é ilimitado, sendo os seus autores obrigados a apresentar-se sob pseudónimo, para que os jurados não sofram qualquer tipo de influência durante a avaliação. Aos melhores trabalhos são oferecidos prémios, habitualmente três por modalidade. Por vezes, são ainda concedidas menções honrosas aos candidatos, cujos trabalhos, embora não sejam vencedores, são considerados dignos de destaque.
No Brasil, os I Jogos Florais de Nova Friburgo constaram de um grande concurso de trovas, com o tema "amor". A festa de premiação, em maio de 1960, reuniu na bela cidade serrana fluminense, além dos vencedores do concurso, outros ilustres intelectuais, entre os quais Antônio Olinto, Eneida, Jorge Amado, Manuel Bandeira.
Dali por diante, dezenas de outras cidades passaram a promover torneios semelhantes, alguns com o nome de Jogos Florais, outros simplesmente como concursos de trovas. Na maioria dessas cidades, a festa hoje faz parte do calendário de eventos, constituindo importante atração turística.
O concurso de trovas propõe um ou mais temas, a partir dos quais trovadores de todo o Brasil e também de Portugal produzem seus versos. Ao final do prazo estabelecido para remessa dos trabalhos, uma comissão julgadora seleciona as trovas premiadas (vencedoras, menções honrosas e menções especiais).
Os autores das trovas contempladas são convidados a comparecer à cidade promotora do concurso para uma festa que dura de um a três dias. Nessa ocasião, além de passeios, recitais e outros programas, faz-se uma reunião solene para entrega dos prêmios (diplomas, troféus e medalhas). Não há prêmio em dinheiro. Quando há recursos disponíveis, os premiados ganham hospedagem e refeições, mas as despesas de transporte correm por conta de cada um. Por ser um movimento literário que se caracteriza pela fraternidade, tal costume é aceito tranqüilamente.

Junito de Sousa Brandão: Dicionário Mítico-Etimológico e da Religião Romana (1993); Silvério Benedito: Dicionário Breve da Mitologia Grega e Romana (2000); Almanaque 1996, ed. Ministério da Educação, Departamento de Educação Básica.

Fontes:
http://ubtportoalegre.portalcen.org/trovas.htm
www.folcloreonline.com/folhas/maio1.htm
www.italonet.com.br/mitologia/romana.htm
www.raizesdeportugal.com.br/cgomes/maios.htm
http://orbita.starmedia.com/~stargate2/proven.htm
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/J/jogos_florais.htm

Concursos Literários

JOGOS FLORAIS DE ALMEIRIM
Apartado 29 - 2081-909 - Almeirim - Portugal
Tema: "Igualdade de oportunidade para todos"
a) Quadra (Trova) ; b) Soneto;
c) Poesia obrigada a mote:
"Entre grandes e pequenos
ficamos mais iguais,
dando a uns um pouco menos
e a outros, um pouco mais."
Máximo: 2 trabalhos cada em 5 vias, com pseudônimos diferentes. Junto, pequeno envelope fechado, com a identificação por dentro.
Prazo: 20.01.2008

I JOGOS FLORAIS DE CAXIAS DO SUL
A/C de Alice Cristina Velho Brandão, Rua Dr. Mointaury, 919, apto. 101, Cep 95.020-190 - Caixas do Sul-RS.
TEMAS: Âmbito Nacional: "IMIGRANTE"
Âmbito Estadual: "VINHO" = Porto Alegre e Região Serrana: "VINDIMA"
Máximo de 03 trovas.
Prazo: até 10.01.2008.

XVIII CONCURSO NACIONAL E INT. DE TROVAS DE PINDAMONHANGABA
Biblioteca Pública Municipal “Ver. Rômulo Campos D’Arace”
Ladeira Barão de Pindamonhangaba, s/n – Bosque da Princesa
CEP: 12401-320 – Pindamonhangaba-SP
Temas:
Nível Regional: para trovadores domiciliados na cidade de Pindamonhangaba, demais cidades do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Região Serrana (Mantiqueira, no Estado de São Paulo) – SEDUÇÃO.
Nível Nacional/Internacional: para os trovadores domiciliados nas demais cidades do Brasil e Exterior – APATIA.
XII Juventrova (para estudantes) – FICAR
Para todos os temas valem palavras cognatas.
Premiação = Dia: 05 de Julho de 2008.
Máximo de 3 trovas (líricas/filosóficas) por concorrente, datilografando acima da trova, o tema a que concorre.
Serão consideradas as trovas recebidas até 29 de fevereiro de 2008.
Sistema de envelopes.

