sexta-feira, 4 de julho de 2008

Dias Gomes (O Pagador de Promessas)

1. Aspectos estruturais

Trata-se de um texto escrito para teatro, ou seja, para ser levado ao palco, ser encenado. A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, desta vez, explosão colérica em Zé do Burro. O terceiro ato é onde as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.

2. Enredo

Primeiro ato. Primeiro quadro.

A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã [4 e meia], numa praça, em frente a uma igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como tendo 'sangue quente' e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.

Primeiro ato. Segundo quadro.

Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente afro de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O sincretismo Iansã-Santa Bárbara, natural para Zé do burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do burro fica atônico.

Segundo ato. Primeiro quadro.

Duas horas mais tarde, já a movimentação no lugar é intensa. O Galego, dono do bar, abriu seu estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas, Dedé Cospe-Rima, poeta popular, ao estilo repentista e o Guarda. Zé do burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com 'ar culpado'. Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro. Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.

Segundo ato. Segundo quadro.

Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos subseqüentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da igreja, propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é total.

Terceiro ato.

Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da Igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir embora 'à noite'. Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou a polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé está perplexo: 'Santa Bárbara me abandonou'. Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. Tensão da cena acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a cruz e, ignorando padre e polícia entram na igreja, carregando a cruz.

3. Comentário

A peça de Dias Gomes tem nítidos propósitos de evidenciar certas questões socio-culturais da vida brasileira, em detrimento do aprofundamento psicológico de seus personagens. Assim, ganha força no drama a visão crítica quanto:

a] à intolerância da Igreja católica, personificada no autoritarismo do Padre Olavo, e na insensibilidade do Monsenhor convocado a resolver o problema;

b] à incapacidade das autoridades que representam o Estado - no episódio, a polícia - de lidar com questões multiculturais, transformando um caso de diferença cultural em um caso policial;

c] à voracidade inescrupulosa da imprensa, simbolizada no Repórter, um perfeito mau-caráter, completamente desinteressado no drama do protagonista, mas muito interessado na repercussão que a história pode ter;

d] ao grande fosso que separa, ainda, o Brasil urbano do Brasil rural: Zé do Burro não consegue compreender por que lhe tentam impedir de cumprir sua promessa; os padres, a polícia, a imprensa não conseguem compreender quem é Zé do Burro, sua origem ingênua, com outros códigos culturais, outras posturas. Além disso, a peça mostra as variadas facetas populares: o gigolô esperto, a vendedora de quitutes, o poeta improvisador, os capoeiristas. O final simbólico aponta em duas direções. Em primeiro lugar a morte do Zé do Burro mostra-se com fim inevitável para o choque cultural violento que se opera na peça: ninguém, entre as autoridades da cidade grande, é capaz de assimilar o sincretismo religioso tão característico de grandes camadas sociais no Brasil, especialmente no interior nordestino. Em segundo lugar, a entrada dos capoeiristas na igreja, carregando a cruz com o corpo, sinaliza para rechaçar a inutilidade daquela morte: os populares compreenderam o gesto de Zé do Burro.

Fontes:
http://www.algosobre.com.br
http://nadiatimm.com (imagem)

Moacyr Scliar (O Centauro no Jardim)

I- Autor:

Moacyr Jayme Scliar nasceu em Porto Alegre no ano de 1937. Médico, romancista, contista e cronista, publicou também ensaios. Iniciou com alguns livros de contos. Posteriormente, publicou romances e novelas, quase todos tratando dos judeus imigrados do Leste europeu a partir das guerras mundiais. Enfoca as dificuldades de ambientação e perda gradativa das raízes e tradições do judaísmo à medida que as gerações vão se sucedendo.Também apresenta características de textos fantásticos, de um certo realismo mágico. O cenário escolhido é invariavelmente a cidade de Porto Alegre, mais precisamente o bairro do Bom Fim, tipicamente judeu até hoje. Suas últimas obras, entretanto, já se dedicam aos temas sociais do presente. Nos últimos anos, vem se destacando como cronista; seus textos são publicados nas páginas de cultura do jornal Zero Hora aos domingos, e já possui livros de crônicas publicados.

II- Espaço:

A história ocorre num restaurante tunisiano, em São Paulo [SP], com lembranças de Quatro Irmãos [RS], Porto Alegre [RS] e Marrocos.

III- Tempo:

O livro conta os primeiros trinta e oito anos da vida de Guedali Tratskovsky, de 1935 até 1973.

IV- Personagens:

Guedali Tratskovsky: É o personagem do romance, filho de imigrantes judeus russos. Nasce centauro, vindo a crescer escondido e protegido de todos os que não faziam parte de sua família. Por causa desse isolamento, acaba criando o hábito da leitura, tornando-se extremamente culto e inteligente. Tem características físicas e psicológicas ora de humano e ora de cavalo.

Tita: Centaura de nascimento, é a companheira de Guedali. Foi criada num universo exclusivamente feminino. Como cresce isolada do mundo exterior e não tem acesso a livros, é uma pessoa agressiva, ignorante.

Leão Tratskovsky: imigrante judeu russo, veio para o Brasil por causa das condições adversas da Rússia. Cultivava as terras da regiâo por uma questão de necessidade e com forma de homenagear o Barão Hirsch, um homem que o ajudou a viajar até o Brasil.

V- Resumo:

O livro começa no restaurante tunisiano “Jardim das Delícias”, onde Guedali relembra seu passado na comemoração de seu 38º aniversário. Seu pensamento remete a uma fazenda em Quatro Irmãos [RS] em 1935. Ali nasce Guedali, filho caçula dentre os quatros de um casal russo. O nascimento causa espanto na família fazendo com que sua mãe fique vários dias de cama. No mesmo dia de seu nascimento decidem que vão proteger o centauro e procurar tratá-lo com o máximo de normalidade possível.

Guedali galopa muito no campo e, numa dessas vezes, encontra um índio chamado Peri. Solitário, vibra com a conquista do que imaginava ser seu primeiro amigo, mas nunca mais o vê. Também é descoberto por Pedro Bento, filho dos fazendeiros da fazenda vizinha. O pai, quando descobre, decide se mudar para a capital, vendo que seria muito difícil proteger Guedali dos outros no campo.

Em Porto Alegre, Guedali se vê mais preso ainda, e se limita a ler livros e observar uma garota por um telescópio. Essa situação o deixa indignado e, já com vinte e um anos, resolve sair de casa.

Vai, então para um circo, onde faz um número como se estivesse mais um irmão dentro da sua “fantasia” de centauro. Ao envolver-se com a domadora, ela acaba por descobrir que ele é um centauro e Guedali foge dali.

Nessa fuga, encontra Tita, outra centaura, que fugia de Zeca Fagundes, seu pai. Este a perseguia pois descobrira somente naquele dia. Guedali o mata e tem uma relação sexual com Tita. Vivem então na casa de Tita com Cetinha, viúva de Zeca Fagundes, quase uma mãe para eles. Tudo vai bem até Tita começar a se deprimir por causa de sua natureza, quando decidem ir ao Marrocos, onde poderiam tentar uma cirurgia para resolver seus problemas. Em Marrocos a cirurgia corre tudo bem e eles começam a caminhar sobre as duas patas traseiras, encobertas por botas e calças.

Na volta para o Brasil, passam algum tempo, na casa dos pais de Guedali, decidindo viver em São Paulo. Mudam-se para lá em 1960, quando Guedali e Tita compram uma casa, ele abre uma firma de importação,e levam uma vida quase normal. Têm gêmeos, enriquecem e fazem várias amizades. Nessa fase da vida, Guedali e Tita já não mostram o mesmo envolvimento sentimental dos velhos tempos, e Guedali se envolve com Fernanda, mulher de seu melhor amigo, Paulo, mas ninguém descobre. Decidem ir viver com amigos num condomínio horizontal, onde, num primeiro momento, Guedali se sente muito mal, pois o motorista do condomínio era Pedro Bento, mas este promete guardar segredo para não perder o emprego. Com o tempo o casco de Guedali racha e cai, dando origem aos pés.

Um dia, Guedali flagra Tita transando com um outro centauro. Arma-se uma confusão com a chegada dos amigos do casal, o centauro, assustado, corre e á assassinado por guardas do condomínio.

Abalado, Guedali decide ir para o Marrocos, onde pede para o velho médico marroquino reverter a operação realizada há anos atrás. O médico, com relutância, concorda. Como tinha de fazer exames e esperar o cavalo ser tratado para doar suas patas, Guedali dica no Marrocos. Nesse meio tempo, conhece a maior relíquia do médico marroquino: uma esfinge chamada Lolah. Esta se apaixona por Guedali que, para satisfazer seu instinto animal, se relaciona com ela todos os dias.

Passando o tempo, Guedali decide não mais se transformar em centauro. Quando se dirige ao médico para contar sua decisão, o médico aplica-lhe uma anestesia para prepará-lo para a operação. Por sorte, Guedali havia deixado a jaula de Lolah aberta e ela, ao notar a sua ausência tenta salvá-lo e é assassinada pelo assistente do médico. A operação é cancelada e Guedali volta para o Brasil.

Sem notificar Tita, retorna à fazenda onde nasceu e começa a construir uma vida bucólica com a ajuda de um índio que imagina ser Peri. Com o passar do tempo ele sente muita falta de sua mulher e também sente vontade de voltar a ser um centauro. Peri diz que é mágico e que é capaz de fazê-lo voltar à sua forma natural. Quando esse faz a mágica, que não dá certo, Tita aparece na fazenda para a alegria de Guedali. Depois de um tempo no campo, decidem voltar a São Paulo, convencidos por seus amigos.

Em setembro de 1973, Guedali reúne seus amigos para a comemoração de seu aniversário no restaurante tunisiano. Observa Tita confidenciando com uma moça. Tita está contando a história de suas vidas com uma leve distorção: como se nunca tivessem sido centauro.

MORAL: A figura do centauro remete para a questão básica que autor discute: o simbolismo do homem judeu na sua dúplice característica quer racial quer religiosa.

Fonte:
http://www.algosobre.com.br/

Robert Drummond (Hilda Furacão)

Desde que foi lançada a campanha a favor da Cidade das Camélias, a Zona Boêmia é um promontório da alegria. sugere os últimos dias de Pompéia. Tudo lá é encantado. A rua principal, a Guaicurus, conhece noites inesquecíveis. E nunca se viu tanto dinheiro. O vendedor de churrasquinhos triplicou as vendas. No restaurante Bagdá, especialista em comida árabe, é preciso disputar um lugar. As mulheres dos hotéis de primeira, segunda , terceira e quarta categorias jamais foram tão solicitadas. E na noite da última quinta feira, a polícia foi chamada para conter os ânimos dos que disputavam um lugar na fila que vai dar num território mágico: o quarto 304, no terceiro andar do Maravilhoso Hotel onde Hilda Furacão é uma fada sexual. (Roberto Drummond )

O romance Hilda Furacão [1991] tem uma proposta narrativa interessante, bem ao gosto pós-moderno. Várias ações transcorrem no texto conferindo uma dinâmica que prende o leitor à narrativa, perseguindo um desfecho que nos é insistentemente prometido.

A história central focaliza a personagem que dá nome ao romance, Hilda Furacão. Entretanto, o lugar de protagonista é disputado pelo narrador que conta a sua história e ao contá-la, conta várias outras histórias, que se entrelaçam formando um tecido de conflitos que vamos conhecendo e com os quais muitas vezes nos identificamos.

Os capítulos se sucedem ao modelo dos folhetins, criando um suspense que buscamos desvendar com a leitura do próximo, sucessivamente. Essa técnica permite que, a cada capítulo, as personagens se revezem e ganhem um destaque na trama. Isto é tão evidente que a obra já foi encaminhada para o teatro pela direção de Marcelo Andrade e ainda ganhou projeção nacional ao se tornar uma grandiosa mini-série homônima, na Rede Globo.

O cenário principal da obra é a capital mineira do final dos anos 50 e início dos anos 60 [lembramos que o autor reside em Belo Horizonte e hoje representa um dos grandes nomes do jornalismo mineiro], mas há que se falar no cenário secundário que é a pacata cidade de Santana dos Ferros.

Personagens
Roberto é o alter- ego biográfico do jornalista Roberto Drummond. Jovem comunista e idealista que ama a bela M. Aramel, o belo 'nunca houve homem mais belo que Aramel' jovem que almeja o estrelato hollywodiano por sua aparência de galã. Acaba por tornar-se um cafetão a serviço do poderoso Antônio Luciano. Após um desencontro amoroso humilhante vai para os EUA e torna-se gângster

Frei Malthus o pivô do grande romance julgado pela comunidade como 'o santo' este personagem se apaixonará pela bela Hilda Furacão. O mito da Cinderela é passado ao leitor quando do acidente que deixa o sapato de Hilda sob a posse do frei que tentará fugir do pecado martirizando-se e comendo o seu favorito doce de jabuticaba.

As tias Ciana e Çãozinha são as representantes [ há vários flashes de Santana dos Ferros interior mineiro] do conservadorismo e liberalismo. São as tias que Roberto trava correspondência constantemente.

Gabriela A primeira amada de Aramel, que fora contratado pelo traumatizado, gordo e tímido jornalista Emecê para representá-lo no encontro marcado. Antônio Luciano representante do poder econômico e político. Sua diversão era deflorar virgens e Aramel era o encarregado de receptá-las.

Cenário / tempo / espaço
Alguns dizem que o romance é bairrista, e não é a verdade , pois o que se apura dessa obra é uma grande homenagem à cidade de Belo Horizonte e tudo que faz dela um grande cenário natural para representar o microcosmo político e social do macrocosmo que era o regime militar em seu tempo cultural e estético. •

Estrutura Narrativa

É muito presente nos textos de Roberto Drummond um constante diálogo com o leitor. A esse diálogo entre textos do mesmo autor damos o nome de intratextualidade. Outros diálogos intertextuais aparecem ao longo da narrativa, mesclando ditos populares e modinhas ao discurso narrativo. Outro aspecto intertextual que se observa é a construção da intriga entre Hilda Furacão e Frei Malthus desencadeada a partir do sapato que a moça perde e do qual o rapaz se apossa, tal 'L qual acontece no conto da Gata borralheira ou Cinderela., Logo na abertura do romance, e nos capítulos que se seguem, Roberto narrador deixa claro que, por toda o texto, vai estar dialogando com o leitor, fazendo- nos presentes no tempo da enunciação -presente da narrativa. Essa é uma técnica bastante usada por nossos escritores, em especial por Machado de Assis. e confere uma dinâmica interessante ao relato, tornando-nos quase cúmplices do escritor.

Resumo

Como já dito anteriormente o romance é muito desfragmentado, pois possui constantes mudanças de enfoques. Para facilitar o nosso trabalho proporemos que se faça duas leituras: uma primeira que almeja desvendar o mistério da garota do maiô dourado [ a Hilda que desfilava sua beleza pelo Minas Tênis e depois tornou-se prostituta]; uma segunda que mistura ficção e realidade histórica brasileira [ditadura militar e censura]; o mais brilhante é que tudo começa e termina no dia 1° de abril que simboliza o dia da mentira eis então a grande proposta ficcional do autor. Roberto começa narrando em 1° pessoa a sua própria condição jovem de comunista e idealista. pretendo ser um grande jornalista e irritadiço por compararem seu sobrenome com o grande poeta Carlos Drummond de Andrade. Pelo que o narrador fala de si e da cidade observamos que o tempo precede os anos de 64 [época do golpe militar]. Nesse interím, o narrador trava correspondência com as tias de Santana dos Ferros Tia Ciana e Çãozinha, que são as interlocutoras do relato. A grande trama da obra verifica-se no encontro entre o santo Frei Malthus e a bela Hilda no qual aquele, ao tentar expurgar o mal da zona boêmia acaba enredado pela paixão que estabelece-se entre ele e Hilda. Roberto é o jornalista que relatará ao leitor como estão acontecendo os fatos na zona boêmia [lembre-se que Malthus, Aramel e Roberto são os três mosqueteiros amigos de infância e desta forma Roberto terá maior possibilidade de levantar dados para o leitor].

Após o desaparecimento do seu sapato, Hilda lança um concurso para que o devolvam então inicia-se um conto de cinderela às avessas pois Malthus acabará por reconhecer o seu amor pela bela. Contudo o final é triste pois ambos desencontram-se quando da fuga para viverem um grande amor Malthus será preso no primeiro dia de vigência do golpe militar de 64.

Fonte:
http://www.algosobre.com.br/

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Douglas Lara na Ordem Nacional dos Escritores do Brasil (ONE)















No dia 24 de julho, durante a semana do escritor, o organizador Douglas Lara será aceito como sócio permanente da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil - ONE.

A ONE foi fundada em 18 de maio de 1982, é uma sociedade civil com fins culturais e científicos, sem objetivos ou finalidades lucrativas, sediada na cidade e município de São Paulo e que abrange todo o espaço da LUSOFONIA. Tem cerca de quinhentos membros, na maioria brasileiros, em sua instituição cultural.

Os principais objetivos da Ordem são: promover, estimular, incentivar as atividades literárias e congregar, aconselhar e auxiliar os autores, seus associados em quaisquer obras e ou produções artístico-literárias, técnicas e científicas, bem como defender a atuação do escritor lusófono na livre manifestação de seu pensamento e em defesa de seus trabalhos e direitos.

Na impossibilidade da presença do Presidente da ONE, José Verdasca, a honra da entrega do colar ao escritor Douglas Lara, será delegada ao diretor-coordenador do Núcleo de Lisboa (Portugal), Joaquim Evónio que estará presente durante a 4ª Semana do Escritor de Sorocaba.
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Em meu nome, da delegacia ubiratanense da União Brasileira dos Trovadores e Associação dos Literatos de Ubiratã, gostariamos de parabeniza-lo por esta glória obtida, resumindo a luta de Douglas Lara, nas palavras do trovador Eduardo Simões Brites (Rio de Janeiro):

A natureza, perfeita,
ao dar-me dois braços sãos,
dá-me a glória da colheita
do que plantei com as mãos.
Com certeza, merece fazer parte das paginas da história de nossa cultura, e inspiração para os que estão presentes e aos que ainda estarão por vir.
José Feldman (3/6/08)

Cees Nooteboom (Paraíso Perdido)

Poucos escritores viajam como o holandês Cees Nooteboom (a pronúncia é "seis nôtebôm"), nome recorrente entre os candidatos ao Prêmio Nobel e um dos principais convidados da Festa Literária Internacional de Parati (Flip), que vai de 2 a 6 de julho.

Cees Nooteboom, uma das atrações da Flip, lança livro com protagonista brasileira Alma

Como Paul Theroux e Bruce Chatwin, ele transforma suas aventuras em literatura. Como Melville ou Joseph Conrad, foi marinheiro para conhecer o mundo. E como Peter Handke ou Robert Walser, usa suas jornadas como inspiração filosófica.

Seu último romance, "Paraíso Perdido", que agora chega às livrarias, tem uma curiosidade. A personagem central (Alma) é uma brasileira, moradora dos Jardins, fã de Maria Bethânia, que inicia sua jornada espiritual para superar o trauma que sofre em São Paulo: um estupro na favela de Paraisópolis, depois que seu carro enguiçou.

Ela e a amiga Almut, descendentes de alemães, partem para realizar um sonho: conhecer a Austrália, onde Alma vira amante de um aborígene e tem um encontro efêmero com um crítico literário holandês (alter ego de Nooteboom). E é o crítico que encerra o livro, em Berlim, depois de ter reencontrado Alma em uma clínica na Áustria, por acaso.

Inspirado no poema épico de John Milton, Nooteboom também empresta do imaginário de Rilke a figura dos anjos, que povoam seu livro. É exatamente fantasiada de anjo, em uma intervenção teatral na Austrália, que Alma aparece para o holandês, como uma revelação.

Isso é o livro. Nooteboom, por outro lado, é terreno e cuidadoso ao comentar suas influências. Falando à Folha de Amsterdã, por telefone, evita citar os contemporâneos e diz que leu muito Borges, Proust, Ovídio e Homero. "Ninguém escreve sem ter ao menos cem escritores em suas mãos".

Anjos

A figura do anjo tem uma inspiração real. Veio do "Angel Project", que assistiu na cidade australiana de Perth, ao participar de um festival literário. "Isso realmente aconteceu. Você precisava percorrer a cidade e encontrar anjos. Acompanhei, em 2000, então foi fácil descrever. Usavam jovens e atores".

O tema também tem, claro, um fundo religioso. "Tive uma educação católica. Anjos sempre estavam presentes", diz. "Nós adoramos a idéia de anjos. Eles são uma necessidade para que exista amor".

A visão de São Paulo também é concreta, resultado de várias viagens, a última pouco antes de escrever o livro, publicado em 2004. "Fiquei passeando de ônibus, para sentir a cidade, que é enorme".

Nooteboom conhece o Brasil desde o final dos anos 60. Já esteve em Manaus, Brasília e no Rio. "Não posso dizer que 'conheço' o país. Mas, como falo espanhol, consigo entender textos em português". ("Eu naum fálo portugueishh", emenda.)

"Me perguntam como alguém com a minha idade pode se colocar no papel das jovens. Mas é ficção, eu achei perfeitamente plausível que duas jovens brasileiras, com uma certa educação, estivessem interessadas no imaginário dos aborígenes. Estive na Austrália várias vezes. Para mim não é difícil imaginar duas garotas em um país muito distante. E a idéia da perda de inocência em diferentes perspectivas me atraía. A Austrália é um exemplo disso, onde uma civilização de 40 mil anos também perdeu a inocência", afirma.

Viagem

E como relatos de viagem se transformam em literatura? "No meu caso foi simples. Eu sempre viajei, desde os meus 17 anos. Isso aparece nos meus livros sem soar artificial, incluindo "Paraíso Perdido". Minha vida tem a ver com viagem".

O interesse pela aventura já o levou a todo o mundo, começando pelo Suriname, nos anos 60, como marinheiro. A paixão pela Espanha virou livro ("Caminhos para Santiago"). E as jornadas por Berlim inspiraram uma de suas principais obras, "Dia de Finados", que trata da ausência.

Já "Tumbas de Poetas y Pensadores" (ed. Siruela, 264 págs., 42, R$ 107 mais frete), publicado na Espanha, traz textos dele e fotos da mulher, a fotógrafa Simone Sassen, abordando os túmulos pelo mundo de escritores famosos, como Thomas Mann, James Joyce e Pablo Neruda. No Rio, os dois registraram os túmulos de Machado de Assis (que ele conhece) e de Carlos Drummond de Andrade (que conhece muito).

As respostas de Nooteboom explicam muito da sua obra. Híbrida, é ao mesmo tempo sofisticada, prosaica, fluente, lírica e repleta de referências.

Ele trabalha atualmente em dois livros. Um de contos, outro com relatos de viagem que inclui suas mais recentes aventuras: no sul da Argentina, na Índia e no remoto arquipélago norueguês de Svalbard, próximo ao pólo norte. E, claro, talvez Paraty, para onde segue em julho, antes de seguir para Salvador ("a parte mais africana do Brasil").

Fonte:
MARCOS STRECKER da Folha de S.Paulo. In Folha On Line
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u404954.shtml
Foto por Gustavo Cuevas/Efe

Baú de Literatos I


Ana Maria Machado (Rio de Janeiro, 1941)
Ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen (2001), considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil, a jornalista e escritora Ana Maria Machado é autora de mais de 100 títulos, alguns deles publicados em 17 países, somando mais de 18 milhões de exemplares vendidos. Formada em Letras, lecionou na UFRJ e PUC. Durante a ditadura militar, exilou-se em Paris, onde cursou pós-graduação com Roland Barthes. Trabalhou na revista Elle, em Paris, na BBC de Londres e em vários jornais e revistas brasileiros. Em 1979, fundou no Rio de Janeiro a Malasartes, primeira livraria brasileira dedicada exclusivamente a crianças e adolescentes. Também notabilizou-se pela sua produção de literatura para adultos, com o premiado A audácia dessa mulher (1999) e Texturas — sobre leituras e escritos (2001). Desde 2003, Ana Maria Machado ocupa a cadeira 1 da Academia Brasileira de Letras
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Alessandro Baricco (Turim, Itália, 1958)
Um dos mais importantes escritores italianos contemporâneos. Formado em filosofia e música, escreveu peças teatrais, ensaios e romances como Oceano mar (1993), City (1999), Sem sangue (2002) e Esta história (2005). Baricco tem carreira próspera no cinema: A lenda do pianista do mar (1998), de Giuseppe Tornatore, é baseado em seu monólogo Novecentos (1994), e o romance Seda (1996) virou filme homônimo, dirigido por François Girard. Este ano estréia como diretor com o filme Lezione 21, do qual também assina o roteiro. A formação em música estimulou ainda uma parceria com a dupla francesa Air, experiência que resultou no disco City Reading (2003).
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Cees Nooteboom (Haia, Holanda, 1933)
Escritor contemporâneo de maior destaque nos Países Baixos. Ensaísta, poeta e expoente da literatura de viagem, tem cinco obras publicadas no Brasil – os romances Rituais (1980), A seguinte história (1991) e Dia de finados (1998), além do livro de viagens Caminhos para Santiago (1992) e de seu romance mais recente, Paraíso perdido (2004). Comparado a Jorge Luis Borges e J. M. Coetzee, cotado com freqüência para o Prêmio Nobel, Nooteboom tece uma prosa rica em experimentos lingüísticos, mas não abre mão do relato de vivências extremas nem da exploração da interioridade dos personagens.
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Chimamanda Ngozi Adichie (Abba, Nigéria, 1977)
Nome de proa da literatura africana. Aos dezenove anos Adichie mudou-se para os Estados Unidos, onde foi bolsista na Universidade de Princeton. Purple Hibiscus (2003) e Half of a Yellow Sun (2006), pelo qual venceu o Orange Prize de 2007, têm como tema a guerra em Biafra, que entre 1967 e 1970 matou mais de 1 milhão de pessoas. Crítica da forma como a imprensa costuma tratar a África, Chimamanda mostra que a insistência na imagem do africano despossuído e carente esconde uma parcela expressiva e atuante da população, cuja voz merece ser ouvida com mais freqüência.
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Cíntia Moscovich (Porto Alegre, RS, 1958)
Em Por que sou gorda, mamãe? (2006), Cíntia Moscovich propõe uma espécie de Carta ao pai, de Franz Kafka, porém menos ressentida e triste que a do escritor tcheco. Acerto de contas da personagem central com a mãe e com o próprio corpo, o romance traz melancolia e humor em doses equivalentes. É dessa forma que a escritora – também jornalista, professora e tradutora – parece lidar com os temas que aborda em seus livros, entre eles o judaísmo e a condição feminina. Cíntia é autora da reunião de contos Arquitetura do arco-íris (2004, Prêmio Jabuti e finalista do Prêmio Portugal Telecom) e dos romances Duas iguais (1998) e Mais ou menos normal (2008), entre outros.
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David Sedaris (Binghamton, Estados Unidos, 1956)
Iniciou a carreira em 1995 em programas humorísticos de rádio e logo passou a escrever para revistas como Esquire e New Yorker. A voz peculiar, as narrativas auto-irônicas e formalmente impecáveis garantiram o sucesso do comediante. Grande parte de sua obra se compõe de contos autobiográficos, em que a infância no interior dos Estados Unidos, a vida familiar e o homossexualismo são tratados com sarcasmo e lirismo. Seus principais livros são Pelado (1997), Eu falar bonito um dia (2000) e De veludo cotelê e jeans (2004), que lhe valeu o título de humorista do ano pela Time Magazine. When You Are Engulfed on Flames (2008) é sua mais recente publicação. De veludo cotelê e jeans (2004), que lhe valeu o título de humorista do ano pela Time Magazine, e Eu falar bonito um dia (2000), lançado no Brasil neste ano.
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Fernando Vallejo (Medellin, Colômbia, 1942)
Apesar de ter nascido na Colômbia, foi no México, país onde vive até hoje, que Fernando Vallejo desenvolveu sua carreira cinematográfica e literária, após ter seu primeiro filme censurado pelo governo militar. A difícil experiência na Colômbia, porém, marcaria para sempre sua obra, caracterizada por um forte componente autobiográfico.
Temas como violência, drogas e política dividem espaço com filosofia, gramática e biologia. A virgem dos sicários (1994), seu livro mais famoso, trata das conseqüências do narcotráfico para a realidade social colombiana. Em 2003, o romance O despenhadeiro (2001), recentemente publicado no Brasil, recebeu o Prêmio Rómulo Gallegos, um dos mais prestigiados da literatura em língua espanhola.
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Humberto Werneck (Belo Horizonte, MG, 1945)
Jornalista e escritor. Ao longo de trinta anos de carreira, passou por alguns dos principais veículos da imprensa nacional e celebrizou-se pela qualidade da prosa jornalística e pela apuração minuciosa. Entre suas obras destacam-se O desatino da rapaziada (1992), retrato da geração de jornalistas e escritores mineiros da qual fizeram parte Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, e O santo sujo (2008), recém-lançada biografia do músico e boêmio modernista Jaime Ovalle. Werneck também assina a organização de Minérios domados (1993), reunião da poesia de Helio Pellegrino, a seleção de crônicas Boa companhia (2005) e a reportagem biográfica incluída em Tantas palavras (2006), songbook de Chico Buarque.
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Martín Kohan (Buenos Aires, Argentina, 1967)
Escritor, crítico literário e professor de Teoria literária nas universidades de Buenos Aires e da Patagônia. Autor de dois livros de contos, três de
ensaio e sete romances, entre eles Los cautivos (2000), Duas vezes junho (2002), Segundos afuera (2005), Museo de la revolución (2006) e Ciencias morais (2007), vencedor do prêmio Herralde e lançado no Brasil neste ano. Em seus romances, Kohan enfoca as formas diluídas e indiretas do controle social: a partir do dia-a-dia de um colégio portenho ou da Copa de 1978, constrói um quadro de muitos matizes sobre a ditadura argentina e seu significado para a história recente do país.
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Richard Price (Nova York, EUA, 1949)
Escritor e roteirista. The Wanderers (1974), seu primeiro romance, baseado na infância no Bronx, foi adaptado e dirigido por Philip Kaufman, de A insustentável leveza do ser (1988). Desde então, escreveu roteiros para filmes como O preço da coragem (1996) e a série televisiva A escuta (2004). Teve parceria bem-sucedida com o diretor Martin Scorsese em duas ocasiões: no longa A cor do dinheiro (1986) e no videoclipe Bad (1995), de Michael Jackson, dos quais assinou o roteiro. Um de seus romances mais conhecidos é Clockers (1992), que virou filme do diretor Spike Lee e foi indicado ao Oscar. Seu último livro é o aclamado Lush Life (2008).
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Pierre Bayard (Paris, França, 1954)
Escritor e professor de literatura francesa. No recente Como falar dos livros que não lemos? (2007), gerou polêmica ao questionar a importância da literatura e discutir em que medida é fundamental ler as obras ditas obrigatórias. Para Bayard, o verdadeiro letrado não é quem leu de tudo, mas quem reconhece o valor de determinada obra para a cultura que o cerca. Como falar dos livros que não lemos? confirma a verve iconoclasta de Bayard, presente também em obras anteriores, como Comment améliorer les oeuvres ratées (2000) e Enquête sur Hamlet (2002).
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Tom Stoppard (Zlín, República Tcheca, 1937)
O dramaturgo inglês Tom Stoppard consagrou de tal forma seu estilo que se tornou adjetivo: stoppardian é o termo usado para classificar autores e peças que utilizam a via do humor para dialogar com conceitos filosóficos. Em 1966 estreou nos teatros com Rosencrantz e Guildenstern estão mortos, em que a saga de Hamlet é recontada a partir da perspectiva de personagens secundários na trama original. Autor de mais de vinte peças e roteiros de cinema, é famoso pela criação de diálogos cheios de ironia e sarcasmo, potencializados pelo uso de duplos sentidos, trocadilhos e múltiplos pontos de vista.

Fonte:
http://www.flip.org.br

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Beatrix Potter (1866 - 1943)


Helen Beatrix Potter (* 28 de julho de 1866 em Kensington, Londres; † 22 de dezembro de 1943, Near Sawrey, Cumbria) era uma autora e ilustratora inglesa, conhecida principalmente pelos seus livros infantis, que contavam as histórias de personagens animais tais como o coelho Peter Rabbit. Foi uma escritora, ilustradora, micologista e conservacionista da Inglaterra.

Ela nasceu no dia 28 de Julho de 1866 em Londres, em Kensington Square, numa família da alta burguesia ligada ao comércio de algodão. Era uma garota atenta a todos os detalhes e observava principalmente os animais. Nos verões, quando a família ia passar as férias no campo, ora na Escócia ora em diversas propriedades de Lake District, na Grã-Bretanha, ela tinha a oportunidade de apreciar a natureza de perto. Começou a desenhar com apenas nove anos.

Hellen Beatrix Potter, filha de uma família de burgueses "novos ricos". O pai de Beatrix, Rupert William Potter (1832-1914), embora fosse advogado, seguia o comportamento dos cavalheiros abastados de sua época, raramente exercendo, passava seus dias em clubes dos cavalheiros . Sua mãe, Helen Potter Leech (1839-1932), filha de um comerciante do algodão, embora gostasse de pintura , dedicava seu tempo cultivando novas relações sociais. A família foi suportada por rendas herdadas de ambos os pais.

Cada verão, Rupert Potter alugava uma casa no campo; primeiramente a casa em Perthshire, Scotland de Dalguise para os onze verões de 1871 a 1881, então mais tarde um no distrito inglês do lago. Em 1882 a família encontrada com o vicar local, Canon Hardwicke Rawnsley, que foi preocupado profundamente sobre os efeitos da indústria e do tourism no distrito do lago. Encontraria mais tarde a confiança nacional em 1895, para ajudar proteger o campo. Beatrix Potter tinha caído imediatamente no amor com as montanhas ásperas e os lagos escuros, e com Rawnsley, aprendido da importância de tentar conservar a região, algo que era permanecer com ela para o descanso de sua vida.

A adolescente: Beatrix Potter fora criada em reclusão, sob rígida disciplina na Era Vitoriana, tendo mesmo escasso contato com seus pais. Junto com o irmão, recebera educação em casa, através de uma tutora. Quando chegou a idade de ir para a escola, apenas ele foi mandado; Beatrix continuou trancada em casa, onde aprendeu a desenhar e compor música sob os auspícios da instrução particular. Na ausência de amigos, apegou-se a animais de estimação: coelhos, um cachorro, passarinhos. Entre os 15 e os 30 anos, manteve um diário particular escrito em código, completamente decifrado após sua morte. Gostava de escrever cartas para crianças valendo-se de animaizinhos para contar histórias e, por sugestão de um editor, acabaria transformando uma delas, The Tale of Peter Rabbit, em livro.

Beatrix Potter passou por várias editoras para publicar um livro seu. Beatrix teve aproximadamente setenta tentativas e sessenta e nove delas falharam. Sua felicidade veio logo que uma editora aceitou publicar sua obra. Beatrix foi uma mulher solteira por muito tempo. Sua mãe a incentivava de forma quase que a pressionando de se casar. Helen também discordava que a filha pudesse se sustentar apenas escrevendo livros e ilustrando.

O sucesso de vendas é estrondoso, torna-se autora de livros infantis cheios de coelhos, ratinhos, esquilos e ela acaba se mudando para Hill Top, uma casa em Lake District, local por cuja proteção ecológica lutaria na fase final da vida.

Curiosidade
Muitas fontes afirmam que J. K. Rowling deu o sobrenome do seu personagem principal, Harry Potter, porque gostava da autora Beatrix. Porém, até hoje, a autora de Harry Potter nunca confirmou nada.

Seu livro mais conhecido, The Tale of Peter Rabbit , nasce em uma carta escrita em 1893 para uma criança que estava doente:
"Meu querido Noel, não sei o que escrever para você, de maneira que vou lhe contar a história de quatro coelhinhos..."

Na primeira edição de Peter Rabbit, 1902, paga pela autora, as ilustrações eram em preto e branco. Mas logo vieram edições coloridas. Os livros adocicados de Beatrix, eram pequeninos, desenhados de maneira que as crianças pudessem carregá-los confortavelmente. Até hoje são sucesso garantido.

Cinema
Miss Potter

Muito antes do adolescente bruxo, o sobrenome Potter já era sinônimo de fantasia. Com a série de 23 livros infantis de seus bichos falantes, a começar pelo famoso coelho Peter Rabbit, a escritora Beatrix Potter (1866-1943) se tornou uma das autores mais bem-sucedidas da história da literatura. Tão exitosa que o filme que a biografa, Miss Potter (2006), sofre com a falta de conflitos.

Se drama é a equação que separa o que um personagem deseja daquilo que ele de fato conquista, o novo filme de Chris Noonan - que não assinava uma película desde Babe - O porquinho atrapalhado, de 1995 - é absolutamente antidramático. Não há choque possível quando uma cinebiografia vertical (que toma um único intervalo de tempo para definir a vida inteira do biografado) decide enfocar só a curva ascendente da carreira de uma figura como Beatrix Potter.

Há flashbacks da infância, registros da aristocracia inglesa que definiram a personalidade instrospectiva de Beatrix, mas o filme é concentrado no início e no rápido ápice da vida literária da escritora, interpretada por Renée Zellweger. Beatrix já desenhava os animais - e conversava com eles - desde pequena, mas foi só quando conheceu Norman Warne (Ewan McGregor) que ela pôde transformar os esboços em livros. Caçula de dois irmãos editores, Norman queria mostrar seu valor. Pegou Peter Rabbit como um desafio editorial e fez dos animais um sucesso.

E os sucessos se sobrepõem. Possíveis "vilões", personagens contrários à empreitada de Beatrix, como a sua mãe ou os outros irmãos de Norman, são rapidamente sobrepujados pela força incontestável de Peter Rabbit. São vilões entre aspas, e são apenas possíveis, porque o filme não se esforça em construi-los como tais.

O foco principal de Noonan não é alimentar conflito, mas embelezar ainda mais a arte de Beatrix. A mescla de filmagem tradicional com animação, que dá vida aos bichos da escritora, é o tipo de fofura que se esperaria do diretor de Babe. A cerimônia com que Noonan movimenta a câmera lateralmente em cenas de interiores, sugerindo uma solenidade tremenda para momentos banais, só busca a mitificação da personagem.

No meio do caminho, acontecem trombadas amorosas - a boa química de McGregor e Zellweger, casal de Abaixo o amor, não seria menosprezada -, mas nada que constitua drama de verdade, mesmo porque amor de perdição não é o moto do filme. A idéia é mesmo pintar um retrato de intocabilidade de Beatrix Potter. Acontece que sem falhas não tem conflito, sem conflito não há redenção e, sem redenção, onde entra a moral da história?

Fontes:
http://www.angela-lago.com.br/1Potter.html
http://www.omelete.com.br/cine/100005268.aspx
http://www.sobrecarga.com.br/node/view/1337

Notícias Rápidas

Presença de Laé de Souza na 4a. Semana do Escritor de Sorocaba
O escritor Laé de Souza estará presente na 4ª Semana do Escritor de Sorocaba no dia 24 de julho, quinta-feira, a partir das 19h30. Neste dia, cada convidado receberá como cortesia um exemplar do livro “Nos Bastidores do Cotidiano” e durante a realização do evento será distribuída a revista do “Projetos de Leitura” para o público conhecer melhor o seu importante trabalho de fomento à leitura, em execução há dez anos. Laé de Souza é autor dos livros Espiando o Mundo pela Fechadura, Acredite se Quiser!, Acontece..., Coisas de Homem & Coisas de Mulher e Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braile). Interessados em conversar com o escritor poderão aproveitar esta oportunidade.
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Lançamento da Revista Nova Águia
Na próxima sexta-feira, dia 4 de Julho, pelas 21 horas, teremos no Moinho de Maré do Cais Velho, em Alhos Vedros, o lançamento da Revista Nova Águia. A organização do evento está a cargo da Escola Aberta Agostinho da Silva (CACAV) e de alguns elementos do MIL (Movimento Internacional Lusófono) local. Estão confirmadas as presenças do Prof. Paulo Borges e de Renato Epifânio, ambos membros da direcção da Revista.
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Lançamento do Livro Uma Flor chamada Margarida
Convite para o lançamento do livro ’’Uma flor chamada Margarida’’ do escritor Samuel C. da Costa, o evento será realizado no dia 05 de julho, às 19:00 h, no Espaço Cultural Angeloni, Rua Brusque nº358, centro Itajaí/SC.
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Venda do Livro A Baleia que Aprendeu a Voar
O livro A baleia que aprendeu a voar, do escritor Renato de Oliveira Leme, nascido em Itapetininga, (e radicado em Sorocaba desde 1991) está à venda no Gpaci (Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil). A renda será revertida para a entidade. A obra, uma história de ficção para adultos, tem como cenário o ambiente rural e promete fazer o leitor embarcar numa reflexão sobre as possibilidades de planejamento da vida, suas metas e sonhos.
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Fundação Cultural de Balneário Camboriú realiza Feira Literária
A Fundação Cultural de Balneário Camboriú (FCBC) realiza de 06 a 13 de julho, a Feira Literária, na Praça Higino Pio, das 10h às 22h. O evento é gratuito, destinado a toda a comunidade e visitantes, e objetiva incentivar a leitura como instrumento de comunicação, informação, conhecimento e lazer.

Além disso, pretende democratizar o acesso ao livro nas suas mais diversas linguagens, bem como, a aproximação de escritores, poetas, livrarias e editoras, oferecendo ao público local e visitante, um espaço educativo a ser firmado no calendário de eventos educacionais e culturais de Santa Catarina. Trata-se de uma ação educativa e cultural de popularização do livro e do incentivo ao hábito da leitura prazerosa.

Aliada às editoras e livrarias que são convidadas a participar da Feira Literária, são propostas outras atividades paralelas como: sessões de autógrafos, contação de histórias, declamações, atividades recreativas ligadas às artes plásticas, música, dança e teatro, fomentando a literatura como fonte de prazer.

Através da Feira Literária, a FCBC busca fortalecer ainda, a Biblioteca Pública Municipal e a Biblioteca Volante “Viajando com a Leitura”, ambas ações que oferecem um acervo bibliográfico para consulta, pesquisa e empréstimo.

Fundação Cultural de Balneário Camboriú
Rua 2412 , 111 - Centro
Balneário Camboriú - SC
88 330 - 440
Fone/Fax: (47) 3366-5325
E-mail: fcbc@camboriu.sc.gov.br

Fontes:
ACS - Prefeitura de Balneário Camboriú
http://www.balneariovirtual.com.br/portal/noticias_ver.php?id=826
Douglas Lara
http://www.sorocaba.com.br/acontece

terça-feira, 1 de julho de 2008

Eça de Queiroz (Memórias de uma Forca)

Foi por um modo sobrenatural que eu tive conhecimento deste papel, onde uma pobre forca apodrecida e negra dizia alguma coisa da sua história. Esta forca intentava escrever as suas trágicas Memórias. Deviam ser profundos documentos sobre a vida. Árvore, ninguém sabia tão bem o mistério da natureza; forca, ninguém conhecia melhor o homem. Nenhum tão espontâneo e verdadeiro como o homem que se torce na ponta de uma corda - a não ser aquele que lhe carrega sobre os ombros! Infelizmente, a pobre forca apodreceu e morreu.

Entre os apontamentos que deixou, os menos completos são estes que copio - resumo das suas dores, vaga aparência de gritos instintivos. Pudesse ela ter escrito a sua vida complexa, cheia de sangue e de melancolia! É tempo de sabermos, enfim, qual é a opinião que a vasta natureza, montes, árvores e águas, fazem do homem imperceptível. Talvez este sentimento me leve ainda algum dia a publicar papéis que guardo avaramente, e que são as Memórias de um Átomo e os Apontamentos de Viagem de Uma Raiz de Cipreste.

Diz assim o fragmento que eu copio - e que é simplesmente o prólogo das Memórias:

- Sou duma antiga família de carvalhos, raça austera e forte - que já na Antiguidade deixava cair, dos seus ramos, pensamentos para Platão. Era uma família hospitaleira e histórica: dela tinham saído navios para a derrota tenebrosa das índias, contos de lanças para os alucinados das Cruzadas, e vigas para os tetos simples e perfumados que abrigaram Savonarola, Espinosa e Lutero. Meu pai, esquecido das altas tradições sonoras e da sua heráldica vegetal, teve uma vida inerte, material e profana. Não respeitava as nobres morais antigas, nem a ideal tradição religiosa, nem os deveres da história. Era uma árvore materialista. Tinha sido pervertida pelos enciclopedistas da vegetação. Não tinha fé, nem alma, nem Deus! Tinha a religião do Sol, da seiva e da água. Era o grande libertino da floresta pensativa. No Verão, enquanto sentia a fermentação violenta das seivas, cantava movendo-se ao sol, acolhia os grandes concertos de pássaros boêmios, cuspia a chuva sobre o povo curvado e humilde das ervas e das plantas e, de noite, enlaçado pelas heras lascivas, ressonava sob o silêncio sideral. Quando vinha o Inverno, com a passividade animal dum mendigo, erguia, para a impassível ironia do azul, os seus braços magros e suplicantes!

- Por isso nós os seus filhos, não fomos felizes na vida vegetal. Um dos meus irmãos foi levado para ser tablado de palhaços: ramo contemplativo e romântico ia, todas as noites, ser pisado pela chufa, pelo escárnio, pela farsa e pela fome! O outro ramo, cheio de vida, de sol, de poeira, áspero solitário da vida, lutador dos ventos e das neves, forte e trabalhador, foi arrancado dentre nós, para ir ser tábua de esquife! - Eu, o mais lastimável, vim a ser forca!

- Desde pequeno fui triste e compassivo. Tinha grandes intimidades na floresta. Eu só queria o bem, o riso, a dilatação salutar das fibras e das almas. O orvalho de que a noite me banhava, atirava-o a umas pobres violetas, que viviam por debaixo de nós, doces raparigas lutuosas, melancolias condensadas e vivas da grande alma silenciosa da vegetação. Agasalhava todos os pássaros na véspera dos temporais. Era eu quem asilava a chuva. Ela vinha, com os cabelos esguedelhados, perseguida, mordida, retalhada pelo vento! Eu abria-lhe as ramagens e as folhas, e escondia-a ali, ao calor da seiva. O vento passava, confundido e imbecil. Então a pobre chuva, que o via longe, assobiando lascivo, deixava-se escorregar silenciosamente pelo tronco, gota por gota, para o vento a não perceber; e ia, de rastos, por entre a erva, acolher-se à vasta mãe Água! Tive por esse tempo uma amizade com um rouxinol, que vinha conversar comigo durante as longas horas consteladas do silêncio. O pobre rouxinol tinha uma pena de amor! Tinha vivido num país distante, onde os noivados têm mais moles preguiças: lá se enamorara: comigo chorava em suspiros líricos. E tão mística pena era que me disseram que o triste, de dor e de desesperança, se deixara cair na água! Pobre rouxinol! Ninguém tão amante, tão viúvo e tão casto!

- Eu queria proteger todos os que vivem. E quando as raparigas do campo vinham para junto de mim chorar, eu erguia sempre as minhas ramagens, como dedos, para apontar à pobre alma aflita de lágrimas todos os caminhos do Céu!

- Nunca mais! Nunca mais, verde mocidade distante!

- Enfim, eu tinha de entrar na vida da realidade. Um dia, um daqueles homens metálicos que fazem o tráfico da vegetação, veio arrancar-me à árvore. Não sabia eu o que me queriam. Deitaram-me sobre um carro e, ao cair da noite, os bois começaram a caminhar, enquanto ao lado um homem cantava no silêncio da noite. Eu ia ferido e desfalecido. Via as estrelas com os seus olhares lancinantes e frios. Sentia-me separar da grande floresta. Ouvia o rumor gemente, indefinido e arrastado das árvores. Eram vozes amigas que me chamavam!

- Por cima de mim voavam aves imensas. Eu sentia-me desfalecer, num torpor vegetal, como se estivesse sendo dissipado na passividade das coisas. Adormeci. Ao amanhecer, íamos entrando numa cidade. As janelas olhavam-me com olhos ensangüentados e cheios dum sol irado. Eu só conhecia as cidades pelas histórias que delas contavam as andorinhas, nos serões sonoros da espessura. Mas como ia deitado e amarrado com cordas, apenas via os fumos e um ar opaco. Ouvia o rumor áspero e desafinado, onde havia soluços, risos, bocejos, e mais o surdo roçar da lama, e o tinido sombrio dos metais. Eu sentia enfim o cheiro mortal do homem! Fui arremessado para um pátio infecto, onde não havia o azul e o ar. Comecei então a compreender que uma grande imundície cobre a alma do homem, porque ele se esconde tanto das vistas do Sol!

- Uns homens vieram, que me deram desprezivelmente com os pés. Eu estava num estado de torpor e de materialidade, que nem sentia as saudades da pátria vegetal. Ao outro dia, um homem veio para mim e deu-me golpes de machado. Não senti mais nada. Quando voltei a mim, ia outra vez amarrado no carro, e pela noite um homem aguilhoava os bois, cantando. Senti lentamente renascer a consciência e a vitalidade. Parecia-me que eu estava transformado numa outra vida orgânica. Não sentia a magnética fermentação da seiva, a energia vital dos filamentos e a superfície viva das cascas. Em redor do carro iam outros homens, a pé. Sob a brancura silenciosa e compassiva da Lua, tive uma saudade infinita dos campos, do cheiro dos fenos, das aves, de toda a grande alma vivificadora de Deus, que se move entre a ramagem. Eu sentia que ia para uma vida real, de serviço e de trabalho. Mas qual? Tinha ouvido falar das árvores, que vão ser lenha, aquecem e criam, e, tomando entre a convivência do homem a nostalgia de Deus, lutam com os seus braços de chamas para se desprender da terra: essas dissipam-se na augusta transfiguração do fumo, vão ser nuvens, ter a intimidade das estrelas e do azul, viver na serenidade branca e altiva dos imortais, e sentir os passos de Deus!

- Eu tinha ouvido falar das que vão ser vigas da casa do homem: essas, felizes e privilegiadas, sentem na penumbra amorosa a doce força dos beijos e dos risos; são amadas, vestidas, lavadas; encostam-se a elas os corpos dolorosos dos Cristos, são os pedestais da paixão humana, têm a alegria imensa e orgulhosa dos que protegem; e risos das crianças, ais namorados, confidências, suspiros, elegias da voz, tudo o que lhes faz lembrar as murmurações da água, o estremecimento das folhas, as cantigas dos ventos - toda essa graça escorre sobre elas, que já gozaram a luz da matéria, como uma imensa e bondosa luz da alma.

- Eu tinha ouvido falar também das árvores de bom destino, que vão ser mastro de navio, sentir o cheiro da maresia e ouvir as legendas do temporal, viajar, lutar, viver, levadas pelas águas, através do infinito, entre surpresas radiosas - como almas arrancadas do corpo que fazem pela primeira vez a viagem do Céu!

- Que iria eu ser?... - Chegamos. Tive então a visão real do meu destino. Eu ia ser forca!

- Fiquei inerte, dissolvida na aflição. Ergueram-me. Deixaram-me só, tenebrosa, num campo. Tinha, enfim, entrado na realidade pungente da vida. O meu destino era matar. Os homens, cujas mãos andam sempre cheias de cadeias, de cordas e de pregos, tinham vindo aos carvalhos austeros buscar um cúmplice! Eu ia ser a eterna companheira das agonias. Presos a mim, iam balouçar-se os cadáveres, como outrora as verdes ramagens orvalhadas!

- Eu ia dar esses negros frutos: os mortos!

- O meu orvalho seria de sangue. Ia escutar para sempre, eu a companheira dos pássaros, doces tenores errantes, as agonias soluçantes, os gemidos de sufocação! As almas ao partir, rasgar-se-iam nos meus pregos. Eu, a árvore do silêncio e do mistério religioso, eu, cheia de augusta alegria orvalhada e dos salmos sonoros da vida, eu, que Deus conhecia por boa consoladora, havia de mostrar-me às nuvens, ao vento, aos meus antigos camaradas puros e justos, eu, a árvore viva dos montes, de intimidade com a podridão, de camaradagem com o carrasco, sustentando alegremente um cadáver pelo pescoço, para os corvos o esfarraparem!

- E isto ia ser! Fiquei hirta e impassível como nas nossas florestas os lobos, quando se sentem morrer.

- Era a aflição. Eu via ao longe a cidade coberta de névoa.

- Veio o sol. Em roda de mim começou a juntar-se o povo. Depois, através dum desfalecimento, senti o ruído de músicas tristes, o rumor pesado dos batalhões, e os cantos dolentes dos padres. Entre dois círios, vinha um homem lívido. Então, confusamente, como nas aparências inconscientes do sonho, senti um estremecimento, uma grande vibração elétrica, depois a melodia monstruosa e arrastada do canto católico dos mortos!

- Voltou-me a consciência.

- Estava só. O povo dispersava-se e descia para os povoados. Ninguém! A voz dos padres descia lentamente, como a última água duma maré. Era o fim da tarde. Vi. Vi livremente. Vi! Dependurado de mim, hirto, esguio, com a cabeça caída e deslocada, estava o enforcado! Arrepiei-me!

- Eu sentia o frio e a lenta ascensão da podridão. Ia ficar ali, de noite, só, naquele descampado sinistro, tendo nos braços aquele cadáver! Ninguém!

- O sol ia-se, o sol puro. Onde estava a alma daquele cadáver? Tinha passado já? Tinha-se dissipado na luz, nos vapores, nas vibrações? Eu sentia os passos tristes da noite, que vinha. O vento empurrava o cadáver, a corda rangia.

- Eu tremia, numa febre vegetal, dilacerante e silenciosa. Não podia ficar ali só. O vento levar-me-ia, atirando-me, aos pedaços, para a antiga pátria das folhas. Não. O vento era brando: quase somente a respiração da sombra! Tinha vindo então o tempo em que a grande natureza, a natureza religiosa, era abandonada às feras humanas? Os carvalhos já não eram, pois, uma alma? Podiam, com justiça, vir o machado e as cordas buscar os ramos criados pela seiva, pela água e pelo sol, trabalho suado da natureza, forma resplandecente da intenção de Deus, e levá-los para as impiedades, para os tablados da forca onde apodrecem as almas, para os esquifes onde apodrecem os corpos? E as ramagens puras, que foram testemunhas das religiões, já não serviam senão para executar as penalidades humanas? Serviam só para sustentar as cordas, onde os saltimbancos bailam, e os condenados se torcem? Não podia ser.

- Pesava sobre a natureza uma fatalidade infame. As almas dos mortos, que sabem o segredo e compreendem a vegetação, achariam grotesco que as árvores, depois de terem sido colocadas por Deus na floresta com os braços estendidos, para abençoar a terra e a água, fossem arrastadas para as cidades, e obrigadas, pelo homem, a estender o braço da forca para abençoar os carrascos!

- E depois de sustentarem os ramos de verdura que são os fios misteriosos, mergulhados no azul, por onde Deus prende a terra - fossem sustentar as cordas da forca, que são as fitas infames, por onde o homem se prende à podridão! Não! Se as raízes dos ciprestes contassem isto em casa dos mortos - faziam estalar de riso a sepultura!

- Assim falava eu na solidão. A noite vinha lenta e fatal. O cadáver balouçava-se ao vento. Comecei a sentir palpitações de asas. Voavam sombras por cima de mim. Eram os corvos. Pousaram. Eu sentia o roçar das suas penas imundas; afiavam os bicos no meu corpo; penduravam-se, ruidosos, cravando-me as garras.

- Um pousou no cadáver e pôs-se a roer-lhe a face! Solucei dentro de mim. Pedi a Deus que me apodrecesse subitamente. Era uma árvore das florestas a quem os ventos falavam! Servia agora para afiar os bicos dos corvos, e para que os homens dependurassem de mim os cadáveres, como vestidos velhos de carne, esfarrapados! Oh! Meu Deus! - soluçava eu ainda - eu não quero ser relíquia de tortura: eu alimentava, não quero aniquilar: era a amiga do semeador, não quero ser a aliada do coveiro! Eu não posso e não sei ser a Justiça. A vegetação tem uma augusta ignorância: a ignorância do sol, do orvalho e dos astros. Os bons, os angélicos, os maus são os mesmos corpos invioláveis, para a grande natureza sublime e compassiva. Ó meu Deus, liberta-me deste mal humano tão aguçado e tão grande, que se traspassa a si, atravessa de lado a lado a natureza, e ainda te vai ferir, a ti, no Céu! Oh! Deus, o céu azul, todas as manhãs, me dava os orvalhos, o calor fecundo, a beleza imaterial e fluida da brancura, a transfiguração pela luz, toda a bondade, toda a graça, toda a saúde: - não queiras que, em compensação, eu lhe mostre, amanhã, ao seu primeiro olhar, este cadáver esfarrapado!

- Mas Deus dormia, entre os seus paraísos de luz. Vivi três anos nestas angústias.

- Enforquei um homem - um pensador, um político, filho do Bem e da Verdade, alma formosa cheia das formas do ideal, combatente da Luz. Foi vencido, foi enforcado.

- Enforquei um homem que tinha amado uma mulher e tinha fugido com ela. O seu crime era o amor, que Platão chama mistério, e Jesus chamou lei. O código puniu a fatalidade magnética da atração das almas, e corrigiu Deus com a forca!

- Enforquei também um ladrão. Este homem era também operário. Tinha mulher, filhos, irmãos e mãe. No Inverno não teve trabalho, nem lume, nem pão. Tomado dum desespero nervoso, roubou. Foi enforcado ao Sol-posto. Os corvos não vieram. O corpo foi para a terra limpo, puro e são. Era um pobre corpo que tinha sucumbido por eu o apertar de mais, como a alma tinha sucumbido por Deus a alargar e a encher.

- Enforquei vinte. Os corvos conheciam-me. A natureza via a minha dor íntima; não me desprezou; o Sol alumiava-me com glorificação, as nuvens vinham arrastar por mim a sua mole nudez, o vento falava-me e contava a vida da floresta, que eu tinha deixado, a vegetação saudava-me com meigas inclinações da folhagem: Deus mandava-me o orvalho, frescura que prometia o perdão natural.

- Envelheci. Vieram as rugas escuras. A grande vegetação, que me sentia esfriar, mandou-me os seus vestidos de hera. Os corvos não voltaram: não voltaram os carrascos. Sentia em mim a antiga serenidade da natureza divina. As eflorescências, que tinham fugido de mim, deixando-me só no solo áspero, começaram a voltar, a nascer, em roda de mim, como amigas verdes e esperançosas. A natureza parecia consolar-me. Eu sentia chegar a podridão. Um dia de névoas e de ventos, deixei-me cair tristemente no chão, entre a relva e a umidade, e pus-me silenciosamente a morrer.

- Os musgos e as relvas cobriam-me, e eu comecei a sentir-me dissolver na matéria enorme, com uma doçura inefável.

- O corpo esfria-me: eu tenho a consciência da minha transformação lenta de podridão em terra. Vou, vou. Ó terra, adeus! Eu derramo-me já pelas raízes. Os átomos fogem para toda a vasta natureza, para a luz, para a verdura. Mal ouço o rumor humano. Ó antiga Cíbele, eu vou escorrer na circulação material do teu corpo! Vejo ainda indistintamente a aparência humana, como uma confusão de idéias, de desejos, de desalentos, entre os quais passam, diafanamente, bailando, cadáveres! Mal te vejo, ó mal humano! No meio da vasta felicidade difusa do azul, tu és, apenas, como um fio de sangue! As eflorescências, como vidas esfomeadas, começam a pastar-me! Não é verdade que ainda lá em baixo, no poente, os abutres fazem o inventário do corpo humano? Ó matéria, absorve-me! Adeus! Para nunca mais, terra infame e augusta! Eu vejo já os astros correrem como lágrimas pela face do céu. Quem chora assim? Eu sinto-me desfeita na vida formidável da terra! Ó mundo escuro, de lama e de ouro, que és um astro no infinito - adeus! adeus! - deixo-te herdeiro da minha corda podre!-

(Gazeta de Portugal, 23 de Dezembro de 1867)

Fonte:
http://www.gargantadaserpente.com

Belvedere (O vinho branco)

Sentado na cadeira que pertenceu a várias gerações da família, faço o inventário de minha vida. O que fiz com ela? Percorri os caminhos que deveria, ou preferi atalhos? Aos noventa anos, já não tenho como modificar meus traçados, equívocos, rezas tortas...

Sozinho, miro o firmamento. O ser humano envelhece, se encarquilha, mas, se não houver a mão do homem, os cenários da natureza nunca se desfiguram.

Gosto do vinho branco seco. Traz-me paz à alma.

Meus filhos já se foram. Triste foi a morte da mais novinha, Mariazinha da Conceição, que a tuberculose levou. Coloquei nela uma roupa branca com véu cobrindo o rosto, e um terço entre as mãos. Nunca mais consegui sorrir como antes. Meu riso ficou preso.

A mulher envelheceu antes do tempo, foi murchando, sequer notou a ida dos filhos. Sofri a dor da morte dos cinco, enquanto ela ia se encolhendo na cama, me deixando só. Uma tarde, sorriu , olhou para o teto suspirando e morreu. Nem senti falta, porque, na verdade, ela já havia morrido há trinta anos.

Fiquei neste casarão sozinho. Não gosto de estranhos, nem preciso que cuidem de mim, pois tenho pernas e braços. Monto a cavalo, cozinho, lavo e passo. Empregado é pra cuidar dos bichos , da terra e do trabalho pesado da casa.

Cheguei a pensar numa nova companheira, mas desisti. Nasci pra ser só. Não gosto de vozerios, confusões, e as pessoas sempre trazem essas coisas.

Os vizinhos moram longe. De quando em vez, recebo visita. Trazem compotas de frutas, vinhos, pão de aveia. Não gosto de desfeitear, e aceito, mas digo que visita não pode passar de meia hora.

O que a vida ainda quer de mim?

Rasguei todas as fotos que havia por aqui. Quem ficaria com elas após minha morte? Não tenho herdeiros, os vizinhos acham pecado queimar lembranças, e as fotos, dizem que têm alma... Já doei todos os objetos de valor para a igreja. Meu maior apego é com aquele Sagrado Coração de Jesus em louça que tenho na parede da sala. Ainda não sei o que fazer com a casa. Tenho tempo pra pensar.

Leio muito bem, nenhum problema pra enxergar, nunca fui a médico, tenho uma saúde de ferro, mas um dia virá o sono eterno. Para onde vou? Como será a morte? Penso que acordarei no céu, vendo meus cinco filhos, mas por conta do que Conchita me fez, peço a Deus Todo Poderoso que me livre dela na outra vida. Que continue encolhida no além...

Vou tomar uma tacinha de vinho pra me ajudar a dormir. Os fantasmas às vezes aparecem e me tiram o sono. Nunca matei ninguém, apenas dei ordens. Cada cabra safado que encontrei na vida !.. Chegaram a matar dois de meus filhos. Dei idéia para queimarem eles. Sobrou só pó. Ri e joguei no charco. Quem sabe eles agora cismaram? Deixa isso pra lá! Tô velho demais pra me preocupar com esses assuntos.

Não sei por que ainda estou por aqui. Acordo, fico o dia todo olhando a paisagem, como, escuto rádio, ponho uns discos que já estão chiando de tão velhos... Que cansaço anda batendo em mim ao cair da tarde! Enrosco-me nas cobertas e vou dormir.

São cinco horas e ainda há sol. Vou tomar meu vinhozinho branco, ler meu livro de rezas, depois dormir na santa paz.

Nunca gostei de vinho tinto, por me lembrar sangue.

Que canseira me deu de repente, que sonolência estranha... Sinto frio, arrepios. Meus olhos se embaçam, pareço ver vultos, mas nunca tive problema de visão...

Estilhaços de garrafas e taças compunham o cenário final do inventário daquele homem.

Fonte:
http://www.gargantadaserpente.com/

Academia Niteroiense de Letras (História)

Em seu livro de memórias, O boi e o padre, Brígido Tinoco menciona a fundação da Academia Niteroiense de Letras em fins de 1931, o que de fato aconteceu, mas a instituição logo se desestruturou. Seus integrantes dispersaram-se, à medida que se foram formando, casando, assumindo funções e responsabilidades públicas, abrindo caminho em suas carreiras profissionais. A Academia Niteroiense de Letras que vingou foi fundada no dia 11 de junho de 1943, em sessão realizada na sala onde funcionava o gabinete do diretor do Departamento de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Rubens Falcão, situado no edifício da Biblioteca do Estado, Praça da República, sem número.

Compareceram à reunião e foram considerados sócios fundadores: Antônio Santa Cruz Lima, Brígido Tinoco, Carlos Alberto Lúcio Bittencourt, Dulcydides de Toledo Piza, Francisco Martins de Almeida, Francisco Pimentel, Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes, Guaracy de Albuquerque Souto Mayor, Heitor Luiz do Amaral Gurgel, Horácio Pacheco, Jefferson d’Ávila Júnior, José Pinto Nazareth, Lealdino Soares Alcântara, Macário de Lemos Picanço, Marcos Almir Madeira, Myrtharístides de Toledo Piza, Raul de Oliveira Rodrigues, Rubens Falcão, Ruy Buarque de Nazaré, Serafim Silva, Sylvio Lago e Walfredo Martins.

Durante o encontro, elegeu-se uma diretoria provisória, assim constituída: Myrtharístides de Toledo Piza – presidente, Francisco Pimentel – secretário, Lealdino Soares de Alcântara – tesoureiro.

Para elaborar o estatuto, designou-se uma comissão integrada por Myrtharístides de Toledo Piza, Raul de Oliveira Rodrigues e Guaracy de Albuquerque Souto Mayor. O projeto, após amplamente discutido, foi aprovado por unanimidade, em sessão realizada no dia 23 de junho de 1944. O registro em cartório deu-se somente no dia 10 de janeiro de 1957, no Quinto Ofício de Justiça da comarca de Niterói.

No dia 10 de julho de 1943, em reunião mais uma vez realizada no gabinete do diretor do Departamento de Educação, os que a ela compareceram confirmaram os nomes sugeridos pelo presidente Myrtharístides como patronímicos das quarenta cadeiras da Academia. Em assembléia-geral realizada no dia 19 de junho de 1973, 10 novas cadeiras seriam criadas.
Ainda no gabinete do diretor do Departamento de Educação, em 20 de julho de 1943, por aclamação, foi eleita e empossada a primeira diretoria da ANL, em substituição à provisória, composta dos seguintes nomes: Myrtharístides de Toledo Piza – presidente, Rubens Falcão – vice-presidente, Marcos Almir Madeira – secretário, Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes – tesoureiro, Horácio Pacheco – bibliotecário.

A solenidade de instalação da Academia aconteceu no dia 27 de abril de 1944, no salão nobre do Instituto de Educação, atual Liceu Nilo Peçanha.

Eleito na assembléia geral realizada no dia 4 de setembro de 1957, o médico e homem de letras José de Araújo Júnior tomou posse na presidência da Academia Niteroiense de Letras no dia 22 de outubro do mesmo ano. Prometeu cuidadosa e dinâmica atuação. Com disposição e euforia, afirmou que sua gestão seria “uma verdadeira maratona intelectual”. Tudo indicava um período áureo para os destinos acadêmicos. Porém, o presidente adoeceu. Na esperança do restabelecimento de Araújo Júnior, no respeito à sua doença sem melhoras, a Academia manteve-se desativada por quinze anos. Em novembro de 1972, por iniciativa de Guaracy de Albuquerque Souto Mayor, a ANL foi reativada.

Se em sua primeira fase (1943/57) a Niteroiense sediou-se aqui e ali, depois de reativada não foi diferente. Após abrigar-se no Museu Antônio Parreiras, onde realizou suas reuniões por especial deferência do acadêmico Jefferson d’Ávila, diretor daquela casa de arte, com o consentimento do arcebispo D. Antônio de Almeida Moraes Júnior teve sede provisória em ampla sala do edifício D. João da Matha, até então utilizada pelo Departamento de Ensino Diocesano. Após o afastamento de D. Antônio, por enfermo, o administrador apostólico apresentou exigências para a continuidade da utilização das dependências da Cúria Diocesana, julgadas inatendíveis.
Houve, então, frustrada tentativa no sentido de a Academia abrigar-se no Palácio Nilo Peçanha, sede do governo estadual antes da fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara.
Acolhida temporariamente numa sala do Serra Clube, iluminaram-se os horizontes da Niteroiense quando, por comodato, no final da gestão do prefeito Ronaldo Fabrício, em meados de 1977, pôde sediar-se num dos salões do prédio da antiga Câmara dos Vereadores, então administrado pela Fundação Atividades Culturais de Niterói (FAC). Com promessas sedutoras de melhores instalações, o que não se concretizou, a FAC transferiu a sede provisória da ANL para uma acanhada salinha na Rua Presidente Pedreira, levando-a, mais adiante, a desistir da ocupação e ao conseqüente desabrigo.

Em junho de 1979, quando ainda se comprimia no pequeno espaço que a FAC lhe destinara, a Academia encaminhou ofício ao então secretário de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Erasmo Martins Pedro. Pleiteou, na oportunidade, instalar-se no sétimo andar do Edifício das Secretarias, onde havia área em disponibilidade. Não foi atendida em suas pretensões. Nova tentativa de obter abrigo no mencionado prédio ocorreu em setembro de 1982, dessa feita no espaço que a Associação Fluminense de Magistrados deixara vago. Arnaldo Niskier, à época secretário de Educação e Cultura, consultado, não se pronunciou. Por fim, em novembro de 1987, o apelo dirigiu-se ao governador Wellington Moreira Franco, mas também não foi atendido.
Enquanto batalhavam pela sede, os acadêmicos velaram-se de uma sala, onde realizaram suas reuniões de diretoria, bem como de um auditório, para suas sessões solenes, dependências cedidas sem qualquer ônus pelo Serviço Social do Comércio (SESC).

Em junho de 1988, ao comemorar quarenta e cinco anos, a ANL finalmente sediou-se, por comodato, no anexo do antigo prédio da Câmara Municipal de Niterói, Rua Visconde do Uruguai, 456, num ato de gestão do então prefeito Waldenir de Bragança.
A data de 27 de dezembro de 1973 é marcante na história da Academia Niteroiense de Letras. Registra o dia em que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decretou e o governador Raymundo Padilha sancionou a Lei 7.349, pela qual a instituição foi considerada de utilidade pública.

Na solenidade comemorativa do seu cinqüentenário, ocorrida no dia 11 de junho de 1993, no auditório Amaury Pereira Muniz, pertencente à Fundação Municipal de Educação de Niterói, a A.N.L. desfraldou pela primeira vez sua bandeira, criação do acadêmico Alberto Valle.
A ANL estrutura-se em quatro classes: membros efetivos (50), beneméritos, honorários e correspondentes.

Já presidiram a ANL: Myrtharístides de Toledo Piza, Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes, Sylvio Lago, Luiz Palmier, Horácio Pacheco, Jorge Picanço Siqueira e Sávio Soares de Sousa. Desde janeiro de 2007, a presidência é exercida por Jorge Fernando Loretti. José de Araújo Júnior, eleito e empossado, não exerceu o mandato, por motivo de doença, ocasionando o grande recesso já mencionado.

Maiores informações sobre a ANL poderão se obtidas no livro Dança das cadeiras: história da Academia Niteroiense de Letras (LEITE NETTO, Wanderlino Teixeira. Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Niterói, 2001. 411p.)

Fonte:
Academia Niteroiense de Letras
http://www.academianiteroiense.org.br/

Concurso Literário Professor Horácio Pacheco (Academia Niteroiense de Letras)

Ocorreram 428 inscrições válidas: 64 crônicas, 168 contos e 196 poemas, provenientes de 20 Estados da Federação, do Distrito Federal e de Portugal.

Classificaram-se os seguintes escritores, que terão seus textos publicados em antologia a ser editada pela Imprensa Oficial do Rio de Janeiro:

Poesia:
· Ana Cristina Mendes Gomes (Rio de Janeiro / RJ): “O planeta colorido”.
· Anna Maria Avelino Ayres (Poços de Caldas / MG): “Lugarejo”.
· Antônio Rosalvo Accioly (Nova Friburgo / RJ): “A última esquina da rua sem nome”
· Isabel Florinda Furini (Curitiba / PR)): “Pesadelo”.
· Jafran José Bastos (Niterói / RJ): “Artesanato”.
· Janice Brito Mansur (Cabo Frio / RJ): Vinte e quatro tempos”.
· José Carlos do Nascimento (Fortaleza / CE): “Água”
· Lourdes Neves Cúrcio (Barra Mansa / RJ): “Versejando”.
· Pedro Ornellas (São Paulo / SP): “Recaída”.
· Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens (Niterói / RJ): Haicai.

Crônica:
· Agatha Dias Lemos (Poços de Caldas / MG): “A fila do banco”.
· Carlos José Rosa Moreira (Niterói / RJ): “Indignação e êxtase”.
· Cláudio Alves da Silva (São João do Mereti / RJ): “Zorro x Dom Quixote”.
· Coracy Teixeira Bessa (Salvador / BA): “O coletor de quimeras”.
· Deborah Goldemberg (São Paulo / SP): “Tarde no tanque”.
· Júlio César Dias Erthal (Niterói / RJ): “Coindidências”.
· Karla Leopoldino Oliveira Freitas (Iúna / ES): “Todos meus amores”.
· Raymundo Souza (Rio de Janeiro / RJ): “Resgatando o passado”.
· Ricardo Martins Freire (Aparecida / SP): “Marília Monroe”.
· Sérgio Martins Pandolfo (Belém / PA): “O presépio de Belém”.

Conto:
· Adriano Monte Alegre (Salvador / BA): “Da minha janela”.
· Alfeu de Melo Valença (Rio de Janeiro / RJ): “Três pedidos”.
· Antônio Augusto de Assis (Maringá / PR): “A enchente”.
· Celso Antônio Lopes da Silva (São Paulo / SP): “São Paulo / SP): “Rogai por nós”.
· Davi Menossi Gonzáles (São Caetano do Sul / SP): “Boneca”.
· Guilherme Ferreira de Toledo Lourenço (Juiz de Fora / MG): “Variações desconcertantes sobre a mulher impermeável”.
· Luiz Gilberto de Barros (Rio de Janeiro / RJ): “Urutu”.
· Maria das Dores Oliveira (Ipatinga / MG): “Conto das Irmãs Carmelitas”.
· Ricardo Rao (Bragança Paulista / SP): “Canto Mariano”.
· Vanda Fagundes Queiroz (Curitiba / PR): “Confidência”.

Fonte:
http://www.academianiteroiense.org.br/

Paraná em Trovas (Mensagem)

Informo, com satisfação e grande honra, aos trovadores que participaram do livro “Paraná em Trovas” o qual organizei, que a pedido da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba, o referido livro estará presente, brevemente, nas estantes das 173 bibliotecas municipais de Curitiba, nos 13 Faróis do Saber e nas mãos de várias autoridades da área da Educação, fato relevante para todos nós.

Estou muito orgulhosa e confesso: Para mim, foi grande surpresa!

Meus sinceros agradecimentos para as competentes professoras Margareth Caldas Fuchs, da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba e Maria da Graça Araújo, das Escolas: Papa João XXIII, São Miguel e Albert Schweitzer, que oportunizaram este feliz acontecimento.

Segundo a professora Maria da Graça Araújo: “Agora as Bibliotecas Municipais e Faróis do Saber, terão uma coletânea de trovas de autores paranaenses. Isso é inédito! Tenha certeza que é muito importante embora possa não parecer”.

Na qualidade de presidente da UBT Estadual do Paraná, agradeço a oportunidade de integrar estes ambientes, onde se respira cultura, através do acesso do livro Paraná em Trovas, nas Bibliotecas e Faróis curitibanos.

Saudações trovadorescas e um forte abraço à cada um de vocês, e, em especial à Margareth e Maria da Graça.

Vânia Maria Souza Ennes.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

André Augusto Passari (O mago da ironia)

Lá se vão cem anos, e quanta solidão!
De lá para cá, o ser humano
Esse espectro frágil de qualquer coisa que seja Deus
Tropeçou em suas próprias armadilhas e se perdeu

Por isso, com a mesma ironia
E em memória àquele que um dia iluminou essa escuridão
Dedico estes versos, pobres e insuficientes versos
Mas que dão mote à grandeza do nome sobre o qual verso

Antes do mais, perdoe-me o engano
Não, não é um espectro frágil o ser humano
É antes o próprio ideal trágico de um sonho infeliz e patético
Uma gargalhada profunda de um Deus incrédulo e imagético

Mas vá lá, voltemos ao nosso mote
E à homenagem ao grande Cavaleiro das Letras
Fundador da Academia Brasileira de Letras
E que nos inspira em vida e em morte
Joaquim Maria Machado de Assis
Ou somente Machado de Assis

Não era mesmo para ser o orgulho da pátria
Estava mais para um néscio ou um paria
Mulato pobre, gago, órfão, epilético e sem estudo
Tornou-se logo entre todos o mais culto
E contrariando a ordem lógica do mundo
Inverteu a lógica, o real e o oculto

Enxergou como ninguém a alma humana
E a revelou com a elegância de uma arte grega ou romana
Mas o fez com tal sinceridade
Que até parece crueldade
É que o homem vive numa crise de identidade
Ante o bem e o mal, a dualidade

Homenageado com honras em seu velório
Machado de Assis nunca foi um simplório
Sabia que a vida é um desafio complexo
E que só com maestria e valentia é que faz nexo
Por isso aproveitou a ironia de ter nascido pobre
Para morrer com a insígnia de um espírito nobre
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Notas sobre o autor:
André Augusto Passari, novo escritor nascido em Sorocaba (SP), veio ao mundo em 1979. Médico psiquiatra, reside em Ribeirão Preto (SP). Na literatura, assume sua condição de profundo admirador de Machado de Assis.
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Fonte:
PASSARI, André Augusto. Tempo, Solidão e Fantasia. São Paulo: Scotercci Editora, 2005.