sexta-feira, 5 de junho de 2009

Abílio César Borges (1824 – 1891)


Abílio César Borges, primeiro e único barão de Macaúbas, (Rio de Contas, 9 de setembro de 1824 — 17 de janeiro de 1891) foi um médico e educador brasileiro.

Biografia e formação

Era filho de Miguel Borges de Carvalho e de Mafalda Maria da Paixão. Nasceu no povoado de Macaúbas, então pertencente à pequena Vila de Rio de Contas, ao sul da Chapada Diamantina, exatamente quando esta completava cem anos de emancipada. Ali efetua os primeiros estudos e, em 1838 muda-se para a capital baiana (Salvador), a fim de completar sua formação.

Em 1841, depois de haver interrompido os estudos por causa da saúde, entra para a Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1847 - tendo realizado o curso de forma brilhante.

Voltando para a Bahia, dedica-se ao magistério por quatro anos. Em 1845, funda, junto a outros, o Instituto Literário da Bahia, uma espécie de prelúdio de Academia de Letras, onde são realizados saraus, discutidas idéias e reunia os mais expressivos nomes da literatura baiana da época.

Realizou diversas viagens à Europa, a fim de aperfeiçoar seus métodos pedagógicos, de forma a torná-los aplicáveis aos seus trabalhos.

Era casado, desde 1848, com Francisca Antônia Wanderley, oriunda de importante família pernambucana, com quem teve vários filhos.

O formador de gênios

Em Salvador, ainda sem o baronato, Abílio César Borges fundou o Ginásio Bahiano, no ano de 1858. Ali, mais que um professor e diretor, aplicava as novidades pedagógicas que incorporava em seus estudos.

Esta instituição, assim como o também famoso e contemporâneo "Colégio Sebrão", foi responsável pelos fundamentos educacionais de futuras genialidades da Bahia, como Rui Barbosa, Aristides Spínola, Castro Alves, Plínio de Lima, Cezar Zama, dentre outros. Conservou-se à frente da instituição por quase quatorze anos. Viajou ao Velho Mundo com o próposito de melhorar os seus conhecimentos sobre os problemas pedagógicos.

De volta da Europa, em 1871 muda-se para o Rio de Janeiro, fundando ali o Colégio Abílio. Onze anos depois, graças à fama alcançada por sua instituição, foi nomeado como representante do Brasil em congresso pedagógico internacional de Buenos Aires. Em Barbacena, Minas Gerais, em 1881 instalou uma filial do colégio do Rio de Janeiro, por onde passaram ilustres personalidades da vida pública mineira (o prédio, que ainda hoje preserva características da construção original, serviu de sede para o antigo Colégio Militar de Minas Gerais e hoje é a sede do comando da Escola Preparatória de Cadetes-do-Ar).

Suas idéias, na época, eram inovadoras na educação brasileira: abolia completamente qualquer espécie de castigo físico; realizava torneios literários; culto ao civismo, etc. Imaginou um método de aprendizagem de leitura que denominou de Leitura Universal, para facilitar o estudo das primeiras letras, abriu vários cursos públicos gratuitos de leitura, convencido de que assim prestava o melhor serviço ao país.

A fim de poder ministrar as lições aos seus alunos, sem ofender entretanto os rígidos costumes da época, chegou até a mandar publicar, na Bélgica, um volume especial, adaptado para "menores", de Os Lusíadas.

Algumas obras publicadas
Proposições sobre Ciências Médicas, (tese de doutoramento - 1847)
Vinte anos de propaganda contra o emprego da palmatória e outros castigos aviltantes no ensino da mocidade
Desenho linear ou Geometria prática popular
Memória sobre a mineração da Província da Bahia (1858)
Discursos sobre a educação
Gramática Portuguesa
Gramática Francesa
Epítome de Geografia
Livros e Leitura
Vinte e dois anos em prol da elevaçãod dos estudos no Brasil
Os Lusíadas de Camões
A Lei Nova do ensino infantil
Conferência sobre o Aparelho Escolar Múltiplo e o Fracionamento

Civista extremado e Grande do Império

Ainda na Bahia, por ocasião da Guerra do Paraguai, manifestava-se exaltadamente pela imprensa, conclamando ao povo à luta em defesa da soberania brasileira. Mas, não restringiu-se a isto: chegou mesmo a patrocinar, de suas próprias rendas, o batalhão dos "Zuavos Baianos". Pioneiro do Abolicionismo, fundou a "Sociedade Libertadora 7 de Setembro", que publicava o jornal "Abolicionista". A 30 de julho de 1881, foi agraciado com o título de Barão de Macaúbas, depois elevado com a honra de Grande do Império, em 3 de junho de 1882. Além dessa honraria, foi comendador da Imperial Ordem da Rosa, da Ordem de Cristo e da de São Gregório,o Magno.

D. Pedro II demonstrava, através do reconhecimento dos méritos do Barão, sua preocupação com a educação no país, Imperador que valorizava o magistério e que declarava que, se não fosse o rei, queria ser "mestre-escola"...

O Barão de Macaúbas foi um homem à frente do seu tempo, que amava o seu país. Como educador, manteve-se sempre afeito às novidades quanto aos métodos de ensino, sem nunca perder o aprendizado próprio. Não tivesse deixado vestígios, bastaria o fato de ter sido o alicerce de Castro Alves e Rui Barbosa, dentre muitos outros.

Pertenceu à Academia Filomática, foi diretor geral do ensino na Bahia (1856), membro do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, além de muitas outras entidades lítero-científicas no Brasil e na Europa.

Fontes:
Wikipedia
Brasil Escola

Artur de Azevedo (A "Não-me-toques!")

I

Passavam-se os anos, e Antonieta ia ficando para tia, - não que lhe faltassem candidatos, mas - infeliz moça! - naquela capital de província não havia um homem, um só, que ela considerasse digno de ser seu marido.

Ao Comendador Costa começavam a inquietar seriamente as exigências da filha, que repelira, já, com desdenhosos muxoxos, uma boa dúzia de pretendentes cobiçados pelas principais donzelas da cidade. Nenhuma destas se casou com rapaz que não fosse primeiramente enjeitado pela altiva Antonieta.

- Que diabo! dizia o comendador à sua mulher, D. Guilhermina, - estou vendo que será preciso encomendar-lhe um príncipe!

- Ou então, acrescentava D. Guilhermina, esperar que algum estrangeiro ilustre, de passagem nesta cidade..

- Está você bem aviada! Em quarenta anos que aqui estou, só dois estrangeiros ilustres cá têm vindo: o Agassiz e o Herman.

Entretanto, eram os pais os culpados daquele orgulho indomável. Suficientemente ricos tinham dado à filha uma educação de fidalga, habituando-a desde pequenina a ver imediatamente satisfeitos os seus mais custosos e extravagantes caprichos.

Bonita, rica, elegante, vestindo-se pelo último figurino, falando correntemente o francês e o inglês, tocando muito bem o piano, cantando que nem uma prima-dona, tinha Antonieta razões sobejas para se julgar um avis rara na sociedade em que vivia, e não encontrar em nenhuma classe homem que merecesse a honra insigne de acompanhá-la ao altar.

Uma grande viagem à Europa, empreendida pelo comendador em companhia da esposa e da filha, completara a obra. Ter estado em Paris constituía, naquela boa terra, um título de superioridade.

Ao cabo de algum tempo, ninguém mais se atrevia a erguer os olhos para a filha do Comendador Costa, contra a qual se estabeleceu pouco a pouco certa corrente de animadversão.

Começaram todos a notar-lhe defeitos parecidos com os das uvas de La Fontaine, e, como a qualquer indivíduo, macho ou fêmea, que estivesse em tal ou qual evidência, era difícil escapar ali a uma alcunha, em breve Antonieta se tornou conhecida pela "Não-me-toques".

II

Teria sido realmente amada? Não, mas apenas desejada, - tanto assim que todos os seus namorados se esqueceram dela...

Todos, menos o mais discreto, o mais humilde, o único talvez, que jamais se atrevera a revelar os seus sentimentos.

Chamava-se José Fernandes, e era o primeiro empregado da casa do Comendador Costa, onde entrara aos dez anos de idade, no mesmo dia em que chegara de Portugal.

Por esse tempo veio ao mundo Antonieta. Ele vira-a nascer, crescer, instruir-se, fazer-se altiva e bela. Quantas vezes a trouxera ao colo, quantas vezes a acalentara nos braços ou a embalara no berço! E, alguns anos depois, era ainda ele quem todas as manhãs a levava e todas as tardes ia buscá-la no colégio.

Quando Antonieta chegou aos quinze anos e ele aos vinte e cinco, "Seu José" (era assim que lhe chamavam) notou que a sua afeição por aquela menina se transformava, tomando um caráter estranho e indefinível; mas calou-se, e começou de então por diante a viver do seu sonho e do seu tormento Mais tarde, todas as vezes que aparecia um novo pretendente à mão da moça, ele assustava-se, tremia, tinha acessos de ciúmes, que lhe causavam febre, mas o pretendente era, como todos os outros, repelido, e ele exultava na solidão e no silêncio do seu platonismo.

Materialmente, Seu José sacrificara-se pelo seu amor. Era ele, como se costuma dizer (não sei com que propriedade) o "tombo" da casa comercial do Comendador Costa; entretanto, depois de tantos anos de dedicação e amizade, a sua situação era ainda a de um simples empregado; o patrão, ingrato e egoísta, pagava-lhe em consideração e elogios o que lhe devia em fortuna. Mais de uma vez apareceram a Seu José ocasiões de trocar aquele emprego por uma situação mais vantajosa; ele, porém, não tinha ânimo de deixar a casa onde ao seu lado Antonieta nascera e crescera.

III

Um dia, tudo mudou de repente.

Sem dar ouvidos a Seu José, que lhe aconselhava o contrário, o Comendador Costa empenhou a sua casa numa grande especulação, cujos efeitos foram desastrosos, e, para não fechar a porta, viu-se obrigado a fazer uma concordata com os credores. Foi este o primeiro golpe atirado pelo destino contra a altivez da "Não-me-toques".

A casa ia de novo se levantando, e já estava quase livre dos seus compromissos de honra, quando o Comendador Costa, adoecendo gravemente, faleceu, deixando a família numa situação embaraçosa.

Um verdadeiro deus ex machina apareceu então na figura de Seu José que, reunindo as suadas economias que ajuntara durante trinta anos, e associando-se a D. Guilhermina, fundou a firma Viúva Costa & Fernandes, e salvou de uma ruína iminente a casa do seu finado patrão.

IV

O estabelecimento prosperava a olhos vistos e era apontado como uma prova eloqüente de quanto podem a inteligência, a boa fé e a força de vontade, quando o falecimento da viúva D. Guilhermina veio colocar a filha numa situação difícil...

Sozinha, sem pai nem mãe, nem amigos, aos trinta e dois anos de idade, sempre bela e arrogante em que pesasse a todos os seus dissabores, aonde iria a "Não-me-toques"?

Antonieta foi a primeira a pensar que o seu casamento com José Fernandes era um ato que as circunstâncias impunham...

Antes da sua orfandade, jamais semelhante coisa lhe passaria pela cabeça. Não que Seu José lhe repugnasse: bem sabia quanto esse homem era digno e honrado; estimava-o, porém, como a um tio, ou a um irmão mais velho, - e ela, que recusara a mão de tantos doutores, não podia afazer-se a idéia de se casar com ele.

Entretanto, esse casamento era necessário, era fatal. Demais, a "Não-me-toques" lembrava-se de que o pai, irritado contra os seus contínuos e impertinentes muxoxos, um dia lhe dissera:

- Nã0 sei o que supões que tu és, ou o que nós somos! Culpa tive eu em dar-te a educação que te dei! Sabes qual é o marido que te convinha? Seu José! Seria um continuador da minha casa e da minha raça!

Tratava-se por conseguinte, de homologar uma sentença paterna. A continuação da casa já estava confiada a Seu José: era preciso confiar-lhe também a continuação da raça.

Assim, pois, uma noite ela chamou-o e, com muita gravidade, pesando as palavras, mas friamente, como se se tratasse de uma simples operação comercial, lhe deu a entender que desejava ser sua mulher, e ele, que secretamente alimentava a esperança desse desenlace, confessou-lhe trêmulo, e com os olhos inundados de pranto, que esse tinha sido o sonho de toda a sua vida.

V

Casaram-se.

Nunca um marido amou tão apaixonadamente a sua esposa. Seu José levou à Antonieta um coração virgem de outra mulher que não fosse ela; fora das suas obrigações materiais, amá-la, adorá-la, idolatrá-la, tinha sempre sido e continuava a ser a única preocupação do seu espírito...

Entretanto, não era feliz; sentia que ela o não amava, que se entregara a ele apenas para satisfazer a uma conveniência doméstica: era apática; sem querer, fazia-lhe sentir a cada instante a superioridade terrível das suas prendas. Ninguém melhor que ele, tendo sido, aliás, até então, o único homem que lhe tocara, se convenceu de quanto era bem aplicada aquela ridícula alcunha de "Não-me-toques".

O pobre diabo tinha agora saudades do tempo em que a amava em silêncio, sem que ninguém o soubesse, sem que ela própria o suspeitasse.

VI

Antonieta aborrecia-se mortalmente naquele casarão onde nascera, e onde ninguém a visitava, porque o seu caráter a incompatibilizara com toda a gente.

O marido, avisado e solícito, bem o percebeu. Admitiu um bom sócio na sua casa comercial, que prosperava sempre, e levou Antonieta à Europa, atordoando-a com o bulício das primeiras capitais do Velho Mundo.

De volta, ao cabo de um ano, construiu uma bela casa no bairro mais elegante da cidade, encheu-a de mobílias e adornos trazidos de Paris, e inaugurou-a com um baile para o qual convidou as famílias mais distintas.

Começou então uma nova existência para Antonieta, que, não obstante aproximar-se da medonha casa dos quarenta, era sempre formosa, com o seu porte de rainha e o seu colo opulento, de uma brandura de cisne.

As suas salas, profundamente iluminadas, abriam-se quase todas as noites para grandes e pequenas recepções: eram festas sobre festas.

Agora já lhe não chamavam a "Não-me-toques"; ela tornara-se acessível, amável, insinuante, com um sorriso sempre novo e espontâneo para cada visita.

Fizeram-lhe a corte, e ela, outrora impassível diante dos galanteios, escutava-os agora com prazer.

Um galã, mais atrevido que os outros, aproveitou o momento psicológico e conseguiu uma entrevista - Esse primeiro amante foi prontamente substituído. Seguiu-se outro, mais outro, seguiram-se muitos...

VII

E quando Seu José, desesperado, fez saltar os miolos com uma bala, deixou esta frase escrita num pedaço de papel:

"Enquanto foi solteira, achava minha mulher que nenhum homem era digno de ser seu marido; depois de casada (por conveniência) achou que todos eles eram dignos de ser seus amantes. Mato-me."

(Correio da Manhã, 12 de outubro de 1902)

Fontes:
Domínio Público

Humberto de Campos (O Filósofo)

O Pensador (Auguste Rodin)
Educado no Colégio Caraça, o coronel Venâncio Figueira, fazendeiro em Uberaba, havia se contaminado, pouco a pouco, de filosofia e de latim, de modo a preocupar-se, mais do que o necessário, com os graves problemas da vida. Manuseador quotidiano de certos autores profanos, ele se punha, às vezes, a pensar, no alpendre da sua casa de fazenda:

- Sim, senhor! Esses filósofos têm razão! Este mundo é tão desigual, tão cheio de injustiças, de irregularidades clamorosas, que qualquer mortal, encarregado de fazê-lo, o teria feito melhor!

E acentuava, melancólico:

- Este mundo está muito mal feito!...

À noite, porém, reunida a família na sala de jantar, o velho fazendeiro arreganhava os óculos no nariz, tomava a "Bíblia", chegava para mais perto o lampião de querosene, e punha-se a ler, pausado, o "Livro de Jó". E começava, de novo, a meditar, diante destas palavras do capitulo 38:

"4. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.

"25 - Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos e trovões?

"41 - Quem prepara aos corvos o seu alimento, quando os seus filhotes implumes gritam a Deus, e andam vagueando por não terem de comer?"

Certo dia, dominado pelas idéias reacionárias bebidas em autores modernos, passeava o coronel pelo pátio da fazenda, quando, ao ver as andorinhas que voejavam por cima do gado, voltou novamente a raciocinar:

- É isso mesmo, não há duvida! O mundo é muito mal arranjado. Aqui está, por exemplo; este boi. Porque, tendo ele chifres, patas, orelhas, e sendo tão forte, há de viver sempre na terra, a arrastar-se pelo solo, quando aquela andorinha, que não tem nada disso, se locomove, rápida, ligeira, dominando os ares?

Nesse momento, porém, uma andorinha que lhe passava por cima, deixou escapar alguma cousa que lhe fazia sobrecarga, e que foi cair, certeira, na cabeça descoberta do coronel. Este levou a mão instintivamente à calva, e, olhando os dedos brancos daquela indignidade, caiu de joelhos, clamando, arrependido:

- Perdoai-me, Senhor, perdoai-me! O mundo está muito bem organizado! O que nele há, o que nele vive, o que nele existe, foi feito com perfeição, com acerto, com sabedoria!

E levantando-se, limpando a mão:

- Imagine-se que fosse um boi....

Fonte:
Domínio Público

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Centro Paranaense Feminino de Cultura - Agenda Junho/09



“SEGUNDA NO CENTRO”
Cultura - Informação - Lazer
Coordenação: Céres De Ferrante

08 de Junho
Lançamento do Livro: A Pedra do Caminho - Histórias de viver e reciclar
Escritora: Maria Thereza Brito de Lacerda
Apresentação: Profª Fernanda Shroreder -
Um novo modelo consciencial

15 de Junho – 16hs
BLOOMSDAY: “A influência de James Joyce”
Palestra dialógica com os mestres em letras: Ivan Justen Santana e William Crosué Teca.

29 de Junho
Reverenciando o escritor Paranaense
Poeta Silveira Neto
Apresentação: Profª Nilcéa Romanowski
Música : Piano Flavius Meschke
Tenor: Alberto Morgado

Sempre às 15:00 horas
Local: Auditório Leonor Castellano
Rua Visconde de Rio Branco, n° 1717, centro.
Curitiba/Paraná - Fone: 41. 3232 8123

Fonte:
Andrea Motta

Programa Nacional de Troca de Livros

A escalada dos números da Estante não é novidade. Todos crescem exponencialmente sem parar, desde o lançamento, há 3 anos. Livros, sebos, livreiros virtuais, leitores, leitores vendedores, vendas, acessos, buscas.

Também não é novidade que além de números, chegam também histórias muito interessantes. Pessoas que encontraram livros de familiares escritos há décadas, livros esgotados imprescindíveis às suas teses de doutorado, ou mesmo livros seminovos ainda em edição por uma fração do preço das livrarias convencionais. Chegam histórias também de sebos recém-inaugurados, fundados por livreiros virtuais que começaram suas atividades na Estante e viram seus negócios darem tão certo que se motivaram a abrirem uma loja física.

"Então, Estante, tem alguma novidade?" Sem dúvida, temos sim! Vamos a ela então! Esta semana estamos lançando um serviço inédito no país: o Programa Nacional de Troca de Livros.

Você leva nos sebos os seus livros seminovos e ganha créditos para adquirir seu próximo livro. E a avaliação é justa, nada de 1 real por livro! Na troca por livros do acervo do sebo, seu livro vale 25% do preço atual nas livrarias convencionais.

O programa marca uma inovação no mercado editorial - interligando sebos e leitores em um fluxo virtuoso de troca de livros seminovos. A aquisição do próximo livro se torna muito mais acessível, uma vez que o livro que se acabou de ler pode ser usado como forma de pagamento.

Mas não é só. A inovação vai além disso! O programa marca também uma inovação no comércio brasileiro:

Em alguns sebos você pode também fazer a troca por um vale-compras virtual. Seus créditos são remetidos pelo sebo a uma carteira virtual, administrada pelo Pagamento Digital e vinculada ao seu email. Você pode então usá-los para adquirir livros aqui na Estante, nos mais de 400 sebos Brasil afora que aceitam o Pagamento Digital! Nessa modalidade de troca seu livro vale 20% do preço das livrarias.

A relação dos já mais de 100 sebos participantes, bem como o regulamento completo do programa, você confere neste link: http://www.estantevirtual.com.br/programadetrocas

Fonte:
André Garcia da Estante Virtual. EDIÇÃO Nº 24 - 03 DE JUNHO DE 2009 - PROGRAMA NACIONAL DE TROCA DE LIVROS

Membro da Academia Sorocabana de Letras toma posse como Sócio Efetivo do IHGGS



Sócio Correspondente da Academia Sorocabana de Letras em Tatuí, o escritor Renato Ferreira de Camargo, toma posse domingo, dia 7, como sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico. Em solenidade que se desenvolverá sob a direção do presidente daquela instituição cultural, prof. Adilson Cezar, às 10 horas, na Casa de Aluísio de Almeida, à Rua Dr. Ruy Barbosa, 84, no Além Ponte, o novo associado do IHGGS fará o elogio de seu Patrono naquela casa, Antonio Moreira da Silva.

Autor de extensa e importante produção historiográfica e memorialística, inclusive a obra didática Tatuí – Capital da Música, publicada em 2006 pela editora Nova América, Renato Ferreira de Camargo é bacharel em Comunicação Social (Relações Públicas e Jornalismo) e Direito e sócio fundador do IHGG de Itapetininga.

Seu patrono no IHGGS, o jornalista Antonio Moreira, como o próprio escritor informa, no verbete que a ele dedica em seu livro Ilustres Cidadãos (Tatuí, 2006), nasceu em Sorocaba, em 1851. Em 1867, com apenas 16 anos, fundou em nossa cidade o Clube Palestra, em reunião do qual fez, naquele mesmo ano, a leitura de um Manifesto Republicano e Abolicionista, por ela redigido.

Participou, ao lado de Barata Ribeiro, Ubaldino do Amaral, Costa Abreu Ésquilo do Amaral e Paula Gomes do Recreio Instrutivo de Sorocaba, voltado para o debate de teses sobre História, Filosofia e Política.

Depois de colaborar nos jornais O Araçoyaba (1866), O Sorocabano (1870) e Ypanema (1872), fixou residência em Itapetininga, fundando ali O Município (1873/76), primeiro jornal da vizinha cidade. Em 1890, foi eleito deputado à Constituinte Republicana.

Pobre e esquecido faleceu em Curitiba em 1920.

Fonte:
artigo de Geraldo Bonadio para o Acontece em Sorocaba, de Douglas Lara

Festival Artimanhas Poéticas 2009 nos dias 12 e 13 de Junho


Real Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro será palco de palestras, debates e lançamentos

O festival literário Artimanhas Poéticas será realizado nos dias 12 e 13 de junho, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ), com curadoria do poeta Claudio Daniel.

O evento contará com a participação de críticos literários, como Luiz Costa Lima, poetas jovens e consagrados, como Paulo Henriques Britto, Virna Teixeira, Sérgio Cohn, Richard Price e o português Luís Serguilha, entre outros, e editores de revistas.

O festival incluirá palestras, debates, recitais, lançamentos, performances musicais e de poesia sonora.

Programação

Dia 12 de junho, sexta-feira:

14h
Palestra: A crítica literária reflete a criação poética contemporânea?
Com Luiz Costa Lima

16h
Debate: As revistas definem o momento literário?
Com Claudio Daniel, André Vallias, Márcio-André, Sérgio Cohn

Lançamento: revistas Confraria, Errática e Zunái.

18h
Recital:

Camila Vardarac, Virna Teixeira, Leonardo Gandolfi, Lígia Dabul, Luiz Roberto Guedes, Luís Serguilha, Rodrigo de Souza Leão, Izabela Leal

Dia 13 de junho, sábado:

14h
Debate: Como está a poesia brasileira hoje?
Com Claudio Daniel e Paulo Henriques Britto

15h
Lançamentos de livros de poesia (títulos do selo Arqueria, da Lumme, Azougue e de outras editoras).

16h
Recital:

Claudio Daniel, Diana de Hollanda, Thiago Ponce de Moraes, Gabriela Marcondes, Ismar Tirelli, Pablo Araújo, Victor Paes, Ronaldo Ferrito

17h
Show de Tavinho Paes e Arnaldo Brandão.

17h30
Performance poético-polifônica para voz, violino e processamento eletrônico,

com Márcio-André.

Mostra de videopoesia de Gabriela Marcondes.

19h
Palestra de Richard Price, com participação de Virna Teixeira.
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Datas: 12 e 13 de Junho


Local: Real Gabinete Português de Leitura, rua Luís de Camões, 30 - Centro - Rio de Janeiro - RJ.

Apoio: Laboratório de Criação Poética e Real Gabinete Português de Leitura.

Mais informações: http://artimamhas.blogspot.com/


Fonte:
Colaboração de Regina Santos

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Trova XV

Branquinho da Fonseca (Caravelas da Poesia)


NAUFRÁGIO

A rua cheia de luar
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.

Já não passava ninguém...
Era um mundo abandonado...
E à janela, eu, tão Além,
Subia ressuscitado...

Vi-me o corpo morto, em cruz,
Debruçado lá no Fundo...
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo...

Mas, à tona do mar morto,
Um resto de caravela
Subia... E chegava ao porto
Com a aragem da janela.

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ARQUIPÉLAGO DAS SEREIAS

Ó nau Catrineta
Em que andei no mar
Por caminhos de ir,
Nunca de voltar!
Veio a tempestade
Perder-se do mundo,
Fez-se o céu infindo,
Fez-se o mar sem fundo!
Ai como era grande
O mundo e a vida
Se a nau, tendo estrela,
Vogava perdida!
E que lindas eram
Lá em Portugal
Aquelas meninas
No seu laranjal!
E o cavalo branco
Também lá o via
Que tão belo e alado
Nenhum outro havia!
Mundo que não era,
Terras nunca vistas!
Tive eu de perder-me
Pra que tu existas.
Ó nau Catrineta
Perdida no mar,
Não te percas ainda,
Vem-me cá buscar!
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CASTANHEIROS, IRMÃOS...

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Carregados de ouriços que são ninhos
Onde as castanhas dormem como noivos!

Troncos abertos,

Casas abertas,
Ao vosso abrigo
Dormem os pobres,
Pegam no sono,
Passam as noites
Quando cai neve!

Peitos vazios,
Escancarados,
Sem nada dentro,
Nem coração!
Dais lume, calor
E dais sustento para a mesa,
E dais o mais que eu não sei!...

Ó castanheiros de folhas de ouro,
Apenas sou vosso irmão
Em que a terra vos criou
E criou-me a mim também;
Em que vós ergueis os braços
Suplicantes para os céus
E eu também levanto os meus...

Ah! Castanheiros, mas eu
Grito e vós ficais calados!
Seremos, por isto só,
Irmãos? Seremos? Não sei:
Vós tendes roupas de rei,
Eu tenho roupas de Job;
Vós só gritais quando o vento
Vos abre a boca e fustiga:
Então ergueis um clamor...
— Não calo nunca no peito
A dor do meu sofrimento
E nunca chego a dize-la,
Nem há ninguém que me diga.

Ó castanheiros de folha de ouro,
Não,
Eu não sou vosso irmão!...
–––––––––––––––––––––––––––

Branquinho da Fonseca (1905 – 1974)

Antes seja afastado do que já alcancei que o seja daquilo para que vou. A posse é um declínio.
Antes um pássaro a voar que dois na mão. Dois pássaros na mão são o que já não falta. Um pássaro a voar: é ir com os olhos a voar com ele; ir sobre os montes, sobre os rios, sobre os mares; dar a volta ao mundo e continuar; é ter um motivo de viver — é não ter chegado ainda.
(As Viagens – Branquinho da Fonseca)

Filho de D. Clotilde Branquinho e do escritor Tomás da Fonseca, Antônio José Branquinho da Fonseca nasceu em Mortágua, Portugal, no dia 4 de maio de 1905.

Depois de cursar os primeiros anos do Liceu em Lisboa, parte para Coimbra, onde termina os seus estudos secundários. Em seguida matricula-se na Faculdade de Direito. Ainda como estudante participa da fundação da revista "Triplico" (1924 - 1925), que teve 9 números publicados.

Em 1926 passa a exercer a função de Conservador no Museu Biblioteca Conde de Castro Guimarães - Cascais. Ainda nesse ano faz sua estréia literária com a obra "Poemas". No ano seguinte, mais precisamente no dia 10 de março, quando ainda era estudante de Direito, funda, juntamente com Adolfo Casais Monteiro, José Régio e João Gaspar Simões, a revista Presença, que é considerada o marco inicial da segunda fase do modernismo português.

A revista Presença foi dirigida por Branquinho da Fonseca até o ano 1930. Quando a revista estava no seu 27º número, Branquinho da Fonseca, por considerar haver imposição de limites à liberdade criativa, abandona a direção, que fica a cargo de Adolfo Casais Monteiro. Ainda Nesse ano Branquinho da Fonseca Licencia-se em Direito e, junto com Miguel Torga, funda a revista Sinal, que teve apenas um número publicado.

Falece em Lisboa no dia 16 de maio de 1974.

A enciclopédia Barsa define Branquinho da Fonseca como "um dos fundadores e principais colaboradores da revista Presença, porta-voz do modernismo no país".

Os primeiros textos de Branquinho da Fonseca foram assinados com o pseudônimo António Madeira. Abaixo temos algumas de suas obras mais importantes:

Poesia
Poemas - 1926;
Mar Coalhado - 1932;
Teatro
Posição de Guerra - 1928;
Teatro I - 1939.

Contos
Zonas - 1931;
Caminhos Magnéticos - 1938;
Bandeira Preta - 1956.

Romances
Porta de Minerva - 1947;
Mar Santo - 1952.

Fonte:
Mundo Cultural

Apollon Mayakov (1821 – 1897)



Apollon Nikolayevich Maykov (Moscou, 4 de junho de 1821, – São Petersburgo, 20 de março de 1897) foi um poeta russo.

Ele nasceu no seio de uma família artística, cujo pai, Nikolay Apollonovich Maykov, era um pintor e um acadêmico. Em 1834 a família se mudou para Petersburgo. Em 1837-1841 Maykov estudou direito na Universidade de São Petersburgo. No princípio ele foi atraído pela pintura, mas ele dedicou sua vida a poesia. As primeiras publicações dele apareceram em 1840 no Almanaque de Odessa.

Depois que Nicholas I deu para Maykov recursos para o primeiro livro em 1842, ele viajou ao estrangeiro, para a Itália, França, Saxônia, e Áustria. Maykov voltou a Petersburg em 1844 e começou a trabalhar como assistente de bibliotecário no Museu de Rumyantsev. Ele freqüentemente se encontrou com outros literatos famosos, como Belinsky, Nekrasov, e Turgueniev.

A poesia lírica dele freqüentemente invoca imagens de aldeias russas, natureza, e a história russa. O amor dele pela Grécia antiga e Roma que ele estudou muito em sua vida também é refletido nos trabalhos dele. Ele passou quatro anos traduzindo a epopéia O Conto da Campanha de Igor em poesia russa moderna (terminou em 1870). Ele traduziu o folclore de Belarus, Grécia, Serbia, Espanha, e outros países, como também os trabalhos de Heine, Adam Mickiewicz, Goethe, etc. Muitos dos poemas de Maykov foram utilizados na música por Rimsky-Korsakov e Tchaikovsky.

D. S. Mirsky chamava Maykov " o poeta mais representativo da época" mas somou:

Máykov era ligeiramente " poético " e ligeiramente realístico; ligeiramente tendencioso, e nunca emocional. Imagens sempre são o tema principal nos seus poemas. Alguns deles (sempre sujeito à restrição que ele nunca teve estilo e nenhuma dicção) são descobertas felizes, como os poemas curtos e muito famosos sobre fonte e chuva. Mas os poemas mais realísticos dele são deteriorados através de sentimentalidade, e os poemas mais poéticos "desesperadamente inadequados. Poucas das suas tentativas mais ambiciosas tiveram êxito.

Ele também escreveu alguma prosa que não ganhou nenhum reconhecimento significante. Depois de 1880, Maykov não escreveu quase nada novo, passando o tempo dele corrigindo as criações anteriores em preparação para a publicação de sua coletânea de trabalhos. Nos últimos anos da sua vida, ele era o presidente do comitê para censura onde ele serviu desde 1852.

Fonte:
D.S. Mirsky, A History of Russian Literature: From Its Beginnings to 1900, Northwestern University Press: 1999,
Tradução do texto: José Feldman

terça-feira, 2 de junho de 2009

Trova XIV

Laurindo Rabelo (Poesias Escolhidas)



O que fazes, ó minh’alma?
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração sê mais sensato,
Busca outro coração!
Corre o ribeiro suave
Pela terra brandamente,
Se o plano condescendente
Dele se deixa regar;
Mas, se encontra algum tropeço
Que o leve curso lhe prive,
Busca logo outro declive,
Vai correr noutro lugar.

Segue o exemplo das águas,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Nasce a planta, a planta cresce,
Vai contente vegetando,
Só por onde vai achando
Terra própria a seu viver;
Mas, se acaso a terra estéril
As raízes lhe é veneno.
Ela vai noutro terreno
As raízes esconder.

Segue o exemplo da planta,
Coração, por que te agitas?
Coração, por que palpitas?
Por que palpitas em vão?
Se aquele que tanto adoras
Te despreza, como ingrato,
Coração, sê mais sensato,
Busca outro coração!

Saiba a ingrata que punir
Também sei tamanho agravo:
Se me trata como escravo,
Mostrarei que sou senhor;
Como as águas, como a planta,
Fugirei dessa homicida;
Quero dar a um’alma fida
Minha vida e meu amor.
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DOIS IMPOSSÍVEIS

Jamais! Quando a razão e o sentimento
Disputam-se o domínio da vontade,
Se uma nobre altivez nos alimenta
Não perde de todo a liberdade.

A luta é forte: o coração sucumbe
Quase nas ânsias do lutar terrível;
A paixão o devora quase inteiro,
Devorá-lo de todo é impossível!

Jamais! a chama crepitante lastra,
Em curso impetuoso se propaga,
Lancem-lhe embora prantos sobre prantos,
É inútil, que o fogo não se apaga.

Mas chega um ponto em que lhe acena o ímpeto
Em que não queima já, mas martiriza,
Em que tristeza branda e não loucura
À razão se sujeita e harmoniza.

É nesse ponto de indizível tempo
Onde, por misterioso encantamento,
O sentir à razão vencer não pode,
Nem a razão vencer ao sentimento.

No fundo de noss’alma um espetáculo
Se levanta de triste majestade,
Se de um lado a razão seu facho acende
Do outro os lírios seus planta a saudade.

Melancólica paz domina o sítio,
Só da razão o facho bruxuleia
Quando por entre os lírios da saudade
Do zelo semimorto a serpe ondeia!

Dois limites então na atividade
Conhece o ser pensante, o ser sensível:
Um impossível - a razão escreve,
Escreve o sentimento outro impossível!

Amei-te! os meus extremos compensaste
Com tanta ingratidão, tanta dureza,
Que assim como adorar-te foi loucura,
Mais extremos te dar fora baixeza.

Minh’alma nos seus brios ofendida
De pronto a seus extremos pôs remate,
Que, mesmo apaixonada, uma alma nobre,
Desespera-se, morre, não se abate.

Pode queixar-se inteira felicidade
De teu olhar de fogo inextinguível,
Acabar minha crença, meu futuro,
Aviltar-me! jamais! É impossível!

Mas a razão que salva da baixeza
O coração depois de idolatrar-te,
Me anima a abandonar-te, a não querer-te,
Mas a esquecer-te, não: sempre hei de amar-te!

Porém amar-te desse amor latente,
Raio de luz celeste e sempre puro
Que tem no seu passado o seu presente,
E tem no seu presente o seu futuro.

Tão livre, tão despido de interesse,
Que para nunca abandonar seu posto,
Para nunca esquecer-te, nem precisa
Beber, te vendo, vida no teu rosto.

Que, desprezando altivo quantas graças
No teu semblante, no teu porte via
Adora respeitoso aquela imagem
Que delas copiou na fantasia.
(Obras completas, 1946.)
=========

Laurindo Rabelo (8 julho 1826 – 28 setembro 1864)


Laurindo José da Silva Rabelo (Rio de Janeiro, 8 de julho de 1826 — Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1864), foi um médico, professor e poeta romântico brasileiro, patrono na Academia Brasileira de Letras.

Nasceu Laurindo Rabelo de família pobre, afro-descendente, filho do miliciano Ricardo José da Silva Rabelo e de Luísa Maria da Conceição.

Cresceu nas maiores privações, das quais só veio a se libertar nos últimos anos de sua vida. Pretendendo seguir a carreira eclesiástica, cursou as aulas do Seminário São José e recebeu as ordens, mas abandonou o seminário por intrigas de colegas. Fez estudos na Escola Militar, outra vez tentando em vão fazer carreira. Ingressou no curso de Medicina no Rio, concluindo-o na Bahia, em 1856, vindo porém defender tese na cidade natal. Em 1857, ingressou como oficial-médico no Corpo de Saúde do Exército, servindo no Rio Grande do Sul, até 1863. Neste ano voltou ao Rio, como professor de história, geografia e português no curso preparatório à Escola Militar.

Em 1860 tinha se casado com Adelaide Luísa Cordeiro. De volta ao Rio, leciona no curso preparatório para a Escola Militar as disciplinas de História, Geografia e Português.

Apreciava a vida boêmia, gozando de grande talento satírico e capacidade de improviso, fazendo repentes e composições de modinhas - o que lhe granjeou grande popularidade e a alcunha de "Poeta Lagartixa" - dada sua constituição física, "magro e desengonçado", como informa Manuel Bandeira .

Como poeta satírico, era justamente temido e respeitado; teve amigos e, também, inimigos acérrimos, por causa dessa feição do seu talento, chegando a ser perseguido. Como repentista e improvisador, era popular e bem recebido em todos os salões. Fechavam os olhos à sua indumentária desleixada, só para ouvir o poeta e ver as cintilações daquele espírito. Em muitas das suas composições vibra também a nota de melancolia.

Rabelo teve morte prematura, de problemas cardíacos, com apenas trinta e oito anos de vida.

Composições

Fez Rabelo famosa, à época, parceria com João Luís de Almeida Cunha - conhecido por Cunha dos Passarinhos, compondo com este diversos lundus e modinhas, como "A Despedida" e "Foi em Manhã de Estio"

Literatura

Integrou a chamada segunda fase do romantismo brasileiro. Publicou em vida apenas um livro, intitulado "Trovas", que foi reeditado postumamente, com acréscimo de outros trabalhos inéditos, e intitulado "Poesias".

Excertos

O trechos a seguir ilustram o estilo e o trabalho do poeta (domínio público):
"Deus pede estrita conta de meu tempo,
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta,
Eu que gastei sem conta tanto tempo?"

(estrofe de "O Tempo")

"Quando eu morrer, não chorem minha morte,
Entreguem meu corpo à sepultura;
Pobre, sem pompas, sejam-lhe a mortalha
Os andrajos que deu-me a desventura
."
(estrofe de "O Último Canto do Cisne")

"No cume daquela serra
Eu plantei uma roseira.
Quanto mais as rosas brotam,
Tanto mais o cume cheira.

À tarde, quando o sol posto,
E o cume o vento adeja,
Vem travessa borboleta
E as rosas do cume beija.

No tempo das invernadas,
Que as plantas do cume lavam,
Quanto mais molhadas eram,
Tanto mais no cume davam.

Mas se as aguas vêm correntes,
E o sujo do cume limpam,
Os botões do cume abrem,
As rosas do cume grimpam.

Tenho, pois, certeza agora
Que no tempo de tal rega,
Arbusto por mais cheiroso
Plantado no cume pega.

Ah! Porém o sol brilhante
Logo seca a catadupa;
O calor que a terra abrasa
As águas do cume chupa
."
("As Rosas do Cume")

Crítica e análises

É considerado por José Marques da Cruz como um dos 4 poetas maiores da segunda geração do Romantismo no Brasil, ao lado Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e Casimiro de Abreu. Marques da Cruz assinala: “Autor das “Meditações” , poesias sentimentais onde chora a perda de pessoas queridas, e de versos satíricos de grande merecimento, que lhe valeram muitas inimizades.” (in: História da Literatura, Melhoramentos, São Paulo, 8ª. ed.)

Manuel Bandeira (in: "Apresentação da Poesia Brasileira", Ediouro), regista que sua "alegria exterior escondia porém uma funda mágoa das dificuldades e desdéns que encontrava na vida, e essa tristeza se reflete em acentos comoventes no poema "Adeus ao mundo"."
José Veríssimo (em "A Literatura Brasileira", ed. PDF, http://www.dominiopublico.gov.br/ , Brasília), consigna que a primeira fase do romantismo "pode dizer-se findo pelos anos seguintes a 1850, quando surge uma nova geração de poetas que dão ao nosso romantismo outra direcção, com inspiração despreocupada de patriotismo ou sequer de nacionalismo, porém por isso mesmo talvez mais pessoal, de um sentimentalismo mais de raiz, e menos religioso ou moralizante, admirador de Byron e de Musset e dos poetas satânicos, como em Franca lhe chamaram, do segundo romantismo europeu. Desses poetas, quatro ao menos, Laurindo Rabelo (1826-1864); Álvares de Azevedo (1831-1852); Junqueira Freire (1832-1855); Casimiro de Abreu (1837-1860), todos publicados de 1853 a 1860, são verdadeiramente notáveis por dons de sensibilidade e de expressão que sem ter o acabado artístico dos futuros parnasianos, lhes traduzia com esquisita felicidade os sentimentos."

Mais adiante, o mesmo autor consigna que "Os mais populares poemas brasileiros, alguns quase adoptados pelo nosso povo como sua poesia, na qual parece rever-se, são destes poetas incluindo (...) Dois Impossíveis, A Minha Resolução, Saudade Branca, de Laurindo Rabelo;".

Por sua obra satírica recebeu, ainda, o epíteto de "Bocage Brasileiro".

Fontes:
Wikipedia
Academia Brasileira de Letras

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Trova XIII

Fundação Biblioteca Nacional


A Biblioteca do Mosteiro de São Bento, fundada em 1581, em Salvador, Bahia, é a biblioteca mais antiga do Brasil. A Biblioteca Nacional, contudo, é a primeira oficial e pública. Foi trazida de Lisboa para o Brasil pela Corte portuguesa, a pedido de D. João, em 1808, e instalada em uma das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, contendo sessenta mil peças (livros, manuscritos, mapas, medalhas e estampas). A época, chamava-se Real Biblioteca.

Em 1810, foi transferida para sua sede atual, no Rio de Janeiro, e recebeu o nome de Biblioteca, hoje, Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Tornou-se propriedade do Estado em 1825.

Atualmente, a FBN é considerada a 8ª. Biblioteca do mundo. Guarda a mais rica coleção bibliográfica da América Latina e conta com mais de nove milhões de itens catalogados, realizando, com êxito, a sua missão de captar e preservar o acervo da memória nacional, disposto em: obras gerais, referência, iconografia, música, periódicos, obras raras, manuscritos e cartografia.

Os chamados Tesouros da Biblioteca Nacional constituem um acervo em formato digital, do qual fazem parte a Carta de abertura dos portos, a Bíblia da Mogúncia, o Livro das horas e a primeira gramática em língua portuguesa, entre outras peças (iconografia, manuscritos, música e obras raras).

A FBN presta importantes serviços aos usuários, não só atendendo in bloco, como também on-line ou por via telefônica e portal. Visite o Site Oficial da FBN. Há, também, o serviço do Escritório de Direitos Autorais (EDA), que funciona desde 1898 (e-mail: eda@bn.br).

Além do laboratório da restauração e conservação, a FBN possui o maior laboratório de digitalização da América Latina, para que o leitor tenha acesso à biblioteca virtual.

Atendimento a Distância

A Divisão de Informação Documental (DINF) oferece aos usuários que residem fora do município do Rio de Janeiro e do Grande Rio serviços de informação, tais como:

- pesquisa e compilação de registros bibliográficos no acervo da BN;
- reprodução do acervo;
- obtenção de cópias de textos de periódicos, através do Programa COMUT;

Presta também, por correio eletrônico ou telefone, atendimento local para demandas de pronta-resposta
( informações sobre o acervo, informações bibliográficas, etc.)

Para solicitar este serviço preencha o Formulário de Solicitação de Pesquisa em
http://www.bn.br/portal/index.jsp?nu_pagina=78

Base de Bibliografias Especiais

A DINF organizou, a partir de solicitações de usuários, uma base de dados, não exaustiva, que reflete as pesquisas realizadas. São referências compiladas nos catálogos da Biblioteca Nacional, que, em sua maioria, podem ser complementadas com o acesso aos Catálogos on line.

Essa base, embora não esteja totalmente revisada, está disponível para consulta. http://catalogos.bn.br/ .

Fundação Biblioteca Nacional
Divisão de Informação Documental
Av. Rio Branco 219, 2o. andar - Rio de Janeiro, RJ - 20040-008
tel: (0xx21) 2220-1330
tel/fax: (0xx21) 2220-1326
e-mail:
dinf@bn.br

Fontes:
Biblioteca Nacional
Quiosque Azul

Programa de Bolsas da Biblioteca Nacional



Estão abertas as inscrições para a seleção de bolsas do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa da FBN, para o ano de 2009. A data limite para o envio de projetos é o dia 12 de junho de 2009.

Em edições anteriores foram contemplados noventa e dois projetos que priorizavam o estudo e a divulgação do acervo da Biblioteca Nacional. Seguindo a mesma linha, este ano serão concedidas bolsas em três níveis para candidatos com formação em doutorado (nível 1), mestrado (nível 2) e graduados ou pós-graduandos (nível 3).

Como nos anos anteriores, será vedada a acumulação de bolsas da FBN com a de outros programas como CNPq, outras agências ou da própria FBN.
Clique AQUI para obter o formulário de inscrição e editais de bolsa para autores com obras em fase de conclusão e bolsa tradução.

Decisão Executiva nº 07, de 08 de maio de 2009

Edital
Programa Nacional de Apoio à Pesquisa


O Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, no uso das atribuições legais que lhe confere o Estatuto aprovado pelo Decreto nº 5.038, de 7 de abril de 2004, torna público o presente Edital que estabelece o regulamento para inscrições de projetos no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Pesquisa.

1. OBJETO
Constitui objeto do presente Edital a concessão de bolsas na forma do item 2 do presente a partir da seleção de até 12 projetos nas áreas de Ciências Humanas, Sociais, Linguística, Letras e Artes que utilizem o acervo da Biblioteca Nacional com o objetivo de incentivar a pesquisa e promover a produção de trabalhos originais que contribuam para a cultura brasileira.


2. MODALIDADES DE BOLSAS DE PESQUISA
2.1 Serão oferecidas bolsas para 3 (três) níveis de formação:
Nível 1 – R$ 2.200,00 - formação: doutorado completo : 5 bolsas
Nível 2 – R$ 1.700,00 - formação: mestrado completo : 4 bolsas
Nível 3 – R$ 1.200,00 - formação: 3º grau completo e pós-graduandos : 3 bolsas


3. REQUISITOS
3.1 Dos candidatos:
3.1.1 Estão aptos a concorrer à bolsa brasileiros natos ou naturalizados, ou estrangeiros em situação regular e residência permanente no país, com idade igual ou superior a 18 (dezoito) anos, graduados, estudantes de pós-graduação, mestres e doutores, conforme modalidades estabelecidas.

3.1.2 Não será permitido ao candidato concorrer à modalidade de bolsa inferior ao seu nível de formação escolar.

3.1.3 É vedada a participação de membros do Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração (CIPE) e de seus parentes ou afins, de servidores, funcionários, estagiários, bolsistas ou prestadores de serviços terceirizados da Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura e de qualquer unidade vinculada a esse Ministério, bem como funcionários e prestadores de serviços da Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (SABIN), Fundação Miguel de Cervantes (FMC) e Revista de História da Biblioteca Nacional, editada pela SABIN.

3.1.4 É vedado o acúmulo de bolsa de pesquisa da Fundação Biblioteca Nacional com bolsas concedidas por agências de fomento à pesquisa, no ato da inscrição e durante a vigência da bolsa.

3.1.5 É vedada a concessão de bolsa a quem tiver pendências ou débito de qualquer natureza com a Fundação Biblioteca Nacional e com a Receita Federal.

3.2 Dos projetos:
3.2.1 O projeto deve contemplar um dos temas sugeridos abaixo ou outro que tenha como objeto de pesquisa o acervo da Fundação Biblioteca Nacional:

Biblioteca Nacional: 200 anos
Bibliotecas públicas
Biblioteconomia
120 anos de República
Coleção Brício de Abreu na Biblioteca Nacional
Coleção Teresa Cristina na Biblioteca Nacional
Euclides da Cunha
Franceses no Brasil
Incentivo à leitura ou formação de leitores
Outros temas relacionados ao acervo da Biblioteca Nacional.


3.2.2 O tema do projeto deverá, obrigatoriamente, ser indicado no campo 3.2 do formulário de inscrição; para outros temas, relacionados ao acervo da FBN, preencher com três palavras-chave que os identifiquem.

3.2.3 Se as vagas para os níveis específicos não forem preenchidas, as bolsas serão remanejadas para outros, de acordo com a classificação estabelecida pelo CIPE.

3.2.4 É vedada a inscrição de projeto que seja ou tenha sido financiado por empresas públicas ou privadas através de leis de incentivo à cultura ou que tenha sido objeto de estudo já concluído.

3.2.5 É vedada a participação de candidato que tenha sido contemplado com quaisquer bolsas oferecidas pela FBN nos últimos 24 meses, a contar da data de publicação deste edital.

3.2.6 O projeto de pesquisa deverá, obrigatoriamente, ser desenvolvido com base no acervo da Biblioteca Nacional.

3.2.7 O projeto deverá ser apresentado em no máximo 20 (vinte) páginas, espaço 1,5, fonte Times New Roman, tamanho 12, margens 2,5 cm.

3.2.8 Não serão aceitas inscrições de dissertação e tese, projetos em grupo, nem projetos em andamento junto à FBN.

3.2.9 A FBN reserva-se o direito de não preencher todas as vagas e de excluir projetos, que, embora tratando do acervo da FBN, não atendam aos critérios estabelecidos no presente edital.


4. INSCRIÇÕES
4.1 As inscrições para o concurso de bolsa de pesquisa estarão abertas entre 13 de maio e 12 de junho de 2009.

4.2 Documentos requeridos para inscrição:

4.2.1 Documentos em uma via:
Formulário de inscrição, preenchido em forma legível e assinado pelo candidato, conforme modelo disponível no anexo I deste Edital e no site da FBN (http://www.bn.br/) ;
Cópia de documento de identidade e CPF;
Passaporte com visto de permanência no Brasil ou outro documento que comprove situação regular no país, para candidatos estrangeiros;
Declaração da instituição acadêmica reconhecida pelo MEC atestando o vínculo, se estudante de pós-graduação;
Certidão conjunta negativa de débitos relativos aos tributos federais disponível na página da Receita Federal- http://www.receita.fazenda.gov.br/

4.2.2 Documentos em três vias
Projeto de pesquisa original, não encadernado, contendo:
capa com nome do candidato, título do projeto e data;
resumo (máximo de 10 linhas);
introdução e justificativa;
objetivos;
referencial teórico-metodológico;
fontes de pesquisa;
bibliografia geral;
cronograma de atividades para 12 meses.

Curriculum vitae, de preferência de acordo com o da Plataforma Lattes (atualizações posteriores à inscrição não serão aceitas para fins de alteração no nível da bolsa).

4.3 Cada candidato poderá concorrer com apenas um projeto e em apenas uma modalidade de bolsa da FBN; em caso contrário, todas as propostas inscritas pelo candidato serão eliminadas.

4.4 A documentação para inscrição deverá ser encaminhada por via postal SEDEX, para o seguinte endereço:
Fundação Biblioteca Nacional,
Programa Nacional de Apoio à Pesquisa
Coordenadoria de Pesquisa
Av. Rio Branco, 219, 5º andar,
20040-008 - Rio de Janeiro, RJ

4.5 Somente serão aceitas inscrições postadas pelo correio.

4.6 Não será aceita inscrição com data de postagem nos correios posterior ao dia 12 de junho de 2009. Fica estabelecido o prazo de 5 (cinco) dias úteis de tolerância para recebimento de inscrições postadas até o dia 12 de junho de 2009.


5. SELEÇÃO
5.1 A seleção se realizará em duas etapas, ambas eliminatórias.

5.2 Primeira etapa: análise pela Coordenadoria de Pesquisa, considerando:
A documentação do candidato;
A utilização do acervo da Biblioteca Nacional como fonte de pesquisa;
A viabilidade técnica do projeto de pesquisa;
Adequação do cronograma ao projeto;
Adequação do projeto proposto ao objeto e às condições deste Edital.

5.3 Segunda etapa: análise pelo Conselho Interdisciplinar de Pesquisa e Editoração, considerando:
Adequação das fontes ao desenvolvimento da pesquisa;
Clareza, coerência e qualidade textual do projeto;
Consistência teórico-metodológica;
Curriculum vitae;
Relevância do projeto para a divulgação do acervo da Biblioteca Nacional e da cultura brasileira.

5.4 A Coordenadoria de Pesquisa e o Conselho Interdisciplinar de Pesquisa são soberanos nas suas respectivas atribuições, não cabendo recurso às suas decisões.

5.5 A relação dos candidatos aprovados e seus respectivos projetos será divulgada no Diário Oficial da União e no portal da Fundação Biblioteca Nacional (www.bn.br).

5.6 O candidato classificado será convocado por meio de correio eletrônico e terá um prazo de até 30 dias para assinar o contrato.


6. OBRIGAÇÕES DO BOLSISTA

6.1. Dedicar-se às atividades de pesquisa previstas no projeto que é objeto deste Edital e cumprir os prazos estabelecidos.

6.2 Apresentar relatórios bimestrais à Coordenadoria de Pesquisa, via correio eletrônico, ao final dos 2º, 4º, 6º e 8º meses de vigência da bolsa. Ao final do 10º mês, apresentar resultado parcial da pesquisa contendo, no mínimo, 20 (vinte) páginas do corpo do trabalho final em 01 (uma) cópia impressa e 01 (uma) cópia em CD.

6.3 Apresentar o trabalho final ao término do 12º mês do contrato, em forma de monografia ou ensaio, em 01 (uma) cópia impressa e 01 (uma) cópia em CD, de acordo com as normas técnicas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O trabalho deverá conter no mínimo 60 (sessenta) páginas, espaço 1,5, fonte Times New Roman, tamanho 12, margens 2,5 cm. Não se constitui trabalho final: base de dados, traduções e projetos para edições.

6.4 Comunicar imediatamente, por escrito, à Fundação Biblioteca Nacional, qualquer alteração relativa à descontinuidade do projeto.

6.5 Devolver à Fundação Biblioteca Nacional os recursos despendidos em seu proveito em caso de não cumprimento das disposições normativas deste Edital, no prazo de até 30 (trinta dias) a contar da data de notificação da FBN.

6.6 Fazer referência à bolsa de pesquisa em trabalhos publicados em decorrência das atividades apoiadas pela Fundação Biblioteca Nacional: “Apoio: Fundação Biblioteca Nacional - Programa Nacional de Apoio à Pesquisa”.

6.7 Licenciar a Fundação Biblioteca Nacional, pelo período de três anos, para utilizar o produto e subprodutos resultantes do projeto em publicações, em quaisquer meios: impresso, digital, no site da FBN (www.bn.br) ou outro meio que venha a ser criado.

6.8 Redigir, em língua portuguesa, todos os textos produzidos.

6.9 A Fundação Biblioteca Nacional se reserva o direito de publicar ou não o trabalho final, em qualquer meio, conforme recomendação de especialistas e da Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração.


7. CALENDÁRIO


Etapas / Cronograma
Inscrição 13 de maio a 12 de junho de 2009
Análise de documentos 15 a 19 de junho de 2009
Avaliação de projetos 25 de junho a 10 de julho de 2009
Resultado 20 de julho de 2009


8. SUSPENSÃO E CANCELAMENTO
8.1 A suspensão temporária da bolsa poderá ser solicitada a qualquer tempo, mediante justificativa por escrito. A solicitação será avaliada pela Coordenadoria de Pesquisa.

8.2 O cancelamento da bolsa poderá ocorrer a pedido do bolsista, a qualquer momento, ou a critério da instituição, em razão de desempenho insatisfatório.

8.3 O cancelamento da bolsa implicará na devolução dos valores recebidos pelo bolsista, exceto em caso de falecimento do mesmo.


9. PAGAMENTO
9.1 Os pagamentos serão efetuados mensalmente, em conta bancária a ser aberta pelo bolsista, observando-se o item 6 deste edital.

10. DISPOSIÇÕES FINAIS
10.1 A bolsa concedida pela Fundação Biblioteca Nacional não gera vínculo empregatício e nenhum outro direito adicional ao previamente estabelecido neste edital.

10.2 A Fundação Biblioteca Nacional se reserva o direito de, a qualquer momento, solicitar informações ou documentos que julgar necessários à efetivação do contrato.

10.3 Os projetos não selecionados ficarão disponíveis para restituição aos interessados na Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração por até 60 (sessenta) dias após a data da divulgação do resultado; após este prazo, o material será inutilizado e descartado. A FBN não fará a postagem para devolução dos projetos.

10.4 Não será aceita inscrição apresentada em forma diversa da descrita neste Edital

10.5 Os casos omissos serão resolvidos pela Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração.

10.6 Esta Decisão Executiva entra em vigor a partir da data de sua publicação.

MUNIZ SODRÉ
PRESIDENTE

Fontes:
Biblioteca Nacional
Imagem

Jussara C. Godinho (Meninos de rua)


O dia era frio, muito frio, chuvoso, nublado e escuro, a sensação era de que o vento cortava, sangrando a pele. Poucas pessoas arriscavam sair às ruas. O mês de junho, no extremo sul do país, maltrata alguns cidadãos.

Envolvida em mantas de tricô, os famosos cachecóis, luvas e botas de couro legítimo, a Madame pára seu carro importado no sinal vermelho. Surge à sua frente um menino adolescente, quase moço, muito magro, corpo quase nu, coberto com tinta prateada, mexendo seus malabares. Mal podia acreditar que alguém pudesse suportar aquele frio em pêlo. Misérias do mundo! A Madame tira da bolsa, etiquetada com marca internacional, algumas moedas — que sobraram, talvez, do cabeleireiro, da massagem, da manicure? — para pagar o show.

Na quadra seguinte, outro sinal vermelho, fechado, gritando Pare, Olhe, Atenção! Outro menino, agora criança, vendendo balas, no carro se encosta. Nas costas o peso de ser diferente, carente, tão pequeninho, lutando sozinho, vendendo bala, cheirando cola, sem escola, pedindo esmola. Mas quem dá bola para um vendedorzinho de bala que só precisa de colo, de carinho, de uma boa escola, de um prato de feijão e de um pouquinho de atenção?

Enquanto a Madame seguia seu caminho sem olhar para trás, o menino seguia sua espera, espera, espera...

Fontes:
Releituras
Imagem

Jussara C. Godinho (Rio Grande do Sul em Trovas)



Sou gaúcha de verdade
Verdadeira Rio-grandense
Eu prezo minha cidade
Digo mais: sou Caxiense

Vou te oferecer amigo
Um bom churrasco no espeto
E com orgulho te digo:
Faço Trova e até Soneto

Um bom churrasco no espeto
Para amigo saborear
Muita Trova e até Soneto
Só vendo pra acreditar!

Só vendo pra acreditar
gente boa de montão
Vim aqui te convidar
Pra tomar um chimarrão!

Vem tomar um chimarrão
Amigos e companheiros
Um forte aperto de mão
Sentimentos verdadeiros

Uma rosa tão pequena
Com perfume de jasmim
Cada pétala serena
Traz seu cheiro para mim.

Arranjei um namorado
Que era lindo, milionário.
O safado era casado,
Um tremendo salafrário.

Está sempre de pileque
Cambaleando pela rua
Quero te dizer moleque
Troca o gole por charrua.

Vinho e uva de montão
Morro abaixo, morro acima
Não estranhe, amigo, não
É a festa da vindima
(Menção Honrosa no I jogos Florais de Caxias do Sul, tema Vindima - 2008)

Esta escola é tão querida
Sempre muito organizada,
Que alegria nesta vida
Ensinar a meninada!

O coração da mulher
É recheado de intuição
E sabe sempre o que quer,
Pois ela é pura emoção.
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Fontes:
Jú Virginiana
Para Ler e Pensar

Imagem = José Feldman

Jussara C Godinho (Amor, Sentimento estranho)


Que sentimento é esse
Que derrete coração
Emociona sem aparente razão
E faz tremer de emoção?

Que sentimento é esse
Que tudo dá, nada pede e não impede
Que o outro lhe tome inteira
De qualquer maneira sem nenhuma barreira?

Que sentimento é esse
Que envaidece, entristece
Às vezes, até emburrece
E nos desestrutura inteira?

Que sentimento é esse
Que abala
E ao mesmo tempo acalma?

Que sentimento é esse
Que grita e nunca se cala
E quando sussurra, desperta a alma?

Que sentimento é esse
Que nele se resvala
E ainda se bate palma?

Que sentimento é esse
Que prende, mas satisfaz
Que amordaça e não se desfaz?

Que sentimento é esse
Que se entrega e faz tremer
Que emociona e endoidece
E nos faz viver?

(Poema integrante da Antologia "Poeta, mostra a tua cara" - Volume 5 - XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA - BENTO GONÇALVES - RS)
––––––––––––––––––––––––-
Jussára C. Godinho (Ju Virginiana), 1957, já participou em mais de trinta antologias poéticas e agendas literárias, sits, e blogs. É membro do IBT de Caxias do Sul (RS) associada à AGES - Associação Gaúcha de Escritores e Cônsul do Movimento Poetas del Mundo de Caxias do Sul (RS). Não tem livros editados.
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Fontes:
Jú Virginiana
Releituras
Imagem

domingo, 31 de maio de 2009

XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto 2009 (Classificação Final)



TEMA NACIONAL – CIGANO (LIRISMO)

Categoria: Vencedores (Troféu)

1º LUGAR
Sofredor desde menino
e tendo o sonho por meta,
quis saber qual seu destino,
diz-lhe o cigano:- Poeta!
Carolina Ramos
Santos (SP)

2º LUGAR
Cigano de olheiras fundas,
pele morena, crestada,
quantas tristezas profundas
já deixaste pela estrada?
Hermoclydes Siqueira Franco
Nova Friburgo (RJ)

3º LUGAR
Cigana e bela mulher...
desse romance eu me ufano!
Não vive um amor qualquer,
quem vive um amor cigano!
Éderson Cardoso de Lima
Niterói (RJ)

4º LUGAR
Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte (MG)

5º LUGAR
Cigano eu vou pela vida,
e minha tenda é montada,
não com a lona estendida,
mas, com a noite estrelada...
Izo Goldman
São Paulo (SP)

Categoria: Menção Honrosa (Medalha Dourada)

1º LUGAR
Errei pela vida afora,
sou cigano sem destino...
te achei!... Não vou mais embora,
sigo o sonho de menino.
Renato Alves
Rio de Janeiro (RJ)

2º LUGAR

Tangendo brilhos e rastros,
como compete a um perito,
cigano é o “pastor dos astros”
no rebanho do Infinito!
José Ouverney
Pindamonhangaba (SP)

3º LUGAR
Qual pequenina carroça
de cigano sonhador,
leva a trova, a quantos possa,
carga máxima de amor.
Antônio Augusto de Assis
Maringá (PR)

4º LUGAR
Quando o cigano chegou
tocando seu violino,
no meu coração tocou,
entrando no meu destino.
Maria Apparecida S.Coquemala
Itararé (SP)

5º LUGAR
Sei que irá me causar dano.
o fascínio que me exerces,
pois teu amor é cigano
mas o meu quer alicerces...
Elbea Priscila de Sousa e Silva
Caçapava (SP)

Categoria: Menção Especial (Medalha Prateada)

1º LUGAR
O cigano ao ver-me em pranto,
na dor que cruel avança,
espantou meu desencanto,
despertou minha esperança!...
Marilúcia Resende
São Paulo (SP)

2º LUGAR
Deu-me, o cigano, uma rosa
e partiu sem dizer nada
e esta rosa, hoje saudosa,
vive a chorar...desfolhada...
Marina Bruna
São Paulo ( SP)

3º LUGAR
Cigano, da tua andança
por esse mundo sem fim,
traz-me um pouco da esperança
que a sorte roubou de mim...
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru (SP)

4º LUGAR
Mulher olhando vitrine,
cigano vendo dinheiro,
Eis a pergunta:- Imagine
quem desistirá primeiro?
Miguel Russowsky
Joaçaba (SC)

5º LUGAR
Ante o teu vulto de fada
e esse lindo olhar arcano,
sinto a alma engalanada
por ter nascido cigano!
Hermoclydes Siqueira Franco
Nova Friburgo (RJ)

TEMA NACIONAL – EREMITA – ( Humorismo )

Categoria: Vencedores (Troféu)

1º LUGAR
Foi o bebum “muito esperto”
como eremita... e está crente
que, no calor do deserto,
o oásis é de água... ardente!!!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo (SP)

2º LUGAR
Já não há nenhum prazer
que em público a lei permita:
quem quer fumar ou beber
tem que virar eremita!
Renata Paccola
São Paulo (SP)

3º LUGAR
Diz o Zé, sem compaixão,
Vendo a vizinha esquisita:
“a casar com tal canhão,
melhor morrer eremita”.
Eduardo Domingos Bottallo
São Paulo (SP)

4º LUGAR
O coitado do eremita
vive esta dúvida eterna:
quando vê mulher bonita,
só pensa em... sua caverna...
Izo Goldman
São Paulo (SP)

5º LUGAR
De andar a pé, já cansado,
um eremita ameaça:
vou me eleger deputado
pra andar de avião de graça...
Marina Bruna
São Paulo (SP)

Categoria: Menção Honrosa (Medalha Dourada)


1º LUGAR
Adotei o isolamento,
feito um ermitão qualquer,
pra fugir do casamento
e das manhas de mulher!...
Ademar Macedo
Natal (RN)

2º LUGAR
Fugiu da cara-metade...
fingiu ser monge eremita...
e vem ao bar da cidade,
só quanto acaba a birita!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo (SP)

3º LUGAR
Indo armar uma arapuca,
encontrei um eremita
que, me vendo de peruca,
perguntou se eu era Chita...
Ruth Farah Nacif Lutterback
Cantagalo ( RJ)

4º LUGAR
Louras, morenas, mulatas,
cada qual, a mais bonita,
vive cercado de gatas
e ainda diz que é Eremita.
Argemira Fernandes Marcondes
Taubaté (SP)

5º LUGAR
O eremita se isolou...
até que morreu, zureta.
ao chegar ao céu, pensou
que um anjo era borboleta.
Vanda Fagundes Queirós
Curitiba (PR)

Categoria: Menção Especial (Medalha Prateada)

1º LUGAR
– Sou eremita, diz, ancho,
celibatário também,
mas, no fundo do seu rancho,
o “santo” esconde um harém...
Élbea Priscila de Sousa e Silva
Caçapava (SP)

2º LUGAR

O eremita, na entrevista,
Ao voltar faminto e roto:
-para ser um João Batista
tem que comer gafanhoto?!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo (SP)

3º LUGAR
Um eremita só quer
ser feliz com o que tem,
para ele, não há mulher,
e não tem sogra também.
António José Barradas Barroso
Parede (Portugal)

4º LUGAR
Um eremita perfeito
Eu encontrei certo dia...
era tão chato o sujeito
que de si mesmo fugia.
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte (MG)

5º LUGAR
Minha sogra é uma eremita,
mas não sei por que razão
em minha casa é visita
de mala, cuia e colchão!!!
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes (PR)

Fonte:
Nilto Manoel.
UBT/SP – Seção de Ribeirão Preto

João Guimarães Rosa (Sagarana) (Parte final)


Artigo do prof. Teotônio Marques Filho
Parte I = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/joao-guimaraes-rosa-sagarana-parte-i.html
Parte II = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/joao-guimaraes-rosa-sagarana-parte-ii.html
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6. São Marcos

Narrado também na primeira pessoa, “São Marcos” é outro conto de linha trágica e esta sob o signo da superstição:

Izé ou José, o narrador, era um homem que não acreditava em feiticeiro: “Naquele tempo eu morava no Calango-Frito e não acreditava em feiticeiros” (221). Vivia a fustigar João Mangalô, feiticeiro de fama e escama naqueles rincões. Nhã Rita, preta cozinheira dele, vivia a adverti-lo:

“- Se o senhor não aceita, é rei no seu; mas abusar não deve”. (224).

E relatava o caso da lavadeira que desfeiteara a velha Cesária e sofrera, de repente, agulhadas inexplicáveis “no pé (lá dela!)”.

Mas ele, sempre incrédulo:

Você deve conhecer os mandamentos do negro... Não sabe? “Primeiro: todo negro é cachaceiro...” “Segundo: todo negro é vagabundo”. “Terceiro: todo negro é feiticeiro...”

Ai, espetado em sua dor-de-dentes, ele passou do riso bobo à carranca de ódio, resmungou, se encolheu para dentro, como um caramujo à cocléia, e ainda bateu com a porta (228)

Depois disso, voltando da missa, encontra com Aurísio Manquitola que lhe narra o caso de Tião Tranjão, que era um sujeito um tanto tolo e burro, e acabou aprendendo a oração de São Marcos que é “sesga, milagrosa e proibida”, com que resolveu os seus problemas conjugais de ter mulher, e esta dormir com os outros.

O narrador vai andando. A natureza ao seu redor atrai as suas vistas. Escreve versos num tronco, e quando lhe faltou inspiração, certa vez, limitou-se a fazer um rol de reis caldeus.

Reconhece que “as palavras têm canto e plumagem

Perde-se em descrições e cenas que seus olhos vêem:

E, pois, foi aí que a coisa se deu, e foi de repente: como uma pancada preta, vertiginosa, mas batendo de grau em grau - um ponto, um grão, um besouro, um anu, um urubu, um golpe de noite... E escureceu tudo.” (pág. 244)

Uso acentuado da audição. Até os olhos cegos ouvem (“meus olhos o ouvem” - 248). Vaga, sem rumo, pela floresta, para depois defrontar-se com João Mangolô e as vistas que tinham sido amarradas por este:

“- Pelo amor de Deus, Sinhô... Foi brincadeira... Eu costurei o retrato, p’ra explicar ao Sinhô...” (250)

E o narrador conclui com um mundo de cores:

Na baixada, mato e campo eram concolores. No alto da colina, onde a luz andava à roda, debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca. E, ao longe, nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três qualidades de azul.” (251)

“São Marcos” é de linha frenética, o que lembra a “Dama Pé-de-Cabra”, de Alexandre Herculano. Aqui está presente o mundo das superstições e feitiçarias que envolvem o homem interiorano.

Outra tese desenvolvida é a da “plumagem e canto das palavras”.

7. “Corpo Fechado”

A técnica narrativa de “Corpo Fechado” é em forma de entrevista. O “doutor”, no decorrer da história, vai entrevistando Manuel Fulô, “um valentão manso e decorativo, como mantença da tradição e para glória do arraial” (281)

O papo começou com o doutor passando em revista os principais nomes de valentões daquelas bandas: José Boi, Desidério Cabaça, Adejalma, “nome bobo, que nem é de santo...” Miligido, que já se aposentara, e o terrível Targino:

Esse-um é maligno e está até excomungado... Ele é de uma turma de gente sem-que-fazer, que comeram carne e beberam cachaça na frente da igreja, em sexta-feira da Paixão, só p’ra pirraçar o padre e experimentar a paciência de Deus...” (pág. 255)

Esses valentões todos já tinham sido castigados. Só faltava o Targino. Mas o seu fim havia de chegar como chegou para os outros:

Eles todos já foram castigados: o Roque se afogou numa água rasinha de enxurra­da... ele estava de chifre cheio... Gervásio sumiu no mundo, asem deixar rasto... Laurindo, a mulher mesma torou a cabeça dele com um machado, uma noite... foi em janeiro do ano passado... Camilo Matias acabou com mal-de-lázaro... Só quem está sobrando mesmo é o Targino. E o castigo demora, mas não falta...” (pág. 256)

E Manuel Fulô, o entrevistado, vai narrando as suas aventuras entre os ciganos; como os tapeou, uma vez; o seu desejo de possuir uma sela mexicana para a mulinha Beija-Fulô. E então chegamos ao casamento de Manuel da raça dos Peixoto, do que tinha honra e fazia alarde. A noiva era a das Dor.

E aqui é que começa a história propriamente. O Targino aparece e diz assim para o Manuel Fuló:

“- Escuta, Mané Fulô: a coisa é que eu gostei da das Dor, e venho visitar sua noiva. amanhã.. Já mandei recado, avisando a ela... É um dia só, depois vocês podem se casar... Se você ficar quieto, não te faço nada... Se não... (pág. 275)

Reboliço. Correrias. Movimentação do doutor. E então “a história começa mesmo é aqui”: Antonico das águas, “que tinha alma de pajé” e era “curandeiro-feiticeiro” agora entra na história para “fechar o corpo” de Manuel Fuló, “requisitando agulha-e-linha, um prato fundo, cachaça e uma lata com brasas” (279):

“- Fechei o corpo dele. Não careçam de ter medo, que para arma de fogo eu garanto!...” (280)

E o doutor conclui a história assim:

“E, quando espiei outra vez, vi exato: Targino, fixo, como um manequim, e Manu e Fulô pulando nele e o esfaqueando, pela altura do peito - tudo com rara elegância e suma precisão. Targino girou na perna esquerda, ceifando o ar com a direita; capotou; e desviveu, num átimo. Seu rosto guardou um ar de temor salutar.

- Conheceu, diabo, o que é raça de Peixoto?!”
(pág. 281)

“Corpo Fechado” ainda continua a problemática apresentada em “São Marcos”: mundo de feitiçarias e bruxarias.

Além dessa temática, sobressai também a saga dos valentões das gerais, principal­mente com o temível Targino, e a saga dos ciganos, muito freqüente no interior.

8. “A Saga dos Bois”

Em “Conversa de Bois”, Guimarães Rosa, procura desenvolver a “psicologia” dos animais o que já se vislumbra em “O Burrinho Pedrês”, também aqui, e com largo uso, explorando “a plumagem e canto das palavras”.

A técnica narrativa é a terceira pessoa, narrado por Manuel Timborna, que é entrevistado pelo autor, que pede para recriar a história:

“- Só se eu tiver licença de recontar diferente, enfeitado e acrescentado ponto e pouco...

- Feito! Eu acho que assim até fica mais merecido, que não seja”
(283)

E então Manuel Timborna começa a “contar um caso acontecido que se deu”, pro­curando demonstrar que “boi fala o tempo todo”.

Buscapé, Namorado, Capitão, Brabagato, Dansador, Brilhante, Realejo e Canindé são os protagonistas bovinos da história, que vão na sua marcha lenta, carregando “o peso pesado” do carro-de-bois, carregado de rapaduras e um defunto.

O guia é Tiãozinho, filho do defunto carregado. Vai triste e “babando água dos olhos” (313). Visto pelos bovinos é “o bezerro-de-homem-que-caminha-sempre-na-frente-dos-bois”. (313)

O carreiro, orgulhosão e perverso, é o Agenor Soronho: “o homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta” que vem “trepado no chifre do carro...” (313).

Na sua marcha, os oito bovinos vão conversando. Criticam o modo de vida dos homens, o animal pensante: “É ruim ser boi-de-carro. É ruim viver perto dos homens... As coisas ruins são do homem: tristeza, fome, calor - tudo pensado, é pior...” (290)

Brilhante conta a história do boi Rodapião - “o boi que pensava de homem, o-que-come-de-olho-aberto...” (296, que saiu certa vez, com esse raciocínio silogístico:

... “Cada dia o boi Rodapião falava uma coisa difícil p’ra nós bois. Deste jeito:

- Todo boi é bicho. Nós todos somos bois. Então, nós todos somos bichos!... Est
úrdio...” (300)

E porque pensava muito-pensava como o homem - o boi Rodapião tem fim trágico:

“Escutei o barulho dele: boi Rodapião vinha lá de cima, rolando poeira feia e chão solto... Bateu aqui em baixo e berrou triste, porque não pôde se levantar mais do lugar das suas costas...” (308)

Tiãozinho vai relembrando a morte do pai. Tem uma raiva danada do Agenor Soronho que “bate em todos os meninos do mundo: Seu Agenor Soronho é o diabo grande” (314)

O fim é trágico. Deus e o Demo: Agenor Soronho é castigado pelos bois e por Tiãozinho que “pensa quase como nós bois” (314): “A roda esquerda do carro lhe colhera o pescoço.” (317)

Tiãozinho fica como um possesso diante daquela tragédia.

- “Conversa de Bois” procura interpretar a psiquê bovina. É uma história trágica também, e pode ser aproximada de “O Burrinho Pedrês” pela relevância que dá ao animal. Dentro dessa perspectiva está implícita uma crítica ao comportamento do homem, o animal pensante.

Outra temática que me pareceu também bastante nítida no conto é a da oposição entre o Bem e o Mal, onde os maus têm sempre fim trágico, como foi o caso de Seo Agenor Soronho.

9. “A Hora e Vez de Augusto Matraga”

Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves das Pindaíbas e do Saco-da-Embira. Ou Nhô Augusto” (319).

Nhô Augusto foi homem ruim, de muitos pecados e pouca água benta: maltratava a mulher e filha e vivia de pagode com outras, como a tal da Sariema que aparece no começo do conto, mulherzinha com “perna de Manuel-Fonseca, uma fina e outra seca!” (322)

Estourado e sem regra, estava ficando Nhô Augusto. E com dívidas enormes. política do lado que perde, falta de crédito, as terras no desmando” (324)

E então surge o pior: a mulher foge com outro levando também a filha e os capangas o abandonam, para servir ao Major Consilva, um antigo inimigo da família:

Assim, quase qualquer um capiau outro, sem ser Augusto Esteves, naqueles dois contratempos teria percebido a chegada do azar, da unhaca, e passaria umas rodadas sem jogar, fazendo umas férias na vida: viagem, mudanças, ou qualquer coisa ensossa, para esperar o cumprimento do ditado: “Cada um tem seus seis meses...” (328)

Mas Nhô Augusto era couro ainda por curtir” e, de imediato, foi tirar satisfação com o Major. Resultância: os capangas novos e antigos do Major saíram em cima do homem e o arrasaram de pancadas, lançando-o, depois, num despenhadeiro.

Morto, mas não sepultado, ressuscitou pela caridade de um par de pretos que habitava aquelas plagas inóspitas. Cuidam do semimorto: enfaixam-no, pensam-lhe as feridas e Nhô Augusto pede padre:

Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua” (336), conclui o batina, depois de tê-lo confessado e conversado.

Não morre. Regenera-se. E daquele lugar maldito “pegou chão, sem paixão”, junta­mente com o par de negros.

“- Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal” E a minha vez há de chegar. P’ra o céu eu vou, nem que seja a porrete!...” (pág. 337)

Afastado de tudo, isolado do seu antigo mundo procura penitenciar-se de seus pecados.

Aparece, o bando de Seo Joãozinho Bem-Bem, a quem Nhô Augusto dá pousada. Os anjos-da-guarda de ambos combinam-se. Desencontro. Encontro. Deus e Demo. Nhô Augusto encontra de novo com seu Joãozinho Bem-Bem, chefe do bando mais temido daquelas bandas. Um velho pede pelos filhos. Seo Bem-Bem quer vingança. Exterminação. E foi aí que aconteceu a hora e vez de Nhô Augusto, dito Matraga:

“- Êpa! Nomopadrofilhospritossantamêin! Avança, cambada de filhos-da-mãe, que chegou minha vez! (362).

Exterminação total. Mas seu Joãozinho Bem-Bem se sente honrado em ser exterminado por Matraga: “quero acabar sendo amigos...”

E Matraga:

“Feito, meu parente, seu Joãozinho Bem-Bem. Mas agora se arrepende dos pecados, e morre logo como um cristão, que é para gente poder ir juntos...” (pág. 363)

E “com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue”, Augusto Mal ruga morre satisfeito porque teve a sua hora e vez:

Foi Deus quem mandou esse homem no jumento, por mór de salvar as famílias da gente” (pág. 364), comenta a turba agradecida.

“A Hora e Vez de Augusto Matraga” é, sem dúvida, o ápice da criação literária rosiana em Sagarana, dada a tragicidade e epicidade que o conto encerra.

Quatro temáticas me parece bem nítidas:

a) a oposição Deus e o Demo (Bem x Mal);
b) a saga dos cangaceiros e valentões (Joãozinho Bem-Bem);
c) misticismo (Augusto Matraga depois do encontro com o padre);
d) todos têm a sua vez e hora.

Não me parece sem lógica uma aproximação entre “A Hora e Vez de Augusto Ma­traga” e “O Burrinho Pedrês”: ambos, Augusto Matraga e Sete-de-Ouros, tiveram a sua hora e a sua vez, e dela saíram cobertos de glórias. Não é sem razão que já se disse que os extremos se tocam...

Fabulista? - Não. João é fantasticamente fabuloso!

Findo. Findo o fino fabulista fabuloso. Finririnfinfim...

NOTA: As páginas indicadas referem à nona edição de Sagarana (Rio. 1967)

Fonte: