terça-feira, 24 de novembro de 2009

Maria Cristina Bonnafé (Uma Vaga na Vida)



Fui a uma agência bancária fazer um saque. Tudo bem ágil, em meio a um dia cheio de compromissos. Sorri, parecia estar com sorte: estacionei o carro a única vaga no recuo da calçada, em frente ao banco; no caixa eletrônico, apenas uma pessoa.

Feito o saque, só me restava ir embora. Mas de que jeito? Atrás de meu carro, uma pick-up e um grande carro de passeio, estacionados irregularmente na esquina.

Encontrei, no carro de passeio, uma garota já meio mulher, a escorregar as costas pelo banco, pés no painel. Ouvia o rádio, distraída, e, quando me percebeu, olhou-me pelo canto dos olhos semipuxados: Não sei dirigir. Ele saiu e já vem. Espera um pouco.

Tentei a pick-up. Dentro, um rapaz comprido e magro assegurou-me que não tinha a chave do carro – ficaria plantado ali, enquanto o motorista não chegasse. Ao volante de meu carro, sem sair do lugar, eu também esperava que os outros resolvessem a sua vida para, depois, eu resolver a minha.

O moço da pick-up passava o tempo como podia. Girava o indicador dentro de uma narina, voltava o giro em sentido inverso; alternava a narina… E assim eu ficava: assistindo à esmerada faxina na face do rapaz!

Ali parada e com o dinheiro sacado, senti-me vulnerável e precisava me proteger. Fechei hermeticamente os vidros, sob o sol das treze horas, o que tornou o espaço dentro do carro uma verdadeira sauna. Transpirava… Em sentinela, tinha que ficar atenta às janelas e retrovisores. Só então reparei, ao meu lado, o canteiro de amor-perfeito e o hibisco laranja. Fizeram delicados estes quinze minutos sem fim.

Ambos os motoristas chegaram ao mesmo tempo. Imaginava ouvir um pedido de desculpas e já me preparava para responder: “por nada!”. Porém nenhum aceno, nenhum sorriso, nenhum olhar. Apenas entraram logo em seus carros e, sincronizadamente, saiu um e depois o outro. Passagem livre, mas não aliviada!

Será que a pressa engolia nossas vidas? Era preciso tempo para olhar, ouvir, dizer. Não um tempo de cronômetro, reto e exato, mas um tempo humano, curvo e maleável. Só uma efêmera vaga para o carro não bastava. Queria, acima de tudo, uma vigorosa vaga na vida.
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Maria Cristina Bonnafé é de São Paulo, capital. Esta crônica foi uma das 5 vencedoras no II Concurso Literário Cidade de Maringá, na modalidade crônica

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Luís Pimentel (Ofício de Escrever)



Esta crônica é um presente para todos aqueles que têm o hábito de escrever, seja por obrigação (jornalistas), devoção (escritores) ou curtição (amadores e diletantes). Pincei e ofereço graciosamente duas dicas primorosas, de dois mestres da palavra, o patrício Graciliano Ramos e o mexicano Juan Rulfo. Vamos primeiro ao bom e velho Graça:

“Quem escreve deve ter todo cuidado para a coisa não sair molhada. Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal. Naquela maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lava. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.”

E a dica de Rulfo, o autor do fundamental romance Pedro Páramo , em tradução de Eric Nepomuceno:

“No começo, você deve escrever levado pelo vento, até sentir que está voando. A partir daí, o ritmo e a atmosfera se desenham sozinhos. É só seguir o vôo. Quando você achar que chegou aonde queria chegar, é que começa o verdadeiro trabalho: cortar, cortar muito.”

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sandro Kretus (O Gótico)


Eu sou o poeta da escuridão que semeia em frios jardins flores mortas com as pálidas mãos Sou o ser escuro que vigia a noite com o olhar de vampiro buscando encontrar a beleza que se esconde em cada sombra Meus olhos pintados de preto veem o que não pode ser visto pelos olhos mortais Eu sou a bruma noturna o ouvido dos Gárgulas nas catedrais Eu vagueio nos céus escuros onde os olhos dos corvos brilham no mágico crepúsculo

Nas trevas vejo a luz que poucos ainda produz e na terra onde os seres do dia rastejam plano suavemente com minhas asas de anjo negro Minha solidão devora as horas esperando o dia terminar até cair sobre mim o manto da noite onde sonho acordado sem despertar Meus versos escritos com sangue deslizam como uma chuva tépida nos prédios abandonados onde deixo o lamento de um mundo doente gravado.

Doenças deixadas pelos seres do dia que destroem o mundo com sua ímpia enfurecida Quem são os estranhos? Ou seriam os loucos?

Deixe-me só com minha tristeza pois o que resta é chorar afinal, alguém precisa chorar então que seja eu o ser da escuridão, o Nosferatu Deixe-me acender minha fogueira na terra das almas mortas quero deitar-me sobre as lápides frias e tortas deixadas pelos seres de outrora Deixe-me cantar nas entranhas escuras Close to me O mundo está doente talvez não há mais cura alguém precisa chorar então que seja eu o ser da noite escura
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Fonte:
KRETUS, Sandro. O jardim sombrio – 2008 . http://sandrokretus.blogspot.com/2009/10/o-gotico.html

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte X



II. — Os quatro filhos de Ayimon
(Gesta de Doon de Mogúncia)

1. — O tema

Carlos Magno armou cavaleiro aos quatro filhos de Aymon de Dordone: Aalard, Renaud, Guichard e Richard. Mas Renaud, devido a uma série de derrotas, matou Bertolai, sobrinho de Carlos Magno. Um antigo rancor gerou entre o imperador e as fileiras de Renaud; Carlos Magno, para se. vingar da afronta, perseguiu durante anos os quatro irmãos que provocavam a admiração de seus inimigos. Ei-los ao lado do rei Yon lutando contra os sarracenos, desde Ardenas até Bordéus. Com o auxílio de um primo, Maugis, o mágico, capturaram Carlos Magno para libertá-lo imediatamente. Libertarão seu maravilhoso cavalo Bayard e Renaud parte para combater na terra santa; essa vida de orgulho e violência termina com a penitência e a graça.

2. — Textos análogos

Os problemas de honra e de consciência que se impõem a esses revoltados se encontram em La chevalerie Ogier no qual o filho de Ogier, o Dinamarquês, foi morto pelo filho de Carlos Magno; Ogier quer se vingar; se arrependerá e tornar-se-á frade. Em Raoul de Cambraf, Raoul, deserdado pelo pai, devasta Vermandois. Seu implacável adversário Ybert de Ribemont, reconhecendo seus erros, funda, no local onde estão os sete castelos — monumentos do orgulho — sete mosteiros — testemunhos de penitência.

3. — Manuscritos

O manuscrito do século XIII, arquivado na Biblioteca Nacional de Paris (n.o 24.387, versão de La Vailière), deu origem a duas edições (Michelant, Tübingen, 1862; F, Castets, Montpellier, 1909). Treze outros manuscritos completaram esse texto chamado La Vailière (manuscritos de Montpellier, de Veneza, estudados por Pio Rajna, de Cambridge, ns. 766 B. N.). Um poema neerlandês (segunda metade do século XIII), retoma a trama do manuscrito La Vallière.

4. — Estudos

Paulin Paris localiza a ação primitiva nas Ardenas. Bédier acentua que a lenda não é mencionada no Catalogue de 1150, mas que é bastante conhecida no princípio do século XIII. Longnon estabelece em 1879 um paralelo histórico entre Yon de Gasconha e o rei de Aquitânia Eudon que guerreou, não contra Carlos Magno mas contra Carlos Martel. (Revue des questions historiques). Rajna (1884). Léon Jordan (1908), Castets (1909) considerando a mesma tese, mas Castets, sem demonstrá-lo, identifica os quatro filhos Aymon aos quatro filhos de Clotário: Clodoveu, Meroveu, Gondovaldo e Childeberto.

Gaston Paris atribui esse poema de dezoito mil versos a Huon de. Villeneuve, enquanto que Bédier estabelece um paralelo com a vida de Santo Agilolfo, que conteria todo o elemento histórico.

5. — Conclusão

Essa lenda de situações dramáticas, ternas, trágicas ou burlescas é a epopéia de vassalos rebeldes que lutam contra seu senhor. Com um fundo maravilhoso e cômico, cenas pueris e joviais. Les quatre fils Aymon caracterizam essa literatura feudal acentuada por uma espiritualidade cristã e pagã. A verdade histórica desaparece perante a verdade psicológica. Mais do que na Canção de Rolando, temos o retrato da sociedade dos Capetos na qual os vassalos são freqüentemente insolentes e intrépidos; guardam contudo um certo senso da honra e essa perseguição implacável dos quatro irmãos, cercada de maravilhoso, continua a ser uma obra das mais atraentes.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

domingo, 22 de novembro de 2009

Folclore de Portugal – Distrito de Leiria (O Monstro de Aljubarrota – Lenda da Bilha de S. Jorge)


A Bilha de Água - Lenda da Bilha de S. Jorge

A Batalha de Aljubarrota travou-se em 14 de Agosto de 1385 entre o exército de D. João I de Portugal e o rei de Castela, num dia de calor abrasador. A batalha tinha sido decidida pelo rei de Portugal e D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, contra a vontade da maioria da nobreza e do exército. A principal razão era a desproporção das forças: trinta mil castelhanos contra sete mil portugueses.

O auxílio esperado de Inglaterra não viria a tempo de evitar um eventual cerco à cidade de Lisboa. Era melhor morrer com honra do que a humilhação da fuga. No dia da batalha encontravam-se os exércitos frente a frente, com o sol a queimar o ar e a sede a começar a torturar os soldados portugueses. O Condestável temia mais a sede que o exército inimigo e incumbiu Antão Vasques de procurar água, uma tarefa difícil dada a secura dos regatos. Mas por S. Jorge tudo era possível! Antão Vasques em vão procurou água e já desesperado desceu do cavalo e ajoelhou-se na terra poeirenta e pediu ao seu anjo da guarda o impossível. No mesmo instante, surgiu uma camponesa com uma bilha de água que quanto mais dela se bebia mais de água se enchia como de fonte inesgotável brotasse. Uma água que saciava a sede e renovava as forças e o espírito.

Os castelhanos atacaram, certos de encontrar os soldados enfraquecidos pela espera e pela sede. Mas os sete mil portugueses aguentaram firmes e para grande surpresa dos castelhanos responderam com tal valentia que estes retiraram em debandada nesse dia de vitória para Portugal. No lugar onde surgiu a jovem camponesa mandou o Condestável erguer a capela de S. Jorge e ainda hoje lá está uma bilha de água para dar de beber a quem passe e tenha sede. S. Jorge ficou também como padroeiro do exército português.
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O Monstro de Aljubarrota

No dia 14 de Agosto de 1385 estavam os exércitos português e castelhano frente a frente, naquela que seria conhecida para sempre como a batalha de Aljubarrota. Eram cerca de 22 000 castelhanos contra 7 000 portugueses, mas, apesar da desproporção de forças, os espanhóis hesitavam em atacar, impressionados pela serenidade mística dos portugueses. Assim ficaram durante horas, mas por fim os castelhanos avançaram e a luta foi renhida, não conseguindo o invasor atingir a estratégica defesa portuguesa.

Desesperados e tendo conhecimento da existência de uma grande fera nas imediações do terreno, os castelhanos decidiram procurar a besta infernal para que esta os auxiliasse. Neste grupo de busca encontrava-se um reputado bruxo castelhano que capturaria o monstro através das suas artes mágicas. Após ter sido hipnotizado pelo bruxo, o monstro concordou em ajudar os castelhanos. Colocado em frente do exército português, livrou-o o bruxo da sua influência para que pudesse recuperar o seu caráter violento e devorar os portugueses.

O monstro temível avançou e começou a desfazer os soldados que estavam à sua frente, assustando até D. João I que se lembrou de invocar a ajuda do seu patrono S. Jorge e da Virgem Maria, com toda a fé que tinha. Segundo a lenda, S. Jorge desceu dos céus montado no seu cavalo e rodeado por uma bola de fogo, lançando-se com a sua lança sobre a terrível fera. Depois de vencer o monstro, S. Jorge virou-se contra o exército inimigo desbaratando as sua fileiras e ajudando os portugueses a alcançar a vitória. D. João I mandou edificar uma ermida onde foi colocada a imagem de S. Jorge montado no seu cavalo, matando o monstro com a sua lança.

Fontes:
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/
Imagem = http://pt.artesanum.com/

Trova LXXVII - Ferrer Lopes (Bahia)

Fonte:
Montagem da trova sobre imagem obtida no site http://www.atribunamt.com.br de 11 de fevereiro de 2007, da reportagem Globalização não reduz desigualdadee pobreza no mundo, segundo a ONU.

Encenação da Peça Vidas Severinas, em Petrópolis


Chico Buarque (Morte e Vida Severina )



Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca
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Folclore de Portugal - Distrito de Leiria (Padeira de Aljubarrota)

Brasão da freguesia de Prazeres de Aljubarrota, no Distrito de Leiria,
com a pá de Brites no escudo
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Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária de heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, teria morto sete castelhanos que encontrara escondidos num forno.

A lenda

Brites de Almeida teria nascido em Faro, em 1350, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna. A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos. Estaria então talhada para ser uma mulher destemida, valente e, de certo modo, desordeira.

Teria 6 dedos nas mãos, o que teria alegrado os pais, pois julgaram ter em casa uma futura mulher muito trabalhadora. Contudo, isso não teria sucedido, sendo que Brites teria amargurado a vida dos seus progenitores, que faleceriam precocemente. Aos 26 anos ela estaria já órfã, facto que se diz não a ter afligido muito.

Vendeu os parcos haveres que possuía, resolvendo levar uma vida errante, negociando de feira em feira. Muitas são as aventuras que supostamente viveu, da morte de um pretendente no fio da sua própria espada, até à fuga para Espanha a bordo de um batel assaltado por piratas argelinos que a venderam como escrava a um senhor poderoso da Mauritânia.

Acabaria, entre uma lendária vida pouco virtuosa e confusa, por se fixar em Aljubarrota, onde se tornaria dona de uma padaria e tomaria um rumo mais honesto de vida, casando com um lavrador da zona. Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha entre portugueses e castelhanos. Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha para se albergarem nas redondezas. Encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque Brites teria saido para ajudar nas escaramuças que ocorriam.

Quando Brites voltou, tendo encontrado a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou alvoroçada à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os. Diz-se também que, depois do sucedido, Brites teria reunido um grupo de mulheres e constituido uma espécie de milícia que perseguia os inimigos, matando-os sem dó nem piedade.

Os historiadores possuem em linha de conta que Brites de Almeida se trata de uma lenda mas, assim mesmo, é inegável que a história desta padeira se tornou célebre e Brites foi transformada numa personagem lendária portuguesa, uma heroína celebrada pelo povo nas suas canções e histórias tradicionais.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/

Distrito de Leiria (Portugal)



Hoje estamos iniciando uma série de folclore dos distritos de Portugal. Iniciamos com o distrito de Leiria, e para que o leitor possa tomar conhecimento sobre ele, coloco alguns dados sobre a história deste distrito.

A região onde se situa Leiria já é habitada há longos tempos, apesar de sua história precoce ser bastante obscura. Os Turduli, um povo indígena da Ibéria, estabeleceu um povoado junto à cidade actual de Leiria (a cerca de 7 km). Essa povoação foi depois ocupada pelos Romanos, que a expandiram sob o nome de Collippo. As pedras da cidade anciã romana foram usadas na Idade Média para construir parte de Leiria.

Pouco é conhecido sobre a área nos tempos dos Visigodos, mas durante o período de domínio árabe, Leiria era já uma vila com praça. A Leiria moura foi capturada em 1135 pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, durante a chamada Reconquista. Essa localidade foi brevemente retomada pelos mouros em 1137, e mais tarde em 1140. Em 1142, Afonso Henriques reconquistou Leiria, sendo desse ano o primeiro foral (legislação elaborada por um rei com o intuito de regulamentar a administração de terras conquistadas e que dispunha ainda sobre a cobrança de tributos e quaisquer outros privilégios), atribuído para estimular a colonização da área.

Os dois reis esforçaram-se por reconstruir as muralhas e o castelo da vila, para evitar novas incursões mouras. A maioria da população vivia dentro das muralhas protetoras da cidade, mas já no século XII uma parte da população vivia na sua parte exterior. A mais antiga igreja de Leiria, a Igreja de São Pedro, construída em estilo românico no último quartel do século XII, servia a freguesia exterior às muralhas.

Durante a Idade Média, a importância da vila aumentou, e foi sede de diversas Cortes. As primeiras Cortes realizadas em Leiria foram em 1254, durante o reinado de Afonso III. No início do século XIV (1324), D. Dinis mandou erguer a torre de homenagem do castelo, como pode ser visto numa inscrição na torre. Esse rei construiu também uma residência real em Leiria (actualmente perdida), e viveu por longos períodos na cidade, que ele doou como feudo à sua esposa, a Rainha Santa Isabel. O rei também ordenou a plantação do famoso Pinhal de Leiria, próximo da costa com o Oceano Atlântico. Mais tarde, a madeira deste pinhal seria usada para construir as naus que serviram aos Descobrimentos portugueses, nos séculos XV e XVI. Durante o século XV, os judeus desenvolveram nesse conselho uma das mais notáveis comunidades, ao ponto de empreenderem uma florescente actividade industrial.

No fim do século XV, o rei D. João I construiu um palácio real dentro das muralhas do castelo. Este palácio, com elegantes galerias góticas que possibilitam vistas maravilhosas da cidade e da meio envolvente, ficou totalmente em ruínas, mas foi parcialmente reconstruído no século XX. D. João I foi também o responsável pela reconstrução da Igreja de Nossa Senhora da Pena, localizada dentro do perímetro do castelo, num estilo gótico tardio.

Por volta do fim do século XV, a cidade continuou a crescer, ocupando a área que se estende desde a colina do castelo até ao rio Lis. Em Leiria foi impresso o primeiro livro em Portugal. O rei D. Manuel I deu à localidade um novo foral em 1510, e em 1545 foi elevada à categoria de cidade, tornando-se sede de Diocese. A Sé Catedral de Leiria foi construída na segunda metade do século XVI, numa mistura dos estilos renascentista (gótico tardio) e maneirista (renascimento tardio).

Comparando com a Idade Média, a história subsequente de Leiria é de relativa decadência. No entanto, no século XX, a sua posição estratégica no território português favoreceu o desenvolvimento de indústrias diversas, levando a um grande desenvolvimento da cidade e da sua região.

De fato, durante vários anos, Leiria foi das poucas capitais distritais que não era a cidade mais populosa do próprio distrito, sendo suplantada pela cidade de Caldas da Rainha. Contudo, nos últimos anos a cidade tem-se desenvolvido de forma extraordinária, e é já um dos 25 principais centros urbanos de maiores dimensões do país.

Fonte:
Wikipedia