XLVIII JOGOS FLORAIS DE NOVA FRIBURGO
Temas de âmbito nacional:
"ESCOLHA" (lírico/filosófica) "FEIRA" (humorística)
A/C Nádia Huguenin, Rua Emilia Barroso, 128-Cônego
Cep 28.621-290 - Nova Friburgo/RJ
Âmbito Municipal (apenas para Nova Friburgo)
Temas: "FEITIÇO" (lírico/filosóficas) e "CABELO" (humorísticas)
A/C João Freire Filho, Rua Parintins, 200, c/8, Cep 21.321-190 = RJ
ATENÇÃO: haverá ainda um concurso paralelo, tema: "Vinda de D.João VI e suas realizações no Brasil". Enviar para o mesmo endereço dos concursos nacionais. Todos os concursos são pelo "Sistema de envelopes", máximo de 03 trovas por tema. Prazo de chegada: até 29/02.2008.

XIV JOGOS FLORAIS DE CURITIBA - PR
Temas: Âmbito Nacional = MISTÉRIO (lírico/filosófica), PIPOCA (humor)
Enviar para Rua Itupava, 791-Alto da Rua XV, Cep 80.040-000, Curitiba.
Âmbito Estadual = ABRAÇO(lírico/filosófica), BATIDA (humor)
Enviar para Rua Graúna, 410-apto. 41, Cep 04513-002, São Paulo-SP
Máximo de 03 trovas por tema.
Prazo de recebimento: até 29/02/2008

III JOGOS FLORAIS DO BALNEÁRIO CAMBORIÚ
A /C de Gislaine Canales
Rua: 2700 – Nº 71 Ap. 302-Edifício Acácias – Bloco B – Centro
Cep 88.330-374 - Balneário Camboriú – SC
Tema nacional: LÁGRIMA
Tema estadual (SC): SORRISO
Países de língua espanhola: SONRISA
Máximo 3 (Lírico/Filosóficas)
Valerão trovas recebidas até 31-05-2008
Outras informações: gislainecanales@uol.com.br

XXXVIII JOGOS FLORAIS DE NITERÓI 2008
Caixa Postal 100.518, CEP 24001-970 - Niterói - RJ
Temas: Estadual (só trovadores RJ) = CORTINA
Nacional/Internaconal = VARANDA
Valem palavras derivadas.
Máximo de 03 trovas (líricas/filosóficas)
Prazo para remessa: 01/02/08 a 31/05/08
Festa de premiação marcada para 29 e 30 de novembro 2008.

I CONCURSO ESTADUAL / NACIONAL DE TROVAS DO SITE TROVA UNE VERSOS
REGULAMENTO
1. Para o concurso TROVA é a forma poética composta de quatro versos de sete sílabas métricas cada um deles, com ocorrência de rimas do 1º verso com o 3º e do 2º com o 4º, tendo o conjunto sentido completo;
2. As TROVAS, em nº de 02(duas), LÍRICAS OU FILOSÓFICAS, serão enviadas entre 01.12.07 a 29.02.08, EXCLUSIVAMENTE PELA INTERNET para trovauneversos@gmail.com; devendo ser inéditas e de autoria do poeta ou poetisa concorrente;
3. Serão acolhidas TROVAS somente em língua portuguesa, o que não exclui os trovadores de outros países, desde que se sirvam dessa língua;
4. Do e-mail deverão constar obrigatoriamente:
- Nome do autor (completo); - Endereço postal (completo);
- Nº do telefone (se houver); - E-mail;
- TROVAS (duas).
5. As TROVAS terão por temas: LENDA(S) – concorrentes domiciliados no estado do Rio Grande do Norte; SONHO(S) – à exceção do Rio Grande do Norte, para os demais estados do Brasil
e outros países;
6. A Comissão Julgadora escolherá em cada segmento 10 (dez) trovas, assim distribuídas:
- 1º, 2º e 3º lugares – Trovas Campeãs (Ouro / Prata / Bronze);
- 4º, 5º e 6º lugares – (Menções Honrosas);
- 7º, 8º, 9º e 10º lugares – (Menções Especiais).
7. Aos vencedores serão concedidos DIPLOMAS de acordo com a classificação;
8. O site TROVA UNE VERSOS anunciará o resultado em 20.04.08;
9. Trovas que estiverem em desacordo com os Artigos deste Regulamento serão excluídas automaticamente do Concurso e a remessa de mais de 02(duas) trovas resultará na desclassificação do(a) participante;
10) Pela simples remessa das TROVAS o(a) concorrente aceita as normas do presente regulamento;
11) Outros informes serão obtidos pelo site: www.trovauneversos.hpgvip.com.br (na seção Informativo); dúvidas pelo e-mail: trovauneversos@gmail.com .

