segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Silvia Araujo Motta (A Poetisa e a Poesia)


ENVELHECI SEM NOTAR (POEMA 1582)

Vejo nas folhas que caem
que o inverno vai chegar,
Nas estrelas que se apagam,
meu tempo de descansar.
Relógio?Desnecessário.
Valorizo minha hora,
no segundo extraordinário,
vivo pensando no “agora”.
Meio século de vida
e os sete cumpro a somar...
na música, amor, poesia,
Trago a missão bem cumprida
com metas, planos de um dia...
Nos sonhos e fantasias,
um trabalho útil, honroso
de incontáveis alegrias,
fez-me o mundo prazeroso.
Valores transcendentais
aos minutos cultivados
a buscar cada vez mais
espíritos elevados...
Ficarei “sex”? Pois sim!
Com perfeita lucidez?
SEXagenária? Ah! Sim...
Daqui a pouco é minha vez!
SEXOxigenada nos cabelos...
Mais adolescente, talvez...
A história de cada saudade
dos momentos e pessoas...
Olhos miúdos!!!!!Verdade!
Muito para recordar!
Tantos fatos! Coisas boas!
Na infância e maturidade!
Meus quinze ou vinte anos!
Milagres! Maturidade!
Recebi e dei nos carinhos,
amor, atenção, compreensão!
Trabalhei com inteligência,
para gostar do que fazia!
Filhos amados!...Meus amores!
Até netos... quem diria!
Lutei pra ter paciência!
Enfrentei tantos problemas!
Alguns conseguir vencer
pela Fé que me carrega.
Meu espelho interior
Diz-me até...que já cresci!
Da gravidez... na balança,
faço o parto da alegria...
Agradeço todo dia
a Deus, pelo meu talento,
pelo amor, pela alegria
e pelo conhecimento.
O sol nasce acima das nuvens
e a lua inteira brilha no lago
porque alta vive, a cada dia!
Envelheci e não vi...por isso,
começaria tudo outra vez.
––––––––––––––––––––-
CLAVE DE FÁ E CLAVE DE SOL – PARTITURA DO AMOR
Poema modernista

Chove lágrimas
Clave de FÁ


Família
Fala
Falecimento

Morte na Cruz
Cruzada
Cruzeiro
Vida renascida

SOL
Sinal
Conduz
Luz

Partida
Traz dor,
Eternidade,
Partitura de Amor.

Vida-Chave
Clave de SOL.
––––––––––––––––––
QUEM É O POETA?
Homenagem modernista

Quem é o POETA? Timoneiro
do barco da PAZ a navegar...
Aquele que dá a vida primeiro
ao texto que irá fascinar ao leitor.

Quem é o POETA? Sinaleiro
do Senhor Deus do Universo...
Aquele que toca o Sino primeiro
para inspirar seu novo verso.

Quem é o POETA? Conquistador
que se lembra do dia de São Valentim;
que é capaz de por o amor numa flor...
de despertar sonhos em lençóis de cetim.

Quem é o POETA? Escritor de mensagens
Virtuais que alegram os destinatários;
que presta honrosas homenagens
com pensamentos extraordinários!
–––––––––––––––-

A RUA CURITIBA CHOROU COM A CHUVA
Poema de versos brancos

Fui testemunha dos sofrimentos...
da Rua Curitiba de Belo Horizonte,
logo que os pensamentos
passaram pela verdadeira fonte
de informação de dois Diretores.

A notícia desapontada,
na Secretaria,foi confirmada
pelos funcionários atuais,
sobre as mudanças parciais,
na localização do CCLB.

As nuvens fizeram uma reunião,
convocaram fortes nimbos
e exigiram chuva imediata!
Eu vi a enxurrada que não
permitia nenhuma “estiada.”

Ninguém conseguia atravessar
na rua, vendaval de paixões!
Tempo de sinalizações?
Até a sombrinha revoltada
quis sua barbatana virar.

No colo, uma criança chorava,
enquanto sua mãe comentava:
-Que pena! Aquilo era uma beleza!
Nos Salões lotados, eu dançava
nos Bailes da Colônia Portuguesa!

Namorei e até casei com meu par!
Se pudesse, o meu relógio voltar...
Vou comentar com meu marido!
Fomos felizes naquele tempo vivido!
Hoje, começaria tudo outra vez!

A natureza e a chuva fazem ver
que a enxurrada leva tudo:
cartões, papéis importantes,
retratos raros, no espaço mudo,
o lixo e o pó dos pés indiferentes.

Só não leva as tantas emoções
que chovem em tantos corações!
Triste lembrança encena e encerra,
nas lágrimas caídas da chuva
que a pura realidade descerra.
=============
BALLET DA LUA E DAS NUVENS
Agradecimentos à Darcy

Não precisei reservar o ingresso
para o espetáculo da natureza!
Aproveitei meu regresso à Savassi
e fui lanchar na varanda, à mesa,
com Darcy, pronta para aplaudir
e brindar comigo, com certeza.

A lua cheia brilhante apareceu
fez a apresentação principal do ballet,
no universo infinito que ofereceu
o palco para as nuvens bailarinas...
De repente, a nuvem escura escondeu
o brilho total da lua em surdina...

Refletimos sobre a triste vida vazia
sem a luz da verdadeira amizade;
na velhice que nos chega a cada dia
e que nos traz a eterna saudade;
na infância e na nossa adolescência
tão longe de nossa realidade...
-
Neste show natural...Quanta sabedoria!
Com as nuvens dançantes passageiras
passam nossas tristezas e alegrias...
Se hoje estamos, com saúde e inteiras,
amanhã, quem sabe, em outros dias,
com dores, rumo às luzes sementeiras.
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Sílvia Araújo Motta (1951)


Sílvia de Lourdes Araújo Motta, nasceu em janeiro de 1951 em Belo Horizontes, Minas Gerais.

Cursou Letras: Português/Inglês. Pedagogista em Administração, Inspeção e Supervisão Escolar. Professora de Língua e Literatura Portuguesa/Inglesa, Filosofia, Psicologia e Sociologia.

Curso de Direito/FAMIG/2008.

Acadêmica, Escritora, Poeta-Sonetista-Trovadora, Parceira-Assessora da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais,

Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa, oficial para oito países lusófonos;

Árcade da Arcádia de Minas Gerais,

Cônsul Z-NO dos Poetas del Mundo BH/MG/Brasil, em 128 países.

Membro da International Writers and Artists Association /Ohio/USA.

Membro do Elos Clube filiado ao Elos Internacional da Comunidade Lusíada;

Membro da União Brasileira de Trovadores/BH.

Vice-Presidenta da Academia Mineira de Trovas.

Membro de diversas Academias de Ciências, Letras e Artes: ALB/MG, AVPB,AVBL, AVSPE, ACCLCL, APOLO, e outras.

Autora de três dezenas de livros, com poesia em português, inglês, espanhol e italiano; participações em inúmeras Antologias e Revistas nacionais e internacionais.

Premiações diversas em prosa e poesia.

Comprova quatro décadas de ações coordenadoras voluntárias,

Palestrante e Líder-Grupal convidada, participante de vários movimentos socio-político-religiosos-ligados aos Adolescentes e Adultos, Doentes Terminais, Pastoral do Idoso, Grupos de Terceira Idade, Movimento Internacional Alcoólicos Anônimos/ Al-Anon/ Grupos Familiares/Programa de Doze Passos para Familiares e Amigos de Alcoólicos Adultos e dos Jovens do Alateen; Pastoral da Saúde.

Musicóloga, já coordenou e cantou em diversos Corais Musicais. Membro efetivo do Coral CANTATA Diamantina/2008 com 120 participantes acompanhada pela Orquestra Sinfônica da PMMMG. É soprano no Coral Luís de Camões.

Faz parte do Espaço e Vida do COPMMG.

Em 30 de maio de 2009, homenageada pela Academia de Letras do Brasil ( Instituição de cultura e formação superior de caráter internacional) com a outorga do título "DOUTORA EM FILOSOFIA UNIVERSAL - PH.I. (PHILÓSOFO IMORTAL) outorgada pelo Presidente Ph.D. Prof. Dr. Mário Carabajal, e Diplomação e Medalha do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais pela Governadora InBrasCi em Minas Gerais: Andréia Donadon Leal.
Sites:
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/silviaraujomotta http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=1481 http://clubedalinguaport.blogspot.com/ http://clubedalinguaport.ning.com/

Fontes:
http://www.webartigos.com/
http://recantodasletras.uol.com.br/

Cecy Barbosa Campos (Cristais Poéticos)

ÁLBUM

Desfolhando o velho álbum de retratos,
que jazia abandonado em alguma prateleira,
relembrei pessoas, que estavam esquecidas,
e não reconheci imagens que eram minhas.
O tom amarelado esmaecia
sorrisos jovens que ficaram tristes:
tirava o viço de vidas tão distantes
e que, um dia, foram parte de minha vida.
Entre as velhas amizades retratadas,
revi amigos dos quais eu lembro os nomes
e outros, dos quais, nada mais resta,
porque ficaram perdidos pelo tempo.
Ao contemplar aquelas fotos desbotadas,
vou rejuntando, aos poucos, os pedaços
de uma história que nem sei se já vivi.

(poesia classificada com menção honrosa no Concurso Nacional Amizade em Prosa &Verso)
––––––––––––––––
CENA COTIDIANA

O cidadão de bem foge aterrorizado –
tenta escapar de seus perseguidores
que não sabe quem são.
Sente-se acuado por sombras indistintas
que espalham a morte
sem alvo definido e sem motivo algum.
A mãe, levando o filho à escola,
tem a rotina diária interrompida
e, escondendo-se atrás de uma barraca,
tenta proteger com seu corpo magro
a criança que chora, apavorada.
Por outro lado surgem mais atiradores,
misturam-se bandidos e policiais
não identificáveis como seres humanos
e irreconhecíveis como animais.
O fogo cruzado vai se intensificando
e a bala perdida atinge mais alguém
no dia a dia de terror, na cidade grande.
Esse crime é mais um que não será computado
nas listas estatísticas, de tão banalizado.
A bala perdida que hoje mata
um cidadão de bem,
torna-se apenas
uma repetitiva notícia de jornal.
================
Cecy Barbosa Campos é natural de Juiz de Fora, MG. Graduada em Direito e em Letras – Inglês, pela UFJF, especialista em Teoria da Literatura – UFRJ e Mestre em Letras, Teoria da Literatura – UFJF. Professora aposentada da UFJF, atualmente leciona nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, disciplinas Língua Inglesa, Literatura Norte Americana e Literatura Inglesa. Publicações: artigos em revistas especializadas e anais de Congressos e os livros The iceman cometh: a carnavalização na tragédia e O reverso do mito e outros ensaios.

Fontes:
http://poetasencena.blogspot.com/
– ALBUQUERQUE, Aníbal (org.). Amizade em prosa & verso. Vargina, MG: Edições Alba, 2007.

Cecy Barbosa Campos (O'Neill e a Carnavalização da Tragédia)



Artigo de Ricardo Alfaya para o site Oficina do Pensamento

CECY BARBOSA CAMPOS é a autora do excelente "The iceman cometh: A Carnavalização na Tragédia", originalmente, dissertação de Mestrado em Letras, Teoria da Literatura, apresentada à Universidade Federal de Juiz de Fora, em 1996, e transformada em livro pela Editar, Juiz de Fora-MG, 2000, 84p., com prefácio de William V. Redmond, orientador da tese, e capa de Luiz André Ramalho Gama.

O livro analisa a peça "The iceman cometh", de Eugene O'Neill (1888-1953), a partir do método proposto pelo teórico russo Bakhtin, desenvolvido na segunda década do século XX, o qual identificou, a partir da obra de Dostoievski, a presença de um conjunto de elementos que denotam a presença da carnavalização no romance. Assim, a professora Cecy Barbosa Campos transporta para a tragédia de O'Neill as teorias aplicadas por Bakhtin ao romance.

Para atingir seu objetivo, a autora divide o estudo em quatro partes: primeiro ela nos fala da vida e obra de Eugene O'Neill. Em seguida expõe a teoria de Bakhtin, realçando a importância da contribuição de sua crítica para os campos da lingüística e da literatura. Na terceira parte, resenha a peça "The iceman cometh", ilustrandoa com comentários relativos à tese proposta. Por fim, aprofunda esses comentários, confrontando os universos de Bakhtin e O'Neill.

Não é muito fácil transmitir, em uma resenha, a riqueza e o significado que existem nesse livro. Entretanto, o assunto, além de interessante, esclarece muito sobre a literatura que hoje fazemos. Assim, tentaremos aqui deixar uma idéia a respeito da obra.

Conforme ressalta William Redmond, Eugene O'Neill é para muitos o maior dramaturgo dos Estados Unidos. Cecy Barbosa indica seu papel como fundador do moderno teatro americano, a partir da estréia de "Beyond the Horizon", na Broadway, em fevereiro de 1920. A despeito do forte teor crítico ao sistema norteamericano e da ousadia de seus textos e montagens, suas peças foram em geral bem recebidas e ele obteve reconhecimento. Já em 1920, após "Beyond the Horizon", recebe o prêmio Pulitzer, "passa então a ter suas peças freqüentemente encenadas". Em 1925, obtém medalha de ouro do National Institute of Arts and Letters; em 1926, um título honorário da Yale University. "Strange Interlude", peça encenada em 1926-27 "alcança um sucesso inédito no teatro americano. Proporciona a seu autor o terceiro prêmio Pulitzer e, publicada, torna-se um bestseller. Transformada em filme, traz ótimos resultados financeiros (...)". Coroando, recebe o Nobel de Literatura, em 1936.

Todavia, apesar da brilhante carreira, no âmbito pessoal a vida de O'Neill foi marcada, desde a infância, por inúmeros episódios tão dramáticos quanto bizarros, alguns até mesmo de sentido tragicômico. Os problemas familiares levaram-no, ainda na juventude, a enveredar pelo caminho do álcool e das drogas. Não eram experiências comuns. Ele ia fundo, desafiava limites, desrespeitava etiquetas, alimentava um comportamento anti-social, agia de forma agressiva e até mesmo despudorada. Adotava comportamentos bizarros: "Ao beber, se excedia a tal ponto que, em absoluto estado de letargia, chegava a passar noites em cima de túmulos de personagens históricos (...)". Tais extravagâncias terminaram por fazê-lo ser expulso da Princenton University. Gostava de ler, lia muito. Apreciava também tabernas, bares sórdidos, casas de prostituição, locais onde se reunia a gente do submundo. Lançava-se em aventuras como suas viagens marítimas a Honduras, à procura de ouro. Também, à Argentina e à Inglaterra. Aos 20 anos casa-se com uma moça "de família", vive um período romântico, mas não suporta esse tipo de vida, que termina por abandonar. Aos 24 anos, com a saúde completamente comprometida, é internado num sanatório para tuberculosos. A partir daí, começa a reação de O'Neill, decidindo-se pela vida de dramaturgo. Passará a sofrer até o fim com a doença de Parkinson, e sem conseguir livrar-se inteiramente dos problemas decorrentes do alcoolismo.

Por outro lado, de sua vida conturbada O'Neill extrairá o material humano necessário à construção de seus personagens, nos quais uma atenção especial é voltada para aqueles que o pragmatismo simplista da sociedade norte-americana costuma rotular de "perdedores". Uma observação significativa de Cecy Barbosa a respeito do dramaturgo encontra-se na pg. 19, na abertura de sua narrativa da biografia de O'Neill, na qual comenta que ele levara "uma vida que pode ser considerada o protótipo da existência carnavalizada". O sentido da afirmativa torna-se mais compreensível quando, em outra parte, a autora enfatiza que a vida em si tende a uma estrutura carnavalizada.

De fato, se analisarmos a vida em si, notaremos que ela tende à polifonia, à exuberância, à multiplicidade, à interação entre o sagrado e o profano, o trágico e o cômico, o belo e o grotesco. Essa pulsão espontânea, a sociedade e o Estado procuram redirecionar, em nome da "ordem". Ao discurso polifônico, essencialmente democrático, posto que nele ocorre tanto um nivelamento das vozes quanto uma horizontalidade de relações, o Estado interpõe a hierarquização vertical em diversos níveis, inclusive, no da divisão da sociedade em classes. Assim, o carnaval, desde suas mais remotas origens, funciona como ritual liberativo da pulsão reprimida. Por um limitado período de tempo, permite-se um certo grau de desordem. Concluída a catarse, tudo volta à norma, tudo retorna ao "normal".

Contudo, para aquele que não se enquadra, não se adapta, o que abrange não apenas os totalmente excluídos das benesses do sistema, mas também os desiludidos, os naufragados, e até mesmo os que procuram viver intensamente, desafiando limites e convenções, como no caso de O'Neill, para esses não existe uma volta ao "normal". De certo modo, vivem fora das normas, num permanente estado de embriaguez carnavalesca, sempre oscilando entre o trágico e o cômico. Dessa natureza são as peças de O'Neill, em particular a mais detalhadamente analisada por Cecy Barbosa: "The iceman cometh".

No que se refere à estrutura narrativa, a polifonia é uma das características mais marcantes do romance moderno, conforme detectado por Mikhail Mikhailovitch Bakhtin, na década de 20, a partir da obra de Dostoievski. Nele, em lugar do discurso dominante e unidirecional de um único narrador, a palavra é entregue aos vários personagens, que vão conduzindo a obra como se fossem seus autores. Os personagens expõem seus pontos de vista, não raro contraditórios, exatamente no mesmo grau de importância. Há, portanto, a mencionada horizontalidade das relações, de forma semelhante ao que ocorre no reinado momesco. Cecy Barbosa demonstra o quanto tal ingrediente se apresenta na obra de O'Neill, em particular, na peça em destaque.

Além da pluralidade de vozes, outros aspectos podem ser identificados: quebra de protocolo, extravagância, situações bizarras, vestuário e cenário exóticos, interposição de música, cantos e danças, tiradas cômicas, variedade de estilos, reunião de pessoas de diferentes origens sociais e etnias, contraposição entre a fala erudita e a popular. Por fim, a presença de um outro fator essencial da estrutura carnavalesca: a paródia, em particular aquela que une o sagrado ao profano.

Seria interessante indagar a razão da presença da carnavalização no romance e no teatro modernos. Cremos que, em parte, o fenômeno corresponde à necessidade de uma redação crítica que em geral preside a obra dos melhores autores. Uma necessidade de expor "o outro lado", de contrapor-se à política autoritária do discurso oficial que, desde há muito, se quer globalizante e "unidimensional", para citar uma expressão de Herbert Marcuse. Sem dúvida, o fenômeno reflete também a maior flexibilização nas idéias, o permitir da expressão do Outro, a vontade e a predisposição para o diálogo, apesar de tudo, muito maior em nosso tempo. Conforme Cecy observa sobre Bakhtin, cujas teorias levaram-no "a uma concepção dialógica do mundo que lhe possibilitou aceitar a dualidade do ser humano, no qual não existem nem bem nem mal absolutos" (Cecy, p. 73). Por outro lado, sinaliza também no sentido do desmoronamento dos valores tradicionais, da crescente incerteza quanto ao futuro, da relativização do conceito de verdade. Afinal, nos tempos modernos, quem tem a última palavra?

Fonte:

Cecy Barbosa Campos (A Natureza na poesia de Emily Dickinson)


Pouco conhecida em seus 56 anos de vida, passados quase totalmente em Amherst, Massachusetts, Emily Dickinson só se revelou ao mundo como poeta após a sua morte.

Foram encontrados na escrivaninha de seu quarto, de onde raramente saía, cerca de 1775 poemas amarrados com barbante em pacotinhos. Escritos à mão, muitos deles parecendo rascunho à espera de forma posterior, e todos eles sem título, o que faz com que, usualmente, sejam citados pelo primeiro verso ou por números.

Em 1890, postumamente, é publicado o primeiro volume de uma série de três, com seus poemas e em 1894 são publicadas suas cartas. Desde então, Emily Dickinson torna-se uma das maiores figuras da literatura norte-americana.

Sua vida misteriosa tem desafiado os biógrafos que se perdem na falta de provas para inúmeras suposições. Sabe-se que, após infância e adolescência normais, participante das atividades próprias à idade, retraiu-se por volta de 1860, afastando-se por completo das atividades sociais.

Vestida de branco e sendo vista apenas no jardim, cuidando das flores, já a esta época desencadeava-se a efervescência literária que a levaria a obra tão extensa.

Entre os muitos temas abordados em sua poesia, estão a Vida, a Morte, o Amor, a Imortalidade e a Natureza.

A Natureza foi fonte de inspiração quase constante na poesia de Emily Dickinson e, mesmo quando não aparece tratada em profundidade sendo o tema principal, é mencionada brevemente, como complemento do cenário ou como imagem representativa da morte, nas muitas alusões que faz ao inverno, à neve e ao frio, ou simbolizando mudanças de caráter através do ciclo das estações do ano.

Embora existam afinidades da poesia Dickinsoniana referente à Natureza com conceitos emitidos por autores transcendentalistas, principalmente Emerson e Thoreau, Emily Dickinson não pode ser enquadrada em nenhum movimento ou escola, pelas características absolutamente pessoais de sua obra.

Se, às vezes, era irreverente com a religião e até mesmo com Deus, a quem chegou a chamar de “Ladrão – Banqueiro – Pai”, em um de seus poemas, mantinha em relação à Natureza uma atitude sempre reverente, como se ela representasse a manifestação divina mais intensamente que igrejas e credos.

O sol, a neve e até os relâmpagos, a fascinavam. Em um de seus primeiros poemas, “An Altered look about the Hills”, catalogava as belezas da primavera e o esplendor da paisagem novamente iluminada. As “criaturas da natureza” também eram alvo de sua atenção, não importando quão insignificantes parecessem ser. Assim, a abelha, a borboleta, o passarinho, o rato, são por ela lembrados. A serpente aparece de maneira dramatizada em “A Narrow Fellow in the Grass” e apesar da graça e da observação aguçada com que é feita a descrição, infere-se que ali existe uma ameaça psicológica.

A proximidade do outono e a beleza natural do fim de verão impressionam Emily Dickinson, que registra com sensibilidade os sons e visões da paisagem, passando depois de observadora a participante da cena na qual se insere e descreve em “The Morns are meeker than they were”. Em “These are the days when Birds come back” o mesmo tema é abordado – o período de transição entre o verão e o outono, quando dias quentes e ensolarados retornam interrompendo o outono e dando lugar ao chamado “Indian Summer”, o verão indiano, fenômeno climático tipicamente americano. Os pássaros se enganam com estes dias tardios de verão que surgem no meio do outono e também se engana a poeta induzida ao erro pela mistificação da natureza que a envolve em “azul e ouro”.

Este poema sugere, alegoricamente, a caminhada inexorável do tempo, com o verão representando a juventude, o outono a meia idade que vai levar ao inverno representativo da morte. Apesar da conotação negativa que nos é trazida pelas idéias de fraudes e mistificações há o aspecto positivo que nos é transmitido pelo ciclo das estações, trazendo o renascimento após a morte, ou seja, o fato do inverno ser seguido pela primavera.

As duas estrofes finais do poema assemelham-se a uma prece em que os termos principais são “sacramento”, “última Comunhão”, “emblemas sagrados”, “pão abençoado” e “vinho imortal”. Parece residir aí uma súplica para inclusão num ciclo contínuo de vida e morte.

Emily Dickinson faz uso freqüente de metáforas em suas poesias da natureza. A madrugada e o anoitecer também são descritos metaforicamente em “I’ll tell you how the Sun Rose”, com vívido contraste entre a exuberância do dia que nasce e a atmosfera intimista que chega com o pôr do sol. O poema “I taste a Liquor Never Brewed” descreve a exaltação da poeta ante o azul do céu, o brilho do verão e a suavidade do orvalho, que agem como bebida embriagadora.

Através destes poucos exemplos verificamos que a Natureza, em seus diversos aspectos, sempre alertou os sentidos e a sensibilidade de Emily Dickinson. Por isso ela foi capaz de tornar permanente a fugacidade de um momento como o nascer do sol e de fixar emoções inspiradas pelo canto dos pássaros ou pelo terror advindo de relâmpagos e de tempestades.

Para melhor ilustrar o que foi dito, apresentamos aqui dois dos poemas citados com as traduções feitas pela autora deste trabalho.
130
These are the days when Birds come back–
A very few – a Bird or two –
To take a backward look.

These are the days when skies resume
The old – old sophistries of June –
A blue and gold mistake

Oh Fraud that cannot cheat the Bee –
Almost thy plausibility
Induces my belief.

Till ranks of seeds their witness bear –
And softly thro’ the altered air
Hurries a timid leaf.

Oh Sacrament of summer days,
Oh Last Communion in the Hoze –
Permit a child to join

Thy sacred emblems to partake
Thy consecrated bread to take
And thine immortal wine!

130
Estes sãos os dias em que os pássaros [voltam –
Muito poucos – apenas um ou dois –
Para dar uma olhada para trás.

Estes são os dias em que os céus [retornam
Aos velhos – velhos sofismas de Junho–
Em mistificação azul e ouro

Ó fraude que não consegue enganar a [Abelha –
A sua plausibilidade
Quase me faz acreditar

Até que as sementes aparecem
Sopradas, suavemente, pelo vento
E escapa uma folha tímida

Oh, Sacramento dos dias de verão,
Oh, Última Comunhão na névoa
Permite que mais um filho se junte

Para compartilhar de emblemas [sagrados
Comendo de seu pão abençoado
E bebendo de seu vinho imortal
–––––––––
214
I taste a liquor never brewed –
From Tankards scooped in Pearl –
Not all the Vats upon the Rhine
Yield such san Alcohol?

Inebriate of Air – am I –
And Debauchee of Dew –
Reeling – thro endless summer days –
From inns of Molten Blue –

When “Landlords” turn the drunken Bee
Out of the Foxglove’s door –
When Butterflies – renounce their
“drams” –
I shall but drink the more!

Till Seraphs swing their snowy Hats
And Saints – to windows run –
To see the little Tippler
Learning against the – Sun -

214
Provo uma bebida nunca fermentada
De Canecas esculpidas em Pérolas –
Nenhum dos Barris do Reno
Produz tal Bebida?

Inebriada de Ar – estou –
E Bêbada de Orvalho –
Cambaleando – pelos intermináveis dias de
verão –
De tabernas de Azul Metálico –

Quando os “Proprietários expulsam a [Abelha
bêbada
Para fora das portas do Foxglove
Quando as Borboletas – renunciam a seus
“goles” –
Eu bebo ainda mais!

Até que os Serafins acenem com seus
chapéus brancos
E os Santos – corram às janelas –
Para ver a Bebadazinha
Apoiando-se ao – Sol –
––––––––––––-
Notas:
1. Tradução dos títulos dos poemas:
An Altered look about the Hills – Uma visão diferente das montanhas
A Narrow Fellow in the Grass – Um companheiro esguio na grama
The Morns are meeker than they were – As manhãs são mais tranqüilas agora
These are the days when the Birds come Back – Estes são os dias em que os pássaros voltam
I taste a liquor never brewed – Provo uma bebida nunca fermentada
I’ll tell you how the Sun Rose – Eu lhe direi como o Sol nasce

2. Uma das “excentricidades” de Emily Dickinson é o uso não convencional de letras maiúsculas

Fonte:
Jornal de Poesia

domingo, 23 de agosto de 2009

Branca Tirollo (Espontaneidade)


Espontaneidade
Não escrevo as regras
Deslizo pensamentos
Escorrego palavras
Distorço sentimentos

Embrulho choros
Carrego fardos
Engulo os nós

Espeto agulhas
Piso espinhos
Solto voz
----

Fontes:
Clube Brasileiro da Língua Portuguesa

Branca Tirollo (Desafios e Contradições)


Maurílio era um garoto travesso, que de tão esperto e curioso veio adentrar uma oficina de teatro onde todos estavam em plena concentração.

Naquele momento todos os jovens acordaram para a vida real. Uns até reclamaram, justificando aquele ato, ser de provocação.

Eu estava atenta a todos os acontecimentos e tentei chamar a atenção de todos pedindo pra que aproveitasse aquele momento para fazer uma análise dos seus conceitos.

Até que eles me respeitavam. Não era difícil trabalhar o potencial daqueles meninos.
Uns levavam a sério as oficinas e outros, só apareciam quando faltava o jantar em suas casas.

Eles eram pobres, talvez a oficina só lhes servisse para tomar um lanche e matar a curiosidade de cada um.

Maurílio, o garoto travesso, observou que seus amigos se calaram e num gesto grandioso, fez silêncio e chegou mais perto de onde eu estava.

Com os olhos brilhando perguntou-me:

-Professora. O que a senhora está ensinando? Nunca ouvi falar em concentração e conceitos.

Naquele momento surgia uma estrela sem brilho, escondida por trás das mentes poluídas.

Sem muitas perguntas, convidei-o para participar da oficina. Prometi que lhe explicaria no decorrer do tempo.

E assim, ele passou a freqüentar a oficina, toda primeira quinta feira do mês.

Todos faltavam, mas Maurílio estava sempre presente. Chegava bem mais cedo do que os outros. Aos poucos, ele foi aprendendo, mudando seu comportamento e quando menos esperávamos, ali começa a brilhar aquela pequenina estrela.
Nunca mais ele perguntou o significado da palavra concentração e conceitos.

Tornou-se o melhor da turma. Era tão disciplinado, que nem mesmo o barulho dos motores que passavam na rua, podiam chamar a sua atenção.
Um ano tinha se passado. Uma peça estava sendo lapidada. Os garotos estavam a esconder o sorriso nas orelhas. Pela primeira vez em suas vidas, iam se apresentar num palco, onde haveria uma gigantesca platéia.

Eles comentavam orgulhosos:

-Vamos sair no jornal! Somos artistas, iguais os atores da TV.

Notava-se que o sonho da maioria era o de um dia serem famosos.

Apenas Marquito não pensava assim.

A arte estava em suas veias e sua capacidade de pensar era de extrema grandeza.

Contudo, ele também estava feliz. Ainda me lembro que naquele dia, ele fez uma
observação inteligente:

- Professora. Se os artistas da TV ficam ricos, por que nós não vamos nem mesmo receber uns trocados? A senhora também não ganha nada por seus trabalhos.

- Comigo está tudo bem, eu não venho aqui para ganhar dinheiro. Frequento as oficinas por que gosto. A senhora não tem obrigação de ensinar a gente de graça.

As palavras de Maurílio tocaram a minha alma profundamente. Eu notava naquele garoto, uma das poucas virtudes que se vê entre os adolescentes.

É incrível de como a arte é vista de uma forma pouco evolutiva, na mente de muitos.

Maurílio estava provando para si próprio, a capacidade de chegar ao topo e tornar-se uma verdadeira estrela, reconhecido por seu talento e aplaudido por méritos.

Faltavam apenas três dias para a realização do evento. Estava anoitecendo e eu tinha que voltar a casa onde eu morava. Ainda faltavam algumas coisas a serem organizadas.

Quando abri a porta, ouvi o telefone tocar. Algo estranho fez meu corpo arrepiar.

Naquele momento, pensei ser alguma notícia sobre falecimento, por causa dos arrepios que eu estava sentindo.

Ninguém havia morrido. Era alguém avisando sobre o cancelamento do evento. Um grupo famoso na região acabava de chegar à cidade. A vez dos mendigos estava por um fio.

Da porta da minha casa eu ainda observava os meninos conversando sobre o grande dia.
Levaria a notícia até eles? Eu não tinha coragem. Não naquele momento.

Analisando um pouco mais sobre como eu poderia dar a notícia sem que eles se magoassem, pensei e chamei-os para lanchar. Nem mesmo o pão, eu tinha em minha casa. Maurílio, com toda sua bondade se ofereceu para ir até a padaria.

Levei os meninos para o meu humilde escritório e liguei o computador.
Abri umas imagens, fotos de quando eu era mais jovem, algumas até um tanto extravagantes.

Os meninos foram se distraindo e me pediram para abrir os jogos.

Enquanto eles se divertiam no computador, fui preparar o lanche.

Maurílio não quis jogar. Preferiu me ajudar a cortar os pães.

Que jovenzinho esperto! Não demorou em perguntar:

- Professora. Se a senhora tinha que preparar os figurinos para nós, por que nos chamou aqui? Isso vai atrapalhar. Eu acho que nesse mato tem coelho.

Parecia minha nona falando.

Foi naquele momento que eu comecei explicando:

- Maurílio. Às vezes temos que enfrentar a fera silenciosamente. Em muitos casos, o animal recua, sabia? A fera poderá nos atrasar, mas nem sempre impedirá a nossa passagem. Se tentarmos assustá-la, talvez não haja chance de sobrevivência.

Assim é a humanidade. No mundo da arte, às vezes encontramos pessoas que se acham feras e tentam nos amedrontar. Se revidarmos, podemos destruir um futuro glorioso.

Se ficarmos calados e pensarmos positivamente, a fera recua e nos deixa passar.

Se hoje não podemos realizar os nossos sonhos, que tenhamos outros e outros.

A força do pensamento faz o sonho tornar realidade. Não vamos mais apresentar a nossa peça. Há um grupo importante na cidade que se apresentará em nosso lugar.

Maurílio, com os olhos brilhantes respondeu:

- Nossa professora! Somos importantes. Um grupo profissional vai se apresentar em nosso lugar? Vamos assisti-lo, não vamos?

Grande garoto! Belo desempenho, o pódio era todo dele naquele momento.

Sua grandeza de espírito por certo invejaria a qualquer um.

Senti-me aliviada mediante a um gesto glorioso, mas ainda faltavam os outros. Tínhamos que contar. Eles estavam entretidos com os jogos, quando chegamos servindo os lanches.

Era um bom momento para começar a contar. Maurílio já havia saboreado um bom lanche durante o preparo. Olhou para os amigos e falou:

- Quem comer primeiro, ganha o jogo. Quem perder joga depois. Quem ganhar não joga mais. Quem ri por último ri melhor.

Ele estava preparando os amigos para contar a tragédia. E assim, começou:

- Gente, eu nem sabia o que era concentração e conceito. Estou aqui hoje para falar em nome da professora. Eu aprendi a rever os meus conceitos e espero que cada de vocês também tenham aprendido. Melhor do que se apresentar num palco e ser fotografado por jornalista é estar aqui com vocês. Vocês é a minha família. Se eu perceber que já não posso mais contar com vocês, meu palco estará vazio e o público repleto de fantasmas. Acabamos de receber a notícia de que não vamos mais se apresentar. Porém, surgirão outras oportunidades e quando esta luz brilhar estará mais fortes, bem mais preparados.

As lágrimas rolavam sobre meu rosto. Era uma emoção tão forte, que nem mesmo eu pude notar a fúria daqueles meninos. Foram saindo um a um, e nem mesmo o lanche, alguns puderam terminar de saborear. Eles entenderam que a fera deveria ser enfrentada. Apanharam armas e amarrotaram suas consciências com facas afiadas.

Maurílio, entristecido com a revolta dos amigos, revoltou-se também. Saiu desesperado
tentando acalmar a turma.

No dia seguinte, um zum zum zum correu pelo bairro e se espalhou para toda a cidade.

Fui proibida de ocupar o espaço público onde eu ensaiava com os meninos.

Dois meses tinham se passado. Resolvi me mudar para outra cidade e tentei esquecer aquele triste episódio.

Por dois anos, não tive notícias de Maurílio, nem dos outros meninos.

Um belo dia, as obrigações me chamaram. Voltei a morar na mesma cidade, em outro bairro.

Um ano depois do meu retorno, resolvo procurar pelos garotos, que com certeza já estavam crescidos. Foi ali que eu comecei a morrer. Alguns estavam vivendo nas ruas, outros com a família sem reconhecer a família, e Maurílio estava totalmente irreconhecível. As drogas tinham tomado conta do seu corpo. Tinha se tornado uma estrela fosca, sem brilho algum.

Hoje, sinto não poder abraçar aqueles meninos. Por certo, muitos fugirão dos meus abraços e outros nem mais reconheceriam a professora.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não permite que eu tenha contato e ajude os meninos de rua. Para ajudar crianças e adolescentes é preciso de permissão. A secretaria de cultura continua a mesma. O palco fica mais vazio que antes e os fantasmas ocuparam o lugar do público.

Eu estou aqui, tentando. Talvez mais forte agora para enfrentar a fera que um dia eu resolvi me curvar diante do seu poder. Todavia, deixarei os aplausos para minha própria consciência.

Aquela turminha de garotos cresceu. Podemos observar a grande massa de garotos marginalizados, cheirando cola e usando crack para matar a fome e acalmar o desespero.

Talvez utilizem drogas para atravessar a trilha onde a fera está sempre presente.
Se forem atacados e morrerem, não sentirão dor. Se puderem atacá-la, farão sem temor algum. Hoje, a grande massa de garotos que é o terror da sociedade, é o fruto da inconsciência da própria sociedade. Sementes ruins que vem sendo semeadas há muito tempo.

Eu continuo lutando e perseguindo os meus sonhos. Como citou meu amigo escritor e jornalista Donato Ramos: Os sonâmbulos estão sempre atacando.

Isso é meu! Isto me pertence!

Grande Donato Ramos, que enxerga com um olho só, mas um verdadeiro raio-x.

Grande Maurílio! Mesmo vivendo os seus fantasmas, jamais deixará de ser uma estrela. Não nos meus conceitos.

Será que alguém poderia resgatar o Maurílio e me trazer de volta a minha estrela?
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Branca Tirollo ocupa a cadeira vitalicia n. 1 da Academia de Letras do Brasil/Piracicaba/SP.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Blog em Livros



Para facilitar a leitura das postagens do blog, pois muitos tem dificuldades com a conexão da internet, e mesmo, para que possam ser impressos, a partir de setembro serão realizados livros mensais com as postagens do mês correspondente, tal qual colocado no blog, que serão disponibilizados e enviados por e-mail. Caso tenha interesse em receber estes livros, envie seu e-mail para pavilhaliterario@gmail.com solicitando-o.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Trova L

Dario Vellozo (Poesias Avulsas)

Estação de Diligência de Curitiba (do pintor
paranaense Hugo Calgan) - 1881
CRUZ E SOUZA

a Leôncio Correia

Passa o Azul, cantando, uma trirreme de ouro...
Velas pandas... No Azul... Que levita inspirado
Reza o ebúrneo Missal, de um requinte ignorado,
Entre astros monacais e iatagãs de mouro?!...

Rutilam brocatéis de púrpua e de prata...
Fulgem Broquéis, à popa... A trirreme estremece...
Ísis! — quem te acompanha a estranha serenata
E para o Além da Morte entre os eus braços desce?!...

Morte é a eternidade;é um poente de Outono...
Mago! — tu vais dormir o glorioso sono
Entre Borquéis de ônix, e iagatãs de mouro...

Vais dormir!... Vais sonhar!... (Nobre e celeste oblata!)
Segue no Azul, cantando, uma trirreme de ouro...
Rutila brocatéis de púrpura e de prata.

ALÉM

Alfim! Vais repousar, corpo meu tão franzino,
Escudo, roto já, pelos gládios da Sorte;
A decomposição completa o teu destino,
As atrações do Além levam-me além da morte.

Para o Azul, para o Azul!... Vou perlustrar espaços,
Alma, - de sol em sol, - filtro que o corpo encerra...
Melhor fora, talvez, a noite de teus braços,
Meu amor; bem melhor! nos presídios da Terra.

Exílios! De tua alma a minha alma se ausenta,
Soluças! Nosso adeus é agonia lenta,
A Quimera a morrer nos braços de um titã...

Ficas em teu solar, sigo para o Mistério...
Quando seremos - LÁ! - no infinito sidéreo,
Almas nupciais na radiosa manhâ?

FLOR DE CACTO

Vens do Azul, da Quimera, alma de olhos sidéreos,
Que a minha alma de asceta aos paramos eleva
E à minha viuvez de mágoas e mistérios
Abre as aras do Além para o ofício da treva.

E$ eu bendigo, e sigo o teu corpo de Sombra,
Peito de névoa e luz; névoa das louras tranças,
Luz do olhar, desse olhar, deliciosa alfombra,
Calvário e serial de minhas esperanças.

Ilusões são punhais. Cada ilusão que aflora
A penumbra de um sonho, alma de olhos sidéreos,
Leva o espectro da cruz às flâmulas da Aurora
Cruz do Além, cruz feral, de mágoas e mistérios.

A carícia cruel de teu seio fremente
Abre as asas do Além pra o ofício da Treva,
E eu te digo. E a minha alma, ajoelhada, sente
Que a tua alma de morta ao passado nos leva...

SOLAU

A Nestor de Castro

Eu sou o pajem de Dona Morte,
Loura de olhos monacais;
Eu rezo salmos a Dona Morte,
Sou o coral das Catedrais;
Nos meus idílios flavesce a morte,
A morte, — vinho das bacanais.

Volvei os olhos de esperança
A um cavaleiro Rosa-Cruz;
Os vossos olhos de esperança
São liras de ouro, alvas de luz;
São pulvinários de esperança,
Valquíria astral da Rosa-Cruz.

Nos cinerários de meus sonhos
Arderam Silfos e Quimeras;
Em que sepulcro andam meus sonhos,
Ó Peregrina de outras eras?!...
Noiva, — sepulcro de meu sonhos,
Crisoberil das primaveras!

Eu sou o pajem de Dona Morte,
Entre castelos e solares;
Seguindo os passos de Dona Morte,
Subi a torres de sete andares,
Os belvederes de Dona Morte
Andam suspensos de meus olhares.

Andam suspensos de minha boca
Os nove arcanos da Alquimia;
Nos setiais de minha boca
Rezaram monjas noite e dia;
Jamais oscules a minha boca,
Estrela d´alva da Nostalgia!...

Deixa que mortos enterrem mortos,
Loura, de olhos monacais,
A Morte embala meus sonhos mortos
Nas absides das Catedrais.
A Morte é a noiva dos sonhos mortos,
A Morte é círio das bacanais.

Deixa que mortos enterrem mortos,
Loura, de olhos monacais!
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Fonte:
– Poesias extraídas do site do escritor
Antonio Miranda