quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Arlete Piedade (1956)

Arlete Piedade Louro Daniel (Fada das Letras) nascida a 19 de Junho de 1956, numa pequena aldeia do distrito de Santarém - Portugal, onde passou a sua infância, até ir estudar em Santarém onde fez o curso da escola secundária, e iniciou a sua vida profissional numa seguradora com a idade de 17 anos incompletos.

Em 1980 por motivos de ordem pessoal, passa a residir e trabalhar na zona de Lisboa, onde se manteve até 1994, ano em que regressa a Santarém para cuidar dos negócios da família.

Já na infância e adolescência se manifestava o seu interesse pela leitura e escrita, ficando célebres as suas composições na escola primária e secundária. Mas com a entrada na idade adulta, o início das responsabilidades familiares e o nascimento dos dois filhos, apenas na leitura se refugiava por vezes para viver em fantasia realidades alternativas á vida monótona do dia a dia de uma grande cidade.
Com a volta a Santarém e os filhos já crescidos, continua a refugiar-se na leitura até que com a descoberta do mundo virtual e incentivada por amigos encontrados nesse novo meio, começa então a escrever poesia como forma de expressão de sentimentos, de início apenas no romantismo, e recentemente com crónicas, contos e poesia de intervenção social.

Destaca-se entre os amigos referidos, Roberto Oliveira, seu grande incentivador que a convidou para participar no seu site Mundo Poeta, no início da sua formação em 2003, dando origem a uma amizade que se tem mantido ao longo dos anos.

Nas crónicas, os seus temas preferidos são a cultura do seu povo e a sua cidade de Santarém - Portugal, as quais publicou no Jornal Ecos até á suspensão deste e também no Recanto das Letras.

Convidada por Victor Jerónimo poeta e escritor português radicado no Brasil, a participar das cirandas de temas sociais do seu grupo Ecos da Poesia e da Antologia Poética, Dois Povos, Um Destino, pela primeira vez teve a oportunidade de transpor os seus poemas das telas do computador para o formato escrito em livro.

Mais notícias sobre esta obra em: http://www.ecosdapoesia.net/noticiasliterarias/ecos1.htm

Faz parte do movimento poético com sede em Santiago do Chile e que espalhou por todos os continentes, Poetas del Mundo pelo qual foi nomeada cônsul na cidade de Santarém – Portugal.

Idealizou e promoveu as seguintes cirandas:

Ciranda do Mundo Poeta, publicada em: http://www.mundopoeta.net/ciranda/

Ciranda dos Namorados, publicada em:
http://www.mundopoeta.net/fadadasletras/cirandas/index.htm

Ciranda Línguas em conjunto com a poetisa brasileira Deth Haak, publicada em: http://www.ferool.info/ciranda.htm

Ciranda Basta, em conjunto com Victor Jerónimo e Efigénia Coutinho, publicada em: http://www.avspe.eti.br/cirandas/basta/indice.html

Fez parte do Júri convidado para a Ciranda-Concurso “Cartas” publicada em:
http://www.cirandasdeletras.cantodapoesia.net/ciranda_concurso_cartas.htm

Além destas, tem participado em várias cirandas publicadas em diversos sites na Internet.
O seu poema “Quisera” ganhou uma Menção Honrosa no III Concurso Literário de Contos e Poesias da Editora Guemanisse de Teresópolis no Brasil, em Outubro de 2006, pelo que foi incluído na Antologia “Convergentes”;

O seu conto de natal “A Chegada” foi classificado em quinto lugar no concurso de Contos de Natal do Centro de Estudos Culturais de Petrópolis no Brasil em Dezembro de 2006.

Em Fevereiro de 2007 publica o seu primeiro livro a solo, em edição de autor, “Sonetos da Fada das Letras”

Em Maio de 2007 participou na Antologia Poética “Poetas de Santarém” a convite da direcção do Jornal “O Mirante” um dos maiores órgãos regionais da zona Centro de Portugal.

Em Março de 2007 dá início a encontros poéticos ao vivo, que até o momento tiveram lugar em instituições de apoio a idosos, em conjunto com poetas amigos com vista a estreitar o convívio, divulgar a poesia e mitigar a solidão de quem assiste.

Em Junho de 2007 funda em conjunto com Alexa Wolf e Edyth Teles de Menezes, a associação cultural ULLA – União Lusófona das Letras e das Artes, para promoção e divulgação de escritores e artistas que se expressam em português.

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/

Arlete Piedade (Conto: A Chegada)

Era já noite alta, as estrelas brilhavam no céu escuro e límpido, iluminado pelo brilho das constelações e nebulosas que se recortavam claramente naquele firmamento esplendoroso de luz e quietude.

José caminhava desde há vários dias e noites apenas com pequenas paragens para os animais descansarem, e sua esposa e o Menino comerem algum parco alimento que lhe permitisse prosseguir naquela viagem, cujo fim ele esperava alcançar nos dias seguintes.

As suas pernas cansadas prosseguiam no entanto com um ritmo próprio como se não pertencessem ao mesmo corpo e fossem comandadas por algum mecanismo desconhecido de um tempo futuro, ou talvez passado, José não sabia, mas sentia que elas não lhe pertenciam e alguma força superior as comandava em seu lugar e lhe fazia sentir aquela urgência em prosseguir sem descanso até o Menino estar seguro em terra egípcia.

Olhou para trás brevemente, alertado por algum ruído diferente e quase imperceptível e viu sua esposa que dormitava sentada no burro exausto que no entanto ia também arrastando as suas patinhas desabituadas daquele piso, e envolvido na manta que o protegia do frio noturno do deserto, o pequeno vulto do filho de Maria, mas a quem ele amava com um amor tão forte que sentia que daria a sua vida para o proteger e a sua mãe.

Um pequeno vulto negro no céu, se destacou por breves momentos contra o brilho da noite estrelada e José pensou que fosse uma ave noturna e em breve esqueceu, enquanto prosseguia incansável rumo ao sol nascente cujos clarões da aurora já começavam a pincelar o céu com rosas e violetas sob um fundo dourado.

Em breve o sol esplendoroso e ardente iria subir rapidamente no céu e cada dia era mais difícil prosseguir viagem sob o calor sufocante.

José sabia que mais á frente existia um pequeno oásis com algumas árvores e um pequeno poço que servia há várias gerações para os caminhantes do deserto sobreviverem naquelas paragens inóspitas matando a sua sede e dos animais e esperava alcança-lo antes do sol ficar a pino sob as suas cabeças para pararem um pouco e descansarem da fadiga.

Enquanto o sol se erguia rapidamente ofuscando o brilho das estrelas, José viu que sua esposa quase tombava da montada, devido ao extremo cansaço e lutava para aconchegar a sua preciosa carga, ao seu colo cansado.

Parando a sua marcha José acorreu e tomou para o seu colo, o menino que dormia ainda, embora desse sinais de em breve despertar, pois que entreabria os seus olhinhos escuros e curiosos, mas depois os voltava a fechar devido á luminosidade ardente.

José colocou-o sentado sob os seus ombros e o menino colocou os bracinhos á volta da sua cabeça para se segurar, depois de José lhe ter ajeitado o seu turbante para o proteger do calor ardente.

Foram prosseguindo e José ia falando com o seu filho para o distrair da fome e da sede e do calor, contando histórias que ouvira a sua pai, de homens de outros tempos e das lutas que travavam no deserto contra leões e bandidos, e como guerreiros, sempre venciam, depois de lutas muito difíceis e demoradas, cheias de ciladas e armadilhas.

O menino ouvia com interesse debruçado sobre a sua cabeça para melhor ouvir, e assim foram caminhando com Maria dormitando atrás sob o burrinho até que alcançaram o oásis.

No entanto o velho poço estava quase entulhado com pedras derrubadas que algum vândalo sem respeito pelos outros caminhantes, ou alguma tempestade ou luta, tinham originado.

José olhou para os odres em pele, onde só uma pequena gota restava, quente e salobra, e retirando o menino de sob os seus ombros, coloco-o cuidadosamente sentado á sombra de uma tamareira, que no entanto por não ser a época, não tinha frutos, dizendo-lhe: - Jesus meu filho, fica aqui sentado que eu vou ajudar tua mãe a desmontar para descansar também um pouco aqui junto de ti.

O menino sorriu em silêncio acenando com a cabeça afirmativamente e José aproximou-se de sua esposa ajudando-a a descer da montada e retirando do alforje, uma manta resistente, estendeu-a á sombra da árvore e lá acomodou os dois seres mais importantes da sua vida para um breve descanso enquanto prendia com um laço comprido, o burrinho á árvore também.

No entanto o pobre animal também exausto deixou-se cair junto a seus donos e assentou a sua cabeça entre as patas para também descansar.

Então José despindo a sua túnica aproximou-se do poço entulhado e com esforço começou a tentar remover as pedras enormes que o tapavam, o que parecia ser tarefa superior ás suas forças humanas, dado a tamanho e o peso das mesmas.

Mas José não era homem de desistir, quando estava em causa a sobrevivência da sua família e ficou olhando em volta, concentrando-se e procurando uma solução para o problema.

Reparou então numa árvore mais afastada do poço e que devido á falta de água
estava quase seca, e indo ao seu alforje de lá retirou uma foice com uma lâmina afiada e curva que tinha levado para acudir a alguma emergência no deserto.

Aproximando-se da árvore com aquela ferramenta rudimentar, começou a cortar o seu tronco pacientemente, para fazer uma alavanca que lhe permitisse remover as pedras do poço.

Ergueu os olhos ao céu numa prece silenciosa e tomado de um súbito vigor ao olhar para o seu filho que brincava com um pequeno tronco fazendo desenhos na areia, atacou com força redobrada a pequena árvore, que em breve estava decepada sob os seus golpes certeiros.

Então aproximando-se do poço, começou a manobrar a sua ferramenta improvisada e as pedras começaram a ceder, e a serem levantadas pela habilidade do homem conjugada com a ferramenta rudimentar e intemporal que também lhe iria servir de cajado se resistisse pois o seu tinha-se partido ao escalar uma encosta pedregosa.

Em breve a água escura e fresca estava á vista e José mergulhando os seus odres na água, os encheu completamente e os levou a seu filho que bebeu cuidadosamente e a sua esposa que ainda mais parcamente bebeu a sua porção de líquido vital á vida.

Desdobrando um recipiente em pele que traziam no alforje, colocaram também um pouco de água que o animal sorveu com evidente satisfação e até se levantou como se quisesse continuar a caminhada, mas na verdade procurava algo para comer.
Comida, José procurou no fundo do alforje e encontrou um pouco de pão seco, que molhou com um pouco de água fazendo uma açorda tosca que deu a comer a sua esposa e seu filho, e também um pouco para o animal.

Para ele próprio, apenas algumas gotas de água para lhe umedecerem a boca ressequida e a pele abrasada do calor do sol, enquanto se sentava por momentos junto aos seus á sombra da árvore raquítica.

A sua cabeça tombou por breves momentos e Maria disse-lhe com ternura para que descansasse algum tempo, que o Egito já estava á vista e que estavam livres da perseguição do inimigo.

José fechou os seus olhos e uma visão estranha por breves momentos de sono sobressaltado o assaltou, e viu uma cruz alta erguendo-se contra um céu escuro em que nuvens de tempestade e raios se entrecruzavam e compreendeu num relance que a sua missão estava longe de estar concluída, mas de momento podia descansar um pouco.

O sol declinava no horizonte, quando todos retomaram a marcha e em breve o céu estrelado onde um cometa com uma longa cauda, fez a sua aparição, recordou a José que naquela noite se completavam três anos do nascimento do menino em Belém, e que uma estrela assim brilhante lhe tinha indicado o estábulo e que agora lhe indicava de novo o caminho seguro para nessa noite cruzarem a fronteira do Egito e ficarem em segurança na terra prometida.

Guiado pela estrela, José foi caminhando sem desfalecer sentindo uma presença benéfica junto de si, guiando os seus, e quando o sol se reergueu de novo, iluminou uma paisagem nova e diferente onde verdes planícies se avistavam ladeando um rio de água azul tão brilhante que corria preguiçosamente através dos campos circundantes e ao longe estranhos edifícios pontiagudos, ou mesmo montanhas, José não sabia, se erguiam por detrás de uma cidade magnífica cujos minaretes rebrilhavam como jóias ao sol da manhã.

Tinham chegado! Era o Egito, a terra prometida! José tinha cumprido a primeira parte de sua missão de pai e protetor do seu filho e da sua esposa.

Esta obra concorreu e venceu o "IV Concurso Historias de Natal", cuja premiação ocorrera no dia 20/12/2006 no Teatro Municipal de Petrópolis/RJ, Brasil,

Fonte:
http://www.mundopoeta.net/fadadasletras/a_chegada.asp.htm

Arlete Piedade (Poesias: Oh Mar! - Acesa)

Oh Mar!

Oh mar azul que serves de união,
entre duas margens tão distantes,
áqueles que saturados de paixão,
vivem com promessas de amantes...

acima, o firmamento e as estrelas
e os espíritos dos que, saudosos,
nas noites longas, como caravelas
navegam no céu, buscando amorosos!

Oh! Insondáveis mistérios humanos,
que no vale de lágrimas,vagueiam,
unidos na incerteza desse porvir...

por sobre o mar, ao longo de anos,
buscam esse contacto, que anseiam
num tempo do futuro,ainda por vir!


Acesa

Vou fazer um poema que será teu
sem mostrar ao mundo meu sentir
para que brilhe na noite de breu
e te mostre ao longe meu sorrir

para que na madrugada sonolenta
te acompanhe ao saires de casa
e saibas que o coração acalenta
a paixão rubra e acesa em brasa

no entanto a vida passa e foge
e o que era ardente, esfria hoje
sem o sabor dos beijos fumegantes

não me deixes só, á espera perdida
assim envelhecendo sem ter guarida
sem beijos, e carinhos de amantes!

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/

Pedro Valdoy (1937)

Francisco Pedro Curado Neves nasceu em Estremoz a 25 de Março de 1937.
- Fez o ensino secundário em Lisboa e o curso de Máquinas Marítimas na Escola Náutica Infante Dom Henrique, considerado superior.
- De 1955 a 1958 esteve em Lourenço Marques a trabalhar na Repartição de Finanças e como jornalista com o pseudónimo de Pedro Valdoy. Nunca concorreu a prêmios literários por ser contra os seus princípios.
- Em Agosto de 1958 regressou a Lisboa, onde permanece até agora.
- Durante seis anos navegou em navios Paquetes como Oficial Engenheiro de Máquinas, em especial pelo continente africano.
- Devido ao casamento, pôs as viagens de lado.
- Desde os oito anos que adora escrever. Quando estudante, fundou o jornal de Parede O GAVIÃO .
- No fim da década de 50 foi jornalista em Lourenço Marques.
- Conviveu com Reinaldo Ferreira, filho do repórter X, Moura Coutinho e José Craveirinha, então diretor do BRADO AFRICANO.
- Tem poemas publicados em vários jornais de Moçambique, Ilha da Madeira e Portugal Metropolitano.
- Participou nos Encontros de Poesia realizados em Vila Viçosa, em 1988. Colaborou em diversas antologias de poesia.
- Em 1990 publica o livro de poemas, POEMAS DO ACASO. Em 1991 edita mais um de poesia, HÁ CANDEIAS NO FIRMAMENTO. Em 2001 NO SILÊNCIO DE UMA PALAVRA.
- Tem mais três livros virtuais editados pela AVBL (Academia Virtual Brasileira de Letras) - http://www.avbl.com.br/
- Presta colaboração nos jornais POETAS & TROVADORES e ARTES & ARTES.
- Foi Secretário da Direção da Associação Portuguesa de Poetas, durante dois mandatos.
- Pertence à Tertúlia Rio de Prata
- Esteve na direção do Cenáculo Literário e Cultural Marquesa de Valverde.
- Foi Diretor do jornal Literário HORIZONTE.
- Profissionalmente é engenheiro.

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/espaco/pedro_valdoy/pedrovaldoy.htm

Pedro Valdoy (Poesias: Minhas Janelas - Minha Flor)

Minhas Janelas

Minhas Janelas
abrem-se para o futuro
com o brilho do Sol
com o sorriso de uma flor

Através delas sonharei
como poeta que sou
por entre os arbustos
da floresta do amor

Sentirei meu corpo leve
através da beleza e da magia
no encanto das flores
que derramam suas pétalas a meus pés

Mas o inesperado surge
por entre uma brisa suave
na beleza de uma princesa
com o seu belo sorriso

As árvores entoavam cânticos
com aquele novo amor
na sensualidade pura
para um novo amor.


Minha Flor

Minha flor do campo
tuas pétalas
são o sorriso da minha alma

São a ternura
dos sessenta por entre
a brisa de um passado

A sensualidade
de teu corpo irrequieto
desliza pelas ondas do mar

O amor eterniza-se
nas árvores frondosas
do nosso bosque

A tua sensibilidade
comoveu meu coração
na concha entreaberta

As borboletas
dançavam por entre as nuvens
recheadas do teu afecto

O passado longínquo
alargou nossos sentimentos
levados pelo vento

Agora o teu regresso
ao correr das pétalas
neste mundo presente

Fonte:
http://www.joaquimevonio.com/espaco/pedro_valdoy/pedrovaldoy.htm

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Barroco

O final do século XVI, em Portugal, era vivido num clima de insatisfação e intranquilidade. A Igreja, inconformada com a expansão do protestantismo, se armou para contra-atacar com a contra-Reforma. O estado português, que no início do século vivera seu período de maior glória com as conquistas ultramarinas e o sucesso do comércio com o oriente, via-se, nessa época, em plena decadência, no período mais negro de sua história.

É nesse período de inquietações e tensões que veremos surgir o Barroco, estilo que será praticado por todas as formas de arte.

Em Portugal, o Barroco teve início em 1580, com a unificação da Península Ibérica em razão do desaparecimento de D. Sebastião, rei de Portugal, na batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África. O Barroco se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana em pleno século XVIII.

No Brasil, o Barroco teve início com a publicação de Prosopopéia, de Bento Teixeira, em 1601, uma das muitas imitações de Camões na literatura brasileira. O final do Barroco ocorrerá em 1768 com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. O barroco, portanto, floresceu entre dois classicismos: o do século XVI (Renascimento) e o do século XVIII (Arcadismo).

Desde o começo da reforma Luterana, a Europa vivia em permanente tensão. Nunca as questões religiosas tiveram tanta importância. Foi uma época em que muitos morreram perseguidos por crenças e religiões.

Os países que adotaram outras religiões romperam com a Igreja Católica interessados não apenas nas questões religiosas, mas, também, na econômica. Ao manifestarem sua independência, eles puseram as mãos em muitos dos bens da Igreja em seu território.

A Igreja, que já perdia influência desde o Renascimento Comercial, resolveu não tolerar mais esta afronta e contra-atacou em duas frentes: no Concílio de Trento (1545 a 1563) e com a Companhia de Jesus (1534). A Companhia de Jesus, por meio de seus jesuítas, tornou-se inimiga da sociedade burguesa, das monarquias absolutas, dos protestantes e judeus. Foram cem anos de batalhas religiosas em que muitos foram mortos em revoltas e nas fogueiras da Inquisição. O comércio Português com as Índias encontrava-se em declínio e Portugal, que se endividara pensando exclusivamente nessas conquistas, não tinha outra atividade que lhe rendesse o necessário (a agricultura tinha sido completamente abandonada).

Para piorar ainda mais o quadro econômico, surgiu um problema político: D. Sebastião, rei de Portugal, desaparecera em Alcácer-Quibir, deixando o trono sem herdeiros portugueses que o substituíssem. Temos, então, a unificação da Península Ibérica sob o comando do rei espanhol Henrique II.

Sob o domínio da Espanha, rapidamente chegava a Portugal e ao Brasil a influência da Escola Espanhola ou Barroca.

