sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Obra Poética de T. S. Eliot

Noah Mitchel (Garotas Gregas)
The Love Song of J. Alfred Prufrock (1915)

Em 1915 Ezra Pound, editor da revista "Poetry", recomendou a Harriet Monroe, fundadora da revista, que ela publicasse "The Love Song of J. Alfred Prufrock". Embora Prufrock parecesse tratar-se de um homem na meia idade, Eliot escreveu a maior parte do poema quando tinha apenas 22 anos. Os seus hoje famosos primeiros versos, que comparam o céu ao entardecer com "a patient etherised upon a table" (algo como "um paciente anestesiado sobre a mesa.") foram considerados chocantes e ofensivos, ainda mais numa época na qual a poesia Georgiana imperava, com suas derivações românticas do século XIX. O poema retrata uma experiência consciente de um homem, Prufrock, sob a forma de um "stream of consciousness" (figura de linguagem típica do modernismo, que consiste em mostrar por escrito o monólogo interior de um personagem). Prufrock lamenta sua inércia física e intelectual, as oportunidades que perdeu ao longo de sua vida e a falta de um progresso espiritual, recorrente de amor carnal que não conseguira atingir.

Os estudiosos não sabem dizer se o narrador sai de sua casa ao longo da narração, pois as localidades descritas podem ser interpretadas tanto como experiências reais, lembranças, ou mesmo imagens simbólicas do subconsciente, como por exemplo no refrão "In the room woman come and go / talking about Miguel Angelo".

A estrutura do poema foi imensamente influenciada por Dante Alighieri. Há ainda referências a Hamlet de Shakespeare e outras tantas obras literárias: essa técnica de alusão e citação foi muito usada em toda poesia posteriormente escrita por Thomas Stearns Eliot.


The Waste Land (1922)

Em outubro de 1922, Thomas Eliot publicou "The Waste Land" no jornal "The Criterion". Composto durante um período turbulento na vida do autor - seu casamento estava acabando, pois tanto ele quanto sua esposa Vivienne sofriam de uma desordem neural - este poema é muitas vezes lido como uma alegoria à desilusão experimentada pela geração pós-guerra. Mesmo antes de "The Waste Land" ser publicado como livro (em dezembro de 1922) Eliot já havia se distanciado da visão desesperadora do poema: "No que diz respeito a "The Waste Land", esse poema ficará no passado, pois agora estou trabalhando com formas e estilos diferentes", escreveu ele para Richard Aldington no dia 15 de novembro de 1922. A despeito da obscuridade do poema - que tem sátiras e profecias; mudanças abruptas de narrador, localidade e tempo; além de invocar uma vasta e dissonante gama de culturas e obras literárias - ele acabou se tornando referencial da literatura moderna, sendo considerado o reflexo poético de um romance publicada no mesmo ano: Ulysses, de James Joyce.

Entre seus muito famosos versos estão "April is the cruellest month" (referência ao fato que abril é o mês de recomeçar a plantar, e não há colheitas na Europa), "I will show you fear in a handful of dust" e "Shantih shantih shantih", (Sânscrito que deve ser lido pausadamente e de forma onamatopeica. Algo como "Xantir... Xantir... Xantir...". Shantih significa "paz" e o sânscrito segue uma súplica pela paz).

A obra de Eliot foi muito apreciada pelos poetas da geração de trinta. Em certa ocasião W.H. Auden leu em voz alta todo o poema durante um encontro social. A publicação do esboço do poema em 1972 mostrava uma grande influência de Ezra Pound sobre a sua forma final. A parte IV, "Death by Water", fora reduzida de noventa e duas linhas para dez apenas, e com dez linhas foi publicado. Pound repreendeu Eliot por ter rasgado a maior parte do poema. Eliot o agradeceu por "incentivar-me a fazer as coisas do meu jeito".

The Hollow Men (1925)

Publicada em várias partes e com vários títulos diferentes, a versão final de "The Hollow Men" data de 3 de março de 1925. O poema faz referências a diversas obras do próprio Eliot e, embora tenha grande densidade literária, muitos críticos o consideram somente como um post scriptum de "The Waste Land".

Seu conteúdo é metafórico e de difícil interpretação, mas estudiosos dizem tratar-se de um poema que filosofa sobre os aspectos da mente humana num contexto ora social, ora religioso. Trata ainda dos medos humanos, considerando-os "more distant and more solemn/than a fading star" (mais distantes e solenes/que uma estrela cadente) e mostrando que mesmo nos sonhos é difícil visualizá-los sem temor. São estes medos "Eyes I dare not meet in dreams/In death's dream kingdom" (olhos que temo encontrar em sonhos/e no reino de sonho da morte). Esses olhos são muito similarmente descritos aos olhos de Beatriz, em "A Divina Comédia".

Há ainda uma passagem que mostra um ritual dançante, "Here we go around the prickly pear" (andamos em torno da pêra espinhenta) que tem relação com os rituais missais, sendo a pêra a representação de um altar, sem ter portanto, centro exato, mas sendo o centro em si. O poema tem ainda grande musicalidade, com várias repetições e rimas eventuais.

Four Quartets (1943)

O próprio Thomas Eliot considerava "Four Quartets" sua obra-prima, embora muitos críticos literários preferissem seus trabalhos anteriores.

"Four Quartets" é baseado nos conhecimentos de Eliot nas áreas de misticismo e filosofia. O poema consiste de quatro poemas longos, que foram publicados individualmente: "Burnt Norton" (1936), "East Coker" (1940), "The Dry Salvages" (1941) e "Little Gidding" (1942), cada um deles dividido em cinco partes. Embora seja difícil fazer comparações entre eles, nota-se que cada um tem uma descrição geográfica da localidade em seus títulos, todos especulam sobre a natureza do tempo, seja ela teológica, histórica ou física, e sobre a influência exercida pelo tempo nos humanos.

Além disso, cada um está associado a um elemento da antigüidade clássica: ar, terra, água e fogo, respectivamente. Eles se aproximam nas idéias, de forma variável porém intercalada. Os poemas não esgotam seu questionamento e nem obtêm respostas suficientes às perguntas feitas.

"Burnt Norton" (ar) questiona de que adianta considerar o que podia ter sido e não foi. Há nele a descrição de uma casa abandonada, e Eliot brinca com a idéia que todas essas possíveis realidades estão presentes simultaneamente, mas invisíveis para nós: todas as formas de atravessar o jardim se transformam numa vasta dança que não podemos ver, e crianças que não estão ali se escondem nos arbustos. Burnt Norton é uma casa de campo situada em Cotswold Hills, na cidade de Gloucestershire, Reino Unido.

"East Coker" (terra) continua a examinar o tempo e seu significado, mas agora focando também na natureza da linguagem e da poesia. Saído da escuridão, Eliot fortalece a sua idéia de solução: "I said to my soul, be still, and wait without hope" (algo como "Eu disse à minha alma: fique quieta, e espere sem esperança"). East Coker é uma pequena vila, no sul do Reino Unido.

"The Dry Salvages" (água) trata do elemento água via imagens de rios e mares. Nesse poema, os opostos parecem se aproximar de forma impossível, como no barroco: "...the past and future/Are conquered, and reconciled" (algo como "...o passado e o futuro/são conquistados e reconciliados"). The Dry Salvages são um grupo de rochas com um farol para navios em Cape Ann, Massachusetts, como explicado no prefácio do poema.

"Little Gidding" (fogo) é o mais antagonizado dos quartetos. As próprias experiências do autor como voluntário na equipe civil antiataque aéreo dão força ao poema, e ele se imagina encontrando com Dante no meio do bombardeio alemão. O cenário mostrado no começo dos quartetos ("Houses.../Are removed, destroyed" ou "Casas.../são removidas, destruídas.") haviam se tornado uma experiência cotidiana, o que cria uma série de imagens, entre elas a do amor: a força condutora de toda a experiência. O quarteto acaba então com uma frase de Julian of Norwich: "all shall be well and/All manner of things shall be well." ou "Tudo ficará bem e/todo tipo de coisa ficará bem". Little Gidding é uma igreja localizada em Huntingdonshire, Reino Unido.

Old Possum's Book of practical Cats (1939)

É composto por quinze poemas com a temática "Gatos". Cada um dos poemas conta a história em particular ou uma característica de um determinado gato. Eliot os escrevera ao longo da década de 1920 como presentes de aniversário para seus afilhados, herdeiros do dono da editora Faber & Faber. Os poemas são, no mais íntimo, metáforas com os testamentos da sociedade. Durante muito tempo os poema ficaram esquecidos dentro dos pertences dos afilhados, até que um deles já adulto, mexendo em velhos papéis, os encontrou e notou a grande possibilidade de publicá-los. Eliot, entretanto, ficou apreensivo com as críticas, pois considerava os poemas fracos e exclusivos para crianças. Uma semana antes da publicação mudou-se para uma vila no interior da Inglaterra, tamanho era o seu medo, mas, logo depois do lançamento em Londres, recebeu um telefonema do afilhado dizendo que o livro fizera o maior sucesso. Na década de 1970, já 10 anos após a morte de Eliot, o então jovem Andrew Lloyd Webber musicou aguns dos poemas e fez uma versão reduzida do musical Cats. A viúva de Eliot, Esme Valerie Eliot, após assistir essa prévia do musical, presenteou o jovem autor musical com rascunhos de um poema inacabado pelo falecido marido. Esse poema chamava-se Grizabella: The Glamour Cat, e foi determinante para a finalização do famoso musical, dando abertura para a composição Memory, gravada por mais de 170 artistas até hoje. Os quinze poemas que compõe o livro são:

The Naming of Cats;
The Old Gumbie Cat;
Growltiger's Last Stand;
The Rum Tum Tugger;
The Song of Jellicles;
Mungojerrie and Rumpleteazer;
Old Deuteronomy;
Of the Awefull Battle of the Pekes and Pollicles;
Mister Mistoffelees;
Macavity: The Mistery Cat;
Gus: The Theatre Cat;
Bustopher Jones: The Cat About Town;
Skimbleshanks: The Railway Cat;
The Ad-dressing of Cats;
Cat Morgan Introduces Himself.

Note o senso de humor no último poema, feito exclusivamente para finalizar o livro, na última estrofe:

"So if yo 'ave business with Faber - or Faber - I'll give yu this tip, and it's worth a lot more: You'll save youself time, and you'll spare yourself labour If jist you make friends with the Cat at the door. MORGAN."

Fontes:
Wikipedia

T. S. Eliot (26 Setembro 1888 – 4 Janeiro 1965)


[Minha poesia] não seria o que é se eu tivesse nascido na Inglaterra, e não seria o que é se eu tivesse permanecido nos Estados Unidos. É uma combinação de coisas. Mas, nas suas fontes, na sua força emocional, ela vem dos Estados Unidos.

Thomas Stearns Eliot (St. Louis, 26 de setembro de 1888 — Londres, 4 de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário britânico-norte-americano. Em 1948, ganhou o Prémio Nobel de Literatura.

Nascido nos Estados Unidos, Thomas Stearns Eliot se sentia culturalmente ligado à Europa. Membro de uma família puritana de origem britânica, naturalizou-se inglês em 1927 e morou em Londres a partir dos 22 anos de idade. Os Eliot eram ligados às tradições da Igreja Unitária e membros da elite industrial e mercantil. Filho Henry Ware Eliot e Charlotte Chauncey Stearns,o poeta, ensaísta e dramaturgo recebeu o Prêmio Nobel em 1948.

Em 1906, aos 18 anos de idade, seguiu para Boston para estudar em Harvard, onde se dedicou a estudar literatura e filosofia. Editou a revista universitária "The Harvard Advocate", na qual publicou alguns trabaIhos. Após diplomar-se em letras clássicas, em 1909, foi a Paris, onde fez cursos de língua e literatura francesas, na Universidade Sorbonne. De volta a Harvard, voltou à filosofia e às letras, com ênfase na literatura sânscrita e na filologia indiana, o que o ocupou de 1911 a 1913.

Em 1915 o poeta publica seu primeiro poema mais conhecido, The Love Song of John Alfred Prufrock, na revista Poetry, da cidade de Chicago, depois aproveitado por Pound em sua obra Catholic Anthology. Neste mesmo ano, Eliot contrai matrimônio com a dama da sociedade londrina Vivienne Haigh-Wood. Lecionou no Highgate College, pequena escola para crianças nos arredores de Londres, mas depois o deixou para se tornar funcionário do Lloyds Bank Ltd., de Londres. Ele também atuou como editor-assistente do veículo Egoist, de 1917 a 1919, além de colaborar com outros impressos literários, entre eles The Athenaeum.

Em 1917, publicou "Prufrock and Other Observations" ("Prufrock e Outras Observações"), obra ao mesmo tempo satírica e pessimista. O poema "The Love Song of J. Alfred Prufrock" ("A canção de amor de J. Alfred Prufrock"), é o mais conhecido do volume de crítica à cultura de sua época.

Em seguida, começou a satirizar o passado da Europa com a coletânea "Poems" (1919; Poemas) e "The Waste Land" (1922; "A Terra Devastada").

Em 1920, um ano após a publicação de um pequeno estudo sobre Ezra Pound, ele reuniu, em "The Sacred Wood", alguns de seus melhores textos críticos da juventude. Seu trabalho como crítico começou com o ensaio "The Metaphysical Poets" (1921), sobre a poesia de John Donne e outros metafísicos.

Um de seus poemas mais famosos, The Waste Land, lançado em 1922, guardava vestígios da ascendência de Ezra Pound sobre a obra deste poeta, principalmente em seus esboços manuscritos. Esta publicação é considerada uma autêntica fonte de ensinamentos sobre a poética, e logo se torna um clássico, consagrando o autor nos meios literários, principalmente os de língua inglesa. Neste momento de sua existência, Eliot era descrito por seus companheiros como um verdadeiro britânico, no modo de agir, de se vestir, de pensar, fugindo do padrão inglês apenas no sotaque e na nacionalidade.

Sua formação religiosa se manifestou nos livros seguintes: "Ash Wednesday" (1930; "Quarta-feira de Cinzas") e, "Four Quartets" (1935-1943; "Quatro Quartetos"). O verso livre na obra de Eliot foi instrumento de uma renovação das estruturas formais.

Publicou também "Homage to John Dryden" (1924; Homenagem a John Dryden), e colaborações na revista "The Criterion" (1922-1939).

Na década de vinte, no pós-guerra, Eliot passa a freqüentar assiduamente a cidade de Paris, ao lado de vários outros artistas famosos desta época. O poeta Charles Baudelaire influencia definitivamente a obra de Eliot. Seu retrato da existência parisiense torna-se para o poeta norte-americano uma fonte de inspiração para sua própria reprodução da vida em Londres. Quando ele se torna membro da Igreja Anglicana, sua produção literária ganha contornos nitidamente religiosos e tradicionais, marcas que se refletem na tentativa de manter o inglês arcaico e certos valores cultivados na Europa.

Eliot se tornou editor em 1923, quando assumiu a diretoria da Faber & Faber, à frente da qual se manteve até a morte. Este cargo lhe propicia a oportunidade de agir como um incentivador de estudos no campo da estética, um mecenas da moderna literatura de língua inglesa.

Muito vinculadas à sua poesia, as obras para o teatro ganharam destaque com "The Rock" (1934; "O Rochedo") e "Murder in the Cathedral" (1935; "Assassinato na Catedral").

Ele ganha, em 1948, o Prêmio Nobel de Literatura.

Dez anos após se tornar viúvo, ele se casa novamente, em 1957, desta vez com Valerie Fletcher, sua secretária na Faber & Faber. Com o passar do tempo, ele se torna mais introspectivo, isolando-se gradualmente em Kensington, bairro de Londres onde residia.

No dia 4 de janeiro de 1965, morre o poeta T S Eliot, na cidade que adotou em sua juventude, Londres.

Carreira literária

T. S Eliot residia em Londres. Depois da guerra, nos anos vinte, ele passou muito tempo com outros grandes artistas na avenida Montparnasse, em Paris, onde foi fotografado por Man Ray. A poesia francesa exerceu grande influência na obra de Eliot, em particular o simbolista Charles Baudelaire, cujas imagens da vida em Paris serviram de modelo para a imagem de Londres pintada por Eliot. Ele começou então a estudar sânscrito e religiões orientais, chegando a ser aluno do renomado armênio G. I. Gurdjieff.

A obra de Eliot, após a sua conversão ao cristianismo pela Igreja Anglicana, é frequentemente religiosa em sua natureza e tenta preservar o inglês arcaico e alguns valores europeus que ele julgava serem importantes. Publicou o poema The Waste Land em 1922; em 1927 obteve a nacionalidade britânica.

Em 1928, Eliot resumiu suas crenças muito bem no prefácio de de seu livro "Para Lancelot Andrews": "O ponto de vista geral [dos assuntos do livro] pode ser descrito como classicista na literatura, monarquista na política e anglo-católico na religião." Essa fase inclui trabalhos poéticos como Ash Wednesday, The Journey of the Magi, e Four Quartets.

Fontes:
Infoescola
Uol Educação

Tércia Montenegro (Poema para um Gato)

Foto: José Feldman

Teus olhos de cobre -
Dois riscos de pupila -
Se fixam nos meus,
Tão menores.

Miram o mundo em transições
De luz e fundura, no ócio
Dos que têm a vida ganha
Em corpo de pluma.

Sob um focinho róseo, a boca
Se desenha em linhas oblíquas,
Num bocejo de serpente.

As orelhas se torcem ao menor ruído,
Baixam-se para o ataque
E relaxam em triângulos
No tempo longo de de descanso.

as patas, com a suave textura
De borracha, e as unhas
Violentas de renhuras, escondem
A dupla face de um caráter
Tranquilo mas astuto.

O silêncio da tua presença
E teu andar impressentido,
No aspecto de escultura,
Concentram a beleza da poesia
Em felina ternura.
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Fonte:
- Volante (Veículo Original Litero Alternativo Nascido Totalmente Emancipado). Periódico Bimestral. ano 1 - n.2, documental - Fortaleza,CE, março/abril 2009.

SIMPOESIA - II Simpósio de Poesia Contemporânea


Experiência literária de quatro dias que reunirá vozes das mais relevantes da poesia e da crítica literária internacional, além de uma feira de editoras independentes de poesia do Brasil e Argentina promovida pela revista Grumo. Um encontro que envolve a troca de idéias, a exposição da diversidade intelectual e o intercâmbio artístico e cultural entre diversas expressões da poesia contemporânea.

PROGRAMAÇÃO:

04 DE JUNHO

19:30h - Apresentação e abertura do evento

20h - Recital com Horácio Costa, Maria Esther Maciel, Micheliny Verunsck, Alfredo Fressia, Virna Teixeira

21h - Show: Polivox, com Rodrigo Garcia Lopes Local: Casa das Rosas

05 DE JUNHO
19:30h - Debate: Editoras Independentes de Poesia Com: Gustavo López, Virna Teixeira e Vanderley Mendonça. Mediação: Paloma Vidal

21h - Recital: Rodolfo Hasler, Rodrigo de Haro, Efrain Rodrigues Santana, Luís Serguilha, Victor Sosa. Após o recital haverá o lançamento da revista Grumo.

Local: Instituto Cervantes

06 DE JUNHO

COLÓQUIO – POETAS DE LÍNGUA INGLESA

14:30h - Debate: Brazilian poetry in translation. Com Steven Buttermann, Stefan Tobler, Flávia Rocha e Rodrigo Garcia Lopes. 16h - Palestra: Language poetry Professor William Alegrezza

17h - Palestra-Editing Contemporary Poetry – Litmus Press Experience Com E.Tracy Grinnell e Julian Brodanski

18h - Recital- Poetry reading Com William Allegrezza, Tracy Grinnell, Julian Brodanski e Stefan Tobler. Stefan Tobler lerá traduções para o inglês do poeta Antônio Moura. Os demais poetas serão traduzidos para o português por Virna Teixeira.

19h - Poesia: palavra impacto. Palestra com Frederico Barbosa

20h - Recital: Sérgio Medeiros, Carlos Augusto Lima, Marco Vasques, Silvia Iglesias, Tatiana Fraga, Marcelo Tápia.

21h - Show: grupo de jazz Patavinas

Local: Casa das Rosas

07 DE JUNHO

16h - Debate: Poesia, Sadomasoquismo e Diversidade Sexual. Com: Steven Buttermann, Antônio Vicente Pietroforte e Glauco Mattoso. Mediação: Contador Borges

17h30 - Debate-Poesia e Fronteiras geográficas Com Silvia Iglesias, Carlos Augusto Lima e Marco Vasques Mediação: Edson Cruz

19h - Recital: Edson Cruz, Contador Borges, Andréa Catrópa, Luis Roberto Guedes, Donny Correia, Antônio Vicente Pietroforte, Greta Benitez.

Local: Casa das Rosas

Convidados Internacionais: Alfredo Fressia (Uruguai) Efraín Rodríguez Santana (Cuba) Julian Brodanski (EUA) Luís Serguilha (Portugal) Gustavo López (Argentina) Rodolfo Hasler (Espanha) Silvia Iglesias (Argentina) Stefan Tobler (Inglaterra) Steven Butterman (EUA) Tracy Grinnell (EUA) Victor Sosa (México) William Alegrezza (EUA)

Convidados brasileiros: Andréa Catrópa Antônio Vicente Pietroforte Carlos Augusto Lima Contador Borges Donny Correia Edson Cruz Flávia Rocha Frederico Barbosa Glauco Mattoso Greta Benitez Horácio Costa Luís Roberto Guedes Marcelo Tápia Marco Vasques Maria Esther Maciel Micheliny Verunschk Paloma Vidal Sérgio Medeiros Rodrigo Garcia Lopes Rodrigo de Haro Tatiana Fraga Virna Teixeira

SITE DO EVENTO: www.simpoesia.wordpress.com

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Bela Vista
F: (11) 3285-6986 contato.cr@poiesis.org.br & www.casadasrosas-sp.org.br
Estacionamento conveniado Patropi: Al. Santos, 74

Instituto Cervantes
Av. Paulista, 2439 / 7º Bela Vista - São Paulo
01311-300 - SP Tel.: 55 11 3897 96 00 Fax.: 55 11 3064 22 03 informasao@cervantes.es

Fontes:
Luiz Alberto Machado. Varejo Sortido.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Trova X

1º Concurso de Trovas do Salim (Resultado Final)

Realização: UBT de Tremembé-SP

Sábado, dia 23 de maio, em Taubaté, no Restaurante Salim, no encerramento do I Concurso de Trovas e Poesias do Salim. Organização da UBT Tremembé, sob o comando de Luiz Antonio Cardoso, com presenças importantes dos membros da UBT Taubaté. O próprio Bispo Dom Antonio Afonso de Miranda, premiado, lá compareceu para declamar seu soneto. Houve música ao vivo. Muitas declamações.
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Nível: Municipal
Tema: Imigrante
(Todos os premiados deste nível são da UBT de Tremembé-SP)

Vencedoras

1º Lugar
Salve gentil imigrante!
que em nossa terra chegou,
você foi elo importante
do progresso que ficou.
Alda Lopes

2º Lugar
O progresso no País
foi impelido bastante.
Ninguém nega que a raiz
foi a garra do imigrante.
Loris Turrini

3º Lugar
Está triste em terra estranha...
saudades no coração!
Este é o preço da façanha
na procura da emoção.
Lamarque Monteiro

4º Lugar
Vida e alma aventureira
vai, nosso imigrante amado,
buscar em terra estrangeira
a conquista do Eldorado.
Lamarque Monteiro

5º Lugar
Vindo de terra distante,
aqui se estabeleceu.
Conheceu povo vibrante,
Mas o seu, nunca esqueceu!
Cláudio De Morais

Menções Honrosas

Nosso Brasil fez sucesso
ao trazer nosso imigrante
assim se deu o progresso
desta nação tão brilhante.
Alda Lopes

Todo imigrante cultiva,
levado pela esperança,
voltar à terra nativa,
que pisou quando criança,
Cláudio De Morais

Longe da terra distante,
querido berço natal,
suspira o pobre imigrante
saudoso de seu pessoal.
Martinho Monteiro

Lembrando a terra distante,
sonhando mesmo acordado,
o coração do imigrante
bate até descompassado.
Martinho Monteiro

Menções Especiais

Alimento tem de sobra...
o fazendeiro garante.
Quem é o autor da grande obra?
Nosso querido imigrante.
Benedito Dimas Ferreira

Culinária no Brasil,
é o que há melhor no mundo.
Nas receitas, mais de mil,
o imigrante foi fecundo.
Loris Turrini

Meus quereres, imigrantes,
em teu coração fugaz,
hoje são vis retirantes
chorando um sonho... que jaz !!
Luiz Antonio Cardoso

Alto-mar... e o continente
na imensidão a sumir,
é imigrante em minha mente,
que teima em nunca partir.
Luiz Antonio Cardoso

Nível: Regional
Tema: Monteiro Lobato


Vencedoras

Lobato: sacis... pigmeus...
sua memória persiste!
- Quantas crianças, meu Deus,
havia num homem triste!
José Valdez De Castro Moura
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Lobato, enquanto costuras
contos com habilidade,
num sítio de travessuras,
comigo brinca a saudade...
Élbea Priscila De Sousa E Silva
(UBT de Caçapava-SP)

Bela leitura em família,
que recordo com carinho:
as travessuras de Emília...
Reinações de Narizinho!
Keisy Santos
(UBT de Tremembé-SP)


Por ser grande literato
versando o tema infantil,
ficou, Monteiro Lobato,
famoso em todo o Brasil.
Argemira F. Marcondes
(UBT de Taubaté-SP)

Menções Honrosas

Qual um mago foi Lobato,
que em suas obras previu:
Presidente negro, é fato
o petróleo, aqui surgiu!
Angélica Villela Santos
(UBT de Taubaté-SP)

Hoje, relendo Lobato,
chego a sentir a fragrância
de sonho e um pouco resgato
da minha perdida infância...
Élbea Priscila De Sousa E Silva
(UBT de Caçapava-SP)

Foi Lobato, o pioneiro,
e está mais do que provado,
que o petróleo brasileiro,
foi seu sonho e seu legado!
Enivaldo Borges Da Silva
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Emília, Cuca, Saci,
o sítio, o campo, e o regato
dos meus sonhos de guri...
- Isso é Monteiro Lobato!
João Paulo Ouverney
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Foi herói, foi escritor,
- dizer, com certeza, eu posso -
de quem, para um ditador,
gritou: - o petróleo é nosso!
João Paulo Ouverney
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Menções Especiais

Nosso Monteiro Lobato
foi cantado em verso e prosa,
sua obra foi de fato
bem profunda e preciosa.
Alfredo Barbieri
(UBT de Taubaté-SP)

Lobato encantou crianças,
no mundo do faz de conta,
ante a infância de esperanças,
em que o seu sonho desponta!
Enivaldo Borges Da Silva
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Um mundo de fantasia
e que encantou gerações,
Lobato trouxe alegria,
Narizinho e as reinações.
José Guarany Rodrigues
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Monteiro Lobato faz
muita criança feliz,
no Sítio que exala paz
para o mestre ou aprendiz.
Judite De Oliveira
(UBT de Taubaté-SP)

... E foi com tamanha audácia,
que provei sonho infantil:
bolos da Tia Nastácia...
os melhores do Brasil !
Keisy Santos
(UBT de Tremembé-SP)

LOBATO, ponta de lança,
desta nossa Pátria imensa,
é também toda esperança,
do Continente que pensa.
Lygia Fumagalli Ambrogi
(UBT de Taubaté-SP)

Com histórias envolventes
Lobato fez muito mais:
ao lançá-las, quais sementes,
criou jardins perenais.
Maurício Cavalheiro
(UBT de Pindamonhangaba-SP)

Comissões Julgadoras

Trovas - Municipal – “Imigrante”
- Ademar Macedo – UBT Natal-RN
- Dorothy Jansson Moretti – UBT Sorocaba-SP
- Gislaine Canales – UBT Balneário Camboriú-SC
- José Ouverney – UBT Pindamonhangaba-SP

Trovas - Regional – “Monteiro Lobato”
- Luiz Antonio Cardoso – UBT Tremembé-SP
- Cláudio de Morais – UBT Tremembé-SP
- Marina Bruna – UBT São Paulo-SP
- Vanda Queiroz – UBT Curitiba-PR
- Delcy Canales – UBT Porto Alegre-RS
- Renato Alves – UBT Rio de Janeiro-RJ
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Fontes:
– Luiz Antonio Cardoso. UBT de Tremembé-SP

IV Encontro das Academias de Letras do Paraná e Premiação do IV Concurso Literário "Cidade de Maringá"


PROGRAMAÇÃO:

DIA 19 de junho de 2009 (sexta-feira)

- Manhã: recepção/chegada ao Bristol Metrópole Hotel.

- 12h00/12h30: almoço no restaurante do hotel, Piso “L”.

- 14h00 às 17h00, no salão Rio de Janeiro, Piso “L”:
IV ENCONTRO DAS ACADEMIAS DE LETRAS DO PARANÁ.

- 17h15: Lanche

- 19h30: Noite Cultural, no Auditório Hélio Moreira - Paço Municipal.
Programação:
- Lançamento da Coletânea 2009 da ALM.
- Apresentação da peça premiada.
- Show de lançamento do 2º CD Trovadores do Campo, da dupla Pedro Ornellas e Campos Sales, de São Paulo – SP.

- 22h00: Jantar no restaurante do hotel, Piso “L”, para os escritores premiados e participantes do Encontro das Academias.

Dia 20 de junho de 2009 (sábado)

- 07h00/08h00: Café da Manhã no restaurante do hotel, Piso “L”.

- 09h00: Oficina de Haicai, com a escritora Lena de Jesus Ponte (Rio de Janeiro – RJ),no salão Rio de Janeiro, Piso “L”.

- 12h00: almoço no restaurante do hotel, Piso “L”.

- Tarde Cultural.

14h30, no auditório da Biblioteca Municipal “Bento Munhoz da Rocha Netto”: Apresentação das crônicas premiadas.

A música erudita e seus poemas, com o pianista Júlio Enrique Gómez e a poetisa Roza de Oliveira.

16h00, no Teatro Reviver:
Espetáculo “O menino que ganhou uma boneca”, com a Cia. Teatral Tipos & Caras. Texto e direção de Majô Baptistoni. Duração: 40 minutos.

- Noite:

19h30: FESTA DE PREMIAÇÃO, nos salões Paris e Londres, “Cobertura”.
* Ao término da cerimônia de premiação, será servido o jantar, no local.

Dia 21 de junho de 2009 (domingo)

- 07h00/08h00: Café da Manhã no restaurante do hotel, Piso “L”.

- Passeio, de “jardineira”, pelos pontos turísticos de Maringá,
com saída em frente à Catedral.
09h00 às 10h30: 1ª turma
10h30 às 12h00: 2ª turma

- 12h30: almoço de despedida, no restaurante do hotel.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Ailton Maciel (O Presente da Professora)



Durante muitos anos Dona Gracinha viveu no interior. Professora de muitas crianças pobres e algumas abastadas. Passados os anos, continuava a mesma, bondosa e sorridente, embora os cabelos brancos denunciassem os seus quase 60 anos. O seu epiderma, já metamorfoseado pelo tempo e pelas vicissitudes da vida, era prova de muitos anos de trabalho árduo e penoso. Porém não lhe faltavam sorrisos e gestos de amor para cada criança.

Já aposentada, ainda dava aulas, quase que sem remuneração, a filhos de operários. Sempre encontrava uma solução para todos os problemas. “Dona Gracinha, eu não tenho lápis, porque papai não...” Ela não deixava o menino prosseguir. Conhecia os problemas de cada um deles. A todos tratava sem distinção. A posição social, a cor, a conformação física, o traje, a dentadura, tudo o mais para ela passava a segundo plano. Por isso, os pais e as crianças adoravam Dona Gracinha. Simples e humanitária, gostava das crianças como se fossem seus filhos, que não os tinha. Encontrara, é certo, quando jovem, vários pretendentes, porém a todos deu uma resposta plausível e bem intencionada: muito jovem, tinha obrigações a cumprir. O tempo foi correndo, e ela nunca se dispusera para o matrimônio. Não que o renegasse. Não, ao contrario: achava o ato mais belo da vida. Mas havia a escola, as crianças pobres... E, casando, o marido poderia interpor-se entre ela e as crianças. Não, melhor não arriscar. E nunca se arrependeu do celibato. Embora solteira, tinha muitos filhos – seus alunos. Quando lecionava no interior deixara muitos rapazes e muitas moças, senhores comerciantes, senhoras casadas, que foram seus discípulos. Hoje, quando raras vezes se dispunha a fazer um breve passeio pelos lugares onde lecionara, muitas das vezes via homens chorarem de alegria e de tristeza, agradecendo-lhe os ensinamentos recebidos quando crianças. E a todos ela visitava. Era seu dever, achava. Porém chorava quando via pobres crianças raquíticas e barrigudas esquivarem-se do seu afeto. Mães que há trinta anos foram suas alunas hoje parecerem espectros humanos – mais velhas do que ela. Mulheres barrigudas, empalemadas e sifilíticas. Homens morrendo de inanição, trabalhando da madrugada ao pôr-do-sol, vergados ao peso do sofrimento, encabulados, tristes e semimortos. Crianças – suas amadas crianças – raquíticas, enfermas, bochechudas, morrendo, morrendo... morrendo, sim, lentamente, de fome e de doenças. Dona Gracinha chorava. Tinha ímpetos de pegar uma autoridade e levá-la a ver aquele inferno. Continha-se, entretanto, a velha professora. Era do amor, da calma e da paz; nunca do ódio e da violência. Ajudava-os, então, no que podia: dinheiro, amor, carinho ou conselho. Dona Gracinha: boa e piedosa. E regressava à capital, triste e pensativa.

Três de fevereiro: dia inesquecível para todos os alunos de Dona Gracinha – o dia de seu aniversário. Não se sabe quem divulgou a notícia nem tampouco como tomou conhecimento daquela data. O fato é que para ela aquele dia parecia mais triste do que os outros. Não gostava de manifestações públicas. Não gostava, repetia, era velha, esquecessem tal coisa. Sinceramente, não gostava. Os meninos sorriam e no dia três lá estavam a cantar "parabéns pra você” e a trazer-lhe humildes presentes: uma galinha, um pato, um sabonete, e outras coisinhas.

Chegando tal dia, os alunos já haviam preparado a humilde cerimônia de aniversário. Todos sentados, quando entrou D. Gracinha. Ergueram-se e começaram a entoar a canção propícia e invariável do “parabéns pra você”. Após isso, a professora proferiu pequeno discurso de agradecimento. Passaram, então, a colocar os presentes, um a um, sobre a mesinha: um bolo, um sabonete, uma pasta dentifrícia, uma escova.... Um dos garotos, o último a dirigir-se à mesinha, saiu a passo lento. Levava às mãos um embrulhinho fino e comprido. Como o papel fosse pouco, todos puderam ver facilmente o conteúdo: um pão. Todos, sem exceção, riram largamente. Dona Gracinha pediu silêncio: censurou a atitude dos meninos. E, sem conter os sentimentos, pôs-se a chorar. Os garotos se fizeram sérios e calados. “Este é o mais valoroso presente que recebi durante toda a minha vida, porque dado de coração. Crianças, nunca deveis zombar do próximo. Vejam: por causa de vocês ele esta chorando”. E, de novo, chorou ela. Os alunos baixaram a cabeça. Dona Gracinha foi até à carteira de Roberto e disse: “Meu filho, não chore. Eles não sabiam que iam ofender a mim e a você”. E deu um beijo no rosto do menino.

Setembro de 1968.

Fontes:
- Jornal de Poesia
- Imagem = http://aprendizagememacao.blogspot.com/

Ailton Maciel (Cinzas)



Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
A primavera, que arrebata as asas...
Levou-lhes os passarinhos e os amantes!...
Castro Alves

Aparece, ó visão de minha vida!
Vem decantar comigo o amor luzente...
Não vês, menina, a chaga dolorida
Que fervilha em meu peito penitente?...

O vem, ó vem, eu, louco, desespero!
Vem sentir desta vida os seus sabores...
Vem, açucena, eu todo dia espero
Os momentos ditosos dos amores!

Não te lembras, então, dos belos dias,
Que passamos felizes, lado a lado,
Só sentindo prazeres e alegrias
Sob o tempo, feliz, enluarado?!

Ainda recordo a nossa feliz vida:
Eu beijava a sorrir os teus cabelos.
Hoje o meu ser é chaga dolorida,
Hoje os sonhos são frios pesadelos!

Quão ditosos nos foram os momentos
Quando em tempo atrás juntos passamos...
Hoje restam visões e mil tormentos
Dos tempos auros em que nos amamos!

Hoje só restam cinzas... devaneios...
Recordações fatais pras nossas vidas:
Tu tens o corpo de carícias cheio,
E eu de chagas e fatais feridas!

Fortaleza, 7/10/64.
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Ailton Maciel (1943 – 1974)
Ailton Alves Maciel nasceu em Baturité em 7 de março de 1943. Em vida nada publicou, embora tenha escrito inúmeros poemas, romances e contos. Sua obra mais importante desapareceu. Talvez no incêndio doméstico que quase o matou, em Brasília, onde foi viver (e morrer) no início dos anos 1970. Sua morte clínica se deu no dia 22 de outubro de 1974. Apenas quatro contos se salvaram: "Santa Caçada", "O Touro", "O Careca" e "O Presente da Professora", publicado na revista Literatura n.º 24, de 2003. Outros onze fragmentos encontrados podem ser de contos e romances.

Fontes:
http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/
– Jornal de Poesia
– Imagem = http://leninhaluz.blogspot.com

Curitiba em Destaque


Dia 28/05 – 15h00min
Realização: Academia Feminina de Letras do Paraná

“Valores Culturais Paranaenses” – Vida e Obra de Ceres de Ferrante.
Local: Auditório Leonor Castellano
Rua Visconde de Rio Branco, n° 1717 - Centro - Curitiba/Paraná

Dia 28/05 – 18h00min
Realização: Academia Paranaense da Poesia
Oficina permanente de poesia –

“A Poesia de Emiliano Perneta”
Palestrante: Mamed Assim Zauith
Local: Biblioteca Pública do Paraná – 3 andar

Dia 28/05 – 19h00min
Realização: Academia Paranaense da Poesia.
Oficina permanente de poesia – “Tribuna Livre”
Local: Biblioteca Pública do Paraná – 3 andar

Dia 30/05 - 12h30min (último sábado)
Realização: Academia Paranaense da Poesia
Almoçando com Música e Poesia –
Local: no Ponto Gira Grill churrascaria. – Buffet livre – R$ 11,50 por pessoa –
Endereço: Rua Alfredo Bufren 219 – Praça Santos Andrade em frente à UFPR –

Obs.: O local deste evento além de não possuir escadas situa-se entre dois estacionamentos.

Dia 30/05 – 15h00min
Lançamento do livro Altdeutschen de Zélia Sell

Local: Clube Concórdia
Rua Carlos Cavalcanti, 815 – Centro.
Curitiba- Paraná.

Fonte:
Andréa Motta. in
http://simultaneidades.blogspot.com

Estação Cultura em Canoas/RS (Programação)

Clique sobre a imagem para ampliarFonte:
Neida Rocha.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Trova IX

Montagem sobre quadro de Aristeu Nogueira Soares

Ocimar Barbosa (A Lenda dos Namorados do Bosque)

Pindamonhangaba tem uma lenda das mais românticas que conta sobre um amor impossível. Trata-se da “Lenda dos Namorados do Bosque”. O fato, segundo historiadores já falecidos, caso do antigo arquivista da prefeitura municipal, “seo” Lacerda, teria acontecido na década de 20 do século que passou.

A morte de dois jovens abalou a sociedade e a comunidade de forma geral, mas o que houve nos bastidores é o que acabou criando a lenda, como uma versão valeparaibana para “Romeu e Julieta”.

A alta sociedade de Pindamonhangaba, remanescente dos áureos tempos do café, ainda vivia das aparências e de uma falsa opulência financeira. Sarais e encontros festivos nas casas mais abastadas falavam da vinda do Príncipe Regente antes do episódio da Independência, dos soldados da Guarda de Honra, da presença de D. Pedro II e das tradições familiares.

Preconceito, o inimigo do amor
Nas igrejas e outros templos religiosos, falava mais alto o renome e a posição social. Um lado da igreja era destinado aos descendentes da nobiliarquia e outro lado para os cidadãos comuns. Famílias tradicionais que ostentavam a distinção de títulos não permitiam que seus membros mantivessem contatos com gente de “menor expressão”.

Assim, em meio a esse cenário pincelado pelo preconceito sobranceiro - entre a pessoa de descendência fidalga e outra do da “plebe”-, surgiria um grande amor .

A jovem era linda, de família de berço nobre do século XIX e cercada de cuidados. Representante ideal da sociedade pindense, havia estudado nos melhores colégios do Rio de Janeiro; ele, um moço da classe média, porém, altivo e inteligente, havia cursado os principais colégios de Pindamonhangaba. Quando se conheceram, ele estudava medicina em São Paulo.

O amor impossível
Conheceram-se durante uma noite de domingo, na Praça Monsenhor Marcondes, naquele período onde o romantismo ainda fervilhava nos corações (não como hoje, onde baladas, drogas, bebidas e palavrões fazem parte do cotidiano da maioria dos casais de namorados). Gestos cavalheirescos ainda provocavam suspiros nas jovens moçoilas.

Foi amor à primeira vista. Apresentados por amigos, brilhou nos olhos a chama do amor verdadeiro onde ambos se sentiram almas-gêmeas, um do outro.

Sentiam-se como se já houvessem se conhecido em outras eras. Tudo era mágico, a atração totalmente recíproca. Imediatamente, estavam loucamente apaixonados.

Logo que soube dos encontros românticos, a família da moça passou a pressioná-la: “Ele não é do nosso nível. Você precisa terminar esse romance!”, diziam os pais, sem demonstrar o mínimo de respeito pelos sentimentos da moça.

Como os jovens apaixonados continuavam a se encontrar, a família proibiu a jovem de vê-lo. Pior! O amor ganhou ainda mais força. Com a proteção das amigas de ambos, o casal de namorados continuava a viver aquele amor cada vez mais impossível.

Ameaças e perseguições
A situação começava a ganhar contornos perigosos com ameaças de todos os lados. O rapaz passou a ser perseguido pelos jovens da elite. Algo terrível estava pra acontecer.

O jovem estudante de medicina já estava em seu 2º ano de estudo e, depois de dois anos, passaram a se encontrar apenas no período de férias, quando ele retornava para sua terra natal, Pindamonhangaba. Nesse período, voltavam as pressões familiares, ameaças e perseguições.

Ficava mais difícil os encontros secretos, enquanto isso, a paixão aumentava, era cada vez mais ardente. Precisavam fazer alguma coisa, pois já não poderiam viver, um sem o outro.

Eternizando o amor
Os jovens temiam, um pela vida do outro. Isso era a prova maior de um sentimento verdadeiro. Depois de conversarem muito, apesar de constantemente vigiados, resolveram colocar um fim àquela situação insuportável.

Em uma certa noite que ficou na história, os jovens desceram a ladeira do Bosque da Princesa. O jovem estudante de medicina trazia um pequeno frasco contendo veneno.

Sob a luz da lua e embaixo de um ipê todo florido, amaram-se, sendo vigiados desta vez, apenas pelas águas cúmplices e silenciosas que deslizavam pela curva do Rio Paraíba.

Depois, brindaram àquele grande amor e beberam da taça que continham a substância venenosa trazida pelo rapaz. Foi um adeus melancólico a duas jovens vidas, mas um “sim” ao encontro de duas almas afins.

No dia seguinte, um grupo de pescadores que passava pelo local encontrou os dois corpos abraçadinhos, cobertos pelas pétalas do ipê amarelo. O velho ipê cobriu com seu manto dourado o jovem casal e serviu assim, de testemunha para um enlace doloroso, porém eterno.

Dizem que o ipê, a partir daquele dia, foi secando, ficando triste...até que morreu de vez e foi retirado. Durante muitas décadas, era visto um pedaço de terra sem vida e sem qualquer vegetação, do lado esquerdo de quem olha para o rio.

Nos anos, 90, com a reforma do gramado do Bosque da princesa, o local ficou sem a referência da velha história: A Lenda dos Namorados do Bosque.

Fonte:
http://www.pindavale.com.br/historiasecausos/textos.asp?artigo=52

Ribeiro Couto (O bloco das mimosas borboletas)



Foi na véspera do carnaval que encontrei o senhor Brito. Ele esperava o bonde junto ao Hotel Avenida.

- Boa tarde, senhor Brito!

- Boa tarde!

E, como eu parasse para acender um charuto, o senhor Brito, aproximando-se, pediu com humildade:

- O seu fogo, faz favor?

Estava ali há dois minutos, com o cigarro apagado, à espera do bonde e de um conhecido para emprestar-lhe o fogo. O senhor Brito ouviu dizer, ou leu num almanaque, que o banqueiro Laffite obteve o seu primeiro emprego porque o futuro patrão o viu curvar-se para apanhar um simples alfinete. Então faz economias de caixas de fósforos, de cafés, de engraxate. Pode ser que algum capitalista se aperceba disto e o convide para um alto negócio.

Aliás, há uma outra razão para o senhor Brito agir desse modo: possui duas interessantes filhas, as duas com vinte anos e pouco, as duas caríssimas, as duas impondo uma importância social que está em absoluto desacordo com o modesto cargo que o senhor Jocelino de Brito e Sousa ocupa, silenciosamente, no Ministério da Fazenda.

Eram cinco e meia da tarde. Como a multidão nos acotovelasse, convidei o senhor Brito a tomar um aperitivo na Americana. O senhor Brito, aceso o seu cigarro, principiara a lamentar-se; e a conversa, ainda que fastidiosa, excitava a minha curiosidade.

O senhor Brito é dos homens mais notáveis da cidade. Eu é que sei. No entanto, ninguém lhe dá importância. Tem uma obesidade caída, um desânimo balofo, um desacoroçoado jeito de velho funcionário pobre que se desespera em casa com as meninas. As meninas querem vestido, precisam freqüentar a sociedade, consomem-lhe todo o ordenado. Ultimamente, deram para um furor de luxo que não tem medida. E o senhor Brito, triste, cogitativo, anda sempre assim, de fazer dó: os braços cheios de embrulhos, o paletó-saco poeirento, os cabelos grisalhos esvoaçando-lhe pelas orelhas, sob o chapéu de palha encardida.

- Senhor Brito, um vermute.

- Acho bom, doutor, acho bom.

Tem um pormenor impressionante no rosto: as sobrancelhas muito peludas, também grisalhas, como que enfarinhadas de cinza. São agressivas as suas sobrancelhas.

Na pessoa mansa do senhor Brito;esse ponto enérgico é único, isolado. Tirando as sobrancelhas, todo ele é doçura.

A pêndula do bar martelou seis horas. O senhor Brito, que ia engolir o vermute, teve uma indecisão, o cálice suspenso à boca.

Li nos seus olhos inquietos esta frase: "As meninas estão à minha espera" .

Exatamente. O senhor Brito bebeu o gole e disse:

- As meninas estão à minha espera.

Ah, a minha feroz alegria! O senhor Brito é assim: um homem que eu, há tempos, venho surpreendendo, desvendando. Tomando posse da sua individualidade sem resistência. Estou a ponto de "saber" todo o senhor Brito. Há ocasiões em que, encontrando-o, digo para mim mesmo: "Ele vai falar-me de um artigo tremendo que saiu hoje contra o presidente da República na Vanguarda". É delicioso: o senhor Brito depois de me apertar a mão põe-me a conversar sobre vagas coisas e, de repente, como se obedecesse ao meu comando, pergunta:

- Leu hoje a Vanguarda? Que artigo tremendo! Que horror!

*****

- Tome outro vermute, senhor Brito - sacudiu a cabeça que não. - As meninas devem estar impacientes.
- E como vão elas?

- Assim, assim. O senhor é que não quis mais aparecer? (Ele pergunta isso sem o menor interesse oculto. Sabe perfeitamente que não pretendo casar-me.)

- Muito serviço, não calcula.

- Mas aos domingos, doutor! Uma vez ou outra! Dá-nos sempre muita honra e principalmente muito prazer.

- Obrigadinho, obrigadinho. Hei de aparecer. O senhor sabe que aprecio muito as suas meninas.

- Elas são boazinhas, isso é verdade. Gostam de divertir-se, de dançar, de brincar. Não pensam na vida.

Não pensam na vida! Para os seus olhos de pai essas duas interessantes princesas de arrabalde não pensam na vida. E elas não pensam senão na vida! Tratam exclusivamente de suas preciosas pessoinhas, dos seus preciosos projetos de casamento, do seu precioso luxo que custa as lágrimas secretas do pai desconsolado.

- Faça o favor, beba outro.

Aceita. E expõe o seu caso de hoje, o caso que eu há vinte minutos estou esperando, como um caçador mau, de emboscada:

- Não avalia as dificuldades que passei de ontem para cá! Imagine que era necessário arranjar um conto de réis e eu não encontrava agiota nenhum que me quisesse emprestá-lo. Afinal, sempre convenci o Moraes, aquele da Rua da Misericórdia, que por sinal todos os meses já me rói metade do ordenado. Esta vida, meu caro doutor!

- Sei o que ela é, senhor Brito. Eu também tenho os meus apertos. O vermute o pertubou um pouco, predispondo-o para a confidência. Continuo insinuando a expansão, pelo meu ar atento, pelo meu todo solícito, pelas minhas frases curtas que deixam sempre uma ponta, para o senhor Brito emendá-la com o que tem no íntimo.

- As meninas morreriam de tristeza se eu não conseguisse nada. -Ah!

- O senhor sabe, são moças, querem divertir-se.

- É natural!

- O carnaval faz todo mundo perder a cabeça. O senhor compreende: qual é o pai que numa ocasião destas não fará um sacrifício?

- Justo!

Pedi mais dois vermutes ao garçom.

- Esses empréstimos abalam muito a bolsa de um homem, senhor Brito.

- Um horror. Nem fale.

- Mas obteve, então?

Toma um gole. Chupa os beiços, enxugando-os. E desabafando: - Ah, felizmente!

- Meus parabéns sinceros.

Sorriu, feliz. Seus olhos, debaixo das sobrancelhas crespas e peludas, cintilaram contentes. As filhas morreriam de tristeza se não tivesse arranjado! Tomou outro gole.

Tive uma sensação inefável de haver ganho a tarde.

- Senhor Brito, há de me dar licença...

- Pois não, pois não!

Paguei a despesa, levantei-me. Ele bebeu o resto do cálice e levantou-se também, sobraçando os embrulhos. Senti que ia dizer-me qualquer coisa ainda sobre as meninas, sobre o carnaval, sobre aqueles embrulhos, sobre o empréstimo...

- Elas estão ansiosas. Está vendo isto? São as fantasias que já haviam escolhido na cidade. E caixas de lança-perfume. E confete.

- E serpentinas.

- Tudo!

O senhor Brito, na sua ternura, ter-me-ia abraçado se não foram os embrulhos.

- Não sabe o que é ter duas filhas, dois anjos como eu tenho!

O bonde da Gávea parara para o assalto dos passageiros. O senhor Brito ia precipitar-se, mas uma idéia lhe fuzilou no cérebro:

- Não quer tomar parte do bloco das meninas?

Desta vez o senhor Brito me apanhara de surpresa. Não gostei. Aquilo me escapara.

- Ah, elas organizaram bloco este ano?

- Alugamos um autocaminhão. Elas se lembraram do senhor mas tinham perdido o telefone da sua pensão. E eu ia-me esquecendo, que cabeça! E o Bloco das Mimosas Borboletas. Então, vem?

O bonde partia, campainhando.

- Telefone para lá!

Falou isso correndo, querendo voltar a cabeça para mim e ao mesmo tempo preparar o pulo sobre o estribo. Pulou. Dependurado, com os embrulhos lhe atrapalhando os movimentos, era sublime o senhor Brito. E o bonde virou a esquina da Rua S. José, levando a bondade, a ventura, o êxtase daquele pai. O Moraes, da Rua da Misericórdia, estava na porta da Brahma, torcendo os bigodes.

*****

Devo tomar parte do Bloco das Mimosas Borboletas?

*****

Quarta-feira de Cinzas eu entrava tranqüilamente num café quando o senhor Brito surgiu, súbito. Quase nos abalroamos.

- Oh! senhor Brito! Vamos a um cafezinho?

Estendi-lhe o braço procurando envolvê-lo pelo ombro. Ele tentou esquivar-se, esboçando uma recusa frouxa. Insisti com veemência e ele entrou, afinal, sombrio.

Observei-lhe que o laço da gravata estava desfeito. Teve um gesto nervoso, apalpando o colarinho e o peito da camisa, como se aquilo lhe tivesse feito lembrar qualquer coisa desagradável ou dolorosa.

Tive receio de pensar o que ele iria dizer-me... Aquele desleixo na gravata era significativo. Eu sabia que era Lalá, a mais velha, quem lhe dava o nó. Todas as manhãs. Ele ia dizer... Não, o senhor Brito dessa vez não disse nada.

Então puxei conversa.

- Divertiu-se muito no carnaval?

Deu de ombros, molemente, num desânimo de vida. E, puxando um cigarro de palha do fundo do bolso do paletó, fez-me com os dedos trêmulos o gesto de pedir fósforos.

Minutos escoaram-se. Não tínhamos assunto. Era mais prático nos despedirmos. .

- Bem, senhor Brito, vou aos meus negócios.

Segurou-me pelo braço. Tive um choque. A revelação ia sair. Passaram se ainda uns momentos de silêncio. Perguntou-me, enfim:

- Por que não quis tomar parte no nosso bloco?

- Ora, senhor Brito, eu não sou carnavalesco. Acredite: não saí de casa os três dias.

- Pois lamentei, lamentei muito a sua ausência.

- Ora, por quê, senhor Brito?

- O senhor é um moço sério. Se o senhor tivesse vindo, olharia pelas minhas filhas.

Senti um susto e uma pérfida vontade de rir. Tive a impressão do ridículo e, ao mesmo tempo, de um vago drama palpitante. As sobrancelhas do senhor Brito, um instante fitas em mim, moviam-se agora, acompanhando um tique nervoso de piscar, indício de comoção.

- Muito agradecido pela confiança, senhor Brito. Porém, não sei se sou digno.

- Sei eu, sei eu.

Comecei a ficar impaciente.

- Que houve de extraordinário, senhor Brito?

- Imagine o senhor que ontem, último dia, como estivesse com os meus rins muito doloridos, não pude acompanhar as meninas ao carro. Sabe, os meus rins...

- Sei, senhor Brito.

- O bloco era grande, umas trinta pessoas. Enfim, havia o Gomes, da minha repartição. O Gomes com a senhora. Fiquei tranqüilo por esse lado e confiei-lhe as meninas. Sabe, os rapazes me pareciam distintos, mas nunca é bom confiar demais.

- Claro.

- Pois meu caro, não lhe conto nada; até esta hora as meninas ainda não voltaram.

- Oh, senhor Brito!

- O Gomes está abatido. Diz que não sabe como é que elas lhe escaparam das vistas.

No rosto tranqüilo do senhor Brito, os olhos, sempre doces, faiscaram de dor. As sobrancelhas tremeram-lhe.


- É verdade o que me diz?

- Des-gra-ça-da-men-te!

Caiu-lhe a cabeça sobre o peito, no desconsolo da calamidade. Não tendo o que dizer (e já um pouco arrependido de não haver tomado parte no bloco, mas por motivos inconfessáveis) reuni todas as minhas cóleras contra aquele Gomes:

- Porém, senhor Brito, esse sujeito, esse Gomes, é um patife!

O senhor Brito fez com a cabeça que não, que o Gomes não era um patife. E disse devagar, com tristeza:

- A mulher dele também até agora não chegou em casa. íamos pela" rua cheia de povo barulhento e feliz.

- Senhor Brito, cuidado com esse auto.

Atravessamos.

Eu tentava qualquer coisa em prol daquela dor:

- Sossegue. Elas dormiram com certeza em casa de amigas".

- Ninguém sabe delas.

- Paciência, senhor Brito, paciência. Talvez já estejam em casa, até.

Barafustamos por um telefone público. Esperamos um momento até que dona Candinha (irmã solteirona e velhusca do senhor Brito, que criara as meninas, sem mãe, desde cedo) atendeu do outro lado do fio.

- Elas já chegaram? - rompeu o senhor Brito, com a voz gritada e comovida, ansioso da resposta.

Largou o fone no gancho, sem ânimo.

- Vamos embora, doutor. Não apareceram! Não há notícias!

E fomos para o Jornal do Brasil. No balcão da gerência o senhor Brito redigiu com letra trêmula o anúncio: "Um conto de réis - Gratifica-se com um conto de réis a quem der notícias positivas sobre o paradeiro de duas moças que anteontem, vestidas à século XVIII, tomaram parte do Bloco das Mimosas Borboletas, da Gávea. Dirigir-se à Rua República de Andorra nº 7".

O empregado do jornal pegou o anúncio, leu-o, teve um sorriso discreto e fez a conta.

O senhor Brito pagou o anúncio e saímos.

Na rua teve uma idéia repentina:

- É verdade, onde vou buscar outro conto de réis?

E a sua doce pessoa crispou-se de angústia.

*****

Ao nos despedirmos, ele queixou-se de uma dor de cabeça. Parou um momento levando a mão à testa. E, súbito, amontoou-se na calçada. Eu não tivera tempo de ampará-lo. Então, com esforço, suspendi aquela massa pesada. Pessoas que passavam me ajudaram. Estava morto.

Seu cadáver foi no automóvel da Assistência Pública para casa, depois das formalidades legais.

Acompanhei-o.

Dona Candinha estava fazendo o jantar e veio ver quem batia, manca de reumatismo, limpando as mãos no avental. Espantou-se. Atrás dos óculos, os olhos se esbugalhavam, sem compreender. Até que, como que se lembrando, deu um grito:

- As meninas! - e ergueu os braços exclamativos.

- É o senhor Brito, dona Candinha - intervim com calma. – Está doente. Muito doente.

- O Jocelino! Pobre Jocelino! Que foi que aconteceu pro Jocelino? E pôs-se a limpar os olhos com o avental sujo.

*****

Entre as pessoas que velavam o cadáver, Gomes destacava-se pelo seu ar digno de homem ferido no seu amor-próprio. A mulher desaparecera definitivamente. Suspeitava-se de um estudante de Medicina, um certo Aristóteles, sergipano, um dos influentes do bloco.

Havia quem apertasse a mão de Gomes, com comoção, apresentando-lhe condolências. Dava a impressão de um parente. A fuga da mulher estabelecera entre ele e o defunto um laço confuso de família.

Gomes agradecia, com um lenço sempre encostado ao rosto.

*****

Pela madrugada entrou Cotinha, a filha mais moça.

Entrou pé ante pé. Ninguém lhe perguntou donde vinha nem por que vinha. Havia na sala apenas três ou quatro pessoas pobres da vizinhança, além de mim. Todas as demais - Gomes inclusive - se tinham retirado por volta de meia-noite. (Gomes explicou que estava abatido, precisava retirar-se, repousar.) Dona Candinha dormia lá dentro, numa cadeira de balanço da sala de jantar, venci da pelas agitações das últimas quarenta e oito horas.

Cotinha caminhou receosa para o meio da sala e atirou-se sobre o caixão. E chorou, chorou, sacudida, como que se esvaziando a repelões.

Quando acabou de chorar, veio para onde eu estava, toda encolhida como uma criminosa, de olhos inchados e vermelhos. Apertei-lhe a mão que me estendeu e ficamos em silêncio. Depois de uns minutos, como um sentimento surdo e talvez hostil nos impelisse a explicações, perguntei:

- E dona Lalá?

- Não sei. ( Deu de ombros, espichando o beiço num muxoxo contrariado.) Cada uma de nós foi para o seu lado.

Fiquei estarrecido.

- E a senhora do Gomes?

Disse que ignorava também o destino da outra. Formosíssimo! Eis o epílogo do Bloco das Mimosas Borboletas no carnaval de 1922 na muito leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro - pensei com os meus botões.

Depois Cotinha contou que soubera da morte do pai por acaso, porque passara de automóvel pela porta, "com um senhor"... E acrescentou tímida, rompendo o pudor:

- O senhor com quem eu estou.

Tive um baque. Era possível? Um cinismo lavado de lágrimas, assim, era possível?

- Mas dona Cotinha: que bicho mordeu as senhoras, desse modo, de repente? Ficaram doidas?

Sacudiu os ombros, pondo as duas mãos nos olhos, como uma criança e chorando de novo:

- É a vida... Que é que o senhor quer?

As outras pessoas da sala olhavam-nos, a cochichar entre si. Sem dúvida faziam mau juízo. Talvez pensassem até que era eu o comparsa de Cotinha.

Um cheiro de flores pisadas e cera errava, acre. Um sentimento pungente me dominava, abafando uma vaga, uma imprecisa sensação de sarcasmo. As oito velas ardiam silenciosas em torno do caixão do senhor Brito, que tinha um crucifixo de prata à cabeça. Eu não'conseguira ainda, até aquele instante, definir o meu estado de alma. Parecia-me, profanamente, que qualquer coisa de cômico se insinuava por tudo aquilo. Talvez, porém, fosse engano meu, ruindade minha, tendência cruel do meu temperamento. No fundo, eu estava zonzo com o que me rodeava: o senhor Brito, a filha que voltava, as pessoas pobres e imbecis da vizinhança, as oito velas, o cheiro de flores pisadas, a idéia do cavalheiro com quem Cotinha passeara de automóvel, a idéia de Lalá, a idéia de Aristóteles furtando a mulher do Gomes, a lembrança do anúncio que saíra de manhã no Jornal do Brasil, o ridículo do Bloco das Mimosas Borboletas - tudo aquilo ainda não recebera uma forma definitiva no meu espírito.

Cotinha merecia umas bofetadas?

O problema de saber se Cotinha merecia ou não umas bofetadas me invadiu, súbito. Fiquei a remoer essa inspiração, como se ela encerrasse um alto valor poético ou filosófico. Eram quatro da madrugada. Um pessoa levantou-se, em bico de pés. Outra pessoa levantou-se também.

Daí a um quarto de hora Cotinha e eu estávamos sós.

Ficamos nós dois, longo tempo, calados, olhando o senhor Brito. Por duas vezes Cotinha soluçou:

- Coitado do meu paizinho!

Por outras duas vezes suspirou:

- E Lalá que não sabe de nada! Que horror!

Claridades pálidas do dia nascente entraram vagarosas pelas janelas. Um torpor me tomou. Cotinha chorava agora encostada a mim.

O barulho do primeiro bonde, que vinha vindo longe, me ergueu na cadeira. Cotinha encostou a cabeça ao espaldar, fatigada, humilhada, amarrotada, sem valor e sem destino, como uma pobre coisa.

Para vencer o torpor, tomei a deliberação de sair, de andar. Fui olhar então, de perto, o meu defunto amigo; o meu campo de observações e de conquistas psicológicas, o meu infeliz Jocelino de Brito e Sousa. O rosto estava calmo, como a sorrir. As sobrancelhas peludas continuavam agressivas, enérgicas, na fisionomia doce, doce para todo o sempre. Aquela massa humana estava agora liberta de pensar no Moraes da Rua da Misericórdia.

- Dona Cotinha, até logo, à hora do enterro.

Ela veio até a porta da sala, que dava para uma área. Levantei a gola do paletó por causa do frio da madrugada.

Estendi a mão para Cotinha. Encarei-a com piedade e revolta: gordinha, morenota, um leve buço enegrecendo-lhe o lábio superior. E irresponsável, camaradinha, fácil, derrotada nas suas vaidades de princesa de arrabalde por aquele complicado drama de fuga e morte.

Olhando-me a fito, vi nos olhos dela recordação da vida já antiga: o lar do senhor Brito, os domingos de visita ou passeio com outras pessoas que freqüentavam a casa, os projetos ambiciosos de bons casamentos, o luxo, a comodidade quotidiana de uma situação de respeito e prazer. Agora, tudo acabado, para nunca mais!

Desabou a chorar sobre o meu ombro: que era muito infeliz, que ia sofrer muito, que não sabia como perdera a cabeça, que agora estava perdida, que queria morrer também...

Consolei-a como pude, segurando-a pelos pulsos. Dei-lhe o conselho de mandar procurar Lalá (ela devia suspeitar, pelo menos suspeitar onde estivesse a irmã) e despedi-me rápido.

A rua! A rua deserta, vazia, livre, para os meus passos e para o meu rumo! Corri por ali afora, corri para alcançar o bonde e para desentorpecer. E, enquanto corria, levava a sensação de fugir a uma coisa fascinante e ameaçadora, de que eu me libertava enfim... uma coisa suave e horrenda que não poderia mais acontecer na madrugada pura do arrabalde.

Fontes:
} SALES, Herberto (org.). Antologia escolar de contos Brasileiros. 2.ed. SP: Ediouro, 2005.
} Imagem = http://paginas-com-sentimentos.blogspot.com

Isaque de Borba Corrêa e Mozailton Santos (Lançamento do livro História da Bíblia)


A BÍBLIA certamente é o livro mais vendido no mundo e a sua história ainda não tem uma bibliografia consistente. Nem mesmo na internet encontramos informações confiáveis acerca da história do livro mais importante da humanidade.

Vamos fazer um resumo básico, usando como bibliografia a própria Bíblia. O primeiro fragmento bíblico foi o decálogo, um conjunto de 10 palavras que formavam um código, basicamente uma constituição, mais comumente denominado de dez mandamentos. Israel iria se tornar um país por ordem do próprio Deus. Sendo Deus o próprio autor desse país, não cometeria o erro de faltar com uma constituição.

O Decálogo foi uma constituição tão perfeita que até hoje os países seguem esse exemplo: um código básico, superenxuto, como deve ser toda espinha dorsal legislatória de um país. A criação do Estado de Israel, teve sua bibliografia legislativa superorganizada. A Bíblia é o livro da História de Israel. Ao contrário que muitos pensam Deus deu para Moisés no Monte Horebe, e não no Monte Sinai, duas tábuas contendo uma constituição, também chamada de dez mandamentos, por várias vezes chamado de Livro da aliança ou Livro do Pacto. O Livro da Aliança, o Livro do Pacto, o Livro das Guerras do Senhor e o Livros das Leis, especialmente esse, era os livros sagrados do povo do deserto.

Não confundam os livros sagrados com os livros do pentateuco. Esses são os livros de História do povo de Israel, que nós hoje os temos por sagrados. Eles falam dos livros sagrados do povo de Israel. Deus deu ainda o estatuto e as leis, nada mais, nada menos que códigos legislatórios que fariam o papel de leis complementares ao decálogo, funcionando como espécie de código civil. Mesmo assim, Moisés desceu do Monte Horebe num lugar chamado Sinai, apenas com duas tábuas debaixo do braço. Provavelmente os estatutos e a lei foram escritos bem mais tarde. A lei e os estatutos ficaram na memória de Moisés, para ser escrito tempos depois no Monte Ebal, hoje na cidade de Nablus na Cisjordânia.

Seria essa a famosa torah oral dos judeus? O Livro das Leis, esse mesmo, além de escrito bem depois e bem longe da Península do Sinai, no Ebal, é o mais sagrado dos livros. Também chamado de livro de Moisés ou livro das Leis de Moisés e teve que ser escrito a cal. Essa fase da Bíblia chama-se litófila, por se encontrar ainda escrita em superfícies de pedra. A pedra foi a superfície mais antiga que o homem procurou para escrever, e foi bastante duradoura, considerando que no Brasil, até nos anos 50, do século passado alunos da rede escolar usavam a lousa de pedra como caderno.

A Bíblia tinha que ser escrita em pedra, era a única superfície conhecida. Deus Não poderia dar a Moisés um livro de papel, ou código num CD ROM. Ele o fez no material que o povo conhecia. Tinha que ser escrita em pedra porque tinha que ter caráter definitivo, tinha que durar por gerações e gerações. Outro material que foi o mais usado de todos os tempos foi o barro. Escrever no barro era literalmente uma moleza, porém os livros sagrados não podiam ser escritos nesse material, uma vez que ele contém impurezas tais como fezes e urina de toda sorte de ser vivente.

Não há registro do livro sagrado em ostracas. Muito embora Josué escreveu um livro rapidamente, registrando uma incursão israelita. Não foi um livro sagrado, ordenado por Deus, foi apenas um registro histórico de uma incursão que fez, por isso provavelmente escreveu em tábuas de barro. O barro contém impurezas, por isso os antigos escribas não o usaram como base para receber o texto sagrado. Esse material, posteriormente chamado ostracon ou ostraca, foi usado por muitos e muitos anos, porém para livros laicos e pequenos documentos.

Existem outras fases na escrita, como a fase dos metais. Há referências embora muito pequenas de que fragmentos bíblicos foram escritos em diversos metais ente os quais o chumbo, bronze e ouro. No êxodo há referência de inscrições em ouro; Jó escreve em chumbo e os macabeus escreveram em placas de bronze. Há referência desses materiais na própria Bíblia. O pairo foi o primeiro dos materiais flexíveis a ser usado. No livro deuterocanônico de Tobias, lê-se que ele casou de papiro passado com Sara, num cartório local. Depois veio os pergaminhos. O Apóstolo Paulo percebe a diferença: Diz ele "traga-me os livros e os pergaminhos" .

Que livros? Os laicos evidentemente, e os pergaminhos os livros sagrados, os salmos, a torá, enfim. A Bíblia fala muito que em textos escritos em tábuas, mas que provavelmente não são literalmente tábuas de madeira e sim de argila. A tábua de madeira também não poderia receber o texto do livro sagrado, uma vez que apodrece e o cupim come. Zacarias escreveu o nome do filho provavelmente numa tabuinha de madeira, por se tratar de uma inscrição rápida e não um livro sagrado, ordenado por Deus. Como se fazia então para escrever em tábuas de pedra, sendo que o texto desses livros eram muito grandes, e há referências bíblicas que andavam de um lado para o outro com esses livros.

Não era pequeno o livro, haja vista que o escriba Esdras levou sete dias lendo ao povo, da manhã até o meio-dia. Os antigos escribas faziam uso da escrita consonantal, que eliminava vogais, preposições, espaços, pontuações e tudo mais que poupasse espaço. Isso não é novidade, quem não se lembra do bug do milênio, quando fazíamos de tudo para economizar espaço em computador Por isso, várias traduções, inclusive a Ave Maria, dizem que os dez mandamentos eram apenas dez palavras. O Livro da Aliança, não era tão grande pois cabia dentro da Arca da Aliança. A Bíblia diz que eram folhas de ardósias fatiadas em lâminas de mais ou menos um centímetro de espessura.

Se tinham de ser escritos em pedra – e de forma esculpida, para dar-lhe caráter definitivo - por que o Livro das Leis, escrito no Monte Ebal (Dt 27:2-8), não podia ser gravado na pedra com o uso de instrumentos cortantes? Por que teve de ser escrito em cal, um material extremamente corruptível? Simplesmente para que o povo mantivesse as leis na memória que era a melhor das superfícies para se gravar as leis divinas.

Sabe-se que Moisés recebeu de Deus, no Horebe, e não Sinai, duas tábuas, os estatutos e as leis (Êx 24:12). Qual a diferença entre mandamentos, juízos, preceitos, estatuto e lei, repetidas vezes citadas na Bíblia? Afinal, que diferenças poderia haver entre o Livro do Pacto ou Livro da Aliança, recebido no Sinai, para o das Leis, escrito no Monte Ebal tempos depois e muitos quilômetros adiante? Se a lei foi dada a Moisés, que leis a Bíblia diz que Abraão obedecia? (Gn 26:5) Que leis eram aquelas que Moisés comentou com seu sogro Jetro que ensinava o povo, antes de receber as tábuas no monte? (Êx 18:16)

Enfim, essas e outras centenas de informações no Livro a História da Bíblia de autoria do escritor, historiador. Isaque de Borba Corrêa em parceria com o pastor e teólogo Mozailton dos Santos. Nesse precioso livro você acompanhará toda a trajetória textual, todas os materiais, todas as versões bíblicas, toda a história por que passou a Bíblia, desde o Decálogo, passando pela Septuaginta, Vulgata, tradução de João Ferreira de Almeida para a lingua portuguesa.

Preço:: R$ 19,90

Para comprar o livro entre em http://www.marcadapromessa.org/index.php?pagina=contato&product=LIVRO%20-%20A%20História%20da%20Biblia
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Isaque de Borba Corrêa
Entrevista = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/entrevista-com-isaque-de-borba-corra.html
Sinopse de suas obras = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/isaque-de-borba-corra-sinopses-das.html
Cronica (Diversões Papa-Siri) = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/isaque-de-borba-corra-diverses-papa.html
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Pastor Mozailton dos Santos
Presidente do Ministério Marca da Promessa, atuante na Igreja Razão de Viver, o pastor Mozailton Santos é conferencista. O Pastor Mozailton é Contabilista por profissão, administrador de empresas, graduado em Teologia. Com um ministério em crescimento vem desenvolvendo obras sociais no Brasil e no exterior. É autor dos livros "Em busca do Sonho" e "Seu Tempo não Acabou" bem como vários lançamentos em CD´s e DVD´s.
É presidente da Editora Marca da Promessa, empresa que trabalha para atender o público evangélico, lançando no mercado livros, CD´s e DVD´s. Ministra estudos bíblicos e realiza palestras de motivação e encorajamento.
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Fontes:
=>Isaque de Borba Corrêa.
=> http://www.marcadapromessa.org/

terça-feira, 26 de maio de 2009

Trova VIII

Claudio Willer (Lançamento do Livro Geração Beat)

Quer saber mais sobre uma das manifestações culturais mais originais do século XX? Leia Geração Beat, livro da Coleção L&PM Pocket Encyclopaedia, a nova série que traz livros de referência com conteúdo acessível, útil e na medida certa. Escrita por Claudio Willer, especialista no tema, tradutor da poesia de Allen Ginsberg, Geração Beat traz as principais informações sobre o revolucionário movimento da vanguarda artística e comportamental norte-americana em 128 páginas de texto claro. Você irá saber como surgiu a expressão “beat generation”; desvendar a origem deste grupo de poetas, escritores e artistas, conhecer seus principais autores, suas obras e aventuras, desde os primórdios do movimento até a chegada da beat ao Brasil.

TRECHOS:
"Os beats chegaram a ser acusados de iletrados. Na verdade, são um exemplo de crença extrema na literatura, atribuindo-lhe valor mágico, como modelo de vida e fonte de acontecimentos, e não só de textos. A relação com seu tempo lhes conferiu sentido político. Contribuíram, ao se converterem em expressão de um movimento geracional, para uma abertura, um grau maior de tolerância com a diferença e a exceção, que, ainda hoje, não pode deixar de ser valorizada. [...] A eclosão de uma cultura jovem, autônoma, nos anos 60, da qual, por sua extensão e complexidade, acabou ficando uma crônica viciada por estereótipos, não pode ser interpretada como rebelião consentida, nem desqualificada como burguesa, subproduto da prosperidade capitalista e indício de sua decadência. "
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CLAUDIO WILLER é poeta, ensaísta e tradutor. Nasceu em São Paulo, em 1940. Publicações mais recentes: Estra­nhas experiências, poesia (Lamparina, 2004); Volta, narrativa em prosa (Iluminuras, 1966, terceira edição em 2004); Lautréamont – Os cantos de Maldoror, Poesias e cartas – Obra completa (Iluminuras, nova edição em 2005) e Uivo e outros poemas, de Allen Ginsberg (L&PM, nova edição de bolso de 2005). Teve lançado Poemas para leer em voz alta, (Editorial Andrómeda, San Jose, Costa Rica, 2007) e uma série de ensaios sobre poesia surrealista na coletânea Surrealismo (Perspectiva, coleção Signos, 2008). É autor de outros livros de poesia e da coletânea Escritos de Antonin Artaud, esgotados. Seus vínculos são com a criação literária mais rebelde e transgressiva, como aquela ligada ao surrealismo e à geração beat. Doutor em Letras, DLCV-FFLCH-USP, tese em 2008: Um obscuro encanto: Gnose, gnosticismo e a poesia moderna. Co-edita, com Floriano Martins, a revista digital Agulha.
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Mais sobre Claudio Willer em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/cludio-willer-1940.html
Artigo: Brasil e Portugal: nossa língua, nossas literaturas, em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/claudio-willer-brasil-e-portugal-nossa.html

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Fontes:
=> Cláudio Willer, por e-mail.
=> Capa do Livro = L&PM

Raul Pompéia (Caricaturas Reais: Estou Roubado!)



Estou roubado! exclamou o Tancredo num dia de expansões.

Ele tinha expansões. Era do seu caráter exibir-se de vez em quando voltado ao avesso. Punha na rua todas as franquezas. Franquezas ou fraquezas, como queiram, porque no caso vertente Tancredo era franco a respeito de si próprio.

Há no Norte o costume grotesco de andarem os cafajestes, durante o entrudo, com os paletós virados, mostrando o forro e as costuras, por causa do polvilho que se arremessa aos transeuntes. Tancredo fazia uma cousa assim, mais ou menos. Quando estava de lua, lá saía... Todas essas intimidades que o recato encobre, todo esse estofo que forma o avesso das aparências sociais, ele punha à mostra. Inventava, no gênero cômico, o extremo oposto de Tartufo. Exibia desabridamente o forro de si mesmo.

Alguns dias depois de casado encontra-se ele com o primeiro conhecido. Era por um dia dos tais. Falam do consórcio.

Estou roubado! bradou Tancredo.

- Pois esse casamento não era o teu sonho de ventura?!

- Ah! meu amigo. Enganei-me redondamente... Sabes o meu gênio... Eu sonhava um amor de fogo. Chamas, chamas, chamas, um amor vulcânico, feito de incêndio e lava, um inferno de amor que me calcinasse o peito... Imagina lá que me saiu uma esposa fria!... Fria, meu amigo!... Estou casado com o polo Norte em pessoa!... Lembras-te do Capitão Hatteras de Júlio Verne?...Minha mulher é aquilo... Ora só a mim sucederia uma destas... Casado com um iceberg!

- Pois não a conhecias?

- Ora, qual! ver, amar, casar, foi o que fiz...

"Sonhava uma mulher ardente, com pólvora nas veias, capaz de voar pelos ares ao fogo da minha paixão. Qual explosão nem nada!... Aos meus afagos, boceja! Desarma os meus carinhos com uma frieza revoltante... Não sei a que expediente recorrer...

- Mas a tua esposa não te ama?

- Eu lá sei!... As mulheres frias amam alguém neste mundo? O que afianço é que a minha cara-metade me congela... Não sei como, a estas horas, não estou sorvete, exposto aos rigores daquele inverno!... Inverno, meu bom amigo, inverno para mim que sonhava um matrimônio de primaveras e verões. Quem diria! quando eu me inflamava ao fogo daquele olhar... que naquele olhar não havia fogo! Tanto viço, tanta mocidade! e uma frieza tamanha.

Ao vê-la, eu acreditava na embriaguez do amor, na febre do sentimento, no vinho de Hebe e nos seus efeitos. Qual vinho de Hebe! Puro Fritz, Mack & C. Ainda em cima, frappé!...

"Estou roubado! roubado nas minhas ilusões!... Queria uma mulher... E o senhor meu sogro serviu-me uma cajuada! Ora, cajuadas tenho eu no Leite Borges!... Banhos frios, de igreja... quando tinha o meu chuveiro!...

- Homem, Tancredo, não acredito muito nessa história de mulheres de gelo... A questão é achar-se a corda sensível...

- Qual corda sensível!... Minha mulher não tem corda sensível!...

Fontes:
Biblioteca Virtual.
Imagem = http://studionq6.wordpress.com

James Joyce (Arábia)


A Rua North Richmond, uma rua sem saída, era muito tranqüila, exceto na hora em que a Christian Brother's School liberava os alunos. Uma casa de dois andares, desabitada e isolada de ambos os lados, bloqueava-lhe uma das extremidades. As outras residências, cônscias das vidas decentes que abrigavam, fitavam-se com imperturbáveis fachadas escuras.

O antigo inquilino de nossa casa, um sacerdote, havia morrido na sala dos fundos. Nos cômodos longamente fechados flutuava um odor de mofo e o quarto de despejo, atrás da cozinha, estava abarrotado de papéis velhos. Entre eles encontrei algumas brochuras com as páginas úmidas e onduladas: O Abade, de

Walter Scott, O Devoto Comungante e as Memórias de Vidocq. Gostei mais deste último por causa de suas folhas amareladas. O quintal abandonado, atrás da casa, tinha no centro uma macieira e alguns arbustos esparsos, sob um dos quais encontrei a bomba enferrujada da bicicleta do antigo morador. Tinha sido um padre muito piedoso e, no testamento, deixara todo seu dinheiro para instituições de caridade e a mobília da casa para a irmã.

Ao chegarem os curtos dias de inverno, o crepúsculo caía antes que tivéssemos terminado o jantar. Quando saíamos à rua, as casas se encontravam mergulhadas na sombra. O pedaço de céu sobre nós era de um violeta cambiante, contra o qual os postes erguiam a pálida luz de suas lanternas. Aguilhoados pelo vento gélido, brincávamos até nos esbrasearmos e nossos gritos ecoavam na rua silenciosa. O curso dos brinquedos conduzia-nos às vielas escuras e lamacentas atrás de nossas casas, onde desafiávamos os rudes moradores dos barracos, aventurando-nos até os portões de quintais sombrios e úmidos, impregnados do cheiro fétido das fossas, ou aproximando-nos de estábulos escuros e odorosos, onde, às vezes, um cocheiro escovava e lustrava seu cavalo ou fazia tilintar os arreios de fivelas metálicas. Ao retornarmos à nossa rua, a luz das cozinhas projetava-se através das janelas, nos pequenos terraços. Se percebíamos meu tio virando a esquina, ocultávamo-nos num lugar escuro até termos certeza de que entrara em casa. E se a irmã de Mangan vinha à porta chamá-lo para o chá, continuávamos escondidos, observando-a perscrutar a rua, para ver se desistia. Se não tornava a entrar, deixávamos o esconderijo e, resignadamente, dirigíamo-nos à escada da casa de Mangan, no alto da qual ela nos esperava. A silhueta de seu corpo recortava-se na luz da porta entreaberta. Mangan relutava sempre antes de obedecer e eu ficava junto à balaustrada, contemplando-a. O vestido rodava quando ela movia o corpo e a macia trança de seus cabelos saltava de um ombro para outro.

Todas as manhãs, sentava-me no assoalho da sala da frente para vigiar a porta da sua casa. Levantava a cortina apenas alguns centímetros a fim de que ninguém pudesse me descobrir. Meu coração disparava ao vê-la surgir à porta. Corria para o vestíbulo, apanhava meus livros e seguia-a. Conservava sua figura morena sempre à vista e, ao nos aproximarmos do ponto em que nossos caminhos divergiam, apressava o andar e passava à sua frente. Isto repetia-se todas as manhãs. Nunca havia falado com ela, a não ser algumas frases ocasionais e, no entanto, para o meu sangue inebriado seu nome era um apelo irresistível.

Sua imagem acompanhava-me mesmo nos lugares menos românticos. Nas noites de sábado, quando minha tia ia fazer compras no mercado, eu a acompanhava para ajudar com os pacotes. Caminhávamos pelas ruas iluminadas, acotovelando-nos com os bêbados e as mulheres que pechinchavam, em meio às imprecações dos trabalhadores, aos gritos dos garotos que montavam guarda às barricas cheias de cabeças de porco e à voz fanhosa dos cantores de rua, que interpretavam uma canção popular sobre O'Donovan Rossa ou uma balada a respeito dos problemas do país. Todos esses ruídos convergiam numa única sensação vital para mim: imaginava conduzir meu cálice incólume, através de uma multidão, de inimigos. Certos momentos, seu nome brotava-me dos lábios em estranhas preces e rogos que eu mesmo não compreendia. Meus olhos enchiam-se de lágrimas (não saberia dizer a razão) e, às vezes, uma torrente parecia transbordar meu coração e inundar-me o peito. Pouco me preocupava o futuro. Não sabia se falaria ou não com ela e, se o fizesse, de que modo revelaria minha tímida adoração. Meu corpo, porém, era uma harpa cujas cordas vibravam às suas palavras e gestos.

Certa noite, fui à sala dos fundos onde o padre havia morrido. Era uma noite chuvosa e a casa estava em completo silêncio. Através de uma vidraça quebrada, eu ouvia a chuva bater contra a terra, as finas e incessantes agulhas de água tamborilando nos canteiros encharcados. Bem longe, brilhava uma luz ou janela iluminada. Agradava-me enxergar tão pouco. Os meus sentidos todos pareciam embotar-se e, a ponto de desfalecer, apertei as mãos até meus braços começarem a tremer, murmurando: Ó amor! Ó amor!

Afinal, ela falou comigo. Às suas primeiras frases, fiquei tão encabulado que não soube o que responder. Perguntou-me se eu pretendia ir ao Arábia. Não me recordo se respondi ou não. Ela disse que adoraria ir, pois devia ser uma esplêndida quermesse.

— E por que não vai? — perguntei.

Enquanto falava, ela fazia girar um bracelete de prata. Não poderia ir porque seu colégio faria retiro naquela semana. Nesse momento, seu irmão e dois outros meninos brigavam por causa dos bonés e encontrava-me sozinho junto à balaustrada. Ela se apoiara numa das barras e inclinava o corpo em minha direção. A luz do poste diante de nossas casas roçava a curva nívea de seu pescoço, inflamando-lhe os cabelos. Alcançava, mais embaixo, sua mão sobre a grade e revelava, ao tocar-lhe o vestido, a ponta do saiote que se deixava entrever em sua lânguida postura.

— Você é que devia ir — afirmou ela.

— Se eu for — prometi — trarei uma lembrança para você.

Acordado ou sonhando que loucas e intermináveis fantasias consumiram meus pensamentos a partir dessa noite! Queria suprimir os fastidiosos dias de espera. Os deveres da escola irritavam-me. À noite, no quarto, durante o dia, na aula, sua imagem interpunha-se entre meus olhos e a página que me esforçava em ler. No silêncio em que minha alma vagava luxuriosamente, as sílabas da palavra Arábia atiravam-me num encanto oriental. Pedi permissão para ir à quermesse no sábado à noite. Minha tia surpreendeu-se e disse esperar não se tratasse de uma reunião da franco-maçonaria. Na aula, quase não respondia às questões. De amável, o olhar do professor tornava-se severo. "Espero que não esteja ficando preguiçoso", disse ele. Não conseguia, ordenar meus pensamentos errantes. Quase não tinha paciência para suportar os deveres cotidianos que, interpondo-se entre mim e meu desejo, pareciam brinquedos de criança, brinquedos desagradáveis e monótonos.

Na manhã de sábado lembrei a meu tio que desejava ir à quermesse. Se atarefava-se junto ao porta-chapéus, procurando a escova e respondeu rispidamente:

— Já sei menino, já sei.

Como ele se encontrava no vestíbulo, não pude ir à sala da frente postar-me à janela. Senti que o mau humor imperava na casa e fui desanimado para a escola. Fazia um frio implacável e meu coração já se mostrava receoso. Meu tio não havia chegado, quando voltei para o jantar. Ainda era cedo, Sentei-me e fiquei olhando para o relógio, mas seu tique-taque acabou por me irritar e sai da sala. Subi a escada e ganhei o andar superior da casa. Os cômodos frios, desertos e escuros aliviaram-me a tensão. Atravessei-os cantando. Da janela da frente, vi meus companheiros brincando na rua lá embaixo. Seus gritos chegavam-me amortecidos e confusos. Apertando a testa contra o vidro gélido, olhei para a casa de tijolos escuros em que ela morava. Devo ter ficado, ali quase uma hora, vendo apenas, retida na memória, sua imagem num vestido marrom, tocada de leve pela luz na curva do pescoço, na mão sobre a grade, na barra do vestido.

Ao descer, encontrei a senhora Mercer sentada junto à lareira. Era uma velha mexeriqueira, viúva de um usurário, que colecionava selos usados com um objetivo piedoso qualquer. Tive de suportar sua tagarelice durante o chá. O lanche prolongou-se por mais de uma hora e meu tio não chegava. A senhora Mercer levantou-se para ir embora. Sentia não poder esperar mais, disse ela, mas passava das oito e não gostava de estar fora de casa até muito tarde, pois o frio fazia-lhe mal. Quando saiu, comecei a andar pela sala com os punhos cerrados.

— Talvez tenha de desistir da quermesse por esta noite de Nosso Senhor — prenunciou minha tia.

Às nove horas, ouvi o ruído da chave de meu tio na porta de entrada. Escutei-o resmungar e o porta-chapéus balançar ao peso do seu casaco. Sabia interpretar esses sinais. Na metade do jantar, pedi-lhe que me desse o dinheiro para ir à quermesse. Ele havia esquecido.

— Todo mundo já está na cama e no segundo sono — disse ele.

Não ri. Minha tia interveio enérgica:

— Por que não dá logo o dinheiro e o deixa ir? Já o fez esperar muito tempo.

Meu tio declarou sentir muito ter se esquecido. Disse que acreditava no velho ditado: "Só trabalho e nenhum prazer é que faz de Jack um triste rapaz". Indagou-me aonde ia e quando tornei a explicar, perguntou-me se conhecia O Adeus do Árabe ao seu Corcel. Quando eu saía pela cozinha, ele começava a recitar os primeiros versos do poema para minha tia.

Apertando na mão o florim que recebera, desci a rua Buckingham. As calçadas iluminadas e repletas de compradores que deixavam as lojas deram novo alento ao propósito de minha viagem. Acomodei-me num vagão de terceira classe no trem deserto. Após insuportável demora, o trem se moveu vagarosamente. Arrastou-se entre casas em ruínas e sobre o rio cintilante. Na estação de Westland Row, a multidão comprimiu-se contra as portas do vagão, mas os fiscais fizeram-na recuar, dizendo que aquele era um trem especial para a quermesse. Permaneci sozinho no vagão. Minutos depois o trem parou diante de uma plataforma improvisada. Ao descer, vi no mostrador iluminado de um relógio que faltavam dez minutos para as dez. Diante de mim estava o imenso edifício, ostentando o mágico nome.

Não encontrei nenhum guichê de seis pence e, com medo de que a quermesse fosse fechar, passei rapidamente por uma das borboletas, pagando um xelim ao porteiro de ar fatigado.

Ingressei num vasto saguão, circundado à meia altura por uma galeria. Quase todas as barracas estavam fechadas e parte do saguão achava-se às escuras. Reinava ali o silêncio de um templo vazio. Caminhei timidamente para o centro do edifício. Algumas pessoas estavam reunidas diante das barracas ainda abertas. À frente de uma cortina, sobre a qual se desenhava em lâmpadas coloridas o nome Café Chantant, dois homens contavam dinheiro numa bandeja. Eu ouvia o tilintar das moedas caindo.

Recordando com dificuldade o motivo que me trouxera, aproximei-me de uma das barracas e examinei alguns vasos de porcelana e aparelhos de chá ornados de flores. Na porta da barraca uma jovem conversava e ria com dois rapazes. Notei-lhes o sotaque britânico e ouvi imprecisamente o que diziam:

— Ó, eu nunca disse isso!

— Ó, disse sim!

— Não disse!

— Ela não disse?

— Sim, eu ouvi.

— Ó, que mentiroso!

Percebendo minha presença, a jovem aproximou-se e perguntou-me se desejava comprar alguma coisa. O tom de sua voz não era encorajador. Parecia ter falado comigo por obrigação. Olhei humildemente para dois grandes jarros que, como sentinelas orientais, postavam-se à sombria entrada da barraca e murmurei:

— Não, obrigado.

A jovem mudou a posição de um dos vasos e retornou aos rapazes. Voltaram à discussão anterior. A jovem olhou-me uma ou duas vezes por sobre o ombro. Embora soubesse que era uma atitude inútil, permaneci algum tempo diante da barraca, para acentuar a impressão de que estava realmente interessado naqueles objetos. Finalmente, voltei-me e caminhei devagar para o meio do saguão. Soltava as moedas dentro do bolso, fazendo-as bater uma na outra. No fundo da galeria, alguém gritou que a luz fora desligada. A parte superior do saguão estava agora completamente apagada.

Fitando a escuridão, eu me vi como uma criatura tangida e ludibriada por quimeras. Meus olhos queimavam de angústia e ódio.

Fontes:
JOYCE, James. Dublinenses. SP: Biblioteca Folha, 2003. (Tradução de Hamilton Trevisan).