segunda-feira, 27 de abril de 2009

Anderson Vicente (A arte de criar)



Mesmo estando enquadrado o ser humano como o ser capaz de pensar e criar, ainda assim a “arte da criação”, é a causa da famosa tremura nas pernas que antecede aquela sensação de “frio na barriga” — o medo sutil e ativo.

Se em outras gerações, na volta de uma clareira a céu aberto iam-se desvendando mistérios em lendas e “causos”, ou mesmo, à luz de uma pequena lamparina a querosene: o ambiente mágico, demonstrado no rosto cheio de expressões e gestos, narrava do corriqueiro a histórias fascinantes, onde na certa, o moleque que as escutava traçava forma ao cenário e as personagens. E, como em um “estalar de dedos”, o campo aberto, limpo, pronto para nele semear a sua criatividade, onde em zelosos cuidados: o hábito contido de leitura — de mero passatempo ao então prazer — adensava ao “seu mundo”, movimentos vivos, penetrantes. Hoje, já não se pode da mesma maneira ativar a criatividade: base para a construção do bom conto, novela ou romance.

Deve-se, em primeiro lugar, estabelecer o “convívio” com as palavras; não adorná-las de requinte e sim entendê-las. Parece, ao deixar assim definido, quão vago este método, pouco adiantará. Entretanto, pouco - a- pouco o hábito se faz; não o deixa, o enlaça, envolvendo no seu íntimo e a esta hora começará a correr nas veias e artérias.

O início de sua trajetória está começada, no entanto, longe de desembarcar: agora começa a afeição — a arte de criar.

Fonte:
Clube dos Escritores de Alvorada. Coletânea "Alvorecendo". Inverno de 2002
http://www.clubedosescritoresdealvorada.blogspot.com/

Raymundo Faoro (Aniversário de Nascimento)


Raimundo Faoro (1925 – 2003)



Raimundo Faoro (Vacaria, 27 de abril de 1925 — Rio de Janeiro, 15 de maio de 2003) foi um escritor, advogado, cientista político e historiador brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Letras e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de 1977 a 1979. Conhecido como O Embaixador da Cidadania.

Raymundo Faoro nasceu em Vacaria, nono distrito, (RS), em 27 de abril de 1925. Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de maio de 2003.

Filho de agricultores, depois de 1930 sua família mudou-se para a cidade de Caçador (SC). Lá fez o curso secundário, no Colégio Aurora. Formou-se em Direito, em 1948, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Transferiu-se, em 1951, para o Rio de Janeiro, onde advogou e fez concurso para a Procuradoria do Estado, de onde se aposentou.

Colaborou na imprensa desde o tempo de estudante universitário. Co-fundador da revista Quixote, em 1947, escreveu para diversos jornais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Além de jurista, foi um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros, autor de ensaios de direito e ciências humanas. Referência obrigatória na teoria política do Brasil contemporâneo, Faoro conquistou o respeito dos intelectuais do país através de suas análises críticas do Estado, que contribuíram para o desenvolvimento da literatura crítica nacional.

Seus leitores mais críticos (entre os quais Mino Carta e Bob Fernandes) lhe atribuíram dons proféticos. Em Os donos do poder, publicado em 1958, analisou a formação do patronato brasileiro e buscou as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido, e usado, como se fosse privado. É um teorema que Faoro demonstrou percorrendo a história luso-brasileira dos seus primórdios até Getúlio Vargas e antecipando os rumos seguintes. Em enquete feita pela revista Veja com os principais intelectuais brasileiros, este ensaio foi incluído entre os vinte livros mais importantes já publicados por autores brasileiros.

No ensaio A pirâmide e o trapézio, publicado primeiramente em 1974 (mesmo ano da reedição revista e ampliada de Os donos do poder), Faoro interpretou com mestria e originalidade a obra de Machado de Assis, cuja mensagem está na dissecação da sociedade da capital do país no final do século XIX. Ao escrever seu ensaio levou em conta os estudos machadianos até o início dos anos 70, dialogando especialmente com Augusto Meyer, Eugênio Gomes, Astrogildo Pereira, Raimundo Magalhães Jr., e também Sílvio Romero.

Este vasto estudo sobre Machado de Assis pode ser visto como uma continuidade e um complemento do ensaio anterior. Seu grande objeto de estudo era ainda o Brasil, pois pretendia captar a vida que Machado de Assis infundiu em seus personagens e ao Brasil, o funcionamento concreto e cotidiano da ação dos donos do poder e seus agregados, a presença dos valores e da ideologia, os vícios e as virtudes, a constrição das instituições (família, Estado, igreja), os preconceitos, o amplo e variadíssimo jogo da vida social e individual.

Foi presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, de 1977 a 1979. Lutou pelo fim dos Atos Institucionais e ajudou a consolidar o processo de abertura democrática nos anos 70. Com ele a sede da OAB, no Rio, transformou-se num front de resistência pacífica contra o regime militar. Partiu de lá a primeira grande denúncia circunstanciada contra a tortura de presos políticos. No governo João Figueiredo lutou pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com a anistia e a retomada das liberdades políticas, a casa de Faoro nas Laranjeiras tornou-se lugar de encontro de políticos como Tancredo Neve e Luís Inácio Lula da Silva. Este propôs, sem sucesso, que Faoro entrasse na disputa presidencial em 1989, como candidato a vice-presidente.

Desde o momento em que deixou a OAB, foi colaborador permanente da revista Senhor (segunda fase), inspirador e parceiro na revista IstoÉ e no Jornal da República, das quais foi presidente. Colaborou também na revista Carta Capital.

Recebeu o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de letras (1959); Prêmio Moinho Santista - Ciências Sociais -1978 (foi o terceiro premiado, depois de Fernando de Azevedo e Gilberto Freyre); Medalha Teixeira de Freitas, do Instituto dos Advogados do Brasil.

Faleceu vítima de enfisema pulmonar, aos 78 anos, no Rio de Janeiro, velado na ABL e enterrado no Cemitério São João Batista.

Formação histórico-social brasileira

Raimundo Faoro é autor de Os donos do poder, obra que aponta o período colonial brasileiro como a origem da corrupção e burocracia no país, colonizado por Portugal, então um Estado absolutista. De acordo com o autor, toda a estrutura patrimonialista foi trazida para cá. No entanto, enquanto isso foi superado em outros países, acabou sendo mantido no Brasil, tornando-se a estrutura de nossa economia política.

Nesta sua concepção de Estado patrimonialista, Faoro coloca a propriedade individual como sendo concedida pelo Estado, caracterizando uma "sobrepropriedade" da coroa sobre seus súditos e também este Estado sendo regido por um soberano e seus funcionários. O autor assim nega a existência de um regime propriamente feudal nas origens do Estado brasileiro. O que caracteriza o regime feudal é a existência da vassalagem intermediando soberano e súditos e não de funcionários do estado, como pretende Faoro.

Desenvolvendo seu raciocínio, Faoro conclui que o que se teve no Brasil foi um capitalismo politicamente orientado, conceito este de inspiração weberiana. Negando-se em atribuir um papel hipostasiado à economia com relação à política, Faoro vê em seu país uma forma pré-capitalista. Esta característica pré-capitalista, no entanto, ainda será entendida no interior do pensamento weberiano em que capitalismo é definido como uma aquisição racional de lucros burocraticamente organizada, diferente do capitalismo politicamente orientado em que tal aquisição será direcionada por interesses dos Estado e da sua concorrência com outros estados. Destacando-se da análise da dialética marxista, esta forma de capitalismo não irá inevitavelmente desembocar numa forma de capitalismo mais avançado, mas poderá perpetrar-se na medida em que coexiste com formas racionais de organização da produção.

O capitalismo politicamente orientado atribui ao Estado patrimonial e seus funcionários características de um estamento burocrático, ainda que este impeça a consolidação de uma ordem burguesa propriamente dita no país.

Foi o quinto ocupante da cadeira número 6 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido eleito em 23 de novembro de 2000, na sucessão de Barbosa Lima Sobrinho, e recebido pelo acadêmico Evandro Lins e Silva em 17 de setembro de 2002.

Bibliografia
Os donos do poder. Porto Alegre, Editora globo, 1958.
Machado de Assis - A pirâmide e o trapézio. Rio de Janeiro, 1975.
A Assembléia Constituinte - A legitimidade recuperada. Rio de Janeiro, Brasiliense, 1980.
Existe um pensamento político brasileiro?. Rio de Janeiro, Editora Ática, 1994.
Publicou também obras de direito e ciências humanas.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras. http:// http://www.academia.org.br/
http://pt.wikipedia.org
http://www.brasilescola.com/

domingo, 26 de abril de 2009

Abel Botelho (A Fritada)

Aldeia de Aveloso, freguesia de Tendais
Este conto, incluído na coletânea intitulada “Mulheres da Beira” (publicada pela primeira vez em 1888), tem como cenário principal a aldeia de Aveloso, da freguesia de Tendais. É uma viagem por vários planos e espaços: o de uma certa consciência social que o autor quis argumentar através das personagens que criou, o de uma imagem da serra grandiosa e estéril, subitamente acordada e atordoada pela chegada dos gados transumantes, fenômeno hoje extinto. A imagem de uma aldeia sombria, triste e pobre, onde os senhores da Casa Grande deixavam entrever o modelo de poder que Botelho repudiava para o País, e a súbita chegada dos gados com enfeites multicores vindos cordilheira da Estrela, deve ter suscitado no autor uma profunda impressão, pela forma como se demora na descrição minuciosa dos pormenores, deixando de fora, com certeza propositadamente, a descrição do Cortejo e da Família Real entrando em Lamego.

Por isso, o seu espírito realista e positivista transformou o que poderia ser apenas mais uma novela social num impressionante documento histórico e uma miscelânea de apontamentos geográficos e etnográficos. Conhecedor, e com certeza frequentador dos caminhos da região (Botelho casara com uma senhora da nobreza de Cinfães tendo permanecido algum tempo em Arouca onde fizera prospecções geográficas a serviço do Exército), o escritor relatou minuciosamente vários percursos todos longe da ficção, dos quais se destaca o de Lamego a Aveloso, espinha dorsal da acção, e que atravessa o maciço de Montemuro. Impensável, pois, que A. Botelho nunca houvesse calculado os planos que descreve, os picos e planaltos da serra, ou apenas o tivesse feito uma única vez.

As suas anotações de locais, como a Alagoa de D. João, o Talegre, a enumeração que faz de pontos de orientação e as distâncias que parece conhecer de forma precisa (como as léguas que separam Aveloso de Tendais) fazem de “A Fritada” quase um estudo minucioso das relações sociais e de espaço privilegiados dos viajantes pela serra

Fonte:
Nuno Resende. http://montemuro.wordpress.com/

Abel Botelho (1855 – 1917)


Abel Acácio de Almeida Botelho (Tabuaço, 23 de Setembro de 1855 — Argentina, 24 de Abril? de 1917) foi um militar, e diplomata português, destacou-se também como escritor. Representante em Portugal do realismo extremo, conhecido como Naturalismo, escreveu, entre outros, o O Barão de Lavos e O Livro de Alda, os dois primeiros títulos da série Patologia Social.

Abel Botelho nasceu em Tabuaço, pequena vila da Beira Alta, a 23 de outubro de 1856, e faleceu em Buenos Aires, como ministro da República Portuguesa, em 1917. Iniciando-se na carreira das armas como simples soldado raso, foi galgando os mais altos postos do Exército, tendo chegado a Coronel. Entre outras funções, exerceu a chefia do Estado Maior da Primeira Divisão Militar (Lisboa). Pertenceu a várias agremiações (Academia das Ciências, Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, de Lisboa e do Porto, Associação da Imprensa, Sociedade Geográfica de Lisboa, etc.), e foi como um dos delegados dessa última agremiação que esteve em São Paulo, em 1910, por ocasião de um congresso de Geografia. Em 1911 é nomeado ministro da República em Buenos Aires, onde falece em 1917. Sua carreira literária, começou-a em 1885, com um livro de versos chamado "Lira Insubmissa".

No ano seguinte, lança "Germano", drama em cinco atos, em verso. Proposta à direção do teatro Nacional, esta peça foi recusada. Originou-se uma polêmica, por causa do artigo que Abel Botelho dirige aos responsáveis por sua não aceitação. Daí por diante escreverá outras peças de teatro: "Jacunda" (comédia em três atos; 1895), "Claudina" (estudo duma neurótica; comédia em três atos, representada no Teatro do Príncipe Real de Lisboa, na festa artística da atriz Lucinda Simões, a 18 de março de 1890), "Vencidos da Vida" (peça satírica, representada a 23 de março de 1892 no Teatro do Ginásio; três atos), "Parnaso" (peça lírica, em verso, em um ato, escrita para a récita de estudantes, em benefício da Caixa de Socorros a Estudantes Pobres, realizada no Teatro de São Carlos, em 3 de maio de 1894), "Fruta do Tempo" (comédia, escrita para a atriz Lucinda Simões; 1904). Sendo de assunto no geral escabroso, delicado, como pedia o Naturalismo, essas peças causavam agitação, especialmente "Imaculável", que terminou em arruaças e apupos, e "Vencidos da Vida", que não pôde prosseguir em cena pelo que continha de crítica ao grupo literário que dá título à peça, e por ser considerada imoral, originando-se daí uma polêmica entre Abel Botelho e os responsáveis pela proibição.

Em 1891, Abel Botelho inicia o estudo da sociedade portuguesa na série "Patologia Social", que deveria ser o exame exigente e científico dos males gerais que infestavam Portugal, sobretudo Lisboa, capital e centro urbano de maior prestígio. O primeiro é "Barão de Lavos" (1891), seguido de "O Livro de Alda" (1898), "Amanhã" (1901), "Fatal Dilema" (1907), "Próspero Fortuna" (1910). Além desses, deixou mais três romances: "Sem Remédio..." (1900), "Os Lázaros" (1904), e "Amor Crioulo" (incompleto e póstumo; seu título anterior era "Idílio Triste"; 1919) e o livro de contos "Mulheres da Beira" (1898; anteriormente haviam sido publicados no "Diário de Notícias", entre 1895 e 1896).

Dados
- O Barão de Lavos terá sido o primeiro livro escrito em português sobre a realidade da homossexualidade em Portugal.
- Morreu na Argentina, durante a Primeira Guerra Mundial.
- A ele se fica a dever o projeto gráfico da bandeira da República Portuguesa, em que o verde representa a esperança e o vermelho o sangue derramado pelo povo nas muitas guerras travadas.

Obras
Germano (1886)
Claudina (1890)
O Barão De Lavos (1891)
Os Vencidos Da Vida (1892)
Jucunda (1895)
A Imaculável (1897)
O Livro De Alda (1898)
Sem Remédio (1900)
Amanhã (1901)
Os Lázaros (1904)
Fatal Dilema (1907)
Próspero Fortuna (1910)
Amor Crioulo (1913)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
Camara Municipal de Tabuaço. http://http://www.cm-tabuaco.pt

Solenidade de Posse da Academia de Letras do Brasil







Comunico com satisfação, que em agosto deste ano, na cidade de Piracicaba/SP, a Academia de Letras do Brasil estará efetuando a Solenidade de Posse dos Novos Membros, ocasião em que terei a honra de estar participando ao assumir a Cadeira Vitalícia, representando o Estado do Paraná.
José Feldman

Vicente Aleixandre (Aniversario de Nascimento)

Vicente Aleixandre (Antologia Poética)


NA PRAIA

És esplêndido, esplendidamente humilde, vivificador e profundo
sentir-se sob o sol, entre os demais, impelido,
levado, conduzido, misturado, rumorosamente arrastado.

Não é bom
deixar-se na margem
como o quebra-mar ou como o molusco que quer calcareamente imitar a rocha.
No entanto é puro e sereno arrasar-se no destino
de fluir e perder-se,
encontrando-se no movimento com que o grande coração dos homens palpita
estendido.

Como aquele que ali vive, ignoro em que piso,
e que vi descer pelas escadas,
e enfiar-se valentemente na multidão e perder-se.
A grande massa passava. Mas era reconhecível o diminuto coração afluído.
Ali, quem o reconheceria? Ali com esperança, com resolução ou com fé, com temeroso denodo,
com silenciosa humildade, ali ele também
transcorria.

Era uma grande praça aberta, e havia odor de existência.
Um odor de grande sol descoberto, de vento eriçando-o,
um grande vento que sobre as cabeças passava sua mão,
sua grande mão que roçava os rostos unidos e os reconfortava.

E era o serpear que se movia
como um único ser, não sei se desvalido, não sei se poderoso,
mas existente e perceptível, mas fecundador da terra.
Ali cada um pode se ver e pode se alegrar e pode se reconhecer.
Quando, na tarde escaldante, só em teu gabinete,
com os olhos estranhos e a interrogação nos lábios,
queres perguntar algo à tua imagem,
não te busques no espelho,
num extinto diálogo em que não te ouves,
Desça, desça devagar e busca-te entre os outros.
Ali estão todos, e tu entre eles.
Oh, desnuda-te, e funde-te, e reconhece-te.
Entra devagar, como banhista que, temeroso, com muito amor e receio da água,
enfia primeiro seus pés na espuma,
e sente a água subir, e já se atreve, e quase se decide.
E agora com a água na cintura todavia não confia.
Mas estende os braços, abre enfim os dois braços e se entrega completo.
E ali forte se reconhece, e cresce e se lança,
e avança e joga espumas, e salta e confia,
e bate e pula nas águas vivas, e canta, e é jovem.

Assim, entra com os pés nus. Entra no fervor, na praça.
Entra na torrente que te reclama e ali sê tu mesmo.
Oh pequeno coração diminuto, coração que quer pulsar
para ser também o unânime coração que alcança!
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OS BEIJOS

Só tu és, contínua,
graciosa, quem se entrega,
quem hoje me chama. Toma,
toma o calor, a fortuna,
a cerração de bocas
fechadas. Docemente
vivemos. Morres, rendes-te.
Só os beijos reinam:
sol lento e amarelo,
rente, delicado,
que morre aqui, nas bocas
felizes, entre nuvens
rompentes, entre azuis
afortunados, onde brilham
os beijos, as delícias
da tarde, o alto
deste poente louco,
quietude, que vibra
e morre. — Morre, sorve
a vida. — Beijas. — Beijo.
Oh mundo assim dourado!
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COMO O MAR, OS BEIJOS

Não importam os emblemas
nem as vãs palavras que são um só sopro.
Importa o eco do que ouvi e escuto.
Tua voz, que morta vive, como eu que ao passar
aqui ainda te falo.
Eras mais consistente,
mais duradoura, não porque te beijasse
nem porque em ti era assim firme a existência.
Talvez porque como o mar
que invade a areia temerosa se afunda.
Em verdes ou em espumas o mar, se afasta.
Como ele se foi e voltastes e nunca voltas.
Talvez porque, girando
sobre a praia sem fim, não pude achar-te.
O vestígio de tua espuma,
quando a água se vai, resta nas bordas.
Só bordas encontro. Só o fio de voz que
em mim ficara.
Como uma alga teus beijos.
Mágicos na luz, pois mortos retornam.
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A FELICIDADE

Não. Basta!
Basta para sempre.
Fuja, fuja; só quero,
só quero a tua morte cotidiana.

O busto erguido, a terrível coluna,
o colo febril, a convocação dos carvalhos,
as mãos que são pedra, lua de pedra surda
e o ventre que é sol, o único extinto sol.

Seja erva! Erva ressecada, raízes amarradas,
folhagem nos músculos onde nem os vermes vivem,
pois a terra nem pode ser grata aos lábios,
a esses que foram, sim, caracóis do úmido.

Matar a ti, pé imenso, gesso esculpido,
pé triturado dias e dias enquanto os olhos sonham,
enquanto há uma paisagem azul cálida e nova
onde uma menina íntegra se banha sem espuma.

Matar a ti, coagulação completa, forma ou montículo,
matéria vil, vomitação ou escárnio,
palavra que pendente de uns lábios roxos
vem dependurada na morte putrefata ou no beijo.

Não. Não!
Ter-te aqui, coração que pulsou entre meus dentes enormes,
em meus dentes ou cravos amorosos ou dardos,
o tremular de tua carne quando jazia inerte
como o vivaz lagarto que se beija e se beija.

Tua catarata de números,
catarata de mãos de mulher com argolas,
catarata de pingentes os cabelos se protegem,
onde opalas ou olhos estão aveludados,
onde as mesmas unhas se guardam entre encaixes.

Morre, morre como o clamor da terra estéril,
como a tartaruga esmagada por um pé desprotegido,
pé ferido cujo sangue, sangue fresco e novíssimo
quer correr e ser como um rio nascente.

Canto o céu feliz, o azul que se desponta,
canto a felicidade de amar doces criaturas,
De amar o que nasce sobre as pedras limpas,
agua, flor, folha, sede, lâmina, rio ou vento,
amorosa presença de um dia que sei existe.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/

Fotomontagem = José Feldman

Vicente Aleixandre (1898 – 1984)


Vicente Pío Marcelino Cirilo Aleixandre y Merlo (Sevilha, 26 de abril de 1898 — Madri 14 de dezembro de 1984) foi um poeta espanhol. Seu primeiro livro, chamado "Âmbito", foi publicado em 1928. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1977.

Filho de uma família da burguesia espanhola, o seu pai foi engenheiro de caminhos de ferro. Nasceu em Sevilha em 1898, mas passou a sua infância em Málaga, onde foi colega de escola do futuro escritor Emilio Prados.

Nasceu em Sevilha em 26 de abril de 1898 e faleceu em Madrid em 14 de dezembro de 1984. Pertence à Geração de 27 e ganhou o Prêmio Nobel de 1977. Com dois anos de idade, sua família foi para Málaga — cidade que ele chama em sua obra de “o Paraíso”, pois ali passou a infância. Em 1909, instalou-se em Madrid. Em 1919 licencia-se em Direito e obtém o título em Direito Mercantil, matéria que passou a ministrar na Escola de Comércio de Madrid (1920-1922).

Em 1917 conhece Dámaso Alonso em Las Navas del Marqués, onde veraneava, e através deste contacto descobre Rubén Darío, Antonio Machado y Juan Ramón Jiménez. Inicia deste modo uma profunda paixão pela poesia.

A sua saúde começa a deteriorar-se em 1922. Em 1925 diagnosticam-lhe uma nefrite tuberculosa, que termina com a extirpação de um rim, operação realizada em 1932. Publica os seus primeiros poemas na "Revista de Occidente" em 1926. Conhece e relaciona-se com Cernuda, Altolaguirre, Alberti e García Lorca.

Depois da Guerra Civil não se exila, apesar das suas ideias esquerdistas. Permanece na Espanha, é galardoado com o "Prêmio Francisco Franco" em 1949 e transforma-se num dos mestres e exemplos para os poetas jovens.

Bibliografia:
– Ámbito, Editra Litoral, 1928;
– Espadas como labios, Espasa Calpe, 1932;
– La destrucción o el amor, Signo, 1935;
– La destrucción o el amor, Signo, 1935;
– Sombra del Paraíso, Adán, 1944;
– Mundo a solas, Javalambre, 1950;
– Nacimiento último, Ínsula, 1953;
– Historia del corazón, Espasa Calpe, 1954;
– En un vasto dominio, Revista de Occidente, 1962;
– Retratos con nombre, El Bardo, 1965;
– Poemas de la consumación, Plaza & Janés, 1968; e
– Diálogos del conocimiento, Plaza & Janés, 1974.
Além destes de poesia, publicou quatro livros em que retrata, sobretudo, a obra de autores de sua geração:
– En la vida del poeta: el amor y la poesía (1950), Real Academia Española;
– El niño ciego de Vázquez Díaz (1954), Ateneo;
– Algunos caracteres de la nueva poesía española (1955) , Aguilar; e
– Los encuentros (1958), Aguilar.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/
http://pt.wikipedia.org/

Mário de Sá-Carneiro (Aniversário do Falecimento)

FotoMontagem = José Feldman

Mário de Sá-Carneiro (Antologia Poética)


ÂNGULO

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? —
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído...

— Barcaças dos meus ímpetos tigrados,
Que oceano vos dormiram de Segredo?
Partiste-vos, transportes encantados,
De embate, em alma ao roxo, a que rochedo?...

Ó nau de festa, ó ruiva de aventura
Onde, em Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos também, ou porventura,
Fundeaste a Oiro em portos de alquimia?...

...................................................................................................

Chegaram à baia os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram...
As bandeiras velaram-se, orações...

Detive-me na ponte, debruçado.
Mas a ponte era falsa — e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar à sua beira...

— Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes —
Um outro que eu não posso acorrentar...
================================

CINCO HORAS

Minha mesa no Café,
Quero-lhe tanto... A garrida
Toda de pedra brunida
Que linda e fresca é!

Um sifão verde no meio
E, ao seu lado, a fosforeira
Diante ao meu copo cheio
Duma bebida ligeira.

(Eu bani sempre os licores
Que acho pouco ornamentais:
Os xaropes têm cores
Mais vivas e mais brutais.)

Sobre ela posso escrever
Os meu versos prateados,
Com estranheza dos criados
Que me olham sem perceber...

Sobre ela descanso os braços
Numa atitude alheada,
Buscando pelo ar os traços
Da minha vida passada.

Ou acendendo cigarros,
— Pois há um ano que fumo —
Imaginário presumo
Os meus enredos bizarros.

(E se acaso em minha frente
Uma linda mulher brilha,
O fumo da cigarrilha
Vai beijá-la, claramente)

Um novo freguês que entra
É novo actor no tablado,
Que o meu olhar fatigado
Nele outro enredo concentra.

É o carmim daquela boca
Que ao fundo descubro, triste,
Na minha idéia persiste
E nunca mais se desloca.

Cinge tais futilidades
A minha recordação,
E destes vislumbres são
As minhas maiores saudades...

(Que história de Oiro tão bela
Na minha vida abortou:
Eu fui herói de novela
Que autor nenhum empregou...)

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
— Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.

Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.

— Cafés da minha preguiça,
Sois hoje — que galardão! —
Todo o meu campo de acção
E toda minha cobiça.
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DISTANTE MELODIA

Num sonho de Íris morto a oiro e brasa,
Vem-me lembranças doutro Tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule -
Um tempo esguio e leve, um tempo-Asa.

Então os meus sentidos eram cores,
Nasciam num jardim as minhas ânsias,
Havia na minha alma Outras distâncias -
Distâncias que o segui-las era flores...

Caía Oiro se pensava Estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me...
- Noites-lagoas, como éreis belas
Sob terraços-lis de recordar-me!...

Idade acorde de Inter-sonho e Lua,
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz - anseios de Princesa nua...

Balaústres de som, arcos de Amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume...
Domínio inexprimível de Ópio e lume
Que nunca mais, em cor, hei-de habitar...

Tapetes de outras Pérsias mais Oriente...
Cortinados de Chinas mais marfim...
Áureos Templos de ritos de cetim...
Fontes correndo sombra, mansamente...

Zimbórios-panteões de nostalgias,
Catedrais de ser-Eu por sobre o mar...
Escadas de honra, escadas só, ao ar...
Novas Bizâncios-Alma, outras Turquias...

Lembranças fluidas... Cinza de brocado...
Irrealidade anil que em mim ondeia...
- Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia...
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ESPERANÇA

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.
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O LORD

Lord que eu fui de Escócias doutra vida
Hoje arrasta por esta a sua decadência,
Sem brilho e equipagens.
Milord reduzido a viver de imagens,
Pára às montras de jóias de opulência
Num desejo brumoso --- em dúvida iludida...
(--- Por isso a minha raiva mal contida,
--- Por isso a minha eterna impaciência.)

Olha as Praças, rodeia-as...
Quem sabe se ele outrora
Teve Praças, como esta, e palácios e colunas ---
Longas terras, quintas cheias,
Iates pelo mar fora,
Montanhas e lagos, florestas e dunas...

(--- Por isso a sensação em mim fincada há tanto
Dum grande património algures haver perdido;
Por isso o meu desejo astral de luxo desmedido ---
E a Cor na minha Obra o que ficou do encanto...)
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ORFEU REBELDE

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.
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Sobre o Autor
Mario de Sá-Carneiro (1890-1916)
Poeta e prosador português (19/5/1890-26/4/1916), considerado um dos mais originais e complicados autores do Movimento Modernista Português. Mário de Sá-Carneiro é o poeta que encarna as frustrações e os pesadelos de sua terra no início deste século, um país dividido entre a glória passada e a atração pela modernidade e pelas luzes da renovação européia. Isso é traduzido em sua obra por meio de uma linguagem de extrema violência verbal.

Sá-Carneiro nasce na cidade de Lisboa e estuda na Universidade de Sorbonne, em Paris. Publica os primeiros poemas, Dispersão, em 1914, mesmo ano da novela A Confissão de Lúcio. Retorna a Portugal em 1915 e lança a revista Orpheu em parceria com Fernando Pessoa, seu mentor e a maior expressão do Modernismo naquele país.

De volta a Paris, Sá-Carneiro passa por uma crise moral e financeira que o faz abandonar os estudos. De relações rompidas com o pai, leva uma vida de boêmia literária. Em 1916, durante uma crise, suicida-se em Paris. Antes de sua morte envia seus poemas inéditos a Fernando Pessoa, publicados apenas em 1937 sob o título Indícios de Ouro.
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Biografia mais detalhada = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/mario-de-s-carneiro-1890-1916.html
Poesias: Dispersão – Fim – Quase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/mario-de-s-carneiro-poesias-quase-fim.html
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Fontes:
http://www.algosobre.com.br/
http://www.astormentas.com/
Fotomontagem = José Feldman

sábado, 25 de abril de 2009

Sarau em Votorantim, hoje, 20hs

Rua Moacir Ozeias Guite – 41 Votorantim – ao lado da Praça Lecy de Campo
Fonte:
Douglas Lara.

Dalton Trevisan (Uma Vela para Dario)


Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

Fontes:
SALES, Herberto (org.). Antologia de Contos Brasileiros. 2. Ed. SP: Ediouro, 2005.
Imagem = http://www.globoonliners.com.br

Aniversário de Nascimento

Janete Clair (1925 – 1983)



Janete Clair, nome artístico de Jenete Stocco Emmer Dias Gomes (Conquista, 25 de abril de 1925 — Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1983) foi uma escritora brasileira, autora de folhetins para rádio e televisão.

Biografia

Batizada Jenete (o escrivão não entendeu o sotaque árabe de seu pai).
A Maga das Oito, como ficou célebre, graças aos frequentes sucessos no horário das 20 horas, na Rede Globo, teve início a sua carreira em 1943 como radioatriz, na Rádio Tupi. Adotou o sobrenome artístico Clair em homenagem ao compositor francês Debussy e a obra Clair de Lune. Nos anos 50, incentivada pelo marido, o também dramaturgo Dias Gomes, passou a escrever radionovela e teve grande sucesso com Perdão, Meu Filho (Rádio Nacional, 1956). Com Dias, Janete teve quatro filhos: Guilherme, Alfredo, Denise e Marcos Plínio, falecido ainda criança com dois anos e meio.

Na década de 1960 iniciou a produção para a televisão, com as telenovelas O Acusador e Paixão Proibida, ambas pela TV Tupi. Em 1967, recebeu a incumbência de alterar a trama da telenovela Anastácia, a Mulher sem Destino, da Rede Globo, para reduzir drasticamente as despesas de produção. Ela, então, inseriu na história um terremoto que matou a metade das personagens e destruiu a maior parte dos cenários (Em 1969, um incêndio na Rede Excelsior de São Paulo destruiu cenários e grande parte do acervo). Depois disso, ficou em definitivo na Rede Globo, onde escreveu algumas telenovelas como Sangue e Areia,Passo dos Ventos,Rosa Rebelde e Véu de Noiva.

Nos anos 70 escreveu algumas das telenovelas de maior sucesso, como Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972) e Pecado Capital (1975), período este em que passou a ser chamada de "a maga das oito", por garantir grandes índices de audiência nas telenovelas exibidas neste horário. Em 1978, parou o Brasil com a telenovela O Astro, em torno do mistério de "quem matou Salomão Hayala?" , interpretado por Dionísio Azevedo. Janete Clair se tornou a maior autora popular da história do Brasil, a única a alcançar 100 pontos de audiência.

Ao morrer, vitimada por um câncer no intestino, escrevia a telenovela Eu Prometo, que deixou inacabada, sendo concluída pela colaboradora Glória Perez, que viria a tornar-se novelista, e pelo seu viúvo Dias Gomes.

Carreira no rádio
1944 - Teatrinho das Cinco Horas - Rádio Difusora de S. Paulo
1948 - Rumos Opostos - Rádio América de São Paulo
1950 - Pausa para Meditação - Rádio América de São Paulo
1952 - Ana Karenina - Rádio Clube do Rio de Janeiro
1956 à 1969 - Perdão Meu Filho, Alba Valéria, Amar Até Morrer, A Canção do Fugitivo, A Canção do Rio, O Canto do Cisne, Concerto de Outono, A Deusa do Rio, Ela se chamava Esperança, Uma Escada para o Céu, A Estrada do Pecado, Um Estranho na Terra de Ninguém, A Família Borges, A Imagem de Rosana, Inocente Pecadora, Uma Mulher contra o mundo Intreiro, A Mulher Marcada, Noite Sem Fim, A Noiva das Trevas, Nuvem de Fogo, O Orgulho de Mara, Pérolas de Fogo, Poema de um Homem Só, Rosa Malena, O Sorriso da Imagem de Pedra, Sublime Pecadora, A Sultana do Grande Lago, A Taça do Pecado, Vende-se um Véu de Noiva (todas na Rádio Nacional (RJ).)

Carreira na televisão

No Brasil
SBT
2009 Vende-se um Véu de Noiva (remake de Vende-se um Véu de Noiva escrito por Irís Abravanel)
TV Tupi
1963 Vesperal Troll
1967 Paixão proibida
1966 Vesperal Troll
1964 O Acusador
TV Rio
1963 Nuvem de Fogo (baseada em radionovela da Rádio Nacional)
1966 O Porto dos Sete Destinos (segundo informações veiculadas no orkut)
1966 Show sem Limites (esquetes)
1969 Acorrentados
TV Itacolomi (Belo Horizonte)
1965 Estrada do Pecado
Rede Globo
Pecado Capital - 1998 (remake escrito por Glória Perez)
Irmãos Coragem - 1995 (remake escrito por Dias Gomes e Marcílio Moraes)
Direito de Amar - 1987 (radionovela A Noiva das Trevas, adaptada por Walter Negrão)
Selva de Pedra - 1986 (remake escrito por Eloy Araújo e Regina Braga)
Eu Prometo (terminada por Glória Perez) - 1983/1984
Sétimo Sentido - 1982
Jogo da Vida - 1981 (argumento desenvolvido por Sílvio de Abreu)
Coração Alado - 1980/1981
Pai Herói - 1979
Dancin' Days - 1978 (baseada no argumento de A Prisioneira)
O Astro - 1977/1978
Duas Vidas - 1976/1977
Caso Especial - 1975
Pecado Capital - 1975/1976
Bravo! - 1975/1976
Corrida do Ouro - 1974 (supervisão)
Fogo sobre Terra - 1974
O Semideus - 1973/1974
Meu Primeiro Baile - 1972 (Caso Especial)
Selva de Pedra - 1972/1973
O Homem que Deve Morrer - 1971/1972
Irmãos Coragem - 1970/1971
Véu de Noiva - 1969/1970
Rosa Rebelde - 1969
Passo dos Ventos - 1968/1969
Sangue e Areia - 1967/1968
Anastácia, a Mulher sem Destino (inicialmente escrita por Emiliano Queiroz) - 1967
E mais alguns programas para a série Caso Especial, na década de 1970.

