sábado, 5 de setembro de 2009

Tasso da Silveira (Poetas do Paraná)



EFEITO DE LUZ

Sob o silêncio que flutua,
no crepúsculo
a angra é um espelho de cristal.
De súbito, porém, rompendo a superfície polida,
como um brusco
reflexo,
o peixe prateado e liso
pula no ar
em esplêndido, caracoleia no crepúsculo
e retomba no seio da água adormecida,
que, sonhando, o supõe numa chispa de luar...

(As Imagens Acesas, 1928)

Comentário: “Uma visão impressionista da realidade predomina no poema, onde o autor procura captar imagens de luz e cor. A velocidade rítmico-expressional dos versos se ajusta bem à temática, em estrofes livres e rimos variados, apesar do alexandrino que aparece no final do poema.” Leodegário A. De Azevedo Filho
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TORRE

Os ventos altos
vindos das distâncias perdidas
bateram a torre do meu corpo.
Bateram a torre esguia e longa
e puíram-lhe os ornamentos raros,
desfiguraram-lhe a feição de beleza,
como o mar milenário
desastou as arestas vivas dos rochedos
imemoriais.
Não apagaram, porém, a lâmpada
solitária e serena
que ardia no silêncio...
e os meus olhos, rosáceas claras, abertas
para a paisagem
do teu ser,
ficaram coando sempre o clarão suave e leve,
ficaram adolescentes
para sempre...

(Alegria do Mundo, 1940)

Comentário: “O tema da torre é freqüente na poesia de Tasso da Silveira, simbolizando um movimento em direção ao infinito. (...) Como se percebe, mesmo nos poemas em que o amor carnal se transforma em tema básico, o influxo espiritualista é sempre a seiva dos versos. Como no resto de sua poesia, o pensador não domina o poeta, apesar das raízes filosóficas e religiosas de sua motivação estética.” Leodegário A. De Azevedo Filho
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SEM TÍTULO

Do fundo do crepúsculo,
O vento tombou como uma ave ferida
Sobre os tufos e as palmas verdes
do dormente jardim.

Bateu, raivoso, as possantes asas,
rodopiou exasperado
entre as frondes em pânico.
E miraculosamente recompondo
o perdido equilíbrio,
em brusco, violento arranco
ergueu vôo outra vez para o espaço sem fim...

(Contemplação do Eterno, 1952)

Comentário: “Na utilização estética do sistema lingüístico, Tasso da Silveira sabe tirar efeito artístico adequado à temática de seus poemas. São múltiplos os recurso de estilística fônica, mórfica, sintática e semântica aí existentes. O efeito de essência profunda, espécie de temática central em sua poesia, logo transparece no primeiro verso, quando o vento vem do fundo do crepúsculo.(...) Toda a idéia dinâmica de uma movimentação brusca e violenta nos é sugerida pela própria linguagem.” Leodegário A. De Azevedo Filho
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SEM TÍTULO

O fogo é pura adoração.

Quando mãos insidiosas
o ateiam
na seara florescente
ou na choupana humilde
ou no palácio fastigioso
ou no flanco da montanha,
ele ignora o gesto de pecado
de que nasceu.

E se ergue límpido e inocene
para Deus.


(Contemplação do Eterno, 1952)

Comentário: “O tema da purificação pelo fogo aparece algumas vezes na poesia de Tasso da Silveira. Do mesmo modo que o tema da torre, subindo para o céu, exprime um anseio de espiritualidade, o tema do fogo também revela a busca de Deus. O fogo é sinônimo de adoração e se ergue, límpido e inocente, para o infinito.” Leodegário A. De Azevedo Filho
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CANÇÃO

Quando a alta onda de poesia
veio do arcano profundo,
no pobre e efêmero mundo
o eterno pôs-se a pulsar.
Vidas se transfiguraram,
permutaram-lhe destinos.
O azul se fez mais etéreo,
Estradas mais se alongaram,
silêncio cantou na aldeia
sino ficou a escutar,
moeu trigo a lua cheia,
lampião de rua deu luar,
a água mansa da lagoa
ergueu-se em repuxo límpido
e se esqueceu de tombar,
alvas estrelas em bando
desceram lentas pousando
sobre a terra e sobre o mar.

(Regresso à Origem, 1960)

Comentário: “Em versos de redondilha maior, os mais espontâneos de nossa língua, nesta canção o poeta se transforma em receptor de poesia eterna. Logo nos primeiros versos, o efeito de essência profunda se exprime através da alta onda de poesia que vem do arcano profundo, pulsando de vida espiritual.” .” Leodegário A. De Azevedo Filho
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OS CAVALOS DO TEMPO

Os cavalos do tempo são de vento.
Têm músculos de vento,
nervos de vento, patas de vento, crinas de vento.

Perenemente em surda galopada,
passam brancos e puros
por estradas de sonho e esquecimento.

Os cavalos do tempo vão correndo.
Vêm correndo de origens insondáveis,
e a um abismo absoluto vão rumando.

Passam puros e brancos, livres, límpidos,
no indescontínuo imemorial esforço.
Ah! são o eterno atravessando o efêmero:
levam sombras divinas sobre o dorso...


(Regresso à Origem, 1960)

Comentário: “A problemática do tempo se reflete na poesia de Tasso da Silveira como resultante de uma ação divina. Assim, o tempo é uma espécie de fluir contínuo do seio da eternidade. Poesia do eterno no efêmero, os cavalos do tempo levam sombras divinas sobre o dorso, em sua perene e surda galopada.” Leodegário A. De Azevedo Filho

Poemas e textos extraídos da obra POETAS DO MODERNISMO, vol. 4. Edição comemorativa dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972.
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FESTA - Manifesto

Nós temos uma visão clara desta hora.
Sabemos que é de tumulto e incerteza.
E de confusão de valores.
E de vitória do arrivismo.
E de graves ameaças para o homem.
Mas sabemos, também, que não é esta a primeira hora de
agonia e inquietude que a humanidade vive.
A humanidade dança a sua dança eterna num velho
ritmo em dois tempos.
Quando todas as forças interiores se equilibram, os
gestos são luminosamente serenos.
Mas o que nesses gestos parecia um esplendor supremo
de beleza ou de verdade não era senão um momento
efêmero da Escalada.
Então exsurgem das profundezas do ser ímpetos bruscos
e imprevistos, que trazem a insatisfação,
a angústia, a febre, e quebram os compassos
harmoniosos, e fazem pensar, aos que se esqueceram de
Deus, que tudo está perdido,
- mas que são, em verdade, ondas desconhecidas de
energia para a criação de um equilíbrio novo e de outra
mais alta eternidade...
Nós temos a compreensão nítida deste momento.
Deste momento no mundo e deste momento no Brasil.
Vemos, lá fora e aqui dentro, o rodopio dos sentimentos
em torvelinho trágico.
E as investidas reinvidicadoras
dos apetites que se disfarçam
e agora se desencadeiam em fúria.
E ouvimos o suspiro de alívio
da mediocridade finalmente desoprimida :
da mediocridade que, aproveitando a sua voz em falsete, e
encheu o ar de gestos desarticulados, e proclamou-se
vencedora,
na ingênua ilusão de que as barreiras que a continham
tombaram para sempre.
Mas vemos igualmente os espíritos legítimos no seu
posto imutável.
E apuramos o ouvido ao brado de alerta das sentinelas
perdidas.
E sentimos à flor do solo o frêmito das subterrâneas
correntes de força viva, que serão captadas pela
sabedoria divina na hora próxima das construções
admiráveis.
A arte é sempre a primeira que fala para anunciar o que virá.
E a arte deste momento é um canto de alegria,
uma reiniciação na esperança, uma promessa de
esplendor.
Deus, canta-a, porém, porque a percebe e compreende
em toda a sua múltipla beleza, em sua profundidade e
infinitude.
E por isto o seu canto é feito de inteligência e de instinto
(porque também deve ser total) e é feito de ritmos livres
elásticos e ágeis como músculos de atletas velozes e
altos como sutilíssimos pensamentos e sobretudo
palpitantes do triunfo interior que nasce das
adivinhações maravilhosas...
O artista voltou a Ter os olhos adolescentes e encantou-se
novamente com a Vida! Todos os homens o
acompanharão!

Neste texto destacam-se os seguintes aspectos do estilo e da obra de Tasso da Silveira :
•a inteligência se alia e se opõe a serviço da sensibilidade e da fé;
•a religiosidade alimenta o conceito espiritualista e a elevação moral dos textos;
•em sua poesia se encontram harmoniosamente a filosofia e a religião, o misticismo e a sensualidade;
•numa verdadeira tempestade mística o sentimento de eternidade o lança para um encontro com o absoluto.
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POEMA 17


Esquece o tempo. O tempo não existe.
Acende a chama às límpidas lanternas.
Nossas almas, a ansiar no mundo triste,
são de uma mesma idade: são eternas.

Se no meu rosto lês mortais cansaços,
é natural.A luta foi renhida:
caminhei tantos passos, tantos passos
para que te encontrasse em minha vida...

Não medites o tempo. Se muito antes
de ti cheguei, para a áspera, inclemente
sina de navegar por este mar,

foi para que tivesse olhos orantes,
e me purificasse longamente
na infinita aflição de te esperar...

Fontes:
Antonio Miranda.
Jornal de Poesia.

Tasso da Silveira (1895-1968)



Tasso da Silveira (Curitiba PR, 1895 - Rio de Janeiro RJ, 1968). Tasso da Silveira era filho do poeta simbolista paranaense Silveira Neto. Foi jornalista, deputado, professor universitário no Rio de Janeiro e figura central do grupo Festa, que chegou a oferecer resistência e fez oposição ao espírito revolucionário modernista.

Formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro, em 1818, mesmo ano em que publicou seu primeiro livro de poesia, Fio d'Água. No ano seguinte, fundou e tornou-se diretor das revistas Os Novos, Árvore Nova, Terra do Sol, com Álvaro Pinto, América Latina, com Andrade Muricy e Cadernos da Hora Presente, com Rui de Arruda. Colaborou nos jornais O Momento, Rio-Jornal, A Manhã, e na Revista Sul-Americana. Foi secretário dos jornais Diário da Tarde e O Estado e redator do Diário da Manhã.
Dedicou-se a escrever peças teatrais, como "As Mãos e o Espírito", críticas e ensaios, mas foi na poesia que conquistou lugar de destaque entre os primeiros modernistas brasileiros.