No Brasil, aconteciam a invasão dos holandeses, o apogeu e a decadência do ciclo da cana-de-açúcar.

Marcado pelas lutas religiosas e pela crise econômica, surgia o Barroco, combatendo a forma abstrata, idealizadora e equilibrada do Renascimento e colocando em cena a luta entre pólos opostos: o homem e Deus, o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual. Tentando fugir da realidade, o autor barroco sobrecarrega a poesia de figuras como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. A arte assume, então, uma tendência sensualista, que se traduz num exagerado rebuscamento.

O termo barroco denominou todas as manifestações artísticas do século XVII e XVIII: a literatura, a música, a pintura, a escultura e a arquitetura.

A origem da palavra remete-nos a vários sentidos:
• Forma de raciocínio em que, de duas premissas iniciais, se infere uma
conclusão;
Ex.:
I) todos os homens são mortais
II) Pedro é homem
III) logo, Pedro é mortal.

• Pérola defeituosa, de formação irregular;
• Terreno desigual, assimétrico.

Qualquer desses significados é bom e estabelece relações com a estética barroca, a qual apresenta jogo de idéias, rebuscamento, assimetria.

Mesmo considerando o Barroco como o primeiro movimento literário e Gregório de Matos nosso primeiro poeta realmente brasileiro, ainda não se pode isolar o Brasil de Portugal. Como afirma Alfredo Bosi: “No Brasil, houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano”. Além disso, os dois principais autores do Barroco, Gregório de Matos e Padre Vieira, tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Por essas razões, não estudaremos separadamente o Barroco português e brasileiro.

Cultismo e conceptismo

Podemos notar dois estilos no barroco literário: o Cultismo e o Conceptismo.

Cultismo é o estilo barroco caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gongora; daí o estilo ser conhecido, também, por Gongorismo. Eis o soneto mais famoso desse estilo:

Enquanto, em vão, de ouro bunido brilhar
O sol já suplantado em seu cabelo,
E tua branca fronte, enquanto a um lírio
Ardente mira ao prado, mas sem vê-lo,

E enquanto aos lábios teus seguindo vão
Mais do n´alva ao cravo muitos olhos,
E enquanto anula com desdém loução
Cristais sem par seu desdenhoso colo,
Goza o cabelo, o colo, o lábio, a fronte,
Antes que enfim não só tua era dourada,
Tu também, mais cravo e sol luzente
Em prata se envelheçam, flor de ontem
E disso ainda caias transformada
Em fumo, em terra, em pó, em sombra, em nada

Luís de Gongora

Paráfrase

Enquanto o sol brilha tentando competir com seus cabelos;
Enquanto a brancura do teu rosto olha com desprezo a brancura do lírio, porque o seu rosto é mais branco;
Enquanto teus lábios vermelhos são cobiçados por mil olhares e dão inveja ao cravo da manhã que ninguém vê;
Enquanto teu colo ofusca o brilho do cristal
Enquanto, moça, tens toda essa beleza, aproveita antes que te transformes em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada.


Conceptismo: é o estilo barroco marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais seguidores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo.

Uma crítica conceptista ao estilo cultista

Se gostas da afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam de culto, não me leias.

Quando este estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. (...) Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar chamam-lhe de culto, os que o condenam chamam-lhe de escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?!

Padre Antonio Vieira

Fonte:
Santos, Eberth Santos. Moura, Josana. Literatura em ação. 2. ed. Uberlandia, MG: Claranto, 2004. p.60-63

Padre Antonio Vieira (1608 - 1697)

Vieira foi um escritor cuja genialidade assombra até mesmo os leitores de hoje. Foi um homem do seu tempo, participante não só dos problemas da religião, mas, também, da política e dos acontecimentos em geral.

Nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu em Salvador em 1697. Com sete anos veio para a Bahia. Entrou para a Companhia de Jesus. Foi pregador régio, conselheiro de D. João IV, embaixador na França, na Holanda e em Roma. Para defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos, tinha contra si a pequena burguesia cristã e a Inquisição; por defender o monopólio comercial, irritou os pequenos comerciantes; por defender os índios, teve que ir contra os administradores e colonos. Pela defesa dos judeus e cristãos novos foi condenado pela Inquisição e ficou preso de 1665 a 1667.

Vieira falava para o mundo e seu estilo estava ainda acima do barroquismo de seus contemporâneos. Ele via a história como ela deveria ser...

A definição do Pregador é a vida, e o exemplo. Ter nome de Pregador ou ser Pregador de nome não importa nada: as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo. O melhor conceito que o Pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o conceito que de sua vida têm os ouvintes. Antigamente, convertia-se o mundo: hoje, por que não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiros sem bala, atiram mas não ferem. (”Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”).

António Vieira foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).

António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.

Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiro e as universidades frequentemente exigem sua leitura.

Biografia

Nascido em lar humilde, e mulato, na Rua do Cónego, perto da Sé, em Lisboa. Seu pai serviu a Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição, tendo mudado-se para o Brasil em 1609, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na capitania da Bahia. Em 1614 mandou vir a família para o Brasil. António Vieira tinha seis anos. Aplica-se-lhe a frase que ele mesmo escreveu: "os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem."

Estudou na única escola da Bahia: o Colégio dos Jesuítas em Salvador. Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois tornou-se brilhante. Juntou-se à Companhia de Jesus com voto de noviço em maio de 1623. Obteve o mestrado em Artes e foi professor de Humanidades, ordenando-se sacerdote em 1634.

Em 1624, quando da Invasão Holandesa de Salvador, refugiou-se no interior, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária. Estudou muito além da Teologia: Lógica, Física, Metafísica, Matemática e Economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, foi ordenado e em 1638 já ensinava Teologia.

Quando da segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do facto de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior na época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão do Nordeste do Brasil.

Após a Restauração da Independência em (1640), em 1641, iniciou a carreira diplomática pois integrou a missão que veio a Portugal prestar obediência ao novo monarca. Impondo-se pela viveza de espírito e como orador, foi nomeado pelo rei pregador régio. Em 1646 foi enviado à Holanda no ano seguinte à França, com encargos diplomáticos. Era embaixador (o pai, antes pobre, foi nomeado pensionista real) para negociar com os Países Baixos a devolução do Nordeste. Caloroso adepto de obter para a coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com a Inquisição mas viu fundada a Companhia de Comércio do Brasil

O povo de Portugal não gostava de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios.

Diz o Padre Serafim Leite em "Novas Cartas Jesuíticas", Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuitas no centro e no sul», na «defesa dos Indios e crítica de costumes". "Manoel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!"

Voltou para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da Regente, D. Luísa de Gusmão. Com a morte de D. Afonso VI, Vieira não encontrou apoio.

Abraçou a profecia sebástica e por isso entrou de novo em conflito com a Inquisição que o acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão, na qual expunha sua teoria do Quinto Império, segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser a cabeça de um grande império do futuro. Expulso de Lisboa, desterrado e encarcerado no Porto e depois encarcerado em Coimbra, enquanto os jesuítas perdiam seus privilégios. Em 1667 foi condenado a internamento e proibido de pregar, mas, seis meses depois, a pena foi anulada. Com a regência de D. Pedro, futuro D. Pedro II de Portugal, recuperou o valimento.

Seguiu para Roma, de 1669 a 1675. Encontrou o Papa à morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja atuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano.

Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protetor do Santo Ofício e o recebeu friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos.

Decidiu voltar outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir seus escritos, visando à edição completa em 16 volumes dos seus Sermões, iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum. Possuía cerca de 500 Cartas que foram publicadas em 3 volumes. Suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição.

Já velho e doente, teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever de próprio punho. Em 10 de junho começou a agonia, perdeu a voz, silenciaram-se seus discursos. Morre a 17 de Junho de 1697, com 89 anos, na cidade de Salvador, Bahia

Obra

Deixou obra complexa que exprime suas opiniões políticas, sendo não propriamente um escritor e sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os inúmeros sermões, alguns dos mais célebres: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão","Sermão de Santo António aos Peixes" entre outros.

Vieira escreveu profecias, entre elas a que previa o retorno de D.Sebastião a Portugal; Cartas sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre os cristãos novos, a Inquisição e a situação da Colônia; e os sermões, suas melhores obras.

Seus melhores sermões foram:
• o Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda;
• o Sermão de Santo Antonio aos peixes;
• e o Sermão da Sexagésima.

Sermão da Sexagésima

Será por ventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda arte e a toda natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. Compara Cristo o pregar ao semear, porque semear é uma arte que tem mais de natureza do que de arte.

Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no Mundo foi o Céu. Suposto que o Céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais são estes sermões e estas palavras do Céu? _ As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O pregar há de ser como quem semeia como quem ladrilhar ou azulejar. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de estar noite? Se de uma parte dizem luz; da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteiras com o seu contrário?

Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus: _ Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a Palavra de Deus
.”
Lendas

Existem muitas lendas sobre o padre António Vieira, incluindo a que afirma que, na juventude, a sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora, e a que, uma vez, um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido.

Fontes:
Santos, Eberth Santos. Moura, Josana. Literatura em ação. 2. ed. Uberlandia, MG: Claranto, 2004. p.65-66
Vieira, Padre Antônio. Vieira – Sermões. 2ªed. Rio de Janeiro, Agir, 1960. p.107

Gregório de Matos (1623 ou 1633 - 1696)

Gregório de Matos e Guerra (Salvador, 7 de abril de 1623 ou 1633 — Recife, 26 de novembro de 1696), alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, foi um advogado e poeta brasileiro da época colonial. É considerado o maior poeta barroco do Brasil e um dos maiores poetas de Portugal.

Gregório nasceu numa família de proprietários rurais, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era natural de Guimarães, Portugal). De facto, a nacionalidade de Gregório de Matos é portuguesa, na medida em que o Brasil só se tornou independente no século XIX.

Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.

Em 27 de Janeiro de 1668 teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de Janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador.
Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil.

O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido.

Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais bahianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.
Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.
Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição (acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão). A acusação não tem seguimento.
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo.

Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola.

Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, ainda que não possa voltar à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola.

Alcunha

A alcunha boca do inferno foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a cidade da Bahia, como neste soneto:

A cada canto um grande conselheiro.
que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem governar sua cozinha,
e podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
trazidos pelos pés os homens nobres,
posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
todos, os que não furtam, muito pobres,
e eis aqui a cidade da Bahia.

Em honra do poeta, o título Boca do Inferno foi adoptado para as crónicas humorísticas de Ricardo Araújo Pereira, outro humorista português que critica vários aspectos culturais, muitas vezes a Igreja.

Obra

A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de alguns de seus versos.

Entre seus grandes poemas está o "A cada canto um grande conselheiro", na qual critica os governantes da "cidade da Bahia" de sua época. Esta crítica é, no entanto, atemporal e universal - os "grandes conselheiros" não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que "nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro". A figura do "grande conselheiro" é a figura do hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar aos seus. Em resumo, é aquele que aconselha mas não segue os seus preceitos.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Irmãos Grimm (Wilhelm 1786-1859) (Jacob 1785-1863)

Os irmãos Grimm (em alemão Brüder Grimm), Jacob e Wilhelm Grimm, nascidos em 4 de Janeiro de 1785 e 24 de Fevereiro de 1786, respectivamente, foram dois alemães que se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis, ganhando assim grande notoriedade. Também deram grandes contribuições à língua alemã com um dicionário (O Grande Dicionário Alemão - Deutsches Wörterbuch) e estudos de lingüística, e ao estudo do folclore.

Infância e estudos

A família é originária da cidade de Hanau no estado de Hesse. Os avós e bisavós eram protestantes. Os pais, Philipp Wilhelm e Dorothea Grimm, tiveram nove filhos dos quais apenas Ferdinand, Ludwig Emil, Charlotte, Jacob e Wilhelm Karl sobreviveram. A casa onde os irmãos nasceram está localizada na antiga praça das armas da cidade de Hanau. Em janeiro de 1791, Philipp foi nomeado funcionário na sua cidade natal, Steinau, em Kinzing, onde a família instala-se. Em 1796 o pai deles morre com 45 anos de idade. A mãe, a fim de assegurar ao filho mais velho todas as chances de conseguir avançar na carreira jurídica, envia os dois filhos para junto de sua tia em Kassel. Jacob freqüenta a Universidade de Marburg e estuda Direito, como o pai,enquanto seu irmão junta-se a ele um ano depois no mesmo curso. Um dos seus professores, Friedrich Carl von Savigny, abriu sua biblioteca privada para os jovens estudantes ávidos pelo saber e amantes de Goethe e Schiller, para fazê-los descobrir os escritores românticos e os minnesang. Savigny que trabalhava em uma História do Império Romano, encaminha-se para Paris em 1804 para suas pesquisas. Em janeiro de 1805, ele convida Jacob a ajudá-lo, o que este faz sem demora. Na qualidade de ajudante, ele se volta durante vários meses para a literatura jurídica. Desta época data o seu afastamento de temas jurídicos. Em sua correspondência,ele fala querer apenas consagrar-se à pesquisa sobre a "magnífica literatura da Alemanha antiga". Ambos já se interessavam pela língua e pela literatura.

Primeiros escritos

Os irmãos decidiram dedicar-se aos estudos de história e lingüística, recolhendo diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas pela tradição oral.

Jacob Grimm retornou a Kassel aonde entrementes sua mãe tinha vindo se instalar. No ano de 1806, Wilhelm Grimm termina seus estudos em Marburg. Eles vivem com a mãe em Kassel. Jacob consegue um cargo de secretário na escola de guerra de Kassel. A seguir às guerras napoleônicas contra a Prússia e a Rússia, que começam pouco depois da sua nomeação e que colocam Kassel sob a influência de Napoleão, a escola de guerra é reformada e ele torna-se o encarregado do abastecimento das tropas combatentes, o que o desagrada e o leva a abandonar seu posto. Wilhelm Grimm, de saúde frágil, estava na época sem emprego. Desse período nebuloso, mas que os encontra muito motivados, datam as primeiras compilações de contos e histórias que nos chegaram hoje.

Após o falecimento da mãe em 27 de maio de 1808, Jacob, na qualidade de primogênito, ficou encarregado de toda a família. Ele aceita então um cargo de diretor da biblioteca privada de Jérome Bonaparte (irmão de Napoleão recentemente feito rei do jovem reino da Vestfália) e ocupa durante o ano de 1809 um cargo de assessor no conselho de Estado, ainda que não tenha sido obrigado a essa posição e dedicasse grande parte de seu tempo aos estudos.

Em 1809, por causa de sua doença, Wilhelm faz um tratamento em Halle que deve ter sido financiado por Jacob. Ele passa a residir no castelo de Giebichenstein (que pertenceu ao compositor Johann Friedrich Reichardt) e enfim em Berlim onde encontra Clemens Bretano através de quem ele conhece escritores e artistas berlinenses como, por exemplo, Ludwig Achim von Arnim. Durante a volta para Kassel, Wilhelm encontra também Johann Wolfgang von Goethe que aprova os seus "esforços em prol de uma cultura vasta e esquecida".

Desde 1806, os irmãos Grimm tinham reunido contos e desde 1807 tinham publicado artigos em revistas sobre mestres trovadores. A partir de 1810, os irmãos Grimm encontram-se novamente juntos em Kassel e em 1811, Jacob publica sua primeira obra sobre os "mestres cantores alemães" (Über den altdeutschen Meistergesang).

Depois da batalha de Leipzig em 1813, o reino da Vestfália foi desfeito e o colégio eleitoral de Hesse restaurado. Jacob Grimm perde, por isso, seu cargo de diretor da biblioteca real, mas logo encontra um emprego junto ao príncipe-eleitor, como secretário da legação. Nessas novas funções diplomáticas, ele retorna a Paris em 1814, onde emprega seu tempo livre em novas pesquisas na biblioteca. Se ele gostava das viagens, sentia, contudo o afastamento das pesquisas literárias no seu país por causa dos afazeres.

Coletores de contos e lendas

Wilhelm Grimm nesse meio tempo havia publicado o seu primeiro livro em 1811,traduções de lendas dinamarquesas antigas (Altdänische Heldenlieder). A primeira obra comum dos dois irmãos, sobre o Hildebrandslied e o Wessobruner Gebet, foi publicada em 1812 e foi seguida em dezembro do mesmo ano da primeira coletânea, Contos da Criança e do Lar (Kinder und Hausmärchen), com tiragem de 900 exemplares. O primeiro manuscrito da compilação de histórias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Os dois irmãos escreviam também uma edição alemã do Eddas, assim como uma versão alemã do Romance de Renart (o Reineke Fuchs), um conjunto de poemas medievais trabalhos que ficaram, no entanto, durante muito tempo, incompletos. De 1813 á 1816, os irmãos contribuíram igualmente para a revista Altdutsche Wälder, dedicada à literatura alemã antiga, mas que só dura três números.

Em 1814, Wilhelm Grimm torna-se secretário da biblioteca do museu de Kassel e instala-se no Wilhemshöher Tor um alojamento pertencente à casa do príncipe-eleitor de Hesse, onde Jacob se junta a ele quando volta de Paris. Em 1815, Jacob Grimm assiste ao Congresso de Viena na qualidade de secretário da delegação de Hesse e em seguida, retorna a Paris para uma missão diplomática em setembro de 1815. Logo depois, abandona a carreira diplomática para poder dedicar-se exclusivamente ao estudo,a classificação e ao comentário da literatura e da história. Neste mesmo ano, ao lado de uma obra de estudos mitológicos (Irmentraâe und Irmensäule), ele publica uma seleção de antigos romances espanhóis (Silva de romances viejos).

Em 1815, os irmãos Grimm produzem o segundo volume dos Contos da Criança e do Lar, reimpresso em forma aumentada em 1819. As notas sobre os contos dos dois volumes foram publicadas em 1822. Uma nova publicação que condensava os outros três volumes em um único surge em 1825 e contribui grandemente para a popularidade dos contos. Essa edição foi ilustrada pelo irmão deles Ludwig Emil Grimm. A partir de 1823 apareceu uma edição inglesa ilustrada dos Contos da Criança e do Lar. Durante a vida dos dois irmãos apareceram sete impressões da edição completa em três volumes dos contos e dez da edição reduzida a um volume único. A qüinquagésima edição, última com os autores vivos, já totalizava 181 narrativas. Algumas dessas histórias são de fundo europeu comum, tendo sido também recolhidas por Charles Perrault, no século XVII, na França, o que remete à existência de uma fonte comum.

Seguem-se, entre os anos de 1816 e 1818, os dois tomos de lendas recolhidas (Deutsche Sagen). Os dois irmãos haviam recolhido indiferentemente contos e lendas. É difícil separá-los sob critérios temáticos e os irmãos não os fizeram de maneira seguida. No entanto, os contos remontam no essencial a fontes orais, enquanto as lendas foram terminadas mais ou menos ao mesmo tempo, desde 1812. A demora de seis anos da publicação se explica pelo trabalho de composição de um texto publicável. O conjunto de lendas não conseguiu grande sucesso e não foi, portanto, reimpresso durante a vida dos irmãos.

Na idade de 30 anos, Jacob e Wilhelm já haviam conseguido uma posição de destaque por suas numerosas publicações. Eles viviam juntos em Kassel, com o modesto salário de Wilhelm durante um tempo. Apenas em abril de 1816, Jacob tornou-se segundo bibliotecário em Kassel, ao lado de Wilhelm que já trabalhava há dois anos como secretário. O trabalho deles consistia em emprestar, procurar e classificar as obras. Simultaneamente a suas funções oficiais, eles podiam realizar as próprias pesquisas, que foram condecoradas em 1819 por um doutorado honoris causa da Universidade de Marbourg.

Eles não teriam podido publicar tanto durante estes anos sem encorajamento nem proteções. Primeiramente eles foram sustentados pela princesa Wilhelmine Karoline de Hesse. Depois de sua morte em 1820 e a do príncipe eleitor em 1821, os irmãos mudaram-se com a irmã deles, Charlotte, para um alojamento mais simples, entre uma caserna e uma forja, não sem conseqüências embaraçosas para o trabalho deles. "Lotte", que até então ficava com a família, se casaria pouco depois, deixando os dois irmãos que se mudariam várias vezes e levariam uma vida de solteiros durante muitos anos ainda.

A paixão pela língua

É nesse período criativo que se dá o trabalho de Jacob na sua Gramática Alemã. O primeiro tomo tratava da flexão, o segundo da formação das palavras, Jacob trabalha nela com furor, sem deixar um manuscrito completo, fazendo imprimir folha após folha à medida que escrevia texto suficiente. A impressão do primeiro tomo se estendeu de janeiro de 1818 ao verão de 1819, a duração exata do trabalho dele em sua obra. Até 1822, ele trabalhará novamente no primeiro tomo de maneira a incluir apenas estudo dos sons. Como anteriormente, ele escreve e faz imprimir as páginas, princípio que ele segue também para o segundo tomo, surgido em 1826. Wilhelm tinha publicado durante esse período vários livros sobre as runas e os cantos heróicos alemães (Deutsche Heldensage), considerados como suas obras primas, surgidos em 1829.
Foi apenas após o casamento de Wilhelm Grimm com Henrietta Dorothea Wild em 1825 que o curso da vida dos dois irmãos veio a ter alguma estabilidade. Eles continuaram a viver juntos apenas até o nascimento das crianças de Wilhelm e "Dortchen". Em 1829, depois de respectivamente 13 e 15 anos de serviço na biblioteca de Kassel, os dois irmãos demitem-se. Depois da morte do diretor, o príncipe-eleitor de Hesse, Guilherme II de Hesse não entregou o posto a Jacob e os irmãos responderam à proposta da biblioteca da Universidade de Göttingen em Hanôver.

Eles vivem novamente juntos, Jacob trabalhava como professor titular, Wilhelm como bibliotecário e, a partir de 1835,também como professor. Jacob publica dois tomos suplementares de sua gramática até 1837. Ele também pôde terminar em 1834 o trabalho começado em 1811 sobre o Reineke Fuchs, e compôs uma obra sobre a mitologia germânica (Deutsche Mythologie, 1835). Wilhelm encarregou-se sozinho da terceira impressão dos Kinder und Hausmärchen em 1837.

Nesse mesmo ano, o rei de Hanôver, da Grã-Bretanha e da Irlanda, Guilherme IV morre, e a coroa de Hanôver passa para seu irmão Ernest August I. De tendências autoritárias, este rapidamente revoga a constituição relativamente liberal que havia sido instituída pelo seu predecessor, à qual os funcionários haviam prestado juramento. Sete professores da universidade de Göttingen, entre os quais Jacob e Wilhelm, assinam uma carta de solene protesto. O rei replica exonerando os professores e exilando três deles de seu estado, entre os quais, Jacob Grimm e graças a isto, Os Sete de Göttingen (o Göttinger Sieben) ganham grande repercussão na Alemanha.

Grande dicionário alemão

Os irmãos retornam a Kassel onde ficam sem emprego até que o rei Frederico Guilherme IV da Prússia convida-os para trabalhar como membros da academia de ciências e professores na Universidade Humboldt. Os dois aceitam essa oferta e se instalam definitivamente em Berlim. Jacob empreendeu, no entanto diversas viagens ao estrangeiro, e foi depois deputado no Parlamento de Frankfurt em 1848 junto com vários de seus antigos colegas de Göttingen.

Durante esse período berlinense, os dois irmãos consagraram-se principalmente a uma obra colossal: a escrita de um dicionário histórico da língua alemã, que apresentaria cada palavra com sua origem, sua evolução, seus usos e sua significação. Mas os dois haviam subestimado o trabalho a ser feito. Ainda que tenham começado essa tarefa em 1838, após a volta de Göttingen, o primeiro volume aparece apenas em 1854 e apenas alguns volumes puderam ser editados durante a vida deles. Várias gerações de germanistas darão continuidade a esta obra, e cento e vinte e três anos depois, em 4 de janeiro de 1961, o trigésimo segundo volume do dicionário foi enfim publicado. Em 1957, uma nova revisão desta obra gigantesca foi iniciada e o primeiro volume do trabalho, publicado em 1965. Em 2004, o conjunto do dicionário foi editado em forma de CD-ROM pela Edições Zweitausendeins (Frankfurt am Main).

Wilhelm Grimm morreu em 16 de dezembro de 1859. A academia de Berlim escrevia em janeiro de 1860: "No dia 16 do último mês faleceu Wilhelm Grimm, membro da Academia, que fez brilhar seu nome à designação de lingüista alemão e coletor de lendas e poemas. O povo alemão está também habituado a associá-lo a seu irmão mais velho Jacob. Poucos homens são honrados e amados como são os irmãos Grimm, que no espaço de meio século ampararam-se reciprocamente e fizeram-se conhecidos por um trabalho comum". Jacob sozinho deu continuidade à obra deles até morrer em 20 de setembro de 1863. Os dois irmãos descansam juntos no cemitério de Matthäus em Berlim-Schöneberg.

Obras

As obras comuns mais significativas de Jacob e Wilhelm Grimm são: a reunião de contos para crianças,a coleção de lendas,assim como o dicionário. Jacob Grimm trouxe contribuições de primeira importância para a lingüística alemã então nascente, que ajudaram a fundar a gramática histórica e comparada. É na segunda edição de sua Gramática Alemã que Jacob descreve as leis da fonética que regulam a evolução das consoantes nas línguas germânicas, conhecidas depois sob o nome de Lei de Grimm. Ele é também o autor de uma História da Língua Alemã (Geschichte der deutschen Sprache).

Buscando encontrar as origens da realidade histórica de seu país, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Com suas pesquisas, tinham dois objetivos básicos: o levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã e a fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito nacional. De qualquer forma, surge uma grande literatura infantil para encantar crianças de todo o mundo.

O compositor Richard Wagner inspirou-se em várias lendas recolhidas pelos dois irmãos para a composição de suas óperas, assim como da Deutsche Mythologie de Jacob Grimm para sua Tetralogia.

Características dos contos

Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os irmãos Grimm que as dedicaram às crianças por sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a coletânea já evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruéis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.

O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência presente nos contos de Charles Perrault, cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas histórias, o que predomina, sempre são a esperança e a confiança na vida. É possível observar essa diferença, confrontando-se os finais da história de Chapeuzinho Vermelho em Perrault, que termina com o lobo devorando a menina e a avó, e em Grimm, onde o caçador abre a barriga do lobo, deixando que as duas fiquem vivas e felizes enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou.

Os Contos de Grimm não são propriamente contos de fadas, distribuindo-se em:

- Contos de encantamento (histórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, a maioria por encantamento);

- Contos maravilhosos (histórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas);

- Fábulas (histórias vividas por animais);

- Lendas (histórias ligadas ao princípio dos tempos ou da comunidade e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade);

- Contos de enigma ou mistério (histórias que têm como eixo um enigma a ser desvendado);

- Contos jocosos (humorísticos ou divertidos).

A característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples, um só núcleo dramático. A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.

Essa reiteração dos mesmos esquemas na literatura popular-infantil vai, pois, ao encontro da exigência interior de seus leitores: apreciarem a repetição de situações conhecidas, porque isso permite o prazer de conhecer, por antecipação, tudo o que vai acontecer na história. E mais, dominando, a priori, a marcha dos acontecimentos, o leitor sente-se seguro interiormente. É como se pudesse dominar a vida que flui e lhe escapa.

Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição popular, justifica o destaque conferido a estes autores alemães.

Contos mais famosos
Branca de Neve;
Cinderela;
João e Maria;
Rapunzel;
A Protegida de Maria;
O Ganso de Ouro;
O Alfaiate Valente;
O Lobo e as Sete Cabras;
Os Sete Corvos;
As Aventuras do Irmão Folgazão;
Os Músicos de Bremen.

Essas histórias não são de autoria dos Irmãos Grimm, apenas foram compiladas por eles.

Fonte:
pt.wikipedia.org

Cristiane Madanêlo de Oliveira (Irmãos Grimm entre 1785 e 1863)

Jacok e Wilhelm Grimm

Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo.

Tinham dois objetivos básicos com a pesquisa:
- levantamento de elementos lingüísticos para fundamentação dos estudos filológicos da língua alemã;
- fixação dos textos do folclore literário germânico, expressão autêntica do espírito da raça.

O primeiro manuscrito da compilação de histórias data de 1810 e apresentava 51 narrativas. Em sua primeira edição, a compilação foi entitulada "Histórias das crianças e do lar" e já contava com mais algumas histórias. A qüinquagésima edição, última com os autores vivos, já totalizava 181 narrativas. Algumas dessas estórias são de fundo europeu comum, tendo sido também recolhidas por Perrault, no séc. XVII, na França (o que remete à existência de uma fonte comum).

Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os Irmãos Grimm que dedicaram-nas às crianças por sua temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O título escolhido para a coletânea "Histórias das crianças e do lar" já evidencia uma proposta educativa. Alguns temas considerados mais cruéis ou imorais foram descartados do manuscrito de 1810.

O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência (presente nos Contos de Perrault) cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas estórias, o que predomina, sempre, é a esperança e a confiança na vida.

Ex: Confrontando os finais da estória do "Chapeuzinho Vermelho"; em Perrault (que termina com o lobo devorando a menina e a avó) e em Grimm (onde o caçador chega, abre a barriga do lobo, deixando que as duas vivam vivas e felizes; enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou...).

Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição oral, justificam o destaque conferido a estes autores alemães.

Nos Contos de Grimm não há, propriamente, contos-de-fadas, distribuem-se em:
- contos-de-encantamento (estórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, por encantamento, a maioria);
- contos maravilhosos (estórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas);
- fábulas (estórias vividas por animais, algumas);
- lendas (estórias ligadas ao princípio dos tempos, ou da comunidade, e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade);
- contos de enigma ou mistério (estórias que têm como eixo um enigma a ser desvendado);
- contos jocosos (humorísticos ou divertidos).

A característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples: um só núcleo dramático.

A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a elementaridade, ou simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.

Essa reiteração dos mesmos esquemas, na literatura popular-infantil, vai, pois, ao encontro da exigência interior de seus leitores: apreciarem a repetição das "situações conhecidas", porque isso permite o prazer de conhecer, por antecipação, tudo o que vai acontecer na estória. E mais, dominando, a priori, a marcha dos acontecimentos, o leitor sente-se seguro interiormente. é como se pudesse dominar a vida que flui e lhe escapa ...

Fonte:
Cristiane Madanêlo de Oliveira. "Irmãos Grimm: Jacob e Wilhelm (entre 1785 e 1863)"
Disponível http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm

Irmãos Grimm (Os Sete Corvos)

Era uma vez um homem que tinha sete filhos, todos meninos, e vivia suspirando por uma menina. Afinal, um dia, a mulher anunciou-lhe que estava mais uma vez esperando criança.

No tempo certo, quando ela deu à luz, veio uma menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha, e precisava ser batizada com urgência. Então, o pai mandou um dos filhos ir bem depressa até a fonte e trazer água para o batismo.

O menino foi correndo e, atrás dele, seus seis irmãos. Chegando lá, cada um queria encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água e desapareceu. Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa, como eles estavam demorando muito, o pai disse, impaciente:

- Na certa, ficaram brincando e se esqueceram da vida!

E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:

- Queria que todos eles se transformassem em corvos!

Nem bem falou isso, ouviu um ruflar de asas por cima de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como carvão passando a voar por cima da casa. Os pais fizeram de tudo para anular a maldição, mas nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete filhos. Mas, de alguma forma, se consolaram com a filhinha, que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia mais bonita. Passaram-se anos.

A menina nunca soube que tinha irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém, escutou acidentalmente algumas pessoas falando dela:

- A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela que os irmãos se desgraçaram...

Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou- lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido uma predestinação do céu, mas que o batismo dela fora a inocente causa. A partir desse momento, não se passou um dia sem que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no que fazer para salvá-los.

Não tinha mais paz nem sossego. Um dia, ela fugiu de casa, decidida a encontrar os irmão onde quer que eles estivessem, nesse vasto mundo, custasse o que custasse. Levou consigo apenas um anel de seus pais como lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando quisesse descansar.

Foi andando, andando, se afastando cada vez mais, e assim chegou ao fim do mundo. Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador, quente demais e comia crianças. A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa, mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a menina, disse com um sorriso mau:
- Hum, hum... que cheirinho bom de carne humana!

A menina se afastou correndo e foi falar com as estrelas. Encontrou--as sentadas, cada uma na sua cadeirinha. Todas elas foram bondosas e amáveis com ela.

A Estrela D'alva ficou em pé e lhe deu um ossinho de frango, dizendo:
- Sem este ossinho, você não poderá abrir a Montanha de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão seus irmãos.

A menina pegou o ossinho, embrulhou-o num pedaço de pano, e de novo se pôs a andar. Andou, andou e afinal chegou na Montanha de Cristal. O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho para pegar o osso, ele estava vazio! Ela havia perdido o presente da estrela... E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da Montanha de Cristal.

Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou fechado. Então, pegou uma faca em sua trouxinha, cortou fora um pedaço do dedo mindinho, meteu o pedaço do dedo na fechadura: felizmente, o portão se abriu.

Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu encontro:

- O que esta procurando, minha menina?

- Procuro meus irmãos, os sete corvos.

- Os senhores corvos não estão em casa e vão se demorar bastante. Mas, se quiser esperar, entre e fique à vontade.

Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou trazendo a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o anel que trouxera dentro do último copinho. Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de asas no ar.

- São os senhores corvos que vêm vindo - explicou o anãozinho. Eles entraram, quiseram logo comer e beber e se dirigiram para seus pratos e copos. Então um disse para o outro:

- Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no meu copo! E foi boca humana!

E quando o sétimo corvo acabou de beber a última gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu o anel de seus pais e exclamou:

- Queira Deus que nossa irmãzinha esteja aqui! Então, estaremos salvos!

Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos recuperaram sua forma humana. Abraçaram-se e se beijaram na maior alegria e, muito felizes, voltaram todos para casa.

Fonte:
http://www.logoslibrary.eu/

Irmãos Grimm (Rumpelstichen)

Era uma vez um moleiro muito pobre, que tinha uma filha linda. Um dia ele se encontrou com o rei e, para se dar importância, disse que sua filha sabia fiar palha, transformando-a em ouro.

- Esta é uma habilidade que me encanta - disse o rei. - Se é verdade o que diz, traga sua filha amanhã cedo ao castelo. Eu quero pô-la à prova. No dia seguinte, quando a moça chegou, o rei levou-a para um quartinho cheio de palha, entregou-lhe uma roda e uma bobina e disse:

- Agora, ponha-se a trabalhar. Se até amanhã cedo não tiver fiado toda esta palha em ouro, você morrerá! - Depois saiu, trancou a porta e deixou a filha do moleiro sozinha.

A pobre moça sentou-se num canto e, por muito tempo, ficou pensando no que fazer. Não tinha a menor idéia de como fiar palha em ouro e não via jeito de escapar da morte. O pavor tomou conta da jovem, que começou a chorar desesperadamente. De repente, a porta se abriu e entrou um anãozinho muito esquisito.

- Boa tarde, minha linda menina - disse ele. - Por que chora tanto?

- Ah! - respondeu a moça entre soluços. - O rei me mandou fiar toda esta palha em ouro. Não sei como fazer isso!

- E se eu fiar para você? O que me dará em troca?

- Dou-lhe o meu colar. O anãozinho pegou o colar, sentou-se diante da roda e, zum-zum-zum: girou-a três vezes e a bobina ficou cheia de ouro. Então começou de novo, girou a roda três vezes e a segunda bobina ficou cheia também. Varou a noite trabalhando assim e, quando acabou de fiar toda a palha e as bobinas ficaram cheias de ouro, sumiu.

No dia seguinte, mal o sol apareceu, o rei chegou e arregalou os olhos, assombrado e feliz ao ver todo aquele ouro. Contudo, seu ambicioso coração não se satisfez. Levou a filha do moleiro para outro quarto um pouco maior, também cheio de palha, e ordenou-lhe que enchesse as bobinas de ouro, caso quisesse continuar viva. A pobre moça ficou sentada olhando a palha, sem saber o que fazer. "Ah... se o anãozinho voltasse...", pensou, querendo chorar. Nesse instante a porta se abriu e ele entrou.

- O que você me dá, se eu fiar a palha? - perguntou.

- Dou-lhe o anel do meu dedo. Ele pegou o anel e se pôs a trabalhar. A cada três voltas da roda, uma bobina se enchia de ouro. No outro dia, quando o rei chegou e viu as bobinas reluzindo de ouro, ficou mais radiante.

Mas ainda dessa vez não se contentou. Levou a moça para outro quarto ainda maior, também cheio de palha e disse:

- Você vai fiar esta noite. Se puder repetir essa maravilha, quero que seja minha esposa. O rei saiu, pensando: "Será que ela é mesmo filha do moleiro? Bah! O que importa é que vou me casar com a mulher mais rica do mundo!" Quando a moça ficou sozinha, o anãozinho apareceu pela terceira vez e perguntou:

- O que você me dá, se ainda dessa vez eu fiar a palha?

- Eu não tenho mais nada...

- Se é assim, prometa que me dará seu primeiro filho, se você se tornar rainha. "Isso nunca vai acontecer", pensou a filha do moleiro. E não tendo saída, prometeu ao anãozinho o que ele quis.

Imediatamente ele se pôs a trabalhar, girando a roda a noite inteira. De manhãzinha, quando o rei entrou no quarto, encontrou prontinho o que havia exigido. Cumprindo sua palavra, casou-se com a bela filha do moleiro, que assim se tornou rainha.

Um ano depois, ela deu à luz uma linda criança. Já nem se lembrava mais do misterioso anãozinho. Mas naquele mesmo dia, a porta se abriu repentinamente e ele entrou.

- Vim buscar o que você me prometeu - disse. A rainha ficou apavorada e ofereceu-lhe todas as riquezas do reino, se ele a deixasse ficar com a criança. Mas ele não quis.

- Não! Uma coisa viva vale muito mais para mim que todos os tesouros do mundo! A rainha ficou desesperada; tanto chorou e se lamentou, que o anãozinho acabou ficando com pena.

- Está bem - disse. - Vou lhe dar três dias. Se no fim desse prazo você adivinhar o meu nome, poderá ficar com a criança. A rainha passou a noite lembrando os nomes que conhecia e mandou um mensageiro percorrer o reino em busca de novos nomes. Na manhã seguinte, quando o anãozinho chegou, ela foi dizendo:

- Gaspar, Melquior, Baltazar- e assim continuou, falando todos os nomes anotados. Mas a cada um deles o anão respondia balançando a cabeça:

- Não é esse meu nome! No segundo dia, a rainha pediu às pessoas da vizinhança que lhe dessem seus apelidos, e fez uma lista dos nomes mais esquisitos, como: João das Lonjuras, Carabelassim, Pernil-mal-assado e outros. Mas a todos a resposta do anão era a mesma:

- Não é esse meu nome! No terceiro dia, o mensageiro que andava pelo reino à cata de novos nomes voltou e disse:

- Não descobri um só nome novo. Mas eu estava andando por um bosque no alto de um monte, onde raposas e coelhos dizem boa-noite uns aos outros, quando vi uma cabana. Diante da porta ardia uma fogueirinha e um anão muito esquisito, pulando num pé só ao redor do fogo, cantava:

- Hoje eu frito! Amanhã eu cozinho! Depois de amanhã será meu o filho da rainha! Coisa boa é ninguém saber Que meu nome é Rumpelstichen! Pode-se imaginar a alegria da rainha, quando ouviu esse nome. E quando um pouco mais tarde o anãozinho veio e perguntou:

- Então, senhora rainha, qual é meu nome? Ela disse antes:

- Será Fulano?