No exterior
Telesistema Mexicano (México)
Vielo de Novia - 1971
Televisa San Angél (México)
Dos Vidas - 1988
Vielo de Novia - 2003
TV Panamericana (Peru)
Hermanos Corajea - 1972 (uma co-produção dos canais TV Panamericana (Peru), TV Saci (Argentina) e TIM (México). Gravada em Buenos Aires.)
El Hombre que debe Morrir - 1989 (O Homem que Deve Morrer)
TV Universidad Católica (Chile)
Semidiós - 1987 (O Semideus)
Bravo - 1989
Top Secret - 1994 (Eu Prometo)
TV Nacional (Chile)
Juegos de Fuego - 1995 (Coração Alado)

Curiosidades
- Janete Clair foi a única autora a conquistar 100 pontos de audiência, isto é, todos os televisores estavam sintonizados na novela "Selva de Pedra" no capítulo 152 em que Simone (interpretada por Regina Duarte) foi desmascarada.
- As telenovelas Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital ganharam novas versões após a morte de Janete, em 1995, 1986 e 1998, respectivamente. Embora não registrassem os índices de audiência da versão original, o remake de Selva de Pedra conseguiu entusiasmar o público - ao contrário dos outros dois, que não tiveram repercussão.
- A telenovela Fogo sobre Terra é baseada em um romance de um escritor mexicano chamado Luis Spota, intitulado Las Grandes Águas. Foi deste livro que a escritora tirou a idéia de fazer uma telenovela retratando a catástrofe que é a construção de uma barragem hidroelétrica. Em 1988, quando Dias Gomes vendia a obra de sua falecida mulher para países da América Latina, tentou vender Fogo sobre Terra para uma nova versão, mas os produtores mexicanos considerararam a semelhança da obra da escritora brasileira e o escritor mexicano e resolveram fazer uma adaptação direta do livro de Luis Spota.
- Além das obras próprias, Janete escreveu o argumento de Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu (1981). E o autor Walter Negrão se baseria numa antiga radionovela sua, A Noiva das Trevas, para escrever Direito de Amar, em 1987.
- Em 2005, o autor Ricardo Linhares apresentou à Rede Globo uma sinopse de um remake de Fogo sobre Terra para 2006, às 18h, mas o projeto foi adiado para que o autor co-escrevesse Paraíso Tropical. Ainda em 2005, o diretor Herval Rossano, que na época estava implantando um novo núcleo de dramaturgia na TV Bandeirantes, negociou os direitos autorais de Véu de Noiva, mas não chegou a um acordo sobre o valor da obra.
- O SBT adquiriu toda a obra radiofônica de Janete Clair, e a partir de 2009, 35 novelas serão adaptadas e produzidas para a TV. A maior parte é composta por histórias inéditas na tela, mas há também radionovelas que deram origem, em outras emissoras, a grandes sucessos. O SBT afirmou ainda que vai realizar o remake dessas novelas: Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972) e Pecado Capital (1975) estão entre os maiores sucessos de Janete Clair na TV.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.teledramaturgia.com.br

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Jorge de Lima (Aniversário de Nascimento)

Jorge de Lima (1893 - 1953)

Observação: O aniversário deste grande poeta que foi Jorge de Lima foi no dia 23 de abril. Infelizmente, como todos os brasileiros estive enrolado em meu imposto de renda, e a data passou em branco. Por isso, deixo hoje a minha homenagem a este genial poeta. (José Feldman)
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O médico e poeta alagoano Jorge de Lima (1893-1953) é dono de uma das obras mais profundas e, ao mesmo tempo, menos exploradas da poesia brasileira. Com um tom marcadamente enigmático e místico, seu texto exibe apurado rigor e requer leitura cautelosa.

Por causa dessa dificuldade, praticamente só se conhece o Jorge de Lima mais palatável, de poemas como "Essa Negra Fulô" e "G.W.B.R", bem marcados pelo espírito do primeiro modernismo, nos anos 1920. No entanto, na década seguinte, a partir do livro Tempo e Eternidade (1935), escrito em parceria com o mineiro Murilo Mendes, Jorge de Lima dá início a essa fase mais densa que define a maior parte de seu trabalho.

Católico — mas não carola, porque seu elevado nível de elaboração poética passa a quilômetros de um versejador papa-hóstia —, ele se torna um mestre da poesia metafísica.

O texto abaixo é o bloco 25 do longo poema "Anunciação e Encontro de Mira-Celi", publicado no livro Obra Poética, em 1950. Ao folhear um álbum de retratos, encontra-se uma família cheia de mistérios, violências, incestos... Na opinião do crítico e poeta Mário Faustino, se esse texto tivesse sido escrito originalmente numa língua mais divulgada, já seria o suficiente para inscrever Jorge de Lima entre os grandes poetas internacionais do século 20.

25.

O avô tinha sido um ancião convencional,
que se enterrou de sobrecasaca, e polainas;
e a avó — uma menina pálida que morreu ao pari-la;
o pai fez algumas baladas;
contam que tinha uma luneta para olhar ao longe.
Daí — a mão dobra a página do livro,
e a história da tetraneta finda com uma estocada no ventre:
há destinos travados, lenços quentes de lágrimas,
algum incesto, uma violação sobre um sofá antigo.—
Quando a mão dobra a página, há rastros de sangue no soalho.
Esta é a mais nova das cinco.
Veja que os seios são como neve que nós nunca vimos
e ninguém nunca viu o pai que lhe fez um filho;
e o filho desta menina é este moço de luto.
Agora vire a página e olhe o anjo que ele possuiu,
veja esta mantilha sobre este ombro puro,
e estes olhos que parecem contemplar as nuvens
através da luneta avoenga. Veja que sem o fotógrafo querer
as cortinas dão a impressão de caras impressionantes
por detrás da gravura: um estudante de cavanhaque e outro de capa.
Repare bem o braço que ninguém sabe de onde
circunda o busto da moça e a quer levar para um lugar esconso.
Fixe bem o olhar com o ouvido à escuta para perceber a respiração grossa,
os gritos, os juramentos... A saia negra parece um sino de luto,
e o decote é a nau que a levou para sempre. E este fundo de água
pode ser o mar muito bem; mas pode ser as lágrimas do fotógrafo
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Biografia de Jorge de Lima = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/07/jorge-de-lima-1893-1953.html
Poemas: Anjo Daltônico - O Acendedor de Lampiões - Caminhos de Minha Terra - Essa Negra Fulô - Invenção de Orfeu XXIX = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/07/jorge-de-lima-anjo-daltnico-o-acendedor.html
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Fonte:
Carlos Machado.In http://www.algumapoesia.com.br/

Jorge de Lima (Antologia Poética)

Casa Memorial Jorge de Lima (Alagoas)
INVERNO

Zefa, chegou o inverno!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Lama e mais lama
chuva e mais chuva, Zefa!
Vai nascer tudo, Zefa,
Vai haver verde,
verde do bom,
verde nos galhos,
verde na terra,
verde em ti, Zefa,
que eu quero bem!
Formigas de asas e tanajuras!
O rio cheio,
barrigas cheias,
mulheres cheias, Zefa!
Águas nas locas,
pitus gostosos,
carás, cabojés,
e chuva e mais chuva!
Vai nascer tudo
milho, feijão,
até de novo
teu coração, Zefa!
Formigas de asas e tanajuras!
Chegou o inverno!
Chuva e mais chuva!
Vai casar, tudo,
moça e viúva!
Chegou o inverno
Covas bem fundas
pra enterrar cana:
cana caiana e flor de Cuba!
Terra tão mole
que as enxadas
nelas se afundam
com olho e tudo!
Leite e mais leite
pra requeijões!
Cargas de imbu!
Em junho o milho,
milho e canjica
pra São João!
E tudo isto, Zefa...
E mais gostoso
que tudo isso:
noites de frio,
lá fora o escuro,
lá fora a chuva,
trovão, corisco,
terras caídas,
córgos gemendo,
os caborés gemendo,
os caborés piando, Zefa!
Os cururus cantando, Zefa!
Dentro da nossa
casa de palha:
carne de sol
chia nas brasas,
farinha d'água,
café, cigarro,
cachaça, Zefa...
...rede gemendo...
Tempo gostoso!
Vai nascer tudo!
Lá fora a chuva,
chuva e mais chuva,
trovão, corisco,
terras caídas
e vento e chuva,
chuva e mais chuva!
Mas tudo isso, Zefa,
vamos dizer,
só com os poderes
de Jesus Cristo!
===================
PELO SILÊNCIO

Pelo silêncio que a envolveu, por essa
aparente distância inatingida,
pela disposição de seus cabelos
arremessados sobre a noite escura:

pela imobilidade que começa
a afastá-la talvez da humana vida
provocando-nos o hábito de vê-la
entre estrelas do espaço e da loucura;

pelos pequenos astros e satélites
formando nos cabelos um diadema
a iluminar o seu formoso manto,

vós que julgais extinta Mira-Celi
observai neste mapa o vivo poema
que é a vida oculta dessa eterna infanta.
=======================
ESSA INFANTA

Essa infanta boreal era a defunta
em noturna pavana sempre ungida,
colorida de galos silenciosos,
extrema-ungida de óleos renovados.

Hoje é rosa distante prenunciada,
cujos cabelos de Altair são dela;
dela é a visão dos homens subterrâneos,
consolo como chuva desejada.

Tendo-a a insônia dos tempos despertado,
ontem houve enforcados, hoje guerras,
amanhã surgirão campos mais mortos.

Ó antípodas, ó pólos, somos trégua,
reconciliemo-nos na noite dessa
eterna infanta para sempre amada.
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ESSA PAVANA

Essa pavana é para uma defunta
infanta, bem-amada, ungida e santa,
e que foi encerrada num profundo
sepulcro recoberto pelos ramos

de salgueiros silvestres para nunca
ser retirada desse leito estranho
em que repousa ouvindo essa pavana
recomeçada sempre sem descanso,

sem consolo, através dos desenganos,
dos reveses e obstáculos da vida,
das ventanias que se insurgem contra

a chama inapagada, a eterna chama
que anima esta defunta infanta ungida
e bem-amada e para sempre santa.
=======================

MULHER PROLETÁRIA

Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
=====================
CANTIGAS

As cantigas lavam a roupa das lavadeiras.
As cantigas são tão bonitas, que as lavadeiras ficam tão tristes, tão pensativas!
As cantigas tangem os bois dos boiadeiros! ¬
Os bois são morosos, a carga é tão grande!
O caminho é tão comprido que não tem fim.
As cantigas são leves ...
E as cantigas levam os bois, batem a roupa das lavadeiras.
As almas negras pesam tanto, são
Tão sujas como a roupa, tão pesadas como os bois ...
As cantigas são tão boas ...
Lavam as almas dos pecadores!
Lavam as almas dos pecadores!
==========================

VINHA BOIANDO O CORPO ADOLESCENTE...

Vinha boiando o corpo adolescente,
belo pastor e sonho perturbado.
Deus abaixou-lhe os cílios alongados
para que ele dormindo flutuasse.

Ressuscita-o, Senhor, essa medusa
de sangue juvenil em rosto impúbere,
desterrado da vida, flor perdida,
irmão gêmeo de Apolo trimagista.

Seca-lhe a espuma que lhe inunda o peito
e as convulsões mortais que o imolaram
às Sodomas ardidas em seu leito.

Anjo adoecido, alheio dançarino
que dançasse em Gomorras incendiadas,
estás cansado; deita-te, menino!
===========================

A TRISTEZA ERA TANTA, TANTA A MÁGOA...

A tristeza era tanta, tanta a mágoa
que seu anjo da guarda resolvera
lutar com ele, lutar para lutar,
que o interesse da vida perecera.

Ave e serpente, círculo e pirâmide,
os olhos em fuzil e os doces olhos,
os laços, os vôos livres e as escamas.
Que doida simetria nesses ódios!

Que forças transcendentes aros e ângulos
alguém quis que lutassem nesse dia!
Ave e serpente, círculo e pirâmide:

Que divina constante simetria
nessa luta soturna, nessa liça
em que Deus reconstrói o eterno cisne!
==============================

CRISTO REDENTOR DO CORCOVADO

O avô
de minha avó
Morreu também corcovado
Carregando um cristo de maçaranduba
Que protegia os passos vagarosos da família.

Arranjei velocidade.
Virei homem de cimento armado.

Adoro esse Cristo turista
De braços abertos
Que procura equilíbrio
Na montanha brasileira.

Os homens de fé têm esperança n Ele,
Porque Ele é ligeiro, porque Ele é ubíquo,
Porque Ele é imutável.

Ele acompanha o homem de cimento armado
Através de todas as substancias,
Através de todas as perspectivas,
Através de todas as distancias
============================

MADORNA DE IAIÁ

Iaiá está
na rede de tucum.
A mucama de Iaiá tange os piuns,
Balança a rede,
Canta um lundum
Tão bambo, tão molengo, tão dengoso,
Que Iaiá tem vontade de dormir

Com quem?

Rem-rem.

Que preguiça, que calor!
Iaiá tira a camisa,
Toma aluá
Prende o cocó,
Limpa o suor
Pula pra rede.

Mas que cheiro gostoso tem Iaiá!
Que vontade doida de dormir,,,

Com quem?

Cheiro de mel da casa das caldeiras!
O saguim de Iaiá dorme num coco.

Iaiá ferra no sono
Pende a cabeça,
Abre-se a rede
Como uma ingá.

Para a mucama de cantar,
Tange os piuns,
Cala o ram-rem,
Abre a janela,
Olha o curral:
- um bruto sossego no curral!

Muito longe uma peitica faz si-dó....
Si-dó.....si-dó......si-dó....

Antes que Iaiá corte a madorna
A moleca de Iaiá
Balança a rede,
Tange os piuns,
Canta um lundum
Tão bambo,
Tão molengo,
Tão dengoso,
Que Iaiá sem se acordar,
Se coça,
Se estira
E se abre toda, na rede de tucum.

Sonha com quem?
=========================

MINHA SOMBRA

De manhã
a minha sombra
Com meu papagaio e o meu macaco
Começam a me arremedar.
E quando saio
A minha sombra vai comigo
Fazendo o que eu faço
Seguindo os meus passos.

Depois é meio-dia.
E a minha sombra fica do tamaninho
De quando eu era menino.
Depois é tardinha.
E a minha sombra tão comprida
Brinca de pernas de pau.

Minha sombra , eu só queria
Ter o humor que você tem,
Ter a sua meninice,
Ser igualzinho a você.

E de noite quando escrevo,
Fazer como você faz,
Como eu fazia em criança:
Minha sombra
Você põe a sua mão
Por baixo da minha mão,
Vai cobrindo o rascunho dos meus poemas
Se saber ler e escrever.
===========================

POEMA RELATIVO

Vem, ó
bem-amada
Junto à minha casa
Tem um regato (até quieto o regato).

Não tem pássaros que pena!

Mas os coqueiros fazem,
Quando o vento passa,
Um barulho que às vezes parece
Bate-bate de asas.

Supõe, ó bem-amada,
Se o vento não sopra,
Podem vir borboletas
À procura das minhas jarras
Onde há flores debruçadas,
Tão debruçadas que parecem escutar.

Todos os homens têm seus crentes,
Ó bem-amada:
- os que pregam o amor ao próximo
e os que pregam a morte dele.

Mas tudo é pequeno
E ligeiro no mundo, ó amada.
Só o clamor dos desgraçados
É cada vez mais imenso!

Vem, ó bem-amada.
Junto à minha casa
Tem um regato até manso.
E os teus passos podem ir devagar
Pelos caminhos:
- aqui não há a inquietação
de se atravessar o asfaalto

Vem, ó bem-amada,
Porque como te disse
Se não há pásssaros no meu parque,
Pode ser, se o vento
Não soprar forte
Que venham borboletas.
Tudo é relativo
E incerto no mundo.
Também tuas sobrancelhas
Parecem asas abertas.
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Olga Savary (Teia de Poesias)



QUERO APENAS

Além de mim, quero apenas
essa tranqüilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.

Além de mim
– e entre mim e meu deserto –
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.

ÁGUA ÁGUA

Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?

Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos,
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta

PEDIDO
A Manuel Bandeira

Quando eu estiver mais triste
mas triste de não ter jeito,
quando atormentados morcegos
– um no cérebro outro no peito –
me apunhalarem de asas
e me cobrirem de cinza,
vem ensaiando de leve
leve linguagem de flores.
Traze-me a cor arroxeada
daquela montanha – lembra?
que cantaste num poema.
Traze-me um pouco de mar
ensaiando-se em acalanto
na líquida ternura
que tanto já me embalou.

Meu velho poeta canta
um canto que me adormeça
nem que seja de mentira.

O LAGO EM CAIEIRAS
A Jack Dubbel

O lago ocultou um corpo livre
em abraço oco
como faca cortando espelhos.
Veio a vontade de ser esse lago
esse lago lago, que se permitia
magoar desejo há muito aprisionado.
Alguma coisa cresceu dentro de mim,
me fez virar o rosto para o outro lado.
Queria ser esse lago lago lago
– só isto –
debaixo do céu inutilmente azul
por ninguém se importar com ele
porque essa foi a mais selvagem,
a mais bela coisa que já vi.

DEPOIS
A Carlos Drummond de Andrade

Depois da confidência
me retirei da tarde.
O céu ficou vazio
vazio

onde era vôo de pássaros
(os pássaros estavam quietos).
Uma febre roía meus ouvidos:
voltei mais velha (exilada)
com um toque de infância entre meus dedos,
reserva de sal dentro dos olhos.

LIMITE

Ausente e lassa, queria
Estar pisando
A areia fina de Arraial do Cabo
A areia grossa de Amaralina
Em Goiás Velho urdir a tarde
Com Bernardo Élis e Cora Coralinda,
Fareja
Cheiro de candeia por toda Ouro Preto...
Mas estou presa às molduras
De todos os meus retratos.

RESUMO

Palavras, antes esquecê-las,
Lambendo todo o sal do mar
Numa única pedra.

UM DIA, OSSOS

A manhã trouxe surpresa de ossos
Guardados em gavetas
Ou organizados atrás de opalescentes,
Dourados vidros,
No corredor propício ao mistério.
Então é o susto nos olhos
E o medo nas mãos inábeis
Tocando toda essa precária matéria
Antiga e clara
E tirando no toque o som de uma música
Escondida
Nessa antiquíssima,
Milenar memória.

HORA DO RECREIO

Comer, quero comer
O bicho de três patas:
Roe-lo até o osso.

CANTIGA DE RODA PARA ADULTOS

Anel de fogo para teu dedo sou.
Adivinhem que anel
E qual o dedo.

DESCOBERTA

Digamos que só
Heráldica é o mar.
Vassalagem o resto.

PÁSSARO

A noite não é tua
Mas nos dias
- curtos demais para o vôo –
amadureces como um fruto.
Tuas asas seguem as estações.
É tua a curvatura da terra.

NUA E CRUA

Não tendo pra onde voltar é que me largo pra rua,
Eu que seria leito de rio, leito de mar, maré,
Sem porto ou barco, peixe fora d´água, pássaro no vôo
Mas quede a asa?

