terça-feira, 24 de novembro de 2009

Maria Cristina Bonnafé (Uma Vaga na Vida)



Fui a uma agência bancária fazer um saque. Tudo bem ágil, em meio a um dia cheio de compromissos. Sorri, parecia estar com sorte: estacionei o carro a única vaga no recuo da calçada, em frente ao banco; no caixa eletrônico, apenas uma pessoa.

Feito o saque, só me restava ir embora. Mas de que jeito? Atrás de meu carro, uma pick-up e um grande carro de passeio, estacionados irregularmente na esquina.

Encontrei, no carro de passeio, uma garota já meio mulher, a escorregar as costas pelo banco, pés no painel. Ouvia o rádio, distraída, e, quando me percebeu, olhou-me pelo canto dos olhos semipuxados: Não sei dirigir. Ele saiu e já vem. Espera um pouco.

Tentei a pick-up. Dentro, um rapaz comprido e magro assegurou-me que não tinha a chave do carro – ficaria plantado ali, enquanto o motorista não chegasse. Ao volante de meu carro, sem sair do lugar, eu também esperava que os outros resolvessem a sua vida para, depois, eu resolver a minha.

O moço da pick-up passava o tempo como podia. Girava o indicador dentro de uma narina, voltava o giro em sentido inverso; alternava a narina… E assim eu ficava: assistindo à esmerada faxina na face do rapaz!

Ali parada e com o dinheiro sacado, senti-me vulnerável e precisava me proteger. Fechei hermeticamente os vidros, sob o sol das treze horas, o que tornou o espaço dentro do carro uma verdadeira sauna. Transpirava… Em sentinela, tinha que ficar atenta às janelas e retrovisores. Só então reparei, ao meu lado, o canteiro de amor-perfeito e o hibisco laranja. Fizeram delicados estes quinze minutos sem fim.

Ambos os motoristas chegaram ao mesmo tempo. Imaginava ouvir um pedido de desculpas e já me preparava para responder: “por nada!”. Porém nenhum aceno, nenhum sorriso, nenhum olhar. Apenas entraram logo em seus carros e, sincronizadamente, saiu um e depois o outro. Passagem livre, mas não aliviada!

Será que a pressa engolia nossas vidas? Era preciso tempo para olhar, ouvir, dizer. Não um tempo de cronômetro, reto e exato, mas um tempo humano, curvo e maleável. Só uma efêmera vaga para o carro não bastava. Queria, acima de tudo, uma vigorosa vaga na vida.
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Maria Cristina Bonnafé é de São Paulo, capital. Esta crônica foi uma das 5 vencedoras no II Concurso Literário Cidade de Maringá, na modalidade crônica

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Luís Pimentel (Ofício de Escrever)



Esta crônica é um presente para todos aqueles que têm o hábito de escrever, seja por obrigação (jornalistas), devoção (escritores) ou curtição (amadores e diletantes). Pincei e ofereço graciosamente duas dicas primorosas, de dois mestres da palavra, o patrício Graciliano Ramos e o mexicano Juan Rulfo. Vamos primeiro ao bom e velho Graça:

“Quem escreve deve ter todo cuidado para a coisa não sair molhada. Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal. Naquela maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lava. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.”

E a dica de Rulfo, o autor do fundamental romance Pedro Páramo , em tradução de Eric Nepomuceno:

“No começo, você deve escrever levado pelo vento, até sentir que está voando. A partir daí, o ritmo e a atmosfera se desenham sozinhos. É só seguir o vôo. Quando você achar que chegou aonde queria chegar, é que começa o verdadeiro trabalho: cortar, cortar muito.”

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sandro Kretus (O Gótico)


Eu sou o poeta da escuridão que semeia em frios jardins flores mortas com as pálidas mãos Sou o ser escuro que vigia a noite com o olhar de vampiro buscando encontrar a beleza que se esconde em cada sombra Meus olhos pintados de preto veem o que não pode ser visto pelos olhos mortais Eu sou a bruma noturna o ouvido dos Gárgulas nas catedrais Eu vagueio nos céus escuros onde os olhos dos corvos brilham no mágico crepúsculo

Nas trevas vejo a luz que poucos ainda produz e na terra onde os seres do dia rastejam plano suavemente com minhas asas de anjo negro Minha solidão devora as horas esperando o dia terminar até cair sobre mim o manto da noite onde sonho acordado sem despertar Meus versos escritos com sangue deslizam como uma chuva tépida nos prédios abandonados onde deixo o lamento de um mundo doente gravado.

Doenças deixadas pelos seres do dia que destroem o mundo com sua ímpia enfurecida Quem são os estranhos? Ou seriam os loucos?

Deixe-me só com minha tristeza pois o que resta é chorar afinal, alguém precisa chorar então que seja eu o ser da escuridão, o Nosferatu Deixe-me acender minha fogueira na terra das almas mortas quero deitar-me sobre as lápides frias e tortas deixadas pelos seres de outrora Deixe-me cantar nas entranhas escuras Close to me O mundo está doente talvez não há mais cura alguém precisa chorar então que seja eu o ser da noite escura
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Fonte:
KRETUS, Sandro. O jardim sombrio – 2008 . http://sandrokretus.blogspot.com/2009/10/o-gotico.html

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte X



II. — Os quatro filhos de Ayimon
(Gesta de Doon de Mogúncia)

1. — O tema

Carlos Magno armou cavaleiro aos quatro filhos de Aymon de Dordone: Aalard, Renaud, Guichard e Richard. Mas Renaud, devido a uma série de derrotas, matou Bertolai, sobrinho de Carlos Magno. Um antigo rancor gerou entre o imperador e as fileiras de Renaud; Carlos Magno, para se. vingar da afronta, perseguiu durante anos os quatro irmãos que provocavam a admiração de seus inimigos. Ei-los ao lado do rei Yon lutando contra os sarracenos, desde Ardenas até Bordéus. Com o auxílio de um primo, Maugis, o mágico, capturaram Carlos Magno para libertá-lo imediatamente. Libertarão seu maravilhoso cavalo Bayard e Renaud parte para combater na terra santa; essa vida de orgulho e violência termina com a penitência e a graça.

2. — Textos análogos

Os problemas de honra e de consciência que se impõem a esses revoltados se encontram em La chevalerie Ogier no qual o filho de Ogier, o Dinamarquês, foi morto pelo filho de Carlos Magno; Ogier quer se vingar; se arrependerá e tornar-se-á frade. Em Raoul de Cambraf, Raoul, deserdado pelo pai, devasta Vermandois. Seu implacável adversário Ybert de Ribemont, reconhecendo seus erros, funda, no local onde estão os sete castelos — monumentos do orgulho — sete mosteiros — testemunhos de penitência.

3. — Manuscritos

O manuscrito do século XIII, arquivado na Biblioteca Nacional de Paris (n.o 24.387, versão de La Vailière), deu origem a duas edições (Michelant, Tübingen, 1862; F, Castets, Montpellier, 1909). Treze outros manuscritos completaram esse texto chamado La Vailière (manuscritos de Montpellier, de Veneza, estudados por Pio Rajna, de Cambridge, ns. 766 B. N.). Um poema neerlandês (segunda metade do século XIII), retoma a trama do manuscrito La Vallière.

4. — Estudos

Paulin Paris localiza a ação primitiva nas Ardenas. Bédier acentua que a lenda não é mencionada no Catalogue de 1150, mas que é bastante conhecida no princípio do século XIII. Longnon estabelece em 1879 um paralelo histórico entre Yon de Gasconha e o rei de Aquitânia Eudon que guerreou, não contra Carlos Magno mas contra Carlos Martel. (Revue des questions historiques). Rajna (1884). Léon Jordan (1908), Castets (1909) considerando a mesma tese, mas Castets, sem demonstrá-lo, identifica os quatro filhos Aymon aos quatro filhos de Clotário: Clodoveu, Meroveu, Gondovaldo e Childeberto.

Gaston Paris atribui esse poema de dezoito mil versos a Huon de. Villeneuve, enquanto que Bédier estabelece um paralelo com a vida de Santo Agilolfo, que conteria todo o elemento histórico.

5. — Conclusão

Essa lenda de situações dramáticas, ternas, trágicas ou burlescas é a epopéia de vassalos rebeldes que lutam contra seu senhor. Com um fundo maravilhoso e cômico, cenas pueris e joviais. Les quatre fils Aymon caracterizam essa literatura feudal acentuada por uma espiritualidade cristã e pagã. A verdade histórica desaparece perante a verdade psicológica. Mais do que na Canção de Rolando, temos o retrato da sociedade dos Capetos na qual os vassalos são freqüentemente insolentes e intrépidos; guardam contudo um certo senso da honra e essa perseguição implacável dos quatro irmãos, cercada de maravilhoso, continua a ser uma obra das mais atraentes.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

domingo, 22 de novembro de 2009

Folclore de Portugal – Distrito de Leiria (O Monstro de Aljubarrota – Lenda da Bilha de S. Jorge)


A Bilha de Água - Lenda da Bilha de S. Jorge

A Batalha de Aljubarrota travou-se em 14 de Agosto de 1385 entre o exército de D. João I de Portugal e o rei de Castela, num dia de calor abrasador. A batalha tinha sido decidida pelo rei de Portugal e D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, contra a vontade da maioria da nobreza e do exército. A principal razão era a desproporção das forças: trinta mil castelhanos contra sete mil portugueses.