- Não!

-Será Beltrano?

- Não!

- Será por acaso Rumpelstichen?

- Foi o diabo que te contou! - gritou o anãozinho furioso. E bateu o pé direito com tanta força no chão, que afundou até a virilha. Depois, tentando tirar o pé do buraco, agarrou com ambas as mãos o pé esquerdo e puxou-o para cima com tal violência, que seu corpo se rasgou em dois. Então, desapareceu.

Fonte:
http://www.logoslibrary.eu/

Em Tempo (Feira de Livros e Evento Multi-Midia em Sorocaba)

Dia 08 de março ocorrerá no Centro de Estudos Filosóficos Iluminattis (Rua Riachuelo, nº 437 - Vergueiro - Sorocaba / SP) um evento multi-mídia com a presença do escritor Valdecy Alves e do cineasta Flavio Alves. Ambos, cearenses de nascimento, viveram em Sorocaba entre a década de 1980 a 1990, tendo uma importante atuação na cena cultural sorocabana com a criação de grupos teatrais, jornal Cultural "Pedaços", intervenções artísticas de rua, edição de livros, produção de vídeos entre outros. Na oportunidade será lançado oficialmente o cordel "A HIstória de Preto Pio e a fuga de escravos de Capivari, Porto Feliz e Sorocaba"
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O evento do dia 08 de março contará com exibição de vídeos, exposição, debates e uma feira de livros.
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O evento tem ainda o apoio do CCTN (Centro de Cultura e Tradições Nordestinas) de Sorocaba.
Para participar da Feira de Livros o autor deve doar um exemplar para a Biblioteca do Centro de Estudos ILuminattis. Para cada livro vendido o Centro Iluminattis cobrará 15% de comissão. Os livros ficarão expostos durante todo o mês de março.
Os amigos que queiram participar, por favor entrem em contato através do e-mail: anafranco@idealguia.com.br (com Ana) ou pelo telefone: 3234 3940 (com Regina ou Ana).
Carlos Carvalho Cavalheiro.

Fonte:
Acontece em Sorocaba - Últimas Notícias
Douglas Lara (15) 3227-2305
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Cristiane Mandanelo de Oliveira (Infância e velhice atadas pela literatura infantil)

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. (Machado de Assis)

A velhice é um tema antigo e recorrente na literatura infantil, entretanto esse momento da vida não é representada da mesma maneira, sendo influenciada por fatores sociais, culturais, políticos e, principalmente, econômicos. Por estar retratada de forma multifacetada, o tema torna-se de grande potencial para estudos que investiguem as diferentes representações de senilidade nos textos literários. Este trabalho percorre essa vereda à luz da teoria das representações sociais com base num corpus de 70 obras literárias infantis brasileiras contemporâneas.

Nos últimos anos, o conceito de representação social tem aparecido com grande freqüência em diversas áreas, pois é uma temática que perpassa todas as ciências humanas. Com sua origem nos estudos sociológicos de Emile Durkheim, é na Psicologia Social que a teoria das representações sociais vai ser desenvolvida.

Serge Moscovici lança em La Psycanalyse, son image, son public, publicado em 1961 a matriz da teoria das representações sociais, que só receberá ênfase a partir do início dos anos 80. A proposta é trabalhar com o pensamento social de maneira dinâmica e em sua diversidade, a fim de entender como os indivíduos constroem-se a partir da inserção social e como tornam-se agentes da constituição de sua própria realidade (MOSCOVICI, 1978: 35).

Moscovici conceituou representação social como processo de assimilação e construção da realidade pelos indivíduos. Dessa forma, ele estabelece uma relação maior entre indivíduo e sociedade, não considerando representação social como uma imposição como propusera Durkheim. À luz do mito da caverna de Platão, toda representação (tornar presente de novo) é uma forma de visão da realidade, uma interpretação. As representações sociais são culturalmente construídas, mas não são estáticas uma vez que os atores sociais podem interagir nesse processo.

As pessoas também criam representações individuais, que podem ratificar ou não as representações socialmente constituídas. Por conta disso, deve-se entender os leitores (tomados aqui em seu sentido mais amplo - leitores do mundo) como seres críticos e aptos à assimilação e também à mudança em relação a esses paradigmas sociais.

Na literatura, as representações podem ser consideradas como produção cultural, na medida em que realçam os signos de uma sociedade e determinam limites entre o desejável e o indesejável. Por isso mesmo tornam-se um dos elementos mais significativos para a formação do ideário nacional, porque atuam na sua construção, difusão e alteração. Com essa dimensão, percebe-se a íntima relação entre palavra e poder, porque as representações sociais podem manter e/ou reforçar uma posição determinada por um grupo específico dominante ou até mesmo transformá- las.

Entre os séculos XVI e XVII, houve o nascimento da sociedade moderna e com ela o surgimento do status de infância. Até então, as crianças eram somente adultos em miniatura, sem distinções de sinais culturalmente reconhecidos como roupas ou atividades especiais, por exemplo. Já a literatura infantil apareceu durante o século XVII, época em que há mudanças na estrutura da sociedade, com a ascensão da família burguesa. A emergência dessa literatura associa-se, desde as origens, a uma função utilitário-pedagógica, já que as histórias eram elaboradas para se converterem em divulgadoras dos novos ideais burgueses.

Até bem pouco tempo, a literatura infantil era considerada como um gênero secundário, vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da literatura infantil, como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente. Com base nessas considerações, pode-se depreender o poder da literatura infantil, pois apresenta um potencial de manipulação de ideologias em formação.

Essa literatura esteve durante praticamente todo seu percurso histórico a serviço de ratificar as representações sociais canônicas que valorizavam a heterossexualidade, os princípios ocidentais sobretudo europeus, o capitalismo, a cor branca, a religião católica e a busca da eterna juventude. É nesse sentido que Simone de Beauvoir denuncia a "conspiração do silêncio" de alguns grupos sociais que perpetuam uma imagem da velhice como fase temida e apavorante da vida (BEAUVOIR, 1990: 79).

O conceito de velhice depende de vários fatores, notadamente de referencial social e psicológico. No Brasil, a faixa etária limite para ingresso oficial na categoria 3ª idade é de 65 anos. A humanidade, por seu ideal de eterna juventude, acaba por dividir a vida em ser mais ou menos jovem, negando a velhice e evitando-a o quanto mais, numa associação com a morte.

A população idosa mundial tem crescido de modo significativo, redesenhando o perfil etário dos países e, conseqüentemente, promovendo adaptações sociais necessárias. No caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, a pirâmide etária revela um aumento significativo de pessoas idosas. Os indicadores sociais denunciam graves problemas estruturais no Brasil para lidar com esse novo perfil etário. Tal situação agrava a idéia de afastamento da senilidade, pois tem sido o lugar ocupado pelo sujeito no sistema de produção que espelha a posição social que cada um detém.

Em função da crescente preocupação com a velhice, as obras literárias espelham a pluralidade de papéis sociais assumidos pela chamada terceira idade. A constituição da idéia de velhice no Brasil está em franco processo e reflete-se em todas as manifestações do pensamento humano, inclusive a literatura. Diante da análise do corpus, foi possível identificar algumas representações a que a velhice está associada na literatura infantil brasileira. Serão propostos os principais papéis depreendidos:

1) SOZINHO E COMPANHEIRO DE AVENTURAS

Muitos idosos brasileiros vivem sós enquanto outros estão em companhia de suas famílias, mas essa condição não é garantia de satisfação. Isso se deve ao fato de a pessoa de mais idade não ter garantidos sua autonomia e seu papel dentro da família. Muitos são tratados como agregados aos quais não cabe qualquer poder de decisão perante a família.

Manoel de Barros em seu livro Fazedor de amanhecer (2001) fala do abandono em um poema chamado "Avô":

Meu avô dava grandeza ao abandono.
Era com ele que vinham os ventos a conversar
Sentava-se o velho sobre uma pedra nos fundos do quintal
E vinham as pombas e vinham as moscas a conversar.
Saía do fundo do quintal pra dentro da casa
E vinham os gatos a conversar com ele.
Tenho certeza que o meu avô enriquecia a palavra abandono
Ele ampliava a solidão dessa palavra.

O livro Molecagens do vovô, de Márcio Trigo (1998), é um exemplo desse papel. Em função de não possuírem voz, avô e neto tornam-se muito próximos, amigos íntimos, cúmplices de molecagens. A história mostra bem a questão do sustento sendo usada contra a velhice como uma garantia de poder e de voz. A fuga do avô para não causar mais problemas à filha e ao genro assemelha-se às atitudes infantis. O único que dá atenção ao idoso da casa, entende suas dificuldades, oferece-lhe apoio é o neto e grande parceiro de brincadeiras.

Para não se sentirem sós, muitos idosos vivem em função de animais de estimação ou à espera da visita dos netos com sua vivacidade. Assim, há todo um ritual de confecção de doces, construção de brinquedos e concessões para as crianças. São muitos os livros que mostram esse processo de preparação e ansiosa espera. Nesse sentido, a casa dos avós torna-se uma espécie de parque de diversões, com o fascínio infantil pelo culto à memória de cada objeto que guarda uma história. Os livros Casa de vó (1994), de Guiomar Paiva Brandão, A cristaleira (1999) de Graziela Bozano Hetzel e Bisa Bia, bisa Bel (1985), de Ana Maria Machado, registram bem esse mundo fascinante.

Vovó quer namorar (1990) de Maria de Lourdes Krieguer tematiza a vaidade da avó Frosina e a repressão da filha que diz não serem hábitos de "velha de respeito" cuidar da aparência e enfeitar-se. A neta de Frosina redescobre em sua avó uma grande companheira que não morreu para a vida, menos ainda para o amor.

2) SÁBIO E CONTADOR DE HISTÓRIAS

Com o advento da sociedade burguesa, a representação de extrema sabedoria associada à velhice foi perdendo o ar de sacralidade. A partir do referencial histórico, essa representação da velhice sábia remonta aos contos tradicionais como um resgate da imagem do contador de histórias (Contos da Mamãe Gansa). Apesar da extrema valorização da informação e com as mudanças tecnológicas constantes, essa imagem da velhice como fonte de sabedoria se mantém presente na literatura.

Nessa linha, não se pode deixar de resgatar D. Benta de Lobato e a Velha Totônia de José Lins do Rego, exímias contadoras de histórias a quem cabe a função indireta de educadoras. Com seus conselhos e conversas, a velhice assume o papel difusor das tradições e mantenedor do referencial cultural daquele grupo social. Diante da corrida da vida moderna, o tempo dos adultos para ouvir as fabulosas histórias da família torna-se cada vez menor. As crianças desejam inserir-se nessas histórias familiares, deixar também sua marca naquele grupo a que pertencem para virarem histórias no futuro. Então faz-se a união perfeita: quem tem muitas memórias a reviver e tempo para contá-las com quem está ávido por ser e ter memórias e tem tempo para ouvi-las.

O livro Por parte de pai, de Bartolomeu Campos de Queirós (1995), revela a admiração de um menino do interior por seu avô, que registrava a história da cidade nas paredes. Tatiana Belinky em seu livro autobiográfico Bidínsula e outros retalhos (1990) estabelece um elo entre os momentos vividos e pedaços de retalhos que integram uma grande colcha de retalhos que é a vida. Em Minha avó foi um bebê (2000) de Paula Sandroni, a neta faz uma verdadeira viagem ao passado através das fotografias da avó e resgata os costumes daquela época, como também faz No tempo de meus avós (2000), de Nye Ribeiro.

Como a imigração faz parte da constituição social brasileira, há também alguns títulos que enfatizam as referências culturais dos países de origem de idosos. As histórias de outras culturas são um convite à imaginação dos netos desses imigrantes como ocorre em Uma vovó italiana (1996) e Vovô nasceu em Portugal (1998), ambos de Guilherme Del Campo e Marilda Del Campo.

3) REGISTRO E PERDA DE MEMÓRIA

Ecléa Bosi em Memória e sociedade: lembrança de velhos (1987) trata a relação do envelhecimento com as sociedades de forma bastante competente. Nesse livro de referência para estudos sobre memória e velhice, a autora entende a função social da velhice com o lembrar associado ao aconselhar - "memini moneo" - portanto a memória é o grande tesouro da velhice.

Segundo o conceito freudiano de memória, o passado retomado é recriado onde atuam componentes imaginativos, daí a necessidade de verbalizar as histórias por parte dos velhos. Percebe-se, além da preocupação de manutenção dessa memória cultural, uma preocupação com a perda da capacidade de relembrar fatos passados.

Henri Bergson distingue memória hábito ou orgânica, ligada a ações habituais, e memória-lembrança ou psíquica, ligada às emoções que retoma o passado mediante ligações. A grande preocupação na velhice é a perda dessa memória-lembrança e todos os elos afetivos que ela representa. O livro Colcha de retalhos (1995) de Conceil Corrêa da Silva e Nye Ribeiro Silva conta a história de um menino e sua avó que criam uma colcha-memória, daquelas que não se encontra a venda em lojas. A afetividade é o elo entre infância e velhice juntas na empreitada de registrar fora dos limites do psíquico a memória que se quer guardar como um tesouro precioso.

Há livros que retratam também a agonia da perda paulatina da capacidade mnemônica, como A vovó distraída (1991) de Regina Lúcia Pires Nemer. O eufemismo na escolha do adjetivo "distraída" não dramatiza a questão na história dessa senhora que é chamada de louca porque confunde um cão com um leão que leva para passear. Os netos não se abalam com os esquecimentos e freqüentes trocas da avó, até se divertem com eles. É esse mesmo adjetivo "distraída" que Tatiana Belinky usa em A alegre vovó Guida que é um bocado distraída (1988), para retratar as trocas que a senhora faz no seu cotidiano: coloca leite no sapato, peruca no pé, óculos na sopa etc. Tais confusões também não são apresentadas como um problema e sim como um motivo de galhofa.

4) BRUXOS E MISTERIOSOS

A imagem de várias bruxas dos contos tradicionais povoam o imaginário desde os contos tradicionais da Idade Média. Perrault e os Irmãos Grimm em diversas histórias registraram essas figuras perigosas e assustadoras, como a bruxa de João e Maria ou a madrasta de Branca de Neve.

No livro A mãe da mãe da minha mãe (1988) de Terezinha Alvarenga, a imagem da velhice associada a uma bruxa é desfeita com a aproximação da menina de 5 anos e sua bisavó. A figura da querida bisa assusta: "De casaco escuro, saia preta, meias grossas, sapatos de lã fechados, mais curvada que galhos de café, surgiu das sombras uma corcunda de tanto tempo e cabelos enrolados em coque. (...) aqueles olhos brilharam no escuro" (ALVARENGA, 1988: 13).

Parece haver uma construção social de medo até em imagens de cultura popular como o velho do saco, daí a dificuldade de visualização. Em O velho que trazia a noite (1995) de Sérgio Capparelli, a figura do velho é sinistra e conta com uma perna de pau. A mãe do menino diz ser esse velho que traz a noite e o menino associa essa figura ao tal velho do saco da cultura popular. Quando há um eclipse e a morte do velho, o menino se emociona com a noite e acredita que o velho tinha razão em trazer a noite e seus mistérios.

Na cultura ocidental, a morte não é recepcionada com naturalidade e sim como uma perda, fonte de sofrimento. Com essa preocupação, várias obras infantis problematizam a morte de pessoas mais velhas, em especial os avós. O inconformismo diante do afastamento dos avós é bem vivificado no livro Anúncio de jornal (1996), de Regina Siguemoto. O menino coloca um anúncio no jornal para procurar a avó porque sente saudades, mesmo tendo a mãe dito que a avó agora está morando no céu. As frases finais são permeadas da tristeza da perda diante de um passado feliz que ficou na memória do neto: "Eu ainda não cresci muito, não sei das coisas como você. Volta, Vó!" / "Vó, agora vou parar, pra você eu conto, tô chorando..." (SIGUEMOTO, 1996: 17)

Essa problemática de enfrentamento da morte pela criança acaba recebendo uma conotação poética em muitos textos. É o que acontece em Uma vez uma avó (1992) de Luís Pimentel, história reveladora de uma figura enrugada, de peitos murchos com o sorriso sem dentes mais bonito do ocidente. A senhora ativa em afazeres, cuida de galinhas, porcos e cabras, maneja enxada e ainda toma conta dos netos. A narração da morte da velha é bem simbólica e as frases finais revelam esse viés: "No dia que a avó se tornar uma vez, fica mais perto de vocês" (PIMENTEL, 1992: 11).

Ana Maria Machado problematiza essa representação social mística associada à velhice e que gera medo nas crianças em seu livro A velha misteriosa (1994). Um grupo de meninos ficava em frente à casa da senhora e viram-na mexendo um caldeirão. Como um reflexo dessa imagem culturalmente construída, associaram a senhora a uma bruxa de imediato. Só se desfaz essa imagem quando uma das crianças resolve ir à casa da senhora, pois afirma que não conhece uma velha que não seja boazinha. No final, descobre-se que Tia Dolinha era uma doceira que aumentava sua renda com essa atividade que dependia do caldeirão. Os meninos passam a ajudá-la na árdua tarefa e partilham do prazer de saborear os excelentes doces e as histórias que Dolinha tem a oferecer. Indiretamente, percebe-se o registro de que a velhice ainda trabalha durante a aposentadoria para complementar a renda da aposentadoria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da literatura infantil, se é que se pode restringir com qualquer adjetivo essa forma de arte, pelo seu papel de iniciar o ser humano no mundo literário, deve ser um instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade de analisar o mundo, sem estar a serviço de qualquer interesse.

A partir dessas representações das pessoas idosas, constrói-se um imaginário social em que a velhice associa-se às perdas a ela relacionadas, ou transmite bondade e candura, com uma relação muito próxima com a infância. De um modo geral, tomando por base o corpus estudado, conclui-se que os valores apresentados pela literatura infantil refletem-se na formação de uma representação com conotações positivas.

Muito há que se fazer para se erradicar a "conspiração do silêncio" levantada por Simone de Beauvoir, mesmo junto ao público infantil. Livros que criam estereótipos da velhice sempre feliz e sem problemas não levam a uma visão crítica do que representa a velhice para a sociedade brasileira. Mesmo com a falta de senhoridade que muitas vezes se impõe à velhice, crê-se que é imprescindível resgatar o papel social da chamada terceira idade. Para isso, a literatura infantil oferece autores de sensibilidade para conciliar os problemas reais vividos nessa fase da vida com a fantasia, indispensável ao universo infantil.

Imaginar que livros de temática de morte não devem ser lidos por crianças para que sejam poupadas só afasta a infância de sua outra ponta, que Bentinho-Casmurro tanto queria atar na casa de Matacavalos. Com efeito, a principal colaboração desta investigação foi mostrar que a literatura infantil reflete essa afinidade entre velhice e infância. O desejo principal que fica aqui como um registro é de que se permita ao ser da velhice ocupar com honra o espaço que sempre foi seu: sabedoria por experiência. No desejo de que preservemos esse tesouro da memória coletiva, fica como registro uma frase de um africano para nossa reflexão: "Na África, quando um velho morre, é uma biblioteca que se queima".

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, Terezinha. A mãe da mãe da minha mãe. Belo Horizonte: Miguilim, 1998.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Aguilar, 1959.
BARROS, Manoel de. O fazedor de amanhecer. Rio de Janeiro: Salamandra, 2001.
BELINKY, Tatiana. A alegre vovó Guida que é um bocado distraída. São Paulo: Editora do Brasil, 1988.
__________. Bidínsula e outros retalhos. São Paulo: Atual, 1990.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz - Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
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Fonte:
Cristiane Madanêlo de Oliveira. "Infância e Velhice Atadas pela Literatura Infantil"
Disponível na internet via WWW URL: http://www.graudez.com.br/litinf/trabalhos/ufrj1.htm