NOME

Eu disse o nome do amor muito sem cuidado.
Disse o nome do amor quase por acaso.
Disse o nome do amor como por engano. Ainda assim
Meu corpo ficou cheio como um rio, da terra o coração habitando.

GEMINIANA

Esta quase sempre correu, fugiu da armadilha,
De ser prendida descobre o encanto. Amor
Que faz desta que sendo caça é caçador
E ama de maneira clara porque pertence aos ares.

AMURUPÉ

Ao mar, ao mar – diz o velame à nave que o conduz
E à confundida cabeça geminiana: eu não te amo
Amo só o prazer que tu me dás.

NOME

E este amor doido,
Amor de fera ferida,
É esse amor, meu amor,
O proprio nome da vida

PÁSSARO

A noite não é tua mas nos dias – curtos demais para o vôo –
Amadureces como um fruto. Tuas asas seguem as estações.
É tua a curvatura da terra.

CERNE

Nada a ver com fonte mas com a sede
Nada a ver com repasto mas com a fome
Nada a ver com plantio mas com a semente.

O DESEJO ABSOLUTO

Criar o amado
Sem a injustiça da forma
Sem o egoísmo do nome.

ENQUANTO

Sou inconstante como o vento
Sou inconstante como a vaga
Por isso fica enquanto estou desvelada
Enquanto eu não for vento ou vaga.
-------------------
Fontes:
SAVARY, Olga. Hai Kais. São Paulo: Roswitha Kempf, 1986.
http://varejosortido.blogspot.com/
http://www.palavrarte.com/

Olga Savary (1933)



Olga Savary (Belém, 21 de maio de 1933)

Filha única do engenheiro eletricista russo Bruno Savary e da paraense Célia Nobre de Almeida, Olga estudou em Belém, Fortaleza e no Rio de Janeiro.

Olga Savary nasceu em Belém, Pará, 21 de maio de 1933, Filha única de pai russo, Bruno Savary, engenheiro eletricista e mãe brasileira, Célia Nobre de Almeida, paraense de Monte Alegre, de origem pernambucana, descendentes de portugueses e com uma bisavó índia.

Na infância, absorveu fortemente os elementos da cultura da terra onde nasceu, transmitidos por sua família materna. Até os três anos de idade, teve a vida dividida entre Belém e Monte Alegre, no interior do Pará, cidade de seus avós maternos. Em 1936 seu pai, por motivo de trabalho, leva a família para o Nordeste, onde fixa moradia em Fortaleza.

Em 1942 os pais de Olga se separam, e ela vai para o Rio de Janeiro onde passa a morar com um irmão de sua mãe, começando a desenvolver suas habilidades literárias.

Sua mãe, no início, recriminava a vocação da filha, pois queria que ela se dedicasse à música, coisa que Olga detestava. Nesse tempo ela começa a escrever e a guardar seus escritos em um caderninho preto, que sempre era deixado com o bibliotecário da ABI para que sua mãe não o destruísse.

Começou a escrever aos 10 anos em 1943, quando produziu um jornal artesanal, com poemas textos e desenhos. Publicou muitos de seus poemas em jornais e revistas do Rio, Belém e Minas Gerais, assinando alguns como Olenka.

Aos 18 anos, Olga volta a Belém, indo morar com parentes e estudando no Colégio Moderno. Posteriormente decide voltar para o Rio, onde começa a alavancar sua carreira de escritora.

O primeiro livro, Espelho Provisório, foi publicado pela editora José Olympio em 1970, recebendo, em 1971, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, São Paulo.

Compositores de música erudita de vanguarda ( como Aylton Escobar, Guilherme Bauer, Ricardo Tacuchiam, Vânia Dantas Leite e Guerra Peixe) usaram poemas de Espelho Provisório, de Sumidouro, de Altaonda e de Magma, em mais de 40 concertos do Rio e também no exterior, a partir de 1972, sob o patrocínio do Departamento de Cultura do Rio de Janeiro.

Seus poemas também foram utilizados como material de palestras e cursos de Literatura ( Gilberto Mendonça Teles, na PUC-RJ, Angélica Soares e Dalma Nascimento, na UFRJ, Lucila Nogueira, na UFPE, Marlene Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, na USP), Psicanálise (Wilson de Lyra Chebabi) e Astrologia (Martha Pires Ferreira), entre outros.

Olga Savary dirigiu o setor de Literatura da Casa do Estudante do Brasil, no Rio, a convite do Embaixador Paschoal Carlos Magno.

Colabora em quase todos os jornais e revistas do Brasil e do exterior como poeta, ficcionista, crítica, jornalista e tradutora.

Em suas atividades jornalísticas, iniciou a coluna As Dicas (notícias culturais, comentários e sugestões) no jornal O Pasquim, onde se manteve de 1969 a 1982 como colaboradora, entrevistadora e tradutora. Exerce jornalismo literário há mais de 40 anos, tendo recebido em 1987 o Prêmio Assis Chateaubriand da Academia Brasileira de Letras para a Coletânea de Artigos Literários publicados na Imprensa com o livro As Margens e o Centro.
Integra antologias de poesia brasileira contemporânea no Brasil e no exterior.

Fez parte de júris (julgando letra) de vários Festivais de Canção Estudantil, a partir de 1972. Fez parte do júri dos Carnavais de 1975, 1983, 1984, 1986, 1988 e 1990, julgando letra de sambas-enredo das Escolas de Samba do I Grupo, no Rio e em São Paulo. Participou do júri do Festival de Música Popular Brasileira (1980) da TV Globo.Também participou de vários movimentos de poesia como Ex-Poesia 1 (PUC, Rio, 1973), Ex-Poesia 2 (Curitiba, Paraná, 1973), PoemAção (Museu de Arte Moderna, Rio, 1974), sob organização do poeta e professor Affonso Romano de Sant’Anna etc.

Em 1975 foi escolhida Mulher do Ano em Literatura pelo jornal O Globo, Rio de Janeiro.

Poemas seus foram publicados em Buenos Aires (Revista Crisis), em Lisboa (Revista Colóquio/Letras), em jornais e revistas de Londres, em Copenhague (Dinamarca), nos Estados Unidos (Poema Convidado da Universidade de Georgetown, e Universidade de Indiana, a partir de 1973), na Revista Via, em 1977, na revista II Cavalo de Troia (Milão, Itália, 1982), em Zerstreuung des Alphabets (Alemanha), Canadá e Japão.

Seu 2° livro , Sumidouro (Massao Ohno, João Farkas/Editores, SP, 1977), foi escolhido Melhor Livro do Ano pelo Jornal do Brasil (Rio) e ganhou o prêmio Poesia 1977 da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte.

Tradutora de mais de 40 títulos dos principais escritores hispano-americanos, recebeu o Prêmio Odorico Mendes 1980 de Tradução, da Academia Brasileira de Letras, com Conversa na Catedral, romance de Mario Vargas Llosa.
Participou da VI Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, em 1980, no I Seminário de Literatura Brasileira.
Juntamente com Walter Clark, Muniz Sodré e Jose Wilker, fez parte do I Debate Cultural, organizado por Gustavo Barbosa e promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian / Soart e TV Educativa, no Rio, 1981.

Participou do Projeto Escritor 1981, realizando dois depoimentos como escritora na Biblioteca de Santana e na Biblioteca de Pinheiros, promovidos pela Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo, sob a gestão do poeta Mario Chamie.

Altaonda ( Edições Macunaíma / Massao Ohno Editor, 1979), seu 3° livro, recebeu o Prêmio Lupe Cotrim Garaude de Poesia (1981) da União Brasileira de Escritores de São Paulo.

Seus poemas foram apresentados no espetáculo Fala Poesia, durante dois meses, no Teatro Brasileiro de Comédia, mais tarde levados em cinco bibliotecas e no Teatro Ruth Escobar, sob o patrocínio da Secretaria da Cultura de São Paulo, musicados por Déa Bertran, interpretados por atrizes: Isadora de Faria e Núbia de Oliveira.

Mais sete compositores de música popular (Paulo Ciranda, Irinéa Faria, Rosa Passos, Mirabô, Flávio Pantoja, Madan e José Luiz Nogueira) musicaram poemas de Olga Savary.

Participou do I Festival da Mulher nas Artes, organizado por Ruth Escobar e pela Editora Abril em São Paulo, 1982, ano em que Natureza Viva: Uma Seleta dos Melhores Poemas de Olga Savary é editado pelas Edições Pirata, no Recife. No mesmo ano sai Magma ( Massao Ohno-Roswitha Kempf/ Editores), saudado pela imprensa e pela crítica como o primeiro livro todo em temática erótica escrito por mulher no Brasil, Prêmio Olavo Bilac 1983 da Academia Brasileira de Letras.

Visando a um benefício coletivo para escritores e tradutores, num esforço individual através de cartas à Prefeitura do Rio de Janeiro, de 1982 a 1984, conseguiu abolir o imposto de ISS para as duas categorias.
Em 1984 foi eleita Membro Titular do PEN Clube, associação de escritores ligada ao PEN Internacional/UNESCO.

Também em 1984 lança Carne Viva – I Antologia Brasileira de Poesia Erótica, sob sua organização, reunindo 77 dos melhores poetas de todo o Brasil, Ed. Anima, RJ.

