domingo, 3 de agosto de 2008

Rosangela Aliberti (Ao Espírito da Floresta)

uma chuva fina
bateu no dorso do cerrado
a fome é fria

A saudade da terra quente forçou a descida dos silvos no arbusto. Rosto metade onça metade índio, pode assentar os olhos noutro ser... há um estalo sequioso no centro da língua; urutu-cruzeira, continuará desprendendo parte de ssseu encanto aosss desencantadosss, novas formas de ferraduras irão brilhar. Cascas como sandálias arrastam-se no banhado serpeando o tempo circular... o fundo castanho-escuro se mistura às folhas.

Espírito da Floresta... rastro de coice de espingarda é passado não se pode alimentar o luxo de abraçar okyyse*, não se pode ter receio do cheiro do lixo, não se prende qualquer serpente em frasco de vidro... nem se passa por cima de ninho com tanque de transporte URUTU sem ouvir o eco (cobras sempre haverão de chiar), nada adianta lamentar a coita que em luas passadas deram trela para a má intuição... inventando de sair do centro-oeste para caçar ao sul, se as preás por lá foram insufi_cientes, terão outros pegas prá capar!!! Não adianta fugir do veneno não adianta se esquivar do... aperto de dentes. Ruídos roem as cordas acordando os acordes no vegetar ...a fome, forma socos nos ventres na vegetação

uma chuva fina
bateu no dorso do cerrado
a fome é fria

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/
http://olhares.aeiou.pt (imagem)

Henriette Effenberger (Inútil teia - Medo)

Inútil Teia

Qual uma aranha,
lenta e silenciosa,
passo por passo,
urdi minha teia.
Embora,
com caranguejeira-alma,
me revelei a ti,
como sereia...
Tentaste resistir,
(ingênua presa !)
Mas, no entanto,
sucumbiste
ao doce
e irresistível canto !
Pouco a pouco
te enredaste
tanto... tanto ...
Até que te fosse
impossível
escapar da sina
(trágico encanto !)

Ao te perceber,
guerreiro aprisionado,
debatendo-se
entre frágeis fios prateados,
senti pena de ti.
E ainda assim parti,
sem ter me lamentado
pela inútil teia
e pelo tempo,
em vão, desperdiçado.
Nada deixei de mim,
nem uma gota de lágrima
ou de sangue.
Nada levei de ti,
nem a saudade
do instante sublime
dos amantes...


*************************
Medo

Quase sempre me bate
um medo danado de morrer.
Sumir.
Desaparecer!
Virar um sorriso congelado
de fotografia
ou um nome qualquer
gravado numa lápide fria.

Deixar de ser
e me tornar referência:
a filha,
a prima,
a madrinha,
a tia distante
(que trazia presentes)

Me transfigurar naquela
que trabalhava ali,
que escrevia poesia
que ninguém lia...

Pior !
Passar a ser
Quem ?
Filha de quem ?
Ninguém...

Ao se morrer,
pelo menos por respeito,
deve-se morrer para alguém.
Como tanta gente ainda viva
foi morrendo assim,
aos poucos,
pelo menos para mim.
Ainda que respirem,
que chorem, que se virem...
Que sofram, que ardam,
que se... (danem !)

Tenho um medo danado
de morrer de repente,
medo de infarto,
colapso cardíaco,
de acidente...

Morrer
sem me preparar,
sem arrumar a bagagem,
sem escovar os dentes !

Não quero chegar lá em cima
(ou lá embaixo, quem sabe ?)
despenteada,
sem cigarro,
sem isqueiro
e cometer a gafe
de perguntar ao porteiro:
- Tem fogo ?

Muitas vezes,
me dá um medo danado de morrer,
antes de ter aprendido
a viver...
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Sobre a Autora:

Henriette Effenberger, tem 53 anos, reside em Bragança Paulista-SP, é sócia pioneira da Associação de Escritores de Bragança Paulista - ASES, entidade que presidiu por duas gestões de 1998 a 2002, sendo atualmente sua Diretora de Eventos. É também membro da Rebra-Rede de Escritoras Brasileiras. Romancista, cronista, contista e poetisa, participou e foi premiada em inúmeros concursos literários nacionais. Foi membro de várias comissões julgadoras de concursos literários, entre eles o Prêmio Escriba, promovido pela Secretaria de Cultura de Piracicaba. Colaborou como cronista no jornal Bragança - Hoje e na Revista Qualidade de Vida, ambos editados em Bragança Paulista. Atualmente dedica-se à supervisão editorial de livros editados pela ASES e por seus autores e preside a Comissão Municipal de Incentivo à Cultura, em Bragança Paulista. É co-autora do romance A Ilha dos Anjos, escrito em parceria com Maria Dulce N.K.Louro, editado em 2002, pela Editora Degaspari, de Piracicaba-SP. Está se preparando para a edição de um livro de contos e um de poesia.
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Fontes:
Portal CEN. http://www.caestamosnos.org
Fotomontagem: José Feldman

A. A. de Assis (Por um beijo)

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades que trago do chão de onde venho,
as promessas que eu faço, piedoso, ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança, que insisto em manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!

Paulo Roberto Bornhofen (Histórias de um mundo assombrado)

Um amigo me contou que em sua aldeia, os pais, para assustarem as crianças, contavam a história de um mundo assombrado. A história orbitava em torno do eterno combate entre o bem e o mal, as forças da luz contra as das trevas, como em toda cultura. Mas naquela aldeia eles encontraram uma forma mais assustadora, ainda, de dar vida ao tema. Vamos a ela.

Cai a noite. As criaturas nefastas, ligadas ao maligno, se reúnem. A cidade calma prepara-se para mais uma noite tranqüila de descanso. Mas as pessoas não sabem o que as espera. Não passa pela cabeça, do mais simplório ao mais audaz dos chefes de família, e das demais pessoas que trabalharam e trabalham diariamente para ganhar seu sustento, o que está por vir. As famílias já estão reunidas, muitos já fizeram sua refeição noturna e estão se retirando para o repouso após um árduo dia na labuta. Labuta esta que irá proporcionar-lhes, ao final do mês, uma retribuição financeira para que o seu sustento esteja garantido por mais um mês, para os mais afortunados, ou pelo período que der, para a grande parte deles. A ampla maioria procura formas de aumentar esta retribuição financeira para terem um pouco mais de dignidade. Uns se entregam a mais horas de trabalho na mesma atividade, outros buscam uma segunda atividade, porém, tudo dentro de uma dignidade. Mas as criaturas nefastas não. Estas buscam formas menos dignas, na verdade, totalmente indignas para verem aumentada sua participação no quinhão. Obviamente, sem aumentarem o tempo que deveriam dedicar-se à sagrada arte do trabalho. O quinhão, disse esse meu amigo, era o que os aldeões eram obrigados a pagar às criaturas. E que as criaturas eram um pequeno grupo de aldeões que estavam a serviço do lado negro da força.

Tudo estava preparado, seria naquele dia e na calada da noite. As criaturas da noite começam a chegar. Para não chamarem muito a atenção, reúnem-se, quase que em segredo e tramam o pior. Algumas destas criaturas se assustam com a vilania da maldade que lhes é apresentada, temem pela forma como os da aldeia, que deveriam representar, irão receber a notícia. Outros, sem se importarem, sem darem a mínima para os aldeões, seguem em frente com seu intento e tratam de convencer os demais a aceitarem.

O tempo vai passando e quando as trevas da noite lançam suas sombras sobre o casario do belo vale, o castelo, agora transformado em covil, entra em ebulição. É um frenesi, algo semelhante ao de um cardume de piranhas quando estão a devorar sua presa. Outros, pelo movimento que fazem, lembram mais o giro da morte executado pelos jacarés quando arrancam grandes nacos de suas presas. Há, ainda, os que lembram mais o ritual de crueldade perpetrado pelo grande tubarão branco, que de posse de sua vítima brinca com ela antes de devorá-la. Para os mais criativos, ou nem tanto, o espetáculo lembrava mais aquele que minúsculos seres alados, conhecidos como moscas, estabelecem quando se banqueteiam em fedorentos exemplares de material orgânico em decomposição, conhecidos como bolo fecal.

Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir garantem que foi um espetáculo dantesco, triste mesmo. Chegaram a compará-lo com as cenas degradantes que tomam lugar quando populações em situação famélica se atiram contra qualquer coisa que possa lhes encher o bucho e aplacar um pouco sua fome. E vão mais longe ao afirmar que tão grotesca era a cena, que levaria às lágrimas aqueles de estômago mais sensível.

Tudo pronto, tudo preparado, as artimanhas funcionaram como nunca, os sortilégios do lado negro da força mostraram todo o esplendor de sua força e o golpe fulminante foi lançado contra a dignidade de todo um povoado. Quando os primeiros raios do sol fizeram repousar as trevas da noite, o mal, através dos maus, triunfara. Os senhores vis, as criaturas nefastas, que na verdade deveriam representar os interesses dos demais, quem sabe inspirados em Lúcifer, dançavam a dança da vitória. E o povo mais uma vez constatou o desprezo que lhes dedicava a horda de perversos. De forma escancarada eles haviam aumentado a sua cota de participação no quinhão. Mas os aldeões não se deram por vencidos. Protestaram e fizeram chegar sua indignação, sua revolta ao grande líder, que chamou as criaturas nefastas e negociou a paz, desfazendo momentaneamente o mal e resgatando a dignidade dos aldeões.

Nesta história, mesmo que de forma momentânea o mal triunfou. Ainda bem que é apenas uma história para assustar criancinhas. Mas é bom ficar atento, pois nunca sabemos as formas com que as forças do mal, do perverso, podem se manifestar. Lá, na aldeia do meu amigo, esta história é transmitida de geração em geração, para que os aldeões nunca se esqueçam do perigo a que estiveram submetidos naqueles longínquos dias, mas que continua a pairar sobre eles, espreitando, aguardando o melhor momento de voltar e fincar suas garras vis na dignidade da aldeia. Até hoje eu ainda me arrepio e chego a suar frio só de imaginar que isto possa um dia voltar a se materializar, mesmo que seja lá, naquele vale remoto, em que está localizada a aldeia do meu amigo.

Blumenau, 29 de junho de 2008.

Fonte:
Enviado por Iara Melo, do Portal CEN. http://www.caestamosnos.org/

Paulo Roberto Bornhofen (Era uma vez... )

Era uma vez, nos primórdios da humanidade, quando o ser humano, ou simplesmente bicho homem para os mais íntimos, começou a se desenvolver em comunidades.

Naquele tempo, hordas de arruaceiros e desordeiros se organizaram e espalhavam o terror por todos os cantos da terra, eram os homens maus. Para se defenderem, os homens bons, também se organizaram. Mas, os chamados homens bons, se organizaram em dois tipos de comunidades: a comunidade dos que mandavam, e a comunidade dos que eram mandados. Os que mandavam ofereceram proteção aos que eram mandados, mas em troca cobraram-lhes uma contrapartida financeira. Os que eram mandados, como sempre faziam, aceitaram. Não só aceitaram pagar pela segurança como ofereceram seus filhos para comporem um sub grupo que seria encarregado da tal segurança. Estes encarregados da segurança não chegaram o formar um novo grupo, ficaram vagando no limbo entre um e outro, por isso foram tratados de sub grupo, tanto pelo grupo dos que mandavam, como pelo grupo dos que eram mandados, e sendo assim passaram a não se identificar com nenhum deles. Quando iam prestar segurança ao grupo dos mandados, não se identificavam com estes, pois estavam cumprindo ordens do grupo dos que mandavam. Quando estavam com o grupo dos que mandavam não eram identificados por aqueles, pois não mandavam, apenas executam o que lhes era mandado. Este sub grupo ficou conhecido como aqueles do limbo. E, assim foi evoluindo a humanidade.

Com o passar dos tempos, o grupo dos que mandavam passou a usar o sub grupo do limbo para sua própria segurança e abandonaram o grupo dos que eram mandados a sua própria sorte. Vendo isso, o grupo dos homens maus se aproveitou e tomou o grupo dos que eram mandados. O grupo dos homens maus gostou tanto da nova situação, da nova ordem, que viu que poderia substituir o grupo dos que mandavam e se tornar um novo grupo, o grupo dos homens maus que mandavam. Mas para angariar o apoio do grupo dos que eram mandados, resolveram que eles, os homens maus que mandavam, iriam dar proteção ao grupo dos homens que eram mandados. Como o grupo dos que eram mandados já estavam acostumados a serem mandados e tinham sido abandonados pelo grupo dos homens que mandavam, aceitaram, mesmo sem saber contra quem era essa proteção. Mas, fazer o que, se eles sempre foram mandados.

Não se dando por satisfeito, o grupo dos que mandavam, para mostrar que continuavam mandando, vez por outra, mandavam que o sub grupo do limbo fizesse incursões contra os homens maus que agora mandavam. Mas como os homens maus que agora mandavam estavam misturados com os homens que eram mandados, era comum o sub grupo do limbo atingir os homens que eram mandados, e estes passaram a se revoltar contra o grupo dos que mandavam e seu sub grupo do limbo.

O grupo dos homens maus que agora mandavam entendeu que como o sub grupo do limbo era usado sem respeito pelo grupo dos que mandavam, poderiam, através de uma compensação financeira, angariar homens do sub grupo do limbo para seu lado. E assim, o grupo dos que eram mandados se viu diante de uma situação difícil. Todos mandavam neles e todos cobravam deles e o sub grupo do limbo não mais lhes dava proteção.

Vendo a aflição dos integrantes do grupo dos que eram mandados, alguns do sub grupo limbo resolveram agir por conta própria, e ganhar “um” por fora. Formaram um outro tipo de organização que ficou conhecida por todos como aqueles que fazem o que não fazem os que deveriam fazer e ofereceram segurança ao grupo dos que eram mandados, contra o grupo dos homens maus que agora mandavam. Na esperança de terem sua tranqüilidade de volta, aceitaram. Assim o grupo dos que eram mandados agora pagava ao grupo dos que mandavam, ao grupo dos homens maus que agora mandavam e àqueles que fazem o que não fazem os que deveriam fazer. Pagavam cada vez e tinham cada vez menos.

Para não perder o poder, o grupo dos que mandavam, e que eram homens bons, mandaram outra organização para defender os que eram mandados. Essa organização era especial, tinha mais equipamentos, mais armamentos e eram treinados para defender a todos contra agressões do que se chamou de agressões externas, e ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo.

Quando soube disso, o grupo dos que eram mandados ficou muito contente, pois agora iria ter a sua tranqüilidade, aquela que fazia tanto tempo que havia perdido, pois é, ela seria trazida de volta. Pelo serviço dos que eram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, o grupo dos que eram mandados não precisaria pagar mais nada, era tudo tão maravilhoso. Finalmente eles poderiam dizer que todos seriam felizes para sempre.

Mas, não foi bem assim. Num determinado dia, um grupo dos que eram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, vendo que não podia nada e não fazia nada, pegou alguns integrantes do grupo dos que eram mandados e entregou para o grupo dos homens maus que agora mandavam. Já que eles eram homens maus, mesmo agora mandando, eles mataram estes integrantes do grupo dos que eram mandados e jogaram seus corpos no lixo, como a dizer que lá era o lugar daqueles que faziam parte do grupo dos que eram mandados.

Assim se instalou uma crise geral. Para resolvê-la, o grupo dos que mandavam, já que mandavam, mandou o chefe maior daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada para conversar com o grupo dos que eram mandados. Assim se fez, mas não sem antes encherem o lugar em que habitava o grupo dos que eram mandados, de integrantes daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada, de seus equipamentos e seus armamentos. Fizeram isso, não para proteger o grupo dos que eram mandados, mas para proteger o chefe daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada. Ele iria dar uma resposta ao grupo dos que eram mandados. Quando lá chegou, o chefe foi indagado por uma daquelas que era integrante do grupo dos que eram mandados, sobre a morte de um de seus integrantes, seu ente querido. O chefe daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada, disse: morte! Pois é, morreram, mas eu estou aqui, e vim aqui para isso: para pedir desculpas!

A narrativa acima faz parte de um grupo de pergaminhos deixado por uma civilização extinta. O lugar e as condições em que os pergaminhos foram encontrados são mantidos em segredo, bem como o seu conteúdo. Comentários dão conta de que nos pergaminhos está escrito de que forma essa civilização foi extinta, por isso tanto segredo. Nem mesmo a narrativa acima deveria ter sido publicada, mas um amigo do primo do cunhado do irmão do tio de uma pessoa que é muito ligado ao colega do namorado de um amigo meu, conseguiu uma cópia e me mandou. Havia ainda uma informação sobre o local onde tudo isso ocorreu. Estava escrito que era um lugar lindo, com uma maravilhosa baía e alguns morros esplendorosos, e que para saudar os visitantes o grupo dos que mandavam fez construir uma estátua que de braços abertos dava boas vindas aos visitantes. Falam ainda que existem esforços no sentido de identificar essa civilização perdida, sua época e o local em que viveram. Outros dizem que tudo não passa de lenda, fruto da imaginação de alguém. Quem sabe? Só o futuro dirá!

Blumenau, 19 de junho de 2008.
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Paulo Roberto Bornhofen
Escritor, poeta e cronista.
Integrante da Sociedade Escritores de Blumenau e da Academia de Letras Blumenauense.
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Fonte:
Portal CEN.
http://www.caestamosnos.org/

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Fernanda Coutinho (Infância querida De Dickens a Molnár, de Graciliano a Ariès, dez autores tratam da vida das crianças)

A infância é um tema antigo, existe desde a literatura grega, com uma ressalva, porém: até antes do século XIX, de modo geral, os narradores apressavam o passo nos relatos infantis da vida das personagens. Que autores fizeram obras em que a criança se situa no centro dos acontecimentos, e em que a descoberta do mundo aparece como a grande aventura a ser narrada?

Charles Dickens, que ajudou a firmar o tema da infância como um forte componente dos relatos romanescos no século XIX, é um deles. Em Grandes esperanças (1861), expõe, através de Pip, a fértil imaginação da mente infantil, ao mesmo tempo que revela o dilema da criança diante da linguagem cifrada do mundo adulto.

A “infância dolorosa” tornou-se de fato um mito literário por esse tempo. Há ainda romances autobiográficos que reprisam a questão, como o de Jules Renard, Foguinho (1894), que mostra o protagonista como bode expiatório da mãe, que o submete a duras provas de aprendizagem da solidão e do medo. O imaginário sobre a infância também é alimentado pela figuração de crianças em grupo, como em Os meninos da rua Paulo (1907), novela, de inspiração autobiográfica, do húngaro Ferenc Molnár, na qual é relatada a briga de dois grupos por um troféu muito particular: um terreno baldio, em uma ainda acanhada Budapeste. Entendido como um espaço de liberdade, o lugar simboliza a ânsia de evasão própria da criança, e, assim, o livro tornou-se um clássico para inúmeras gerações – um modelo de memória de travessuras.

Em uma seleção de textos sobre a infância, nem por artes de abracadabra poderia faltar Reinações de Narizinho (1931) que, além de Lúcia e Pedrinho, conta com a disposição da sapeca Emília, para virar o mundo pelo avesso, à semelhança do que preconiza o espírito curioso da criança. Súmula do trabalho de Monteiro Lobato, no intento de reinventar a criança brasileira, dotando-a de um acervo de títulos literários capaz de tomá-la como parâmetro de si mesma e não apenas como projeto de um futuro adulto.

Há também registros alegóricos como O pequeno príncipe (1943), de Antoine de Saint-Exupéry. Um dos maiores méritos do frágil principezinho, famoso personagem da literatura de todos os tempos, até mesmo pelas célebres ilustrações do livro, é atenuar a imagem da criança como eterno aprendiz, mostrando-a, isso sim, como alguém dotado de uma sabedoria particular, cuja complexidade nem sempre é atingida pelos adultos.

Uma outra forma de apresentação da temática tem sido o texto de memórias, tal como em Infância (1945), de Graciliano Ramos. No livro, o escritor recorda, sem saudades, mas de modo comovido, o áspero cotidiano das crianças em um Brasil arcaico, movido a gritos e açoites – rudezas que denotam o desconhecimento da criança como indivíduo, salvo algumas raras brechas de ternura. Ainda no terreno das memórias, é importante a referência às de José Lins do Rego, Meus verdes anos (1953), que expõem a forte ambigüidade da narração na aparente sugestão idílica do título. No prefácio, Zé Lins, reportando-se às borboletas azuis de “Meus oito anos”, espécie de hino da infância à brasileira, conclui: “Em meu caso as borboletas estiveram misturadas a tormentos de saúde, a ausência de mãe, a destemperos de sexo”. Em 2003, Manoel de Barros publica suas Memórias inventadas: a infância, em que faz um inventário dos seres de seu tempo de menino. Desperta a atenção para o valor de relicário que empresta às coisas tidas como sem valor (rãs, lagartixas, lesmas, latas e pedrinhas).

Engana-se, porém, quem pensar que só de literatura vive a infância. Entendida como uma construção social, vem ela suscitando o interesse das ciências humanas no século XX. Philippe Ariès, ao escrever sua História social da criança e da família, colocou uma questão de base: desde quando a criança deixou de meramente espelhar o comportamento adulto?

História das crianças no Brasil é outra leitura imprescindível. Organizado pela historiadora Mary Del Priore, o livro transporta o leitor ao século XVI, quando flagra os “miúdos” chegando à Terra Brasilis provenientes de além-mar. Trata de práticas do cotidiano dos pequenos na Colônia, Império e República, até chegar às experiências bem recentes em que o trabalho nos canaviais é transferido a seus frágeis ombros.

Os dez livros
•Grandes esperanças, de Charles Dickens, Itatiaia
•Foguinho, de Jules Renard, Loyola
•Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár, Cosac Naify
•Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, várias editoras
•O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, Agir
•Infância, de Graciliano Ramos, várias editoras
•Meus verdes anos, de José Lins do Rego, José Olympio
•Memórias inventadas: a infância, de Manoel de Barros, Planeta
•História social da criança e da família, de Philippe Ariès, LTC
•História das crianças no Brasil, org. de Mary Del Priore, Contexto

Fonte:
Revista Entrelivros. edição 30 - Outubro 2007. Duetto Editorial..
http://www2.uol.com.br/entrelivros/
Imagem: Cartaz de Os meninos da rua Paulo, baseado em livro de Molnár, com direção de Zóltan Fábri, 1969

Fabrício Carpinejar (Ofício de escritor)

O escritor não é um ser de exceção, fora de série. Não representa um semideus. Empurra o carrinho de supermercado como qualquer um. Por ser tão prosaico é capaz de observar a normalidade de um jeito especial, de se importar com a banalidade e se identificar com o que é descartado.

Escrever é um trabalho solitário, mas a solidão não pode ser blindada pela arrogância. Deve ser uma solidão generosa, que abre sua varanda para as dúvidas, inquietações, diferenças e perplexidades de seus contemporâneos.

Infelizmente a mistificação e a autosuficiência consolidaram o equívoco de que o escritor não depende de mais ninguém, a não ser do talento e da inspiração. E não bastam as críticas para avisar de caminhos possíveis. As resenhas desfavoráveis são classificadas de mal-intencionadas. As positivas reforçam o narcisismo. A impressão é que o escritor nasce pronto e fechado. Na verdade, não ambiciona nem o elogio, e sim a bajulação.

Percebo uma passionalidade no meio autoral. Ou estão comigo ou contra mim. Não se encontra rua intermediária entre adesão e aversão. Faltam equilíbrio, humor e autocrítica, sobram pose e sectarismo. O escritor não consegue imaginar o leitor refugando seu livro. Até imagina, mas não suporta a idéia de não ser um futuro clássico. Não agüenta a hipótese de não ser lido simplesmente por não dar prazer, o que é uma justificava e tanto. Botou na cabeça que a unanimidade o espera. Adota uma postura extremista e autoritária. Confunde leitura obrigatória com leitura obrigada. Quem não gosta do que ele escreve é naturalmente um inimigo. Quem gosta é um aliado. Ao constatar resistência ao seu nome, o escritor insinua boicote e perseguição. Culpa a distribuição e a editora, não se envergonha de remanejar seu livro para a gôndola mais visível. Quando não recebe um prêmio, logo pensa que é um injustiçado, que o júri foi comprado, que é um jogo de cartas marcadas, que só funciona o lobby.

Uma tática para se proteger do confronto e do julgamento é avisar que somente o tempo definirá o valor do que se escreve. Ora, não dá para ficar calado até lá, durante no mínimo meio século.

Se o escritor entra na lista dos mais vendidos, é acusado pelos seus colegas de facilitar o trabalho, de piorar seu conteúdo e sua forma de expressão. Recebe a tarja de auto-ajuda, independente do gênero de sua publicação. Pena que a inveja não mata, seria muito mais fácil e um eficiente controle de natalidade na literatura.

A imagem de artista incompreendido e marginal ainda persiste e provoca sucesso nos coquetéis. Os escritores aceitos pela opinião pública parecem que não prestam ou não desfrutam de competência literária. Desde quando o público não é também crítico? Por que se condena o sucesso alheio como se fosse causar infelicidade? O sucesso do outro não nos diminui, não apaga a nossa trajetória, não fecha nossas chances. Verifica-se uma limitação de mentalidade que inspira a enxergar o escritor com êxito como a exclusão do próprio êxito.

Associa-se a cultura ao hermetismo e à privação de comunicação. Grande parte dos literatos quer ser Joyce, sem ao menos ler Balzac. Pensa-se que o experimentalismo não está sustentado pela tradição. Há a crença equivocada que o gênio não será entendido pela sua época. Muito menos sobreviver de seu ofício. Sempre surgirá alguém que acha a orelha de Van Gogh no seu jardim, a lembrar que o pintor não vendeu um quadro em vida. É regra afirmar que pouco importa a opinião dos outros. O que aparenta independência disfarça o egoísmo. É possível ser autodidata com as virtudes, não com os defeitos. O escritor não pode demonstrar fobia ao diálogo e receio de ser contestado. São premissas da convivência escutar o que não se quer, aprender o que não se desejava, duvidar do que se julgava pronto. Conviver é cultivar o dessemelhante, o contrário, o contraponto.

Acredito que o autor verdadeiramente vivo se importará com a recepção dos leitores, em ser legível e carnal. Mudará inclusive sua voz ao ouvi-los. Essa atitude não significa submissão ao mercado ou ânsia de agradar, mas humildade e despojamento. Ele não estará escrevendo para as gavetas da escrivaninha e do cemitério, escreverá para prolongar o impacto da vida e organizar sua verdade pessoal.

Defendo que o escritor seja influenciado pelos leitores. Cada vez mais. O livro não muda os leitores, os leitores é que mudam o livro. Os leitores devolvem o escritor a si mesmo.

Fonte:
Revista Entrelivros -edição 11 - Março 2006. Duetto Editorial..
http://www2.uol.com.br/entrelivros/

Thereza Myrthes Mazza Maziero (Poesias: Queixa de Mulher - Náufragos em Sol Maior - Idade Média - Canção para uma Rosa - Trovas Diversas)

Queixa de Mulher

De tudo o que mais preciso,
se queres mesmo a verdade,
é de um cálice de risos
e um prato fundo de amizade...
De dois dedinhos de prosa,
de um pires de companhia,
de uma palavra carinhosa
e uma braçada de alegria.
De uma pontinha de afeto,
de paciência um tantão!
Do meu doce predileto
e de uns afagos na mão.

De umas gotas de carinho
e um pouco de afinação.
De um copo cheio de vinho
e de um punhado de atenção...
De um brinde em copos cruzados
e um gesto de gentileza.
De alguns raminhos de agrado
para enfeitar minha mesa.
Quero uns pingos de cuidados
e que não sejas tão ausente!
o resto... deixa de lado,
que eu vou tocando o batente!


Náufragos em Sol Maior

Num barco bêbado, em irado mar,
Naufragamos sem dó nossos destinos.
Espreitamos a noite então chegar,
Sobrevivendo a tantos desatinos

Não sabemos do onde, nem do quando,
Tragando a vastidão que nos invade.
Somos dois náufragos que vão boiando,
Indo de tempestade em tempestade.

E enfrentando a tormenta que nos ronda,
Sedentos a esbanjar o próprio pranto,
Que seca por si mesmo e nos abrasa,

Vamos sorvendo a solidão das ondas
Por trilhas pálidas de espuma e espanto,
Seca de sal a boca e olhos em brasa

Idade Média

Estou chegando à idade
bem em plena idade média,
no meio da tempestade,
tempo de tragicomédia.

Estou chegando à idade,
naquela idade careta,
de ver sempre a "coisa preta"
e nem tentar reagir.

Naquela idade inquietante,
se alguém me olha galante,
penso logo que é assaltante,
vou tratando de fugir.

Estou em plena idade média,
idade tão corrosiva,
de ter carência afetiva,
com um pé adiante, outro atrás.

Naquela idade "danada"
que não se fica, nem vai.
Idade do "tudo ou nada".
Idade em tudo que cai.

Estou em plena idade média,
idade de pisar fundo,
de se soltar toda a rédea
e pôr a boca no mundo.

Idade em que nada espanta,
de preferir noite ao dia,
de disfarçar as pelancas
e de esconder as estrias.

Idade em que "Inês é morta".
De não precisar fingir.
De não se fechar a porta
à hora de se dormir.

Idade de pouco assédio,
nenhuma chuva na horta.
De coquetéis de remédios
e de cuidar mais da aorta.

De "inativo" ser tachado.
Idade em que o peito chia.
De ser deixado de lado,
qual "coisa" sem serventia.

Idade em que não há regras
nem se pôr mais fé no taco.
De abandonar a refrega,
meter a viola no saco.

Idade de efeito e causa,
das ondas de calorão.
Da "menô" ou "andropausa"
e da "terceira dentição".

Idade em que tudo desce
e de muita confusão,
em que o ardor arrefece,
em que só sobe a pressão.

Idade em que tudo é mole.
Idade em que o fogo esfria.
Se correr o "bicho" encolhe.
Se ficar... o "bicho" arria!

Canção para uma Rosa
(Dedicado a Célia Aparecida Rosa)

Mulher sólida,
insólita, insolvível.
Una, duna,
trina coluna.
Lucidez que queima
e que ilumina.
Perseverança.
Mãos pródigas,
invisíveis,
derramando bem-aventurança.
Coração singelo,
ternura mansa.
Não importa o que aconteça.
Na cintilância de seus gestos
permaneça... permaneça...

Trovas

Tema : Trabalho

Muita gente desvalida,
Que labuta como mouro,
Vive a escutar na vida
Que o trabalho vale ouro

Tema: Sabedoria

O sábio é um degustador
Degusta a sabedoria
"Carpe diem" com fervor
Bebe a luz que ele irradia

Tema : Felicidade

Depois de uma tempestade
E a paz volta a florescer,
Sinto a felicidade
De um cego que volta a ver

Tema: Nau

1° lugar (UBT – Taubaté/Roseira)

Minha paixão malograda
Sufocada entre segredos
É como nau destroçada
Batendo contra os rochedos

Tema: Fraternidade

Quem semeia entendimento
Jamais colhe tempestade
Esparrama aos quatro ventos
Flores de fraternidade

Tema: Mico

1- Um dia paguei um "mico"
Escorreguei no salão
Não sei se encolho ou se fico
Estatelada no chão

2- Eu sempre fiz m"macaquice"
Mas "mico" não pago não
Existe coisa mais triste
Que dar "topada" no chão?

Tema : Saudade

1- Saudade é como cebola
Que se descasca a chorar.
Mas toda mulher que é tola,
Vive a cebola a cortar

2- Saudade é como ferida
Que se vive a cutucar,
Se se curte pela vida,
Sem quer vê-la fechar.
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Sobre a Autora:
Thereza Myrthes Mazza Maziero, pedagoga, declamadora e poeta, nasceu em Lorena (SP), mas mora em São José dos Campos (SP). Tem poemas publicados em jornais e revistas, sendo detentora da medalha "Cassiano Ricardo" concedida pela Câmara Municipal daquela cidade. Leciona na UNIVAP (Universidade do Vale do Paraíba). "Idade média" consta do livro "Mulheres de São José - Antologia Poética", pág. 89, edição dos autores organizada por Celso de Alencar.

Fontes:
Diário LAC - Literatura, Artes e Cultura.
http://www.diariolac.com.br/
http://www.releituras.com/
http://www.culinariapoetica.com.br/
http://www.mauxhomepage.com/

Myrthes Mazza Mazziero (Mingau Cara-de-Pau)

Era uma vez, só uma vezinha
um gatinho chamado “Mingau”
Tetê, a sua doninha,
achava que ele era “o tal”.

Mingau era lindo e fofinho.
não tinha a cara de mau.
mas bela era só a carinha,
era bem bravo o Mingau!

Caçava os passarinhos
que ciscavam no quintal.
um dia sumiu o Mingau;
fugiu de casa sozinho.

Passaram-se os dias, semanas,
e nada do Mingauzinho.
e por falta do bichano
Tetê ficou dodoizinha.

Tetê, chorava, buscava,
chamando pelo Mingau.
mas do gatinho malvado,
não havia nem sinal.

Quando menos esperava,
à noite, enquanto dormia,
ouviu um miado que miava
que lá do sótão, saia.

Tetê, voou pela escada
e lá estava seu Mingau.
sozinho? ora que nada!
que grande cara-de-pau!

Não quis viver mais sozinho,
trouxe junto a namorada!
era uma vez dois gatinhos
agora, há uma “ninhada”!

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cidade de Sorocaba - 354 anos

Em Homenagem aos 354 anos de Sorocaba (SP), contamos a sua história.


Fundação 15 de agosto de 1654

Sorocaba é um município brasileiro do estado de São Paulo. Localiza-se a 23º30'06" de latitude sul e 47º27'29" de longitude oeste, a uma altitude de 601 metros. Possui uma área de 456,0 km², sendo 249,2 km² de área urbana e 206,8 km² de área rural. Sua população estimada em 2007 é de 559.157 habitantes.

É o terceiro município mais populoso do interior paulista e o quarto mercado consumidor do estado fora da região metropolitana da capital, com um potencial de consumo per capita anual estimado em 2,4 mil dólares para a população urbana e 917 dólares para a rural (7,2 mil pessoas), e a vigésima nona cidade brasileira com maior potencial de consumo.

História

Sorocaba pré-histórica

As bases físicas sobre as quais se encontra o município começaram a ganhar forma há milhões de anos, com a definição geológica da bacia do rio Sorocaba, na chamada depressão periférica. Nela desponta como destaque o morro do Araçoiaba, pólo magnético regional, cercado pelas milenares trilhas indígenas do Peabiru, o caminho transul-americano, que ligava os oceanos Atlântico e Pacífico. Ao longo dele, os primeiros habitantes da região, os indígenas ainda na fase do nomadismo, construíram suas aldeias.

Às margens do rio Sorocaba habitavam os tupiniquins, do grupo tupi. Documentos residuais são encontrados acidentalmente, de tempos em tempos, sob a forma de urnas funerárias e objetos de pedra lascada e polida. Os incas e os índios brasileiros praticavam o comércio entre si, realizando-se as trocas entre grupos das mais diferentes regiões.

Durante escavações efetuadas para a instalação do sistema de esgoto em fevereiro de 2006 encontraram-se pedaços de cerâmica rústica a cerca de dez quilômetros do centro da cidade, no bairro Brigadeiro Tobias.

A Árvore Grande

Na época do desbravamento do Brasil, existia na região apenas uma encruzilhada destacada por uma frondosa paineira, que ainda hoje encontra-se no bairro batizado como Árvore Grande. Encontravam-se ali: índios, sertanistas, tropeiros e bandeirantes em viagem para descanso e comercialização.

O pelourinho

Os Bandeirantes passavam por esta região quando iam para Minas Gerais e Mato Grosso a procura de ouro, prata e ferro. Em 1589 o português Afonso Sardinha esteve no morro de Araçoiaba, à procura do ouro mas não encontrou, encontrando minério de ferro. No local, neste ano, Afonso Sardinha construiu a primeira casa da região, que deu origem à fundação da Vila de Nossa Senhora da Ponte de Monte Serrate, mudando-se para a Vila de São Filipe no Itavuvu em 1611.

Por ordem do então governador-geral do Brasil (período entre 1591 e 1602), Dom Francisco de Sousa, foi inaugurado o pelourinho (símbolo do poder real) na Vila de Nossa Senhora da Ponte de Monte Serrate no morro de Araçoiaba em 1599.

Terra rasgada

Após o retorno de D Francisco à corte, o capitão Baltasar Fernandes instalou-se na região em 1654 com a família e escravaria vindos de Santana de Parnaíba nas terras que recebeu do rei de Portugal. Fundou então, a 15 de agosto de 1654, um povoado com o nome de Sorocaba.

Sorocaba vem do tupi “soroc” (rasgar) e “aba”, morfema nominalizador. Assim, Sorocaba significa “rasgão” ou “terra rasgada”. A palavra tupi entra também em Vossoroca, bairro de Votorantim.

Para incentivar o povoamento, Baltasar Fernandes doou terras aos beneditinos de Parnaíba para que estes construíssem um convento e uma escola, para funcionarem como um centro gerador de cultura.

O povoado foi elevado a município no dia 3 de março de 1661, passando a chamar-se Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba e na ocasião, foi instalada a primeira Câmara Municipal.

Até então, a principal fonte de renda era o comércio de índios como escravos. A partir do século XVII, foi gradativamente substituída pelo comércio de mulas.

O ciclo do tropeirismo e a feira de muares

O coronel Cristóvão Pereira de Abreu, um dos fundadores do estado do Rio Grande do Sul, conduziu pelas ruas do povoado a primeira tropa de muares no ano de 1733, inaugurando o ciclo do tropeirismo.

Sorocaba tornou-se um marco obrigatório para os tropeiros devido a sua posição estratégica, eixo econômico entre as regiões Norte, Nordeste e Sul. Com o fluxo de tropeiros, o povoado ganhou uma feira onde os brasileiros de todos os Estados reuniam-se para comercializar animais, a Feira de Muares.

Este fluxo intenso de pessoas e riquezas promoveu o desenvolvimento do comércio e das indústrias caseiras, baseadas na confecção de facas, facões, redes de pesca, doces e objetos de couro para a montaria.

Sorocaba pertenceu à comarca de Itu desde 1811 até a criação da comarca de Sorocaba em 30 de março de 1871.

A diocese foi criada em 1924 e suas atividades começaram em 1925.

A Estrada de Ferro Sorocabana

Com a inauguração da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) em 1875, indústrias têxteis de origem inglesa instalaram-se na cidade, tornando-a conhecida como a Manchester Paulista. Posteriormente, com a decadência a atividade têxtil na cidade, foi necessária a instalação de outros tipos de indústrias. A partir da década de 1970 o parque industrial foi diversificado.

A industrialização

O declínio da indústria têxtil fez com que a cidade buscasse novos caminhos e, a partir da década de 1970, diversificou o seu parque industrial, hoje com mais de 1.450 empresas, entre elas algumas principais do país. O parque industrial de Sorocaba possui excelente infraestrutura de estradas, transportes públicos, rede de energia elétrica, telecomunicações, disposição de lixo, água potável, com mais de 25 milhões de metros quadrados para cerca de 1500 indústrias. As principais atividades econômicas são: indústrias de máquinas, siderurgia e metalurgia pesada, autopeças, indústrias têxteis, equipamentos agrícolas, químicas, petroquímicas farmacêuticas, papel e celulose, produção de cimento, energia eólica, eletrônica, ferramentas, telecomunicações entre outras e se tornou uma cidade maravilhosa, ostentando uma situação econômica muito boa.
Dentre as maiores cidades do Brasil (em população), Sorocaba está em 29º lugar.
Já dentre as maiores cidades de São Paulo (em população), Sorocaba está em oitavo lugar, perdendo apenas para São Paulo (10.886.518), Guarulhos (1.236.192), Campinas (1.039.297), São Bernardo do Campo (781.390), Osasco (701.012), Santo André (667.891), São José dos Campos (615.948).

Bandeira de Sorocaba

Bandeira de Sorocaba, em forma retangular, é dividida por uma diagonal no seu canto superior esquerdo ao canto inferior direito, sendo o campo superior em amarelo-ouro, significa riqueza, a força e a fé inquebrantável dos sorocabanos de todos os tempos, bem como a pureza e a constância que temos no trabalho construtivo, em todos os setores da atividade humana.

O campo inferior, em vermelho, simboliza o valor e a intrepidez das muitas bandeiras sorocabanas que daqui se foram, com ânimo valoroso e espírito decidido, em procura de glórias, alargando os horizontes da Pátria, plantando cidades, semeando o progresso. As duas faces da Bandeira devem ser exatamente iguais, sendo vedado fazer uma face como avesso da outra.

O Brasão da Cidade, ao centro, simboliza todos os aspectos e feitos históricos de Sorocaba nele invocados, como a coroa mural, onde uma flor de lírio sobre a porta principal relembra que Sorocaba foi fundada sob a invocação de Nossa Senhora da Ponte; a panóplia bandeirante, constituída por gibão de armas, um arcabuz e um machado, relembra o papel notável dos grandes bandeirantes sorocabanos, como Paschoal Moreira Cabral, Fernão Dias Falcão, os irmãos Paes de Barros, Miguel Sutil e outros; os cavalos heráldicos relembram as feiras de muares que foram notáveis; a montanha recorda o Araçoiaba, de papel importante na história da mineração brasileira; o listão, onde está a divisa "PRO UNA LIBERA PATRIA PUGNAVI" (Pugnei pela Pátria Una e Livre), é alusão ao preponderante papel de Sorocaba com as feiras de muares, na manutenção da unidade nacional e a revolução liberal de 1842; a roda dentada localizada sobre o listão, recorda a importância da grande indústria sorocabana.
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Brasão de Sorocaba
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Na parte superior do escudo bi-partido, a panóplia composta do gibão de armas, do arcabuz e do machado pintados ao natural sobre fundo de vermelho (ou goles), relembram os grandes bandeirantes sorocabanos Paschoal Moreira Cabral, Fernão Dias Falcão, os irmãos Paes de Barros e tantos mais.

A parte inferior relembra a primitiva mineração do ferro, a primeira que se realizou no Brasil, nos arredores de Sorocaba, no morro do Araçoiaba - uma montanha negra (ou sable) sobre fundo de ouro. Os suportes do escudo, os dois unicórnios que são os cavalos heráldicos, recordam as feiras de muares (1733 - 1897) que tão notável papel representaram para a conservação da unidade nacional no sul do Brasil.

O pequeno escudo com a flor de lírio sobre a porta principal da coroa mural, lembra que a cidade tem por orago Nossa Senhora da Ponte. A divisa "Pro Una Libera Patria Pugnavi" ou "Pugnei pela Pátria Una e Livre" recorda o papel de Sorocaba pelas feiras de muares e ainda a parte que tomou nos acontecimentos da independência, como a criação do Batalhão de Sorocabanos, e outros fatos relativos ao pendor de Sorocaba pela implantação da liberdade no Brasil. A roda dentada estampada no listão, lembra a notável preeminência obtida em nossos dias pela indústria sorocabana.

HINO DE SOROCABA

O canto como forma de exteriorização de sentimentos, sempre levou os poetas a exalar, em seus versos, os valores e a grandeza de sua terra. Confirmando a importância de um Hino Oficial de Sorocaba, o saudoso Prefeito Dr. Armando Pannunzio, autor do Decreto que o instituiu, assim expressou: "Dotar o Município de um Hino Oficial é tão importante como conferir-lhe um brasão de armas ou de uma bandeira".

Até então, 03 de agosto de 1975, Sorocaba não possuía um Hino Oficial, apesar de algumas tentativas nesse sentido.

A partir daí, até hoje, transcorreu toda a História do Hino.

Exatamente naquele dia, 03/08/1975, após convite formulado pelo então Prefeito Dr. Armando Pannunzio, o ilustre Prof. Benedito Cleto apresentou uma "sugestão de letra", a qual foi recebida com gratidão e aplausos. O Prof. Benedito Cleto, por sua vez, solicitou à Profa. Ruth Camargo Fernandes que compusesse a música para sua poesia, o que foi feito. Com apenas doze dias de letra e música compostos, o Hino foi cantado pela primeira vez no dia 15 de agosto de 1975, defronte ao busto de Baltasar Fernandes, pelas crianças do Insitituto Matheus Maylasky, onde lecionava a autora da música, que o regeu. O mesmo ocorreu pela segunda vez, em 15 de agosto de 1976, naquele local.

Ao contrário do que se possa pensar, o "Hino de Sorocaba", antes de oficializado foi cantado inúmeras vezes, sob regência da Profa. Ruth Camargo Fernandes, no "I.E.M.M.", com seu Coral Infantil, Normalistas da Escola Municipal de 1º e 2º graus "Dr. Getúlio Vargas", Escola Industrial "Dr. Fernando Prestes" e várias escolas estaduais, não só sob sua reg6encia como também de muitas outras, destacando-se a Maestrina Martha Faustini Egg e Professoras Rosemary de Melo M. Pereira e Benedita Figueiredo, as duas últimas de saudosa memória, prestando inesquecível colaboração como forma de divulgação do mesmo.

Enquanto as apresentações do Hino eram feitas até 1976, aguardava-se pela sua oficialização, que foi objeto do Decreto nº. 2.823, de 31 de dezembro de 1976, pelo então Prefeito Dr. Armando Pannunzio.

A partir de 1978, passou a ser cantado também pelo Coral "Prof. Norberto Amaral Bastos", organizado naquele ano pela Profa. Ruth Camargo Fernandes, Este Coral sempre levou o Hino à comemorações especiais e festivas da cidade; Corporações Musicais do 7º B.C. e Carlos Gomes, executaram o Hino. O maestro Américo Mincarelli, da Polícia Militar do Estado de São Paulo é o autor do arranjo para Banda e Maestro José Carlos Siqueira autor do arranjo para Orquestra.

Em 1990 era fundado o Coral Telesp de Sorocaba e sua Regente fundadora, Ruth Camargo Fernades, também cantou até outubro de 1997, o Hino Oficial de Sorocaba. A partir dessa data e até o presente momento, esse mesmo Coral, com os mesmos elementos, acrescidos de outros e com a mesma Regente, agora sob a denominação de Coral "Art Vocal", continua entoando em várias ocasiões e momentos importantes o Hino Oficial de Sorocaba.

Sempre com o apoio de todos os Prefeitos, da Câmara Municipal, de Entidades Culturais, o Hino continua a ser cantado e tocado, principalmente pela Banda do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Letra do Hino de Sorocaba
Letra: Benedito Cleto
Música: Ruth Camargo Fernandes


I
Saudamos-te, querida Sorocaba,
Com muito júbilo e acendrado amor;
desde a selva selvagem, o índio e a taba,
teus feitos cantaremos teu valor.
Às fraldas norte da Paranapiacaba,
tu te elevas Rainha d'esplendor,
e ao pé do morro d'Ouro, o Araçoiaba,
és pioneira paulista do interior.

Ó' Sorocaba, cantamos triunfantes,
bravos, heróis, cantamos teus pioneiros;
Cidade, és filha e mãe de bandeirantes,
com muito orgulho, a "Terra dos Tropeiros".
Tu és, ó Sorocaba, uma das molas
deste grande São Paulo glorioso,
cidade do Trabalho e das Escolas,
dos Liberais de brio belicoso.
Com teus arranha-céus, ao alto evolas
todo o ideal de um povo laborioso,
e o potencial fabril que hoje controlas
é o signo de um Brasil mais poderoso.
II

Tu, Sorocaba, marchas, "pari-passu"
com tuas irmãs, ao lado das primeiras,
Marchas tu com São Paulo no compasso,
Já desde os áureos tempos das bandeiras.
Foste terra de peões, campeões do laço;
Com suas tropas, com suas famosas feiras;
hoje és comércio, indústria, torres de aço,
Tudo é teu sangue, nas veias brasileiras.

Ó' Sorocaba, cantamos triunfantes,
bravos heróis, cantamos teus pioneiros;
Cidade, és filha e mãe de bendeirantes,
com muito orgulho, a "Terra dos Tropeiros".
Pela alvorada, a orquestra dos apitos,
O operário marcha ao seu mister fabril
e os homens da palavra e dos escritos,
da ciências, em teu progresso atuantes mil;
às escolas a colher frutos benditos,
a juventude marcha varonil,
O Saber e Labor marcham contritos,
em prece a Deus, pela Pátria - Brasil.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://br.geocities.com/josemariomattos/sorocaba04.htm
http://www.vivacidade.com.br/ (imagens)
http://www.panoramio.com/ (imagem)

Fotomontagem dos 354 anos de Sorocaba: José Feldman