PRÊMIO INTERNACIONAL DE POESIA “CASTELLO DI DUINO” 2008
O concurso é reservado aos jovens de até 30 anos de idade. A participação é gratuita. Participa-se só uma poesia inédita (Maximum 50 versos). O concurso é temático. O Tema Edição 2008 é: "Voz /Silê ncio”. As poesias podem ser enviadas na língua original dos concorrentes mas deverão ser acompanhadas por uma tradução em inglês e/ou italiano. Para as poesias escritas em língua original agradece-se, embora não seja obrigatório, a tradução em inglês. Um júri internacional de poetas e críticos, experto em muitas línguas, avaliará as poesias, se possível, nas línguas de origem das poesias. As poesias têm que chegar antes do 6 de janeiro de 2008. Podem ser enviadas:
a) por e-mail ao endereço: valera@units.it . O e-mail tem que conter o formulário de participação e as declarações devidamente preenchidos:
Formulário de participação:
Nome Apelido
Data de nascimento
Rua N°
Código Postal Cidade
Telefone Mail
Nacionalidade Título da poesia
Declaro que a poesia …(titulo da poesia)……. Com que participo no Prémio internacional “Castello di Duino” – é uma minha obra original, inédita e nunca foi premiada.
Consinto que seja eventualmente publicada ou presentada em público.
Declaro que sou/nao sou (escolha a opção correta) inscrito à SIAE ou a outra sociedade análoga para a tutela do direito de autor.
A poesia tem que ser enviada como anexo em formato word ou rtf.

b) por correio normal: a Gabriella Valera Gruber, Via Matteotti 21 I- 34138 Trieste, sem os dados do autor que serão declarados no formulário de participação (veja-se acima) devidamente preenchido e assinado. Faz fé o carimbo postal, mas nenhum texto poderá ser aceite si chegar quando o júri tiver começado o trabalho de selecção. As poesias têm que ser entregues ao júri sem os dados dos autores para garantir uma avaliação imparcial.
Prêmios: Primeiro, segundo, e terceiro prêmio de € 500 cada um (uma parte terá que ser devolvida para um fim humanitário à escolha do vencedor)
Publicação gratuita em edição bilingue (italiana e inglesa) com gravação em língua original em CD de todas as poesias recomendadas (editora Ibiskos de A. Risolo, patrocinador do Concurso). A ganância sobre as vendas do livro será devolvida à Fundaçao Luchetta-Ota-D'Angelo Hrovatin para as crianças vitimas da guerra www.fondazioneluchetta.org for children war victims. Recomendações especiais e prêmios menores às melhores poesias entre os jovens com menos de 16 anos que não passaram a selecção geral. Recomendações para as três melhores escolas que participaram com turmas inteiras.

CONCURSO BRASILEIRO DE CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS 2008, EM GENEBRA
A Biblioteca da Associação Raízes em Genebra estará lançando de Janeiro à Março de 2008 o Sexto Concurso Brasileiro em Genebra de "Contos, Crônicas e Poesias". Você que é brasileiro(a) e mora em Genebra ou na Europa, comece já a escrever sobre uma experiência pessoal ou algo fictício que brinca na sua mente, em forma de conto ou de poesia. Seja qual for a sua idade, o seu sexo e o seu nível de estudo entre na aventura da escrita! Libere a sua alma escrevendo o que dança na sua cabeça e participe assim do nosso concurso literário "Contos, Crônicas e Poesias". Data limite para entrega dos trabalhos: 25 de abril de 2008. Entrega dos prêmios: 15 de Maio de 2008. Local: Sala da Biblioteca Municipal "de La Cité". Categoria INFANTIL E JUVENIL: Contos e Crônicas: Tema "INFÂNCIA". Poesias : tema livre. Categoria ADULTO: Contos e Crônicas: Tema "AQUI E LA, LA E AQUI". Poesias: tema livre Para maiores informações :
concursoraizes@yahoo.fr ou concursoraizes@yahoo.fr
Telefone : +41 (0)22 349-7074 – Ignez Agra (organizadora)

Fontes
http://www.blocosonline.com.br/literatura/servic/serconc.htm
http://www.falandodetrova.com.br/v5/andamento
http://www.falandodetrova.com.br/v5/concursosvirtuais

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Revista Nova Consciência

O lançamento da revista Nova Consciência, da Editora Universo das Letras, é uma ótima notícia para quem esperava uma publicação desvinculada de religiões, mas com um forte apelo espiritualista e baseada na novíssima ciência idealista.

Física quântica, ética, medicina da alma, aspectos de Gaia, meio ambiente, reencarnacionismo, investigações psíquicas e do Universo, além das mais diversas tendências culturais ganham banho de racionalidade pelas mãos do psicoterapeuta Paulo Urban, coordenador editorial, e do pesquisador e jornalista Paulo Figueiredo, diretor de redação. A revista Nova Consciência agrada com louvor a todos aqueles que buscam um sentido maior no ato de existir. Inspiração e esperança não faltam na linha editorial. Na edição número 2, por exemplo, a revista traz Amit Goswami e a terapia da energia vital, espiritualidade no trabalho, alerta a respeito da contaminação do meio ambiente por pilhas, entrevista com um Xamã dos Andes, a alquimia e a nossa capacidade de voar, entre outras boas pautas.

Prefácio da edição nr. 1 – outubro 2007, por Paulo Urban
Mais do que uma revista, Nova Consciência é porta-voz de todo um movimento planetário, pleno de transformações que já se mostram presentes desde que ingressamos na Era de Aquário. A Nova Consciência anuncia o novo despertar da humanidade.

Verdadeira semente libertária, disposta a abandonar as amarras dos dogmas e das doutrinas, nossa Revista nasce em sintonia com a nova ordem de uma espiritualidade sem rótulos nem fronteiras.

É chegada, pois, a hora dos homens se abraçarem em torno do Planeta.

Bem sabemos que, milenarmente, ao longo de toda a história da civilização, a humanidade vive imersa em lutas e conflitos; sempre há povos e nações digladiando, envolvidos em guerras que se disseminam pelo Planeta. Tecnologicamente, porém, faz apenas meio século que a humanidade alcançou – com a conquista atômica – a possibilidade de extinguir-se a si própria, definitivamente. Basta, para isso, que se apertem os botões certos.

Mas não precisamos esperar que nosso fim sobrevenha de alguma guerra nuclear. Tola ingenuidade a nossa, a de aguardarmos temerosos por alguma catástrofe atômica, enquanto seguimos desrespeitando o ambiente com nossa estupidez cotidiana, sangrando a Terra, secando nossa água, extinguindo recursos naturais e provocando um cada vez maior efeito estufa.
Vale lembrar: em termos astronômicos, nossa condição climática é tão resistente quanto uma bolha de sabão. Nessa sua escalada inconseqüente, em pouco tempo a humanidade assistirá de camarote a seu próprio colapso.

Roga um dito popular da antiga tradição andina: "Não herdamos o mundo de nossos pais, senão que o tomamos emprestado de nossos filhos". É preciso, pois, que, fazendo jus à nossa herança ancestral, estejamos realmente dispostos a abraçar a bandeira da paz e nos alçarmos em direção a estados transcendentes, no intuito de experimentar o amor incondicional, única chance de salvação de nossa espécie.

Especialmente atenta a isso, a Revista Nova Consciência reúne em seu bojo os esforços daqueles que desejam construir uma humanidade melhor, capaz de compartilhar de um mundo viável e socialmente mais justo. O que parece ser mera utopia, em verdade se encontra bem aqui ao nosso alcance; afinal, tudo o que fazemos à Terra, fazemos a nós mesmos, e nossas crianças colherão esses frutos.

O primeiro passo a ser dado em direção à cura planetária é muito simples: basta que acreditemos nela. Em seguida, é preciso realmente desejá-la, e agir para que esta cura se opere, tanto em nosso próprio nome como em benefício de nossos filhos. Se a Terra está enferma, é porque a humanidade obviamente adoeceu primeiro. E, decididamente, não é justo que as gerações vindouras sobrevivam apenas para pagar a conta deste nosso comportamento desmedido, desta arrogância própria do século XX, quando o ser humano, no afã de sua competitividade espúria, na insanidade de sua ganância econômica, resolveu desafiar a natureza.
Mas Nova Consciência nada tem a ver com as correntes messiânicas que prometem melhores tempos após o tão temível apocalipse. Não pretendemos salvar o mundo por meio de nenhum ato megalomaníaco; serenamente acreditamos que qualquer transformação maior em benefício do Planeta deva começar, antes de tudo, pelo coração dos homens; justamente aí, no particular templo de cada indivíduo, é que se encontra a matéria-prima a ser transmutada em prol de um mundo melhor e renascido.

Neste sentido, a Revista Nova Consciência assume um caráter alquímico, voltada que está para a paciente edificação de cada um de nós, perseverantemente orando e trabalhando para que o denso chumbo de nossos dias possa ser transmutado em ouro divinal.

Nova Consciência busca ainda a aproximação entre ciência e espiritualidade; propõe alcançar uma síntese possível entre a complexa indagação científica e a sabedoria perene das civilizações ancestrais. Nova Consciência reverencia, pois, as medicinas tradicionais (taoísta, ayurvédica, andina, hipocrática etc, também o saber indígena) bem como todas as culturas arcaicas que souberam enxergar nos ciclos da vida a dança da harmonia, concebendo a saúde como um estado de comunhão entre o homem e o Universo.

Nova Consciência é ainda uma Revista fundamentada no saber esotérico, particularmente centrada no saber iniciático das Antigas Escolas de Mistério e escorada na trípode do Hermetismo clássico, a compreender as assim chamadas ciências proibidas: magia, astrologia e alquimia. Resgata as grandes Tradições espirituais (Gnose, Cabala, Hinduísmo, Taoísmo, Xamanismo etc...) e valoriza os Evangelhos apócrifos, fontes de conhecimento capazes de provocar profundas reviravoltas nos milenares dogmas da cristandade.

Como todo movimento libertário, Nova Consciência descarta o ultrapassado para dar lugar ao novo. Entende a física contemporânea como um Universo inteiro de possibilidades vislumbrado além da tridimensionalidade da mecânica de Newton; considera os arquétipos de Jung como uma transcendência psíquica muito além do restrito mundo psicológico tateado pela psicanálise de Freud.

Enfim, Nova Consciência prefere a beleza dos paradoxos à ilusão de nossas mais arraigadas certezas. Afinal, quem somos nós? O que fazemos neste mundo? Para onde vamos?Enquanto essas milenares questões prevalecem sobre toda e qualquer especulação humana, a Nova Consciência se deleita em expressar-se, sobretudo, pelas artes. Estas sim, sempre à frente de seu tempo, fazem ressoar com ousadia os clarins que anunciam a chegada das épocas, o advento de novas transcendentais percepções. Só as artes sabem soprar ao intelecto dos homens aquilo que seu coração já intuiu estar por trás dos véus dos mistérios.

Afinal, as artes expressam antecipadamente aquilo que a História ou a ciência só encontrarão mais tarde; são as artes que nos guiam rumo às novas constelações, em direção a uma sempre Nova Consciência.

Vivemos, pois, à entrada deste Terceiro Milênio o momento cósmico mais crucial de toda a História da humanidade. Podemos hoje tanto explodir a Terra várias vezes como garantir sua cura e a sobrevivência de todos os que nela habitam. E tudo se resume a uma simples questão de escolha, também a uma complexa questão de compromisso. Está exclusivamente em nossas mãos a chance de entregarmos um mundo realmente melhor às gerações seguintes.

Se você já sentiu dentro de seu coração chamado semelhante, é porque deve estar em sintonia com este movimento. A Nova Consciência pede passagem, ela se constela em toda a Via Láctea e atravessa nosso chackra cardíaco, acrescentando Luz às estrelas e mais Amor ao coração dos homens, como previu o visionário poeta Fernando Pessoa.

E longe dos caprichos do acaso, se você está lendo este release, talvez seja porque já entendeu que está na hora de mudar, de ajudar a humanidade a evoluir rumo ao despertar de uma Nova Consciência!
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Nova Consciência tem Paulo Urban, médico psiquiatra e psicoterapeuta do Encantamento, como seu editor-chefe. Nova Consciência é uma publicação mensal da Editora Universo das Letras, com distribuição por todo o Território Nacional.

Assinaturas podem ser feitas em (11) 3879-3838 ou assinatura@novaconsciencia.com

Fontes:

URBAN, Paulo. Rumo à Nova Consciência. In: Revista Nova Consciência. São Paulo: Editora Universo das Letras. no 1. Outubro 2007, p.5.
http://www.amigodaalma.com.br/

Estante de Livros (Folha Explica Vinicius de Moraes)

Livro retrata modernidade da obra de Vinicius de Moraes
A obra sobre Vinicius, assinada pelo também poeta Eucanaã Ferraz, busca abranger com equilíbrio a poesia escrita e a poesia cantada, formadas pelas letras de música vinicianas.
Clássicos como "O Dia da Criação" e "A Bomba Atômica" são observados a partir das relações entre seus jogos internos, suas faturas e seus sentidos, em interpretações objetivamente elucidadoras de seus mistérios. O mesmo se dá na detida exegese que ganham os versos que fizeram de Vinicius o maior sonetista brasileiro do século 20.
Eucanaã Ferraz, poeta e professor de literatura da UFRJ, lista ainda discografia e bibliografia do grande poeta e das parceria com Tom Jobim, com quem criou alguns clássicos da bossa-nova, e com Baden Powell, com quem criou os afro-sambas.
Eucanaã Ferraz é autor de "Martelo" (1997), "Desassombro" (2002), "Rua do Mundo" (2004), entre outros livros de poesia. Organizou "Letra Só", livro de letras de Caetano Veloso (2002), e "Poesia Completa e Prosa", de Vinicius de Moraes (2003).
"Folha Explica Vinicius de Moraes"
Autor: Eucanaã Ferraz
Editora: Publifolha
Páginas: 114
Quanto: R$ 17,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha
Vinicius de Moraes (1913-80) é o caso típico do artista que, ao longo do tempo, foi sendo sobreposto à própria obra. Fala-se muito do poeta, mas lê-se insuficientemente sua poesia; sabemos de cor alguns de seus versos antológicos, mas não raro estancamos ali, sem seguir adiante, ou, se avançamos com a atenção devida, nem sempre nos arriscamos em textos menos consagrados; ao ouvir suas canções, somos tomados por uma tal beleza que nos parece desnecessário pensar sobre elas; repetimos uma série de opiniões de tal modo cristalizadas que parecem prescindir do confronto com a apreciação crítica da obra.
Acumulam-se casos sobre o personagem e, nesse sentido, Vinicius de Moraes é um poeta sob muitas histórias. Assim, chegar até ele exige atravessar a densa camada de narrativas que acabou por constituir uma espécie de mitologia: o homem e suas emoções desenfreadas, os muitos casamentos, os numerosos amigos, a boemia, seu desprendimento, seu romantismo, seus diminutivos carinhosos, seu desprezo pela gravata e por toda formalidade. Há os que se comovem e aderem ao mito; há os que o rejeitam. É necessário, no entanto, muito mais que isso.
Sem grande esforço, podemos considerar que tal mitologia resulta simplesmente da popularidade de Vinicius, e que esta é menos uma conseqüência de seu trabalho como poeta que o resultado de sua atuação como letrista. Em grande medida, a avaliação está correta. Valeria a pena observar, porém, que a popularidade foi o resultado excelente de um projeto interno da obra de Vinicius, que refez o curso inicial de sua poesia --marcada por certo isolamento aristocrático de ordem intelectual e moral-- em direção a uma abertura afetiva e estética, próxima de seu tempo e de sua verdadeira inclinação para o diálogo.
Observando-se algumas opções dessa poesia já madura e decididamente moderna, e situando-a no quadro mais amplo da modernidade, concluímos que a poética de Vinicius preza mais a clareza que o hermetismo; não há uma busca pela inovação formal ininterrupta, mas a incorporação de formas e temas caros à tradição lírica ocidental; a fuga da realidade convive com o apreço pela experiência comum; o distanciamento da língua usual não impede, como contrapartida, a absorção de traços coloquiais, do vocabulário e da sintaxe correntes.
Seria um engano, porém, inferir que tais escolhas redundam num simples pacto de reconhecimento com o leitor, como se nos poemas nos assegurássemos do já sabido; ao contrário, a palavra de Vinicius instala um necessário processo de singularização das coisas, do tempo, do espaço, dos afetos, exigindo, por isso, uma percepção aguda e demorada. Mas também é certo que essa palavra, tanto no poema quanto na canção, reinstala o mundo de modo tão generoso e acolhedor que logo nos abrigamos nele, sem nos darmos conta, por vezes, de que estamos dentro de uma invenção, de uma linguagem para sempre nova, na qual predominam a imaginação e a transformação. E, de fato, corremos o risco de fruir apenas o que na paisagem nos parece confortável, sem atentar para o que ali é estranhamento, novidade, construção. Este risco, porém, é a conseqüência, ainda que não pretendida, de uma série de fatores e opções que alcançaram o seu ponto máximo de realização. Poetas que fizeram escolhas opostas às de Vinicius e chegaram à excelência ambicionada correram outros riscos. Enfim, toda leitura exige que se desconfie da comodidade.
Se o encaminhamento para a canção popular não era previsível, foi, no mínimo, bastante coerente com a atuação artística e intelectual de Vinicius de Moraes. E se a partir daí tudo se converteria em popularidade, sua figura tornou-se mais complexa, na medida em que frustrava expectativas, desmontava hierarquias socioculturais e fundia estratos diferenciados da cultura. A bossa nova e seus desdobramentos não tardariam, no entanto, a ratificar o alcance das escolhas de Vinicius, tendo em vista o quanto a canção popular incorporaria uma inteligência sofisticada, em diálogo com as experiências antes restritas à literatura. Hoje, quando avaliamos em conjunto a música brasileira e acumulamos um número expressivo de trabalhos críticos e teóricos voltados para a sua compreensão, praticamente perdemos de vista o destemor do poeta ao se converter em letrista e os juízos que despertou então.
A popularidade do compositor-cantor deve-se ainda, é preciso acrescentar, à sua presença em shows e nos meios de comunicação de massa, sobretudo nos anos 70. À época, quando a chamada MPB esteve intimamente associada ao movimento estudantil --alvos permanentes da vigilância dos órgãos de repressão da ditadura militar-- Vinicius, ao lado de seu parceiro Toquinho, lotava os auditórios universitários. Boates, cervejarias e casas de espetáculo nacionais e internacionais também faziam parte do circuito da dupla, que instaurava, em meio às sombras daqueles tempos, um rastro de liberdade e alegria por onde passasse.
Este breve livro tenta uma visão equilibrada, focalizando a palavra do poeta nos poemas (capítulo 1) e nas canções (capítulo 2). No primeiro caso, abrindo mão de quadros amplos, fases, influências, vão-se examinar determinadas constantes e/ou variantes temáticas e formais, privilegiando-se a leitura de poemas. No segundo, a atenção estará voltada para determinados traços caracterizadores do cancioneiro de Vinicius, com destaque para os momentos que solidificaram sua prática composicional. A abordagem interpretativa privilegia, desse modo, pequenos sinais, elementos mínimos nos quais esperamos reconhecer alguns marcos de entrada na vasta obra de Vinicius. O convite, afinal, foi ele próprio quem nos fez, a todos, em "Poética (II)": "Entrai, irmãos meus!".

André Carneiro (Poesias)

MORO NA CARAVELA

Meu pai implantou
a ânsia das tarefas.
Acordo no tabuleiro pronto,
jogo contra o tempo.
Meu céu é vidro,
moro na caravela
no bojo da garrafa.
A mais de cem mil quilômetros por hora
viajo na cabine deste planeta
na mesma órbita.
0 fato sólido é vago
no cinema dos olhos.
Nazista dorme de farda,
um prisioneiro planeja,
o cogumelo gigante
calcinou lembranças eternas.
Verso deixa rastro,
anoto estratégias,
bebo absinto,
nem toco em asas douradas
dos besouros mexicanos.
0 amor é molhado,
as despedidas, secas.
Rejeições me matam,
mutante desesperado,
lambo escamas da sereia aflita
neste quarto.
No deserto, a formiga
prega a verdade para
um cristal de areia.
Procuro o sonho úmido
no púbis da memória,
acendo a pólvora das letras,
vôo em estilhaços no poema.

BARATAS SOBREVIVENTES

Invento a máquina
para trocar almas.
Você será eu
que serei você,
provisoriamente.
As circunvoluções
do seu labirinto cinzento,
sentirei "in loco".
Serei absurdo com seus olhos meus,
você saberá porque me impaciento
com sua mente arbitrária.
Talvez o gratuito me fascine
e a lógica seja apenas palavras.
A minha será sua voz,
serei o outro lado
e o sol sofrerá impávido
até o resfriamento total,
exatamente dez bilhões de anos
no calendário romano,
quando as baratas sobreviventes
estarão contentes
em outros diálogos.

INTERVALOS
Há intervalo entre pulmão cheio e ar expulso.
Há intervalo quando pisco,
o mundo desaparece e renasce
em centésimo de segundo.
No relógio, repito itinerários,
volto na mesma cama mas não sou o mesmo.
Fabrico dez milhões de células diárias,
cada centímetro quadrado de minha carne
já não é aquela na sua carne.
Grãos de areia mudam a praia,
enquanto durmo, folhas novas
crescem com o vento da madrugada,
corações batendo pintam novos cenários.
Há um intervalo depois do orgasmo.
Paro nesta linha e penso,
de ato em ato, sou mais feito de intervalos
do que fatos na cotidiana engrenagem.
Nem parar o pensamento consigo.
faço versos como um cego,
apalpando abaixo da pele,
você nua, a dobrar roupas na cadeira,
enquanto o planeta (seio azul de água),
gira desesperado no cósmico intervalo
de um deus inexplicável.

Fonte: http://www.amigodaalma.com.br/

André Carneiro

Biografia
André Carneiro considera a poesia sua principal atividade, entretanto, dotado de uma capacidade artística plenamente desenvolta, dedica-se à criação em várias artes.

Cineasta, criou e dirigiu filmes de pesquisa artística, premiados aqui e no exterior. Roteirista, foi premiado no Concurso Nacional para Roteiros, no Quarto Centenário de São Paulo. Seu filme Solidão representou o Brasil no Concurso Internacional para Filmes Artísticos, sendo premiado na Inglaterra em 1952,e exibido na França e Itália.

Seu conto O Mudo foi transformado em filme de longa metragem, dirigido por Júlio Xavier da Silveira em produção da Embrafilme.
Atuou no cinema publicitário dirigindo curtas metragens e comerciais na televisão.

Fotógrafo artístico, participou de vários salões nacionais e internacionais, tendo sido premiado no Brasil, Holanda e Itália.

Pintor e escultor, inovou a arte expondo seus trabalhos aos quais denomina "pintura dinâmica", técnica na qual se vale de líquidos químicos imiscíveis ou não que tomam várias formas em compartimentos transparentes justapostos.
Também realizou exposições de "Poesia Colagem", técnica com a qual criou capas de livros de vários autores.

Jornalista, foi editor e criador do conceituado jornal literário TENTATIVA, 1949, apresentado por Oswald de Andrade, para o qual colaboraram, na época, os maiores escritores nacionais, como Sérgio Milliet, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Vinícius de Morais e outros.

Como contista e romancista alcançou repercussão mundial. "André Carneiro deu o salto internacional," afirmou o crítico Fausto Cunha. É o único escritor brasileiro de "science-fiction" traduzido na Espanha, Argentina, França, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, ltália, Bulgária, Suécia, Japão etc. Considerado mestre internacional do gênero, foi destaque da importante editora norte-americana Putnam na antologia The Definitive Year's Best Selection, de 1973, que editou os melhores contos de Ficção Científica do Mundo. Também tem seus contos publicados numa antologia universitária americana ao lado de nomes como Solzhenitsyn, Rafael Alberti, Gabriela Mistral, Anton Chekhov, Behold Brecht, Tagore, D.H. Lawrence, Jacques Prévert, Cisneiros, Huxley, etc.

Seu romance Piscina Livre, 1980, traduzido na Suécia, alcançou sucesso critico. A.E. Van Vogt (USA) o comparou a Kafka e Albert Camus. A Dictionary of Contemporary Brazilian Authors afirma que André escreve "a mais original F. C. do Brasil". Também o crítico espanhol Augusto Uribe o considera o melhor autor em literatura fantástica da América Latina. Daniel Barbieri (Argentina) o cita como "o mais destacado escritor latino-americano do gênero". Dinah Silveira de Queiroz o trata por "nosso mestre da F.C.", e Carlos Drummond de Andrade afirmou que, "em Piscina Livre, André exercita de maneira brilhante a originalidade de ficcionista".

Seu nome consta como verbete de enciclopédias nacionais e estrangeiras. É o único membro na América do Sul do Science Fiction & Fantasy Writers of América, entidade profissional de escritores americanos.

Estreou na poesia com o livro Ângulo & Face, 1949, editado por Cassiano Ricardo, que afirmou: "seu poder de comunicação chega a ser contundente, fere mais do que a sensibilidade à flor da pele". Esse primeiro livro, assim como os demais, sempre são recebidos com elogios de toda a crítica brasileira. José Geraldo Vieira destacou que "somente alguns dos seus poemas já bastariam para o inserir entre as melhores expressões do modernismo". Otto Maria Carpeaux destaca "os versos comoventes de Ângulo e Face".

Em Portugal, A. Garibaldi afirma que André é "um dos grandes nomes da lírica brasileira".

Ferreira Gullar lamenta que "a poesia sóbria e humana de André Carneiro passe despercebida do grande público: seus poemas são construídos arquiteturalmente, num equilíbrio de verbalismo e emoção". "Poesia autêntica, sem ornatos inúteis, direta e bela" na opinião de Pascoal Carlos Magno. Lígia Fagundes Teles declarou: "Temos um verdadeiro poeta pela frente". Cristovam Pavia, conhecido poeta português, considerou a poesia de A.C. "de originalidade admirável, profunda e madura". Roger Bastide disse: "amei a pureza e o senso de escolha das imagens e seu valor no conjunto, confirmando o que Sérgio Milliet já me havia falado". Carlos Drummond de Andrade, noutra oportunidade, reiterou que a poesia de André Carneiro "transfigura as coisas cotidianas".

"Uma continuidade modelar do Modernismo numa renovada e luminosa expressão", escreveu Oswald de Andrade.

André Carneiro é um dos dois maiores poetas vivos brasileiros, segundo Bernard Lorraine, poeta e critico francês.

Ganhou inúmeros prêmios nacionais como o Machado de Assis, do Estado da Guanabara, Melhor Livro do Ano,da Câmara Municipal de São Paulo, Prêmio Alphonsus de Guimaraens, em 1966,da Academia Mineira de Letras,e o Prêmio Nacional Nestlé, 1988,com o livro Pássaros Florescem, ed.Scipione.

Sua obra poética foi estudada durante anos pelo Prof. de Literatura da UNESP, Osvaldo C. Duarte,como motivo de sua dissertação de Mestrado O Estilo de André Carneiro,aprovada com nota máxima e louvor em 1996.O Prof. Duarte ainda escreveu o ensaio A Ciência na Obra Poética de André Carneiro(2001).

André sempre trabalhou com a hipnose,publicou livros a respeito do tema e participou dos primeiros Congressos Internacionais de Parapsicologia apresentando trabalhos nesta área, sendo considerado autoridade no assunto.

Críticos americanos, espanhóis e argentinos o classificam como o melhor autor de conto fantástico da América Latina. &A.E. Van Vogt, escreveu que ele "merece a mesma importância de um Kafka ou um Camus". Ganhou vários prêmios com seus livros de poemas e prosa. Único membro da América do Sul do Science Fiction & Fantasy Writers of America. O crítico francês &Bernard Diez o considera o maior poeta vivo brasileiro. Foram escritas diversas teses acadêmicas de mestrado e doutorado sobre sua obra poética e sua prosa. André Carneiro escreveu também ensaios sobre Literatura e Hipnose Clínica. Vendeu recentemente para a Espanha os direitos para um filme do seu conto "Escuridão", publicado nos EUA em antologia ao lado de ganhadores do Nobel de Literatura. Ao lado de Machado de Assis, Drummond, &Aluisio Azevedo etc, em Antologia no Brasil, editora Casa da Palavra, Rio. A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo acaba de publicar uma coleção facsimilada do seu jornal Literário "Tentativa", com titulo desenhado por Aldemir Martins e "Apresentação de Oswald de Andrade".

Atualmente exerce, além da arte, sua atividade de Analista em Curitiba,PR.

Contatos com o André:
andrecarneiro77@hotmail.com ou no site www.amigodaalma.com.br

Livros Publicados
Ângulo & Face - poesia - Edart - SP - 1949
Diário da Nave Perdida - contos - Edart - SP - 1963
Espaçopleno - poesia - Clube de Poesia - SP - 1963
O Homem que Adivinhava - contos - Edart - SP - 1966
O Mundo Misterioso do Hipnotismo - ensaio - Edart - SP - 1963
Introdução ao Estudo da Ficção Científica - ensaio - Conselho Estadual de Cultura - SP -1967
Manual de Hipnose - ensaio - Ed. Resenha Universitária - SP - 1978
Piscina Livre - romance - Editora Moderna - SP - 1980
Pássaros Florescem - poesia - Ed. Scipione - SP - 1988
Amorquia - romance - Ed. Aleph - SP - 1991
A Máquina de Hyerônimus - contos - Universidade Federal de São Carlos -1997

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