Abre a I Semana do Japão, proferindo a palestra: Hai-Kai, a poesia clássica japonesa, no auditório da Associação Comercial do Rio de Janeiro, realizada pelo Consulado Geral do Japão, Câmara do Comércio e Indústria Japonesa, e Instituto Cultural Brasil-Japão.

Representou o Brasil no Poetry International 1985 de Roterdan, Holanda, importante congresso europeu de poesia (convidada, junto com João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar e Lêdo Ivo, em homenagem à poesia de língua portuguesa e na primeira vez em que o Brasil foi convidado), sendo a única mulher entre a delegação portuguesa e brasileira. De volta, apresentou-se no Restaurante Botanic, em duas noites de agosto, lendo 20 poemas dos que apresentou na Holanda em português e a correspondente tradução para o holandês feita pelo prof. August Willemsen, da Universidade de Amsterdam.

Saturnal, poema seu musicado por Paulo Ciranda, é apresentado em vários shows de São Paulo e no projeto Pixinguinha, da Funarte, no Rio, no teatro Glauce Rocha e no circo Voador, pela cantora e atriz paulista Maricene Costa, com um conjunto de músicos e de bailarinos.

Em agosto de 1986, lança Hai-Kais, 100 hai-kais pinçados de seus livros anteriores e parte inédita (Rowitha Kempf Editores), prefácio de Gerardo Mello Mourão e capa de Sun Chia Shin, no Espaço Cultural Pasárgada (Casa de Manuel Bandeira), no Recife. Em seguida, é homenageada, como Poeta do Ano, com a Caminhada Poética, poetas e artistas dizendo seus poemas pelas ruas do centro da cidade do Recife, parando literalmente o trânsito durante 2 horas, a convite da Fundarpe, Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, União Brasileira de Escritores e Sindicato de Jornalistas.

Poema seu foi dito pela atriz Neila Tavares no espetáculo Eu sou uma mulher, no Bar O Viro do Ipiranga e no Centro Cultural Laura Alvim, no Rio de Janeiro, durante meses.

Em novembro/dezembro de 1986 participa do seminário Erotismo, Psicanálise e Cinema, com três psicanalistas da Letra Freudiana – Eduardo Vidal, Elisabeth Tolipan e Paulo Becker-, a artista plástica Vilma Pasqualini, os cineastas Arnaldo Jabor, Nagisa Oshima e Roger Vadim, no III FestRio de Cinema , realizado no Hotel Nacional/RJ.

Ainda em dezembro faz a palestra: Hai-Kai e Cultura Japonesa e é jurada do I Encontro de Hai-Kais, no Centro Cultural São Paulo, a convite da Fundação Japão e do jornal Portal, SP.

Em 1987, sai Linha d’água (Massao Ohno / Hipocampo, Editores, SP/RJ), prefácio de Felipe Fortuna e apresentação de Antonio Houaiss, com capa e ilustrações de Kazuo Wakabayashi.

Cria, com Virgínia Lombardi, o projeto Ver Ouvindo (gravações de livros em cassete para cegos, livros seus e de autores, lançando-os na Biblioteca de Jacarepaguá, com atrizes interpretando poemas: Maria Helena Dias, Martha Overback e Sonia Santos).

Em outubro faz parte do jurí do II Encontro de Hai-Kais, no Centro Cultural São Paulo, julgando e apresentando poemas de poetas japoneses em tradução sua.

Em novembro, recebe em Salvador o Prêmio Nacional de Poesia Artur de Sales 1987 da Academia de Letras da Bahia, por unanimidade do júri, entre centenas de concorrentes de todo o Brasil, com o livro inédito Berço Esplêndido.

Em dezembro, na ABI – Associação Brasileira de Imprensa e no Espaço Cultural Sérgio Porto é apresentada Fotopoesia, exposição de fotos de Ruy Lisboa com poemas de Olga Savary.

Recebe o Prêmio Eugênia Sereno 1988, com livro de contos inéditos, pelo Instituto de Estudos Valeparaibanos, em Guaratinguetá, SP. No mesmo ano, este livro é premiado na Academia Brasileira de Letras.

Convidada pela Bienal Nestlé de Cultura, em julho de 1988, participa com o tema Erotismo na Literatura e leitura de poemas seus.

Em maio de 1989, é homenageada pela Secretaria de Estado da Cultura- Museu de Literatura Casa Mario de Andrade, por 15 dias, por serviços prestados à cultura do País, e 40 anos de ofício (com palestras, vídeos, depoimentos, recitais com o ator Felipe Martins e a atriz Isadora de Faria e duas exposições de desenhos sobre seu trabalho de Amélia Martins Rodrigues e Suely Regina Avelar). Convidada a dar entrevista a Jô Soares, no SBT.
Jurada do III Encontro Portal de Hai-Kais, realizado no Centro Cultural São Paulo, faz palestra sobre poesia japonesa, com leitura de haikaísistas japoneses e brasileiros. Participa do IV e V Encontro Portal de Hai-kais nos anos de 1988,1989 e 1990, onde é homenageada como a primeira mulher a publicar hai-kais entre nós e a grande divulgadora da cultura japonesa no Brasil.

Em 1989, é editado Retratos.

Em 1991, é homenageada pela Fundação Biblioteca Nacional, RJ, gestão de Affonso Romano de Sant’anna, com dramatização de atores da TV Globo (Ary Coslov, Dedina Bernadelli e Mayara Magri) e música (flautista Helder Parente) no Teatro do Texto.

Em 1992 lança a Antologia da Nova Poesia Brasileira, organização sua, considerada pela imprensa e crítica a maior antologia feita no Brasil, com 334 poetas de todo o país, edição da Fundação RioArte / Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro/Editora Hipocampo.

Em 1994 saem dois livros seus de poesia: Rudá e Éden-Hades. Participa da Poesia 1994, 1995 e 1996, série de palestras que dá em São Paulo, a convite da Secretaria Municipal de Cultura, sobre poesia brasileira e a sua própria.
Homenageada em 1995 com o título de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, pelas mãos da escritora-deputada Heloneida Studart, na ALERJ- Assembléia Legislativa do RJ, no Plenário do Palácio Tiradentes, tendo como presidente Sérgio Cabral Filho. Onze atores e atrizes interpretam seus poemas no final da cerimônia, entre os quais Alessandra Hatkopf, Denise e Cairo Trindade, Salgado Maranhão, Sandra Barsotti e Zezé Polessa.

Em 1996, sai Morte de Moema (edição de arte). Participa, a convite da Secretaria Municipal da Cultura de SP, do Congresso Internacional de Literatura do Mercosul.

Mulher do Ano -1996 pela Secretaria Municipal de Cultura e Departamento e Bibliotecas Públicas de São Paulo, gestão de Rodolfo Konder/Cláudio Willer, na Biblioteca Mario de Andrade, SP.

Em 1997 é editado seu 1° livro de contos: O Olhar Dourado do Abismo.

Da década de 80 até 1997, saem vários discos e CDs com poemas de Savary, musicados por Vânia Dantas Leite, Flávio Pantoja, César Guerra-Peixe, Madan, entre outros compositores de música erudita e MPB.

Faz parte do Instituto Brasileiro de Cultura Hispânica. É Membro Titular da Comissão da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI – Associação Brasileira de Imprensa.

Eleita presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Rio de Janeiro/ Casa de Cultura Lima Barreto/ Teatro TESE, primeira mulher na presidência, de 1997 a 2000. Todos esses títulos honoríficos, pois, estas entidades culturais são de utilidade pública e não visam fins lucrativos.

Indicada para o Prêmio Machado de Assis/Conjunto de Obra 1997 pela Academia Brasileira de Letras.

Em 1998, com 15 livros publicados, tem mais 15 no prelo e a sair ( poesia, conto, novela, crítica, ensaio, jornalismo literário), somando agora 23 prêmios nacionais de literatura.

Aníbal Machado, Carlos Drummond de Andrade, Marlos Nobre, Murilo Mendes, Sylvio Meira, Virgínio Santa Rosa, entre outros, são intelectuais dos quais se orgulha ser parente. E por casamento, fazendo parte da família de Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, também ficou parente (e amiga) de Rachel de Queiroz, Pedro Nava e José de Alencar.

Em novembro de 1996, candidata-se pela primeira vez à ABL (Academia Brasileira de Letras), obtendo expressiva votação dos escritores da entidade.

Casada há 50 anos com a literatura, Repertório Selvagem – Obra Reunida (12 livros de poesia), editada em 1998 pela Biblioteca Nacional / Universidade de Mogi das Cruzes/ MultiMais, comemora este longo caso de amor que de ambas as partes deu certo.

Livros:
Espelho Provisório (poemas) 1970,
Sumidouro (poemas) 1977,
Altaonda (poemas) 1979,
Magma (poemas) 1982,
Natureza Viva (poemas) 1982,
Hai-kais (poemas) 1986,
Linha d'água (poemas) 1987,
Berço Esplendido (poemas) 1987,
Retratos (poemas) 1989,
Rudá (poemas) 1994,
Éden Hades (poemas) 1994,
Morte de poema (poemas) 1996,
Anima Animalis (poemas) 1996,
O Olhar Dourado do Abismo contos) 1997, e
Repertório Selvagem (poesia reunida) 1998.

Fontes:
http://varejosortido.blogspot.com/
http://pt.wikipedia.org
http://www.palavrarte.com/