A revista Festa, lançada por ele em conjunto com outros colegas, reúne um grupo de poetas, pensadores, filósofos e escritores que formaram a chamada Corrente Espiritualista do Modernismo. Entre estes colegas que fizeram parte do grupo Festa, estiveram: Andrade Muricy, Adelino Magalhães, Cecília Meireles, Murilo Araújo, Plínio Salgado, Tristão de Ataíde e muitos outros nomes conhecidos das artes literárias da época.

Também se costuma classificar o grupo Festa como uma espécie de "reação simbolista". De fato, basta prestar atenção e ver que há na poesia de Cecília Meireles e do próprio Tasso da Silveira uma influência indiscutível do simbolismo.

Elegeu-se deputado estadual em Curitiba PR, em 1930. Nas duas décadas seguintes foi professor catedrático de Literatura Portuguesa na Universidade Católica e de Literatura Brasileira no Instituto Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. Foi também funcionário da Casa da Moeda, entre 1930 e 1960. Em 1956, foi homenageado com o prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras para o conjunto de sua obra. Fazem parte da obra poética de Tasso de Oliveira os livros As Imagens Acesas (1928), Definição do Modernismo Brasileiro (1932), Contemplação do Eterno (1952), Regresso à Origem (1960) e Puro Canto (1962), entre outros. Sua poesia filia-se à segunda geração do Modernismo.

Tasso da Silveira foi um defensor dos valores culturais, do pensamento provinciano, valores que segundo ele provêm das forças telúricas e da energia mental renovadora. Segundo as palavras do poeta, "a cidade cosmopolita consagra, é um foco de expansão, mas o que vem do cerne provinciano é que traz o rumor da beleza e é origem da emoção enaltecedora do ser humano."
Seu estilo é marcado pela simplicidade. Tasso lutou contra o ceticismo e o materialismo e buscou atingir com sua poesia uma pureza essencial.

Apesar da oposição ao modernismo, Tasso da Silveira colheu elogios de uma das principais figuras modernistas, o poeta, ensaísta, romancista e musicólogo Mário de Andrade:
"(...) esse artista apresenta a imagem quase brutal, em nosso meio, da coerência, da probidade silenciosa, do respeito para com os seus próprios ideais. (...) E os seus poemas, tão mansos e silenciosos, soam como um clamor." Essa apreciação do autor de Macunaíma está no livro O Empalhador de Passarinho, de 1944.

O que ressalta na poesia de Tasso da Silveira é um lirismo construído com o sentimento do imponderável: o pássaro, o êxtase, a treva. É também esse fascínio pelo mar, pelos barcos e pelas ressonância longínqua das estrelas.

Com uma obra que reúne doze livros de poemas, mais ensaios, romances e textos teatrais, Tasso da Silveira faleceu em 1968.

Fonte:
http://www.astormentas.com/
http://br.geocities.com/poesiaeterna/poetas/brasil/tassodasilveira.htm
http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet130.htm

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sergio Antonio Meneghetti (Independência e Vida!)



A não dependência
Caminhar com as próprias pernas
Sair da simples sobrevivência
Fazer com ousadia suas conquistas eternas

Se libertar da ignorância
Aprender com sua própria ciência
Preparar com sabedoria sua infância
Cimentar sua história com amor e paciência

Caminhar passo a passo para perfeição
Desafiar os desafios para crescer
Saber que tudo se consegue com união
Que além de querer ter, melhor é querer ser.

A grandeza do homem é que constrói o seu povo
Qualidades, disciplina e retidão.
Nem que tenha que começar tudo de novo
O bem estar de todos é a sua missão

Governar com justiça e transparência
Espalhar pela nação o sentimento de igualdade
Gerar a escola da competência
Ser exemplo de ética e lealdade

Cabe a nós que pisamos neste chão
Acreditar no milagre do transformar
Participar com o nosso quinhão
Para a rica colheita conquistar

Cuidar da vida jovem deste país
Investir neste humano potencial
Ajudar mais do que ser juiz
Dar valores para formar o adulto ideal

No 7 de Setembro independente
Debaixo deste céu de azul anil
Vamos ser todos a mais pura semente
Da liberdade e solidariedade, neste imenso Brasil.
---------
Fonte:
Colaboração do autor

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Vinicius de Moraes (Uma Mulher Chamada Guitarra)



UM DIA, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.

0 violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina — viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo — o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.

Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar, preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em benefício de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.

Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.

Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado — contra o peito — lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.

Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei; um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.

Fontes:
MORAES, Vinicius de. Para Viver um Grande Amor. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1984.
Imagem = http://luthieredsonvalencio.blogspot.com

Antonio Girão Barroso (As Três Pessoas)



Eram três pessoas distintas mas uma só, na verdade:
eu, o Floro e o Assis.
Três corpos numa lama só.
(O povo dizia que nós éramos
três amizades perfeitas
e meninos de futuro, sim senhor.)
Depois veio o tempo mau
o tempo que tudo leva
e levou o Floro pro céu.
O Assis ficou na terra.
Eu não sei onde fiquei.
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Fonte:
Jornal de Poesia

Antonio Girão Barroso (1914 – 1990)



Nasceu em Araripe, Ceará, no dia 6 de junho de 1914. Faleceu em Fortaleza (Ceará), em 1990. Escreveu com o pseudônimo Antônio Santos. Participou do Grupo Clã e de outras agremiações culturais. Criou revistas e jornais literários.

Bacharel em Ciências Jurídicas pela UFC com Doutorado em Direito pela mesma Universidade e Contabilista pela antiga Fênix Caixeiral. Professor da UFC (lecionou na Faculdade de Ciências Econômicas e na Faculdade de Direito); escritor, jornalista e poeta, autor de várias obras literárias, foi um dos fundadores do Grupo Clã, um dos mais importantes movimentos literários do Ceará em todos os tempos; membro da Academia Cearense de Letras, com vários livros de poesia publicados. Casou-se em 26.05.1945, na Igreja do Patrocínio com Alba Aragão Cavalcante Barroso, em Fortaleza. Professora formada no Curso Normal do Colégio da Imaculada Conceição, filha de Luiz Cavalcante, de Sobral e de Alda Aragão Cavalcante, de Ipu.

“Quando Antônio Girão Barroso nasceu, no antigo Brejo Seco, hoje Araripe, no Cariri do Ceará, o mundo estava em pé de guerra. Era o ano de 1944, e por estas andas o clima também se apresentava belicoso, com a jagunçada do Padre Cícero Romão Batista botando pra correr Franco Rabelo, o presidente da província (como então se chamavam os governadores de estado). Quando Antônio Girão Barroso começou a escrever poesia, a barra continuava pesada – pelo menos por este Brasil, sob a mão forte de Getulio Vargas, na década de 30. Eram poemas já influenciados pelos jovens que viveram a Semana de Arte Moderna de 22, que desbancou a musa parnasiana de Olavo Bilac para a entrada triunfal da poética sem métrica nem rima.

Mas Antônio Girão barroso não se conteve na poesia. Escreveu contos, foi crítico de artes e repórter (muitas vezes assinando as matérias como Antônio Santos). Formou-se advogado e foi doutor em Ciências Econômicas. Fez parte da Academia Cearense de Letras e, antes, nos idos de 40, ajudou a criar uma agremiação que fez história: o grupo Clã, que reuniu escritores, artistas, intelectuais. Do Clã – originalmente Clube e Literatura e Arte – fizeram parte o artista plástico Aloísio Medeiros; Antônio Martins Filho – o fundador da Universidade Federal do Ceará (UFC); o poeta Artur Eduardo Benevides; o literato Braga Montenegro; o dramaturgo Eduardo Campos; os cronistas Fran Martins e Milton Dias; os contistas João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, entre muitos outros. O Clã produziu uma revista literária, encartada no jornal O POVO, Maracajá, ousada na forma e no conteúdo.

Em 1938, Girão Barroso publica o primeiro livro, Alguns Poemas. Participa, em 1965, da Antologia de poetas cearenses contemporâneos. Em parceria com Cláudio Martins e Otacílio Colares, publica, em 1968, Trinta poemas para ajudar. No início dos anos 70 sai outro livro de poemas, Universos, e em 78 escreve um volume de história e crítica literária, Modernismo e concretismo no Ceará. Na década de 80, sai o livro Dois tempos (Miscelânea em parceria com Inácio Almeida). Antônio Girão Barroso faleceu em Fortaleza, em 1990. Quatro anos depois sai o póstumo Poesias Incompletas, este indicado aos vestibulares de 2006, 2007 e 2008 da UFC.

Poesias Incompletas faz uma retrospectiva da produção literária de Antônio Girão Barroso, começando com Alguns poemas (de 1938). Estação do Trem é dedicado ao poeta Manoel Bandeira – que tem influência preponderante na poesia de Barroso. O poema sugere o trem em movimento, a partir do refrão “Paca-tu-bê-a-bá”, e pinta o cenário das paradas nos lugarejos, o magote de gente oferecendo produtos aos passageiros: “banana seca é o pau que rola”, diz um verso, de delicioso extrato corriqueiro e banal. Há leveza, nestes versos iniciais, e resquícios românticos, parnasianos e simbolistas – mas a escrita do poeta é, sim, moderna.

Ainda deste primeiro livro, um certo desencanto existencial (“a vida todinha/ eu passo dizendo/ me acudam me acudam”), e a consciência do tempo que passa (como no poema Inútil dizer), além de recordações da infância sertaneja – em Menino, o pedido na procissão para Nossa Senhora: “faça de mim um homem bem-bom”. E, claro, há o amor e suas inquietudes, num recorte pró-feminino: “todas as mulheres são iguais; e os homens também”. A influência de Bandeira e Drummond fica explícita em Canção do noivo aflito, um rondó para a noiva “raquitinha” que morreu – “minha noiva não vá não/ senão me jogo no mar”. E em versos de sutil densidade lírica, como no poema Imagem simples: “eu também espero pelo sol que é você”.

Vê-se ainda o poeta e sua consciência do mundo, um olhar sobre a cidade e os homens calados, que “espreitam o bonde das onze e cinco”. Em Único poema proletário, Antônio Girão Barroso dá forma estética ao “drama cotidiano da fábrica de tecidos”. E a uma cena praiana no Pirambu. Em Nihil, o poeta deseja não pensar em nada, “ser apenas um animal que pobremente se alimenta”. Mas, adiante, diz: “a vida me convida; a de novo mover minha imaginação”. A segunda parte do livro traz poemas de Os hóspedes, publicado em 1946. O que ressalta é o sentimento da solidão, a angústia derramando-se no papel branco, mas há o sonho de um mundo melhor.

Mas o poeta finca versos é na esquina de sua rua, espia os arrabaldes, a chuva (sinônimo da esperança), derrete-se de amor: “meu coração, bate devagar/ pode bater devagarinzinho”, diz em Poeta moderno arranja namorada. Mas a lírica não empana o drama real da vida, e por isso ele registra o sofrimento do sertanejo, em mais um momento de seca e retirada: “os pobres sofrem, Maria, porque às vezes/ falta-lhes a água e sobra-lhes o sol”. Em Novos poemas (1950), o poeta ainda louva o amor, mesmo sem rimas, o “que é difícil, mano!”, e canta loa à mulher latino-americana, “dançando rumba e valsa; num mundo de cinema pintura e organdis”. Há até, no Soneto de bodas, uma experiência de poema concreto com o nome da amada, Hermelinda.

Em Trinta poemas para ajudar, de 1964, nenhum deles tem título. O poeta Antônio Girão Barroso está em sua melhor forma. Há, aqui, ecos de surrealismo: “a eurritmia do verso/ e o fragor das batalhas/ o cardume de peixes/ e a donzela morta/ o moço suicida/ (num punho de rede)/ e o laço de fita”. Em Poesia (simultânea) com o sol e a lua, a mescla da quadrinha popular com o espírito jocoso cearense resulta num quase hai kai: “o sol é lindo/ como um limão/ A lua é uma grande traficante”. De Universos, publicado em 1972, a metalinguagem do poema Obrigado, poesia – “porque posso carregar fantasmas a tiracolo”. E mais experiências concretistas.

Em Os dias preguiçosos, um poema decantando a semana, o belo ócio e a leitura dos jornais: “as manchetes nos alimentam mais do que o pão; porém quando chega ao fim do dia/ vemos que havia muita coisa errada nas manchetes”. E arremata: “a filosofia é esta, conversar é bom e beber é melhor”. No Último poema, a profissão de fé do poeta, seu compromisso primordial – com “o homem e sua vida; sua sobrevida/ sua suada subvida”.

Obras:

Alguns poemas (poesia), 1938.
Os hóspedes (poesia), 1946.
Novos poemas (poesia), 1950.
30 poemas para ajudar (poesia, com Cláudio Martins e Otalício Colares), 1968.
Universos (poesia), 1972.
Modernismo e concretismo no Ceará (história e crítica), 1978.
Dois tempos (miscelânia com Inácio A. Almeida), 1981.
Poesia incompleta (poesia), 1994.

Participou de antologia e colaborou em periódico.

Fonte:
Eleuda de Carvalho, do Jornal O POVO. http://www.giraofamilia.com/biografia_39.html

Antônio Girão Barroso: o percurso de uma poética



A obra literária de Antônio Girão Barroso está inserida no Modernismo e, ao longo de seu percurso, acompanha as evoluções que tal estética sofreu, tanto em relação a traços estilísticos quanto a elementos temáticos. Seus poemas revelam a ruptura com os formalismos anteriores ao modernismo e a busca do coloquialismo da fala brasileira; daí a valorização dos versos livres e brancos ou, então, a combinação de versos de metros variados.

Poesias incompletas, de Antônio Girão Barroso (Edições UFC, 119 páginas) reúne, praticamente, toda a sua produção, cuja linguagem, sem sombra de dúvidas, é ponto de destaque em estética, com acento ao português popular, coloquial, pleno de brasileirismos, de neologismos, expressões populares e emprego irregular dos sinais de pontuação.

Nasceu Antônio Girão Barroso em Araripe (CE) aos 6 de junho de 1914 e morreu, em Fortaleza (CE) em 1990. Realizou a poesia, o conto, a crítica, sendo jornalista e professor universitário - graduado em Direito, fez doutorado em Economia. Foi membro do Grupo Clã - movimento artístico que, nos anos 1940, sedimentou as conquistas modernistas no Ceará -, ao lado de Aluísio Medeiros, Artur Eduardo Benevides, Eduardo Campos, João Clímaco Bezerra e Moreira Campos, dentre outros.

No poema de abertura, ´Estação de trem´, Antônio Girão Barroso já aponta a sua intenção em romper - particularmente aqui, no Ceará - com os padrões tradicionais da poesia, que se impuseram como verdadeiros cânones antes do advento do Modernismo: do ponto de vista formal, há o livre emprego de versos longos e curtos, sem métrica regular, bem como a presença apenas de rimas ocasionais, a dessacralização da linguagem por meio da fala matuta (´vem danado pra chegá´ - aqui, estabelece-se uma intertextualidade com Ascenso Ferreira, poeta pernambucano, autor dos versos: ´Vou danado pra Catende / com vontade de chegá´) e a exploração de recursos sonoros: Lá-e-vem o trem / lá-e-vem / com seu apito tão fino / vem danado pra chega /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Corre, menina / teu pai chegou / o trem das nove / não já apitou? /// Banana seca é o pau que rola. /// Lá-e-vem o trem / lá-e-vem / com seu apito tão fino / vem danado pra chegá /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Donde vem esse povo? / Vem do Ceará! /// Pacatú-b-a-bá / Paratú-b-a-bá /// Seu moço, me dê uma esmola / pelo santo amor de Deus... /// esse cego tá fazendo verso?/// O trem vinha puxando noventa / Ah trem espritado! /// Um bando de colegiais / tão fazendo sururu na vila. / Tem um bebendo até cachaça / o Acarape é tão perto / cachaça é quase de graça / contudo ele já gastou seiscentos reis.../// Fiu... / O trem partiu / Pacatuba sumiu. /// (Mas que vontade de voltar...) /// Pacatú-b-a-bá (p. 11-12)

Antônio Girão Barroso, à semelhança de Manuel Bandeira (a quem dedica esse poema, ressaltando a intertextualidade com ´Trem de ferro´, do poeta pernambucano) sabe, muito bem, unir humor, calor humano e ritmos sugestivos.

Ainda que não haja descrições do cenário, este se desenha por sugestões: a princípio, uma casa, onde a mãe lembra à filha a chegada do pai, e a interrogação: ´o trem das nove / já não apitou?´ nos revela que o trem funciona também como um cronômetro coletivo da cidadezinha; por fim, a própria estação, também delineada por gestos e atitudes dos moradores: a oferta de iguarias (mariola); a mendigação (´Seu moço, me dê uma esmola / pelo santo amor de Deus...´) - nesse caso, o rogo, em redondilha maior, deu ao ´moço´ a sensação de que o ´cego´ fizesse ´verso´. O trem, então, muda a paisagem da cidade: incitam-se os colegiais, os botequins... até que o trem parte, desfazendo o sonho.

Ainda que esteja comprometido com a inserção definitiva das idéias modernistas entre nós,

A. G. B. tem, notadamente, conhecimentos da evolução das conquistas modernas (Manuel Bandeira, com ´Libertinagem´; e Drummond, com ´Alguma poesia´ - livros publicados em 1930); desse modo, sente-se à vontade de versejar em ritmo metrificado; mas, no propósito de aliar literatura e povo, escolhe a redondilha (menor) - um dos ritmos mais populares entre nós, conforme, os versos de ´Vida´: Proezas não tenho / na vida tão pau / nem lances terríveis / tragédias enfim / com choros pesados / e mortes no meio / senão que uma vez / morrendo afogado / gritei pros passantes / me acudam me acudam. / Mas isso é tão simples / acho isso tão besta / tão sem novidade / a vida todinha / me acudam, me acudam.

O eu lírico reconhece-se numa pessoa comum, anônima - em verdade, um anti-herói, mergulhado numa vida monótona, sem grandes feitos: ´Proezas não tenho / na vida tão pau´. Assim, não foi lancetado por ´lances terríveis´ ou ´ tragédias´, isto é, não sentiu ainda, por perto, a experiência da morte ou das perdas inexoráveis. Tal atmosfera, porém, é quebrada ao lembrar-se de que, um dia, ´morrendo afogado´, pediu socorro, sendo, portanto, salvo.

O poema, a partir desse momento, aponta uma nota comum em A. G. B.: a fusão do cotidiano a elementos do eu, pois, o elemento externo lhe possibilita criar uma dimensão interior de infinitas complexidades; desse modo, o episódio concreto do afogamento converte-se no espelho de uma postura existencial: a de sentir-se, constantemente, desamparado, sozinho, à mercê do socorro público.

Fonte:
Diario do Nordeste. 22.10.2006. Seção Cultura. http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=375672

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Age de Carvalho (Caldeirão Literário do Pará)



Aqui, em meu país
irremediavelmente nordestino e miserável,
à luz elétrica de meu século,
sob todos os alfabetos do medo e da fome;

aqui,
entre o homem e o homem
(como dois sistemas totais
num universo de águas inacabado),
aqui vivo.

De Arquitetura dos ossos (1980)

BOCA

a minha e a tua:
o ímã das línguas lança promessas,
letra-sobre-letra

À vera,
a tempestuosa mão da rasura
subjaz
negra no plural dos pêlos
à procura do selo mais profundo,

funda.

De Arena, areia (1986)


FAZER COM, FAZER DE

Estar, entre
estrelas e pedras,
interrompido

Resto de
ervas, tempo, entre dentes
detém-se
a palavra-refém,

réstia.
De Pedra-Um (1989)


SANGUE-SHOW

Esse o tempo—
em-sempre da serpente,
seu recobrado sentido
circular nas glebas
do sangue.

Chão,
subcutáneo, chão—
aqui se apaga
a veia vida/obra,
aqui a cobra
(intra-
vírgula
venenosa) insinua
entre ramas brilhantes
seu eterno s:

aqui, é-se.

Revista Inimigo Rumor, 7 (1999)

CORCOVADO

à Nelci Frangipani

Uma última vez
antes de subirmos,
braços abertos sobre
a flora brava, aqui
em baixo, onde colho
a despedida –

o tempo
só de abraçar
o abricó-da-praia,
meu amigo,
enquanto tu, trezentas
e terrena, davas
comida aos gatos.

POEMA COMPLEMENTAR SOBRE O RIO
A José Maria de Vilar Ferreira

O rio consagrado: a vazante
lembrança que escoa em maré
baixa e retorna — água escura
— na preamar

O rio sagrado: invólucro do céu
e margem, e duas margens
dos caboclos amantes. O rio

passado: cismando na crisma, paresque
dumas lembranças que trabalham a solidão:
o paralelo das margens, uma igara partida,
as águas sujas que sempre voltam.

A CADELA

Caminhava grave pela casa
a cadela.
A cabeça quieta era sua altivez
quadrúpede no centro da cozinha.
Caminhava. Os olhos, costelas,
o mar de ossos, o coração
pardo e lento – caminhava.
A manhã debruçava-se pela janela: cristais no pó,
o púcaro da china, horas de louça
batendo nas palavras na sala da casa.
A cadela caminhava, dura,
secular.
(Domingo dormia
prolongado como um funcionário feriado).
Vivera demais. Descansava à sombra,
perto do quarador.
Sonhava farta, invisível,
a cadela azul,
nua
(o sexo velho e molhado,
um caranguejo arcaico sob o rabo).
Dormia, vazia.
Outubro doía longe, na Ásia,
quando a Fuluca anunciou: "A Catucha morreu".

De ROR (1980-1990)
São Paulo: Claro Enigma, 1990

IN ABSENTIA

E: ainda uma chance —
uma pedra se refolha
para o repouso,
o instante é
sempre presença

Ror de erros,
recolho repetidos
o que ainda me pertence

NISSO

que ascendeu
se revelou
e esqueceu

ponhamos uma pedra

SUMA

Quantas vezes
ainda por repetir?

Estão comigo, todas
de segunda mão,
não classificadas

ó anel
círculo mancha ervas
sombra relva irmã
estrela erro tumba
por companhia

pedra pedra pedra

A JOÃO CABRAL DE MELO NETO

só dizer
o que sei
e duvido saber, o sal
pela mão
do rio-sem
resposta —
um luxuoso dizer, de vagar sem onda
e vaga, fluvial, não aliterado;

um dizer repetido na diferença,
barrento, semi-dito, em Não fechado;

ou o não-dito, rios sem discurso,
nome por dizer ou dizer empedrado;

dizer sim o raro e claro do poema,
dizer difícil e atravessado, com margem
de erro.
-----
Fonte:
Antonio Miranda. www.antoniomiranda.com.br

Age de Carvalho (1958)



Nasceu em Belém do Pará, em 1958. Concluiu seus estudos primário e ginasial no Colégio Moderno, em Belém, e se formou em Arquitetura pela Universidade Federal do Pará em 1981. Lançou seu primeiro livro de poemas, Arquitetura dos Ossos, em 1980. Editou a página de poesia Grápho nos jornais paraenses A Província do Pará e O Liberal entre 1983-85, atuando também como tradutor. Passa o ano de 1984 em Innsbruck, Áustria. No final de 1986 retorna à Europa para se fixar em Viena. De 1991 a 2000 vive em Munique, Alemanha, e a partir deste ano muda-se definitivamente para Viena, onde hoje reside.

Como designer gráfico atua em várias revistas austríacas e alemãs na função de diretor de arte. Em 2006 é publicada na Alemanha a extensa antologia poética Sangue-Gesang ("Cantos do Sangue") traduzida por Curt Meyer-Clason.

Livros publicados, todos títulos de poesia:
Arquitetura dos ossos
(Editora Falângola/Semec, Belém, 1980)
A fala entre parêntesis
junto com Max Martins
(Edições Grápho/Grafisa/Semec, Belém, 1982),
Arena, areia
(Grafisa/Edições Grápho, Belém, 1986)
Ror: 1980-1990
(poesia reunida e o livro inédito Pedra-um,
Editora Duas Cidades, Coleção Claro Enigma, SP, 1990)
Móbiles
(junto com Augusto Massi, 7 Letras, Rio, 1998)
Caveira 41
(Cosac & Naify/7 Letras, São Paulo, 2003)
Seleta, antologia poética
(Editora Paka-Tatu, Belém, 2004)
----------
Fonte:

Lenda Indigena (O Cupim)



Obrigaram uma moça a se casar com um rapaz, contra a sua vontade.

Ela não gostava do marido de jeito nenhum. À noite, quando ele vinha se deitar, tentando abraçá-la, ela descia da rede e ficava de costas. Toda noite era assim.

Para ver se aos poucos ela se acostumava, o pai convidou o genro para caçarem no mato, levando-a junto. Mas ela continuava a não querer dormir com o marido.

O pai teve uma idéia. Pegou muitos vaga-lumes, “bagapbagawa man” na nossa língua. Sem que a filha percebesse, pregou grande quantidade de vaga-lumes no cupim, que chamamos “txapô”. Fez isso de dia. Atou a rede da filha bem pertinho do munduru, que é um ninho de cupim, e a rede do marido do outro lado. Assim fez um tapiri, uma cabana.

Anoiteceu, jantaram, a moça deitou na própria rede. Dormiu.

Quando foi no meio da noite, acordou e viu aquele munduru alumiado. Assustou que só vendo e deitou com o marido. Nunca mais largou o marido, e até hoje existe a luz no munduru.

Fontes:
Covil do Orc = http://covildoorc.wordpress.com
Imagem = http://desvendar.com

Ricardo Corona (Poetas do Paraná)



VENTOS E UMA ALUCINAÇÃO

1.
sol tórrido no
aljazar

(lascas de zinco refletindo)

sol batendo
no sal

2
das costas
do homem na barcaça
— e deu-se a estampa

(um sopro quente passa)

um caligrama na asa
do anjo
aprendiz da chuva

3.
rubricando, rebatendo
no arco-íris riso
da híbrida holografia

(do solo sobe um hálito quente)

espumas ainda agonizam
e novamente
o mar traz à margem sua franja

4.
atrás das pálpebras
o olho dá forma ao sol
: bola vermelha

(um vento mantra passa)

a íris fosforesce
aureolando as pupilas em brasa

5.
no cine Céu
a sessão inicia pelo fim

(o rubro horizonte nubla de repente)

barbatanas no céu anfíbio
guelras no céu íntimo

6.
hojes mais longínquos
lembram
ontens ancestrais

(um peixe roça a pele da pedra)

há uma escritura definitiva
nas estrelas
sílabas

7.
: a gula de luz
de uma galáxia canibal

(a lua finge mas já reflete sóis)

Anos-luz daqui
Andrômeda é a esfinge
da via-láctea
–––––––-

ONDAS NA LUA CHEIA
(poema sob influência)

A lua que tudo assiste
agora incide

O mar
— sob efeito —
ergue-se
crispado de ondas espumantes

Sua língua de sal
lambe e provoca
as escrituras da areia firme

Ondas deslizantes
redesenham
onde outras ondas ainda
desredesenharão,
fluindo
no fluxo
da influência

Sob efeito lunar
o mar muda
e a lua,
antes toda,
agora, mínima
(
e quem com ela muda?)
–––––––––––-

PAISAGEM NARCISISTA

Estando sempre à luz do sol,
a paisagem, narcisista, insiste.
E viciada em flashes e ohs!
de turistas, banhistas e surfistas.

Sendo ela que o sol eternamente assiste,
a paisagem, narcisista, insiste,
retendo estampas na retina, como se
somente a sua performance existisse.

Mas nela meu olhar não se detém,
nenhum clic, espanto, nada.

*
via láctea via língua
eis minha viagem
o quasar mais além
vai estar quase ali
o planeta terra
pingo no meu i
ponto na frase que se encerra

*
a chuva desce
pelo cheiro
a terra agradece
==============

TAMBOR

ouvido atento, colado
som lusitano, lento
meu cérebro no centro de Istambul
(de um lado, feras
do outro,
heras)

o giro incerto mastiga o ruído
metal ruim
de um lado da estampa,
azul
do outro,

coisas grudam na agulha
na ferrugem
na pane do som letal

de um lado, folhas
caem
pétalas

do mesmo lado
vão vira crisálida
borboletas-bomba
coração tam-
bor
tam
tambor tam
tam
tam-
bor tam
tam
tambor
TAM
–––––––––––––––

ENTRE

‘bientôt un espace’
quer dizer
‘em breve um espaço’

bonito isso
na raridade que é
esta manhã

na qual aspiro
ao desconhecido

decolo ao
meu labirinto

no pulso de todos os tempos

entre

‘bientôt un espace’
e a menina com narina balalaica
------
Fonte:
Antonio Miranda
Jornal de Poesia

Ricardo Corona (1962)



Ricardo Corona (Pato Branco - PR, 1962) graduou-se em Comunicação em 1987 (Febasp). Iniciou atividade poética no início dos anos 1980, publicando seus poemas em revistas e jornais literários.

De 1993 a 1996, apresentou várias performances poéticas criadas em parceria com Eliana Borges e iniciou pesquisa que aproximou a poesia do universo do som, mesclando referências que vão da poesia da música brasileira às experiências sonoras de vanguarda e que serão determinantes no seu disco Ladrão de fogo (Medusa, 2001)

Em 1998, organizou a antologia de poesia Outras praias / Other Shores (Iluminuras).

Criou em parceria com a artista plástica Eliana Borges as revistas de poesia e arte Medusa (1998-2000) e Oroboro (2004-2006).

Em 1999, publicou Cinemaginário (Iluminuras), seu primeiro livro individual, com repertório de poemas imagéticos e de intenso diálogo com o cinema.

Em 2003, em parceria com Eliana Borges, publicou Tortografia (Iluminuras), um livro de arte com desdobramentos da poesia para o universo das artes plásticas e destas para o campo poético.

De 2005 a 2007, percorreu o país com a apresentação de poesia falada e sonorizada Távivaaletra. Em 2005, com Joca Wolff, traduziu o livro-poema aA Momento de simetria (Medusa, 2005), de Arturo Carrera e nesse ano publicou Corpo sutil (Iluminuras). Em 2007, criou com Eliana Borges a performance Jolifanto.

Participações:
– Antologia comentada da poesia brasileira do século 21 (PubliFolha, SP, 2006, Org. Manuel da Costa Pinto);
– Papertiger: new world poetry (Austrália, 2004);
– Cities of chance: new poetry from the United States and Brazil (Ed. Rattapallax Press e 34, EUA, 2003, Org. Flávia Rocha e Edwin Torres);
– Pindorama – 30 poetas de Brasil (Revista Tse-Tsé, Argentina, 2000, Org. Reynaldo Jiménez); – Na Virada do Século – Poesia de invenção no Brasil (Ed. Landy, SP, 2002, Org. Cláudio Daniel e Frederico Barbosa) e
– Passagens – Antologia de poetas contemporâneos do Paraná (Ed. IOP, 2002, Org. Ademir Demarchi).

Parcerias musicais com Vitor Ramil, Ana Lee, Tiago Menegassi, Guêgo Favetti, Carlos Machado, Alexandre Nero, Neuza Pinheiro e Grace Torres.

Fonte:
Antonio Miranda
Jornal de Poesia

Ricardo Corona (O Escritor em Xeque)


Wilmar Silva - Ricardo Corona: como descobriu a poesia em sua vida?

Ricardo Corona - É difícil saber como a poesia entrou na minha vida. Talvez tenha chegado pelo som das páginas sendo viradas dos livros que a minha mãe lia. Ela sempre foi (e ainda é) uma leitora contumaz. O hábito táctil dos livros eu aprendi com ela e, penso agora, a partir da sua pergunta, sobre a repercussão desse som dentro de mim. Organicamente, acabou se misturando aos meus primeiros sentimentos, então, creio que minha descoberta da poesia veio desse som de livros em mãos maternas.

WS - Mais que hesitar entre som e sentido, ser poeta é hesitar entre substantivos e adjetivos?

RC - Os adjetivos têm que ser usados com cautela e sem hesitação. Não titubeio em eliminar adjetivos. Quanto à definição de Paul Valéry ("Poesia é a permanente hesitação entre som e sentido"), é a que mais me significa e desde sempre foi a que mais me interessou e me estimulou como poeta. Hesito sempre.

WS - É possível ao poeta de hoje produzir uma linguagem de invenção quando as vanguardas históricas habitam um abismo?

RC - Não sei exatamente o que quer dizer com "habitam um abismo". Mas levando ao pé da letra, não vejo nenhum abismo. Conforme o adjetivo da sua pergunta, as vanguardas se transformaram em movimentos históricos. Eu reconheço essas experiências como das mais importantes para o ambiente poético universal. No caso do Brasil, os poetas concretos (Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Pedro Xisto) nos deram régua e compasso... Mesmo que alguns neguem e outros odeiem, a verdade é que ainda usufruímos desse legado. Isto posto, o significado da palavra invenção deixa obrigatoriamente de estar ligado ao momento histórico das vanguardas. A experiência poética de hoje é outra. Acho uma experiência radical, por exemplo, operar cruzamentos de linguagens e épocas num trabalho contemporâneo. Um ritual Tungu está muito próximo de um happening dadaísta. E sabe qual a distância de tempo dessas manifestações? Mais de mil anos. Sabe qual a conexão? Ambas as manifestações trabalhavam poéticas sem sentido. Porém, apenas uma delas é conhecida como uma manifestação de vanguarda, que é a dadaísta. O que estou dizendo é que mesmo sem a necessidade da ruptura, a experiência continua, porque ela sempre esteve presente.

WS - Escrever poemas é o mesmo que remeter cartas para ninguém, ou escrever poemas é o mesmo que plantar as próprias sombras?

RC - Escrever poemas é o mesmo que rabiscar na própria pele. É dar ao mundo uma coisa que é sua. E dar, no meu repertório léxico, é feminino de dor.

WS - Sendo também performer, que pontos de mutação, a exemplo da obra em si como aquele Salto no Vazio de Yves Klein, entre o poeta léxico e o poeta físico?

RC - Acho que artistas como Yves Klein ou mesmo Carole Schneemann são agentes de performance. Claro que há muita similaridade entre a performance e a poesia que vai para o ar. Mas são linguagens autônomas. Eu trabalho com a cena e não me julgo um performer. Acredito piamente quando um texto é lido em voz alta pelo próprio autor. Eu gosto de começar nessa fronteira, nessa dimensão física do texto autoral, nesse lugar em que também se encontra a idéia nietzscheniana de acreditar somente nas coisas escritas com o próprio sangue. Neste sentido, sou um agente de poesia.

WS - A exemplos de tantos nomes que produzem e se publicam, há entrechoques nas poéticas de agora ou o mundo é uma pirâmide de repetição?

RC - Acho que as poéticas de várias épocas e culturas mantêm um diálogo intenso desde sempre. Os cantadores medievais com os poetas de cordel; a poesia de Glauco Mattoso e Gregório de Matos...; o grafite anônimo de hoje com o grafite também anônimo da cidade de Pompéia, do século I d. C. ... Mas não acho que isso seja uma pirâmide de repetição. Nossa época carrega nas costas milhões anos de cultura. Acho que temos que aprender que a idéia do “novo” não existe e que o desafio de se criar qualquer coisa mediante um repertório desses, é enorme. Talvez a sensação de impasse esteja mais na dificuldade de se classificar o que se faz hoje. Está difícil aplicar um adjetivo, um rótulo, uma única definição para a produção de agora. E isso é bom, é uma conquista, apesar da dificuldade da leitura crítica, do mapeamento. Mas aí já é um problema dos críticos. A nós cabe escrever sobre o que quisermos e pesquisar nas mais variadas fontes...

WS - Considerando o paradoxo entre a poesia concreta e a poesia marginal, e uma poesia de filigranas que você faz, falando em línguas, que língua Ricardo Corona escreve?

RC - Não existe mais essa dicotomia ou esse paradoxo na poesia brasileira. Não é mais possível pensar a partir desse paradigma. Uma premissa: eu gosto de lembrar o que Ferlinghetti dizia sobre poesia e público leitor, ou seja, que o poeta deve resguardar uma superfície de comunicação. Sem o ledo engano de querer "sentir o hálito das multidões" (Leminski), eu procuro evitar o hermetismo, até porque já penso o poema em voz alta e isso me exige comunicabilidade.

WS - A começar pelo nome que nasce puxando imagens, que imaginações iluminam seu livro de estréia solo Cinemaginário (Editora Iluminuras, SP, 1999)?

RC - A imaginação e as imagens de um cinema mental. Coloquei meus delírios e visões de mundo num fluxo poético. Cinemaginário é um livro enganador, pois parece se prestar mais à arte da visibilidade (da paisagem), mas o que importa nele é o invisível.

WS - Como foi realizada a poética híbrida de sons que comparece no CD Ladrão de Fogo (Editora Medusa, Curitiba, PR, 2001)?

RC - Muitos poemas que estão no CD Ladrão de fogo foram antes estampados no livro Cinemaginário. Porém, antes ainda do livro e do CD, eles compunham um repertório para várias récitas que apresentei pelo Paraná afora. Isso no início dos anos 1990. Então, gravar o CD foi uma conseqüência, um registro do trabalho que eu vinha fazendo. É um trabalho que incorpora processos criativos das vanguardas, mas sem dar as costas para o rico legado de referências que tem a poesia brasileira que está associada ao som, que vai desde as letras de música até a literatura oral.

WS - E Corpo Sutil (Editora Iluminuras, SP, 2005), que carreia para a matéria o adjetivo "sutil", que materiais foram usados para construir o enfeixe de papel?

RC - A dobra de Corpo sutil está numa poesia "líquida". Este elemento, a água, aparece no livro como um rio subterrâneo. Esse é o meu diálogo com o mundo, pois este livro, mais do que Cinemaginário, é um livro que está no mundo, que está dentro dele, embrenhado dele, sempre através de questões que me afligem. O meu mundo, digamos, mais individual, também aparece em cada poema, mas é como se fosse uma parte, um gomo de um todo.

WS - Como foi organizar a antologia Outras praias - 13 poetas brasileiros emergentes / Other Shores – 13 Emerging Brazilian Poets (edição bilíngüe – SP, ed. Iluminuras, 1998)?

RC - Em 1995, quando comecei a cogitar a idéia dessa antologia, lembro que havia muita necessidade de projetos assim. Não tinham revistas como se têm hoje. Os espaços eram bastante escassos e disputados. Dois ou três poetas que circundavam os segundos cadernos dos grandes jornais, alguns por competência e outros por mera relação de amizade com o editor, dominavam o espaço nacional dedicado à poesia. Num ambiente assim, sem internet, sem nada, antologias e revistas eram instrumentos político-culturais que serviam para romper com o dique. O time de poetas que está em Outras praias, com raríssima exceção, ainda está em atividade. E naquela época a maioria estava no seu primeiro ou segundo livro... Pra mim, como organizador, esse é o saldo principal. Fora isso, foi uma antologia bastante discutida, para o bom e para o ruim, e isso é sempre positivo, pois antologias não têm que indicar nada e, aliás, nem se deve acreditar nelas. Como disse, são instrumentos político-culturais.

WS - Que pode dizer sobre as linhas editoriais que divisam as revistas Medusa e Oroboro?

RC - São duas revistas de poesia e arte contemporâneas. Nesse ponto, são idênticas. Ou seja, nas duas publicamos as mesmas coisas. Porém, a Medusa também foi um projeto "guerrilheiro", igual a antologia. Nós publicávamos sempre aquilo que acreditávamos ser de qualidade, esse era o critério-mor. Mas procurávamos também pautas que provocassem o status-quo. Um exemplo: o dossiê do Sebastião Nunes. Lembro que delirei ao saber que ele havia reproduzido um caderno "Mais!" inteiro sobre o próprio trabalho. Supostos críticos escrevendo sobre seu trabalho e supostos jornalistas o entrevistando. Isso foi genial. Quer dizer, enquanto se travava a maior disputa para publicar um poema na "Folha de S. Paulo", a Medusa apareceu com um cara que esculhambou com esse "espaço de poder". Nessas horas é um prazer ser editor de revista. Já a Oroboro iniciou em outro ambiente cultural, com mais revistas, internet, pequenas editoras, etc., além de os grandes jornais estarem mais abertos, um pouco mais, então, a revista acaba apostando mais na rebeldia puramente artística.

WS - Como pratica também ensaios, o que pensa sobre o silêncio da imprensa e da academia frente a muitos autores que produzem uma poesia de invenção?

RC - Não posso dizer que escrevo ensaios. Escrevi alguns aqui e acolá e mantive num jornal daqui de Curitiba, por uns tempos, uma coluna dedicada à poesia contemporânea, na qual escrevi sobre alguns livros de poesia publicados de 2000 pra cá. Mas não dei conta. Acho que o Manoel Ricardo de Lima e também o Manuel da Costa Pinto estão fazendo melhor. E são dois críticos com visões diferentes e sempre escrevem sobre poesia contemporânea. Acho que o tempo mostrará um belo apanhado crítico dessas duas figuras.

WS - Fosse a um bosque curitibano paradisíaco, com que livros viajaria para ler durante as vindimas?

RC - E olha que tenho ido a parques e bosques curitibanos.... Tenho levado comigo livros de Arturo Carrera, poeta argentino, que traduzo com Joca Wolff há uns dois anos. Lembro de ter levado um livro dele chamado El vespertillo de las parcas.

WS - Hoje o poeta vive um exercício em dobras, em todos os sentidos a poesia é algo vivo entre as pessoas, mas o livro ainda é um objeto inacessível ao cotidiano, além de representar a ordem capital das elites —, que paralelos você pode fazer entre cultura e educação?

RC - Os livros deveriam ser mais baratos para se tornarem mais acessíveis. Recentemente, estive em Buenos Aires e uma das coisas que me encantou foi a variedade de formatos que o livro argentino tem. Eles pensam o livro como objeto de consumo, ou seja, o formato de uma publicação é pensado para atender também as diferenças de poder aquisitivo da sociedade, assim como acontece com qualquer produto. Além de medidas assim, que são práticas, por outro lado, e principalmente, deveriam existir mais ações governamentais, políticas de incentivo à leitura, de distribuição de livros, mas seria preciso investir maciçamente nisso, e em educação de modo geral, em formação de leitores, em práticas de envolvimento de todas as faixas etárias com o livro. O livro é um veículo de pensamento e de cultura que nunca será extinto. O homem poderá inventar maneiras telepáticas de se comunicar, mas o livro estará presente, tenho certeza disso. Então, o melhor é inseri-lo no coração das pessoas, como forma de nos elevarmos, crescermos.

WS - Ao contrário do que muitos dizem, eu penso que a poesia é uma arte que nasce da experiência de viver em forma de linguagem e penso que a poesia deveria ser um utensílio doméstico como a panela, por exemplo. O que pensa sobre a importância da poesia no cotidiano das pessoas?

RC - Há uma disposição de se dizer que poesia é inútil. E, de fato, ela parece ser. Mas se pensarmos novamente, desdobrarmos isso, talvez essa pretensa inutilidade venha justamente de uma íntima certeza de sua necessidade. Como se buscássemos preservá-la como última instância de nossa humanidade.

WS - Como vive hoje Ricardo Corona, sabendo que a miséria política porque passamos é uma política que oferece comida para comprar a miséria humana do dia seguinte?

RC - O problema é que isto se transforma num ciclo sem fim, em que a miséria humana comprada ontem pela política miserável fatalmente subtrairá violentamente nossas vidas amanhã.

WS - Falando por políticas de geografia, para reabitar um só exemplo fora do Brasil: Gary Snyder, consegue ver as diferenças de vida e linguagem entre os poetas que atuam hoje em nosso Brasil?

RC - Gary Snyder foi viver a poesia dele em corpo e alma. Existem bem poucos poetas que radicalizaram dessa forma. No Brasil de agora, não vejo ninguém. Acho que o Roberto Piva é um poeta desse naipe. Mas não se pode menosprezar a poesia pelo modo de vida do poeta. Veja o exemplo de Glauco Mattoso, que foi bancário a vida toda...

WS - Se a performance é um poema vivo, a realização de desejos na arte em si, o corpo do artista com o tempo do corpo no espaço, que diferenças realmente acontecem quando Ricardo Corona escreve um poema e quando esse mesmo poema se torna um poema vivo em sinergia com o criador?

RC - É possível criar um poema e se manter distanciado dele. Fernando Pessoa dizia que o poeta é um fingidor, no sentido que, mesmo vivendo aquela dor, é possível fingi-la. Mas a incorporação do poema no corpo do poeta é uma das maneiras de vivê-lo. E o mais perto possível.

WS - Afinal, Ricardo Corona, "Tá viva a letra"?

RC - Nunca se leu tanta poesia em voz alta e em público. Acho que estamos saindo das "amarras" de um pensamento pseudo-livresco e pouco livre para a criação de diferentes poéticas. Estamos nos livrando de fronteiras desnecessárias. A poesia está no ar e continua não estando na moda, o que é muito saudável.

WS - Como será a sua apresentação no projeto Terças Poéticas?

RC - Mesclarei poemas do Ladrão de fogo com outros que estarão no meu novo disco que se chamará justamente TÁVIVAALETRA. Dos poemas novos, um que apresentarei pela primeira vez, que se chama "Recall", que é meio esquisito, mas excelente para ser desbocado. Do Ladrão de fogo, farei poemas como "Pessoa ruim", que faz referência ao "Poema em linha reta", de Fernando Pessoa, mas ao vivo, tenho feito juntamente com outro chamado "Manifesto II", de autoria de Celso Borges. Juntos criam um "clima", próximo da performance, em que tiro um sarro dos poetas carreiristas. Farei uma homenagem a Jardelina da Silva, minha musa da oralidade. Entre outras coisas...

Fonte:
Entrevista realizada por Wilmar Silva, em Germina Revista de Literatura e Arte – janeiro de 2007. http://www.germinaliteratura.com.br/pcruzadas_triptico_rc_jan07.htm

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Humberto de Campos (As Barbas de D. Francisco)


Era costume de D. Francisco de Almeida, depois conde das Galveas e íntimo de D. João VI, comparecer ao Paço com a barba por fazer. Um dia, o monarca observou-lhe:

- Pois nem hoje, dia dos meus anos, D. Francisco, fizeste a barba?

- Por que não fez Vossa Majestade anos ontem, que foi dia em que me barbeei? - retrucou o fidalgo, na sua bonomia.

Fonte:
AZEVEDO, Moreira de. Mosaico Brasileiro. in CAMPOS, Humberto de. Brasil Anedótico.

Baú de Trovas II



Aqui jaz minha mulher
que partiu para o Além.
Agora descansa em paz
e eu também.
(VÃO GOGO – MILLÔR FERNANDES)

Basta-me um gesto, um aceno,
uma só prova, - e verás
minha alma, presa em teus lábios,
como de amor se desfaz
GONÇALVES DIAS)

Cabeça, triste é dizê-lo!
Cabeça, que desconsolo!
por fora não tem cabelo,
por dentro não tem miolo!
(LAURINDO RIBEIRO)

De muita gente que existe
e que julgamos ditosa,
toda ventura consiste
em parecer venturosa.
ANÔNIMA

Estes meus versos que a esmo
jogo aos espaços sem fim
são pedaços de mim mesmo,
que eu mesmo arranco de mim.
(FERREIRA GULLAR)

Há de, com toda certeza,
casar-se a minha alma à tua,
nessa capelinha acesa
na alva capela da lua.
(GILKA MACHADO)

Inda agora é que cheguei,
inda não saudei ninguém:
Boa noite pras senhoras
e pros senhores também.
(MINAS GERAIS)

Junto co’a minha viola
eu ando de arretirada:
ela se queixa de sol,
eu de queda e de topada.
(CEARÁ)

Mui decentes eu não acho
teus vestidos minha prima:
são altos demais em baixo,
são baixos demais em cima!
(BELMIRO BRAGA)

No meu livro de lembranças
hoje só resta a saudade:
Saudade das esperanças
perdidas na mocidade...
(ZÉ TRINDADE)

Passa na estrada um camelo
e um corcunda palpitante
de alegria, disse ao vê-lo:
- “Mas que animal elegante!”
(ANTÔNIO SALES)

Que cada um cumpra a sorte
das mãos de Deus recebida:
Pois só pode dar a Morte
aquele que dá a Vida!
(OLAVO BILAC)

Saudade – perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê...
(MENOTTI DEL PICCHIA)

Teus olhos são negros, negros
como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos
como o negrume do mar.
(CASTRO ALVES)

Vi teus braços... que ventura!
teu colo... as pernas... que gosto!
Agora, tira a pintura,
que eu quero ver o teu rosto.
(BELMIRO BRAGA)
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Miguel Sanches Neto (Poetas do Paraná)



CAÇADOR E VÍTIMA

Escrever é caçar caranguejos
à maneira do guaximim.
Enfiando o rabo no buraco
onde se aloja o crustáceo,
ele espera que este o morda
como suas impiedosas tesouras
para sacar logo em seguida
a presa cravada em sua cauda.
O próximo passo é saboreá-la
— a memória da dor em carne viva.

Enquanto espera, o guaximim chora,
sofrendo de antemão a investida.
Caçador e vítima, é sua própria isca.
Contorcendo-se nesta emboscada,
o sabor e a cicatriz ele preliba
— a água na boca é a mesma das lágrimas.

––––-
INVENTÁRIO

Ouço os sons da chuva
e de um carro que passa na rua.
Tudo me dá de ombros,
a mim e a meus escombros.

Sofro como se existisse de fato
tal esta casa e este sapato
em que, por descuido, habito
com meu vazio sem vínculos.

A noite me sonega o ser.
Pela manhã serei o homem que sai,
funcionário cumpridor de regras,
aquele que tem fome e sede

e por isso vai ao mercado
e se entusiasma com queijos,
vinho pão fresco cerveja,
fugindo de toda incerteza.

Não. Não é este o tipo
de alimento que me sustenta
e sim a sombra que me inquieta
e que, com sua mão, me inventa.

Gerado na dor e na dúvida
no duro exercício da descrença,
sou vento enchendo roupas no varal
num inventário da própria ausência.
-------
Fontes:
– BUENO, Alexei. Uma História da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2007. ISBN 978-85-98815-06-0, p. 404
– Venho de um país obscuro”, Editora Bertrand-Brasil - Rio de Janeiro, 2005
http://www.antoniomiranda.com.br

Prêmio Jabuti



História

A história do Prêmio Jabuti começa por volta de 1957, em um período repleto de desafios para o mercado editorial, com recursos escassos e baixa articulação do segmento. Apesar das adversidades, não faltava entusiasmo aos dirigentes da Câmara Brasileira do Livro naquela época. As discussões foram comandadas pelo então presidente da entidade, Edgar Cavalheiro e pelo secretário Mário da Silva Brito – dois intelectuais e estudiosos da literatura brasileira – e outros membros da diretoria do biênio 1955-1957 interessados em premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que mais se destacassem a cada ano.

Essas discussões em torno de uma “láurea” ou “galardão”, como se dizia na época, ganharam forma na diretoria seguinte, de 1957-1959, presidida por Diaulas Riedel, a quem coube a confirmação da escolha da figura do jabuti para nomear o prêmio e a realização de concurso para a confecção da estatueta, vencido pelo escultor Bernardo Cid de Souza Pinto.

A primeira premiação ocorreu também na gestão do presidente Diaulas Riedel. No final do ano de 1959, em solenidade simples e despretensiosa realizada no auditório da antiga sede da CBL na avenida Ipiranga, foi feita a entrega do primeiro Prêmio Jabuti. Foram laureados autores como Jorge Amado, na categoria Romance, pela obra “Gabriela, Cravo e Canela”. A Saraiva ganhou o prêmio de Editor do Ano.

O nome

Mas por que um jabuti para nomear um prêmio do livro? A resposta, tem explicação no ambiente cultural e político da época, influenciado, sobretudo, pelo modernismo e nacionalismo, pela valorização da cultura popular brasileira, nas raízes indígenas e africanas, nas suas figuras míticas, símbolos seculares carregados de sabedoria e experiência de vida e legados de uma geração à outra. Sílvio Romero, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e Luís da Câmara Cascudo, entre o final do século XIX e o início do século XX, foram pioneiros na pesquisa, no estudo e na divulgação dessa rica cultura popular.

E foi Monteiro Lobato, provavelmente, o mais prolífico na recriação literária das histórias desses personagens meio enigmáticos, meio reveladores e sempre sedutores do folclore nacional. Um desses personagens da literatura infantil de Lobato é, como se sabe, o jabuti. O pequeno quelônio, já familiar no imaginário das culturas indígenas tupi, ganhou vida e personalidade nas fabulações do autor das “Reinações de Narizinho”, como uma tartaruga vagarosa, mas obstinada e esperta, cheia de truques para vencer obstáculos, para enganar concorrentes mais bem dotados e chegar na frente ao fim da jornada. Com essas credenciais, ganhou também a simpatia e a preferência dos dirigentes da CBL. Eles o elegeram para inspirar e patrocinar um prêmio para homenagear e promover o livro.

Jabuti repaginado

Ao longo dos seus 50 anos o Jabuti passou por transformações. No início, a cerimônia de entrega do Prêmio era feita na antiga sede da entidade, na avenida Ipiranga, depois passou a ser realizada durante as Bienais do Livro. Mas o Jabuti ganhou vida própria, e os diretores da CBL sentiram a necessidade de criar um evento proporcional à credibilidade que o Prêmio ganhou junto ao mercado editorial e à própria sociedade. Em 2004, ocorreu a primeira grande cerimônia de entrega das estatuetas, realizada no Memorial da América Latina. Nos últimos três anos, essa grande festa do livro do Brasil ganhou um dos espaços mais nobres da capital paulista – a Sala São Paulo.

O Jabuti foi se transformando aos poucos. No Regimento Interno do Prêmio, criado em 1959, constam apenas sete categorias de premiação: Literatura, Capa e Ilustração, Editor do Ano, Gráfico do Ano, Livreiro do Ano e Personalidade Literária. Atualmente, são contempladas todas as esferas envolvidas na criação e produção de um livro, em um total de 21 categorias, passando pela tradução, ilustração, capa e projeto gráfico, além das categorias tradicionais como Romance, Contos e Crônicas, Poesia, Reportagem, Biografia e Livro Infantil. Por sua abrangência, o Jabuti é considerado o maior e mais completo prêmio do livro no Brasil.

Outra iniciativa que trouxe ainda mais glamour ao Prêmio foi a criação das categorias Livro do Ano de Ficção, em 1991, e Livro do Ano de Não-Ficção, dois anos depois, em 1993. Esses prêmios são revelados somente na noite da entrega das estatuetas e são o ponto alto do evento, em um momento de grande expectativa por todos os agentes do mercado editorial.

Fatos curiosos

O livro de 50 anos do Jabuti traz ainda outras curiosidades. Em 2004, por exemplo, ano que registrou o maior número de obras inscritas (2.374), o vencedor do Livro do Ano de Ficção foi “Budapeste”, de Chico Buarque. A obra, no entanto, ganhou Menção Honrosa (3o lugar) na categoria Romance. “Houve um silêncio na platéia”, conta José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti. No dia seguinte, a mídia impressa também abriu espaço nas suas páginas para questionar o episódio. Como um livro que ficou em terceiro lugar na sua categoria poderia levar o prêmio de Melhor Livro do Ano? “O que ocorreu, na verdade, é que os vencedores das 20 categorias são escolhidos somente pelos jurados e os Livros do Ano recebem também os votos do mercado editorial, sendo que o grande vencedor não necessariamente é o 1. colocado de uma categoria”, explica.

Polêmicas à parte, o fato é que o Jabuti tornou-se, nas palavras de Rosely Boschini, presidente da CBL, um “patrimônio nacional”. “Com obstinação e argúcia, à maneira do seu inspirador, o Prêmio Jabuti avançou sem esmorecer, ganhou agilidade e encarou uma longa jornada. Avançou, ganhou densidade e respeito, conquistou o reconhecimento de todos os que, no Brasil, produzem informação, conhecimento e arte, de todos os que escrevem, publicam e leem livros. Tornou-se, ele próprio, um personagem vivo da cultura brasileira contemporânea”, destaca Rosely Boschini. Na maior festa do livro no Brasil, ganhar ou não o Prêmio, já não faz diferença. O importante é participar.

Fonte:
http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/historia/

51. Prêmio Jabuti de Literatura (Finalistas)



A Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgou os finalistas das 21 categorias do 51º Prêmio Jabuti, o maior concurso literário do País. Além de estatuetas, os primeiros colocados receberão R$ 3 mil - os ganhadores de "Tradução de obra literária Francês-Português", em homenagem ao ano da França no Brasil, receberá como prêmio R$ 6 mil. Já para os vencedores dos melhores livros, o prêmio em dinheiro é de R$ 30 mil.

De acordo com a assessoria de imprensa da CBL, o júri - sob curadoria, já há 19 anos, de José Luiz Goldfarb - foi formado por profissionais indicados pelo mercado editorial e escolhidos por uma comissão do prêmio por meio de sorteio. De acordo com a CBL, a segunda fase do julgamento ocorrerá em 29 de setembro, quando serão revelados o primeiro, segundo e terceiro colocados em cada uma das categorias. No entanto, somente em cerimônia no dia 4 de novembro é que serão anunciados os melhores livros do ano de ficção e não-ficção. A lista completa dos indicados estão no site da CBL.

Confira os finalistas das principais categorias:

Romance
1.º Flores Azuis (Cia. das Letras), de Carola Saavedra
2.º Cordilheira (Cia. das Letras), de Daniel Galera
3.º Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras), de Milton Hatoum
4.º Galileia (Objetiva), de Ronaldo Correia de Brito
5.º Satolep (Cosac Naify), de Vitor Ramil
6.º Manual da Paixão Solitária (Cia. das Letras), de Moacyr Scliar
7.º A Parede no Escuro (Record), de Altair Martins
8.º O Livro dos Nomes (Cia. das Letras), de Maria Esther Maciel
9.º Um Livro em Fuga (Record), de Edgard Telles Ribeiro
10.º Heranças (Rocco), de Silviano Santiago

Contos e Crônicas

1.º Canalha! - Crônicas (Editora Bertrand Brasil), de Fabricio Carpinejar
2.º 101 Crônicas - Ungáua! (Publifolha), de Ruy Castro
3.º Ó Editora (Iluminuras), de Nuno Alvares Pessoa de Almeida Ramos
4.º Rasif (Record), de Marcelino Freire, e Ostra Feliz Não Faz Pérola (Planeta), de Rubem Alves
5.º Os Comes e Bebes nos Velórios das Gerais e Outras Histórias (Auana), de Déa Rodrigues da Cunha Rocha
6.º Ping Pong - Chinês Por Um Mês: As Aventuras de Um Jornalista Brasileiro Pela China Olímpica (Manuela Editorial - Arte Paubrasil), de Felipe Machado
7.º Crônicas e Outros Escritos de Tarsila do Amaral (Unicamp), de Laura Taddei Brandini (Org.)
8.º Antologia Pessoal (Record), de Eric Nepomuceno
9.º Cheiro de Terra - Contos Fazendeiros (Scortecci), de Lucília Junqueira de Almeida Prado, e O Silêncio dos Amantes (Record), de Lya Luft
10.º Vatapaenses Vasos Comunicantes (Gm Minister), de Sergio de Almeida Brun

Poesia

1.º Dois em Um (Iluminuras), deAlice Ruiz
2.º Chocolate Amargo (Brasiliense), de Renata Pallotini
3.º Antigos e Soltos: Poemas e Prosas da Pasta Rosa (Instituto Moreira Salles Instituto Moreira Salles)
4.º Cinemateca (Cia. das Letras), de Eucanaã Ferraz
5.º A Letra da Ley (Annablume), de Glauco Mattoso
6.º Homem Ao Termo - Poesia Reunida [1949-2005] (Editora da UFMG), de Affonso Ávila, e Outros Barulhos (Reynaldo Bessa), de Reynaldo Bessa
7.º Geometria da Paixão (Anome Livros), de Dagmar de Oliveira Braga
8.º Os Corpos e Os Dias (Cultura), de Laura Erber
9.º Ferreira Gullar: Poesia Completa, Teatro e Prosa (Nova Fronteira), de Ferreira Gullar, e Réquiem (Contra Capa), de Lêdo Ivo
10.º Uma Hora Por Dia (7letras), de Maria Helena Azevedo

Biografia

1.º José Olympio, O Editor e Sua Casa (G.M.T. Editores), de José Mario Pereira
2.º O Sol do Brasil (Cia. das Letras), de Lilia Moritz Schwarcz
3.º Anna: A Voz da Rússia Vida e Obra de Anna Akhmátova (Algol), de Lauro Machado Coelho
4.º O Santo Sujo: A Vida de Jayme Ovalle (Cosac Naify), de Humberto Werneck
5.º Caio Prado Júnior (Boitempo), de Editorial Lincoln Secco
6.º Domingos Sodré, Um Sacerdote Africano (Cia. das Letras), de João José Reis
7.º Cruz e Sousa - Dante Negro do Brasil (Pallas), de Uelinton Farias Alves
8.º Cancioneiro Chico Buarque (Jobim Music), de Elianne Canetti Jobim
9.º Traição (Cia. das Letras), de Ronaldo Vainfas
10.º Viver Sua Música: Com Stravinsky em Meus Ouvidos, Rumo À Avenida Nevskiy (Editora da USP), de Gilberto Mendes

Reportagem

1.º O Olho da Rua: Uma Repórter em Busca da Literatura da Vida Real (Globo), de Eliane Brum
2.º O Sequestro dos Uruguaios - Uma Reportagem dos Tempos da Ditadura (L&PM Editores), de Luiz Cláudio Cunha
3.º O Livro Amarelo do Terminal (Cosac Naify), de Vanessa Barbara
4.º Narrativas de Um Correspondente de Rua (Pós-Escrito - do Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná), de Mauri König
5.º Rim Por Rim (Record), de Julio Ludemir
6.º Sem Vestígios (Geração Editorial Ltda), de Tais Morais
7.º No Calor da Hora: Música e Cultura nos Anos de Chumbo (Algol), de João Marcos Coelho
8.º Casadas com o Crime (Letras do Brasil), de Josmar Jozino
9.º Suicídio - O Futuro Interrompido (Geração Editorial), de Paula Fontenelle
10.º 1968 - O Que Fizemos de Nós (Planeta), de Zuenir Ventura

Tradução

1.º Satíricon (Cosac Naify), de Cláudio Aquati
2.º A Morte de Empédocles / Friedrich Hölderlin (Iluminuras), de Marise Moassaba Curioni
3.º 40 Novelas de Pirandello (Cia. das Letras), de Maurício Santana Dias
4.º Moby Dick (Cosac Naify), de Irene Hirsch e Alexandre Barbosa de Souza
5.º Porta do Sol (Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A.), de Safa A-C Jubran
6.º Poemata: Poemas em Latim e em Grego (Tessitura), de Erick Ramalho
7.º Os Irmãos Karamázov - 2 Vols. (34), de Paulo Bezerra
8.º Plotino, Enéada Iii. 8 [30]: Sobre a Natureza, A Contemplação e o Uno (Editora da Unicamp), de José Carlos Baracat Júnior
9.º O Diabo Mesquinho (Kalinka), de Moissei Mountian
10.º Contos Completos (Cosac Naify), de Leonardo Fróes

Teoria e Crítica Literária

1.º Monteiro Lobato: Livro a Livro (Editora da Unesp), de Lajolo Marisa e Ceccantini, João Luís
2.º Pensamento e "Lirismo Puro" na Poesia de Cecília Meireles (Editora da USP), de Leila V. B. Gouvêa
3.º Literatura da Urgência Lima Barreto no Domínio da Loucura (Annablume), de Luciana Hidalgo
4.º Graciliano Ramos - Um Escritor Personagem (Autêntica), de Maria Izabel Brunacci
5.º Machado de Assis: Ensaios da Crítica Contemporânea (Editora da Unesp), de Guidin, Marcia Ligia - Granja, Lúcia - Ricieri, Francine Weiss (Orgs.)
6.º Contos de Machado de Assis: Relicários e Raisonnés (Associação Jesuita de Educação e Assistência Social), de Mauro Rosso
7.º Do Teatro: Machado de Assis (Perspectiva), de João Robeto Faria (Org.)
8.º Que Poesia É Essa? Poesia Marginal: Sujeitos Instáveis, Estética Desajustada (Editora da Universidade Federal de Goiás), de Teresa Cabañas
9.º A Segunda Vida de Brás Cubas (Rocco), de Patrick Pessoa
10.º A Gargalhada de Ulisses: A Catarse na Comédia (Perspectiva) de Cleise Furtado Mendes

Infantil

1.º Sete Histórias Para Contar (Moderna), de Adriana Falcão
2.º Comilança (DCL), de Fernando Vilela
3.º No Risco do Caracol (Autêntica), de Maria Valéria Rezende e Marlette Menezes
4.º Era Outra Vez Um Gato Xadrez (Record), de Leticia Wierzchowski
5.º Minhas Contas (Cosac Naify), de Luiz Antonio
6.º A História de Biruta (Cia. das Letras), de Alberto Martins
7.º Zoo (Nova Fronteira), de João Guimarães Rosa
8.º E Um Rinoceronte Dobrado (Projeto), de Hermes Bernardi Jr
9.º A Invenção do Mundo Pelo Deus-Curumim (34), de Braulio Tavares
10.º Alma de Rio (Cortez), de Ellen Pestili

Juvenil

1.º O Fazedor de Velhos (Cosac Naify), de Rodrigo Lacerda
2.º A Distância das Coisas (Edições SM - Grupo SM), de Flávio Carneiro
3.º Cidade dos Deitados (Cosac Naify), de Heloisa Prieto
4.º Montanha-Russa (Cosac Naify), de Fernando Bonassi, e Surfando na Marquise (Cosac Naify), de Paulo Bloise
5.º 1808 - Edição Juvenil (Planeta), de Laurentino Gomes
6.º Brincos de Ouro e Sentimentos (Pingentes Biruta), de Luiz Antonio Aguiar
7.º Figurinha Carimbada (Girafinha), de Márcio Araújo
8.º Chuva de Letras (Scipione), de Luis Alberto Brandão
9.º Meu Pai Não Mora Mais Aqui (Biruta), de Caio Riter
10.º Conversa de Passarinhos (Iluminuras), de Alice Ruiz S / Maria Valéria Vasconcelos Rezende

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Humberto de Campos (Senadores "Barbeiros")



Zacarias de Gois e Vasconcelos era orgulhosíssimo e fazia questão de, quando falava, ser ouvido atentamente por toda a casa. Um dia, achava-se ele na tribuna, quando notou que dois velhos colegas, o Barão do Rio-Grande e o Barão de Pirapama, que eram profundamente surdos, conversavam em voz alta, para se entenderem sobre navalhas afiadas. Zacarias parou.

E como a interrupção causasse estranheza:

- Estou esperando que os Barões de Pirapama e do Rio-Grande acabem de se barbear!

Fontes:
- Taunay - Reminiscências - vol. I. In CAMPOS, Humberto de. Brasil Anedótico.
- Imagem = http://aturminhado6d.blogspot.com

Roza de Oliveira (Poetas do Paraná)



A PALMEIRA

Na escalada da Montanha
a palmeira ameaçada
por estranho vendaval
entrelaçou-se a um Carvalho
que contente lhe ofertou
segurança paternal

Embora tão diferente
dentro da vegetação...
unida é bem mais feliz
do que todas as demais
que vivem na solidão.

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INSTANTÂNEO

Sempre que me inauguro
em teu sorriso
sinto tocar de leve
o Paraíso

===============

METAMORFOSE

Dentre as setas
com que me feres
eu forjarei a Agulha
com que bordarei a tela
da minha noite escura.
Nela tecerei
a Estrela que nos guia
com mãos de ternura
====================

RELÓGIO DE SOL

Relógio de sol
Eu sou.
Nuvens e trevas
Rejeitando vou…
Só registro as horas
Em que o sol brilhou
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MAGIA

Sempre que me inauguro
Em teu sorriso
Sinto tocar de leve o paraíso!
===============

PRIMAVERA

Todo ser tem seu tempo de expressão.
Baila a ave se a vida é movimento,
E canta quando a vida é uma canção,
Seja na alegria ou no tormento.

A primavera é um festival de vida.
Da planta sai poesia colorida:
Poesia-flor que transborda docemente
O prazer de ser fruto e ser semente.

Cada flor tem seu verso e sua rima
Nas florestas, nas praças e nas casas,
Do amor é poesia cristalina!

E na expressão que vitaliza esse planeta
Se, de repente as flores criam asas…
Não é verso-fantasma! – é borboleta!
===============

CASA ONÍRICA

Bem no pico dos meus sonhos
Construí minha morada
Sem paredes, sem telhados…
Sem limites nos seus lados.

Bem que o telhado varia:
Varia…conforme o dia:
Há telhado de gaivotas…
De estrelas…de andorinhas.

Minha cama – é uma nuvem.
Minha mesa – a lua cheia.
O vento – é o meu cavalo!
Sou turista do infinito!…
––––––––––––
Fontes:
– Andrea Motta. http://simultaneidades.blogspot.com/
- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.