segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Curiosidades de Nosso Brasil (Rio Grande do Norte)

O ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

O Rio Grande do Norte é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na Região Nordeste e tem como limites a norte e a leste o Oceano Atlântico, ao sul com a Paraíba e a oeste com o Ceará. Ocupa uma área de 52.796,791 km², sendo pouco maior que a Costa Rica. Sua capital é a cidade de Natal. As cidades mais populosas são: Natal, Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Macaíba e Caicó. O território apresenta um relevo modesto, com mais de 80% de sua área possuindo menos de 300m de altura. Mossoró, Apodi, Açu, Piranhas, Potenji, Trairi, Jundiaí, Jacu, Seridó e Curimataú são os rios principais. Veja lista de rios do Rio Grande do Norte.

Embora o maior litoral dentre os estados brasileiros seja o da Bahia, o Rio Grande do Norte é o com maior projeção para o Atlântico, já que se situa em uma região onde o litoral brasileiro faz um ângulo agudo, a chamada "esquina do Brasil". Foi por esse motivo, que os americanos decidiram estabelecer uma base aérea no estado durante a Segunda Guerra Mundial. Tal base, de tão importante que foi para o sucesso no desembarque na Normândia, foi apelidada na época de "Trampolim da Vitória", devido ao grande "salto" que ela proporcionou para a frente aliada.
É impossível fixar com segurança a época exata em que foram pela primeira vez avistadas as costas do Rio Grande do Norte, e bem assim quem as avistou, sendo, como é, certo que antes de Cabral outros navegantes, de cujas viagens poucos conhecemos que haviam percorrido o litoral do Brasil, principalmente em sua parte setentrional e dentre os que o fizeram, são hoje constantemente apontados Alonso de Hojeda que em fins de Junho de 1499 navegando em companhia dos célebres pilotos Juan de La Cosa e Américo Vespucio, se encontravam com a terra na latitude de cinco graus ao sul da equinocial.

Vicente Pinzon que tinha como companheiro Colombo e o Capitão Nina em Janeiro de 1500 chegaram a um cabo que lhe denominaram de Santa Maria de La Consolacíon.
Se dirigiram para noroeste, passando além da foz do rio Amazonas. Posteriormente à notificação oficial do descobrimento do Brasil ao governos da Europa e atendendo aos pedidos da carta de Pero Vaz de Caminhas, foi enviada a primeira expedição portuguesa ao território brasileiro no ano de 1501, que ficou conhecida como a expedição exploradora de 1501 comandada por Gaspar de Lemos com a ajuda de Américo Vespucio que chegou à 16 de Agosto ao Cabo de São Roque na praia dos Touros, onde fixaram um marco de posse portuguesa em pedra branca contendo os brasões de Portugal.

A esta se seguiram muitas outras expedições portuguesas e espanholas ao Brasil, em diferentes viagens de exploração para a América Central, para o rio da Prata e para as Índias. E as expedições francesas que logo após a descoberta do Brasil começaram a tomar conhecimento das terras e de seus habitantes com os quais traficavam o pau-brasil até o falecimento de Dom Manuel, em 1521. Os contrabandistas franceses aproveitaram o intuito mercantil dos índios, estabeleceram estações de permuta nos portos visando lucros imediatos e especulações rendosas, e para combater-lhos, em 1530, Portugal enviou a primeira expedição colonizadora sob o comando de Martins Afonso de Souza.
Em 1532, o rei Dom João III resolveu dividir o Brasil em 15 lotes e entregá-los a 12 donatários, e na divisão das capitanias hereditárias, coube ao honrado Feitor da Casa de Mina e da Índia João de Barros através de uma carta de doação a do Rio Grande do Norte com 100 léguas de costa que ia da baia da tradição até as proximidades do rio Jaguaribe, a qual foi aglutinada com 50 léguas doadas a Aires da Cunha e 75 léguas doadas a Fernão Álvares de Andrade que perfizeram um total de 225 léguas de terras, e que devido a sua impossibilidade de participar da empreitada de ocupação de sua capitania em virtude de suas atividades burocratas nas cortes portuguesas, João de Barros autorizou que os seus filhos João e Jerônimo partissem de Lisboa no mês de novembro de 1535 com destino a capitania de Pernambuco onde receberam eficaz auxilio de Duarte Coelho e rumaram para a capitania do Rio Grande com o propósito de fundarem uma colônia.
Entretanto ao desembarcarem no Rio Grande encontraram forte oposição dos índios potiguares unidos aos corsários franceses.
Devido aos constantes ataques sofridos e pelas grandes perdas de colonos sofridas, resolveram partir do Rio Grande com isto deram grandes oportunidades para que os corsários franceses contrabandeassem livremente o pau-brasil, e no exato momento em que os três caravelões da expedição rumavam para a capitania do Maranhão, acabaram se desgarrando e Aires da Cunha acabou encontrando subitamente a morte no naufrágio de sua embarcação, e após vagarem vários dias perdidos no mar, e que acabaram sendo socorridos por um navio espanhol que os levou à ilha de São Domingos no Caribe onde acabaram sendo retidos por muito tempo como colonos, João de Barros, só à custa de muito trabalho e de muitas despesas e que pode reaver os seus dois filhos, quase arruinado financeiramente e diante da idéia de não fundar mais vãs esperanças em vir a ser rico, e assim resignou inteiramente toda a idéia de ser senhor donatário do Brasil, e o seu insucesso teve como conseqüência o abandono da donatoria e, mais tarde, a sua reversão à coroa portuguesa, que após ter explorado o litoral e as costas, precisavam firmar de vez os seus domínios ocupando a capitania, e com a consolidação da Paraíba e o interesse que já então despertava todo o norte do litoral brasileiro sob constantes assaltos de diversos povos estranhos especialmente dos franceses, que depois de expulsos do sul se voltaram para o comércio na região, especialmente a capitania do Rio Grande através da aliança firmada com os índios potiguares.
Em 1580, Portugal passou para o domínio espanhol, devido a problemas de sucessão após a morte do Cardeal Dom Henrique, e durante o período que ficou conhecido como união das coroas foi que o Rei da Espanha Felipe II mandou fundar o forte dos Reis Magos
E ao iniciar o seu governo no Brasil, em 1591, Dom Francisco de Souza, julgou imprescindível a conquista da capitania do Rio Grande do Norte, depois de reiteradas ordens da metrópole através das cartas régias de 1596 e 1597 para evitar a presença francesa na região foi que o governador geral organizou uma expedição armada, cabendo ao Capitão-mor de Pernambuco Manuel Mascarenhas Homem com ajuda de Feliciano Coelho que organizaram uma frota composta de seis navios e cinco caravelões sob o comando do Capitão-mor Francisco de Barros Rego que tinha em sua companhia o Almirante Antônio da Costa Valente e os Capitães João Paes Barreto, Francisco Camelo, Pedro Lopes Camelo e Manuel da Costa Calheiros que se juntaram a frota organizada na capitania da Paraíba, e por terra seguiram três companhias sob o comando dos Capitães Jerônimo de Albuquerque, Jorge de Albuquerque e Antônio Leitão Mirim e uma brigada de cavalaria sob o comando de Manuel Leitão, que levaram consigo o Padre Gaspar de São João Peres, que por ser grande arquiteto e engenheiro estava encarregado de traçar a fortaleza e a povoação, frei Bernardino das Neves grande perito na língua brasílica, e muito respeitado entre os índios potiguares que enfrentaram durante a marcha uma epidemia de varíola, que contaminou e dizimou muitos integrantes da expedição que devido ao fato teve que retornar. Quando ao chegar ao porto de Búzios a bordo de caravelão, o Capitão-mor Mascarenhas junto ao Capitão Jerônimo de Albuquerque avistaram algumas embarcações francesas comerciando junto aos índios potiguares imediatamente ordenou que se fizessem a abordagem e iniciasse a luta, que se desenrolou num clima de muita violência, da qual os franceses acabaram fugindo ao serem derrotados. De imediato Mascarenhas ordenou que fizessem um reconhecimento do local e atracou a armada, desembarcou o seu pessoal para dar inicio de imediato a construção de um abrigo seguro contra os ataques dos índios potiguares. Não tardou muito dias para que os potiguares acompanhados de alguns franceses que haviam ficado das naus do porto de Búzios, atacassem a fortificação, a qual sustentou o ataque inimigo com um violento contra ataque do qual os atacantes foram obrigados a recuarem desordenadamente e após a batalha da qual resultou em um grande número de perdas para ambos os lados, surgiu no rio uma jangada com o índio Surupibeba que vinha pregar a paz, de imediato os soldados do Capitão-mor Mascarenhas o prenderam e o levaram a sua presença, e que por persuasão dos padres da companhia, o Capitão-mor Mascarenhas soltou o índio na promessa que o mesmo traria todo o gentio de paz, apesar da opinião contraria do Frei Bernardino, que conhecia bem os índios potiguares, que um dia atacaram Bento da Rocha e sua patrulha dentro de um mangue, que ao se ver emboscado de imediato mandou pedir socorro a Mascarenhas, e com o decorrer do tempo os assédios dos potiguares se tornaram freqüentes, acabando por colocar em perigo a construção do forte. Em vista do perigo, Feliciano Coelho partiu em socorro da Paraíba na companhia dos Capitães Antônio Valadares e Miguel Álvares Lobo que no caminho atacaram algumas aldeias potiguares. Com o socorro recebido da Capitania da Paraíba, Mascarenhas tratou de acabar com a construção do forte e organizou uma expedição que atacaram uma aldeia potiguar perto da construção, e ao termino da obra do forte ele foi intitulado como Forte dos Reis e o seu comando foi entregue a Mascarenhas e a Jerônimo de Albuquerque, que logo após a partida de Feliciano Coelho foi atacado pelos índios potiguares em uma batalha sangrenta, onde a valentia do índio Tavira e de seus companheiros sustentaram a posse do Forte dos Reis até a chegada dos Capitães Rui de Aveiro e Bento da Rocha e seus soldados que forçaram os potiguares a desistirem da luta, porém alguns dias depois os potiguares retornaram a cercar o forte com um número bem maior que a guarnição ali estacionada, porém o soldado Henrique Duarte que era natural de Serra da Estrela defendeu o forte até a chegada do Capitão Bento da Rocha que foi morto na luta. Diogo de Siqueira, alferes do Capitão Rui de Aveiro Falcão ao ver a bandeira de Bento da Rocha jogada ao chão, a levantou, e se pôs a florear com ela no campo da luta entre as flechas dos potiguares em uma carga contra os atacantes, que fugiram desordenadamente do campo de batalha, e que pelo seu gesto foi agraciado pelo Capitão-mor Mascarenhas com o hábito de cavaleiro. Após a batalha onde se feriram o Capitão Miguel Álvares Lobo, Diogo Miranda, e deixaram muitos mortos estava concretizada a conquista da capitania do Rio Grande e a partir deste momento ia começar a obra de colonização, quando Capitão-mor Feliciano Coelho se foi com os seus para Pernambuco.
Diz a lenda que Jerônimo de Albuquerque, chegou a Pernambuco na companhia de seu cunhado Duarte Coelho, e que no final do ano de 1547 distinguiu-se nas famosas lutas que se seguiram ao início da colonização após ter derrotado os invasores de Olinda e Iguaraçu e que em Janeiro de 1548, caiu em poder dos indígenas que o condenaram ao sacrifico de antropofagia, todavia a filha de Arco Verde (Ubirã-Ubi), chefe da horda vencedora ao se apaixonar por Jerônimo de Albuquerque, conseguiu de seu pai o perdão do cativeiro e à vingança dos seus subordinados, e desta maneira "o rei do coração da enamorada filha do morubixaba" dominou por ela os selvagens, que vivendo em paz duradoura, deram mais tarde aos portugueses um apoio decisivo na conquista de todo o norte. Jerônimo de Albuquerque ao se casar com a filha de Arco Verde que ao se batizar recebeu o nome de Maria do Espírito Santo e que teve como filhas Catarina de Albuquerque que se casou com o fidalgo florentino Felipe Cavalcanti e, Brites de Albuquerque que se casou com o também fidalgo florentino Sibaldo Lins.
Jerônimo de Albuquerque que se tornou o primeiro Capitão-mor do Rio Grande e o conquistador do Maranhão, que cursou as aulas do Colégio dos Jesuítas em Olinda, onde aprendeu toda a sua instrução literária sem jamais esquecer a sua língua primitiva Tupi, que foi a de sua infância.
Nesta época os potiguares ocupavam a região do litoral compreendido entre os rios Paraíba e Jaguaribe, senhoreando portanto as costas do Rio Grande e com eles e que se deram os primeiros atritos dos colonizadores.
Nação forte e poderosa, inimiga dos Tabajaras e grande aliada dos franceses que os estimulavam para a guerra. Submetê-los era uma necessidade; apesar de não uma tarefa muito fácil, e para isto Jerônimo de Albuquerque tentou realizá-la com o auxilio do grande feiticeiro Ilha Grande que se encontrava preso e que dispunha de grande influência entre os indígenas e por conta disto Jerônimo de Albuquerque mandou solta-lo e que fosse induzir a paz entre os potiguares, que para os quais Ilha Grande falou-lhes a linguagem da prudência, os convencendo a conveniência de cessarem as hostilidades contra os portugueses. Dom Francisco de Souza ao se sentir tranqüilo quanto aos índios em conseqüência das pazes com eles celebradas, imediatamente determinou que a paz fosse solenemente celebradas e que Jerônimo de Albuquerque fundasse uma povoação nas proximidades do Forte dos Reis que tomou em 25 de Dezembro de 1599 o nome da Cidade de Natal, e em Janeiro de 1600 o Governador Geral Dom Francisco de Souza nomeou João Rodrigues Calaço para exercer os cargos de comandante do forte e capitão-mor que eram ocupados por Jerônimo de Albuquerque por delegação de Manuel Mascarenhas, e ao ser investido em suas funções,
João Rodrigues Calaço de acordo com as ordens do Governador Geral Dom Francisco de Souza imediatamente tratou de povoar o solo e de incentivar o cultivo das terras da capitania para a consolidação da conquista com largas concessões de sesmarias que atingiram pelo lado do sul o rio Curumatáu onde a corrente colonizadora era natural e lógica devido a derrota e expulsão dos potiguares e dos franceses, e pelos pontos já explorados pelas colunas expedicionárias de Feliciano Coelho e de Manuel Mascarenhas e pelo norte não iam além de duas a três léguas do Forte dos Reis, e para o seu desenvolvimento era necessário grandes esforços de seus conquistadores, e para o interior, estendiam-se ao longo das margens dos rios, e na cidade de Natal poucos foram os colonos que requereram as sesmarias do sitio da cidade e por conta disto pouco progrediu, e durante o seu governo Calaço teve em sua capitania um português que fora degredado para o Brasil pelo bispo de Leiria, que escreveu em sua sentença "vá para o Brasil donde tornará rico e honrado".
Entre três de Julho e oito de Agosto de 1603 Jerônimo de Albuquerque retornou ao Brasil, após ter viajado para Lisboa onde pleiteou o cargo de capitão-mor efetivo e assumiu o exercício de suas funções por um período de seis anos, prazo este que excedeu, em virtude da patente real, com isto teve o tempo necessário para tomar mais fecunda a sua ação, a qual soube aproveitar maravilhosamente pois ordenou que percorressem todo litoral para o norte até às salinas de Macau, explorou a costa sul e organizou expedições exploradoras ao interior, e desta época e que se tem conhecimento dos primeiros engenhos de açúcar na capitania, os quais foram fundados nas sesmarias que Jerônimo de Albuquerque havia concedido a seus filhos Antônio e Matias Albuquerque em dois de Maio de 1604, as quais compreendiam cinco mil braças quadradas na várzea do Cunhaú e duas léguas na localidade de Canguaretama e que posteriormente foram consideradas como exorbitantes pelo rei, que por provisão de 28 de Setembro de 1612 mandou que fossem reduzidas pela metade apesar de Alexandre de Moura Capitão-mor de Pernambuco e o ouvidor que o executaram o cumprimento legal em 1614 de terem encontrado o engenho construído e as terras cultivadas, porém anos a metrópole reconsiderou o que fora disposto na citada provisão e confirmou integralmente a concessão primitiva pelo alvará de dois de Agosto de 1628.
Jerônimo de Albuquerque que mantinha a máxima preocupação em fortalecer a aliança com os índios potiguares, de alargar a área da colonização da capitania, e devastar o sertão e de concorrer para que as armas portuguesas levassem além das fronteiras de sua capitania em busca do extremo setentrional o prestigio de seu valor, viu em um de Abril de 1602 Dom Diogo Botelho assumir o governo geral do Brasil e ser substituído de seu cargo em 1607 por Dom Diogo de Meneses e Siqueira, que durante o seu governo se deu a nova divisão da colônia em dois governos gerais, quando ficou em sua jurisdição as capitanias do norte as quais administrou de maneira hábil, enérgico e operoso, o qual foi de grande importância para Jerônimo de Albuquerque pela assistência solicita que lhe dispensou, e através de uma carta patente de 21 de Agosto de 1609 Lourenço Peixoto Cirne assumiu o governo do Rio Grande no lugar de Jerônimo de Albuquerque até o ano de 1613 quando Francisco Caldeira Castelo Branco assumiu o governo da capitania e fez algumas concessões de sesmarias no sitio da cidade para aqueles que as quisessem povoar e cultivar as terras, todavia o seu governo não foi além de Junho de 1615, devido ter sido comissionado por Dom Gaspar de Souza para seguir no comando de uma frota armada em socorro a capitania do Maranhão aonde chegou em Santa Maria de Guaxemduba para firmar a trégua com La Ravardiere e dali seguiu para tratar dos negócios do governo em Portugal. E o seu sucessor a frente da capitania Rio Grande foi Estevão Soares de Albergania que permaneceu até 1617 quando foi substituído por Ambrósio Machado, que em sua administração terminou as obras da igreja matriz da capitania que havia sido iniciada nos tempos da conquista, e que no ano de 1621 foi substituído por André Pereira Temudo que em 1623 foi sucedido por Bernardo da Mota que não chegou a governar a capitania e seu substituto foi Francisco Gomes de Melo que em 1624 achava-se em Lisboa, quando da ocupação da Bahia pelos holandeses, fato este que alarmou o governo e o povo, por ser uma ameaça a todas as colônias espanholas e portuguesas da América, e para isto foi armada uma poderosa esquadra sob o comando de Dom Fradique de Toledo para socorrer a Bahia e as demais praças que se encontravam desaparelhadas para a resistência.
Em 26 de Maio de 1625 o Almirante holandês Hendriksoon, ao chegar a Bahia com uma poderosa esquadra para reforçar os seus compatriotas que ocupavam aquela cidade, obteve a noticia de que os forças holandesas ali estacionadas haviam se rendido
E que a cidade da Bahia estava em poder das forças restauradoras do domínio português; imediatamente o almirante batavo seguiu para o norte até a baia da Tradição onde fundeou sua esquadra e organizou diversas explorações pelo litoral até atingir o Engenho Cunhaú; ao ser informado das incursões holandesas à capitania do Rio Grande Matias de Albuquerque imediatamente ordenou que providenciasse o desalojamento dos batavos, e no ano de 1630 Pedro Mendes de Gouveia substituiu Domingos da Veiga Cabral que governava interinamente a capitania do Rio Grande, onde a corrente imigratória estava definitivamente encaminhada com persistentes e intensos trabalhos de desbravamento do solo pelos colonos em seus novos habitat, e as criação prosperando por todas as partes e os engenhos Ferreiro Torto e Cunhaú produzindo açúcar a todo vapor no principal núcleo de população da capitania onde viviam em relativa harmonia com os índios potiguares onde se constituía uma freguesia com juiz, câmara, escrivão e procurador do conselho, escrivão da fazenda e almoxarife procurador dos índios e escrivão das datas e demarcações, embora imperfeito também dispusesse de um aparelho governativo do qual era chefe o capitão-mor que também era o comandante do Forte dos Reis, e durante o seu governo a sua capitania foi ocupada em 1633 pela frota holandesa comandada pelo Almirante Linchthardt.
O abandono em que permaneceu o território do Brasil, logo após o seu descobrimento, desafiou a cobiça dos aventureiros e especuladores que procuraram lucrativas vantagens nos contrabando nas costas brasileiras.
Muitas vezes danosas, mas delas resultaram alguns benefícios como o conhecimento da terra ao percorrem o extenso litoral brasileiro obtendo roteiros seguros para a navegação, por outro lado não se pode dizer do corso, que acompanhando as alternativas e vicissitudes da política européia, que apesar de estar estabelecida desde o século XVI como medida de guerra, a que recorriam as nações que se achavam em lutas no continente, onde de disputavam o domínio dos mares, a fim de ferirem o inimigo em seus interesses comerciais, ele perdeu bem depressa esse caráter para ser uma constante ameaça às colônias e fonte de sobressaltos e inquietações para os seus habitantes, devido as diversas expedições organizadas com o objetivo de invadir e assaltar as povoações dos territórios desguarnecidos onde sempre pretendiam um quinhão na partilha das terras descobertas.
E em todas estas histórias dos primeiros tempos atesta essa tendência de vários povos que entre eles se destacaram os navegadores ingleses que não chegaram a exercer jurisdição territorial efetiva; mas de suas façanhas, e que culminaram nas crueldades de Thomas Cavendish
As quais ficaram-nos tristes e dolosas recordações, com os piratas franceses, que chegaram a constituir sério perigo à consolidação do domínio português, os quais foram obrigados a lutar para expulsarem a força do sul e do norte.
Todavia o que mais perturbaram a obra da conquista foram os holandeses, em cuja expulsão se desenvolveram prodígios de valor e de coragem em combates gloriosos e inolvidáveis. Com uma população de alguns milhões de habitantes que se estendiam pela região litorânea do mar do norte em diversos principados e soberania que eram regidos por leis e costumes particulares, assim e que se constituíam os países baixos, ligados sob o cetro dos Duques de Borgonha desde o século XIV, que após a morte de Carlos o Temerário na batalha de Nancy em 1477 passou à sua filha e herdeira única a Duquesa Maria, que, para resistir aos poderosos inimigos de sua dinastia, procurou amparo da Casa d`Áustria ao se casar com Maximiliano que subiu ao trono da Alemanha em 1493 e entregou o governo dos estados que Dona Maria trouxera em dote, a seus filhos Felipe e Belo, e no decorrer dos tempos o Rei Carlos V imperou na Alemanha e nos países baixos e nas duas Sicília e na Espanha, e por ocasião de sua abdicação em 1556 coube a seu irmão Fernando a coroa da Alemanha ficando o seu filho Felipe II os demais estados sobre os que reinava, e devido a grande rivalidade da igreja, trouxe os dissentimentos políticos; e a guerra da independência neerlandesa alimentada pela diversidade de crenças religiosas acabou por dilata-la por diversos anos até que o Tratado de Vestefália veio acabar com a rivalidade definitivamente em 1648. E durante essa guerra e que os holandeses hostilizaram mais vivamente as possessões ultramarinas da Espanha e de Portugal .
No período de 1580 a 1640 Portugal que estava sob o domínio espanhol, sofreu severas agressões por parte dos holandeses que invadiram o Brasil para garantir o comércio de açúcar, o qual dominavam em grande parte na Europa
Vencidos na Bahia, os holandeses foram tentar melhor fortuna em Pernambuco, quando a Companhia das Índias Ocidentais organizou uma poderosa armada que invadiu o grande centro açucareiro da época através da esquadra comandada por Weerdenburgh, que após 21 anos de domínio, em que de proveito nada fizeram, a não ser as lembranças deixadas pelas horríveis crueldades que os holandeses marcaram a terrível dominação chefiada pelo fiscal holandês Jacó Rabi. E com a resistência iniciada por Matias de Albuquerque e o apoio recebido da esquadra espanhola comandada pelo Conde Bagnuolo que trouxe em sua companhia Duarte de Albuquerque Coelho, que vinham comboiada pela esquadra do comandante Dom Antônio Oquendo que aportaram na Bahia em 13 de Julho de 1631, e que após desembarcar os reforços para aquela capitania, levantou ancora e seguiu à caça da frota holandesa do Almirante Adriaen Jancz Pater com quem se confrontou e venceu em um dos mais importante feito da época no dia 12 de Setembro de 1631. Com o grande triunfo obtido por Oquendo, além de privar o inimigo de um de seus mais bravos e destemido almirante que sucumbira na luta, e por este motivo, acabou levando aos holandeses ao abandono da Vila de Olinda e desviarem as suas incursões para rumos diferentes.
E por conta disto, em principio de Dezembro, acabaram se dirigindo para Paraíba onde foram violentamente repelidos com grandes perdas, após violentas refregas que os fizeram embarcar apressadamente para Pernambuco
De onde partiram no dia 21 de Dezembro sob o comando do General Teodoro Weerdenburgh para apoderar-se do Rio Grande do Norte, e que ao chegarem encontraram Matias de Albuquerque Maranhão, que ao ser informado dos planos dos invasores, se colocou a frente de três companhias em defesa da capitania, e no dia 5 de Dezembro de 1633 uma poderosa frota sob o comando do Almirante Lichthardt que transportava uma força de desembarque composta de 808 homens distribuídos em oito companhias e que levava embarcado o Delegado Van Ceulen que era um dos diretores da Companhia das Índias Ocidentais e que se fez ao mar com destino ao Rio Grande do Norte para o ataque ao Forte dos Reis Magos. Pelas 7 horas da manhã do dia 8 a esquadra confrontou-se com Ponta Negras e aproando à terra, transpôs a barra de Natal junto ao forte, cujas artilharia tentou inutilmente impedir a entrada da esquadra, enquanto o Almirante Lichthard sem grande dificuldade apoderou-se de duas caravelas portuguesas e ordenou a ocupação das dunas entre os povoados e o forte por uma companhia comandada pelo Major Vries, que de imediato iniciou a marcha sem encontrar qualquer tipo de resistência até penetrar no interior do povoado de Natal, que foi tomado sem qualquer ato de defesa, e após se estabelecerem os holandeses de imediato avançaram sobre o forte dos Reis Magos quando expediram algumas expedições exploradora ao longo do rio, que fizeram contato com os índios inimigos dos portugueses com intuito de firmarem uma aliança e ajudasse a estabelecer o sitio, e nas proximidades da Ponta do Morcego após ligeiras escaramuças, acabaram obtendo importantes informações sobre as condições de segurança do Forte dos Reis Magos, através de alguns prisioneiros.
Os batavos ao se estabelecerem em terra com um grande efetivo, montaram suas baterias nas colinas e dunas próximas ao forte, e devido a sua poderosa esquadra que estava preparada para atacar no momento desejado; entretanto para demonstrar lealdade militar, eles dirigiram ao Capitão-mor Pedro Mendes de Gouveia, uma carta ponderando que estavam dispostos a se apoderarem da fortaleza, porém não queriam atacar sem antes oferecer-lhes as melhores condições, caso se resolvesse a entregá-la. E como resposta, o capitão-mor Paulo Mendes de Gouveia lembrou que o forte estava confiado a sua guarda pelo rei de Portugal e só a ele ou a alguém de sua ordem, e que o forte seria entregue e a mais ninguém, pois preferia perder mil vidas a fazei-a entrega do forte. Pouco depois rompia o fogo entre o forte e as baterias holandesas de terra, secundadas pelos canhões dos navios de guerra em uma vigorosa batalha que durou mais de três horas, que após uma breve trégua, imediatamente recomeçaram o bombardeio com o mesmo rigor e intensidade do qual acabou causando graves danos a resistência do forte após árdua batalha até ao cair da noite, quando os holandeses se aproveitaram do enfraquecimento da resistência e suspenderam o bombardeio e passaram a noite se reforçando com mais um trincheira com os armamentos desembarcados. E ao amanhecer do dia, a guarnição do Forte dos Reis ostentou sobre os muros uma bandeira branca, e logo a seguir encaminharam um soldado com uma carta sem a assinatura do Capitão-mor Paulo Mendes de Gouveia que se encontrava gravemente ferido, aos comandantes holandeses solicitando para parlamentarem a respeito de um armistício, fato este que levou a Ceulen a não querer receber a carta encaminhada pelos sitiados, porém devido as alegações apresentadas pelo portador, de que, os que haviam assinado a carta se comprometiam em entregar o Forte dos Reis Magos após realizarem o acordo.
Após algumas ponderações o comandante Ceulen de imediato concedeu aos sitiados o armistício e concedeu um salvo conduto para quem fosse designado a acertar os detalhes da rendição, e para isto os portugueses enviaram o Capitão Sebastião Pinheiro Coelho e um ajudante, que após um breve debate acertaram que seria permitido que todos os soldados saíssem com as suas armas e bagagens do forte e que fossem conduzidos rio acima para Potigi, e que deveriam deixar a pavilhão do forte ao se retirarem. Assim que foi firmada a capitulação do Forte dos Reis Magos, de imediato foi expedido uma ordem para que navios holandeses se aproximarem do Forte dos Reis Magos a fim de receberem os soldados portugueses. Logo após ter sido efetuado o embarque de todos os soldados portugueses,
O Tenente-coronel Ceulen e o Comandante Carpentier de imediato penetraram no interior do forte, onde encontraram gravemente ferido o Capitão-mor Paulo Mendes de Gouveia, que ao entregar as chaves do forte em muito se queixou de que os seus soldados haviam entregado o forte contra a sua vontade.
Ao tomar o forte, o Tenente-coronel Ceulen de imediato tratou de conquistar a capitania, e para isto no dia seguinte a capitulação ordenou que os Capitães Maulpas e Hendrick Frederick seguissem até Jenipabu que ficava ao norte das proximidades da cidade de Natal, para efetuarem um expedição exploradora e que ao retornarem trouxeram algumas cabeças de gado para o abastecimento das forças de ocupação holandesas, e devido ao êxito alcançado na missão, o Tenente-coronel Ceulen de imediato organizou uma expedição com destino ao interior sob o comando do Major Cloppenburch que levou em sua companhia o Capitão Felior e o Capitão-tenente Cornélio Van Uxsel que seguiram pelo rio até o Passo do Potigi onde desembarcaram e seguiram por terra até a uma planície onde foram violentamente atacados pelos inimigos que com o decorrer da luta se puseram em fuga. E no prosseguimento da marcha, chegaram a um pântano nas proximidades do Engenho Ferreiro Torto que pertencia a Francisco Coelho, e que se localizava na margem direita do rio Jundiaí a uma pequena distância de Macaiba, onde foram violentamente repelidos.
Os holandeses sem desistir de seus sombrios e tenebrosos planos de dominação, foram buscar ajuda junto aos índios Tapuias das ferozes tribos dos Junduís que habitavam as ribeiras dos rios Jaguaribe e Açu
E que desceram ao primeiro chamado dos holandeses nos impulsos de suas barbaria estimuladas pela perversidade de seus requintes selvagens de Calabar sobre o engenho onde o Capitão Francisco Coelho e todos que ali haviam se refugiado acabaram sendo mortos com a mais revoltante crueldade. Logo após a conquista do Engenho Ferreiro Torto, Ceulen despachou para as autoridades em Recife o navio De Spieringh que era comandado pelo Capitão Jan Jansen Noorman com as noticias dos triunfos alcançados e transferiu o seu acampamentos para a cidade de Natal e deixou no Forte dos Reis Magos para sua defesa apenas uma companhia sob o comando do Capitão Gartsmann e tomou a resolução de fazer retornar a esquadra e as forças desnecessárias para Pernambuco.
A tarefa de conquistar a Capitania do Rio Grande do Norte estava realizada, e a partir deste momento passou a pesar a intolerante e desumana tirania militar que oprimiria, mais tarde a pequena população de colonos, dizimando-a em horríveis carnificinas praticadas após despojá-la pelos saques e roubos de seus poucos bens, e para isto o Capitão Gartsmann contava com o valioso auxílio das tribos indígenas aliadas, cujas proezas ficaram assinaladas pelos surtos de inenarráveis vandalismo praticado nos dois assaltos executados ao Engenho Ferreiro Torto, e ao ataque praticado junto ao Engenho de Cunhaú, quando surpreenderam e aprisionaram o Capitão Álvaro Fragoso junto com alguns de seus homens, após perder muitos de seus soldados na sangrenta luta realizada. Estando os holandeses, senhores da cidade de Natal e de terem destruídos os principais núcleos de população que eram os Engenhos de Ferreiro Torto e de Cunhaú, os invasores batavos puderam impor sem contrastes o seu inexorável jugo, dos quais os que não quiseram submeter-se ou pagaram com a vida pela sua rebeldia ou foram procurar abrigo no Arraial do Bom Jesus onde Matias de Albuquerque ainda se mantinha firme e inabalável na defesa da terra. O abandono da Capitania do Rio Grande do Norte seguir-se-ia meses depois, a capitulação da Paraíba e os repetidos desastres dos pernambucanos os quais acabaram forçando a retirada de todos para a Capitania de Alagoas, porém ao se aproximarem de Porto Calvo o confronto se tornou inevitável contra a forte e aguerrida guarnição holandesa do Comandante Picard, que após rigorosas escaramuças e sangrentas refregas, onde foi decisivo o auxilio de Sebastião de Souto para a rendição e capitulação que foi concedida ao Comandante Picard sob a condição de seguir com a sua gente para a Capitania da Bahia de onde foram conduzidos a Holanda. E desta capitulação, Calabar foi excluído, para ser sumariamente condenado a morrer enforcado e esquartejado como traidor aleivoso à sua pátria, logo em seguida as forças de Matias de Albuquerque deixaram a cidade de Porto Calvo, e três dias depois aquela vila que Duarte de Albuquerque denominara como Bom Sucesso era novamente ocupada pelos holandeses que haviam se refugiado em Pirapueira E em outros, obstando as comunicações com Pernambuco pela costa. Neste momento, as cortes de Lisboa reconhecendo a ameaça que a ocupação estrangeira representava para a integridade do domínio luso-espanhol, enviou uma expedição comandada por Dom Luis de Rojas y Borjas que ostentava o posto de mestre de campo e que deveria substituir Matias de Albuquerque no cargo de governador e superintendente na guerra. Esse socorro desembarcou em Jaraguá na capitania de Alagoas no dia 28 de Novembro de 1635 de onde seguiu para a capitania da Bahia conduzindo o novo Governador Geral Pedro da Silva que havia sido nomeado para suceder a Diogo Luis de Oliveira.
Dom Luis de Rojas y Borjas homem ardoroso e destemido, logo ao assumir o seu posto, foi morto no combate realizado em Mata Redonda e para substituí-lo foi nomeado o Conde de Bagnuolo que impulsionou a guerra contra os holandeses com bandos dirigidos por Felipe Camarão, Henrique Dias, Francisco Rebelo, Estevão Távora, Sebastião Souto e Vidal de Negreiros em incursões através de Serinharém, Ipojuca, Muribeca, Goiana, São Lourenço, Cabo, Itamaracá e outros povoados da região entre a Paraíba e Alagoas causando grandes inquietação entre os colonos que cansados de tanto sacrifício oscilavam indecisos entre os dois partidos em luta. Por este motivo os holandeses mudaram a maneira para de suas conquistas, de modo a torná-la compatível e conciliável com os sentimentos das populações conquistadas com o objetivo de consolidar a ocupação.
Diz a história que o Brasil holandês, que se principiou no ano de 1630 com a tomada de Olinda e do Recife e que terminou em 1654 com a capitulação nos Montes Guararapes. E com a chegada do Príncipe Maurício de Nassau o qual ocupou toda a costa do Rio Grande do Norte até ao Rio Formoso com sua administração que se iniciou no ano de 1637 e terminou no ano de 1642, e que verdadeiramente se iniciou o domínio holandês, quando tudo era desolação e miséria nas zonas conquistadas.
O Conde Maurício de Nassau para solucionar os problemas teve que ser severo para coibir os abusos, hábil para acalmar os espíritos, enérgico para estabelecer a ordem no serviço militar e civil.
E o que realçou o seu governo é a sua tendência liberal, foi o feitio de seu espírito sempre voltado ao culto pela natureza o seu amor apaixonado pelos mais elevados ideais da humanidade, e no ponto de vista militar, teve, a principio os maiores sucessos; mas a tentativa frustrada da tomada da Capitania da Bahia no ano de 1638, contribuiu decisivamente para amortecê-lo e para despertar nas cortes de Madri a necessidade de ser organizada uma poderoso esquadra com forças portuguesas e espanhola em socorro da colônia, a qual chegou em 23 de Janeiro de 1639 à cidade de Recife sob o comando do Conde da Torre Dom Fernando Mascarenhas, de onde obteve informações que a esquadra holandesa do Almirante Corneliszoon Loos se encontrava nas proximidades de Olinda,
E por conta disto o Conde da Torre imediatamente seguiu para aquele rumo e se encontrou com a esquadra holandesa na Ponta de Pedra em violenta batalha
Na qual o almirante holandês perdeu a vida. Jacob Huyghens Vice-almirante holandês ao assumir o comando da esquadra se defrontou com a esquadra do Conde da Torre ao norte de Goiana, nas costas da Capitania da Paraíba na altura de Cunhaú em um combate que se seguiu até a Ponta da Pipa, e que depois destas confrontações o Conde da Torre apesar de não ter tido nenhuma vitória decisiva, acabou abandonando o inimigo e fez-se ao mar. Luís Barbalho Bezerra ao desembarcar todos os seus soldados na localidade de Touros, imediatamente empreendeu uma marcha com destino a Bahia por caminhos totalmente desconhecidos e em territórios ocupados, até que sofrer a primeira resistência em Potengi por parte das tropas batavos comandadas por Gartsmann que a frente de seus soldados apoiados pelos índios Tapuias tentou impedir a sua marcha, e que ao derrotado acabou sendo conduzido a Capitania da Bahia. Novos obstáculos redobraram em seus caminhos, porém Barbalho comandando a sua tropa com grande fibra e decisão venceu as refregas que se sucederam nas localidades de Goiana e Serinhaém vingando em trucidações tão cruéis como as praticadas pelos invasores holandeses, até atravessarem o rio São Francisco e levar o reforço eficaz sob o seu comando até a Bahia.
A cinco de Junho, Dom Jorge Mascarenhas marquês de Montalvão assumiu o cargo de Vice-rei e Capitão-general de mar e terra e restauração da Bahia, ele foi o ultimo governador nomeado para o Brasil pelo rei Felipe IV, homem de grande valor que ao reconhecer a impossibilidade de auxiliar eficazmente os colonos de Pernambuco, acabou aceitando às tréguas que Maurício de Nassau insinuava aos padres e moradores católicos para tornar a guerra mais humana, essa trégua porém, mal encobriu o estado de hostilidade latente entre as duas partes envolvidas nas negociações, em virtude da desconfiança existente os contendores. Com a noticia chegada na Bahia em 15 de Dezembro de 1641 da restauração de Portugal, Dom Jorge Mascarenhas que antes já havia entrado em entendimentos com o Conde Maurício de Nassau sobre as incursões, viu a sua situação se tornar embaraçosa, devido ao seu desconhecimento a respeito das orientações que na Europa ditaria os atos do novo governo. E devido aos seus procedimentos perante aos holandeses, Dom Jorge Mascarenhas acabou desagradando aqueles que aspiravam à expulsão dos holandeses, e que por conta disto promoveram a sua substituição por uma junta composta pelo Bispo Dom Pedro da Silva e Sampaio, do Mestre de Campo Luís Barbalho Bezerra e do Provedor-mor Lourenço de Brito Correia com base nas intrusões trazidas de Lisboa pelo jesuíta Francisco de Vilhena, a deposição do Vice-rei Dom Jorge Mascarenhas, foi no entanto um desafogo de pequena duração, devido que ao fato de que o governo português precisava contemporizar com a Holanda, cujo interesse máximo era tirar proveito da situação e não restituir possessões, que naquele momento não poderiam ser reivindicadas pelas armas, por este motivo Portugal assinou um armistício por dez anos junto ao governo holandês, como reconhecimento das conquistas efetuadas pelos holandeses, que se valendo de vários pretextos e razões capciosas, acabaram se apoderando da Capitania de Sergipe e do Maranhão, assenhorearam-se de Luanda e da Ilha de São Tomé. Com essa expansão territorial o poder do governo holandês atingiu o seu apogeu, enquanto isto, em 26 de Agosto de 1642 chegava à Bahia o primeiro governador geral escolhido após a restauração, Antônio Teles da Silva que exerceu o mandado de seu cargo até 22 de Dezembro de 1647, no qual revelou grande méritos pessoais, quando soube aproveitar com rara habilidade a incapacidade da junta holandesa composta por Pieter Bas,Van Bulestrateu e Hamel que em seis de Maio de 1644 haviam substituído Nassau a frente do governo holandês na colônia.
Em Recife, dava-se o inicio as conspirações com Fernando Vieira reunindo os elementos necessários nos arredores da cidade em ações crescentes e avassaladoras que se avolumaram e alastraram-se de modo impetuoso, até que a conspiração foi denunciada, o que obrigou a que seus chefes se ocultassem nas matas existentes nas vizinhanças de Apipucos, Várzea e São Lourenço, de onde aguardaram a chegada dos negros do terço de Henrique Dias e os índios de Camarão e proclamaram o dia 13 de Junho para o inicio da sublevação organizada militarmente por Dias Cardoso com o apoio do Governador Geral Antônio Teles da Silva que em Recife desempenhava o seu papel de iludir as embaixadas que lhes eram enviadas com respeito as clausulas do tratado de armistício. No momento em que a junta holandesa em Recife, tomou conhecimento dos distúrbios existentes, de imediato expediu algumas expedições, para a Várzea seguiu sob o comando do Major Blaer, e para Ipojuca onde o proprietário do engenho Tabatinga Amador de Araújo havia se confrontado e vencido uma companhia de holandeses com Hendrick Van Haus a frente de um forte contingente, e para Paraíba e Rio Grande do Norte ordenou que Paul de Linge seguisse com a finalidade de manter a paz, quando os insurgentes fixados nos engenhos Camaragibe, Borralho e Maciape no interior da capitania rumavam para o engenho de São João de propriedade de Arnaldo de Holanda, de onde se dirigiram para o engenho Covas onde Dias Cardoso foi obrigado a conjurar o clima de dissentimentos pessoais reinava entre os chefes, e marcharam para os Montes das Tabocas no município de Vitória onde em três de Agosto se confrontaram e derrotaram em violentas lutas as poderosas forças do exército holandês comandado por Hendrick Vans Haus pelas magníficas manobras efetuadas por André Vidal de Negreiros e Martins Soares Moreno, e em assédios regulares, assaltos e batalhas campais que se estenderam de Pernambuco ao São Francisco os holandeses amargaram uma série de desventuras. Paul de Linge.
Para conservar o governo que lhe havia sido confiado, chamou em seu auxilio um grande número de índios selvagens é mortais inimigos dos portugueses que sob o comando de Jacob iniciaram as suas ferozes tropelias, quando invadiram à povoação de Cunhaú e convocaram os moradores para uma reunião na igreja, após a missa de domingo Jacob e os seus homens invadiram a igreja e massacraram todos ali presentes, inclusive o Padre André de Soveral, venerado e querido sacerdote, poupando da matança apenas as mulheres e as crianças que imediatamente espalharam a noticia do morticínio e, na Paraíba os moradores receosos da mesma sorte pegaram em suas armas sob o comando de Lupo Curado Garro, Francisco Gomes Muniz e Jerônimo Cadena que se juntaram a Antônio Vidal de Negreiros, Francisco Leitão, Simão Soares e Cosme da Rocha e os Capitães Couto do terço de Camarão e Henrique de Mendonça do terço de Henrique Dias que tinham a tarefa de organizar os sublevados em forças regulares com os armamentos que haviam levados de Pernambuco. Com o inicio da hostilização aos holandeses, Paul de Linge recolheu-se com suas tropas na fortaleza de Cabedelo, enquanto os índios aliados retrocediam para o Rio Grande do Norte onde iniciaram os seus ataques com grandes iras sangrentas e inominável perversidade, enquanto isto os moradores de Cunhaú se dirigiram em busca de abrigo na Paraíba e em Pernambuco onde se refugiaram no engenho de João Lostau Navarro onde se entrincheiraram ao construir um arraial, o qual em muito alarmou aos chefes holandeses que viram a possibilidade de ser aquele lugar um perigoso centro de resistência, e para isto de imediato o engenho foi violentamente assaltado por Jacob Rabbi e seus índios, que após sangrenta batalha onde empregaram todos os seus ardis, acabaram vencendo os sitiantes que receberam salvo condutos após entregarem as armas.
Os invasores holandeses que nutriam grande ódio dos colonos, e que os castigavam com horríveis carnificinas pelas suas rebeldia, em três de Outubro de 1645 por intermédio de João Bullestraten membros do supremo conselho que mantinha grande interesse nas cabeças de gados que povoavam as campinas rio-grandense.
Determinou que todos os colonos que se encontravam na fortaleza do Rio Grande do Norte fossem enviados rio acima para a localidade de Uruaçú sob a proteção holandesa contra os índios potiguares e tapuia e que ao chegarem, imediatamente receberam ordem de se despir e pôr-se de joelhos, e foram entregues aos bárbaros selvagens que os trucidaram. O aniquilamento da população que começava a desenvolver-se, serviu para que os holandeses ficassem senhores daquelas paragens, e livre por algum tempo da concorrência impertinente e incomoda na capitania do Rio Grande do Norte que nesta época possuía quatro freguesias e a cidade de Natal onde a sua câmara se localizava em Potingi e que tinha como principais portos o de Rio Grande e a barra de Cunhaú e mantinha pequenas baias onde serviam de ancoradouro para navios de pequenos portes, como a baia Formosa, ponta da Pipa, ponta dos Búzios, ponta Negra e baia Marten Tysson ao norte do Rio Grande, e seus moradores se ocupavam principalmente da criação de gado que era exportado para a Paraíba, Itamaracá e Pernambuco para trabalhos nos carros, nos engenhos e para corte, possuía três colégios dos escabinos que se localizavam em Serinhaém, Iguaraçu e Rio Grande.
Os índios brasilienses como eram chamados pelos holandeses os Potiguares e os demais índios Tupis, mortais inimigos dos portugueses e os verdadeiros donos das terras da capitania que viviam sem pouso certo e em contínuas migrações, e que nesta época estavam impondo as suas condições aos holandeses duramente, pois já haviam matado os seus algozes na capitania do Ceará para subtrair-se à condição de servo a que estavam reduzidos, e para solucionar a situação reinante, os membros do supremo conselho se reuniram na aldeia de Tupicerica com a finalidade de organizarem os potiguares para não perderem os preciosos auxílios por eles prestados nas lutas de extermínio praticadas pelos holandeses contra os insurgentes as concessões dadas aos Tapuias não surtiram os efeitos desejados, pois tomados de desvairamento e de delírio, sentiam-se fortes em suas alucinantes orgias de sangue, e para combate-los chegou ao Rio Grande do Norte no mês de Outubro o Capitão Barbosa Pinto, que se acampou com sua tropa no engenho de Cunhaú de onde saiu para atacar os potiguares que se encontravam fortificados em uma elevação no meio dos alagados é que ao aceitar o combate, acabaram repelindo as investidas do Capitão Barbosa Pinto que acabou se retirando para a Paraíba onde se juntou a Camarão e seu terço para atacarem e vencerem os Tapuias no mês de Dezembro e marcharam para Cunhaú. O supremo conselho holandês, vendo ameaçadas as campinas rio-grandenses de onde tiravam o gado e a farinha para o abastecimento de Recife, imediatamente organizaram um corpo de exército e enviaram para combater os insurgentes em 27 de Janeiro de 1646 no mesmo terreno em que se desenrolou a luta, onde a vitória mais uma vez sorriu para às armas insurgentes e que os holandeses tiveram grandes perdas de seus soldados e foram obrigados a recuarem para o forte Ceulen sem serem perseguidos pelos vencedores, que seguiram para a Paraíba de onde Camarão mandou o Capitão João de Magalhães a Pernambuco com a tarefa de levar armas e algumas cabeças de gado para aquela capitania onde Vidal de Negreiros a frente de seis companhia atacou e derrotou os holandeses e que após destroçar os indígenas e implantar a paz rumou para o Rio Grande do Norte com o grosso das forças pernambucanas onde se incorporou a Camarão, que de imediato ordenou ao Sargento-mor Antônio Dias Cardoso para invadisse o engenho Cunhaú onde os holandeses se encontravam entrincheirados, e para isto foi destacado o Capitão Cosme do Rego Barros que em 16 de Dezembro efetuou o assalto ao engenho e a todo o distrito, onde o inimigo resistiu bravamente até serem vencidos, Rego Barros após a batalha lançou fogo ao engenho e arrebanhou o gado disponível e rumou para a Paraíba de onde seguiu para o Arraial do Bom Jesus nas imediações de Recife conduzindo muitos prisioneiros, escravos foragidos e muitas mulheres as quais foram libertadas do cativeiro em que eram mantidas e seguindo a este desastre, aconteceu o assassinato de Jacob Rabi o feroz conselheiro e cúmplice dos Tapuias pelo Alferes Jacques Boulan e dois soldados no cumprimento das ordens recebidas do Coronel Gartsmann, a morte de Jacob Rabi incontestavelmente contribuiu para o afrouxamento da dedicação dos indígenas aos holandeses, cuja situação piorava a cada dia por toda a parte, proporcionando que os insurretos sitiasse os distritos do sul de Recife para baixo e que atacassem as capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte através de Camarão e seus capitães da terra.
Os holandeses ao se convencerem de que a resistência tornara-se impossível, invocaram ao monarca português as delicadas relações políticas de Portugal com a Holanda, as quais não permitiram uma manifestação franca em favor do levante em andamento, e que pelo contrario, impunha a obrigação de abafar qualquer movimento. Imediatamente Dom João IV expediu ordens ao Governador Geral Teles da Silva para que retirasse os mestres de campo do cenário de batalha, porém Vidal de Negreiros junto ao seu terço não se submeteu as ordens recebidas, devido aos seus restos de patriotismo que não arrefecia nunca, e pouco mais de três meses depois, Vidal de Negreiros invadiu novamente o Rio Grande do Norte, onde se confrontou com o inimigo em Cunhaú, e após se juntar com as forças do Capitão Barbosa Pinto retornou a Pernambuco, e no dia 23 de Novembro Henrique Dias partiu com o seu terço e algumas companhia de Camarão para o sitio Guaraínas no Rio Grande do Norte onde os holandeses mantinham uma casa forte, que foi defendida com grande ardor nos renhidos combates ali travados com as forças de Henrique Dias, que após sangrentas batalhas conseguiu vencer a resistência dos holandeses.
Após se apoderar da casa forte, Henrique Dias imediatamente marchou para o engenho Cunhaú onde os holandeses se mantinham fortemente alojados, e ao colocar-se em frente ao inimigo, de imediato mandou uma mensagem ao chefe batavo para que se rendesse, porque em caso contrario atacaria como havia feito em Guaraínas, onde toda a guarnição havia sido morta. O comandante holandês ficou perplexo ao receber a intimação feita por Henrique Dias, e com palavras equívocas respondeu ao enviado, pensando ganhar tempo com sagacidade; porém Henrique Dias ao perceber o ardil, de imediato enviou uma segunda intimação ainda mais determinante, e como o comandante holandês demorasse em responder, Henrique Dias ordenou que fosse colocado fogo no reduto inimigo, e no exato momento em que o fogo começava arder, veio uma mulher portuguesa que era casada com um holandês até Henrique Dias para solicitar a rendição de todos os presentes a casa forte, o que foi concedido de imediato por Henrique Dias, que ordenou a ocupação do engenho e da fortificação.
Em 18 de Março de 1648 Schkkope foi investido como suprema autoridade na colônia como indicação de Maurício de Nassau, e a partir deste momento resolveu ativar a guerra em cumprimento as ordens vindas da Holanda, por seu lado Portugal substituiu o Governador Geral Antônio Teles da Silva pelo Conde de Vilapouca, Antônio Teles de Menezes que possuía um pequeno exército sob o comando do Mestre de Campo Francisco Figueiroa que recebeu importante auxilio de Francisco Barreto de Menezes no combate realizado nos Montes Guararapes o qual cobriu de louros as armas insurgentes, imediatamente a partir deste momento as cortes de Lisboa passou a repelir qualquer proposta que não excluísse a entrega das capitanias ocupadas pelos holandeses, que devido a derrota sofrida em Olinda diante a Francisco Barreto de Meneses, e as incursões sem sucesso em Santo Amaro e ao forte de Barreta e as noticias chegadas da Europa de que Salvador Correia de Sá havia retomado Angola e que a Ilha de São Tomé havia caído em poder dos portugueses, os deixaram tomar pelo desânimo. Para os holandeses neste momento só lhe restavam o mar, e por conta disto With se aventurou em algumas incursões pelo litoral até a criação da Companhia Geral do Comércio do Brasil que tinha o objetivo de colaborar no cerco exercido aos holandeses para sua evacuação definitiva do Brasil.
E por conta disto Francisco Figueiroa de imediato seguiu com sua tropa para tomar os fortes da Paraíba e do Rio Grande do Norte. E em Maio de 1654, o domínio português estava restaurado em todas as capitanias, anteriormente ocupadas pelos holandeses
Que haviam chegado ao Brasil para se apoderarem de uma colônia em franco desenvolvimento, e que nada fizeram como povo colonizador, e que sob o ponto de vista dos melhoramentos materiais, o legado holandês foi quase nulo, senão pela reconstrução de fortificação ou por algumas obras de conserto ou reparo efetuadas no Forte dos Reis Magos. E na terra gloriosa onde nasceu Camarão e que os invasores holandeses reduziram ao extremo de não ter um único escabino ou um colono que a representasse na assembléia que Nassau reuniu em Recife no ano de 1640, apenas restou como lembrança, o impagável jugo holandês e as provações praticadas ao povo do Rio Grande do Norte.
Após à expulsão dos holandeses e a restauração do domínio português, parte da capitania foi doada a Manuel Jordão que morreu na ocasião de seu desembarque, em 1689 a capitania foi novamente doada a Francisco Barreto que a administrou com o titulo de condado, e que mais tarde repassou a capitania a uma de suas filhas que se casou com o Almirante Lupo Furtado de Mendonça. Tendo em vista, que os donatários não aproveitaram a beneficência real, o território da capitania acabou se revertendo à coroa, e até o final do século XVIII ela foi efetivamente governada pelos capitães-mores sendo que o Rio Grande do Norte nesta época não passava de um vasto campo de devastação e de ruínas, onde a obra, da colonização, tão promissoramente iniciada antes da invasão holandesa, ia ser continuada com o governo de Antônio Vaz Gondim no período de 1656 a 1663 que como primeiro ato se deu a concessão de um lote de terra por carta foral na ribeira do Potengi e outro em Mipibu ao Capitão Francisco Mendonça Eledesma em Julho de 1659, e ao Padre Leonardo Tavares de Melo, vigário de Nossa Senhora da Apresentação do Natal, que em Janeiro de 1660 lhe foi concedido por sesmaria a ilha de Bom Sucesso na ribeira do Cunhaú, e no mês de Abril de 1660 nomeou o Sargento reformado Francisco Rodrigues para os ofícios de tabelião e escrivão dos órfãos, e a Francisco de Oliveira Banhos como escrivão das datas e sesmarias, e em Março de 1662 nomeou Domingos Vaz Coelho como escrivão do senado da câmara e em Abril de 1662 nomeou Francisco Lopes como provedor da fazenda real, no momento em que se achavam eleitos os elementos do senado da câmara, a província tinha por guarnição duas companhias de infantaria, sendo que uma assistia a fortaleza e a outra na cidade que abrigava mais de cento e cinqüenta moradores sob a subordinação do governo de Pernambuco.
Valentim Tavares Cabral ao ser nomeado pela patente real de Fevereiro de 1663 recebeu de Dom Vasco Mascarenhas, Conde de Óbidos entre outras providências a serem tomadas, a proibição de concessão de sesmarias, todavia Valentim Tavares concedeu a João Fernandes Vieira uma sesmaria de dez léguas de cumprimento, que começava na barra do Ceará-mirim e ia até a localidade de Touros e o dia 22 de Junho de 1666 o seu concessionário outorgou uma procuração ao Padre Leonardo Tavares de Melo no dia 4 de Setembro para tomar posse das terras perante o Provedor da Fazenda Real Diogo Fragoso Souto Maior que procedeu a concessão se baseando na carta do governador geral da qual ele autorizava a doação de terras devolutas que não tivessem donos. Em 21 de Janeiro de 1670 Valentim Tavares Cabral deixou o governo quando substituído por Antônio de Barros Rego, que se preocupou na construção de um novo templo, tendo em vista que durante a ocupação da capitania a primitiva matriz de Natal havia sido arrasada, e por isto os atos religiosos nesta época estavam sendo realizados em uma casa de taipa construída pelo Padre Leonardo Tavares de Melo em 1694, e para isto os moradores se cotizaram e levaram efeito a construção com a ajuda do capitão-mor.
O movimento colonizador que estava circunscrito a uma estreita faixa do litoral de Natal para o sul em terras compreendidas entre as ribeiras do Potengi e do Cunhaú, que, com as do Ceará-mirim, era onde o povoamento se desenvolvia, justamente nas melhores terras para as lavouras
E a partir deste momento, o movimento colonizador se acelerou com a penetração dos colonos para o interior em busca de compensadores vantagens ao seus esforços, e pela necessidade de conter o gentio, após constantes sublevações. Antônio Vaz Gondim ao assumir pela segunda vez a administração da capitania em substituição a Antônio de Barros Rego em 21 de Junho de 1673 pela patente real do dia 5 de Outubro de 1671 se demonstrou muito preocupou com as obras da igreja matriz e com os reparos que eram necessários no forte dos Reis Magos e com as concessões de sesmarias para o aumento da edificação da cidade, e no dia 21 de Maio de 1677 Francisco Pereira Guimarães ao substituir Vaz Gondim a frente do governo, se apresentou muito doente, e devido ao agravamento de seu estado de saúde, em dois de Novembro de 1678 veio a falecer no exercício de seu cargo, e durante o seu curto governo, o Rio Grande do Norte recebeu pela primeira vez a visita de um bispo, Dom Estevão Brioso de Figueiredo, primeiro bispo nomeado para a diocese de Olinda, após a sua criação por Bula do Papa Inocêncio XI.
Com a falecimento de Pereira Guimarães, o senado da câmara de Natal, assumiu o governo que em três de Abril de 1679 o transmitiu a Geraldo de Suny que foi nomeado como capitão-mor interino pelo Governador Geral Roque da Costa Barreto, e que durante o governo, Francisco de Almeida Vena, donatário de uma sesmaria nas costas de Touros, e que administrava uma aldeia indígena, procurou impedir que os colonos utilizassem o sal extraídos das salinas e que pescassem livremente nos rios da região, e por conta disto o senado da câmara em 20 de Novembro de 1680 deliberou representar ao governador geral contra a proibição e pediu a revogação da concessão a ele concedida.
Geraldo de Suny exerceu as suas funções até três de Setembro de 1681 quando entrou de licença de seu cargo, devido a uma moléstia adquirida, e por isto seguiu-se a interinidade de pouca duração do senado da câmara pelos seus oficiais Antônio Gonçalves Ferreira e Francisco Ferreira Coelho até a chegada de Antônio da Silva Barbosa nomeado pelo Governador Geral Roque da Costa Barreto para exercer o seu cargo por um período de pouco mais de sete meses, que durante o qual proveu Roque Nogueira de Souza ao posto de capitão de infantaria na ribeira do Ceará-mirim e Estevão Velho de Moura na ribeira do Açu, que com seus intensos trabalhos conseguiram efetuar as pazes com os gentios naquelas paragens sertanejas, e que em 22 de Novembro após requererem ao capitão-mor da capital, obtiveram uma data de sesmarias, consoante aos limites da patente de Estevão Velho, a qual foi confirmada em Fevereiro de 1682 pelo Governador Geral do Brasil Roque da Costa Barreto. A partir de 25 de Maio de 1682 chegou Manuel Muniz para substituí-lo após ser nomeado por patente do rei, e que ao tomar posse, de imediato prestou preciosas informações ao monarca sobre as condições em que se encontrava a capitania ao constatar a falta de guarnição suficiente para o Forte dos Reis Magos onde também faltava material de guerra, e os quartéis estavam arruinados e que os colonos moravam uns distantes dos outros, disseminados pelos sertões.
Onde estavam sujeitos à rebeldia dos índios que sempre traziam vivas lembranças dos holandeses
Somando a isto, as dificuldades se agravaram quando o seu sucessor Pascoal Gonçalves de Carvalho assumiu a administração em 30 de Agosto de 1685 após ser nomeado por patente real, e que a par do desenvolvimento da indústria pastoril que era a causa ocasional do definitivo povoamento dos sertões, se deparou com o fato de que durante a ocupação holandesa Antônio Paraupaba que era parente próximo de Camarão e que vivia na aldeia de Orange situada a poucas léguas da cidade de Natal, entre as ribeiras de Potengi e Jundiaí, e que após a expulsão dos invasores holandeses, em cujas mãos tinha sido instrumento passivo, retirou-se para os sertões do Ibiapaba com mais de quatro mil dos seus, de onde periodicamente descia em companhia de hordas selvagens que habitavam aquela região para atacar os estabelecimentos portugueses e perturbar a obra de reconstrução colonial, em represaria aos massacres executados pelos portugueses contra os indígenas, trazendo com isto grandes desordens a capitania que tão bem conhecia. Nesta época aconteceu que os potiguares que tinham servido ao exército libertador, esgotaram as suas autoridades para jugular a rebelião perante aos chefes de maior evidencia entre os Janduis, Caracarás, Aréas, Pegas, Paiacus, Canindés e dos Caicós, e com isto aconteceu a sublevação geral dos índios quando os potiguares que se concentravam nas várzeas próximas ao litoral e as demais tribos que dominavam as terras banhadas pelos rios Apodi, Upanema, Serido, Espinhas e o alto e baixo Piranhas atacaram e se apoderaram e colocaram tudo em desordem com suas crueldades empregadas nas ribeiras do Ceará-mirim, Apodi e do sertão do Açu.
Estando o forte dos Reis Magos sem guarnição disponível e não dispondo de recursos necessários para acudir aos pontos atacados, o senado da câmara de Natal se viu obrigado a solicitar ao Capitão-general de Pernambuco João da Cunha Souto Maior que enviasse com brevidade os socorros necessários a capitania, diante a rebelião dos índios que já haviam matado muitos moradores, destruído plantações e incendiado muitas casas, e com o passar dos dias, o mesmo pedido foi expedido a capitania da Paraíba, e no exato momento em que o Governador Geral Matias da Cunha tomou conhecimento dos fatos no dia 6 de Setembro, imediatamente determinou que o Coronel Antônio de Albuquerque Câmara reunisse todo o pessoal disponível das ordenanças e seguisse sem demora para se juntar as forças de Pernambuco e da Paraíba para combater as tribos sublevadas nas regiões de Arraial de Baixo até as praias de Manuel do Prado Leão, onde o Capitão de Infantaria Manuel Rodrigues Santiago se encontrava para garantir a situação de seus moradores. Diante o estado em que se encontrava a capitania, e devido a demora da chegada dos socorros solicitado, o senado da câmara de Natal resolveu enviar à Bahia um de seus oficiais.
Para isto Manuel Duarte de Azevedo viajou para se entender diretamente com o governador geral, que de imediato mandou seguir duas companhias dos terços de Camarão e de Henrique Dias e o maior número possível das forças da Paraíba.
As quais ficariam subordinadas ao Capitão-mor do Rio Grande do Norte, que em 18 de Janeiro de 1688 para conter o abandono da capitania por parte dos colonos baixou um edital, para que fossem denunciados todos aqueles traidores da causa que se ausentasse da jurisdição da capitania, que teriam como castigo, as suas terras confiscadas para cobrir as despesas da guerra, e alguns dias depois lançou um bando declarando que seriam perdoados de seus crimes todos aqueles que acudissem ao combate contra os índios, no exato momento em que o governador geral mandou seguir para o Rio Grande do Norte o Capitão-mor Manuel de Abreu Soares junto com alguns infantes da Praça de Olinda, e que o Capitão-mor da Paraíba enviasse o Capitão-mor dos índios com seus homens e alguns negros africanos, e deslocou o Governador das Armas Paulista Domingos Jorge Velho que se encontrava nas margens do Rio São Francisco com destino aos palmares, enquanto o capitão general de Pernambuco providenciou que Jorge Luís Soares se deslocasse da Paraíba com seus índios e negros africanos diretamente para Açu, onde estava estabelecida a base de operações.
Antônio de Albuquerque Câmara que desde o começo da luta combatia os índios revoltados, subiu até as cabeceiras do rio Piranhas, onde se juntaria ao Sargento-mor Manuel Silvério que se encontrava em uma casa forte em Cuó, onde foi violentamente atacado, cujo combate lhe deixou muito dos seus feridos e outros mortos, e que por este motivo não pode se deslocar em auxilio a Antônio de Albuquerque Câmara. O governador geral ao ser informado do que sucedera, de imediato publicou um bando convidando e perdoados de seus crimes, todos os fugitivos, degredados e criminosos, tanto da capitania do Rio Grande do Norte como de outras capitanias, para se incorporarem às forças do Coronel Antônio de Albuquerque no acampamento de Açu, e por conta disto em principio do ano de 1688 mais de seiscentos homens seguiram para o sertão para se juntar as forças regulares na luta contra os índios revoltosos.
Domingos Jorge Velho, governador das armas paulistas que marchara ao Rio Grande do Norte, travou violento combate durante quatro dias nas margens da lagoa do Apodi contra os índios rebelados que ofereceram vigorosa resistência até debandarem para o sertão após a prisão de seu chefe o Rei Canindé, ao deixar a direção da guerra com o Mestre de Campo Matias Cardoso de Almeida, rumou para combater Zumbi nos palmares.
No momento em que Agostinho César de Andrade, valente e brioso militar era retirado do comando da fortaleza das cincos pontes, no Recife para substituir Pascoal Gonçalves no governo da capitania do Rio Grande do Norte, que entre sustos e apreensões, levou as forças expedicionárias em numerosas e aguerridas perseguições sem trégua aos índios revoltados que opunham forte resistência, e por conta disto o senado da câmara em dois de Julho de 1688 enviou a Lisboa o Capitão Gonçalo da Costa Faleiro como procurador da capitania com um memorial relatando a real situação em que se encontrava a capitania devido aos ataques efetuados pelos índios. Incontestáveis foram os esforços desprendidos pelo Capitão-mor Agostinho César para vencer de todo a revolta; mas é também fato que o não conseguiu vencer, porém em virtude do agravamento da situação em 22 de Agosto de 1692, Sebastião Pimenta assumiu o governo da capitania, e seis dias após o senado da câmara dirigiu-se ao rei de Portugal um pedido de enviou de recursos para que fossem fundados quatros arraias nas localidades de Jaguaribe, Açu, Acauã e Curimatáu que seriam mantido e sustentados pelas gentes de Arco Verde e Camarão para povoamento do sertão em defesa da capitania, e durante o seu curto governo e a administração interina do senado da câmara, que se lhe seguiu, a situação permaneceu inalterável, levando com isto, que o governador geral determinasse em seis de Julho de 1694 a volta de Agostinho César de Andrade a capitania do Rio Grande do Norte no posto de capitão-mor, que em cumprimento as recomendações recebidas da metrópole colocou em pratica duas providências de indiscutível alcance, que foram as doações das terras fronteiras às regiões ocupadas pelos índios a pessoas que as pudessem povoar e cultivar as terras e que fundasse seis aldeias com guarnições militar em Açu, Piranhas e Jaguaribe, e para às medidas a serem adotadas pelo Capitão-mor Agostinho César de Andrade o senado da câmara ponderou contrariamente pela sua execução, pelo fato de que as terras da capitania já estavam doadas e por isto julgaram inoportuno o afastamento dos moradores da cidade para os arraias a serem fundado, pelo fato do enfraquecimento da defesa da cidade, porém Agostinho César resolveu que as terras a serem doadas seriam as mesmas já concedidas por sesmarias anterior, desde que ainda estivessem desabitadas e devolutas, e ponderou pela necessidade de obter à paz com os índios sem utilizar as batalhas sangrentas que vinham sendo realizadas continuamente de modo cruel, e para sua realização teria que vencer as fortes resistência das opiniões dominantes entre os colonos, das pessoas de relativas culturas as quais queriam que os índios fossem aniquilados por completo.
Dentro deste clima hostil, fracassaram os melhores propósitos de Agostinho César de Andrade que, em obediência a ordens superiores ou por orientação própria, desejou sinceramente restabelecer a paz na capitania, porém esta glória estava reservada ao seu sucessor, Bernardo Vieira de Melo, administrador hábil e capaz, que para alcançá-la, julgou imprescindível a sua ida até a localidade de Açu, onde no dia 24 de Abril de 1696 fundou um aldeamento que recebeu o nome de Nossa Senhora dos Prazeres, o qual assegurou com prudência e tato a consolidação permanente da obra de concórdia a qual assegurou o convívio pacifico entre colonos e indígenas, por isto o governo de Bernardo Vieira de Melo se tornou um sucesso completo com grande espírito de justiça e paz, e quando do termino de seu governo que tanto ilustrara, o senado da câmara ao interpretar os sentimentos do povo, solicitou ao governo de Lisboa que reconduzissem de volta ao posto o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo. E por intermédio da carta régia do dia 18 de Novembro de 1697 o rei de Portugal observando os feitos exercidos pelo Capitão-mor com muito zelo e disposição ao reduzir todo o gentio a uma universal paz em todo o sertão da capitania do Rio Grande do Norte onde a população vivia em sossego e desejosa pela sua continuação no exercício de seu trabalho por outros três anos, atendeu ao pedido a ele formulado pelo senado da câmara. Os atos praticados por Vieira de Melo, durante o seu segundo governo não desmentiram os do primeiro, pois a partir deste momento e que se acentuaram os grandes surtos da colonização, que atingiria no século seguinte o seu máximo de intensidade em conseqüência da exploração agrícola nas zonas próximas ao litoral, do encontro das duas correntes que, em entradas e bandeiras se tinham encaminhado para o interior da capitania e, o progressivo desenvolvimento da indústria pastoral que formalizou a sua cultura e o seu nível moral.
No inicio do século, o Rio Grande do Norte constituía uma capitania subalterna, e pela carta régia de 11 de Janeiro de 1701 deixou de ter subordinação direta do governo da Bahia, para ficar sujeita ao governo de Pernambuco. O capitão-mor era a autoridade suprema, muito embora os regimentos restringissem as suas atribuições à algumas tarefas, onde não tinha limites à sua liberdade de ação e dispunha de poderes civil e militar incontrastáveis onde a sua vontade era a única lei, para fazer executar as suas ordens, o capitão-mor contava com a guarnição da fortaleza, com o terço que assistia no Açu e com os regimentos de ordenanças que formavam a segunda linha, e no decurso do século, também teve o concurso dos capitães-mores das vilas e freguesias que foram criadas pela carta régia de 20 de Janeiro de 1699.
No Rio Grande do Norte existiam cinco capitanias menores localizadas nos distritos do sul e do norte da capital, a do Açu, a do Caicó e a da Portalegre, onde os capitães-mores de milícia exerciam o poder de policia com todos os seus arbítrios e violência, e auxiliados pelos capitães de mato, que andavam por todas as partes atrás de vadios e escravos.
Juridicamente, a capitania hereditária no dia 18 de Março de 1818 foi elevada a condição de comarca e pertencia à ouvidoria da Paraíba, criada por provisão régia de 12 de Dezembro de 1687 e que teve o Doutor Diogo Rangel Castelo Branco como seu primeiro ouvidor, nesta época na capitania do Rio Grande do Norte, havia os juizes ordinários, os almotacés e os juizes de vintema. Por decreto régio eram criado os cargos de juiz de fora, os quais eram nomeados pelo rei, dentre os bacharéis em direito e seus ordenados eram pagos pelos cofres reais e traziam por insígnias uma vara branca e exerciam jurisdições civil e criminal, e dentre eles e que o rei nomeava por um prazo de três anos, os ouvidores que tinham o seus ordenados pagos pela fazenda real, os ouvidores eram os corregedores de suas comarcas, onde davam audiências regularmente, em dia e lugar determinados, também tinham incumbências meramente administrativa, cuidavam das eleições das câmaras, e a administração municipal estava entregue às câmaras que publicavam posturas sobre tudo que interessasse ao bem comum, e normalmente eram compostas por homens ignorantes e rudes que muitas das vezes eram obrigadas a envolver-se nas lutas contra capitães-mores autoritários e de ouvidores gananciosos, e dentro do ponto de vista fiscal o provedor da fazenda era o posto mais elevado na hierarquia administrativa que era subordinada a capitania de Pernambuco onde se recolhia o dinheiro arrecadado dos impostos cobrados dos contratos de arrematação.
Antônio de Carvalho e Almeida ao substituir Bernardo Vieira de Melo na administração da capitania do Rio Grande do Norte em 1701 procurou manter a paz com os índios e acalmou a agitação reinante, que fora provocada pela subordinação da capitania a Pernambuco, e incrementou a criação e incentivou o movimento colonizador para o sertão até o final de seu governo no ano de 1705 quando foi substituído por Sebastião Nunes Colares que governou de Dezembro de 1705 até 30 de Novembro de 1708, com uma administração muito apagada, e que no ato de sua posse, aconteceu um fato inusitado: e que o senado da câmara, não foi comunicado a respeito de sua nomeação para o cargo de capitão-mor, por este motivo a mesma hesitou em dar lhe posse do posto e, só o fez em atenção a Carvalho de Almeida que desejava se retirar. André Nogueira da Costa que havia prestado bons serviços em Angola, Bahia e Pernambuco e havia se distinguido como capitão do rio São Francisco tomou posse por um período de três anos em 30 de Novembro de 1708, governou com uma administração sem nenhum realce para a capitania até ser substituído por Salvador Álvares da Silva em 30 de Novembro de 1711, e que ao assumir o governo encontrou uma séria revolta dos índios que avançaram com toda ira contra o arraial de Açu, e que para contelos foi necessário o auxilio dos índios Paiacus, os quais serviram de guias às bandeiras para descobrirem os inimigos nas serras onde se acolhiam. Domingos Amado ao ser empossado em 20 de Março de 1714 atendendo as reclamações por parte do senado da câmara, solicitou ao capital general de Pernambuco que fizesse retornar o terço dos paulista que haviam partido de Açu, para combater os índios que haviam retornado aos ataques ao arraial, e no mês de Julho de 1715 executou as ordens contida na carta régia que suspendia o bando que o Governador de Pernambuco Felix José Machado, mandara lançar para que todos os Tapuias de sete anos de idade para cima, lhe fossem remetidos para serem vendidos no Rio de Janeiro. No dia 23 de Janeiro de 1718 Luís Ferreira Freire, que era um soldado sem cultura, violento e voluntarioso que servira por muitos anos nas províncias do Minho, Beira, Trás-os-Montes e Alentejo, tomou posse como capitão-mor da capitania do Rio Grande do Norte.
E que durante o seu governo se deu a última rebelião geral dos índios em uma violenta batalha, em que os Tapuias invadiram o arraial de Ferreira Torto, matando e destruindo tudo.
Para se apoderarem da pólvora ali existente para levar a destruição e o pânico em toda a capitania, o que não conseguiram graças a pronta defesa da valorosa infantaria, que desta vez puniu rigorosamente os indígenas insubmissos, ao matarem muitos deles, e fazendo com que, os que escaparam à morte ou à escravidão se internassem nos altos sertões da Paraíba e do Ceará, de onde raramente vinham inquietar os moradores do Rio Grande do Norte com suas investidas que não mais ofereciam os perigos de outrora; com isto foi feito a extinção do terço dos paulistas. Ferreira Freire que era um homem de maus costumes, andou praticando alguns atos inadequado para o seu cargo, quando raptou uma moça e a fez de sua amásia, e tomou à força a escrava do Vereador Manuel de Melo Albuquerque e por conta destes fatos, o vereador recorreu à justiça, onde obteve um mandado para a entrega de sua escrava, do qual Freire tanto intimidou os oficiais de justiça que nenhum se quis prestar à execução do mandado, então o vereador recorreu ao Governador de Pernambuco Rolim de Moura, e por conta disto o capitão-mor mandou que Manuel de Melo fosse preso, no entanto o senado da câmara entendendo que a prisão arbitraria do vereador ofendia os seus privilégios, e por conta enviaram um comunicado ao governador de Pernambuco, que de imediato enviou uma ordem para que o capitão-mor soltasse o vereador. E após alguns dias em uma determinada noite o Capitão-mor Luís Ferreira Freire acompanhado de alguns soldados sob o comando do Capitão Francisco Ribeiro Garcia arrombaram a casa de Manuel de Melo e soltaram um de seus escravos e levaram a escrava que servia à casa,
Na noite de 22 de Fevereiro de 1722 o capitão-mor acabou sendo morto com diversos tiros, com isto o senado da câmara ficou a frente do governo da capitania e de imediato procedeu a abertura de uma devassa para descobrir o assassino do capitão-mor, da qual os resultados se tornaram infrutíferos, pois não se descobriu o autor dos disparos.
No dia 8 de Março de 1722, José Pereira da Fonseca foi empossado no exato momento em que a capitania ainda se encontrava sob a tensão do assassinato de seu antecessor, e para isto, ele determinou a abertura de duas devassas, sendo uma pelo juiz ordinário e outra pelo ouvidor geral, e que após muito trabalho não chegaram a nenhum resultado positivo sobre os nomes dos verdadeiros criminosos, o que gerou certa desconfiança entre o governador e a câmara do senado, mesmo depois que os vereadores foram substituído, e no decorrer de seu governo a frente da capitania, Pereira da Fonseca teve que conviver com um clima de insegurança, pois a todo instante havia um assassinato sem qualquer motivo, e nesta situação reinante a partir de 1723 a capitania começou a ser flagelada por uma devastadora seca, e como seu sucessor foi nomeado Domingos de Morais Navarro em 18 de janeiro de 1728.
Poucos dias depois de sua posse, o senado da câmara pediu ao governo de Lisboa que mandasse erigir um hospício na capital da capitania, para que os religiosos da Companhia de Jesus ou da Ordem de São Francisco pudessem residir e ensinarem gramática aos filhos dos moradores e para que fossem ordenado novos sacerdotes, dos quais padeciam de grandes faltas na capitania.
Por conta da manifesta má vontade do governador de Pernambuco em relação à capitania do Rio Grande do Norte, ele prestou as mais variadas informações desfavoráveis para construção do hospício, que acabou não sendo fundado, e ao tomar posse em 19 de Março de 1731 João de Barros Braga criou a primeira cadeira de gramática latina cuja falta fora reconhecida pelo bispo diocesano quando da visita pastoral na capitania em 1728, destacadamente fora o auxilio mais eficaz que os jesuítas encontraram para suas obras e o melhor defensor que os povoadores tiveram na capitania onde muitas das vezes supriu com mantimentos aos índios aldeados, porém quando mandou justiçar com a morte um índio Tapuia que havia assassinado o seu senhor e cometido outras mortes, João de Barros Braga incorreu no real desagrado, e não obstante os seus longos e preciosos serviços o rei mandou tirar uma devassa para o capitão-mor e ao ser sentenciado na relação do estado, que passou mandado de prisão contra ele através do ouvidor da Paraíba, que ficou impossibilitado de cumprir a ordem, devido a interferência do governador de Pernambuco que se negou a cumprir sob o pretexto de que o capitão-mor João de Barros Braga estaria sob suas mercê, e para isto escreveu ao rei para que esquecesse da punição imposta ao capitão-mor do Rio Grande do Norte, e advertiu a João de Barros Braga para que não voltasse a sentenciar outros delinqüentes.
João de Teive Barreto de gênio ativo e trabalhador que as vezes o levava a praticar incursões descabidas em esferas de atribuições que não eram de sua atribuição, entrou no exercício de seu cargo em 22 de Outubro de 1734 muito preocupado com a administração da capitania, que entre elas estava a conveniência de ser feita em Natal a arrematação dos dízimos, a dispensa da autorização do governador de Pernambuco para que fossem assentadas praças de soldados nas companhias existente na capitania, a falta de armas e munição e material de guerra, pela necessidade de construir um fortim em um ponto aberto, e a rigorosa observância do contrato para a construção de uma cadeia e da casa da câmara e outras mais. E Francisco Xavier de Miranda Henriques que o substituiu, serviu como capitão-mor de Dezembro de 1739 a Maio de 1751 com exemplar honestidade a frente da capitania, Henriques não tinha posses, era paupérrimo, e por conta disto, em certo dia foi-lhe preciso para matar a fome, pedir cem mil réis de empréstimos ao cofre dos órfãos, e se não fora a intervenção de seu secretário Caetano José Correia, o seu nome figuraria entre os daqueles que mendigavam ao governo, e em outra feita Miranda Henriques sustentou uma luta com o provedor, o quando ele contrariou ao apoiar os moradores da ribeira do Apodi que impediram a execução dos contratos celebrados com o arrematador Lourenço Correia de Lira que pedira garantia ao provedor que o atendeu e mandou notificar aos principais opositores, e como não conseguiu nada junto aos opositores, o arrematante viu-se na contingência de foragir-se. E por conta disto o provedor abriu uma devassa para o caso, onde foram pronunciada mais de vinte pessoas, e que entre os quais o Juiz Ordinário Matias Simões Coelho, que irritado por tal diligência de imediato recorreu ao capitão-mor, que atendendo ao pedido a ele formulado mandou abriu uma devassa do ocorrido, e para tal nomeou o juiz ordinário já comprometido na devassa feita pelo provedor, para semelhantes fins, e que por sua vez lhe solicitou as providências necessárias para que os contratos fossem executados. e que após ter sustentado a luta com o provedor ele foi repreendido e suspenso de suas funções durante quatro meses pelo governador de Pernambuco, devido as ordens recebida do governo de Lisboa. Após a suspensão Miranda Henriques continuou a governar por mais sete anos, e contra a longa duração de sua administração o senado da câmara em 23 de Abril de 1751 após ter conhecimento da nomeação de seu sucessor Pedro de Albuquerque e Melo, dirigiu-se ao rei reclamando que os governadores após três anos exercendo os seus cargos, acabavam criando grandes desconforto ao povo, porque se afeiçoavam a algumas pessoas e por razão destas, acabavam cometendo algumas injustiças, e quando da posse de Pedro Albuquerque e Melo em 30 de Maio de 1751, data a criação dos cargos de Juiz Ordinário e escrivão do Açu e Apodi e fez executar a mudança dos oficiais nos regimentos de milícia existente nas ribeiras do Açu, Apodi e na do Seridó, e de acordo com a descrição do Ouvidor Domingos Monteiro da Rocha em 27 de Julho de 1757 quase no final da administração de Pedro de Albuquerque e Melo a capitania do Rio Grande do Norte continha cento e dez léguas de cumprimento, pegando do Rio dos Marcos até a picada do Moxoró, e vinte e cinco léguas de largura que pegava da cidade de Natal até às cabeceiras do rio Apodi, e que em toda a capitania achavam-se as freguesias de Nossa Senhora da Apresentação onde se encontrava a cidade de Natal e que ao seu final tinha um lugar chamado de Ribeira que possuía um rio de água salgada de nome rio Grande e tinha sua barra onde se localizava a fortaleza da invocação dos santos reis magos, esta freguesia possuía algumas povoações com bastante moradores e se encontravam a de Ceará-mirim na parte norte da capitania que tinha o rio Ceará-mirim que nascia na serra de Cabugi, e rio Maxaranguape e o Punáu, outra povoação na parte norte era a de São Gonçalo que tinha o rio Potengi e para o sul tinha a povoação de Papari e a ribeira do Mipibu que tinha a capela de Nossa Senhora do Ó, e os rios Cururu e o Pirangi, a outra freguesia era a de Nossa Senhora dos Prazeres que possuía uma igreja matriz com bastante moradores na povoação de Goianinha e possuía o rio Cunhaú, a outra freguesia era a de São João na ribeira de Açu com igreja matriz e bem povoada e com quatro rios que eram os Água Mare, Tubarão, Manuel Gonçalves e o Açu, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição estava localizada na ribeira do Apodi no lugar chamado Pau de Ferros com um igreja e muitos moradores e tinha o rio Apodi e a freguesia de Sant’ana estava localizada no lugar chamado de Caicó na ribeira do Seridó com duas povoações localizadas na matriz da freguesia e outra em Acari com uma capela e o rio Seridó.
Em quatro de Dezembro de 1757 ao tomar posse , João Coutinho de Bragança demonstrou que não escolhia meios para auferir avultados proveitos do cargo, pois em uma viagem que fez ao interior da capitania, a fim de passar revista aos regimentos do sertão, ele exigiu que cada componente lhe pagasse determinada quantia de acordo com o seu posto, sob pena de lhes não serem reconhecidos os postos em que tinham sido anteriormente providos, e acabou indo além, quando criou mediante propina dos indicados, novos postos em lugares onde não podia haver. Joaquim Felix de Lima governou de 14 de Junho de 1760 até 28 de Setembro de 1774, quando faleceu no exercício do cargo, e durante o seu governo, a Ordem dos Jesuítas já havia sido abolida em Portugal e nos seus domínios desde três de Setembro de 1759, e por conta disto, o Marquês de Pombal para por em pratica as medidas e providências necessárias a execução do ato, designou que viesse ao Rio Grande do Norte o Desembargador Bernardo Coelho da Gama Casco, para publicar o alvará e as leis que estabeleciam a liberdade das pessoas, o comércio dos índios, bem como o seu governo civil e a elevação a categoria de vila das aldeias indígenas e que fizesse cessar o governo temporal dos jesuítas nas aldeias de Extremoz e Arês, antigas missões de Guajiru e Guaraínas, que eram as únicas que se encontravam sob a direção dos jesuítas. Em nove de Dezembro de 1761 foi criada a vila do Regente e para ali foram transferido os índios da missão do Apodi, em 22 de Fevereiro de 1762 a vila de São José que era a antiga missão de Mipibu a que tinha sido incorporada aos Pegas, antigos habitantes da serra de Cipilhapa que foi arrematada em toda a sua extensão em 19 de Novembro de 1761 por João do Vale Bezerra, e logo depois na aldeia de Gramacio, foi fundada a vila Flor em homenagem ao Governador de Pernambuco Dom Antônio de Menezes, Conde de Vila Flor. Com a criação das novas vilas, desapareceram todas as missões, e os indígenas passaram a ser governados pelos diretores, que sucederam aos padres jesuítas e que exploraram, escravizaram e martirizaram aos índios que em grande parte voltaram à vida errante dos primeiros tempo, onde eram perseguidos e esmagados. E em três de Fevereiro de 1766, foi criada a freguesia das Várzeas do Apodi com sede na antiga missão, e com o falecimento do Capitão-mor Joaquim Felix de Lima a capitania foi governada na conformidade do alvará com força de lei de 12 de Dezembro de 1770 pelo Ouvidor José Batista Freire e os vereadores mais velhos durante o longo período desde a data da morte do capitão-mor até 12 de Agosto de 1791, quando assumiu interinamente o governo da capitania o novo Capitão-mor Caetano da Silva Sanches, que em sete de Fevereiro de 1798 teve ratificado a sua posse no governo da capitania do Rio Grande do Norte. E nesse dilatado período 1774 a 1800, de mais de um quarto de século a capitania do Rio Grande do Norte experimentou duas grandes secas nos períodos de 1777 a 1778 e o de 1791 a 1793 que foram extremamente desastroso para os moradores da ribeira de Apodi, onde existiam nesta época as freguesias de Apoli, Portalegre e Pau de Ferros, onde a lavoura era constituída pelo plantio da mandioca e possuíam um extraordinário desenvolvimento da indústria pastoril que alimentavam a lucrativa indústria das carnes secas estabelecidas em Mossoró e Açu. Convém entretanto salientar, que da extinção dessas indústrias em 1778, quando o Capitão-general de Pernambuco, passou a permitir o preparo das carnes secas do Aracati para o norte, que com isto, resultou em consideráveis prejuízos, que não foram exclusivamente da ordem econômica, pois também agravou a questão de limites entre as capitanias do Ceará e do Rio Grande do Norte.
O século XVIII foi o século do povoamento completo da capitania, que no seu início era formada por um só município e uma freguesia e que no ano de 1800 já contava com os municípios de Natal, São José de Mipibu, Arês, Vila Flor, Extremoz, Vila do Regente e as recém criadas Vila do Príncipe e a Vila da Princesa.
Que compreendiam outras tantas freguesias de que eram sedes e mais as freguesias do Apodi, Goianinha e Pau de Ferros que ainda não gozavam dos foros de vilas. Com a população disseminada por toda parte, atingindo as serras e os pontos mais remotos alargando a criação e fazendo da capitania uma região francamente pastoril onde o caráter salino do solo, a abundância de pastos suculentos e os campos agrestes que determinaram a multiplicação do gado vacum, o gado cavalar dava-se bem no sertão, mas nunca se multiplicava tanto como o vacum, em virtude da falta de forragem apropriada, o gado muar era quase que desconhecido no começo da capitania, em virtude da carta régia de 14 de Junho de 1761 em que proibia que fosse despachado mulas ou machos, e que fossem sacrificados os que entrassem na capitania depois da publicação da lei, e devido a decorrência deste fato, e que ocorreu a não existência do gado muar, as ovelhas e cabras somente foram criadas na capitania a partir do reconhecimento da superioridade de suas peles. As guerras, epidemias e as crises climáticas periódicas, acabaram levando a um desaparecimento quase completo dos povos naturais, de modo que, no cruzamento que se operou no Rio Grande do Norte entre as três raças que entraram na formação histórica, a raça primitiva forneceu o menor contingente, especialmente na zona agrícola, onde foram assimilados em maior números os negros e os mulatos, enquanto no sertão o coeficiente dos índios e mamelucos foi superior. Na capitania os colonos que tinham a vida bem apertada, pois os mesmos não eram os donos das sesmarias, eles consumiam principalmente a carne secada ao sol, ou do gado miúdo de preferência de ovelhas, no começo nada se plantava, pois julgavam o terreno estéril, porém mais tarde introduziram a cultura do feijão, milho, cana e da mandioca, e com os inventos mecânicos que revolucionaram a indústria dos tecidos que aumentaram o consumo do algodão, é que levou o plantio do algodão para terrenos mais afastados.
Nesta época no Rio Grande do Norte ocorria um fenômeno para aquela região, que era as feiras de gado, onde na maioria das vezes o gado era permutado por objeto, e elas deram origem a alguns povoados, os quais podemos observar algumas particularidades locais, tais como: as casas eram em geral de taipa, sendo que as dos colonos eram cobertas de capim ou de folhas de palmeiras a não ser nos povoados, viviam-se em isolamentos nos sertões onde o contato dos fazendeiros eram com os vaqueiros e agregados, nos engenhos com os lavradores, os moradores e os escravos, tempo depois foi que os fazendeiros e senhores de engenhos começaram a permanecer algum tempo nas cidades e nas vilas, especialmente por ocasião das festividades religiosas como procissões solene, as novenas, as festas do orago das freguesias ou em honra dos santos preferidos pelos devotos, e nas diversões populares como o, bumba-meu-boi, os fandangos, os batuques, as corridas à argolinha, o carnaval com os seus papangus e entrudo, as danças de cordas, e a congada às quais não compreendiam festas e alegrias populares sem tiros de roqueira ou de bacamarte.
Nos sertões, a festa por excelência era a das vaquejadas, nas zonas açucareira era as boladas dos engenhos. Nas famílias, os chefes tinham uma autoridade absoluta e incontestável, onde as suas resoluções não se discutiam, conversavam pouco com os filhos, que os respeitavam e temiam, as suas mulheres eram antes de tudo escravas do dever do que carinhosas e ternas companheiras nas provações da vida, que se trajavam com a maior simplicidade.
O comércio era a aspiração dos mais ativo e inteligentes, porque dava facilidades de vida e a consideração dos proprietários abastados, nivelando classes hostis: a dos mercadores e a dos senhores territoriais, quando estabelecidos em pequenas vendas que eram verdadeiros bazares que se abasteciam com as mercadorias vindas de Pernambuco, onde os mascastes também se abasteciam. E o ensino primário era ministrado pelos missionários nas aldeias dos índios e pelos vigários e capelães aos filhos dos moradores ricos das cidades, e no momento da extinção das missões o mestre-escola veio como uma necessidade para suceder os padres no papel de educadores.
Com a morte do Capitão-mor Caetano da Silva Sanches em 15 de Março de 1800, assumiram o governo da capitania o Comandante Antônio de Barros Passos e o Vereador Luís Antônio Ferreira até o ano de 1801.
Quando chegou o novo Capitão-mor Lupo Joaquim de Almeida Henriques, homem despótico e violento que cometeu toda a espécie de arbitrariedade, que acabou levantando o clamor popular devido aos absurdos por ele praticado, e que por isto chamou a atenção da corte de Lisboa que imediatamente ordenou a sua retirada para Pernambuco.
Sucederam-lhe interinamente o comandante Joaquim José do Rego Barros e o Vereador Luís Antônio Ferreira até a chegada de José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque no dia 23 de março de 1806 com grande interesse de guarnecer a capitania e, para isto dividiu a tropa em três divisões e subdividiu as divisões em círculos, e em 22 de Janeiro de 1812 foi substituído por Sebastião Francisco de Melo Povoas, que encontrou na capitania o gado vacum sendo a sua principal fonte de exportação, e a cultura do algodão começando a se desenvolver, e magníficos resultados com a plantação de mandioca, milho e arroz, e as salinas sendo exploradas com bom resultados, portanto nesta época havia no Rio Grande do Norte uma acentuada probabilidade de grandes surtos econômico. E a construção do quartel de Natal, data do governo de Melo Povoas que deixou o exercício do cargo de capitão-mor em 16 de Dezembro de 1816 ao ser sucedido por José Inácio Borges e que durante a sua administração rebentou em Pernambuco o movimento republicano de 1817 que teve o seu inicio em 1800, com intensas propaganda política exercidas pelas sociedades secretas de Pernambuco onde se doutrinavam os mais adiantados princípios liberais ou, como se dizia, a causa da liberdade, aonde alguns dos componentes, coerentes com as suas idéias chegaram às ultimas conseqüências ao pleitearem o estabelecimento do regime republicano, com as mais amplas franquias democráticas, onde outros queriam a independência e, com ela, uma constituição que assegurasse as garantias de ordens políticas e que delimitasse as atribuições dos poderes que fossem criados e reconhecesse os direitos dos cidadões e que refreasse as violências das autoridades constituída. André de Albuquerque que era filiado a uma daquelas sociedades secretas, logo se tornou o chefe dos que na capitania do Rio Grande do Norte ansiavam pela realização das reformas que correspondessem às aspirações do povo que estavam cansados da tirania e opressões. E ao se operar a revolução no Recife, logo se fez a republica, e André de Albuquerque a principio vacilou em aceitá-la, porém ao ser informado da real situação, de imediato promoveu o movimento em sua terra.
Com a confirmação da noticia dos sucessos alcançados em seis de Março em Recife, o Capitão-mor José Inácio Borges de imediato publicou uma proclamação a todas as câmaras e comandantes de distritos da capitania do Rio Grande do Norte, a respeitos dos acontecimentos ocorridos na vila de Santo Antônio do Recife em Pernambuco, em que resultou na imediata saída do governador daquela capitania para o Rio de Janeiro e que alguns facciosos haviam assumido e usurpado a jurisdição do governo, trazendo com isto a intranqüilidade para os seus habitantes, e por conta disto declarava que estava cortada as relações com qualquer governo ou autoridade levantada no momento em Pernambuco. José Inácio Borges hesitou em condenar o movimento, só o fazendo após se reunir com um conselho, que divergindo da opinião de André de Albuquerque deliberou por maioria de votos que ele fosse combatido e que fosse transferido para a fronteira sul da capitania para impedir que a mesma fosse invadida. André de Albuquerque imediatamente aceitou a comissão a ele imposta, pois era de seus propósitos ganhar tempo para organizar convenientemente as suas tropas e esperar a chegada de reforços que lhe tinham sido prometidos da Paraíba. No dia 16 de Março o Capitão-mor José Inácio Borges enviou uma correspondência ao para André de Albuquerque relatando a respeito do tumulto reinante na Paraíba e que ele deveria incorporar a sua tropa, com a gente da ordenança do Capitão-mor Vila Flores e Arês para defesa dos limites da capitania em Goianinha. André de Albuquerque em 18 de Março acusou o recebimento das instruções a ele enviada em sua resposta dada ao capitão-mor na qual demonstrou que já não mais se dedicava ao rei, e comunicou que as ordens enviadas já haviam sido cumpridas e que instalara o seu quartel no seu engenho em Cunhaú, onde recebeu o correio da Paraíba nas pessoas de Baltazar da Rocha e do Padre João Damasceno Xavier Carneiro que pertencia a freguesia do Uno em Pernambuco, que tinham o intuito de conseguir a adesão de André de Albuquerque a revolução e que após o encontro, abraçou francamente o partido dos republicanos. José Inácio Borges que não demonstrava nenhuma desconfiança, em 20 de Março tornou a escrever para André de Albuquerque solicitando maiores informações a respeito do número exato de homens que tinham sob a sua ordem, e devido as informações prestada em resposta pelo oficio do dia 22 de Março, o capitão-mor de imediato resolveu visitar o sul da capitania a fim de verificar pessoalmente o que ocorria e orientar-se acerca das dificuldades existentes. Na manhã do dia 24 de Março o capitão-mor se encontrou em Goianinha com André de Albuquerque onde conversaram sobre a situação reinante, e se retirou ao cair da tarde com destino ao engenho Belém, convencido pelas razões expostas por André de Albuquerque de que não daria seu apoio ao revoltosos de Pernambuco. Porém na madrugada do dia 25 José Inácio Borges foi cercado e preso por André de Albuquerque e pelo Capitão-mor das ordenanças da cidade da Paraíba João de Albuquerque Maranhão e alguns oficiais do regimento de cavalaria que se encontravam na fronteira e que na oportunidade o Padre João Damasceno Xavier Carneiro e Luís Manuel de Albuquerque Maranhão alardearam a glória dos libertadores de sua pátria, que dali mandaram chamar o comandante da companhia de linha, o provedor da fazenda real e o major de infantaria miliciano para conduzir o Capitão-mor José Inácio Borges a cidade, com ordem para assassinarem no caso de qualquer resistência, porém como não houve rebuliço, lhe foi permitido ir buscar a sua mulher para com ela ser conduzido a Pernambuco onde foi recolhido à fortaleza de cinco pontas. André de Albuquerque ao assumir definitivamente à causa da liberdade reuniu os oficiais militares e as principais pessoas do movimento e nomeou para compor o seu governo o Comandante de Linha Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque, o coronel Joaquim José do Rego Barros, o Capitão Antônio da Rocha Bezerra e o padre Feliciano José Dornelas que a principio se recusaram em aceitar os cargos, porém com as insinuações do Padre João Damasceno Xavier Carneiro, todos acabaram aceitando e assinaram as atas, editais e as ordens expedidas pelo governo revolucionário, que causaram a desaprovação e o ódio da opinião pública, e a indisposição da companhia de linha. E no exato momento em que a força paraibana sob o comando de José Peregrino saiu da cidade, rebentou a contra-revolução pelo povo instigado por decididos partidários da monarquia que de imediato receberam o apoio da companhia de linha que correram às armas aclamando a Dom João VI, cuja autoridade se pretendiam restabelecer no Rio Grande do Norte.
E em 24 de Abril sob a liderança do Comandante de Linha Antônio Germano, que animava a revolta e a insubordinação dos soldados, que imediatamente se colocam em marcha pela rua Grande em direção ao palácio do governo.
Ao sinal de nove badaladas no sino da matriz, um grupo dos mais resolutos dos monarquistas compostos pelo Capitão Antônio José Leite de Pinho, Capitão-mor José Alexandre Gomes de Melo, Capitão de segunda linha Francisco Felipe da Fonseca Pinto, Alexandre Felício Bandeira, João Alves de Quintal e do Alfaiate Manuel da Costa e de muitos outros que se reuniram com Antônio Germano ao galgarem de tropel as escadas do palácio e surpreenderam o indefeso André de Albuquerque sentado à mesa de trabalho. Então neste momento Antônio Germano intimou-lhe com voz de prisão, e o declara deposto no meio do alarma e dos gritos sediciosos de Viva o Senhor Dom João VI ! Morra a Liberdade !, e meio desta confusão André Albuquerque levantou-se e encaminhou-se a uma das janelas do palácio, como se quisesse por ela precipitar-se, preferindo talvez a morte desastrosa ao acabar nas mãos de seus inimigos. O Capitão Antônio João Leite prevendo a intenção de André de Albuquerque, cordialmente estendeu-lhe o braço sobre os ombros e exclamou: "Não faça isto, Senhor Coronel" no exato momento em que o Oficial Francisco Felipe da Fonseca Pinto, num golpe traiçoeiro cravou-lhe a espada em seu ventre. André de Albuquerque o mártir dos princípios liberais ao se sentir ferido e exausto de suas forças, cai ao chão ao ser sacrificado pela emancipação de sua terra, certo de que o sangue dos patriotas é a seiva mais fecunda da árvore da liberdade. Prostrado, e quase moribundo, foi-lhe imposto que desse Vivas ao Rei, fato que não conseguiram demovelo do obstinado silêncio, pois velara-lhe os lábios o sentimento da própria dignidade, e mesmo assim mortalmente ferido o desventurado André de Albuquerque é posto a ferros e conduzido por entre os insultos e apupos da gentalha para ser encarcerado na hedionda e solitária prisão da fortaleza dos Reis Magos, onde o reverendo Feliciano José Dornelas assisti aos seus últimos momentos na madrugada do dia 25 de Abril. E ao amanhecer do dia seguinte a companhia de linha que já estava em armas à testa do povo da cidade que haviam se levantado com eles, seguiram as reais bandeiras proclamando com grandes vivas a real soberania e marcharam para o sul da capitania com a finalidade de prender os parentes de André de Albuquerque que haviam se refugiado no engenho de Cunhaú fortemente armados, porém ao chegarem ao engenho não os mais encontraram, por este motivo lançaram algumas patrulhas pelo sertão em perseguição para prender aos revolucionários, com exceção de José Inácio de Albuquerque que se apresentou mais tarde, e do Padre Antônio de Albuquerque, Vigário de Goianinha que não foi alcançado; e pelo alvará de 12 de Dezembro de 1770 foi organizado um governo interino para administrar a capitania do Rio Grande do Norte, e para tal o senado da câmara escolheu o Capitão e Comandante da tropa de linha Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque e o Vereador André Álvares Pereira Ribeiro Cirne, que após constituírem o seu gabinete não encontraram grandes embaraços quando expediram os preciosos avisos às vilas das capitania, com exceção da vila de Portalegre aonde David Leopoldo Targini, emissário dos rebeldes naquela vila, à frente de um grupo armado prendeu os enviados do governo antes de chegarem ao seu destino, e que ao tomarem conhecimento dos acontecimentos.
De imediato marchou para a vila, onde se juntou ao Vigário João Barbosa Cordeiro e convocou a população para instalarem um governo formado pelo Vigário João Barbosa Cordeiro, o Tenente-coronel Leandro Francisco de Bessa, o Sargento-mor José Vieira de Barros, o Capitão Manuel Joaquim Palácio e do Tenente Felipe Bandeira de Moura.
Que marcharam junto à forças comandadas por Miguel César emissário dos rebeldes de Pernambuco contra as vilas onde se tivessem levantado as reais bandeiras e depois se encaminharam à capitania do Ceará, e nos primeiros dias de Maio, o governo interino da capitania do Rio Grande do Norte, ao tomar conhecimento do levante realizado por David Leopoldo na vila de Portalegre, imediatamente ordenou que marchasse da vila da Princesa um corpo de infantes para prender os membros do governo revolucionário e seus promotores, com exceção do Padre Gonçalo Borges de Andrade que fugira junto com David Leopoldo. E durante quatro anos, os réus pronunciados, permaneceram nos cárceres da Bahia, somente em 1821, logo após o estabelecimento da junta governativa, organizada em conseqüência da revolução portuguesa do ano anterior, e que após tomarem conhecimento do processo e das graves irregularidade nele contido, de imediato mandaram anular o processo e fizeram expedir os mandados de soltura dos presos. Assim desta maneira encerrou-se o episódio revolucionário de 1817 na capitania do Rio Grande do Norte, cuja figura máxima foi André de Albuquerque, que encarnou a república nos dias de triunfo e, aureolado pelo martírio que com ela sucumbiu, e dele não se registra lances de heroísmo e de intensidade dramática, mas, tão certo é que a violência não convence e que as idéias não morrem, que foi justamente em seguida ao seu esmagamento que se começaram a definir na capitania as correntes políticas que mais tarde, depois da independência, teriam perturbado por tanto tempo a vida da província.
Os processos adotados pelos portugueses na colonização e governo do Brasil nunca foram os mais próprios para ligar a metrópole e a colônia por uma larga corrente de simpatia e solidariedade, pois os capitães-mores em vez de procurarem atenuar e desvanecer habilmente as prevenções existentes desde a época da conquista, pelo contrario impunham-se mais pela violência e pelo arbítrio do que pela docilidade e brandura e as normas de moderação e justiça para a união necessária entre os dois povos, que deste modo se anulava antes as injustiças e desarrazoadas preferências dadas aos europeus, pois os brasileiros não passavam de mero instrumentos dos dominadores que se fixavam e desbravavam o solo exercendo as maiores extorsões e depauperando gananciosamente as populações rurais, criando com isto uma grande rivalidade que normalmente se degeneravam em lutas sanguinolentas.
E no momento em que Napoleão, dominou a França e avassalando toda a Europa com o fulgor de sua vitória. Acabou obrigando com que Dom João VI emigrasse para o Brasil em busca da salvação de sua coroa e de sua dinastia, fato este que mais tarde trouxe o declínio do poderio da metrópole, e que seria o ponto de partida para a emancipação política, cujas primeiras tentativas foram afogadas em sangue. Com a transferência da sede do governo para o Rio de Janeiro, o rei Dom João VI em 28 de Janeiro de 1808 ainda no caminho para o Brasil decretou interinamente e provisoriamente a abertura dos portos ao comércio das nações amigas, ao atender as exigências do governo inglês, e a este primeiro arrebol do lumiar da liberdade, outros atos de importância capital se seguiram para o Brasil, e com a ausência prolongada do rei nas cortes de Lisboa e na decorrência das revoluções que se alastravam por toda a Europa, desde o fim do século XVIII, acentuara a decadência de Portugal, onde se generalizava a aspiração por um outro regime mais compatível com a liberdade civil e política do povo, e devido ao movimento revolucionário do Porto em 24 de Agosto de 1820 onde o ideal de uma nova formula constitucional e a explosão de descontentamento do povo para um perfeito equilíbrio e a mais concreta harmonia dos direitos do soberano e de seus súbitos, acabou trazendo uma grave perturbação política para a metrópole em que acarretou o retorno de Dom João VI para Portugal e subseqüentemente a independência do Brasil com a emancipação completa da colônia com o governo de Dom Pedro I, que teve o seu inicio cheio de embaraços e dificuldades de todas as ordens.
E com a elevação das capitanias em províncias na conformidade do sistema espanhol, adotado pelo governo provincial de Portugal que desconheciam a autoridade de Dom Pedro I e por conta disto restringiram sensivelmente os poderes de que se achava investido, e como exemplo temos o fato do comandante da divisão portuguesa do Rio de Janeiro Jorge Avilez que a frente de uma guarnição militar promoveu uma manifestação armada, onde obrigou que Dom Pedro I jurasse as bases da constituição portuguesa antes de ser recebida a noticia oficial de Lisboa e que na mesma ocasião impôs ao regente a demissão do Conde dos Arcos e a eleição de uma junta que, com ele governasse o Rio de Janeiro, e para Dom Pedro I que tinha a insofrida paixão do poder, a demonstração de força imposta por Avilez tinha sido deprimente e agressiva, e para o fato Dom Pedro I não ocultou a sua mágoa e por conta disto, lançou-se abertamente nos braços dos partidos brasileiros imediatamente, pois a partir de 24 de Abril declarou todos os governos provinciais independentes do Rio de Janeiro, aprovou a desobediência à junta da Bahia, suprimiu os tribunais do Rio de Janeiro, e com o recebimento do decreto que ordenava o seu regresso a corte de Lisboa e que observasse as leis de Lisboa.
Fez transbordar em ímpeto irreprimível o descontentamento de Dom Pedro I que não hesitou e resolveu permanecer no Brasil, quando o dia do Fico de nove de Janeiro ficou simbolizado como o marco do rompimento deste com a metrópole e o inicio do movimento separatista.
Jorge Avilez em um movimento armado tentou esmagar o partido dos brasileiros quando tomou posição para tal ao ocupar o morro do Castelo, para onde Dom Pedro I a frente da resistência marchou e fez com que Avilez capitulasse e embarcasse para Lisboa em 15 de Fevereiro. E logo o fato imediatamente Dom Pedro I demitiu o seu ministério e nomeou um outro do qual José Bonifácio ocupou a pasta dos estrangeiros, e ao convocar o conselho de procuradores gerais de províncias, ordenou que nenhuma lei das cortes de Lisboa fossem obedecidas sem o seu consentimento e, proibiu o desembarque de qualquer tropa portuguesa no Brasil e no decorrer do tempo Dom Pedro I em sete de Setembro declarou a independência do Brasil, como comprovação de um fato, e a afirmação diante de outras nacionalidade, de que a obra da emancipação, há muito feita no espírito e no coração dos brasileiros estava concluída.
Após a contra-revolução de 1817, José Inácio Borges pessoalmente não tomou qualquer iniciativa de perseguição ou de vinganças, apenas se limitou a cumprir as ordens que recebia, em que muitas das vezes suavizava quanto possível a ação de sua autoridade, e devido ao seu procedimento a calma e a ordem voltou a reinar na capitania do Rio Grande do Norte, que com o fato se libertou da subordinação de Pernambuco, e juridicamente separada da Paraíba, para se constituir em uma comarca a parte pelo alvará de 18 de Março de 1818 e com o decorrer do tempo começaram a se manifestar as primeiras divergências entre os partidários da independência e os adeptos da política recolonizadora de Portugal, divergências estas que alimentadas pelos ódios das facções que produziram estéreis agitações e lamentáveis anarquia, e com a revolução iniciada no Porto e vencedora em Portugal com uma nova constituição que se ramificou com vários pontos do Brasil e que foi jurada em todas as província e, que no Rio Grande do Norte foi jurada perante a câmara municipal na presença do clero, da nobreza, do povo e do Governador José Inácio Borges que nesta época já era franco partidário da causa da independência, e se mantinha incompatibilizado com os recolonizadores que tinham no Ouvidor da Câmara José de Brito Lima o seu guia e inspirador, que pelas suas ações tendia para um congraçamento geral e uma preparação na província para uma remodelação política que no Brasil vinha sendo arrastado, como demonstrou na eleição da junta que o substituiu no governo, a qual foi composta em sua maioria pelos velhos e bons patriotas que, nos cárceres da Bahia, haviam sofrido inúmeros tormentos pelas suas co-participações no malogrado movimento de 1817, e que teve como presidente o Coronel Joaquim José do Rego Barros para o qual José Inácio Borges passou o governo da província.
E devido ao ódio e a rivalidade gerada pela luta em que havia empenhado com o ouvidor, que munido de provas esmagadoras de seus abusos e prevaricações, procurava comprometer José Inácio Borges perante as autoridades superiores do Rio de Janeiro, a junta foi empossada em três de Dezembro de 1821 e administrou por pouco mais de dois meses e que politicamente teve uma vida agitadíssima, pois em menos de um mês depois de instalada o povo reagiu contra ela por atos e fatos provocado por parte do ouvidor que obteve o apoio da força armada, por intermédio do batalhão de linha sob o comando de Antônio Germano Cavalcanti que em sete de Fevereiro de 1822 antes a ameaça de sua intervenção, obrigou ao senado da câmara a eleger um governo inteiramente dedicado aos elementos que lhe eram contrários sob o pretexto do fato de que a junta não ter sido eleita de acordo com as disposições do decreto expedido pelas cortes constituintes de 29 de Setembro de 1821 e sim de acordo com o expedido especialmente para Pernambuco, e por este motivo em quatro de Fevereiro, diversos cidadões dirigiram uma representação ao presidente da câmara, para realização de novas eleições dos membros da junta do governo, e como ela não produziu os efeitos desejados em virtude da energia como agiu o governo para o caso, os signatários imediatamente se dirigiram ao comando do batalhão de linha solicitando o seu apoio para a organização imediata de um novo governo temporário em virtude do despotismo praticado pelo governo e pela irregularidade com que fora constituída a junta. Antônio Germano Cavalcanti comandante do batalhão de linha, de imediato deu o seu assentimento ao plano subversivo dos sediciosos, e dirigiu um requerimento aos membros da câmara declarando que a tropa havia concorrido espontaneamente para a ação heróica e pacificadora, a fim de sustentar a causa constitucional e os direitos da nação, e por conta disto o senado da câmara ante a ameaça de uma intervenção violenta, tomou a resolução de cumprir o requerido, quando se dirigiu aos membros da junta, dizendo que se viu atacado pelo povo da cidade, ao requererem um governo temporário para a província na forma como determinava o decreto de 29 de Setembro de 1821, e para preservar a paz e sem força para resistir, imediatamente decretou que os eleitores escolhessem os novos membros do governo temporário, que foi constituído em sete de Fevereiro de 1822 com Francisco Xavier Garcia no cargo de presidente.
E no dia 8 de Fevereiro, o senado da câmara comunicou a todas as câmaras da províncias a instalação do governo temporário e marcou a data de 18 de Março para a eleição de um novo governo que o deveria substituir
Em resposta ao comunicado por ela enviado, a câmara da vila da Princesa se colocou contraria ao governo ora instalado, e que não reconhecia a sua legitimidade. O senado da câmara de Natal, julgando ofensiva a resposta da vila da Princesa, com a qual foram solidária as câmaras de Portalegre e Príncipe, de imediato oficializou ao governo temporário e a Dom João VI e representou contra ela, mas essa representação não teve deferimento, e por conta disto o governo temporário que sucedeu aquela junta foi obrigado a procurar a adesão das câmaras insubmissas, através de acordos e concessões, e o governo temporário que esteve à frente da administração no período de sete de Fevereiro a 18 de Março de 1822, não praticou qualquer ato que merecesse uma menção especial, pois apenas se limitou a dar providências sobre o processo que o governo havia instaurado contra o Ouvidor Mariano José de Brito Lima e o Capitão Joaquim Torquato Raposo da Câmara, que culminou com os acusados sendo soltos e reintegrados aos seus cargo que ocupavam, e de acordo com a convocação do senado da câmara de Natal, em 18 de Março se reuniram os eleitores da paróquia e elegeram a nova junta da qual o Padre Manuel Pinto de Castro figurou como presidente, e que foram empossados no mesmo dia, e como primeiro ato desta junta que objetivava o restabelecimento da harmonia, João Marques de Carvalho foi comissionado para ir as vilas do Príncipe, Princesa e Portalegre a fim de conciliar as divergências que haviam surgido quando da aclamação do governo temporário no exato momento em que por todo o país os países se congregavam em torno dos que se conservavam fiéis às cortes portuguesas e dos que abraçavam a causa da independência. Em seis de Julho a câmara de Natal reconheceu a regência de Dom Pedro I com a delegação do poder executivo do Brasil sem nenhuma restrição e do mesmo modo que Dom João VI o exercia em Portugal, e no dia 13 comunicaram aos chefes dos regimentos de milícias e os capitães-mores de ordenanças, para que perante as câmaras das vilas prestassem juramento igual ao que fora prestado em Natal, e dali em diante a ação da junta subordinou-se ao pensamento do governo de Dom Pedro I, cujas ordens começaram a ser executada fielmente, mas nem por isto cessaram as lutas políticas, e naqueles dias de indecisões e de dúvidas, onde o único poder real da província era o batalhão de linha cujo comandante Antônio Germano Cavalcanti fazia e desfazia à sua vontade, e que na ocasião das eleições para eleger o deputado para as cortes gerais do Brasil, e que Antônio Germano demonstrou ser um indivíduo hábil, que sabia manter-se jeitosamente, sem se comprometer de todo em favor de qualquer partido, pois quando lhe foi oferecido o lugar de comandante das armas, ele de imediato recusou, por haver um clima atribulado para boa ordem nas eleições, e no dia 11 de Novembro se realizou a eleição para eleger o deputado para as cortes gerais do Brasil, e perante o colégio eleitoral apareceu um requerimento do povo e outro da tropa da primeira linha para que fossem afastado João Marques Carvalho e Agostinho Leitão de Almeida da junta provisória, e que fosse convocado o senado da câmara para eleger os que deveriam sucede-los, e que pela pluralidade dos votos, foram eleitos o Padre João Francisco Fernandes Pimenta e José Correia de Araújo Furtado, e no dia 2 de Dezembro foi recebido pela câmara do senado de Natal a noticia oficial da aclamação de Dom Pedro I como Imperador do Brasil e no dia 11 o senado da câmara solenizou o acontecimento com uma missa e Te Deum que foi celebrado na matriz, enquanto isto as agitações políticas continuavam a dividir as facções nacionalistas e os racionarios e por causa disto o senado da câmara publicou um proclamação contra o governo de Dom Pedro I, pelo fato de ter recebido um oficio da secretaria de negócios do império prometendo providências para evitar toda e qualquer efusão de sangue na província, e que as mesmas não haviam sido dadas, e em conseqüência disto a junta convencida de que não viriam, estaria praticando todo tipo de violência, assim como a prisão dos Sargentos Manuel Pegado de Albuquerque e José Luís Soares e do Furriel Pedro José da Costa Barros por crimes imaginários e argüidos pelo comandante da armas com o apoio do imperador, a partir desta proclamação a posição de Antônio Germano Cavalcanti começou a decair, fato este que ele mesmo reconheceu, pois logo a seguir solicitou e obteve a sua reforma em 21 de Julho de 1823 no posto de Tenente coronel e pouco meses depois a junta era também obrigada a deixar o poder sem simpatia e sem dedicação, depois de ter ocupado sem cumprir às suas promessas no espaço de tempo entre 18 de Março de 1822 a 24 de Janeiro de 1824, quando foi substituída por Teixeira Barbosa um cidadão sem qualquer descortino administrativo e sem preparo necessário para o alto cargo que ia ocupar e que, apesar de suas boas intenções, acabou sendo nas mãos dos seus conselheiros, um instrumento de vinditas dispensáveis, em vez de ser o restaurador da concórdia, da paz, das agitações aparentemente sufocadas, que sobrevieram logo a seguir nas paixões locais sempre efervescentes e nas repercussões do que ocorria no Rio de Janeiro antes e depois da dissolução da constituinte, Teixeira Barbosa fraco e impotente para dominar a anarquia que alçava o solo do Rio Grande do Norte fazendo perigar em crises de opiniões divergentes, e por conta disto apelou para o concurso de Agostinho Leitão de Almeida, um dos membros da junta deposta em 1822, que ao assumir o exercício de seu cargo, procurou influir para que não agravasse a situação, incorrendo por isto no desagrado dos exaltados que estavam inclinados a acompanhar o movimento de reação em Pernambuco que terminou na Confederação do Equador.Tomas de Araújo Pereira, nomeado presidente da província em 25 de Novembro de 1823, receoso das desordens que lavravam pelo interior, de imediato procurou diversos pretexto para adiar a sua posse, para finalmente em cinco de Maio assumir o governo e como o seu antecessor, que era um simples soldado da segunda companhia do regimento de cavalaria miliciana, que iria lutar com insuperáveis dificuldades, apesar de gozar de uma grande popularidade na zona de Seridó, principalmente em Acari, apesar de tudo, Tomas de Araújo não era o homem indicado para governar a província, pois com sua idade avançada e de sua cegueira e as suas ligações políticas que tinha, fazendo-o partidário intransigente, o que constituía em uma qualidade que o contra indicavam a sua escolha para a função de que fora investido, e menos de três meses depois de empossado, o batalhão de linha na sua presença depões o seu comandante João Marques de Carvalho, a partir deste momento, o contágio revolucionário tornou-se contagiante com sérias perturbações da ordem com puro reflexo das convulsões revolucionarias de Pernambuco, e em oito de Setembro de 1824 Tomas de Araújo, estando sofrendo horrores das anarquias de que estava a província e ameaçado de sua autoridade e esbulhado de seus direitos por aqueles que deveriam sustentar e fazer respeitar a ordem, acabou renunciando à presidência e retornou para Acari, e no período de sua passagem pelo governo da província do Rio Grande do Norte compreendido entre cinco de Maio a nove de Setembro de 1824, em nada contribuiu para acalmar o estado de inquietações em que vivia a província, onde a força armada superpunha-se a tudo e a todos ao ditarem as leis pelas suas vontades e que as lutas de grupos pelo predomínio de pessoas continuaram a ser por muito tempo, conseqüências inevitáveis da aprendizagem que se fazia do regime constitucional, felizmente vencidos, sem que conseguissem constituir qualquer tipo de governo, com os entusiastas, teóricos e idealistas da Confederação do Equador, que viam na quebra da integridade nacional o remédio aos males das tendências separatistas.
Os notáveis acontecimentos que se desdobraram no Brasil desde a independência até ao meado do século XVIII, com exceção do período da regência que foi o ponto culminante da história política durante o império , poucos abalos produziram na província, que quase sempre se conservou alheia às intensas vibrações patrióticas, alimentadas em outros pontos do país pelas ardentes paixões que tumultuavam naquela época. A província do Rio Grande do Norte nos seus primeiros anos era uma província atrasadíssima, fora capitania subalterna até 1817, onde a identidade ou a diversidade de interesses era que ligava ou separava os homens cujas aspirações se limitavam ao predomínio e ao mando nos distritos de sua residência e poucos foram os que tiveram influência generalizada na província até à constituição definitiva dos partidos, a política se fazia em torno dos presidentes, o qual ninguém lhe recusava em apoiar, desde que suas preferências não fossem partilhadas pelos adversários e na subordinação humilhante e deprimente nunca pudera desenvolver as suas forças para uma vida de relativa autonomia sob instituições mais livre, que com a falta de resistência aos abusos do poder que burlava por completo todas as garantias constitucional.
No decênio de 1830 a 1840 as mudanças já foram mais sensíveis na capitania, devido a elevação de seus habitantes livres e escravos.
E a riqueza particular que fora reduzida devido ao efeito da seca de 1824 se refez significativamente e foram criado vários municípios e freguesia onde foram inaugurada diversas escolas e organizado alguns serviços e multiplicado os juizados de paz, politicamente também se operaram profunda modificações e com o falecimento de José Paulino de Almeida Albuquerque o Padre Francisco de Brito Guerra assumiu o seu cargo e se filiou à corrente triunfante onde se ligou estritamente ao Padre Diogo Feijó e a Evaristo da
Veiga e se colocou à frente dos moderados para repelir, por igual as tendências exclusivistas dos liberais exaltados e dos reacionários absolutista quando salvou o principio monárquico com o ato adicional identificado com a unidade da pátria. O Padre Francisco de Brito Guerra foi o representante da província mais gabaritado e amparado para intervir, e foi que, quando prestou os seus valiosos serviços de modo benéfico e eficaz durante alguns anos na política e na administração da capitania, e graça à sua iniciativa e que surgiu em Natal no ano de 1832 o primeiro jornal, O Natalense que foi impresso a princípio no Maranhão, Pernambuco e Ceará até o ano de 1837 quando deixou de ser publicado em tipografia para ser impresso em Natal, e no dia 22 de Fevereiro de 1835, de acordo com o ato adicional, os conselhos constituído por eleição e destinado a auxiliar os presidentes, foram substituídos pelas assembléias provinciais, e no Rio Grande do Norte, o Padre Francisco de Brito Guerra que era o visitador geral, nesta época a sua ascendência política tinha grande influência, por isto na primeira assembléia provincial composta, figuraram nove sacerdotes. Porém, pouco depois o seu prestigio começou a declinar pois em 16 de Dezembro de 1836 quando da realização da eleição senatorial para preenchimento da vaga aberta com a morte de Afonso de Albuquerque Maranhão, o Padre Francisco de Brito Guerra obteve apenas seis votos no colégio da capital, este fato demonstra o enfraquecimento do prestigio do Padre Francisco de Brito Cunha, perante a política praticada por Bernardo de Vasconcelos que era uma necessidade imperiosa para fortalecer o principio de autoridade e extinguir os fermentos revolucionários que punha em risco as instituições e dera origem à reação monárquica que obrigara ao Padre Diogo Feijó a renunciar nobremente as suas funções de regente, sendo Francisco de Brito Cunha amigo e correligionário do padre estadista e por isto foi afastado e levado ao ostracismo e ao isolamento na política local, ao assumir a presidência da província o Doutor Manuel Ribeiro da Silva Lisboa em 26 de Agosto de 1837 tomou como primeira medida a hostilização contra o Padre Francisco de Brito Guerra com brutais imposições ao forçar os partidários do ilustre rio grandense com os quais rompera e suspendera a publicação do jornal O Natalense, e durante o seu governo, Doutor Silva Lisboa cognominado Parrudo se tornou celebre pela sua prepotência e libidinagem,
E no dia 11 de Abril de 1838, acabou sendo assassinado na sua choupana no sitio Passagem em Natal, e segundo a tradição o assassinato não se deu por natureza política e sim de ordem pessoal, devido as ofensas recebida pelo Coronel Estevão José Barbosa de Moura as quais foram vingadas pelos seus familiares.
As idéias e tendências dos dois grandes partidos nacionais, os quais Os homens da província se congregavam em dois agrupamentos; os nortistas e sulistas ou saquaremas e luzias os quais correspondiam aos partidos conservador e liberal que começaram a desaparecer em 1853, no inicio do período de política de conciliação, o progresso material da província era quase que nulo, em conseqüência da baixa receita arrecadada na época a qual não permitia a execução de melhoramentos de grande vultos, por maior que fosse a capacidade administrativa dos presidentes, a após o grande período de seca, que durante a qual as devastações foram cruéis e que por conta disto experimentou profundas modificações econômicas, quando regiões quase que exclusivamente criadora que eram, passaram a ser também zona agrícola por excelência com o açúcar e o algodão avultando-se entre outros gêneros de sua produção agrícolas e industrial, trazendo com isto um aumento significativo em seu comércio. Nesta época as comarcas eram em número de três, que compreendiam a de Natal com o termo jurídico de capital, e as de Açu e Maioridade que eram sede de municípios e não se constituíam de termo jurídicos, os municípios em número de treze que compreendiam as de São Gonçalo, Extremoz, São José do Mipibu, Goianinha, Touros, Príncipe, Acari, Imperatriz, Portalegre, Apodi, Vila Flor, Santana do Matos, Macau e as povoações em número de seis eram as de Acrês, Papari, Pau de Ferro, Santa Cruz, Campo Grande e Mossoró, nesta época a província do Rio Grande do Norte possuía uma força policial de pouco mais de nove mil; homens composto entre a guarda nacional e um destacamento de forças de linha na capital, onde a instrução fizera algum progresso aonde o número de escola chegava a vinte e nove escolas publica com uma freqüência que regulava em cerca de oitocentos alunos, ao lado dos professores nomeados pelo governo, a instrução secundaria era ministrada no Ateneu que foi inaugurado em Dezembro de 1836 pelo Presidente Basílio Quaresma Torreão, e que constava com as cadeiras de latim, francês, geometria, história e filosofia, e a vida social aos pouco ia se modificando lentamente na capital da província, porém no interior o povo ainda não confiava nas ações das autoridades o que fazia aumentar a percentagem de crimes. No ano de 1850, quando da morte do Presidente da Província José Pereira de Araújo Neves, houve quem afirmasse que o seu falecimento, era resultado de um crime por envenenamento, porém desmentida e atestada pelas declarações de um médico da província, que a sua morte havia sido ocasionada por violento ataque de congestão cerebral, e ao assumir a administração da província João Carlos Wanderley que ocupava a vice-presidência em exercício e deputado à assembléia geral e no momento era o político de maior prestígio na província, e em conseqüência o alvo dos mais violentos ataques e agressões, ao abrir a sessão da assembléia provincial em três de Maio de 1850 contestou as insinuações a ele atribuída pela morte e João Pereira de Araújo Neves, e devido a sua intolerância partidária, em seis de Setembro de 1853 quando da divisão dos partidos no gabinete do Marquês de Paraná, criador da política de conciliação que interpôs a decadência dos partidos velhos e o aparecimento dos partidos novos que a inapreciável vantagem de romper a continuidade da cadeia de tradição, e de favorecer pela sua calma e por seu silêncio o trabalho interior de reorganização administrativa e industrial do país, João Carlos Wanderley foi vencido e nunca mais voltou a ocupar as posições que ocupava. No Rio Grande do Norte ela foi na realidade uma época de renascimento, de expansão, de recomeço, em que se renovou o antigo sistema político decrépito, em que se criou o aparelhamento moderno do governo que se dilatou extensivamente não só para a classe política mas para todas as classes sociais, e no ano de 1862 os conservadores genuínos se extremaram logo após o ministério do Visconde Itaboraí, e ao se juntarem com os moderados e os liberais deu o surgimento do partido progressista, que com isto amorteceu as lutas entre nortistas e sulista porém com a preponderância dos conservadores. E o ultimo gabinete de Zacarias de Góis teve uma duração precária e inglória, pelo fato de que Duque de Caxias à frente do exército brasileiro em operações na guerra do Paraguai impôs a sua retirada e o Imperador Dom Pedro I por um golpe de poder pessoal, convocou os conservadores e ordenou que provocasse a queda dos seus adversários que possuíam a maioria na câmara dos deputados, e para isto foi feita a nomeação do senador que deveria substituir Manuel de Assis Mascarenhas que havia falecido em 30 de Janeiro de 1867, o Imperador Dom Pedro I declarou o seu propósito de escolher Francisco de Sales Torres Homens, e por conta desta escolha Zacarias de Góis fez ver que a escolha não era acertada, pois o seu candidato que tinha a sua simpatia era Amaro Bezerra, e com a insistência do monarca, o ministro Zacarias de Góis acabou se demitindo do ministério, e na ocasião os dois grandes partidos nacionais se se reconstituíram com os governistas formando o conservador e os progressistas e um pequeno grupo de desinentes formaram partido liberal após aceitarem o programa republicano e pelo decreto de 18 de Julho a câmara foi dissolvida e Amaro Bezerra que fizera parte dela e sua nomeação para o senado servira de causa ocasional à solução da crise política, voltou à província do Rio Grande do Norte dizendo-se encarregado pelo centro liberal da corte para promover a instalação e organização do diretório do partido local, e por conta disto em 19 de Novembro de 1868, foi eleito o primeiro diretório com o Doutor Amaro Bezerra Cavalcante como presidente e para defenderem as suas idéias acabaram criando o jornal O Liberal do Norte que foi redigido por Amaro de Bezerra, Hermógenes Joaquim Barbosa Tinoco, Luís Rodrigues de Albuquerque e Jefferson Mirabean de Azevedo Soares e no ano de 1872 Moreira Brandão retirou-se para Pernambuco e o jornal passou-se a chamar-se simplesmente O Liberal, que funcionou como órgão do partido até o ano de 1883, e do lado oposto era o jornal O Conservador, fundado em 1869 e publicado até 1881 que sustentou como órgão de seu partido a orientação política dominante que tinha em Luís Gonzaga de Brito Guerra como primeiro vice-presidente da província e que havia inaugurado a situação conservadora na província, que tinha no Coronel Bonifácio Francisco Pinheiro da Câmara como seu chefe principal e que nem todos viam com bons olhos a sua preeminência e por causa disto, que na administração de Henrique Pereira de Lucena no período de 1872 a 1873 e que pôde sobrepor-se aos seus correligionários que abriram uma cisão entre eles e perturbaram a harmonia no seio do partido, porém fora do terreno da política a vida da província seguia o seu curso em perfeita calma e harmonia, afora alguns pequenos conflitos comuns durante as disputas dos pleitos eleitorais, como o que ocorreu na reação do povo, contra o novo sistema de pesos e medidas que foi adotado e que ficou conhecido como o quebra quilos, e o acontecimento mais grave que ocorreu na capitania do Rio Grande do Norte nesta época, foi as depredações ocorridas por um grupo de cangaceiros que eram chefiados por Jesuíno Brilhante.
Na província foram executados alguns melhoramentos, como a construção da estrada de ferro que ligava Natal a Nova Cruz com uma extensão de quarenta e um quilômetros que foi entregue ao tráfego em 28 de Setembro de 1881e nesta época um fato ameaçou a organização dos trabalhos no Rio Grande do Norte, que foi a grande necessidade que o exército brasileiro tinha para suprir as tropas que combatiam na guerra do Paraguai, e em virtude das medidas adotadas para preenchimento dos quadros do exército brasileiro, de imediato espalhou um pânico geral e a lavoura da província foi quase que abandonada, e para isto vieram os apelos vibrantes ao patriotismo da população para que ocorresse às bandeiras em defesa da pátria, e para secundar esse apelo Amaro Bezerra, ofereceu os seus serviços ao Presidente do Conselho Luís Barbosa da Silva e exortou ao povo norte rio grandense para se apresentar em defesa da pátria, o oferecimento de Amaro Bezerra que era deputado, não foi aceito pelo governo imperial, mas o seu exemplo estimulou a coragem e as energias cívicas do povo do Rio Grande do Norte, que em muito contribuiu para que não faltassem numerosos contingentes de norte rio grandense nas fileiras dos bravos que desafrontaram a honra brasileira ultrajada no estrangeiro.
No ano de 1878, os liberais subiram ao poder com o ministério de Sinimbu, que encontrou a província muito castigada pelas fatalidades climáticas e neste mesmo ano João Wanderley que se encontrava recolhido desde a conciliação de 1853, em sua terra natal redigindo o jornal Correio de Açu com tendência francamente liberal e que ao retornar a capital da província com sua tipografia, de imediato iniciou a publicação do jornal Correio do Natal em oposição aos seus correligionários dos quais havia se afastado e no ano de 1885 o seu jornal tornou-se órgão oficial dos conservadores até à extinção da monarquia e no dia 20 de Agosto de 1885 os conservadores assumiram o governo da província nos lugares até então ocupados pelos liberais que se apresentaram aparentemente coesos, porém que trabalhavam com profundas divergências em seus meios e que sempre eram conjuradas por José Bernardo de Melo, e quanto ao conservadores as coisas não corriam de modo diferente, pois cindiam as mais serias divergências de ordem pessoais entre os seus componentes, pois com o falecimento do Doutor Francisco Gomes da Silva e do Coronel Bonifácio Câmara, políticos de grande relevo na província com isto o centro de convergência da política se reverteram para os Deputados Doutor Tarquínio de Souza e do Padre João Manuel, que nem sempre se entendiam a contendo e que com as suas inclinações acabaram refletindo na província.
E o maior sucesso ocorrido no ultimo governo conservador foi o movimento abolicionista, feito fora e acima dos partidos, pelos ilustres cidadões norte rio grandense que se reuniram por iniciativa de Pedro Velho em um de Janeiro de 1888 no Teatro Santa Cruz localizado na cidade de Natal para tal finalidade e que na oportunidade fundaram a Libertadora Norte Rio Grandense que teve no Padre João Maria Cavalcanti de Brito como seu presidente, e era composta de duas comissões executivas que se localizaram na Cidade Alta e na Ribeira e que foram compostas por doze elementos com o objetivo de promover a extinção da escravidão na província, e para promover o movimento, foi criado o Boletim da Sociedade Libertadora Norte Rio Grandense que em seu primeiro número divulgou um manifesto dirigido a todos os municípios da província para que todos se empenhassem num compromisso solene e irrevogável para extinção da escravidão que não era somente uma aspiração e sim uma necessidade e uma exigência do espírito publico, o qual comprimia dolorosamente a alma e degredava e envergonhava o Rio Grande do Norte. O movimento foi rápido e fulminante com significativos apoio da imprensa política, através dos jornais A Liberdade de tendência liberal e dos jornais simpatizante dos conservadores que eram o Correio de Natal e a Gazeta de Natal que aplaudiram os redatores do Boletim da Sociedade Libertadora Norte Rio Grandense pelo movimento abolicionista e pela ação dos abolicionistas, e que puderam dizer com grande orgulho que ao ser promulgada.
A lei Áurea de 13 de Maio de 1888 pela Princesa Isabel, doze municípios, três cidades, nove vilas e vinte e duas povoações se encontravam livres e que pouco teve para fazer a grande lei que aboliu a escravidão no império.
O movimento abolicionista, promoveu em todo o país um grande efeito social e econômico e uma gigantesca repercussão de ordem política com a desagregação dos partidos dos conservadores e dos liberais, que no Rio Grande do Norte tinha entre os conservadores Tarquínio de Souza com um espírito ponderado, culto e que mantinha uma grande aproximação com os correligionários, e João Manuel com um temperamento impetuoso, lutador desassombrado com tendência para o liberalismo radical que combatia a realeza na câmara dos deputados no Rio de Janeiro, e por ocasião da organização do gabinete e ao programa de governo elaborado pelo Visconde de Ouro Preto em sete de Junho de 1889 que resultou na dissolução da câmara dos deputados no Rio de Janeiro, Tarquínio de Souza retirou-se para Pernambuco e João Manuel desligou-se inteiramente de seus partidários conservadores da província, onde nada se fazia sem o consentimento do liberal Amaro Bezerra que com isto cometeu gravíssimos erros em seu governo, que culminou com sua derrota no pleito realizado em 31 de Agosto.
No Rio Grande do Norte a alma do movimento republicano foi o Doutor Pedro Velho, que após concluir o seu curso de medicina no Rio de Janeiro em 1881, retornou ao Rio Grande do Norte e se dedicou à sua clinica e ao magistério e inteiramente alheio às competições dos partidos, porém em 27 de Janeiro de 1889 ao comparecer na residência de João Avelino Pereira de Vasconcelos no bairro da Ribeira, aonde se encontrava presente um grande número de correligionários que haviam aderido ao movimento para fundação do partido republicano e no exato momento em que o Doutor João de Albuquerque Maranhão que havia sido convidado para assumir a presidência da assembléia ofereceu a palavra ao Doutor Pedro Velho para expor aos presentes os fins da reunião e submeter à aprovação dos cidadões presente as bases da lei orgânica do partido, as quais foram imediatamente aceitas, e em seguida procedeu-se a eleição para constituírem uma comissão executiva provisória até que congresso do partido nomeasse um diretório anual, e uma outra que tinha por fim a constituição da diretoria do centro republicano da capital, e ao termino da reunião telegrafaram ao presidente do conselho federal no Rio de Janeiro sobre o resultado da reunião. A comissão executiva eleita em 27 de Janeiro, deliberou o Doutor Pedro Velho como presidente e em um de Julho publicou o primeiro número do Jornal Da Republica que tinha em Pedro Velho como seu redator chefe, que ofereceu um combate sem trégua à monarquia e aos seus servidores, os quais surtiram um grande efeito para o movimento dos republicanos, que com isto acabaram indicando Pedro Velho e José Leão como candidatos do partidos para à última eleição geral que se realizou na vigência do segundo reinado, sem alimentar a pretensão de conseguir o triunfo nas urnas, pois apenas queriam provar que existiam. No resultado apurado, os candidatos republicanos apenas conseguiram algumas dezenas de votos sufragados, porém atingiram o objetivo colimado, pois demonstraram que na província havia um partido que, sem pretender o poder pelo poder, e que se batia ostensivamente por um ideal superior de justiça e liberdade.
E na tarde do dia 15 de Novembro de 1889 a noticia da proclamação da republica chegou a Natal, e por conta disto Pedro Velho apressou-se em transmiti-la ao povo através do jornal Da Republica.
E no dia 17 em reunião realizada no palácio da presidência, os cidadões da província do Rio Grande do Norte de acordo com o movimento republicano do país, representado pelo governo provisório estabelecido no Rio de Janeiro, resolveram proclamar a Republica dos Estados Unidos do Brasil na província que na oportunidade se tornava Estado do Rio Grande do Norte e o Doutor Pedro Velho de Albuquerque Maranhão por aclamação foi nomeado como presidente do novo estado e chefe do poder executivo. Ao se estabelecer o regime republicano no Rio Grande do Norte os antigos partidos foram dissolvidos, e em torno de Pedro Velho se convergiram as maiores influências políticas da ex províncias, e dele só ficaram afastados os elementos que tinham acompanhado Amaro de Bezerra e se incompatibilizado com os representantes em evidência na nova situação, os quais vieram a se constituir na oposição e que se dividiram em dois grupos: sendo que o partido católico combateu o governo central, que decretara a separação da igreja e do estado através do jornal A Pátria. Pedro Velho soube manter firme a coesas as forças de que dispunha, e por conta disto se deu a vitória de sua chapa nas eleições da constituinte, e a vida política do estado se manteve sem grandes agitações até à eleição do primeiro presidente em Fevereiro de 1891 quando se dividiram os seus representantes na constituinte, com Pedro Velho e José Bernardo votando em Prudente de Morais e os outros senadores e deputados no Marechal Deodoro, e como conseqüência dos fatos, veio a mudança de orientação da política estadual com a nomeação do Doutor Francisco Amintas da Costa Barbos para o cargo de governador no lugar ocupado pelo Doutor Manuel do Nascimento Castro e Silva que em três de Março assumiu a administração com grande apoio dos deputados Antônio Garcia e Miguel de Castro, aos quais cabiam as maiores responsabilidade na nova situação reinante, e por conta disto os Senadores Amaro Cavalcante, Oliveira Galvão e o Deputado Almino Afonso abstiveram-se de intervir em assuntos de ordem local, enquanto isto Pedro Velho e José Bernardo enveredaram nobremente pelo caminho do ostracismo.
Em decorrência destes acontecimentos, a efervescência política no Rio Grande do Norte foi extraordinária, e que acabou resultando em uma profunda agitação partidária, que se generalizou por todo o estado do Rio Grande do Norte, onde a oposição em considerável maioria e confiante na vitória do congresso federal sob o governo da união criaram os mais sérios embaraços à administração local, que apesar de tudo, conseguiram através de seus poderes ditatoriais em 10 de Maio de 1891 que fossem eleitos os elementos do congresso constituinte que em 10 de Junho elegeram como presidente o Bacharel Miguel Joaquim de Almeida Castro e o Bacharel José Inácio Fernandes Barbos como vice-presidente e o Coronel Francisco Gurgel de Oliveira como segundo vice-presidente que votaram além de outras leis, a primeira constituição do Estado do Rio Grande do Norte, que foi promulgada em 21 de Julho de 1891, e em decorrência das lutas entre os poderes executivos e legislativo federal, que culminou com a dissolução do congresso nacional em três de Novembro de 1891, Pedro Velho que pertencia à oposição radical se encontrava em Pernambuco de imediato seguiu para Natal logo que se deu a revolução de 23 de Novembro,
E consequentemente após a renúncia do Marechal Deodoro e a posse Marechal Floriano Peixoto preparou e levou a efeito em 28 de Novembro o movimento de deposição do Doutor Miguel Castro ao prende-lo e o embarcar para o Ceará.
E de imediato foi aclamado pelo povo, pelo exército e pelos representantes da armada uma junta governativa composta do Coronel Francisco de Lima e Silva como presidente e dos Doutores Manuel do Nascimento Castro e Silva e Joaquim Ferreira Chaves Filho, e no dia 31 de Janeiro de 1892 foi realizada a eleição dos novos membros do congresso que no decorrer dos dias, em 20 de Janeiro de 1892 o congresso reunido e investido de poderes constituintes, promulgou a sete de Abril a nova constituição do Estado do Rio Grande do Norte e votou as diversas leis complementares. No dia 22 de Fevereiro marcou o termino do governo da junta e na oportunidade o Doutor Jerônimo Américo Raposo da Câmara assumiu a administração e o Doutor Pedro Velho foi eleito para o cargo de governador do qual exerceu com um brilho inexcedível as suas excepcionais qualidades de administrador e de chefe de partido até a sua morte pranteada como o maior e o mais benemérito dos filhos do Rio Grande do Norte
Devido à sua posição geográfica estratégica (é a costa mais próxima da Europa, pelo roteiro da África), o Rio Grande do Norte foi, por várias vezes, escolhido como local de experiências pioneiras da aviação transatlântica, ou base para abastecimento e apoio logístico a operações militares. Durante a II Guerra Mundial os norte-americanos construíram no tabuleiro do Parnamirim, uma grande base aérea, criando a "Ponte do Atlântico para a África", de fundamental importância para a dominação do poderio nazista e a vitória dos aliados na guerra. Nesse período, a cidade de Natal adquiriu traços de metrópole cosmopolita, onde conviviam estrangeiros de várias origens. Durante o período em que as jazidas de tungstênio abasteciam os arsenais de guerra, a pobreza da região era atenuada.
Danças Folclóricas e Autos Populares: a manifestação cultural do Estado
O Folclore do Rio Grande do Norte é bastante rico em Autos e Danças Populares. Manifestações como o Côco, o bumba-meu-boi, a Embolada, os Presépios e os Fandangos são alguns dos formadores da identidade cultural do Estado.
Muito comuns por todos os municípios nos séculos XIX e XX, atualmente estas formas de expressão estão cada vez mais difíceis de encontrar, reservando-se a espetáculos folclóricos e eventos comemorativos. Muito dessa extinção deve-se ao "progresso" e ao advento das grandes cidades. A televisão e o cinema têm ocupado cada vez mais espaço na formação cultural da população, e as danças típicas perdem espaço para as mais modernas.
As danças populares podem ser classificadas em dois tipos: o mais importante é o dos Autos Populares, uma espécie de ópera, onde há uma dramatização específica para cada um dos Autos; e também as Danças Populares puras, sem qualquer dramatização envolvida, onde o que as diferencia é o ritmo envolvido.
Os maiores exemplos de Autos encontrados no Rio Grande do Norte são os Fandangos, Cheganças, e Bois. Nos dois primeiros, o Auto tem inspiração marítima e é encenado com os participantes vestidos de marinheiros, sendo que no fandango são celebradas as conquistas marítimas, e na Chegança há a encenação de uma luta entre cristãos e mouros. Já o Boi (há vários tipos de Boi: Bumba-meu-boi, Boi-de-Reis, Boi-calemba) é uma das principais e mais famosas festas folclóricas populares do Brasil, sendo o foco da dramatização a história da morte e ressurreição de um boi, o personagem principal da trama.
Já as Danças Folclóricas mais famosas no Estado são os Cocos, Bambelôs, Emboladas, Bandeirinhas e Capelinhas-de-melão. Estas duas últimas são características das Festividades Juninas. Os Cocos e Bambelôs são danças típicas de roda. A grande diferença dos Autos é que não há caracterização e todos podem participar. Hoje ainda há apresentações de artistas folclóricos em festivais e eventos culturais em Natal e em cidades do interior do Estado.
Impossível falar do Folclore no Rio Grande do Norte sem falar de Câmara Cascudo, o maior folclorista do Brasil. O escritor potiguar, nascido em 30 de Dezembro de 1898 registrou a história das Danças Populares no RN desde a primeira apresentação oficial de uma dança folclórica em Natal, em 1812. Dentre suas obras, está o famoso Dicionário do Folclore Brasileiro, a maior obra sobre os personagens do imaginário popular brasileiro.
Desde a origem do seu nome, o forró já gera controvérsia: alguns creditam o nome à um anglicismo proveniente da pronúncia do termo "for all", que em inglês significa "para todos", e é como eram chamados os bailes promovidos aos engenheiros ingleses e aos soldados americanos nos fins de semana, no início do século, e que tinham entrada liberada for all, principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Outra versão, mais verossímil, apoiada por historiadores como Câmara Cascudo, é a de que Forró é derivado do termo africano "forrobodó", que significa "divertimento pagodeiro", "festa", "bagunça". Era uma festa que foi transformada em gênero musical, tal seu fascínio sobre as pessoas.
O que podemos afirmar é que este ritmo que nasceu no nordeste brasileiro, originado de influências africanas e européias, encanta pessoas de todas as idades e classes sociais, não só no Brasil, mas em todos os lugares do mundo.
No início, o Forró sofreu com o preconceito, por se tratar de um gênero de massas. Com o tempo, foi conquistando o público e saindo das periferias das cidades nordestinas e estabelecendo-se como ritmo predominante também nos bairros nobres das capitais.
São muitas as variações derivadas do forró original. A princípio, conta-se que nasceu o baião. A falta de registros impede uma cronologia mais acertada, mas acredita-se que tenha sido em meados do século XIX.
Dele surgiram os ritmos distintos entre si: o xote, o xaxado, o coco, o vanerão e as quadrilhas juninas. Hoje em dia, é fácil identificar outras variações, tais como o forró malícia (com suas letras picantes ou com duplo sentido), o lambaforró e o oxentemusic. Estas últimas surgiram com influência da Lambada, e incorporaram ao forró um pouco do ritmo e passos da dança. Também elementos como guitarra elétrica, bateria e teclados (no lugar da sanfona) fazem parte destas vertentes mais modernas.É uma festa originalmente da periferia que tomou conta de todo o Brasil e certamente possui um estilo adequado ao gosto de cada público e região do país. Nomes consagrados como Luiz Gonzaga, Genival Lacerda, Dominguinhos, Chiquinho do Acordeom, Jackson do Pandeiro, e Sivuca convivem em harmonia com os atuais Calcinha Preta, Mastruz com Leite, Frank Aguiar e Falamansa. Cada público encontra o forró que preferir, do baião e pé-de-serra ao oxentemusic.
Por causa desta influência indígena, os artesãos do Rio Grande do Norte dominam como poucos a arte de tecer redes de dormir, inclusive exportando para outros estados e até países. E ainda existem por lá pessoas que são exímias na arte de consertar punhos de rede, de bordá-las de acordo com o gosto do freguês, algo não muito comum em outros estados nordestinos, que também têm no tear uma das fontes de artesanato. A renda renascença no estilo belga é encontrada no estado, diferente de outros tipos de rendas e bordados oriundos do Nordeste. As tramas em palha, outra influência indígena, mostra-se de forma delicada.
A LENDA DO LABATUT
Como em qualquer lugar do mundo, o Rio Grande do Norte também tem suas lendas. Algumas são compartilhadas com outros estados nordestinos e outras pertencem apenas a um determinado lugar. Uma das lendas próprias é a do Labatut, um monstro que veio do fim do mundo e viveria na região do Apodi, na fronteira com o Ceará.
Teria forma humana, mas com pés redondos, mãos compridas, cabelos bem longos, corpo todo cabeludo, dentes grandes como os de um elefante e apenas um olho, situado no meio da testa, um ciclope. Este monstro comeria carne humana, especialmente a de crianças, cuja carne é mais macia. A grande curiosidade: o nome Labatut, que foi dado ao tal monstro é uma "homenagem" ao general Pedro Labatut, que morou naquela divisa com o Ceará pelos idos de 1800. Dizem que ele era hostil, cruel e muito violento. Portanto, o apelido dado ao monstro faz todo sentido.
COMIDAS TÍPICAS
O Rio Grande do Norte tem vários pratos típicos que são comuns em outros estados nordestinos, com pequenas mudanças. Porém, alguns dizem que vem de lá a melhor carne-de-sol de toda a região. Com um bom corte de carne, ela é salgada e deixada ao sol (como diz o próprio nome) para que seja curtida, compondo vários pratos típicos e sendo também parte do dia-a-dia da dieta regular de muitos nordestinos. Porém, há algumas curiosidades: o mungunzá, comida de milho reparada em quase todos os estados brasileiros (também conhecida como canjica, no Sul e Sudeste do país) não é doce, mas salgada e pode levar até ingredientes como toucinho, lingüiça e outros itens que fazem uma espécie de feijoada, onde o feijão é substituído pelo milho – mas isso existe no sertão de outros estados nordestinos também. O mais típico do estado, porém, é a sopa de jerimum (abóbora), feita com leite e com o nome de "alambica".

A bandeira do Rio Grande do Norte foi desenhada por Luís da Câmara Cascudo, apresenta os elementos básicos que melhor representam o Rio Grande do
Norte. O coqueiro à esquerda, a carnaubeira à direita, a cana-de-açúcar e o algodão representam a flora. O mar, com a jangada, representa a pesca e a extração de sal.

O brasão de armas do Estado do Rio Grande do Norte foi desenhado por Corbiniano Villaça, constituído de um escudo de campo aberto, dividido a dois terços de altura, tendo no plano inferior o mar, onde navega uma
jangada de pescadores, que representam as indústrias do sal e da pesca. No terço superior, em campo de prata, duas flores aos lados e ao centro dois capulhos de algodoeiro. Ladeiam o escudo, em toda sua altura, um coqueiro á direita e uma carnaubeira à esquerda, tendo os troncos ligados por duas canas de açúcar, presas por um laço com as cores nacionais. Tanto os móveis do escudo, como os emblemas, em cores naturais, representam a flora principal do Estado. Cobre o escudo uma estrela branca, simbolizando o Rio Grande do Norte na União Brasileira.

Hino do Rio Grande do Norte, de autoria do poeta Norteriograndense Dr. José Augusto Meira Dantas e música de José Domingos Brandão.

Fontes:
http://www.rn.gov.br/principal/simbolos.asp
http://www.sogeografia.com.br/Conteudos/Estados/RioGrandedoNorte/
http://www.geocities.com/rgn1945/CONQUISTA.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/DOMINIO.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/INICIO.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/XVIII.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/XIX.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/PROVINCIA.htm
http://www.geocities.com/rgn1945/REPUBLICANO.htm
http://www.mre.gov.br
http://www.facilnordeste.com.br/curiosidades_nordestinas.html

Artur da Távola (Cronica: Entes e Duendes dos meus Cinemas)

ENTES E DUENDES DOS MEUS CINEMAS
Dentre tantas alegrias a vida reservou-me uma dor: ver a demolição de muitos cinemas: Rian, Ipanema, Pirajá, Astória, Azteca, aqueles dois da Praia do Flamengo, Alvorada, Ritz, Metro Copacabana, Metro Tijuca. Tantos... Demo-lição. Será o ato de demolir uma lição do demo, o (im) popular demônio? Uma demo-lição? Talvez. O demônio agita-se oculto no que tomba para ser trocado por algo de menor sentido. E cinema que acaba é alegria que roubada.
Em cada cinema que morreu eu vi, no último dia da demo-lição os olhos enormes de Maureen O’Hara a chorar saudades da beleza; a sedução de Greta Garbo; os ideais de Glauber, Cacá Diégues e Davi Neves; a cultura cinematográfica de Walter Lima Júnior; o mau humor do Arnaldo Jabor: Sinto a perda da pele e dos olhos das faces e das costas de Ingrid Bergman e ouço o grito da garotada quando o mocinho, enfim, superou a maldade do bandido. Sim, os fantasmas das atrizes e as luzes dos ideais dos cineastas perduram na atmosfera sofrida de um cinema que tomba comido pela voragem da especulação imobiliária ou substituído por salas pequeninas, telas apertadas, cheiro de desinfetante e o irritante barulho dos sacos de pipoca que a má educação contemporânea timbra em mastigar durante a projeção...
Pode ser que antes de cair a última pedra de um cinema que tomba, a alma dos celulóides dele escape de madrugada e possa haver um grande e generoso baile com quem habitou suas telas ou poltronas com emoção. Eu posso dançar a valsa com Ingrid Bergman e roçar, deslumbrado, os dedos em suas costas largas e sedutoras. Você poderá namorar à vontade Gary Grant, ó jovem cinqüentona de meus tempos, ou consolar o Marlon Brando pela perda machucante da filha. Quanta gente que ama cinema poderá se ver, rever, trocar idéias, o Paulo Perdigão com a Paulette Goddard. O Fernando Ferreira com o Frank Capra a conversar. Humberto Mauro a discorrer, generoso, sobre o que foi sentar as bases do cinema no Brasil. Glauber Rocha a proclamar sua última tese sobre as afinidades entre o céu e o inferno como síntese verdadeira de uma dualidade falsa que sempre atormentou a humanidade. Orizon Muniz poderá enfim namorar em paz a Ruth Roman. Arlindo Coutinho rever películas com a Alberta Hunter, João Luiz Albuquerque mudar o fim de "Casablanca", vale dizer, tudo o que sentimos de bom e melhor pelo cinema e seus personagens de sonho e realidade poderemos encontrar no grande baile noturno das últimas horas de cada um, onde todos juntos dançaremos ao som do La Valse de Ravel.
Só esta doce alegria imaginária compensa a dor de ver a cidade grande engolir os cinemas de meu amor e da nossa nostalgia.
Fonte:

Ingles de Sousa (1853 - 1918)


Herculano Marcos Inglês de Sousa (Óbidos, 28 de dezembro de 1853 — Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1918) foi um professor, advogado, político, jornalista e escritor brasileiro, introdutor do Naturalismo na literatura brasileira e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras. Escreveu inicialmente sob o pseudônimo Luiz Dolzani.
Era filho do desembargador Marcos Antônio Rodrigues de Sousa e de Henriqueta Amália de Góis Brito, membros de tradicionais famílias paraenses.
Em 1876 publicou dois romances, O cacaulista e História de um pescador, aos quais seguiram-se mais dois, todos publicados sob o pseudônimo Luís Dolzani. Com Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Silva publicou, em 1877, a Revista Nacional, de ciências, artes e letras.
Foi o introdutor do Naturalismo no Brasil, mas seus primeiros romances não tiveram repercussão. A principal característica de sua obra é o enfoque no homem amazônico, acima da paisagem e do exotismo da região.
Compareceu às sessões preparatórias da criação da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde fundou a Cadeira n. 28, que tem como patrono Manuel Antônio de Almeida.
Nesse grupo que deu inicio à ABL também participou outro obidense ilustre, José Veríssimo, que, juntamente com Araripe Júnior, Artur de Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Joaquim Nabuco, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Visconde de Taunay e Teixeira de Melo, realizaram a sétima e última sessão preparatória em 28 de janeiro de 1897.
Nessa sessão foram incorporados como membros aqueles que haviam comparecido às sessões preparatórias anteriores: Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães. Foram convidados para participar como fundadores, e aceitaram, Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte.
Tornou-se conhecido com O missionário (1891), que, como toda sua obra, revela influência de Zola. Nesse romance, descreve com fidelidade a vida numa pequena cidade do Pará, revelando agudo espírito de observação, amor à natureza, fidelidade a cenas regionais.
Inglês de Sousa fez os primeiros estudos no Pará, no Maranhão e no Rio de Janeiro.
Em 1870 foi para a cidade de Recife para preparar o concurso para a entrada na Faculdade de Direito do Recife, que cursou de 1872 a 1875.
Em 1875, com a nomeação de seu pai como juiz de direito em Santos, foi buscar as irmãs que estavam no Para e partiu em 1876 para São Paulo para completar o curso de direito inscrevendo-se para o quinto (e último ano) na Faculdade de Direito de São Paulo onde formou-se em 4 de novembro de 1876.
Em 1878, quando ainda morava na cidade de Santos onde era jornalista no Diário de Santos, de propriedade de João José Teixeira, militava ativamente no então Partido Liberal, em oposição ao Partido Conservador. Em 5 de janeiro de 1878 subiu ao poder o Partido Liberal, sob a presidência do Conselheiro João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu e com ele Carlos Leôncio da Silva Carvalho para a pasta do Império, que nomeou Inglês de Sousa Secretario da Relação de São Paulo em 18 de maio de 1878.
Foi eleito deputado Provincial (equivalente dos atuais deputados estaduais) para a Assembléia Provincial de São Paulo (hoje Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo) na 23ª e 24ª legislaturas (1880 a 1883).
Foi nomeado presidente da Província de Sergipe (hoje Estado) por Carta Imperial de 2 de maio de 1881 e tomou posse em 17 de maio de 1881. Sua missão consistia em controlar uma rebelião da guarnição militar local e supervisionar a aplicação da recém promulgada Lei Saraiva em Sergipe. Após controlar a situação e supervisionar as eleições de 1881, pediu exoneração do cargo que foi concedida pelo decreto de 28 de janeiro de 1882, governando até 22 de fevereiro de 1882.
Após a sua exoneração de Sergipe, foi nomeado Presidente da Província do Espírito Santo por Carta Imperial de 11 de fevereiro de 1882 e tomou posse em 3 de abril de 1882.
Pediu exoneração do posto e deixou o cargo em 9 de dezembro de 1882 para tomar posse como deputado provincial da 24a legislatura (1882 a 1883) da Assembléia da Provincial de São Paulo.
A partir de 1892, fixou-se no Rio de Janeiro, como advogado, banqueiro, jornalista e professor de Direito Comercial e Marítimo na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.
A publicação de Os Títulos ao Portador assegura-lhe projeção nacional e o torna jurisconsulto de fama e prestigio, sendo indicado para diretor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) de 1907 a 1910, qualidade na qual presidiu o Primeiro Congresso Jurídico Nacional.
Convidado, mais de uma vez, para o supremo Tribunal, não aceitou a indicação, "por motivos de ordem pessoal". E convidado pelo Ministro Rivadavia Correia para organizar o novo Código Comercial, apresenta-o, dentro de 11 meses, com notáveis emendas aditivas, que o transformam em Código uno de direito privado, de que era convicto partidário. Realiza Inglês de Sousa a primeira codificação integral de todo o direito privado.
Inglês de Sousa morreu na capital da República e foi sepultado no Cemitério São João Batista no dia 7 de setembro de 1918 com "um dos maiores acompanhamentos de que há memória", segundo registrou o jornal "O País" no dia seguinte.
Fonte:

Ingles de Souza (Conto: O Gado do Valha-Me-Deus)

A literatura brasileira, sabidamente pobre, tem-se dado ao luxo de esquecer autores e obras, ao longo de seus poucos séculos de existência. É o caso de Gregório de Matos, Pedro Kilkerry e Sosígenes Costa. Herculano Marcos Inglês de Sousa, entretanto, não foi esquecido. Seu nome figura na galeria literária brasileira graças ao romance "O Missionário", publicado em 1888.

É "O Missionário" um grande romance? Não. Trata-se apenas de mais um romance de tese, exatamente ao figurino naturalista, que a moda de Émile Zola trouxera ao Brasil naquela época (segunda metade do século 19). O tema, levemente escandaloso para então - o de um padre que sucumbe ante os encantos do sexo - talvez lhe tenha assegurado fama.

Depois disso, em 1893, o autor fez editar um livro de contos que parece ter passado despercebido a público e crítica, e que não conheceu até hoje uma segunda edição. "Contos Amazônicos", porém, em que se insere o excelente "O Gado do Valha-me-Deus", se lido com o devido cuidado, resgataria o nome de Inglês de Sousa para a historiografia da literatura brasileira, colocando-a ao lado de um Aluísio de Azevedo e próximo a Machado de Assis.

O livro, além de refletir sobre aspectos sociais da realidade amazônica, faz interessante interpretação da história recente do Brasil de então, como no conto "O Voluntário", que mostra o recrutamento forçado do batalhão de Voluntários da Pátria para a Guerra do Paraguai, apresentando ainda curiosos experimentos com a linguagem, que é o caso do conto que se vai ler. (Antonio Carlos Oliveiri).
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Sim, para além da grande serra do Valha-me-Deus, há muito gado perdido nos campos que, tenho para mim, se estendem desde o Rio Branco até as bocas do Amazonas! Já houve quem o visse nos campos que ficam pra lá da margem esquerda do Trombetas, de que nos deu a primeira notícia o padre Nicolino, coisa de que alguns ainda duvidam, mas todos entendem que, a existir tal gado, nessas paragens, são reses fugidas das fazendas nacionais do Rio Branco. Cá, o tio Domingos tem outra idéia, e não é nenhuma maluquice dos seus setenta anos puxados até o dia de S. Bartolomeu, que é isso a causa de todos os meus pecados, ainda que mal discorra; tanto que se querem saber a razão desta minha teima, lá vai a história tão certa como se ela passou, que nem contada em letra de fôrma, ou pregada do púlpito, salvo seja, em dia de sexta-feira maior. O tio Domingos Espalha chegou à casa dos setenta sem que jamais as unhas lhe criassem pintas brancas, e os dentes lhe caíram todos sem nunca haverem mastigado um carapetão, isso o digo sem medo de que traste nenhum se atreva a chimpar-me o contrário na lata.

Pois foi, já vão bons quarenta anos ou talvez quarenta e cinco, que nisto de contagem de anos não sou nenhum sábio da Grécia, tinha morrido de fresco o defunto padre Geraldo, que Deus haja na sua santa glória, e cá na terra foi o dono da fazenda Paraíso, em Faro, e possuía também os campos do Jamari, onde bem bons tucumãs-assu eu comi no tempo em que ainda tinha mobília na sala, ou, salvo seja, dentes esta boca que nunca mentiu, e que a terra fria há de comer.

Padre Geraldo fez no seu testamento uma deixa da fazenda ao Amaro Pais que levava toda a vida de pagode em Faro, e aqui em Óbidos, e nunca pôde contar as milhares de cabeças que o defunto padre havia criado no Paraíso, e que passavam pelas mais gordas e pesadas de toda esta redondeza.

Não que o visse, não senhores, eu não vi; mas todos gabavam o asseio com que o padre criava aquele gado, que era mesmo a menina dos seus olhos, a ponto de passar quinze anos de sua vida sem comer carne fresca, por não ter ânimo de mandar sangrar uma rês. Quando fui contratado para a fazenda, já o defunto havia dado a alma a Deus por causa dumas friagens que apanhara embarcado e de que lhe nascera um pão de frio, bem por baixo das costelas direitas, não havendo lambedor, nem mezinha que lhe valesse, porque, enfim, já chegaram a sua hora, lá isso é que é verdade.

Havia um ano que a fazenda Paraíso estava, por assim dizer, abandonada, porque o Amaro nunca lá aparecia, senão para se divertir, atirando ao gado, como quem atira a onças e fazendo-se valente na caçada dos pobres bois, criaturas de Deus, que a ninguém ofendem, porque, enfim, isso lá duma pequena marrada de vez em quando é para se defenderem e experimentarem o peito do vaqueiro, porque o boi sempre é animalzinho que embirra com gente maricas. As proezas do Amaro Pais tinham feito embravecer o gado, que, por fim, já ninguém era capaz de o levar para a malhada, e ainda menos de o meter no curral, o que era pena para um gadinho tão amimado pelo padre Geraldo, um verdadeiro rebanho de carneiros pela mansidão, que era mesmo de se lavar com um bochecho para não dizer mais, e a alma do padre lá em cima havia de estar se mordendo de zanga, vendo as suas reses postas naquele estado pelo estrompa do herdeiro, que fazia dor de coração.

Não pensem que eu agora digo isto para me gabar, pois quem pensar o contrário não tem mais do que perguntar aos moleques do meu tempo a razão porque me deram o apelido de Domingos Espalha, que era porque nenhum vaqueiro da terra, do Rio Grande, ou de Cavena me agüentava no repuxo da vaqueação; eu era molecote ainda, mas quando se tratava de alguma fera difícil, era o Domingos Espalha que se ia buscar onde estivesse, porque ninguém melhor do que ele conhecia as manhas do gadinho, e segurava-se melhor na sela sem estribos nem esporas, à moda da minha terra, donde vim pequeno mas já entendido nestes assados.

Pois para a festa de S. João, que o Amaro Pais ia passar na vila, queria ele uma vaca bem gorda para comer, e me incumbia a mim e ao Chico Pitanga, de tomarmos conta da fazenda, assinalar o gado orelhudo, e remeter a vaca a tempo de chegar descansada nas vésperas da festa, o que me parecia a mim que era a tarefa mais à toa de que me encarregara até então, embora os outros vaqueiros me dissessem que havia de perder o meu latim com o tal gadinho de uma figa.

O Chico Pitanga e eu entramos na montaria, levando um par de cordas de couro feitas por mim mesmo com corredeiras de ferro, um paneiro de farinha e um frasco de cachaça da boa, feita de farinha de mandioca, que era de queimar as goelas e consolar a um filho de Deus.

Abicamos ao porto do Paraíso às seis horas da tarde, recolhemo-nos à casa por ser já tarde para procurar o gado, que, entretanto, ouvíamos mugir a pequena distância, e parecia estar encoberto por um capão de mato. Fizemos a nossa janta de pirarucu assado e farinha, não mostramos cara feia à aguardente de beiju e ferramos num bom sono toda a noite até que pela madrugada saímos em busca do gado, montando em pêlo dois cavalos da fazenda que encontramos pastando perto do curral. Qual gado, nem pera gado! Batemos tudo em roda, caminhamos todo o santo dia, e eu já dizia pra o Chico Pitanga que a fama do Espalha tinha espalhado a boiama, quando lá pelo cair da tarde fomos parar à ilha da Pacova-Sororoca, que fica bem no meio do campo, a umas duas léguas da casa-grande. Bonita ilha, sim senhores, é mesmo de alegrar a gente aquele imenso pacoval no meio do campo baixo, que parece um enfeite que Deus Nosso Senhor botou ali para se não dizer que quis fazer campo, campo e mais nada. Bonita ilha, sim senhores, porém muito mais bonita era a vaca que lá encontramos, deitada debaixo de uma árvore, mastigando, olhando pra gente muito senhora de si, sem se afligir com a nossa presença, parecia uma rainha no seu palácio, tomando conta daquela ilha toda, com um jeito bonzinho de quem gosta de receber uma visita, e tem prazer em que a visita se assente debaixo da mesma árvore, goze da mesma sombra, e descanse como está descansando.

Não, senhores, não tinha nada de gado bravo a tal vaquinha, grande, gorda, roliça de fazer sela, negra da cor da noite, com um ar de tão boa carne que o diacho do Chico Pitanga ficou logo de água da boca, e vai-não-vai prepara laço para lhe botar nos madeiros, com perdão da palavra. Me bateu uma pancada no coração, dura como acapu, de não sei que me parecia ofender aquela vaca tão gorda e lisa, que ali estava tão a seu gosto, querendo meter a gente no coração com os olhos brandos e amigos, sem cerimônia nenhuma e muito senhora de si, e disse pra o Chico que aquilo era uma vergonha pra eu ser mandado como o vaqueiro mais sacudido a amansar aquele gado bravo, e por fim de contas segurar a primeira vaca maninha que encontrava, como qualquer curumim sem prática da arte; mas o tinhoso falou na alma de meu companheiro que, sem mais aquela atirou o laço e segurou os cornos da vaca. Ela, coitadinha, se empinou toda, deixando ver o peito branco, com umas tetinhas de moça, palavra de honra! E eu para não parecer que receava o lance, botei-lhe a minha corda também. Olhem que corda tecida por mim é dura de arrebentar, pois arrebentaram ambas como se fossem linha de coser, só com um puxão que a tal vaquinha lhes deu, e vai senão quando com a força, cai a vaca no chão e fica espichada que nem um defunto.

Cá pra mim que conheço as manhas do povo com que lido, disse logo que aquilo era fingimento, e botei-me pra ela pra a sujeitar pelos chifres, que para isso pulso tinha eu, não é por me gabar. Mas qual fingimento, nem meio fingimento! A vaca estava morta e bem morta, como se a queda lhe tivesse arrebentado os bofes, apesar de eu a ter visto, havia tão pouco tempo, viva e sã como nós aqui estamos, mal comparado, o que mostra que o homem não é nada neste mundo.

Mas era tão nova a morte, e havia já mais de uma semana, que não comíamos senão pirarucu seco, que aquela gordura toda me fez ferver o sangue, me deu uma fome de carne fresca, que parecia que já tinha o sal na boca, da baba que me caia pelos beiços abaixos; trepei acima da vaca, e sangrei-a na veia do pescoço, e logo o Chico Pitanga lhe furou a barriga, rasgando-a dos peitos até as maminhas, com perdão de vosmecês. O diacho da vaca, dando um estouro, arrebentou como uma bexiga cheia de vento, e em vez de aparecer a carne fresca, era espuma e mais espuma, uma espuma branca como algodão em rama, que saia da barriga, dos peitos, dos quartos, do lombo, de toda parte enfim, pois que a vaca não era senão ossos, espuma e couro por fora, e acabou-se; e logo (me disse depois o Chico Pitanga) o demônio da rês começou a escorrer choro pelos olhos, como se lhe doesse muito aquela nossa ingratidão.

Largamos a rês no campo, e como já se ia fazendo tarde, voltamos de corrida para a casa, onde dormimos sabe Deus como, sem cear, é verdade, porque a malvada espuma me tinha revirado as tripas, que tudo me fedia.

Mal veio a madrugada, fomos caminho da ilha da Pacova-Sororoca, à procura da vacada, levando cada um o seu saquinho cheio de farinha d'água, e outro de sal, para a demora que houvesse, e vimos uma grande batida de gado, em roda do lugar onde havíamos deixado na véspera o corpo da vaca preta, mostrando que eram talvez para cima de cinco mil cabeças, mas não achamos uma só rês, nem mesmo a tal vaquinha assassinada por nós.

Me ferveu o sangue, e eu disse pra o Chico Pitanga:

- Isto também já é demais. Ou eu hei de encontrar os diabos das reses, ou não me chame Domingos Espalha.

E botando-nos no campo, busca daqui, bate de lá, vira dali, corre pra cá, até que pela volta do meio-dia descobrimos o rasto, uma imensa batida, com as pegadas no chão, que se estava vendo que o gado passara ali naquele instantinho, e tivemos certeza de que eram mais de cinco mil cabeças, pois a estrada era larga como o Amazonas aqui defronte, e as pegadas unidas miúdo, miúdo, de gado muito apertado que foge a toda a pressa, com os cornos no rabo uns dos outros: e vosmecês desculpem esta minha franqueza, que eu nunca andei na escola. A batida ia direito, direito para o centro das terras, e vai o Chico Pitanga disse: "Seu Espalha, a bicharia passou ainda agorinha". E nos botamos a toda a brida, seguindo o rastro, sempre vendo sinais certos da passagem da vacada, mas sem encontrar vivalma no caminho.

Já estávamos cansados da vida, mais mortos do que outra coisa, nos apeamos e sentamos à beira do Igarapé dos Macacos para nos refrescarmos com um pouco de chibé. Vinha caindo a noite, e do outro lado do Igarapé, no meio de um capinzal de dez palmos de altura, ouvíamos mugir o gado, tão certo como estarem vosmecês me ouvindo a mim, com a diferença que nós tivemos um alegrão, e tratamos de dormir depressa para acordarmos cedo, bem cedinho, e irmos cercar os bois do Amaro País que daquele feito não nos haviam de escapar, ainda que tivesse eu de botar os bofes pela boca fora, ficando estirado ali no meio do campo.

Eu nunca na minha vida passei nem hei de passar, com perdão de Deus, uma noite tão feia como aquela! Começou a chover uma chuvinha miúda, que não tardou em varar as folhas do ingazeiro que nos cobria, de forma que era o mesmo que estarmos na rua; os pingos d'água, rufando no arvoredo, caíam duros e frios nas nossas roupas já úmidas de suor, e punham-nos a bater queixo, como se tivéssemos sezões; logo começou a boiada a uivar, paresque chorando a morte da maninha, que fazia um berreiro dos meus pecados, com a diferença que era um choro que parecia de gente humana, e nos dava cada sacudidela no estômago que só por vergonha não solucei, ao passo que o maricas do Chico Pitanga chorava como um bezerro, que metia dó. Aquilo estava bem claro que a vaca preta era a mãe do rebanho, e como nós a tínhamos assassinado, havíamos de aguentar toda aquela choradeira.

Por maior castigo ainda os cavalos pegaram medo daquele barulho, romperam as cordas, e fugiram tão atordoados que nos deram grande canseira para os agarrar, e nisso levamos a noite toda, sem pregar olho nem descansar um bocado. Quando vinha a madrugada, passamos o Igarapé dos Macacos e entramos no capinzal, que era a primeira vez que avistávamos aquelas paragens, que já nem sabíamos quantas e quantas léguas estávamos da fazenda Paraíso, navegando naquele sertão central. Era um campo muito grande que se estendia a perder de vista, quase despido de árvores, distanciando-se apenas de longe em longe no meio do capinzal verde as folhas brancas das embaúbas, balançadas pelo vento para refrescar a gente no meio daquela soalheira terrível, capaz de assar um frango vivo.

Vimos perfeitamente o lugar onde o gado passara a noite, um grande largo, com o capim todo machucado, mas nem uma cabecinha pra remédio! Já tinham os diachos seguido seu caminho sempre deixando atrás de si uma rua larga, aberta no capinzal, em direção à Serra do Valha-me-Deus, que depois de duas horas de viagem começamos a ver muito ao longe, espetando no céu as suas pontas azuis. Galopamos, galopamos atrás deles, mas qual gado, nem pera gado, só víamos diante da cara dos cavalos aquele imenso mar de capim com as pontas torradas por um sol de brasa, parecendo sujas de sangue, e no fundo a Serra do Valha-me-Deus, que parecia fugir de nós a toda a pressa. Ainda dormimos aquela noite no campo, a outra e a outra, sempre seguindo durante o dia as pegadas dos bois, e ouvindo à noite a grande choradeira que faziam a alguns passos de distância de nós, mas sem nunca lhes pormos a vista em cima, nem um bezerro desgarrado, nem uma vaquinha preguiçosa!

Eu já estava mesmo levado da carepa, anojado, triste, desesperado da vida, cansado na alma de ouvir aquela prantina desenfreada todas as noites, sem me deixar pregar o olho, e o Chico Pitanga cada vez mais pateta, dizendo que aquilo era castigo por termos assassinado a mãe do gado; ambos com fome, já não podíamos mover os braços e as pernas, galopando, galopando por cima do rasto da boiada, e nada de vermos coisa que se parecesse com boi nem vaca, e só campo e céu, céu e campo, e de vez em quando bandos e bandos de marrecas, colhereiras, nambus, maguaris, garças, tuiuiús, guarás, carões, gaivotas, maçaricos e arapapas que levantam o vôo debaixo das patas dos cavalos, soltando gritos agudos, verdadeiras gargalhadas por se estarem rindo do nosso vexame lá na sua língua deles. E os cavalos cansados, trocando a andadura, nós com pena deles, a farinha acabada, de pirarucu, nem uma isca, sem arma para atirar nos pássaros, nem vontade para isso, sem uma pinga da aguardente, sem uma rodela de tabaco, e a batida do gado espichando diante de nós, cada vez mais comprida, para nunca mais acabar, até que uma tarde, já de todo sem coragem, fomos dar com os peitos bem na encosta da Serra do Valha-me-Deus, onde nunca sonhei chegar, e bem raros são os que se têm atrevido a aproximar-se dela.

Mas o diacho das pegadas do gado subiam pela serra acima, trepavam em riba uma das outras até se perder de vista, por um caminho estreito que volteava no monte e parecia sem fim. Ali paramos, quando vimos aquele mundo da Serra do Valha-me-Deus, que ninguém subiu até hoje, nos tapando o caminho, que era mesmo uma maldição; pois se não fosse o diacho da serra, eu cumpriria a minha promessa ainda que tivesse de largar a alma no campo.

Nunca vi cachorro mais danado do que eu fiquei. Voltamos para trás, moídos que nem mandioca puba em tipiti, curtindo oito dias de fome da farinha e sede de aguardente, até chagarmos à fazenda Paraíso, e só o que eu digo é que: nunca encontrei gado que me desse tanta canseira.
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Robert Louis Stevenson (Conto: A Porta e o Pinheiro)

O conde detestava certo barão alemão, forasteiro em Roma.
Não importam as razões desse ódio, mas, como tinha o firme propósito de vingar-se, com o mínimo de perigo, ele as manteve secretas até do barão. De fato, tal é a primeira lei da vingança, já que ódio revelado é ódio, impotente.

O conde era curioso e minucioso; tinha algo de artista; executava tudo com uma perfeição tão exata que se estendia não só aos fins como também aos meios ou instrumentos. Certo dia cavalgava ele pelas regue iras e chegou a um caminho lamacento que se perdia nos pântanos que circundam Roma. À direita havia uma antiga tumba romana; à esquerda uma casa abandonada no meio de um jardim de sempre-vivas. Esse caminho conduziu-o a um campo de ruínas, em cujo centro, no declive de uma colina, viu uma porta aberta e, não muito longe, um solitário pinheiro atrofiado, não maior que um arbusto. O local era deserto e secreto; o conde pressentiu que algo favorável o espreitava na solidão; amarrou o cavalo ao pinheiro, acendeu a luz com o isqueiro e penetrou na colina. A porta dava para um corredor de construção romana; este corredor, a uns vinte passos, se bifurcava. O conde tornou pela direita e chegou, tateando na escuridão, a uma espécie de barra que ia de uma parede à outra. Avançando o pé, encontrou uma borda de pedra polida, e logo depois o vácuo. Interessado, juntou uns galhos secos e acendeu o fogo. À sua frente havia um poço profundissimo; sem duvida algum aldeão, que o havia usado para tirar água, teria colocado a barra. O conde apoiou-se na roldana e olhou o poço, demoradamente. Era uma obra romana e, como todas as desse povo, parecia construída para a eternidade. Suas paredes eram lisas e verticais: o desditoso que caísse no fundo não teria salvação. "Um impulso me trouxe a este lugar", pensava o conde. "Com que fim? Que consegui eu? Por que fui enviado a olhar este poço?" A roldana cedeu; o conde esteve a ponto de cair. Saltou para trás, para salvar-se, e apagou com o pé as ultimas brasas do fogo. Fui enviado para aqui a fim de morrer?", disse com temor. Teve uma inspiração. Arrastou-se até a boca do poço e levantou o braço, tateando: duas hastes estavam sustentando a roldana; agora esta pendia de uma delas. O conde a repôs de modo que cedesse ao primeiro apoio. Saiu à luz do dia, como um doente. No outro dia, enquanto passeava com o barão, mostrou-se preocupado. Interrogado pelo barão, admitiu finalmente que o havia abatido um estranho sonho. Queria interessar ao barão - homem supersticioso que fingia desdenhar as superstições. O conde, instado pelo seu amigo, disse-lhe abruptamente que se precatasse, porque havia sonhado com ele. Como é obvio, o barão não descansou até que lhe contaram o sonho.
— Pressinto —disse o conde com aparente tristeza— que esta narração será infausta; algo me diz. Entretanto, se para nenhum dos dois pode haver paz até que você a ouça, carregue você com a culpa. Este era o sonho: Vi-o cavalgando, não sei onde, mas devia ser perto de Roma; de um lado havia um antigo sepulcro, outro um jardim de sempre-vivas. Eu o chamava, voltava a gritar que não prosseguisse, em uma espécie de transe de terror. Ignoro se você me ouviu, porque seguiu para frente. O caminho levou-o a um local deserto entre ruínas, onde havia uma porta numa ladeira e, perto da porta, um pinheiro disforme. Você apeou-se (apesar de minhas suplicas), ateou o cavalo ao pinheiro, abriu a porta e entrou resolutamente. Dentro estava escuro, mas no sonho eu continuava vendo-o e pedindo-lhe que voltasse. Você seguiu a parede da direita, dobrou outra vez pela direita e chegou a uma câmara na qual havia um poço e uma roldana. Então, não sei por que, meu alarme cresceu e tornei a gritar-lhe que ainda estava em tempo e que abandonasse o vestíbulo. Essa foi a palavra que empreguei no sonho e então lhe atribui um sentido preciso; mas agora, acordado, não sei o que significava para mim. Você não escutou minha suplica; apoiou-se na roldana e olhou demoradamente a água do poço. Então lhe revelaram alguma coisa. Não creio haver sabido do que era, mas o pavor me arrancou do sonho, e acordei chorando e tremendo. E agora lhe agradeço de coração o haver insistido. Este sonho estava-me oprimindo, e, agora que o narrei à luz do dia, parece-me terrível.
— Talvez —disse o barão.

— Tem alguns pormenores estranhos. Revelaram-me alguma coisa, disse você? Sim, é um sonho raro. Divertirá os nossos amigos.

— Não sei —disse o conde. — Estou quase arrependido. Esqueçamo-lo. — De acordo —disse o barão.

Não falaram mais do sonho. Daí a poucos dias, o conde convidou-o a sair a cavalo; o outro aceitou. Ao regressar a Roma o conde sofreou o cavalo, tapou os olhos e deu um grito.

— Que aconteceu? —disse o barão.

— Nada —gritou o conde. — Não é nada. Voltemos depressa a Roma.

Mas o barão havia olhado a seu redor e, à mão esquerda, viu um caminho lamacento com uma tumba e um jardim de sempre-vivas.

— Sim —respondeu com a voz mudada. — Voltemos a Roma imediatamente. Temo que você se ache indisposto.

— Por favor —gritou o conde. — Voltemos a Roma, quero me deitar.
Regressaram em silencio. O conde, que fora convidado para uma festa, deitou-se, alegando que tinha febre. No dia seguinte, o barão havia desaparecido; alguém achou seu cavalo atado ao pinheiro. Isto foi um assassínio?
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Robert Louis Stevenson — Escritor inglês, nasceu em Edimburgo em 1850 e morreu em Samoa, em 1894. Começou escrevendo para jornais e revistas. Depois de percorrer toda a França, viajou para a Califórnia, onde se casou com Mrs. Osbourne, imediatamente após o divorcio desta. Em virtude de seu precário estado de saúde, resolve voltar para a Inglaterra, visitando, mais tarde, a França, novamente, e Taiti e as ilhas circunjacentes, fixando-se em Samoa, onde escreveu a maioria de seus romances e dois volumes de poesias. Seu enteado, Lloyd Osbourne, colaborou em alguns de seus romances. Stevenson exerceu influencia considerável no movimento literário dos paises de língua inglesa. Entre suas obras destacam-se: Memórias e aventuras de David Balfour, o Príncipe Otto, Nos Mares do Sul, Edimburgo, Notas Pitorescas, O Dinamitador, Contos, A Ilha do Tesouro, O Medico e o Monstro, e muitos outros trabalhos. Da extensa obra de Stevenson, foram mais difundidos entre o nosso publico A Ilha do Tesouro e o Medico e o Monstro, ambos os romances aproveitados pelo cinema.
Fontes: