quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Afonso Arinos (1868 – 1916)

Afonso Arinos de Melo Franco nasceu em Paracatu (Minas Gerais), a 1º de maio de 1868. Era filho de Virgílio de Melo Franco e de Ana Leopoldina de Melo Franco. Faleceu em Barcelona, a 19 de fevereiro de 1916.

Membro da Academia Brasileira de Letras em 31 de dezembro de 1901, foi empossado em 18 de setembro de 1903.

Afrânio Peixoto assim resumiu a atuação ligerária de Afonso Arinos: "jornalista monarquista, depois contista de coisas do sertão".

Os primeiros estudos de Afonso Arinos foram feitos em Goiás, para onde fora transferido seu pai. Os preparatórios tiveram lugar em São João del-Rei no estabelecimento de ensino dirigido pelo cônego Antônio José da Costa Machado, e no Ateneu Fluminense, do Rio de Janeiro.

Em 1885, iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluído quatro anos mais tarde. Desde o tempo de estudante manifestou Afonso Arinos forte inclinação para as letras escrevendo alguns contos.

Depois de formado mudou-se com a família para Ouro Preto, então capital do Estado de Minas Gerais. Concorreu a uma vaga de professor de História do Brasil, em cuja disputa por concurso obteve o 1º lugar.

Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de Minas Gerais onde lecionou Direito Criminal.

Durante a Revolta da Armada (1893/1894), abrigou em sua casa alguns escritores radicados no Rio de Janeiro que, suspeitos de participação naquele movimento, haviam buscado refúgio no interior de Minas.

Afonso Arinos teve vários trabalhos publicados, na década de 1890, na "Revista Brasileira" e na "Revista do Brasil". Convidado por Eduardo Prado assumiu, em 1897, a direção do "Comércio de São Paulo".

Em fevereiro de 1901 foi eleito sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. No mesmo ano candidatara-se à vaga de Eduardo Prado na Academia Brasileira de Letras.

Distinguiu-se Afonso Arinos em nossa literatura como um contista de feição regionalista, fato comprovado pelos seus livros "Pelo sertão" e "Os jagunços". Escreveu, também, o drama "O contratador de Diamantes" e "O mestre de campo". Depois de sua morte foram publicados - "Lendas e Tradições Brasileiras"(1917) e "Histórias e paisagens"(1921).

Da obra de Afonso Arinos e de seu estilo escreveu Lucia Miguel Pereira:

"Possuía a qualidade mestra dos regionalistas: o dom de captar a um tempo, repercutindo nas outras, prolongando-se mutuamente, as figuras humanas e as forças da natureza".

Bibliografia
Obras publicadas:
Pelo sertão e Os jagunços, 1898;
Notas do dia, 1900;
O contratador de Diamantes, 1917;
A unidade da Pátria, 1917;
Lendas e Tradições Brasileiras, 1917;
O mestre de campo, 1918;
Histórias e paisagens, 1921;
Ouro, ouro (inacabado) e Obra Completa, introdução de Afonso Arinos de Melo Franco, 1969;
Pelo sertão, Academia Brasileira de Letras, Coleção Austregésilo de Athayde, 2005;
Contos, Martins Fontes Ed., SP, 2006.

Fontes:
http://www.biblio.com.br
http://www.academia.org.br

terça-feira, 23 de setembro de 2008

1ª Semana da Poesia Paranaense

Local: Espaço Cultural Alberto Massuda
Data: 23,24 e 25 de setembro de 2008

Providências para os participantes:

1- Cada poeta disporá de 08 a 10 minutos para ler seus versos
2- Cada poeta deverá enviar até 1º/09/08
a - seus poemas digitalizados, totalizando no máximo até 140 versos
b – uma foto digitalizada
c- seu “currículo” literário em até 10 linhas...
para os emails: manoelandrade2004@hotmail.com e mandrade@clinipam.com.br

Obs. Como pretendemos fazer um E BOOK (Livro Eletrônico) com o nome, foto, dados biográficos e um trecho dos poemas dos participantes, necessitamos deste material para ser elaborada a arte final da impressão para ser publicado na Internet.

Os poetas que moram em Curitiba deverão se programar para um ensaio, no local. dia 22 de setembro, segunda-feira, às 20:00 horas

Enviem seus telefones fixos e celular para possíveis comunicações e esclarecimentos.

A Comissão.

Fonte:
E-mail enviado pelo secretario da UBT/Paraná - Nei Garcez

Carlos Drummond de Andrade (Definitivo)

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Fonte:
http://www.pensador.info/

domingo, 21 de setembro de 2008

Paginas da Vida (A Vida!)

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William Shakespeare (Otelo, O Mouro de Veneza)

Otelo, o Mouro de Veneza (no original, Othello, the Moor of Venice) é uma obra de William Shakespeare escrita por volta do ano 1603. A história gira em torno de quatro personagens: Otelo (um general mouro que serve o reino de Veneza), sua esposa Desdemona, seu tenente Cassio, e seu sub-oficial Iago. Diferente de outras histórias de tragédias, esta não contém parte cômica. Por causa dos seus temas variados — racismo, amor, ciúme e traição - continua a desempenhar relevante papel para os dias atuais, e ainda é muito popular.

História

Toda história gira em torno da traição e da inveja. Inicia-se com Iago, alferes de Otelo, tramando com Rodrigo uma forma de contar a Brabâncio, rico senador de Veneza, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha se casado com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente. Esse ato deixou Iago muito ofendido, uma vez que acreditava que as promoções deveriam ser obtidas "pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo o posto do primeiro" e não por amizades.

Brabâncio, que deixara a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditava que ela escolheria, para seu cônjuge, um homem da classe senatorial ou de semelhante. Ao tomar ciência que sua filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo matá-lo. No momento em que se encontraram, chegou um comunicado do Doge de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado.

Durante a reunião, Brabâncio, sem provas, acusou o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele por meio de bruxarias. Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e da confiança do Estado por ser leal, muito corajoso e ter atitudes nobres, fez, em sua defesa, um simples relato da sua história de amor que foi confirmado pela própria Desdêmona. Por isso, e por ser o único capaz de conduzir um exercito no contra-ataque a uma esquadra turca que dirigia-se à ilha de Chipre, Otelo foi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barcos separados, na manhã seguinte.

Durante a viagem uma tempestade separou as embarcações e, devido a isso, Desdêmona chegou primeiro à ilha. Algum tempo depois, Otelo desembarca com a novidade que a guerra tinha acabado porque a esquadra turca fora destruída pela fúria das águas. No entanto, o que o Mouro não sabia é que na ilha ele enfrentaria um inimigo mais fatal do que os turcos.

Em Chipre, Iago que odiava a Otelo e a Cássio, começou a semear a sementes do mal, ou seja, concebeu um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos. Hábil e profundo conhecedor da natureza humana, Iago sabia que, de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável.

Ele sabia que Cássio, entre os amigos de Otelo, era o que mais possuía a sua confiança. Sabia também que devido a sua beleza e eloqüência, qualidades que agradam às mulheres, ele era exatamente o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de idade avançada, como era Otelo, casado com uma jovem e bela mulher. Por isso, começou a realizar seu plano.

Sob pretexto de lealdade e estima ao general, Iago induziu Cássio, responsável por manter a ordem e a paz, a se embriagar e envolver-se em uma briga com Rodrigo, durante uma festa em que os habitantes da ilha ofereceram a Otelo. Quando o mouro soube do acontecido, destituiu Cássio de seu posto. Nessa mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo. Ele falava, dissimulando um certo repúdio a atitude do general, que a sua decisão tinha sido muito dura e que Cássio deveria pedir a Desdêmona que convencesse Otelo a devolver-lhe o posto de tenente. Cássio, abalado emocionalmente, não se deu conta do plano traçado por Iago e aceitou a sugestão.
Dando continuidade a seu plano, Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso. Esse plano foi tão bem traçado que Otelo começou a desconfiar de Desdêmona. Iago sabia que o Mouro havia presenteado sua mulher com um velho lenço de linho, o qual tinha herdado de sua mãe. Otelo acreditava que o lenço era encantado e, enquanto Desdêmona o possuísse, a felicidade do casal estaria garantida. Sabendo disso e após ter encontrado o lenço que Desdêmona perdera, Iago disse a Otelo que sua mulher havia presenteado o seu amante com ele. Otelo, já enciumado, pergunta a sua esposa sobre o lenço e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar o que aconteceu com ele. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cássio para que ele o encontrasse.

Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cássio. Eles falaram sobre Bianca, amante de Cássio, mas como Otelo que só ouviu partes da conversa, ficou com a impressão de que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. Um pouco depois Bianca chegou e Cássio deu a ela o lenço que encontrara em seu quarto para que ela providenciasse uma cópia. As conseqüências disso foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade a seu general, disse que, para vinga-lo, mataria Cássio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cássio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, isso não ocorreu conforme suas intenções, Rodrigo morreu e Cássio ficou apenas ferido.

Depois Otelo, totalmente descontrolado, foi a procura de sua esposa acreditando que ela o havia traído e matou-a em seu quarto. Após isso, Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabâncio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel. Iago matou Emília e fugiu, mas logo foi capturado. Otelo, desesperado por saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara.

Ao finalizar a tragédia Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo, Iago foi entregue às autoridades para ser julgado e Graciano, uma vez que seu irmão Brabâncio morrera, ficou com os bens do mouro.

Estrutura

A Tragédia Otelo é dividida em cinco atos e cada um deles é subdividido em cenas conforme abaixo:
Ato I – três cenas;
Ato II – três cenas;
Ato III – quatro cenas;
Ato IV – três cenas; e
Ato V – duas cenas.
Essa obra pode ser estruturada da seguinte maneira:

Apresentação

Iago trama com Rodrigo contar a Brabâncio que sua filha casou-se com Otelo, porque o mouro promoveu Cássio ao posto de tenente, posição essa que Iago almejava.

Desenvolvimento

Brabâncio toma ciência de que Otelo casou-se com Desdêmona, e sai à procura de Otelo para mata-lo. Quando se encontram são convocados a uma reunião no senado.

Chegando lá, Brabâncio acusa Otelo de ter enfeitiçado sua filha, mas a própria Desdêmona desmente a acusação e o casal parte para Chipre. Em Chipre Iago trama e executa a desgraça de Otelo.

Clímax

O Clímax da obra se dá no Ato V, cena II, quando Otelo, acreditando que sua esposa havia realmente o traído vai até o quarto onde ela dormia e, após algumas falas carregadas de extrema tensão, acaba tirando a vida de Desdêmona.

Desfecho

Otelo, ao descobrir que matou sua esposa injustamente porque fora enganado por Iago, ficou totalmente angustiado e pôs fim na sua vida. Iago, que matou sua esposa porque ela revelou a todos os seus planos malignos, foi entregue as autoridades para ser julgado. Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo e Graciano, herdeiro do mouro, ficou com seus bens.

Temos assim a reafirmação da ordem moral, ou seja, os valores e dignidade são reafirmados.

Análise dos Personagens

Protagonistas

Otelo – General mouro e nobre a serviço da República de Veneza. A sua idade não é revelada na obra, mas são encontradas algumas passagens que nos remetem a idéia de que ele era um homem de idade avançada. Apesar de sua aparência rude, Otelo possuía caráter, atitudes e sentimentos nobres. Entretanto, era ingênuo, pois desconhecia a maldade humana e era incapaz de reconhecer a malícia nas pessoas. Isso é percebido quando ele descobre que fora traído por Iago e acredita que tal atitude não é obra de uma pessoa, mas do diabo. “Procuro ver-lhe os pés. Mas não... É pura fábula. Se fores o diabo, não conseguirei matar-te.” (fere Iago)(p.150). Além disso, Otelo era fraco, ele não acreditou que seu amor era forte o suficiente, bastou que Iago insinuasse que Desdêmona o estava traindo para que ele acreditasse.

Desdêmona – É uma jovem nobre, pretendida por vários jovens das melhores famílias da República, não só por sua beleza, mas também por seu rico dote. Ela era “Uma jovem tão tímida, de espírito tão sossegado e calmo, que corava de seus próprios anseios!...” (p34). Tais características ficam explicitas na atitude de seu pai, que ao saber que ela casou-se com o Mouro, atribuiu tal fato à bruxarias. Em uma época em que os casamentos eram arranjados pelos pais, Desdêmona gozava do privilégio de poder escolher seu próprio marido, porque seu pai confiava muito nela. Todo esse perfil singelo que envolve Desdêmona sofre uma brusca alteração quando ela abandona sua família e, apesar das diferenças de idade e raça, vai viver ao lado de Otelo em sua vida aventurosa de militar.

O fim de Desdêmona é extremamente triste: Além de ter sua imagem de esposa dedicada maculada, ela é abandonada por Deus, ou seja, nos seus últimos momentos de vida, não teve sequer o consolo da religião (p142).

Desdêmona é um personagem que , além de tudo o que já foi dito, nos ajuda a entender um pouco mais do próprio Otelo. Por meio dela nos é revelado os traços morais de Otelo, características essas que contrastam com seu exterior rude.

Antagonista

Iago – Era uma figura mais diabólica do que humana. Ele era alferes de Otelo, no regime militar atual, alferes corresponde ao posto de 2º tenente. Ele era uma pessoa vil, não media esforços para alcançar seus objetivos e todo lado negro de sua alma vem a tona em seus monólogos.

Iago odiava Otelo. Ele não suportou o fato de Otelo ter promovido Cássio ao posto de Tenente, cargo esse que ele acreditava ser seu pelo fato de possuir maior experiência. Iago, não suportando ver outra pessoa ocupando tal posto usou sua mente maquiavélica para articular um plano cujo objetivo era destruir seus oponentes.

Iago era um homem movido pelo interesse pessoal que se colocava sob as ordens de Otelo somente por proveito próprio. Ele dominava a arte de dissimular e manipular as pessoas. Provas disso são os fatos de Otelo chama-lo, com freqüência, de “O honesto Iago” enquanto esse o traía. Quanto a manipulação, podemos citar o exemplo de Cássio ter sido induzido à procurar Desdêmona para que ela intercedesse a seu favor junto a Otelo.

Secundários

Cássio – Micael Cássio era um jovem matemático florentino que “nunca comandou nenhum soldado num campo de batalha e que conhece tanto de guerra como uma fiandeira” (p18). Mesmo assim, foi escolhido por Otelo para ocupar o posto de tenente. Cássio foi o grande intermediário das relações amorosas entre Desdêmona e Otelo e, por isso, gozava da confiança do casal. Ele era amante de Bianca que vivia em Chipre, mas não se importava muito com ela.

Cássio era ingênuo. Não percebeu que Iago tramava sua desgraça, deixou-se embriagar enquanto estava de guarda, envolveu-se em uma briga e, por esse motivo, foi destituído de seu posto. Isso levou-o ao desespero e transformou-o em um verdadeiro marionete nas mãos de Iago.

Cássio pode ser classificado como personagem coadjuvante, uma vez que Iago se apoia em sua figura para executar seus planos.

Brabâncio – Pai de Desdêmona, ocupava um o cargo de senador na República de Veneza. Era um homem rico e mostrou-se ser totalmente contraditório: antes do casamento de sua filha com Otelo, ela convidou várias vezes o Mouro para visitar sua casa. Depois disso, acusou-o de rapto, feitiçaria e teve a intenção de mata-lo. No entanto, quem veio a falecer foi o próprio Brabâncio que não suportou essa união.

Emília – Mulher de Iago e serviçal de Desdêmona. A princípio sua participação na peça é discreta, mas no final ganha importância. Em nome da honra de sua senhora ela enfrenta o marido, revelando a Otelo, Ludovico e Montano que Iago estava os enganando.

Os demais personagens ocupam papéis de pouca importância e, por isso, serão apenas apresentados:
Rodrigo – Fidalgo veneziano, apaixonado por Desdêmona e, como Cássio, também foi usado por Iago;
Doge de Veneza;
Graciano – Irmão de Brabâncio;
Ludovico – Parente de Brabâncio;
Montano – governador de Chipre antes de Otelo;
Bobo – criado de Otelo;
Bianca – Amante de Cássio

Tempo

Na obra “Otelo” existe o predomínio do tempo psicológico. Isso ocorre devido aos vários monólogos existentes na peça. Esse recurso era muito usado no teatro para revelar o que os personagens estavam pensando. A maioria dos monólogos da obra “Otelo” é feita por Iago que nos revela toda interioridade de sua alma tenebrosa.

Quando isso ocorre o tempo ele quebra a cronologia do tempo cuja passagem é marcada pela fala dos personagens e, como isso é feito de forma muito sutil, é difícil identificá-lo.

O primeiro Ato dura uma noite. Entre esse Ato e o seguinte existe um intervalo de cerca de uma semana, tempo que durou a viagem de Veneza a Chipre “...Em companhia ele a mandou do destemido Iago, cuja vinda ultrapassa nossos cálculos de uma semana...”(p50). O segundo ato dura uma noite. Inicia-se quando os navios desembarcam em Chipre e termina na noite desse mesmo dia com Iago incentivando Cássio a procurar Desdêmona para que ela intercedesse a seu favor junto a Otelo. “...logo que amanhecer, vou pedir à virtuosa Desdêmona que interceda a meu favor...”(p71).

O Ato III inicia-se no dia seguinte “Iago – Então não vos deitastes?/ Cássio – Oh, não! Raiou o dia quando nos separamos...” (p76). Acreditamos que esse ato dure um pouco mais de uma semana. Essa idéia é apoiada na fala de Bianca que se dá no final desse ato:
Bianca – E a vossa casa eu também ia, Cássio. Uma semana ausente? Sete dias e sete noites...” (p105). Por meio dessa fala deduzimos que Cássio, quando chegou a ilha, foi visitar sua amante.

Os atos IV e V duram um dia e uma noite. A fala de Bianca no final do Ato III nos da a indicação de que esse ato termina durante o dia. “...acompanhai-me um pouco e declarai-me se ainda vos verei antes da noite.”(p106). Depois disso não há na obra mais indicações de que os dias se passaram, o que existe são apenas trechos que indicam que anoiteceu:
Ludovico- ....é noite alta” (p135);
Desdêmona dorme, no leito. Uma candeia acesa. Entra Otelo.” (p139).
Com base nos dados do levantamento acima, acreditamos que o tempo interno da obra dure aproximadamente 24 dias.

Espaço

O espaço em “Otelo” não é muito relevante. O primeiro Ato da obra ocorre em Veneza e os demais na ilha de Chipre. Em Veneza os espaços são a rua da casa de Brabâncio, uma outra rua não identificada e a Câmara do conselho. Em Chipre, a primeira cena ocorre em uma praça perto do cais, as demais se dão em ruas não identificadas, diante e em quartos do castelo. Na obra existem espaços abertos e fechados, mas as cenas de maior tensão ocorrem em espaços fechados como exemplo podemos citar as mortes de Desdêmona, Otelo e Emília. O espaço também é fechado quando Iago articula seus planos malignos. As vezes isso se dá nas ruas, espaços abertos, mas a escuridão da noite dificulta a visibilidade e esse espaço torna-se fechado. Iago é um ser tão maquiavélico que usa os espaços para executar seus planos. Ele se aproveita dos espaços fechados para induzir Cássio a envolver-se em uma briga. Depois ele usa esse mesmo tipo de espaço para matar Rodrigo e ferir Cássio. Na cena em que Iago faz Otelo ouvir apenas parte de sua conversa com Cássio, dando-lhe a impressão que Desdêmona havia o traído, o espaço é aberto, mas adequa-se perfeitamente a seus planos malignos.

Ideologia

Nessa tragédia são encontradas várias idéias muito interessantes que, em sua maioria, fazem parte do nosso cotidiano:

Preconceito, racial, religioso e contra o estrangeiro

O preconceito racial se faz presente em quase toda obra. É fácil encontrar trechos em que outros personagens zombam de Otelo por causa da sua cor.
Iago - ... Agora mesmo, neste momento, um velho bode negro esta cobrindo vossa ovelha branca...”(p21)
Iago - ...quereis que vossa filha seja coberta por um cavalo barbere e que vossos netos relinchem atrás de vós?...”(p22)
• O preconceito religioso é percebido na fala de Otelo:
e cuja mão, tal como um vil judeu, jogou fora uma pérola mais rica que toda sua tribo...”(p153)
• O preconceito contra é encontrado na seguinte fala de Rodrigo:
“... destes permissão, mui grave pecado cometeu, unindo o espírito, a beleza, o dever e seus haveres a um estrangeiro andejo e desgarrado daqui e de tôda parte...pela garganta detendo aquele cão circuncidado...” (p153). A circuncisão é uma operação que retirada parte do prepúcio, pele que envolve o pênis. Esse tipo de cirurgia é feita pelos Judeus para serem confirmados na religião. No novo e velho mandamentos, sempre que é usado o termo circuncidado, faz-se referencia ao povo Judeu.

contraste entre a realidade e as aparências
Iago aparentava ser uma pessoa boa e digna de confiança, mas ele mostrou ser justamente o oposto, ou seja, maligno e traidor; •

o ciúme injustificado
Otelo sentia ciúme de sua mulher, sem que ela nunca lhe desse motivos. Foi esse ciúme doentio que permitiu que Iago o enganasse. a união de uma mulher branca com um mouro – isso, para a época, era uma situação pouco comum e que, se ocorresse de fato, escandalizaria a sociedade.

Crítica política
Esse tipo de crítica pode ser visto quando Brabâncio chama Iago de vilão e ele, ironizando, chama-o de senador: “Brabâncio – Sois um vilão / Iago – E vós... um senador

Mensagem

A grande mensagem que “Otelo” nos deixa é a fraqueza humana. Iago e Cássio são pessoas fracas pois não suportaram perder as posições no exercito. O primeiro não suportou ver uma outra pessoa ocupando posto de tenente que ele tanto almejara. Já o segundo ao ser destituído desse mesmo posto entrou em desespero, mostrando assim toda sua fragilidade. Otelo, por sua vez, foi fraco por não acreditar que possuía qualidades para manter ter ao seu lado uma mulher jovem e bonita como Desdêmona.

Além disso, percebemos que em “Otelo” o mal não prevalece. Apesar de Iago ter conseguido o seu objetivo que era destruir a felicidade do mouro, ele foi preso e entregue às autoridades para ser julgado. Com isso, concluímos que o que prevalece na obra são os bons valores morais, percebidos na figura de Cássio que sempre agiu com boa fé e acabou premiado com um posto superior ao que ocupava e que Iago tanto almejara.

Fontes:
Professores:Antônio Carlos Pinho, Adilson Oliveira, Lucas Tavares e Ronaldo Fazam. In
http://www.mundocultural.com.br/
SHAKESPEARE, William. Otelo. SP: Martin Claret, 2006.
Quadro: "Othello e Desdemona em Veneza" por Théodore Chassériau (1819–1856)

Lêdo Ivo (Poesias Avulsas)

Os Morcegos

Os morcegos se escondem entre as cornijas
da alfândega. Mas onde se escondem os homens,
que contudo voam a vida inteira no escuro,
chocando-se contra as paredes brancas do amor?

A casa de nosso pai era cheia de morcegos
pendentes, como luminárias, dos velhos caibros
que sustentavam o telhado ameaçado pelas chuvas.
“Estes filhos chupam o nosso sangue”, suspirava meu pai.

Que homem jogará a primeira pedra nesse mamífero
que, como ele, se nutre do sangue dos outros bichos
(meu irmão! meu irmão!) e, comunitário, exige
o suor do semelhante mesmo na escuridão?

No halo de um seio jovem como a noite
esconde-se o homem; na paina de seu travesseiro, na luz do farol
o homem guarda as moedas douradas de seu amor.
Mas o morcego, dormindo como um pêndulo, só guarda o dia ofendido.

ao morrer, nosso pai nos deixou (a mim e a meus oito irmãos)
a sua casa onde à noite chovia pelas telhas quebradas.
Levantamos a hipoteca e conservamos os morcegos.
E entre as nossas paredes eles se debatem: cegos como nós.

Soneto de Abril

Agora que é abril, e o mar se ausenta,
secando-se em si mesmo como um pranto,
vejo que o amor que te dedico aumenta
seguindo a trilha de meu próprio espanto.

Em mim, o teu espírito apresenta
todas as sugestões de um doce encanto
que em minha fonte não se dessedenta
por não ser fonte d'água, mas de canto.

Agora que é abril, e vão morrer
as formosas canções dos outros meses,
assim te quero, mesmo que te escondas:

amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer
como uma voz chamada pelas ondas.

As Iluminações

Desabo em ti como um bando de pássaros.

E tudo é amor, é magia, é cabala.
Teu corpo é belo como a luz da terra
na divisão perfeita do equinócio.

Soma do céu gasto entre dois hangares,
és a altura de tudo e serpenteias
no fabuloso chão esponsálício.

Muda-se a noite em dia porque existes,
feminina e total entre os meus braços,
como dois mundos gêmeos num só astro.

O Caminho Branco

Vou por um caminho branco
Viajo sem levar nada.
Minhas mãos estão vazias.
Minha boca está calada.
Vou só com o meu silêncio
e a minha madrugada.
Não escuto, entre os barrancos,
a voz do galo estridente
que, na treva do terreiro,
anuncia as alvoradas.
Nem mesmo escuto a minha alma:
não sei se ela vai dormindo
ou me acompanha acordada,
se ela é vento ou se ela é cinza
ou nuvem rubra raiante
no dia que se levanta
como vela desdobrada
em nave que corta as vagas.
Não sei nem mesmo se é alma
ou apenas sal de lágrimas.
Vou por um caminho branco
que parece a Via Láctea.
Só sei que vou tão sozinho
que nem sequer me acompanho,
como se eu fosse um caminho
pisado por vulto estranho.
Não sei se é dia ou se é noite
o que surge à minha frente,
se é fantasma do passado
ou vivente do presente.
Não sei se é a torrente clara
da água que corre entre pedras
ou se um gavião me espreita
oculto no nevoeiro,
espantalho prometido
ao meu dia derradeiro.
Atravessando barrancos
e plantações de tomate
e ouvindo o canto escarlate
de airosos galos polacos,
vou por um caminho branco:
brancura de bruma e prata.
Entre tufos de carqueja
há constelações de orvalho
e um clarão de meio-dia
cega a minha madrugada.
Vou como vim, sem saber
a razão da travessia.
Nem sequer levo na boca
o gosto de água salgada
que relembra a minha infância
feita de mar e de mangue.
Nem sequer levo nos olhos
- nos meus olhos de menino -
a mancha rubra de sangue
deixada pelo assassino
que vi certa madrugada.
Vou por um caminho branco
e nada levo nem tenho:
nem ninho de passarinho
nem fogo santo de lenho.
Só vou levando o meu nada.
Foi tudo quanto juntei
para oferecer a Deus
nesta madrugada.

Minha Pátria

Minha pátria não é a língua portuguesa.
Nenhuma língua é a pátria.
Minha pátria é a terra mole e peganhenta onde nasci
e o vento que sopra em Maceió.
São os caranguejos que correm na lama dos mangues
e o oceano cujas ondas continuam molhando os meus pés quando
[sonho.
Minha pátria são os morcegos suspensos no forro das igrejas
[carcomidas,
os loucos que dançam ao entardecer no hospício junto ao mar,
e o céu encurvado pelas constelações.
Minha pátria são os apitos dos navios
e o farol no alto da colina.
Minha pátria é a mão do mendigo na manhã radiosa.
São os estaleiros apodrecidos
e os cemitérios marinhos onde os meus ancestrais tuberculosos
[e impaludados não param de
[tossir e tremer nas noites frias
e o cheiro de açúcar nos armazéns portuários
e as tainhas que se debatem nas redes dos pescadores
e as résteas de cebola enrodilhadas na treva
e a chuva que cai sobre os currais de peixe.
A língua de que me utilizo não é e nunca foi a minha pátria.
Nenhuma língua enganosa é a pátria.
Ela serve apenas para que eu celebre a minha grande e pobre pátria
[muda,
minha pátria disentérica e desdentada, sem gramática e sem dicionário,
minha pátria sem língua e sem palavras.

As Ferragens

Em Maceió, nas lojas de ferragens,
a noite chega ainda com o sol claro
nas ruas ardentes. Mais uma vez o silêncio
virá incomodar os alagoanos. O escorpião
reclamará um refúgio no mundo desolado.
E o amor se abrirá como se abrem as conchas
nos terraços do mar, entre os sargaços.
Nas prateleiras, os utensílios estremecem
quando as portas se cerram com estridor.
Chaves-de-fenda, porcas, parafusos,
o que fecha e o que abre se reúnem
como uma promessa de constelação. E só então é noite
nas ruas de Maceió.

Soneto do Poeta Brasileiro

Não sou viril somente nas poesias.
Quero dormir contigo, pois teus pés
amassavam pitangas e trazias
no corpo inteiro a marca das marés.

Disseste que comigo casarias
- amor na cama, beijos, cafunés.
Entre-sombras de carne oferecias
tão navegáveis como igarapés.

Minha morena até dizer que não,
o nosso amor demais me recordava
duas lagoas onde me banhei.

Sou macho e brasileiro, coração:
em teu olhar eu nu e forte estava
e foi assim, morena, que te amei.

Soneto da Mulher e a Nuvem
A João Cabral de Melo Neto

Nuvem no céu do nunca, nem tão branca
- assim era o amor, à minha espreita,
e era a mulher, de nuvens sempre feita
e de véus e pudor que o amor arranca.

Não pude amá-la, pois não era franca
a sua carne que o amor aceita,
nuvem que um céu de amor sempre atravanca
e entre praias e pântanos se deita.

Bruma de carne, em vão céu de tormento,
parindo fogo aos meus dezesseis anos,
assim foi ela, sem deixar seu nome.

Nunca foi minha, e só em pensamento
eu pude dar-lhe o amor de desenganos
que me deixou no corpo espanto e fome.
(As imaginações, 1944.)

Soneto da Conciliação

Que o amor não me iluda, como a bruma
que esconde uma imprevista segurança.
Antes, sustente o chão em que descansa
o que se irá, perdido como a espuma.

Veja que eu me elegi, mas sem nenhuma
razão de assim fazer, e sem lembrança
de aproveitar apenas a esquivança
de que o amor não prescinde em parte alguma.

Que também não se alheie ao que esclarece
o motivo real, de uma oferta,
reunir o acessório e o imprescindível.

Antes, atente a tudo o que se tece
distante do seu dia inconsumível
que dá certeza à noite mais incerta.

Soneto dos Vinte Anos

Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.

Passem rios, estrelas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.

Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.

Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.

Soneto das Alturas

As minhas esquivanças vão no vento
alto do céu, para um lugar sombrio
onde me punge o descontentamento
que no mar não deságua, nem no rio.

Às mudanças me fio, sempre atento
ao que muda e perece, e ardente e frio,
e novamente ardente é no momento
em que luz o desejo, poldro em cio.

Meu corpo nada quer, mas a minh'alma
em fogos de amplidão deseja tudo
o que ultrapassa o humano entendimento.

E embora nada atinja, não se acalma
e, sendo alma, transpõe meu corpo mudo,
e aos céus pede o inefável e não o vento.
(Acontecimento do soneto, 1948.)

Balada Insolente

Ao amor, como ao banho
deve-se ir nu
levando-se contudo
cálcio e Poesia.
E deve-se exigir
mais que a morte,
a vida; movimentos
livres e respiração.

Que, neste momento,
a Poesia seja
riso e não lágrimas.
Nunca assaz louvada,
que ela esteja sempre
a serviço da vida
sem trair os homens.
Poesia e cálcio.

Ao amor, que tem tudo,
deve-se ir sem nada,
levando-se no entanto
provisões de hormônios
até mesmo no olhar.
Na noite higiênica
o vento balança
grandes flores: cálcio.
(A jaula, em Ode ao silêncio, 1948.)

Os Frutos da Imobilidade

Entre a tarde e a arquitetura,
a oclusão e a consonlância,
canto-me dormido no horizonte
na viagem de olhos cerrados
para as catástrofes do sono.
E meu coração que é sombrio
como um sol visto às avessas
tem canção ininterrupta,
fanal de sino acordado
ou os instantes plantados
no dia do dia seguinte.

Canto o tráfico do que sou
diante da luz da aurora,
a mulher do meu amor
e eu sempre seguro e calmo.
Luz no caminho noturno
que cheira a mato pisado.
O romper do dia sustenta-me
com seus címbalos de mármore.

Não entôo o desencontro
no amor da tarde, ou a cadeia
que nasce de tuas palavras.
Canto a canção que me envolve
com os teus textos cruzados
como o trânsito na chuva
em uma rua chanfrada.
Não me inclino às harmonias
descobertas no tédio, elipses
de vôos incomunicáveis.
No vasto chão do acaso
eu lúcido apanho a rosa.

Ei melodia! e o mar
ao meu lado comparece
com todos os seus navios
inclusive os naufragados
que retornam com seus mastros
aos preâmbulos das nuvens.
Guardando um sol no meu peito,
falo de amor, compareço
aos espelhos dos instantes
onde a vida se reflete
em termos de diamante.

E aos torvelinhos de outubro
- momentos que são pirâmides -
canto a vida em que pereço
entre dois pavimentos.
(Cântico, 1949.)

O Dia

Das profundezas da tarde vem o dia em que se vive eternamente
igual à água múrmura entre os rochedos
onde se ocultam na antemanhã os peixes perseguidos pelos
homens.

Não se percebe o outro dia melodioso lá fora
nas perspectivas dos arranha-céus, nos cinemas e no trânsito.
A hora tem uma espessura de segredo guardado
e as gargantas de onde as sedes emigraram
suplicam apenas o que sobrou do frio e do sono.

As imprecações dormem no ar, com uma resistência de anjos,
e as doçuras se desfiguram numa ilusão de joelhos fendidos

n'água
como se os corpos sentissem que o tempo foi embora.
A vida, liberta dos vocabulários eventuais, festeja-se sem

memória
no espírito acorrentado a um infinito agora
eternamente presente como o oceano nas praias.
(Cântico, 1949.)

Balada do Arraial

Não vim para te amar
mas para descobrir
o que teu corpo tem
e que não posso ver.
No colégio falavam
de tantas coisas tuas!
Neste campo deserto
podemos começar.
Um dia serei poeta
e cantarei este instante
e te chamarei na certa
de minha primeira amante.

Oh! deixa que eu entre para o Amor
com os olhos abertos...
(Cântico, 1949.)

O Coração da Liberdade

Estive, estou e estarei
no coração da realidade,
perto da mulher que dorme,
junto do homem que morre,
próximo à criança que chora.

Para que eu cante, os dias são momentâneos
e o céu é o anúncio de um pássaro.
Não me afastarei daqui,
da vida que é minha pátria,
e passa como as águias no sul
e permanece como os vulcões extintos
que um dia vomitam sono e primavera.

Minha canção é como a veia aberta
ou uma raiz central dentro da terra.
Não me afastarei daqui, não trairei jamais
o centro maduro de todos os meus dias.
Somente aqui os minutos mudam como praias
e o dia é um lugar de encontro, como as praças,
e o cristal pesa como a beleza
no chão que cheira à criação do mundo.
Adeus, hermetismo, país de mortes fingidas.
Bebo a hora que é água; refugio-me na estância
quando a aurora é mistura de orvalho e de esterco,
e estou livre, sinto-me final, definitivo
como o tempo dentro do tempo, e a luz dentro da luz
e todas as coisas que são o centro, o coração
da realidade que escorre como lágrimas.
(Linguagem, 1951.)

Fonte:
Academia Brasileira de Letras.

Lêdo Ivo (Um carioca da gema)

Marques Rebelo cometeu a imprudência de nascer no Rio de Janeiro. Resultado: a posteridade deu seu nome a um beco. E não um beco familiar e pequeno-burguês, mas um vexatório beco na Lapa. Como ele foi o romancista de Marafa, é possível que tenha acudido à Prefeitura Municipal homenageá-lo perto das prostitutas, boêmios e marginais de sua ficção cruel e fagueira. Se tivesse nascido no Ceará, como José de Alencar, teria ganho uma estátua. Gaúcho, como Érico Veríssimo, haveria de abrir-se para ele a glória de uma avenida de primeira água, na Barra. Mas Edy Dias da Cruz - este era o seu nome de certidão, desativado para dar nova oportunidade a um obscuro clássico português - nasceu em Vila Isabel.

Assim, ocorreu com ele o mesmo que sucedera a Machado de Assis e Lima Barreto. O autor de Dom Casmurro tornou-se nome de uma ruazinha enjoada do Catete, que, atravancada de carros estacionados, é diariamente escarnecida pelos motoristas desejosos de alcançar o Lago do Machado... de um machado que, pintado por um açougueiro na porta do seu estabelecimento, nada tem a ver com o nosso grande romancista. E, quanto a Lima Barreto, a rua com o seu nome se esconde no formigueiro suburbano: ninguém sabe, ninguém viu. Só existe no catálogo telefônico.

Poderíamos ainda citar o exemplo da Praça Olavo Bilac, a única praça do mundo que não existe, pois a ocupa um sinistro mercado de flores que mal deixa lugar para a passagem dos pedestres. Ah, se Olavo Bilac tivesse nascido no Piauí! O Rio haveria de dar-lhe uma praça maior do que a destinada ao português Antero de Quental.

Essa ingratidão póstuma da cidade a um dos seus três maiores escritores ilumina um dos aspectos mais curiosos da história cultural brasileira, depois de Machado de Assis, que é a solidão dos poetas e prosadores cariocas. Eles surgem sem companheiros e, para sobreviver, têm que se atrelar a uma máfia (máfia no bom sentido) intelectual proveniente da vastíssima região da Sudene, que também inclui Minas Gerais. Foi entre pernambucanos, alagoanos, mineiros, sergipanos e baianos que transcorreu a existência literária de Marques Rebelo. Ele vivia imprensado e com a sensação de que o seu espaço intelectual nativo fora ocupado por invasores ambiciosos e esfaimados.

A sua ficção de miniaturista pode parecer uma criação menor, ao lado da obra impetuosa daqueles que o ressentido Oswald de Andrade chamava de ''os búfalos do Nordeste''. Mas não o é: é uma grandeza escondida, um tesouro guardado. Em suas prosas belas, o Rio de sua vida, recriado pelo conúbio da memória com a imaginação, emerge atravessado de vozes, rumores, cores, humores, aromas, dores anônimas, luminosidades, escuridões, com o movimento dos seus corpos e as aflições de suas almas; cidade tornada alegria de uma linguagem.

Esse prosador que pertencia à linhagem privilegiada (e tão invejada pelos sorumbáticos!) dos artigos literários que sabem rir e sorrir; esse carioca que vivia se coçando e trajava roupas bizarras compradas nos departamentos infantis das grandes lojas de Buenos Aires; esse míope que sabia enxergar as paisagens e as misérias humanas mais do que muitos dos seus confrades de olhos arregalados; esse sarcástico e todavia meigo e amoroso Marques Rebelo ostentava em seu brasão o mesmo lema de Noel Rosa: ''Modéstia à parte, eu sou da Vila''.

E era. Morando em Botafogo ou Laranjeiras, e vagueando pela Cinelândia, o criador de Leniza sentia a nostalgia de Vila Isabel. Era um carioca da gema, típico da Zona Norte, e para ele os túneis são divisas com outros países. Tinha horror a Copacabana: achava que ela devia ser bombardeada todos os sábados. Havia um Rio, um certo Rio, que ele amava e tornou perene em sua obra. Em retribuição, a cidade o converteu num nome de beco estreito e escuso. Mas por esse beco passam diariamente os cariocas sem nome que costumamos identificar como ''personagens de Marques Rebelo''. E isto, e só isto, é a glória.

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 4/1/2006

Fonte:
Academia Brasileira de Letras.

Lêdo Ivo (1924)

Biografia

Quinto ocupante da Cadeira nº 10, eleito em 13 de novembro 1986, na sucessão de Orígenes Lessa e recebido em 7 de abril de 1987 pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Recebeu os acadêmicos Geraldo França de Lima, Nélida Piñon e Sábato Magaldi.

Lêdo Ivo nasceu no dia 18 de fevereiro de 1924, em Maceió (AL), filho de Floriano Ivo e Eurídice Plácido de Araújo Ivo. Casado com Maria Lêda Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), tem o casal três filhos: Patrícia, Maria da Graça e Gonçalo.

Fez a sua formação primária e secundária em sua cidade natal. Em 1940, transferiu-se para o Recife, onde passou a colaborar na imprensa local e a conviver com um grupo literário de que fazia parte Willy Lewin, o qual haveria de exercer grande influência em sua formação cultural.

Em 1941, participou do I Congresso de Poesia do Recife. Em 1942, terminou o curso complementar no Liceu Alagoano e, em 1943, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Passou a colaborar em suplementos literários e a trabalhar na imprensa carioca, como jornalista profissional.

Em 1944, estreou na literatura com As Imaginações, poesia, e no ano seguinte publicou Ode e Elegia, distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Nos anos subseqüentes, sua obra literária avoluma-se com a publicação de obras de poesia, romance, conto, crônica e ensaio.

Em 1947, seu romance de estréia As Alianças mereceu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Em 1949, pronunciou, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a conferência “A geração de 1945”. Nesse ano, formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, mas nunca advogou, preferindo continuar exercendo o jornalismo.

No início de 1953, foi morar em Paris. Visitou vários países da Europa e, em agosto de 1954, retornou ao Brasil, reiniciando suas atividades literárias e jornalísticas.

Ao seu livro de crônicas A Cidade e os Dias (1957) foi atribuído o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras.

Em 1963, a convite do governo norte-americano, realizou uma viagem de dois meses (novembro e dezembro) pelos Estados Unidos, pronunciando palestras em universidades e conhecendo escritores e artistas.

Como memorialista, publicou Confissões de um Poeta (1979), que mereceu o Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal, e O Aluno Relapso (1991).

Seu romance Ninho de Cobras foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. No México, saíram várias coletâneas de poemas seus, entre as quais La Imaginaria Ventana Abierta, Oda al Crepúsculo, Las Pistas, Las Islas Inacabadas e La Tierra Allende. Em Lima, foi editada uma antologia, Poemas; na Espanha saiu La Moneda Perdida (antologia); nos Estados Unidos, Landsend, antologia poética; na Holanda, a seleção de poemas Vleermuizen em blauw Krabben (Morcegos e goiamuns).

Na Itália foi publicada sua antologia poética Illuminazioni e no Chile a antologia poética Los Murciélagos.

Em 1973, foi conferido a Finisterra o Prêmio Luísa Cláudio de Sousa (poesia) do PEN Clube do Brasil, o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal. O seu romance Ninho de Cobras foi distinguido com o Prêmio Nacional Walmap de 1973. Em 1974, Finisterra recebeu o Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1982, foi distinguido com o Prêmio Mário de Andrade, conferido pela Academia Brasiliense de Letras ao conjunto de suas obras. O seu livro de ensaios A Ética da Aventura recebeu, em 1983, o Prêmio Nacional de Ensaio do Instituto Nacional do Livro. Em 1986, recebeu o Prêmio Homenagem à Cultura, da Nestlé, pela sua obra poética. Eleito “Intelectual do Ano de 1990”, recebeu o Troféu Juca Pato do seu antecessor nessa láurea, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Ao seu livro de poemas Curral de Peixe o Clube de Poesia de São Paulo atribuiu o Prêmio Cassiano Ricardo – 1996; ao livro O Rumor da Noite foi conferido o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 2001.

Ao longo de sua vida literária, Lêdo Ivo tem sido convidado numerosas vezes para representar o Brasil em congressos culturais e participar de encontros internacionais de poesia.

É sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras, sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, sócio efetivo da Academia Municipalista de Letras do Brasil, sócio efetivo da Academia Brasileira de Letras do Brasil, sócio honorário da Academia Petropolitana de Letras; sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

Condecorações:
Ordem do Mérito dos Palmares, no grau de Grã-Cruz;
Ordem do Mérito Militar, no grau de Oficial;
Ordem de Rio Branco, no grau de Comendador;
Medalha Manuel Bandeira;
Cidadão honorário de Penedo, Alagoas.
É Grande Benemérito do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Alagoas.

Bibliografia

Poesia
1944 – As Imaginações.
1945 – Ode e Elegia (Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras)
1948 – Acontecimento do Soneto.
1948 – Ode ao Crepúsculo
1949 – Cântico
1951 – Linguagem.
1951 – Ode Equatorial
1951 – Acontecimento do Soneto e Ode à Noite
1951 – Um Brasileiro em Paris e O Rei da Europa.
1960 – Magias
1962– Uma Lira dos Vinte Anos
1968 – Estação Central.
1972 – Finisterra (Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Clube do Brasil; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal; Prêmio Casimiro de Abreu, do Governo do Estado do Rio de Janeiro).
1974 – O Sinal Semafórico
1980 – O Soldado Raso.
1982 – A Noite Misteriosa.
1985 – Calabar.
1987 – Mar Oceano.
1990 – Crepúsculo Civil.
1995 – Curral de Peixe (Prêmio Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo)
1997 – Noturno Romano.
2001 – O Rumor da Noite.
2004 – Plenilúnio.
2004 – Poesia Completa.

Romance

1947 – As Alianças (Prêmio da Fundação Graça Aranha).
1958 – O Caminho Sem Aventura.
1964 – O Sobrinho do General.
1973 – Ninho de Cobras (V Prêmio Walmap).
1990 – A Morte do Brasil.

Conto
1961 – Use a Passagem Subterrânea

Crônica
1957 – A Cidade e os Dias (Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras)

Autobiografia
1979 – Confissões de um poeta, autobiografia (Prêmio de Memória da Fundação Cultural do Distrito Federal)

Literatura infanto-juvenil
1995 – O Menino da Noite.
1990 – O Canário Azul.
2000 – O Rato de Sacristia.

Edição conjunta
1971 – O Navio Adormecido no Bosque (reunindo A Cidade e os Dias e Ladrão de Flor).

Fonte:
- Academia Brasileira de Letras.
- http://www.releituras.com/

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ana Pismel (Vozes do Inverno)

Posso ouvir em mim
Uma voz chamando desesperadamente
Por alguém que não existe
Procurando eternamente
Numa agonia sem fim...

Posso ouvir lá fora
O barulho do vento forte e frio
Saudando um inverno
Uivando alto contra minha janela
Agitando árvores, revolvendo folhas caídas...

Posso ouvir em ti
Algo que outros não escutam
Vozes ocultas que falam por si
Denunciando que por traz da máscara
Uivam as vozes do Inverno em ti
Clamando inconscientes
Do fundo de um abismo sem fim...
Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/
publicação autorizada pela autora
Imagem http://oglobo.oglobo.com/