O auxílio esperado de Inglaterra não viria a tempo de evitar um eventual cerco à cidade de Lisboa. Era melhor morrer com honra do que a humilhação da fuga. No dia da batalha encontravam-se os exércitos frente a frente, com o sol a queimar o ar e a sede a começar a torturar os soldados portugueses. O Condestável temia mais a sede que o exército inimigo e incumbiu Antão Vasques de procurar água, uma tarefa difícil dada a secura dos regatos. Mas por S. Jorge tudo era possível! Antão Vasques em vão procurou água e já desesperado desceu do cavalo e ajoelhou-se na terra poeirenta e pediu ao seu anjo da guarda o impossível. No mesmo instante, surgiu uma camponesa com uma bilha de água que quanto mais dela se bebia mais de água se enchia como de fonte inesgotável brotasse. Uma água que saciava a sede e renovava as forças e o espírito.

Os castelhanos atacaram, certos de encontrar os soldados enfraquecidos pela espera e pela sede. Mas os sete mil portugueses aguentaram firmes e para grande surpresa dos castelhanos responderam com tal valentia que estes retiraram em debandada nesse dia de vitória para Portugal. No lugar onde surgiu a jovem camponesa mandou o Condestável erguer a capela de S. Jorge e ainda hoje lá está uma bilha de água para dar de beber a quem passe e tenha sede. S. Jorge ficou também como padroeiro do exército português.
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O Monstro de Aljubarrota

No dia 14 de Agosto de 1385 estavam os exércitos português e castelhano frente a frente, naquela que seria conhecida para sempre como a batalha de Aljubarrota. Eram cerca de 22 000 castelhanos contra 7 000 portugueses, mas, apesar da desproporção de forças, os espanhóis hesitavam em atacar, impressionados pela serenidade mística dos portugueses. Assim ficaram durante horas, mas por fim os castelhanos avançaram e a luta foi renhida, não conseguindo o invasor atingir a estratégica defesa portuguesa.

Desesperados e tendo conhecimento da existência de uma grande fera nas imediações do terreno, os castelhanos decidiram procurar a besta infernal para que esta os auxiliasse. Neste grupo de busca encontrava-se um reputado bruxo castelhano que capturaria o monstro através das suas artes mágicas. Após ter sido hipnotizado pelo bruxo, o monstro concordou em ajudar os castelhanos. Colocado em frente do exército português, livrou-o o bruxo da sua influência para que pudesse recuperar o seu caráter violento e devorar os portugueses.

O monstro temível avançou e começou a desfazer os soldados que estavam à sua frente, assustando até D. João I que se lembrou de invocar a ajuda do seu patrono S. Jorge e da Virgem Maria, com toda a fé que tinha. Segundo a lenda, S. Jorge desceu dos céus montado no seu cavalo e rodeado por uma bola de fogo, lançando-se com a sua lança sobre a terrível fera. Depois de vencer o monstro, S. Jorge virou-se contra o exército inimigo desbaratando as sua fileiras e ajudando os portugueses a alcançar a vitória. D. João I mandou edificar uma ermida onde foi colocada a imagem de S. Jorge montado no seu cavalo, matando o monstro com a sua lança.

Fontes:
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/
Imagem = http://pt.artesanum.com/

Trova LXXVII - Ferrer Lopes (Bahia)

Fonte:
Montagem da trova sobre imagem obtida no site http://www.atribunamt.com.br de 11 de fevereiro de 2007, da reportagem Globalização não reduz desigualdadee pobreza no mundo, segundo a ONU.

Encenação da Peça Vidas Severinas, em Petrópolis


Chico Buarque (Morte e Vida Severina )



Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca
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Folclore de Portugal - Distrito de Leiria (Padeira de Aljubarrota)

Brasão da freguesia de Prazeres de Aljubarrota, no Distrito de Leiria,
com a pá de Brites no escudo
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Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária de heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, teria morto sete castelhanos que encontrara escondidos num forno.

A lenda

Brites de Almeida teria nascido em Faro, em 1350, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna. A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos. Estaria então talhada para ser uma mulher destemida, valente e, de certo modo, desordeira.

Teria 6 dedos nas mãos, o que teria alegrado os pais, pois julgaram ter em casa uma futura mulher muito trabalhadora. Contudo, isso não teria sucedido, sendo que Brites teria amargurado a vida dos seus progenitores, que faleceriam precocemente. Aos 26 anos ela estaria já órfã, facto que se diz não a ter afligido muito.

Vendeu os parcos haveres que possuía, resolvendo levar uma vida errante, negociando de feira em feira. Muitas são as aventuras que supostamente viveu, da morte de um pretendente no fio da sua própria espada, até à fuga para Espanha a bordo de um batel assaltado por piratas argelinos que a venderam como escrava a um senhor poderoso da Mauritânia.

Acabaria, entre uma lendária vida pouco virtuosa e confusa, por se fixar em Aljubarrota, onde se tornaria dona de uma padaria e tomaria um rumo mais honesto de vida, casando com um lavrador da zona. Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha entre portugueses e castelhanos. Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha para se albergarem nas redondezas. Encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque Brites teria saido para ajudar nas escaramuças que ocorriam.

Quando Brites voltou, tendo encontrado a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou alvoroçada à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os. Diz-se também que, depois do sucedido, Brites teria reunido um grupo de mulheres e constituido uma espécie de milícia que perseguia os inimigos, matando-os sem dó nem piedade.

Os historiadores possuem em linha de conta que Brites de Almeida se trata de uma lenda mas, assim mesmo, é inegável que a história desta padeira se tornou célebre e Brites foi transformada numa personagem lendária portuguesa, uma heroína celebrada pelo povo nas suas canções e histórias tradicionais.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/

Distrito de Leiria (Portugal)



Hoje estamos iniciando uma série de folclore dos distritos de Portugal. Iniciamos com o distrito de Leiria, e para que o leitor possa tomar conhecimento sobre ele, coloco alguns dados sobre a história deste distrito.

A região onde se situa Leiria já é habitada há longos tempos, apesar de sua história precoce ser bastante obscura. Os Turduli, um povo indígena da Ibéria, estabeleceu um povoado junto à cidade actual de Leiria (a cerca de 7 km). Essa povoação foi depois ocupada pelos Romanos, que a expandiram sob o nome de Collippo. As pedras da cidade anciã romana foram usadas na Idade Média para construir parte de Leiria.

Pouco é conhecido sobre a área nos tempos dos Visigodos, mas durante o período de domínio árabe, Leiria era já uma vila com praça. A Leiria moura foi capturada em 1135 pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, durante a chamada Reconquista. Essa localidade foi brevemente retomada pelos mouros em 1137, e mais tarde em 1140. Em 1142, Afonso Henriques reconquistou Leiria, sendo desse ano o primeiro foral (legislação elaborada por um rei com o intuito de regulamentar a administração de terras conquistadas e que dispunha ainda sobre a cobrança de tributos e quaisquer outros privilégios), atribuído para estimular a colonização da área.

Os dois reis esforçaram-se por reconstruir as muralhas e o castelo da vila, para evitar novas incursões mouras. A maioria da população vivia dentro das muralhas protetoras da cidade, mas já no século XII uma parte da população vivia na sua parte exterior. A mais antiga igreja de Leiria, a Igreja de São Pedro, construída em estilo românico no último quartel do século XII, servia a freguesia exterior às muralhas.

Durante a Idade Média, a importância da vila aumentou, e foi sede de diversas Cortes. As primeiras Cortes realizadas em Leiria foram em 1254, durante o reinado de Afonso III. No início do século XIV (1324), D. Dinis mandou erguer a torre de homenagem do castelo, como pode ser visto numa inscrição na torre. Esse rei construiu também uma residência real em Leiria (actualmente perdida), e viveu por longos períodos na cidade, que ele doou como feudo à sua esposa, a Rainha Santa Isabel. O rei também ordenou a plantação do famoso Pinhal de Leiria, próximo da costa com o Oceano Atlântico. Mais tarde, a madeira deste pinhal seria usada para construir as naus que serviram aos Descobrimentos portugueses, nos séculos XV e XVI. Durante o século XV, os judeus desenvolveram nesse conselho uma das mais notáveis comunidades, ao ponto de empreenderem uma florescente actividade industrial.

No fim do século XV, o rei D. João I construiu um palácio real dentro das muralhas do castelo. Este palácio, com elegantes galerias góticas que possibilitam vistas maravilhosas da cidade e da meio envolvente, ficou totalmente em ruínas, mas foi parcialmente reconstruído no século XX. D. João I foi também o responsável pela reconstrução da Igreja de Nossa Senhora da Pena, localizada dentro do perímetro do castelo, num estilo gótico tardio.

Por volta do fim do século XV, a cidade continuou a crescer, ocupando a área que se estende desde a colina do castelo até ao rio Lis. Em Leiria foi impresso o primeiro livro em Portugal. O rei D. Manuel I deu à localidade um novo foral em 1510, e em 1545 foi elevada à categoria de cidade, tornando-se sede de Diocese. A Sé Catedral de Leiria foi construída na segunda metade do século XVI, numa mistura dos estilos renascentista (gótico tardio) e maneirista (renascimento tardio).

Comparando com a Idade Média, a história subsequente de Leiria é de relativa decadência. No entanto, no século XX, a sua posição estratégica no território português favoreceu o desenvolvimento de indústrias diversas, levando a um grande desenvolvimento da cidade e da sua região.

De fato, durante vários anos, Leiria foi das poucas capitais distritais que não era a cidade mais populosa do próprio distrito, sendo suplantada pela cidade de Caldas da Rainha. Contudo, nos últimos anos a cidade tem-se desenvolvido de forma extraordinária, e é já um dos 25 principais centros urbanos de maiores dimensões do país.

Fonte:
Wikipedia

Sandro Kretus (Poesias Avulsas)



Portas escritas

Minhas calças curtas
De travessuras, de caçadas
E aventuras, Monteiro Lobato
Minha filosofia Suassuna
E meus olhos cegos, Saramago
Nas minhas borboletas mortas, Baudelaire
Na minha angustia, Florbela Espanca
Uma rosa sem perfume
E em sua dor, Augusto dos anjos
Beija sem ciúmes
Um beijo tépido no silêncio
Mortes, chagas, visões, infernos de Dante
Minhas mãos Machadianas escrevem versos de Quintana
Em uma ensolarada tarde, e as horas passam, voam
Ninguém vê Virginia Woolf
E Drummond com cara de bom, olhando o céu ao lado de Bandeira
De bobeira, soltando pipas no ar, sentados na areia
Na Villa dos lobos, um Tom toca Vinícius
Eça de Queiroz iça seus anzóis com palavras de ternura
Usando toques de Neruda
Eu ando pela Baker street mas não encontro Conan Doyle
Nem Jô Soares, e na corrida do ouro, Allan Poe corre
Apressado com os corvos enquanto Mary Shelley tranca seu monstro no armário
No corredor, Crowley vê Levi, e Bram Stoker carrega um bebê vampiro nos braços
Fernando pessoa visita o salão filosófico de Platão
Enquanto meus olhos de Byron naufragam num mar revolto...
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O último monólogo

Meus dias passam lentamente como serenas marolas
E nenhuma cortina se abre diante de mim
Sinto meu corpo preso á uma corrente coberta de argolas
Vejo meu começo chegando perto do fim

Um monólogo que encena seu último ato
Segurando sua caveira com as mãos sujas de sangue
Declamando seu poema para as cadeiras vazias do teatro
Deixando cair uma última lágrima escondendo o vexame

Nem um alento seria capaz de sarar tal ferida
De que adianta o brotar das palavras
De uma peça que jamais será lida

Morrerá com sua arte o pobre artista?
Talvez um dia alguém o descubra
E assim reconhecido, não mais morrerá
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Temperanças

Mulheres com suas temperanças
Me tiraram o absinto da garganta
Quando me acalentava nas horas amargas
Tentando remeter-me á esperança

Pequenos castelos desmoronados na areia
Levados pelas ondas de um mar traiçoeiro
Ainda havia sonhos á serem sonhados
E momentos passageiros

Que talvez tivesse ao longo de uma vida
Mesmo com destroços e feridas
Viveria cada momento

Como um pássaro que se remete ao horizonte
Chegaria ao firmamento
Mesmo sabendo que o horizonte não tem fim
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A valsa das rosas

Lembra quando dançávamos a luz do luar, meu amor?
E as rosas giravam, iluminadas, no jardim das petúnias.
Ali nossos corpos rodeavam, deslizando ao som dos violinos
Que alçava-nos a urbe da luz, nos iluminado de azul
Dançávamos ao som do Danúbio, seguido por outra valsa
E mais uma, assim se fazia, sem pensar na hora, mas que hora?
Se não existia, era só nós dois
Dançando a luz da lua
Até nas noites frias, mas que frias?
Se o calor nos aquecia
Em cada dança, ali se fazia
Um passo de magia
E nos bailes de máscaras? Lembra?
Sempre um cavalheiro roubava-te dos meus braços
E mesmo distantes, nossos olhos
Estendiam-se na mesma vértice que nos unia
Éramos um do outro, meu amor
Que adorável companhia
Tê-la ao meu lado, assim
Todos os dias
Agora, uma púgil agonia
Em meu peito se afia
Ao lembrar-me destes momentos
Oh! Que tristeza! Em meu coração se alogia
Desde que partiu
Vivo esta tormenta
A dor me castiga, em infinita sentença
Porque meu amor, me deixaste?
Meu pensamento viaja, tentando encontrar
A substancia que esvaiu do teu corpo, ao postemar-se
Vejo teu sorriso em cada estrela, mas não consigo alcançar-te
Porque meu amor, me deixaste?
As vezes sou capaz de ver-te, dançando no véu da noite
Iluminada, me sorri, sorri, mas não diz nada
E ao alcançar-te em desespero, desapareces
Como nevoeiro,dispersando-se por inteiro
Oh! Espírito iluminado
Porque não me levas contigo?
Quero ficar ao teu lado
Dançando eternamente no luar encantado
Hoje mais um dia, sonho acordado
E ao olhar as petúnias mortas no jardim
Lembro-me de como éramos felizes
Também hoje, mais uma vez, venho trocar as rosas de teu jazigo
E ao sentir tua lápide fria em meus pés
Mais uma lágrima surgi em meu rosto sofrido
Digo-te, meu amor, como sempre digo
Hoje as petúnias estão mortas, mas as rosas girarão, iluminadas
pelo teu sorriso.
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Fontes:
http://sandrokretus.blogspot.com/
http://www.portugal-linha.pt/KRETUS/menu-id-105.html
Imagem = Capa do livro de Sandro, O Jardim Sombrio

Sandro Kretus (1974)


Sandro Kretus nasceu em Porto Alegre em 1974, seu interesse pela literatura começou desde muito cedo, com 10 anos de idade já participava em concursos de poesias e contos. Aos dezoito anos formou-se em desenho publicitário e desenho artístico, trabalhando em agências publicitárias e em algumas galerias de arte da capital gaúcha.

No mesmo período especializou-se em analises clinicas, no qual exerce a profissão até hoje. Em 2006, o autor escreveu seu primeiro romance, o primeiro volume da saga “Amazon”, intitulada “ A chama de Orion, uma saga épica inspirada no continente perdido de Atlântida. Em 2008 o autor brasileiro começou a divulgar seu trabalho, publicando suas poesias, contos e crônicas nos principais sites de literatura, no Brasil e em Portugal, ao todo já são treze livros publicados, entre eles estão, O jardim sombrio, Ecos na cidade de mármore, Interlúdio, O andarilho da terra do fogo, O navegante e a flor lunar, Uma gota de orvalho no jardim de cedros, pequenos poemas do espaço inerente, Vertebratrus, O príncipe de Tartária, Pensamentos revoltaires,Harmônico e Black horse.

A cada novo trabalho o autor vem conquistando cada vez mais os leitores, e chamando a atenção dos críticos literários, que afirmam, “Kretus é um poeta contemporâneo, que consegue resgatar a fórmula dos poetas do passado, sem perder sua autenticidade, sua poesia é feita com uma força extremamente expressiva.”

Visionário, lírico, romântico, ler a poesia de Kretus é como viajar no tempo”.

Atualmente Sandro Kretus vive em sua cidade natal, em Porto Alegre, capital do Rio grande do Sul.
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Fonte:
http://www.portugal-linha.pt/KRETUS/menu-id-105.html

sábado, 21 de novembro de 2009

Trova LXXVI - José Lucas de Barros (RN)

Montagem sobre imagem de http://ncego.blogspot.com

Andreia Donadon-Leal (Seus 25 Anos)



Ainda lembro dos seus primeiros passos: indecisos, trôpegos, corpo desequilibrando, e eu com os braços estendidos estimulando-a a continuar. Um sorriso inocente nos pequenos lábios rosados, pele amorenada, olhos negros e cabelos lisos. Era uma miniatura de gente, uma boneca tentando equilibrar-se para dar os primeiros passos. Chorava pouco e quando eu retornava no final da tarde do trabalho, cansado, estressado e algumas vezes muito aborrecido, abria a porta silenciosamente para não fazer barulho e meus olhos brilhavam ao vê-la sentada no tapete com as pernas cruzadas; algumas bonecas espalhadas pelo chão, suas mãozinhas ocupadas com pequenos brinquedos, despreocupada como se nada mais existisse naquele momento. E não existia mesmo... Eu parado com a cabeça encostada no alisar da porta, deslumbrado com a cena que me acalentava. As linhas de expressão logo se suavizavam e os olhos brilhavam, dizia Maria. Perdi a conta de quantas vezes fiquei parado, estático à porta, querendo imortalizar aquela imagem. A pasta pesada, às vezes, caía sem querer de minha mão e dispersava sua concentração e estado mágico em seu mundo de criança. Logo largava todos os brinquedos e ia engatinhando ao meu encontro. Eu dava apenas dois passos curtos, pois sabia que gostava de me receber na entrada da porta. Sua mãe esperava pacientemente minha disposição e felicidade retornando. Sentava no chão com você e brincávamos com os minúsculos brinquedos até seus olhos cerrarem vencidos pelo sono.

No primeiro dia de aula não consegui conter o impulso de sair do outro lado da cidade e levá-la pessoalmente à escola. A merendeira rosa nas mãos pequeninas, a mochila pendurada nas costas, vestida de uniforme azul e branco do colégio, cabelo preso com duas marias chiquinhas cor de rosa. Estava crescendo... Não dei a honra a sua mãe de levá-la no primeiro dia. Era importante vê-la entrando com segurança na sala de aula e eu recomendando à professora que tivesse mil e um cuidados, por que era uma criança dócil, muito frágil e tímida. Devo ter repetido umas sete vezes o número do meu telefone, caso fosse necessário contactar-me.

Os outros dias me contentava em buscá-la, quando não ficava até tarde no escritório. Você adorava me ver caminhando pacientemente pelo pátio da escola. Corria euforicamente ao meu encontro e contava de um fôlego só como foram às aulas, os trabalhos e as brincadeiras. Quase tive um ataque do coração, quando saíamos tranquilamente da escola, você perguntou-me repentinamente:

- Pai? Como se faz um bebê? De onde eles vêm?

Sabia que despertaria para esses tipos de perguntas, mas não esperava que fosse prematuramente. Maria ria de meu pudor excessivo, falando que as perguntas se tornariam mais constrangedoras com o tempo. Eu fechava os olhos e passava as mãos sobre a cabeça, preocupado.

- Pai? O que é sexo?

- Pai, por que a terra é redonda e meu quarto é quadrado?

- Pai, quem inventou Deus? A professora disse que quem inventou o mundo foi Deus, então quem inventou ele?

Essas interrogativas aos cinco anos, e eu embasbacado no meio do caminho, retornando da escola para casa com você. As perguntas aumentavam, os níveis também e eu tentando dar um caráter romântico a tudo. Sua mãe me reprovava com veemência. Os anos foram passando; eu e sua mãe, mais velhos e cansados. Você já não queria que eu a buscasse na escola.

- Não precisa pai. Venho caminhando com minhas colegas.

Estava ficando independente e não precisava tanto de mim.

Os quinze anos vieram e a festa de debutante também. Foi uma belíssima noite: vestido rosa, cabelos soltos, coroa na cabeça, dançando com suas colegas no meio do salão. Estava virando uma moça. O tempo correu como um filme em projeção acelerada, e eu só queria que fosse mais devagar, um pouco mais devagar e nunca tivesse que acordar daquele sonho. Depois da valsa, um guri ensimesmado e estranho, pegou-a dos meus braços. O jeito que olhou-a me fez recordar das minhas primeiras investidas amorosas e entrei num inferno astral.

- Será que Flora já beijou alguma vez, Maria?

Sua mãe olhou-me como se eu estivesse proferindo a pergunta mais absurda e fora de moda do mundo:

- O que está acontecendo com você, José? É uma adolescente despontando para a vida. É óbvio que já beijou. Sabia que ano retrasado menstruou?

Lembro desses momentos somente nos sonhos. Foram especiais e não retornam. Um dia sem repetição, uma chance para cada etapa da vida. Compreendi? Se eu compreendi? Tive que tentar compreender para não sofrer ao extremo.

- Nossa filha é uma mulher agora, Zé! Entrou para universidade! Veio a primeira notícia que comemoramos com muito orgulho.

- Está namorando com fulano, Zé!

- Está namorando com beltrano, Zé!

- Hoje não dorme em casa, Zé!

- Compreenda sua filha, Zé! Não é mais uma criança.

- Ficará uma semana fora... Ficará um mês...

- Vai para o exterior...

E eu suportando, por que sabia que minha menina voltaria para casa, para o quarto cor de rosa, com a prateleira repleta de bonecas e muitos brinquedos intactos que comprei ao longo dos anos. Voltaria para os meus sonhos, entraria pela porta gritando:

- Pai, mãe, cheguei!

Contaria tudo de um fôlego só, depois Maria faria um jantar especial com direito a sobremesa e eu contaria uma história. Era seu pedido quando ficava muito tempo fora de casa. Estava quase se formando: medicina, e esse era o meu maior trunfo e orgulho. Estufava o peito, quando meus amigos perguntavam o que minha filha estava fazendo.

- Quase médica!

Quando vi um rapaz alto, entrando em casa e você me apresentando como seu namorado, tomei o mesmo susto quando perguntou-me como eram feitos os bebês.

- Esse não é aquele guri da festa de seus quinze anos, Flora? Perguntei de cenho cerrado.

- É pai, o mesmo!

Apertei a mão do rapaz mais do que deveria e fiquei olhando-o por um tempo, até escutar a voz de Maria:

- Zé? Solta a mão dele!

- Hã? Desculpe...

- Não foi nada...

Saí da sala e fui para o quarto emburrado e de lá gritei:

- Hoje não vou jantar! Tenham um bom apetite, estou com dores no estômago...

Maria balançou a cabeça, reprovando minha atitude infantil. Relembro do meu ciúme de pai com certa graça e humor. Sabia que esse momento chegaria, fazia parte da vida como a morte fazia parte do ciclo. Se pudesse voltaria o tempo... Se pudesse... Mas o tempo é incorruptível, não tem volta e as coisas são irreversíveis.

Ajeito a gravata no espelho, enxugo as lágrimas que teimosamente insistem em despencar dos olhos, ajeito o paletó e escuto uma batidinha com três toques familiares me despertando.

- Pai? Está na hora...

- Está linda, minha filha.

Abro a porta do carro para ela entrar. Tomo a direção e no trajeto espio no retrovisor seu semblante, feliz e deslumbrante. Foi tão rápido... Muito rápido... Pego-a pelas mãos, subo as escadas de braços dados para conduzi-la até o altar. Antes de escutar os primeiros acordes da marcha nupcial, acordo com o barulho estridente do despertador e pego seu retrato amarelado e desbotado no criado-mudo: um bebê de um ano. Maria não acordou. Estava meio surda e tomava continuamente muitos remédios, inclusive para dormir, o sono era pesado e sem sonhos. Não reprovava Maria. O rosto e os olhos estavam sem vida há mais de duas décadas. Eu não teria que trabalhar, completei sessenta e nove anos, Flora, e nem parece que o tempo passou tão depressa. Até hoje sonho como teria sido sua infância e mocidade. Sua vida... Faz vinte e cinco anos... Vinte e cinco anos que você morreu e hoje é parte dos meus sonhos. A cada dia tento compreender as coisas irreversíveis da vida. Tento compreender... Tento...

Fontes:
J.B. Donadon-Leal (Jornal Aldrava Letras e Artes)
Imagem = http://ciberjornal.wordpress.com/

Andreia Donadon Leal premiada em Paranavaí - PR

Prefeito Municipal Rogério Lorenzetti entrega
troféu Barriguda a Andreia Donadon-Leal.

A mineira de Mariana, Andreia Aparecida Silva Donadon Leal esteve em Paranavaí, no dia 14 de novembro, onde recebeu o prêmio de primeiro lugar no Prêmio Nacional de Contos do 44º FEMUP - 2009, pelo seu conto "Seus 25 Anos" (veja postagem acima).

A cerimônia de entrega da premiação teve um momento inesquecível - a leitura dos 4 contos primeiros classificados. A leitura aconteceu na Biblioteca Municipal, às 15 horas, sob coordenação da Professora Rosi Sanga, coordenadora de Atividades Artísticas da Fundação Cultural de Paranavaí.

Após a leitura, os presentes puderam conversar com os autores.

A grande festa aconteceu às 20 horas no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, com a apresentação das 12 músicas finalistas, dos declamadores dos 12 poemas classificados.

Nos intervalos dessas apresentações aconteceu a entrega dos prêmios para os ganhadores do Concurso de Contos. Andreia Donadon Leal recebeu o troféu Barriguda das mãos do Prefeito Municipal Rogério Lorenzetti.

O FEMUP é uma promoção da Fundação Cultural de Paranavaí, PR, e é um dos mais importantes Festivais artísticos do país, integrando num só festival, as modalidades de música, contos, poesia e declamação, premiando na modalidade Regional e na Nacional.

Fontes:
Prof. J.B. Donadon-Leal (Jornal Aldrava Letras e Artes)
Foto de J. B. Donadon-Leal.

Lançamento do Livro Antologia do Papo Literário


O Programa Papo Literário está completando um ano de exibição. Para comemorar a data, a Tv Ceará e a Premius Editora estão lançando a Antologia do Papo Literário, organizada pelas jornalistas Yolanda Markan, Joselita Feitosa e Mônica Silveira.

A obra reúne as poesias que inspiraram os clipoemas do programa, onde os textos ganharam imagens e áudio em linguagem televisiva. No livro estão mais de 80 poesias de autores cearenses, nacionais e até internacionais. Nomes famosos e jovens talentos, autores dos mais variados estilos e temáticas.

A publicação tem prefácio de Guto Benevides e apresentação de Yolanda Markan.

O coquetel de lançamento será no próximo dia 24 de novembro, no Ideal Clube, ao lado do restaurante, a partir das 20 horas.

Com a Antologia, o Papo Literário presta uma homenagem aos poetas que abrilhantaram o programa e marca essa trajetória de um ano de divulgação da literatura através da televisão.

Neste primeiro ano, a revista eletrônica literária da TVC conseguiu mostrar diferentes aspectos da literatura, desde a forma clássica, até a virtual . Entrevistou diversos escritores renomados (Ana Miranda, Juarez Leitão, Lira Neto, Barros Pinho, Batista de Lima,Ubiratan Aguiar, Jorge Tufic, Ruy Câmara, Rosa Alice Branco, Pedro Salgueiro, Nilto Maciel e muitos outros). Um dos primeiros autores a incentivar o programa foi Affonso Romano de Sant'Anna, que passou a ser padrinho do Papo Literário.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro (Portal CEN)

Lairton Trovão de Andrade (Torrente de Trovas)

Clique sobre as imagens para ampliar ----
Fontes:
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas I. Portal CEN. 2007.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas II. Portal CEN. 2007.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas III. Portal CEN. 2008.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Sinos de Trovas II. Portal CEN. 2006
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Lairton Trovão de Andrade (1943)


Filho de Boanerges Trovão de Andrade e Ana Vizotto de Andrade, é poeta e trovador brasileiro, bacharel e licenciado em Filosofia Pura.

Nasceu no dia 28 de fevereiro de 1943, em Pinhalão, município interiorano do Norte Pioneiro do Paraná, Brasil.

Dedicou sua vida ao ensino escolar, tendo lecionado Filosofia, Psicologia e História, além de outras disciplinas.

Tornou-se professor efetivo do Estado do Paraná, através de concurso público.

Editou sete livros - cinco de poesias e dois de reflexões filosóficas, além da participação em diversas antologias literárias.

Possui também mais de uma dezena de livros eletrônicos no Portal CEN - 'Cá Estamos Nós'.

Além disso, concluiu o Curso de Música, tornando-se organista e compositor.

Escreveu a música e a letra do Hino Oficial de Pinhalão, a música e a letra do Hino da Padroeira de Pinhalão, a música e a letra do Hino Oficial do Portal CEN - 'Cá Estamos Nós', a música e a letra da Canção ao Portal CEN - 'Cá Estamos Nós', uma missa polifônica, em três vozes mistas, além de outras composições musicais.

É dirigente e organista do Coral Bento XVI da Igreja Matriz de Pinhalão.

Nos momentos de folga, como professor aposentado, curte a vida em contato com a natureza, ainda bela e rica, da sua terra natal.

Entidades a que pertence:
– União Brasileira de Trovadores - UBT – Delegado de Pinhalão.
– Portal CEN – Cá Estamos Nós – Marinha Grande/ Portugal.
– Liga dos Amigos do Portal CEN – Marinha Grande/ Portugal.
– Movimento - Poetas Del Mundo – Cônsul de Pinhalão.
– Movimento de Poetas e Trovadores - Porto Alegre /RS.
– Grupo Mahavydia – Rio de Janeiro, RJ.
– Grupo Trovabela – Porto Alegre, RS.
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Seus livros virtuais podem ser baixados gratuitamente do Portal CEN em http://www.caestamosnos.org/autores/autores_l/lairtondeandrade_ebook.htm
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Fonte:
O Autor.

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas (Letra S)


salus populi suprema lex esto
Latim: A salvação do povo seja a suprema lei. Máxima do Direito Romano.

sancta sanctorum
Latim: O santo dos santos. O lugar mais secreto do templo de Jerusalém, onde só entrava o sumo-sacerdote quando em funções.

sans-culotte
Francês: Sem calção. Apelativo por que eram tratados os revolucionários de 1789, por usarem calças em vez de calções.

sans peur et sans reproche
Francês: Sem medo e sem censura. Sem temor e com a consciência tranqüila.

sapienti sat
Latim: Basta para o sábio; ele não precisa de muitas explicações.

sapiens filius laetificat patrem
Latim: O filho sábio alegra o pai (Provérbios, X, 1).

sapientis est mutare consilium
Latim: É próprio do sábio mudar de parecer. Sabe reconhecer os erros.

Scilicet
Latim: (cílicet) Isto é.

scintilla contempta excitavit magnum incendium
Latim: Pequena centelha ateou um grande incêndio. Coisas pequenas podem ter graves conseqüências.

scribitur ad narrandum, non ad probandum
Latim: Escreve-se para narrar e não para provar. Quintiliano estabelece assim a diferença entre a história e a eloqüência (Inst. Orat. X, 1, 31).

sede vacante
Latim: Estando vaga a sede. Usado principalmente no Direito Canônico.

sedia gestatoria
Italiano: Cadeira especial em que se conduz o papa nas grandes solenidades.

self-governement
Inglês: Governo próprio. Como o dos Estados e municípios brasileiros que gozam de autonomia.

semel emissum volat irreparabile verbum
Latim: A palavra uma vez pronunciada voa irreparável.

senatus populusque romanus
Latim: O senado e o povo romano. Divisa da antiga república romana.

se non è vero, è bene trovato
Italiano: Se não é verdade foi bem inventado.

servum pecus
Latim: Rebanho servil. Assim classifica Horácio os plagiadores (Epístolas, I, 19).

sic itur ad astra
Latim: Assim se vai aos astros. Expressão virgiliana muito empregada durante as descobertas aeronáuticas.

sic transit gloria mundi
Latim: Assim passa a glória do mundo. Reflexão da Imitação de Cristo que nos convida a desprezar as glórias mundanas.

similia similibus curantur
Latim: Os semelhantes curam-se pelos semelhantes. Med Lema da homeopatia que se opõe à alopatia cujo princípio é: contraria contrariis curantur.

sine die
Latim: Sem dia. Adiar sine die, isto é, sem data fixa.

sine ira et studio
Latim: Sem ódio e sem preconceito. É a diretriz de Tácito para aqueles que desejam escrever a História; sem parcialidade.

sine qua non
Latim: Sem a qual não. Diz da condição essencial à realização de um ato.

sinite parvulos venire ad me
Latim: Deixai vir a mim os pequeninos. Palavras com que Jesus (Mt. XIX, 14) manifesta sua predileção para com as crianças e para com os humildes.

sint ut sunt aut non sint
Latim: Que sejam como são ou deixem de existir. Resposta do Geral dos jesuítas, Padre Ricci, a alguém que lhe propunha modificar os estatutos da Companhia.

si parla italiano
Italiano: Fala-se italiano. Encontrada em estabelecimentos comerciais.

sit pro ratione voluntas
Latim: A vontade sirva de razão. Verso de Juvenal que demonstra até onde podem ir os caprichos dos prepotentes longe de seguir a lógica, preferem impor o seu ponto de vista mesmo com prejuízo próprio ou de terceiros.

sit tibi terra levis
Latim: Que a terra te seja leve; lê-se nas inscrições tumulares.

si vis me flere, dolendum est primum ipsi tibi
Latim: Se queres que eu chore, começa tu também por chorar. Conselho de Horácio ao ator dramático, citado por todos os autores de retórica e eloqüência (Arte Poética, 102-103).

si vis pacem, para bellum
Latim: Se queres a paz, prepara a guerra. Aforismo ainda hoje seguido pelas nações, que procuram fortalecer-se a fim de evitar uma eventual agressão.

sola apis mel conficit
Latim: Somente a abelha faz mel: cada qual no seu ofício.

sola Deus salus
Latim: Deus (é) a única salvação.

sola nobilitas virtus
Latim: A virtude (é) a única nobreza.

sol lucet omnibus
Latim: O Sol brilha para todos.

solve senescentem
Latim: Solte o velho. Conselho horaciano, que compara o escritor ao cavalo, que depois de velho deve aposentar-se, a fim de não sucumbir na luta.

spiritus ubi vult spirat
Latim: O espírito sopra onde quer. A inspiração divina não procede da vontade humana mas de Deus. São palavras de Cristo (Jo. III, 8).

spiritus promptus est, caro infirma
Latim: O espírito é pronto, a carne é fraca. Assim Cristo aconselha os apóstolos à vigilância e oração (Mt. XXVI, 36-41).

sponte sua
Latim: Por sua própria iniciativa.

stabat mater
Latim: A mãe estava de pé. Canto litúrgico da semana da paixão e festas de Nossa Senhora das Dores, que descreve os sofrimentos de Maria Santíssima ante o martírio de Jesus Cristo.

stare sulla corda
Italiano: Aguentar-se na corda. Equilibrar-se em uma situação instável. Corresponde a: dançar na corda bamba.

Statim
Latim: Imediatamente. No início das receitas médicas, indica que há urgência em aviá-las.

statu quo
Latim: Estado em que. Estado anterior à questão de que se trata.

stricto sensu
Latim: No sentido restrito.

struggle for life
Inglês: Luta pela vida. Expressão empregada por Darwin para explicar a seleção das espécies.

stultitiam simulare loco summa prudentia est
Latim: Simular tolice às vezes é grande prudência. Aforismo de Catão.

stultorum infinitus est numerus
Latim: O número dos tolos é infinito (Eclesiastes, I, 15).

sub conditione
Latim: Sob a condição; com a condição de.

sub Jove
Latim: Debaixo de Júpiter; ao relento.

sub judice
Latim: Sob o juízo. Direito: Diz-se da causa sobre a qual o juiz ainda não se pronunciou.

sublat a causa, tollitur effectus
Latim: Eliminada a causa, desaparece o efeito. Não existe efeito sem causa.

sub lege libertas
Latim: Liberdade dentro da lei. Liberdade sem lei degenera em licenciosidade.

sufficit diei malitia sua
Latim: A cada dia basta o seu mal. Cristo aconselha-nos a não nos preocuparmos com o futuro, que está nas mãos de Deus (Mt. VI, 34).

sui generis
Latim: Do seu gênero; peculiar, singular. Designa coisa ou qualidade que não apresenta analogia com nenhuma outra.

sui juris
Latim: Do seu direito.
Direito: Diz-se da pessoa livre, capaz de determinar-se sem depender de outrem.

summum jus, summa injuria
Latim: Excesso de direito, excesso de injustiça.
Direito: Axioma jurídico que nos adverte contra a aplicação muito rigorosa da lei, que pode dar margem a grandes injustiças.

sunt lacrimae rerum
Latim: Existem as lágrimas das coisas. Expressão de Virgílio (Eneida, I, 462). Nos grandes infortúnios até os seres inanimados parecem chorar.

suo jure
Latim: Por seu direito; por direito próprio.

suo tempore
Latim: Em seu tempo. No momento oportuno.

super flumina Babylonis
Latim: Junto dos rios de Babilônia. Assim começa o Salmo 137, no qual o profeta-rei chora os sofrimentos do povo eleito, exilado em Babilônia.

sursum corda
Latim: Corações ao alto. Locução proferida pelo sacerdote ao iniciar o prefácio da missa, convidando os fiéis a prepararem suas almas para a participação no sacrifício.

suscipe Sancta Trinitas
Latim: Recebei, ó Santíssima Trindade. Oração que o celebrante faz durante a missa, após o lavabo.

suscipe Sancte Pater
Latim: Recebei, ó Pai Santo. Oração pela qual o sacerdote oferece a hóstia a ser consagrada durante a missa.

sus Minervam docet
Latim: O porco ensina a Minerva. Diz-se sempre que alguém pretende ensinar a outrem aquilo em que ele é especializado. Equivale a: ensinar o pai-nosso ao vigário.

sustine et abstine
Latim: Sofre e abstém-te. Princípio de espiritualidade, que consiste em suportar os incômodos da vida e abster-se de tudo que não seja absolutamente necessário.
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LETRA A http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA B
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LETRA R
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/11/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html

Fonte:
Por Tras das Letras
http://www.portrasdasletras.com.br/

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte IX



I. — Canção de Rolando

1. — Tema da canção

Carlos Magno deve negociar com o rei muçulmano de Saragoça que pede paz. Ganelon, o traidor, permite que Marsile cerque a retaguarda comandada por Rolando. Quando este se decide a pedir socorro a seu tio, todos os bravos, inclusive Olivier e o arcebispo Turpin, morrem. Carlos Magno aniquila os sarracenos e em Aix-la-Chapelle. Ganelon é esquartejado.

2. — Tema histórico

Einhard escreve em aproximadamente 800 (Vita Karoli, IX) que o emir da Saragoça solicitou o auxílio de Carlos contra os príncipes muçulmanos (777 em Paderborn) No dia 19 de abril de 778 Carlos Magno atravessa os Pireneus, toma Pampelune e malogra-se em Saragoça. No dia 15 de agosto de 778 sua retaguarda é surpreendida pelos bascos no desfiladeiro de Roscenvales. Carlos não pode castigar os montanheses.

Desta forma, para os bascos, a imaginação popular teria substituído os sarracenos, inimigos arraigados dos cristãos.

Conforme a versão árabe de Ibn-al-Athir (século XIII), os sarracenos aliciados junto aos francos, teriam auxiliado os bascos.

Gaston Paris adere a esta opinião e diz que Einhard registrou um fato inexato para poupar o amor-próprio dos francos.

3. — Arquivos históricos

Estes acontecimentos são ainda anotados nos Anais de Angilbert, em 778, na crônica do astrônomo Limousin Vita Kludovici.

Eis a crônica do frade de Silos (aproximadamente 1110), ato da fundação da abadia de Saint-Pede-Gèneres em Bearn (1096); história eclesiástica de Fleury (1109); epístola III de Raoul le Tourtier (antes de 1114); Les exploits de Tancrède (As proezas de Tancredo), de Raoul de Caen (1112-1118). Uma cruz adorna a gola de Cize antes de 1106 e é mencionada numa Carta Episcopal de Baiona, em 980; os arquivos de Pampelune (1127), falam de uma capela erguida por Carlos Magno nesse local de carnificina.

4. — Os personagens históricos

Rolando era verossimilmente um conde de la Marche da Bretanha. Carlos, que na realidade tem apenas trinta e sete anos, torna-se o imperador da “Barba florida”. A lenda deforma os fatos e, para melhor expor a bravura de Rolando, quatrocentos mil sarracenos combatem vinte mil francos.

Costuma-se relacionar também esses acontecimentos históricos a Guilherme, duque de Septimânio, de Toulouse e de Aquitânia, que, em 793 foi derrotado pelos sarracenos, em Villedaigne. Em 806, Guilherme retirou-se para o mosteiro de Gellone onde morreu em odor de santidade (28 de maio de 812). O mosteiro fez sua apologia e assim foi inspirada a lenda.

5. — Os manuscritos

A versão assonante do manuscrito de Oxford (quatro mil versos em decassílabos do início do século XII) é a mais conhecida. Bédier localiza-a entre 1080 e 1134. Para Gregório, essa versão prender-se-ia ao episódio de Baligant. A de decassílabos assonantes conservada na biblioteca de São Marcos, em Veneza, está muito próxima do texto de Oxford (manuscrito IV, fundo francês). Nas versões rimadas, notamos o manuscrito de Châteauroux; outro grupo compreende textos semelhantes (manuscrito VII, São Marcos, em Veneza; Biblioteca Nacional de Lião, Cambridge.

O Rolando alemão foi escrito por Konrad (Ruolandes liet) conforme o texto de Oxford; o mesmo se dá com a versão norueguesa redigida em, aproximadamente, 1240, por ordem do rei da Noruega Haakon V (Capítulo VIII da Karlamagnussaga). Deve-se ainda registrar uma versão galesa (século XIV), dos poemas ingleses, neerlandeses, latinos (Carmen de prodicione Guenonis), ou os dois poemas de Apt em língua provençal (estudados por Mario Roques).

6. — O autor

O último verso do poema de Oxford: Ci falt la geste que Turoldus déclinet fez com que se procurasse o sentido de “déclinet” que tanto pode significar procurar, refundir ou recitar. Faral (Les jongleurs en France, 1910) mostrou essa aristocracia das clérigos menestréis. Turold seria então um “pelotiqueiro considerado autor”, provavelmente de origem normanda. Na tapeçaria de Bayeux aparece um Turold que se julgou ser um padre, beneditino de Fécamp, filho do antigo preceptor de Guilherme, o Conquistador (Génin). Tavernier pensa no bispo de Bayeux, nascido entre 1055 e 1060.

Para Boissonnade (1923), esse clérigo pelotiqueiro, de caráter independente e fé profunda, oriundo de Avranchin, teria sido o companheiro de Roger de Seis ou Sai; seus nomes são encontrados numa Carta do capítulo Notre-Dame de Tudela.

7. — Origem

Sendo a teoria das cantilenas destruída por Rajna, a crítica de Bédier parece tornar-se definitiva. A importância dos santuários situados entre Blaye e Roscenvales — la Via Tolosana — é confirmada na lenda que envolve a vida secular de Guilherme. Os louvores religiosos, conservados nos anais de 1124 com os atos de doação, certamente excitaram ainda mais a imaginação do poeta de profissão do que a magra informação contida nos anais carolíngios.

É por essa razão que Mireaux, baseando-se no Guide des Pèlerins (1140) investiga se o olifante exposto em Saint-Seurin de Bordéus existia antes da canção ou se foi originado por ela. Boissonnade liga o evento da nossa canção às empreitadas das cruzadas francesas na Espanha nos séculos XI e XII.

8. — Valor da lenda

As canções evocam personagens históricos. Para Pauphilet (Romania, LIX, 1933), o principal personagem continua a ser Carlos Magno. Mas para Mireaux, a obra de Turold visaria a glória e os desígnios de Henrique Plantageneta tornando sua a concepção cisterciense da cruzada.

Todavia, as memórias evocadas pelo autor são as que mais nos interessam. Mário Roques (Romania, n.o 263, julho de 1940), mostrou a preocupação do poeta perante as verdades materiais e psicológicas. É enfim uma obra de criação poética na qual os temas tornaram-se imortais.

Essa lenda simboliza também as guerras efetuadas por Carlos Martel e principalmente as de Carlos Magno a fim de realizar a unificação do catolicismo; para agradecê-lo por este fato, o Papa Leão III coroou Carlos Magno imperador, no dia de Natal no ano 800.

9. — Sucessão literária

Se A. Fabre (campeão 1941) mostrou que La chanson de Roland era a origem e a base da Chanson de Sainte-Foy, Le dit de la bande d’Igor é o tema russo em homenagem aos “príncipes que se bateram pelos cristãos contra os exércitos pagãos”.

O assunto inspira o romance de Gabien, as Conquestes de Charlemagne de David Aubert. Mas depois de Spagna, o Morgante de Pulci (1485) dirige Rolando para o burlesco. O ideal mundano aparece mais desenvolvido no Roland amoureux. Mas Boiardo falece (1494) deixando sua obra inacabada. Ariosto vê apenas em Rolando um amante enganado, mas seu Roland furieux (1516-1532) influencia Mairet; Quinault (1685) compõe com a música de Lully. Vigny, ao escrever Le cor (1825) pensa na narração de Turpin; Monin (1832) atrai a atenção dos letrados com seu Roman de Roncevaux, enquanto Francisque Michel estudava o manuscrito de Oxford.
-------------
continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Trova LXXV - Antonio Manuel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)

Montagem da trova sobre arte de Nelli Neto e desenho do site de Sardenberg

Claudia Schroeder (Caldeirão Literário do Rio Grande do Sul)



JANTAR

A música estranha
o vinho pálido-branco
o aspargo
a couve-chinesa
(o menu para um a francesa).
Ah, como são tristes
os pratos
de porção única
quando há espaço
para dois
na mesa.

Esta poesia obteve o segundo lugar no Concurso de Poesias Helena Kolody 2009
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PÁLPEBRAS

Quando as pálpebras dobram duplamente
é porque estou velha.
É porque estou anja, calejada, já eterna.
É porque sou passada do tempo
mesmo que o cônjuge me ache linda
ao vento.
Quando o espelho mostra que o meu piscar
faz duas dobras
eu vejo tudo o que sobra
tudo o que fica
e o que me conforta.
Vejo que o tempo não passou:
está passando
bem na minha porta.
Mas não tenho mais fôlego
para trocar de endereço.
Ele me acha, mesmo assim:
tem um pacto com os correios dos anos.
E então eu tento não piscar resoluta
para que as pálpebras não se dobrem
absolutas.
Mas elas o fazem bem no risco
entre a sombra
e a pele virgem:
uma dobra entre a fronteira da maquiagem
e da estiagem
do tempo sobre a minha pele.
Quando há dobras nas pálpebras
o meu eu se dobra
para o tempo
agora.
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EM BRANCO

As minhas canetas sem carga
deixaram tudo em branco:
os bilhetes
as cartas
o papel da pipoca perdido no banco.
Só podiam ver o escrito
tocando os dedos.
(O afundar da ponta da caneta sem tinta
deixou escrito o que eu tinha a dizer:
todos os meus segredos.)
E a vida ficou em braile às avessas.

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Sobre a Autora
Claudia Schroeder é publicitária de formação e escritora de coração. Publicou um livro aos 14 anos e outro aos 17 na sua cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul. Contribuiu com revistas e foi colunista de um jornal da mesma cidade dos 16 aos 19 anos. Expôs seus quadros em 2004 e em 2005 expôs textos, poesias e pinturas na Exposicão P.O.A – Pacífico Oceano Atlântico, projeto de Claudia e do artista plástico chileno Jorge Moraga em Santiago do Chile e em 2006, na Galeria de Arte do DMAE em Porto Alegre. Foi uma das criadoras da primeira Galeria Virtual de Arte do Brasil, que não está mais no ar. Hoje é Gerente de Criação de uma agência de propaganda, mas continua escrevendo poemas, romances, pequenos textos e poesias infantis.
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Fontes:
Secretaria de Cultura do Paraná.
http://pequenamorte.com/
Imagem = http://www.vale9conto.com.br

José Neres (O “boom” da Literatura Maranhense”)


Não é nenhum exagero afirmar que até a terceira década do século XIX não se pode falar em literatura maranhense, embora haja registros históricos de produção poética no Maranhão, principalmente em São Luís. Tudo, porém, feito de forma assistemática, sem o mínimo interesse de atingir as demais regiões brasileiras.

Data de 1832 o poema que oficialmente dá início ao “boom” da literatura maranhense. Trata-se de “Hino à Tarde”, de autoria de Odorico Mendes. Sílvio Romero, declara sobre tal poema que nunca o pôde “ler sem boa e saudosa emoção”. A partir daí, o Maranhão, que era aparentemente uma terra sáfara para as letras começa a produzir uma boa quantidade de escritores de grande talento, chegando sua capital a receber o honroso epíteto de Atenas Brasileira, em homenagem à quantidade e à diversidade de valores intelectuais surgidos em tão pouco tempo.

Tão importante é a produção literária do Romantismo maranhense na vida literária brasileira que José Veríssimo, um dos mais exigentes críticos da literatura nacional, dedica todo o décimo primeiro capítulo de seu mais importante livro ao estudo dos valores artísticos do Maranhão, tecendo elogiosos comentários às publicações de Gonçalves Dias, João Lisboa, Sotero dos Reis, Odorico Mendes, Lisboa Serra e Franco de Sá. O título do referido capítulo não poderia ser mais sugestivo: “Gonçalves Dias e o Grupo Maranhense”.

Na mesma época, Sílvio Romero, em sua História da Literatura Brasileira, não poupa páginas ao escrever sobre os românticos maranhenses, tratando de forma especial a produção de Joaquim Serra, Trajano Galvão, Gentil Braga e Sousândrade, além de também estudar os nomes já assinalados por José Veríssimo. O ilustre crítico sergipano chama mesmo a afirmar que “ o Maranhão é uma de nossas províncias onde o espírito popular é mais vivaz”, mas reconhecendo também a diversidade cultural e intelectual da província, já que os escritores eram tão diferentes que “o laço que os prende é terem nascido na mesma terra e vivido quase todos no mesmo tempo”.

Mas não foram apenas os escritores citados acima que mereceram destaque dentre os tantos que participaram do Grupo Romântico Maranhense. Merecem citação também Maria Firmina dos Reis, nossa primeira escritora, autora do, infelizmente, quase desconhecido romance Úrsula; Antônio Henriques Leal, brilhante biógrafo, a quem se deve farto material sobre a vida e a obra dos principais intelectuais do século XIX; José Cândido de Morais, o Farol, combativo jornalista que, dono de um estilo vibrante, desafiou os poderosos da época; Joaquim Gomes de Sousa, um dos maiores matemáticos do Brasil; Belarmino de Matos, o famoso tipógrafo que imprimiu grande parte das obras de seus contemporâneos; e tantos outros intelectuais, que não se limitavam à arte literária, mas sim compunham um verdadeiro quadro cultural de múltipla abrangência.

Desse belo momento da história literária do Maranhão não restaram apenas saudades, mas também inúmeras obras que continuam despertando o interesse tanto dos que lêem por diversão como dos que pesquisam as letras nacionais. Além dos Cantos de Gonçalves Dias, do Guesa (de Sousândrade), do Pantheon Maranhense (de Henriques Leal), do Jornal de Timon (de João Lisboa) e das eruditas traduções de Odorico Mendes, muitas outras obras merecem leituras e estudos. É o caso de, por exemplo, de A Casca da Caneleira, novela organizada por Joaquim Serra, mas que foi escrita a 22 mãos, contando com capítulos escritos por Gentil Braga, Raimundo Filgueiras, Marques Rodrigues, Trajano Galvão, Sotero dos Reis, Henriques Leal, Dias Carneiro, Sabbas da Costa, Caetano Cantanhede, e Sousândrade, além do organizador do volume; do romance Úrsula, que marca um novo modo de abordar o negro na ficção e dos poemas sertanejistas de Trajano Galvão e Gentil Braga.

Também devem ser lidas as peças teatrais de Gonçalves Dias, principalmente Leonor de Mendonça, reconhecida por Décio de Almeida Prado como uma das melhores produções da dramaturgia nacional.

Aquele áureo período não mais voltará. Vale a pena, porém, como resgate do momento áureo do Maranhão, reproduzir algumas das palavras de José Veríssimo, ao comparar os poetas maranhenses do Romantismo com os fluminenses do mesmo período literário. O crítico paraense, após enumerar os cinqüenta e dois membros do nosso Grupo Romântico diz:”O que o situa e o distingue na nossa literatura e o sobreleva a essa mesma geração é a sua mais clara inteligência literária, a sua maior largueza espiritual. Os maranhenses não têm os blocos devotos, a ostentação patriótica, a afetação moralizante do grupo fluminense, e geralmente escrevem melhor que estes.”

Fonte:
José Neres. Literatura Maranhense. Disponível em http://joseneres.sites.uol.com.br/

Odorico Mendes (Hino à Tarde)



Que amável hora! Expiram os favônios;
Transmonta o Sol; o rio se espreguiça;
E, a cinzenta alcatifa desdobrando
Pelas azuis diáfanas campinas,
Na carroça de chumbo assoma a tarde...
Salve, moça tão meiga e sossegada;
Salve, formosa virgem pudibunda,
Que insinuas cos olhos doce afeto,
Não criminosa abrasadora chama!
Em ti repousa a triste humana prole
Do trabalho do dia, nem já lavra
Juiz severo a bárbara sentença,
Que há de a fraqueza conduzir ao túmulo.
Lasso o colono, mal avista ao longe
A irmã da noite coa-lhe nos membros
Plácido alívio: — posta a dura enxada,
Limpa o suor que em bagas vai caindo..
Que ventura! A mulher o espera ansiosa
Cos filhinhos em braço, e já deslembra
O homem dos campos a diurna lida;
Com entranhas de pai ledo abençoa
A progênie gentil que a olho pula.
Não vês como o fantasma do silêncio
Erra, e pára o bulício dos viventes?
Só quebra esta mudez o pastor simples,
Que, trazendo o rebanho dos pastios,
Coa suspirosa frauta ameiga os bosques...
Feliz! que nunca o ruído dos banquetes
Do estrangeiro escutou, nem alta noite
Foi à porta bater de alheio alvergue.
Acha no humilde colmo os seus penates,
Como acha o grande em soberbões palácios.

Ali também no ouvido lhe estremecem
De mãe, de amigo os maviosos nomes;
Conviva dos festins da natureza,
Vê perfazerem-se as funções mais altas:
— O homem nascer, morrer, e deixar prantos...
Agora ia entre prados, após Laura,
O ardido vate magoando as cordas;
E a selvática virgem, recolhendo
A grave dor cristã, que a assoberbava
Do mancebo cedia à paixão nobre,
Grande e sublime, como os troncos do ermo...
Ai! mísera Atalá!... mas rasga o fogo,
E o sino soa pelas brenhas broncas.
Tarde, serena e pura, que lembranças
Não nos vens despertar no seio d'alma?
Amiga terna, diz-me, onde colhes
O bálsamo que esparges nas feridas
Do coração? Que apenas dás rebate,
Cala-se a dor; só geras no imo peito
Mansa melancolia, qual ressumbra
Em quem sob os seus pés tem visto as flores
Irem murchando, e a treva do infortúnio
Ante os olhos medonha condensar-se.
Longe dos pátrios lares, quem não sente
Os arrebóis da tarde contemplando
Um súbito alvoroço? Então pendíamos
Dos contos arroubados que verteram
Propícios deuses nos maternos lábios;
E branda mão apercebia o berço
Em que ternos vagidos
Infausto anúncio de vindouras penas.
Sobre o poial sentada a fiel serva
Que vezes atentei chamando ao pouso
A ave tão útil que arrebanha os filhos,
E adeja e canta, e pressurosa acode!
Coa turba de inocentes companheiros,
Agora sobre a encosta da colina,
A casta Lua como mãe saudávamos,
E suplicando que nos fosse amparo,
Em jubilosa grita o ar rompíamos.
Mas da puerícia o gênio prazenteiro
Já transpôs a montanha; e com seus risos
Recentes gerações vai bafejando.
A quem ficou a angústia que moderas,
Ó compassiva tarde? Olha-te o escravo,
Sopeia em si os agros pesadumes:
Ao som dos ferros o instrumento rude
Tange, bem como em África adorada,
Quando (tão livre) o filho do deserto
Lá te aguardava; e o eco da floresta,
Da ave o gorjeio, o trépido regato,
Zunindo os ventos, murmurando as sombras,
Tudo, em cadência harmônica, lhe rouba
A alma em mágico sonho embevecida.
Não mais, ó musa, basta; que da noite
Os pardos horizontes se tingiram,
E me pesa e carrega a escuridade.
Oh! venha a feliz era que da pátria
Nessas fecundas, dilatadas veigas
Tu mais suave a lira me temperes
Da singela Eponina acompanhado
Na escura gruta que nos cava o tempo
Hei de ao vale ensinar canções melífluas
Nos lindos olhos, nos mimosos beiços,
Nos alvos pomos, no ademã altivo
Irei tomar as cores que retratem
Da natureza os íntimos segredos.
Do ardor da esposa; do sorrir da filha;
Do rio que espontâneo se oferece
Da terra que dá fruto sem o arado
Da árvore agreste que na densa grenha
Abriga da pendente tempestade
A sobreolhar aprenderei haveres,
A fazer boa sombra ao peregrino,
A dar quartel a errado viandante
Lá estendendo pelos livres ares
Longas vistas, nas dobras do futuro,
Entreverei o derradeiro dia...
Venha; que acha os despojos do homem justo
Ó esperança, toma-me em teus braços;
Com a imagem da pátria me consola!
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte VIII



CAPÍTULO III

AS CANÇÕES DE GESTA

As canções de gesta nasceram na excitação religiosa e guerreira; os frades e os prestidigitadores desenvolveram seu suporte histórico, a ficção embrionária num objetivo preciso. Não são obras coletivas; gentes de ofício fixaram uma obra maduramente pensada. Bédier demonstrou a influência exercida pela vida dos santos, e a marcha dessas epopéias nas vidas dos santuários; pois que essas obras morais deviam reter e “explorar o peregrino”.

1. — Histórico das teorias sobre a origem

1. Em 1830, para Fauriel, Wolf, Herder e Edgar Quinet, a lenda vem de um canto popular contemporâneo ao evento histórico. A poesia nasceu espontaneamente; esses contos são “Ilíadas em potência”

2. Os irmãos Grimm “germanizaram” as canções de gesta. Essa poesia popular exprime a alma da coletividade; não é escrita por um poeta, mas pelo povo. Os escribas apenas a coletaram. J. J. Ampère é da mesma opinião;

3. Em 1835, Leroux de Lincy denomina de Cantilenas os velhos cantos populares. Essa teoria das origens faz parte do ensino com as Histoires de la littérature française de Demogeot (1851) e de Gérusez (1852);

4. Gaston Paris admite essa origem mas controla os cantos que seriam de origem merovíngia e não tudesca;

5. Em 1884, Pio Rajna mostra que a canção de gesta é o término da epopéia merovíngia herdeira da epopéia franca; foi adaptada somente para a aristocracia germânica. (Carlos Magno fala alemão). Rajna arruina a teoria das cantilenas e mostra que a epopéia era composta de longos poemas estruturais. Mayer conserva a tradição oral, Gaston Paris, a noção do canto lírico-épico;

6. Bédier observa a importância dos santuários situados nas estradas das grandes peregrinações que conduzem para São Tiago de Compostela. Assim sendo, a igreja é o berço das canções de gesta. que nada mais são do que “a história poética de uma estrada”. Bédier traçou a “estrada dos santuários”. A chanson de Fierabras foi composta pela abadia de Saint-Denis para que melhor se venerasse o Cravo da Cruz e a Coroa de Espinhos do Cristo.

2. — Situação dos ciclos

Indicamos sumariamente a composição de três ciclos principais:

A) Gesta do rei Carlos Magno — É o ciclo mais nobre; narra guerras santas efetuadas pelo Imperador. A título de indicação citaremos como a mais antiga canção de gesta a Chanson de Roland.

Observemos a descrição das guerras santas: Da Itália (Canções d’Aspremont, d’Otinel, as Canções Enfances d’Ogler, de Balan, de Jean de Lanson, de Bete et Milon); da Palestina (Canção de Miran, Pèlerinage à Jerusalém, o Chevalier au Cygne, Chanson d’Antioche); da Bretanha a fim de libertar as sete igrejas (Chanson d’Aiquin); contra os Saxônios (Chanson de Saisnes); da Espanha (Chanson de l’Entrée en Espagne, de La prise de Pampelune, de Pierabras, e d’Agolant, de Roland, de Galien, d’Anseis).

B) A gesta de Garin de Monglane — São as pesquisas de Luis, filho de Carlos Magno, apoiado pelo cavaleiro Guilherme. Não tratando deste ciclo, daremos alguns dados.

1. O coroamento de Luís — Poema do século XII que marca a chegada de Luis em Aix-la-Chapelle. Guilherme Fierebrace — o verdadeiro herói — combate até Corsolt, o gigante. Cogitou-se historicamente no conde de Toulouse, Guilherme, que foi defensor das marchas meridionais contra os sarracenos. Ao retirar-se para o mosteiro em 806, tornou-se São Guilherme do Deserto; nossos dados limitam-se a esta descrição. Guilherme morreu antes do coroamento de Luís.

2. O carreto de Nimes — Por ocasião da distribuição de méritos e feudos, Guilherme foi esquecido pelo rei. Reivindica então o direito de conquistar a Espanha e o reinado de Nimes. Penetra em Nimes disfarçado num vendedor de barris de sal onde estão escondidos, na realidade, seus soldados. (O que nos faz lembrar o cavalo de pau da Ilíada ou As mil e uma noites).

Guillaume au court nez (Guilherme de nariz curto) é um herói popular; a narração é truculenta, pitoresca e cômica. Notemos o episódio da morte do cavaleiro Renouart no qual o autor pensa no ciclo arturiano ao falar da fada Morgana e do rei Artur. Guilherme está ainda presente na Prise d’Orange (Tomada de Orange), Aliscans.

Os ascendentes de Guilherme estão presentes com:

1. Aymeri de Narbonne — Cinco mil versos decassilábicos atribuídos a Bertrand de Bar-sur-Aube (Princípio do século XIII), divididos em cinco manuscritos anônimos. Aymeri, depois de haver conquistado Narbonne partiu para a Itália a fim de desposar Hermengarda, irmã do rei dos Lombardos. Deve reconquistar dos sarracenos aquilo que lhe pertencia.

Com o Département des enfants d’Aymeri vemos a luta de seus sete filhos contra os sarracenos. Aymeri morre combatendo os Centauros (os Sagitários); seus quatro mil versos têm o titulo La mort d’Aymeri de Narbonne.

Victor Hugo lembrou-se dessa lenda em Aymerillot (A lenda dos séculos).

2. Girardo de Viena — Durante sete anos Girardo é sitiado em Viena por Carlos Magno. Oliver combate ao lado de Girardo. Ora, Rolando apaixona-se por Aude, irmã de Oliver. A fim de terminar a guerra, Rolando e Oliver empenham-se num combate implacável; um anjo aparta os combatentes e Rolando esposa Aude.

Baseado nesse tema, Victor Hugo escreve Le mariage de Roland (O casamento de Rolando), La Légende des siècles (A lenda dos séculos).

Mas os descendentes de Guilherme deram origem a: Les enfances de Vivien (As infâncias de Vivien), Foucon de Candis, La batalhe Loquifer (A batalha Loquifer), Rénier enquanto que seus irmãos estão presentes no Bovon de Commarcis, Le siége de Barbastre (O sitio de Barbastre), Guibert d’Andrenas ou La prise de Cordoue (A tomada de Córdoba). C) A gesta de Doon de Mogúncia — É a narração da revolta dos cavaleiros rebeldes de Carlos Magno. Estudaremos melhor na Chevalerie d’Ogier os Quatre fils Aymon (Os quatro filhos Aymon), lenda justamente célebre e que é prosseguida por Maugis d’Aigremont e La mort de Maugis (A morte de Maugis).

O orgulho, a loucura, o exagero formam o fundo dessas canções onde rancores imperdoáveis nasceram (Chanson d’Aubri le Bourguignon, de Basin, de Girard de Roussillon, de Gormond). Mas, às vezes, os barões já não lutam contra Carlos Magno e sim entre si (Raoul de Cambrai, Les Lorrains).

Observemos que a história de Gormond e Isambard foi composta pelo, abade Hariulf, em 1088, conforme a crônica de Saint-Riquier. É pois ainda um santuário que guardou a tradição doa invasores escandinavos que ameaçaram a França em 879. E exato que um dos Wikings se chamava Gormond, que seus bandos devastaram Ponthieu em 2 de fevereiro de 881, e que no dia 3 de agosto de 881, Luis III os desalojou. As crônicas anglo-saxônicas mencionam um Gormond estabelecido em Circester em 879 e um clérigo cometeu o contra-senso de confundir os dois Gormond.

D) Finalmente os empresários dos espetáculos desejaram satisfazer os públicos mais vulgares. As canções de gesta se transformaram em melodramas. Surgiu o tema da inocência perseguida (Elie de Saint-Gilles, Doon de La Roche...), o das damas oprimidas (Berthe aux grands plods, Les enfances Doon, Orson de Beauvais). São peças moralistas onde se assiste ao castigo do crime.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores