terça-feira, 24 de novembro de 2009

Antonio Juraci (Canto Libertador)


Escuta, nos poemas que te oferto,
batidas de tambor, rumor de remos
retalhando essas águas seculares
onde remaram nossos bisavós.

Ouve os gritos de dor rasgando o tempo
nos porões dos navios, nas senzalas,
nos troncos, nas fazendas, nos garimpos
a retumbar no âmago de nós.

É preciso correr! O tempo urge!
Carece remover o esterco, a lama
que a História sobre nós depositou.

E é preciso cantar! Ódio e tristeza
não trarão água e pão à nossa mesa,
não cobrirão de flores nosso chão.
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Fonte:
Imagem = Instituto de Estudos Avançados da USP. vol.16 no.46 São Paulo Set./Dez. 2002. Artigo Liberalismo e Escravidão.

Neida Rocha Classificada no III Concurso Nacional Poeart De Literatura



Neida Rocha obteve duas poesias classificadas e serão publicadas no livro Vozes de Aço - V – Antologia Poética 2009

PORQUE SOU POETA

Porque busco viver
os sentimentos da vida,
acreditando na felicidade
como meio para a vida.
Porque sinto a beleza de estar viva,
querendo apenas sentir o sabor do amor,
ouvindo a brisa que desce lentamente,
entregando minha alma ao cósmico.
Porque acredito que a vida vale a pena.
Porque sonho acordada
e vivo o sonho de ser feliz.
Porque vivo a felicidade eterna
com lacunas de alegria.
Porque agradeço
o poder de sentir e a liberdade
de dizer meus sentimentos
com a emoção de estar viva.
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AMIGO SEMPRE

Quero te dizer amigo,
como hoje estou feliz,
pois eu conto contigo,
sempre quando te procuro,
em qualquer tempo
a qualquer hora,
para chorar minhas mágoas
ou te contar minhas alegrias.
Sei que és meu camarada,
seja noite ou seja dia.
Por isso eu quero gritar
como é bom ter um amigo
que me acolhe quando eu choro
ou me abraça quando estou feliz.
Mas agora meu companheiro
quero te dizer de perto
e olhando nos teus olhos
que tens o meu afeto,
pois quando eu preciso
tu estás ao meu lado
e quero que saibas
que aqui tens um amigo
para quando tu precisares.
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Fonte:
Colaboração da poetisa.

Alberto Peyrano (Uma noite Memorável)



Uma reunião à beira de um lago, na Suiça, marcou a mudança fundamental de quatro escritores e ao mesmo tempo surgiria, projetando-se desde as sombras do inconsciente para a noite dos tempos futuros, um dos mais famosos monstros da literatura moderna de terror: “Frankenstein”.

Lago Le Man, Genebra, Suíça.

Na fria e tempestiva noite de 16 de junho de 1816, começo de um verão atípico (os efeitos da erupção de um vulcão da Indonésia tinha dado uma queda na temperatura, no centro da Europa).

Junto ao lar aquecido, uma jovem lê em voz alta, pausada e acentuadamente, as passagens de um conto de terror. Em frente a ela, três homens e uma mulher escutam atenciosamente.

O jogo de luzes aludia demonstrando as chamas, que realçando o grande ambiente quase em penumbras, colocava em movimento as sombras aleatórias que incorporadas aquele momento, deixava o cenário com toque de realidade.

Parecia um contexto completo, como se parte de uma fantasmagórica cenografia fosse de fato a história contada, daquele local, ou seja, dentro da enorme e antiga mansão.

A tensão aumenta. Eles se acomodam em seus assentos, cruzam e movem as pernas impacientes, numa evidente demonstração automaticamente nervosa. A jovem ouvinte, olha para atrás pois tem a impressão de ver algo se mover na escuridão, o mais jovem deles repetidamente reconta os dedos sobre o braço que apoiado ao sofá.

A atenciosa leitora, que não tem mais do que 18 anos, ininterruptamente, mantém sua leitura, totalmente compenetrada na história traduzindo com ênfase perfeita sua narrativa.

Ao concluí-la, o silêncio é total, cada um impressionado e calado, refletindo o que acabara de escutar. O ambiente tenso, deixa no ar a presença do medo que sob o clima do local, chega a demonstrar o efeito perturbador que de todos se apossa.

Rompendo a lassidão, um dos homens levanta-se lentamente, e veste uma longa bata de veludo vermelho. Seu olhar é profundo, o cabelo, ondulado e escuro, toma matizes dourados à luz das aludidas chamas.

Caminha mancando e em passos vagarosos, aproxima-se da jovem narradora lentamente.

Observando-a para a sua frente e fixando o olhar naqueles olhos grandes e claros, agarra o livro que esta apoiado em seu colo e se voltando aos demais brada com autoritarismo, seriedade e firmeza:

-“Escrevamos uma história de fantasmas cada um de nós”.

Afora, a tormenta desata-se, os céus derrubam-se sobre o mundo numa catarata eletrizada que continuamente e de forma aterrorizante, quebra a escuridão. O rugido da tempestade põe sua nota grave nesse apocalíptico concerto de fúria e destruição. Sem o poder de locomoção em razão do tempo e suas consequências, evidencia-se que sair dali é inviável. Assim, nossos quatro amigos, a mercê do tempo e das condições ficam confinados naquele lugar ermo, sem referências nem previsões do tempo exato que por lá, se manterão.

(No verão de 1816, o casal formado pelo poeta Percy Shelley e a escritora Mary Wollstonecraft (posteriormente conhecida como Mary W. Shelley), acompanhado por Claire, irmã de Mary, decidiu viajar desde Londres até o lago Le Man, na Suíça.

Ali contactaram-se com o poeta Lord Byron, que achava-se temporariamente na área, e com John Polidori, o médico pessoal de Byron. Não demoraram em fazer amizade e surgiu entre eles uma relação amistosa que foi-se acentuando com o correr dos dias.

Suas reuniões noturnas chegavam até altas horas ou, as vezes, até a saída do sol. Os quatro discutiam e trocavam idéias sobre filosofia, literatura, política.

Mas antes de continuar com esta história, é preciso localizar-nos em suas respectivas pessoalidades e vidas, para se ter uma melhor aproximação e um maior entendimento sobre a gênese de “Frankenstein”.

John Polidori nasceu em Londres, em 1795. Seu avô tinha sido um médico que escrevia seus tratados em forma de poemas, e seu pai –quando vivia na Itália- desempenhou-se como secretário do poeta Antonio Alfieri. De um modo ou outro, Polidori tinha contato com poesia já desde sua própria genealogia.

Daí que suas vocações se dividiam entre o Humanismo e a Medicina.

Graduou-se como médico aos 19 anos e sua tese doutoral versou sobre sonambulismo. Admirava profundamente a Lord Byron e cumpriu um de seus sonhos quando o poeta o nomeou médico pessoal e convidou-o a acompanhá-lo à Suíça. Conquanto ao começo a relação entre ambos foi muito boa e de muita cordialidade, não demorou Byron em prejudicar o jovem galeno, humilhando-o quanto podia, burlando-se ironicamente dele e especialmente do que escrevia.

Lord Byron, um dos maiores poetas de fala inglesa, dono de uma excêntrica personalidade e perseguido desde sempre pelos escândalos, tinha nascido em Londres em 1788 e passou sua infância na Escócia.

Era coxo de nascimento. Aos 10 anos regressa a Londres e recebe, como herança de um tio avô, o título de nobreza e umas quantas propriedades. Aos 20 anos consegue uma cadeira na Câmara dos Lores e começa a viajar pela Europa ao mesmo tempo que sua fama poética se estendia por todo o continente. Em 1815 casou-se – talvez para dar por terra com os rumores de uma relação incestuosa com sua irmã- e foi abandonado por sua esposa ao ano seguinte. Dessa união nasceu uma filha que nunca conheceu. Em poucos meses, abrumado pelos escândalos, abandona para sempre sua Inglaterra, não sem antes levar-se com ele a seu médico, dada sua débil natureza enfêrma.

Percy Bisshe Shelley, nascido em 1792 em Sussex, pertencia à nobreza. Desde muito jovem germinaram nele idéias sobre ateísmo e amor livre, que levava para seus versos ironicamente. Isto lhe valeu a expulsão de um dos melhores colégios de Oxford. Contava então 19 anos. Apaixonado de Harriet Westbrook, fuga-se com ela à Escócia. Persistindo em suas idéias sobre o amor livre, convida a seu camarada Hogg a compartilhar com ele sua casa e sua mulher, mas Harriet negou-se.

Voltam a Londres, têm dois filhos, e a crescente infelicidade em seu casal faz que o poeta, ao freqüentar a livraria de Mr. Godwin, apaixone-se da filha do livreiro, Mary. Quatro anos depois daquela primeira fuga, Percy volta a repetir o fato, abandonando sua família e levando-se à Mary e sua irmã Claire com ele. Os três viajam para a França e depois se estabelecem na Suíça. Mas não demoram em voltar a Londres. Novamente ali, Claire tem amores com o poeta Byron, quem aos poucos perde interesse por ela e parte para a Suíça. É então que Claire pede a Mary e Percy partir novamente para o continente a seguir da pista de seu amante. Os três, no verão de 1816, chegam ao lago Le Man.

Nascida em Londres em 1797, Mary Wollstonecraft Godwin tinha ficado órfã de mãe aos poucos dias de nascer. Posteriormente seu pai voltou a casar-se e brindou à menina uma esmeradísima e enciclopédica educação que faria de Mary uma mente brilhante. Desde pequena contata-se com literatura e com toda a magia das terras altas escocesas onde passava seus verões. Sua união com Shelley lhe facilitou o aprofundamento em Poesia e Filosofia. Amava profundamente ao jovem poeta, ainda que não cedeu aos mesmos requerimentos que Shelley tinha feito com sua primeira esposa: compartilhá-la com seu amigo Hogg. Frente aos desencontros amorosos de sua irmã, decide ajudá-la e os três partem para Suíça.)

A partir daquela noite nada voltaria a ser igual. Byron e Shelley, sem decidir-se a escrever o consignado conto, preferiram fazer longas caminhadas, realizaram curtas viagens até pontos próximos nos Alpes franceses e saíam a navegar numa embarcação pelo lago. Durante o dia, os dois poetas foram afiançando pontos de vistas sobre amor livre, sexualidade e moral, fortificando laço afetivo.

Durante a noite, Shelley se retirava a seus aposentos junto com sua esposa e Byron dormia com a jovem Claire. Esta notável amizade entre Shelley e Byron fez que um fosse influindo no outro, conseguindo ambos mais maturidade em suas futuras produções (assim, nota-se a influência de Shelley no poema “Manfred” e na última parte da peregrinação “de Child Harold” de Byron e, inversamente, vemos um enorme vôo byroniano no poema “Mont Blanc” de Shelley).

Não obstante, a proposta literária de Byron não tinha passado despercebida nem para Polidori nem para Mary. Depois de várias tentativas que causaram os risos e burlas de Lord Byron, Polidori apelou às antigas lendas da Europa Central e esboçou o rascunho de seu famoso conto “O Vampiro” (que depois de sua morte foi atribuído a Byron, mas atualmente os biógrafos e estudiosos de Polidori e de Byron devolveram ao primeiro a autêntica autoria deste relato). Desde a ótica da literatura de terror, “O Vampiro” é o antecessor direto de uma famosíssima novela que Bram Stoker escreveria oitenta anos depois. Este escritor irlandês, inspirado no relato de Polidori e na figura histórica do caudilho romeno do século XV, Vlad Tepes, conseguiu quase ao final do século (1897) um dos pilares fundamentais do horror com “Drácula”.

Antes de avançar sobre o acontecido com a figura central deste encontro, Mary, não podemos deixar de referir-nos à casa que essa noite os albergava e que tinha alugado Byron por essa temporada, a Vila Diodati. Na mesma e duzentos anos antes, tinha-se hospedado o poeta Milton, autor de “O Paraíso Perdido”, e também tinham incursionado por ela os filósofos Rousseau e Voltaire. Se nos pusermos a pensar um pouco além do que ali se gerou, nossa história se desenvolvia dentro de um marco cênico apropriado, que contava com a impregnação de toda a energia mental e espiritual de seus sucessivos visitantes, somada à dos moradores desse momento. Localizada no coração dos Alpes, a Vila Diodati foi considerada como o ponto de arranque da literatura moderna de terror.

Algo muito diferente de seus colegas passava pelo interior de Mary, como ela mesma o expressara na introdução de sua obra mor:
-“Dediquei-me a pensar num conto, um conto que pudesse rivalizar com os que nos tinham impulsionado a essa tarefa. Um conto que falasse dos misteriosos terrores de nossa natureza, e acordasse medos estremecedores, que deixasse ao leitor com temor de olhar para seu arredor, que paralisasse o sangue e acelerasse os latidos do coração. Se não conseguisse esses resultados, meu conto de fantasmas seria indigno de seu nome”.

Observamos o enorme compromisso interior que a consigna de Byron tinha engendrado em Mary. Não desejava inventar uma história “rápida” ou passageira, que depois de ler-se fora esquecida para sempre. Almejava que sua leitura mexesse com o leitor de forma intensa penetrando em seu mais íntimo interior, a fim de que alguma maneira, pudesse se enfrentar. Revelando sua própria natureza sinistra, escondida, temida e recusada. E foi este o principal objetivo, que norteou Mary, para que dirigisse os passos de sua pluma.

Não foi tarefa fácil, para Mary Shelley, compor a complicada, profunda e transcendente estrutura, argumentativa e de conteúdo, de sua obra cume. Felizmente tinha a seu favor um valioso recurso: seu mundo interior. Ela mesma relata-o desta maneira:
“Quando menina morei no campo e passei muito tempo na Escócia. As vezes fazia visitas às regiões mais pitorescas, mas minha residência habitual estava nas terras tristes e nuas que se estendem ao norte de Tay, perto de Dundee. Tristes e nuas as acho agora, ao recordá-las, mas não eram então para mim, porque resultavam-me um refúgio de liberdade e uma agradável região onde eu podia, longe de toda vigilância, bater papo com as criaturas criadas por minha fantasia.(...) Depois, minha vida se fez mais ativa e apareceu a realidade para recomeçar à ficção”.

Não há dúvida que a consigna de Lorde Byron fez ressoar nela o cordame de uma harpa longamente silenciada e, como marcada por um desígnio superior, respondeu à necessidade de tanger novamente o instrumento que, desde algum lugar de seu passado, reclamava seu atendimento.

É um fato conhecido que a Grã-Bretanha tem um clima mágico grávido de lendas, com uma mitologia própria que não pôde ter passado despercebida para a sensibilidade de Mary. Incubado em seu interior, o cosmos lendário da Inglaterra e Escócia bulia por projetar-se para a pena da escritora quem, ao receber o estímulo lançado por Byron, aciona o disparador fazendo-se cargo de uma tarefa a cumprir que coroou de glória seu propósito. Mas este fato teve todo um processo que poderíamos descrever como obsessivo e angustiante no espírito da moça. É óbvio que quando uma alma está chamada a transcender, a missão se incrusta nela, conscientemente, como uma cruz à que há que carregar até o fim.

Perseguida e controlada pelos colegas de veraneio, Mary não podia tolerar a vergonha de demonstrar seu fracasso os primeiros dias, pois a história requerida não aparecia e tudo o que se lhe ocorria era ao fim desprezado por ela mesma por considerá-lo vulgar, infantil ou passado de moda. “Eu sentia a vazia incapacidade de invenção, a maior desgraça que pode afetar um autor quando à suas ansiosas invocações responde só o nada. (...) Todas as manhãs vía-me obrigada a responder com uma mortificante negativa”.

Nos seus momentos de solidão, enfrentada ao portentoso desafio que carcomía seu cérebro, Mary desenvolveu pensamentos filosóficos que levaram-a se perguntar sobre a origem das coisas, eludindo os supostos e as carências explicativas das causas primeiras dos acontecimentos, numa tentativa por dar um armado lógico a seu trabalho. Somou seus agitados pensamentos ao que ouvia das conversas entre Shelley e Byron, quem passavam longas horas discutindo e trocando idéias sobre “a natureza do princípio da vida e das possibilidades de que chegue alguma vez a ser descoberto e dado a conhecer”. Assim, foram-se embaralhando sobre a mesa interessantes cartas de um naipe maravilhosamente ilustrado com imagens de Darwin, o galvanismo, a eletricidade e os últimos avanços da Física.

Talvez foi este o “clic” que Mary precisava para voltar àquele mundo da infância, quando a fantasia reinava em seu espírito. Essa noite, enquanto todos dormiam, a insônia lhe acordou imagens nas quais ela viu um “estudante de ciências ímpías ajoelhado junto de algo que tinha reunido. Vi elevar-se um horrível fantasma com figura de homem e depois, por obra de algum motor poderoso, dar sinais de vida e agitar-se com um movimento intranqüilo, quase como de um ser vivo”. Ao instante reflexionou sobre o Homem emulando a Deus, gerador de uma criatura a sua imagem e semelhança, e pensou no sentimento de terror que deve invadir àquele que tenha conseguido essa consciência, mediante a qual, o humano criador “fugiria horrorizado de sua horrível obra, desejando que, abandonado a si só, apagasse-se a ligeira luz de vida por ele comunicada. (...) Dorme, mas não demora em acordar e vê que aquilo está em pé junto ao leito, abre as cortinas e o olha com olhos amarelos e aquosos mas investigantes”.

Na manhã seguinte, Mary anunciou que tinha pensado um conto. As primeiras palavras desse relato foram transladadas depois ao capítulo V de sua famosa novela: “Numa lúgubre noite de novembro...”. Completou o livro durante todo o ano de 1817 e foi publicado em janeiro de 1818.

Antes de abordar o comentário sobre a ópera prima desta escritora inglesa, é necessário agregar, para arredondar a nossa história, o final destes quatro destinos que uma vez reuniram-se para se encontrar com outra dimensão humana.

John Polidori foi deixado sem trabalho por Lorde Byron e sua vida entrou em decadência, até que decidiu envenenar-se ingerindo ácido prússico em 1821, quando só contava 26 anos. Seu romance “O Vampiro” surgido do desafio byroniano, é considerado o pioneiro no gênero na Inglaterra e, posteriormente, foi a fonte de inspiração do irlandês Bram Stoker para escrever sua famosa obra “Drácula”, quem depositou na figura histórica do líder romeno Vlad Tepes as condições do não-morto que admiravelmente tinha descrito primeiro Polidori.

Lorde Byron continuou sua amizade com Shelley até a inesperada morte deste em 1822, ao ano seguinte do suicídio de Polidori. Depois, viajou a Grécia para lutar contra os turcos e morreu nesse país, doente de malária, aos 36 anos de idade.

Percy Shelley, pouco antes dos 30 anos, faleceu em um naufrágio. Seu corpo foi devolvido pelo mar dez dias depois e a mesma Mary o fez incinerar na praia onde foi encontrado.

Quanto a Mary, depois de casar-se com Shelley, teve três filhos dos quais apenas sobreviveu um. Quando ela enviuvou dedicou-se a editar e publicar a obra do seu marido, escreveu mais duas novelas e levou uma vida muito calma até sua morte, ocasionada por câncer cerebral, aos 53 anos.

O tema central do romance “Frankenstein” é a criação de um humanóide por um cientista. Isto resultaria muito simplista, se nos atemos literalmente ao exposto, enquanto não indagamos nas causas que levaram a esse fato, explicadas pelo mesmo protagonista do relato, o Dr. Víctor Frankenstein, quem criticando à ciência de sua época e aprofundando nos estudos alquímicos de Cornelius Agrippa, Paracelso e Alberto Magno, declara:
Quanto mais tenha-se feito, mais, bem mais tenho de fazer eu. Seguindo as impressões já marcadas, abrirei novos caminhos, explorarei poderes desconhecidos e revelarei ao mundo os mistérios mais profundos da Criação”.

Há um contínuo ir e vir pelo conhecimento no caminho do Víctor, aparecem assim seus professores aliados e aqueles detratores que não aceitam a antiga ciência, suas lutas internas por não acatar os mandatos de seus maiores mestres e, boiando em todo este palco, seu arremesso ao segredo mais ansiado: a chave que lhe permitirá abrir a porta da vida num ser inerte. Mas, para alcançar com sucesso esta meta, não podia ignorar um passo:
“Para conhecer as causas da vida devermos travar conhecimento primeiro com a morte. Aprofundei a anatomia, mas não bastava com ela, e devi observar também a ruína e a corrupção do corpo humano”.

Localiza-se assim na metade de um eixo perigoso cujos pólos faziam parte de um mesmo fato: a vida mesma.

A partir destes preliminares e quase consumando sua obra, a sensatez do Víctor vai dando passo para uma idéia obsessiva: ser ele, na sua obra, como Deus mesmo.

“A vida e a morte me pareciam objetivos ideais, aos que chegaria sendo eu o primeiro para derramar um toque de luz sobre nosso escuro mundo. Uma nova espécie adoraria-me como seu criador, muitas pessoas felizes e boas deveriam-me seu ser, nenhum pai poderia reclamar a gratidão de seus filhos como eu a deles. Continuando com estas reflexões, pensei que podia-se dar vida à matéria inerte, e assim poderia (...) renovar a vida nos corpos aos que a morte tinha condenado à podridão”.

Mas esse “Deus”, uma vez consumado o fato de sua criação única, arrepende-se de sua ação, ainda que tarde: a criatura cobrou vida e já nada pode controlá-la. É “Frankenstein” um remedo do mito bíblico? Tentou Mary Shelley trazer à consciência dos homens sua finitude perante um deus que não pensava o que fazia, nem suas conseqüências, em um soberbo ato de criação?

Não pode chamar-se a “Frankestein” de romance gótico ou de terror, como habitualmente se tem classificado, senão que poderíamos aproxima-lo de algo como se fosse um antecipo do que atualmente seria o gênero da ficção científica. Mas pensar em um romance com este argumento, de conteúdos tão profundos, nascido de uma mente de dezoito anos como a de Mary quando a escreveu, fazem-nos reflexionar mais profundamente ainda do que ela quis dizer-lhe ao homem de seu tempo com este livro. “Frankenstein” leva como subtítulo “O moderno Prometeu” que, a meu entender e compreensão, deveu ser este o verdadeiro nome do livro por toda a sobrecarga implícita que tem e que conforma o núcleo central da mensagem.

Há como um acordar de Mary perante sua obra mesmo, anos mais tarde, quando a corrige para outra edição. Talvez por ter crescido, por ter sofrido, por ter amadurescido em pensamento e idéias, em 1831 assombra-se do que escreveu e pregunta-se a si mesma, no prólogo:
“Como a mim, então tão novinha, criei –e cheguei a desenvolver- uma idéia tão horrível?”.

De fato, causa assombro a perfeição com que Mary enlaçou o sobrenatural e horrendo com o científico, mas em realidade o que ocorreu é que convergiram nela dois modelos de pensamento: por um lado o empirismo científico do século XVIII e pelo outro a reação ao mesmo, criativa, que se deu no século XIX. Daí que o resultado, a simples vista, além de gerar horror ou pânico, acorda um sentido de alarme e reflexão diante da possibilidade que o Homem, num futuro, possa ficar submetido pela tecnologia, como realmente está acontecendo neste presente do século XXI que devemos viver. E se a mesma Mary asombra-se de seu resultado, é que ela não era consciente que estava dando, com sua obra, uma mensagem à Humanidade que escapava às suas possibilidades de entendimento.

Os dois personagens principais de “Frankenstein” – Víctor e o monstro- resultam só um, fortemente unidos para sempre. Portanto são seres opostos e complementares. O mesmo subtítulo também leva este duplo jogo de interpretação, pois se considerarmos como Prometeu ao Víctor, tendo em suas mãos o fogo da Vida ou do Conhecimento, o Monstro mesmo assume também sua condição de Prometeu desde o momento mesmo que começa a existir, quando começa a se sentir “só, miseravelmente só” e rebela-se contra seu criador.

Há diálogos memoráveis entre Víctor e o monstro, que transcendem a mera história argumentável e depositam-se na condição humana mesmo:
“Acusas-me de assassinato –reprocha-lhe o monstro ao seu criador- e no entanto destruirias, com a consciência calma, tua própria criatura”.

Também podemos observar ao longo de toda a ação, que a mesma é uma contínua perseguição entre ambas partes, carreira que se torna vertiginosa, contínua, que não permite perder o atendimento sobre o que está acontecendo mas ao mesmo tempo gerando um recurso assombroso em mãos de sua autora de dezoito anos: quem fora, num princípio, desmembrado e depois unido em nova vida por seu criador, resulta ser, como perseguidor e acusador, quem desmembra ao Víctor mentalmente conduzindo-o para um fatídico final. Loucura e vingança, ódio e ressentimento, desespero e angústia, são as emoções básicas que vão dando vida ao relato, emoções que quando estouram e se precipitam no duplo protagonista, atentam contra a lógica, o raciocínio, a sensatez e o equilíbrio intelectual.

Se Mary Shelley conseguiu que Víctor Frankenstein resultasse um símbolo da miséria humana e, como tal, um objeto de ódio, também é verdadeiro que ele foi vítima dessa mesma miséria humana e, como tal, objeto de compaixão. Por outro lado, Mary submete ao leitor a um jogo de alternâncias inevitáveis pois se sua curiosidade se enlaça com todos os avanços que Víctor vai tendo em seus objetivos e depois em suas desgraças na primeira parte do livro, o mesmo leitor se solidariza depois com o monstro, quando este conta a história de suas lutas e de seus progressos.

Não poderíamos deixar de aplaudir o intenso final com que Mary fecha definitivamente seu livro: a morte do Víctor e o pranto desconsolado da sua criatura, como se esta cena fosse um final operístico grandioso, no meio do ermo, da paisagem imensa, fria e branca das Ilhas Orcadas, final magistralmente descrito em breves palavras pela escritora escocesa Muriel Spark, biógrafa e crítica de Mary Shelley:
“...a estrutura fecha-se só com a morte natural de Víctor Frankenstein e a representação do monstro se inclinando com imensa dor sobre ele. Vão-se convertendo o um no outro, se ligando estreitamente em uma submissão definitiva”.

Fonte:
News Elizabeth Misciasci http://www.eunanet.net/beth/

Maria Cristina Bonnafé (Uma Vaga na Vida)



Fui a uma agência bancária fazer um saque. Tudo bem ágil, em meio a um dia cheio de compromissos. Sorri, parecia estar com sorte: estacionei o carro a única vaga no recuo da calçada, em frente ao banco; no caixa eletrônico, apenas uma pessoa.

Feito o saque, só me restava ir embora. Mas de que jeito? Atrás de meu carro, uma pick-up e um grande carro de passeio, estacionados irregularmente na esquina.

Encontrei, no carro de passeio, uma garota já meio mulher, a escorregar as costas pelo banco, pés no painel. Ouvia o rádio, distraída, e, quando me percebeu, olhou-me pelo canto dos olhos semipuxados: Não sei dirigir. Ele saiu e já vem. Espera um pouco.

Tentei a pick-up. Dentro, um rapaz comprido e magro assegurou-me que não tinha a chave do carro – ficaria plantado ali, enquanto o motorista não chegasse. Ao volante de meu carro, sem sair do lugar, eu também esperava que os outros resolvessem a sua vida para, depois, eu resolver a minha.

O moço da pick-up passava o tempo como podia. Girava o indicador dentro de uma narina, voltava o giro em sentido inverso; alternava a narina… E assim eu ficava: assistindo à esmerada faxina na face do rapaz!

Ali parada e com o dinheiro sacado, senti-me vulnerável e precisava me proteger. Fechei hermeticamente os vidros, sob o sol das treze horas, o que tornou o espaço dentro do carro uma verdadeira sauna. Transpirava… Em sentinela, tinha que ficar atenta às janelas e retrovisores. Só então reparei, ao meu lado, o canteiro de amor-perfeito e o hibisco laranja. Fizeram delicados estes quinze minutos sem fim.

Ambos os motoristas chegaram ao mesmo tempo. Imaginava ouvir um pedido de desculpas e já me preparava para responder: “por nada!”. Porém nenhum aceno, nenhum sorriso, nenhum olhar. Apenas entraram logo em seus carros e, sincronizadamente, saiu um e depois o outro. Passagem livre, mas não aliviada!

Será que a pressa engolia nossas vidas? Era preciso tempo para olhar, ouvir, dizer. Não um tempo de cronômetro, reto e exato, mas um tempo humano, curvo e maleável. Só uma efêmera vaga para o carro não bastava. Queria, acima de tudo, uma vigorosa vaga na vida.
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Maria Cristina Bonnafé é de São Paulo, capital. Esta crônica foi uma das 5 vencedoras no II Concurso Literário Cidade de Maringá, na modalidade crônica

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Luís Pimentel (Ofício de Escrever)



Esta crônica é um presente para todos aqueles que têm o hábito de escrever, seja por obrigação (jornalistas), devoção (escritores) ou curtição (amadores e diletantes). Pincei e ofereço graciosamente duas dicas primorosas, de dois mestres da palavra, o patrício Graciliano Ramos e o mexicano Juan Rulfo. Vamos primeiro ao bom e velho Graça:

“Quem escreve deve ter todo cuidado para a coisa não sair molhada. Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal. Naquela maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lava. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.”

E a dica de Rulfo, o autor do fundamental romance Pedro Páramo , em tradução de Eric Nepomuceno:

“No começo, você deve escrever levado pelo vento, até sentir que está voando. A partir daí, o ritmo e a atmosfera se desenham sozinhos. É só seguir o vôo. Quando você achar que chegou aonde queria chegar, é que começa o verdadeiro trabalho: cortar, cortar muito.”

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sandro Kretus (O Gótico)


Eu sou o poeta da escuridão que semeia em frios jardins flores mortas com as pálidas mãos Sou o ser escuro que vigia a noite com o olhar de vampiro buscando encontrar a beleza que se esconde em cada sombra Meus olhos pintados de preto veem o que não pode ser visto pelos olhos mortais Eu sou a bruma noturna o ouvido dos Gárgulas nas catedrais Eu vagueio nos céus escuros onde os olhos dos corvos brilham no mágico crepúsculo

Nas trevas vejo a luz que poucos ainda produz e na terra onde os seres do dia rastejam plano suavemente com minhas asas de anjo negro Minha solidão devora as horas esperando o dia terminar até cair sobre mim o manto da noite onde sonho acordado sem despertar Meus versos escritos com sangue deslizam como uma chuva tépida nos prédios abandonados onde deixo o lamento de um mundo doente gravado.

Doenças deixadas pelos seres do dia que destroem o mundo com sua ímpia enfurecida Quem são os estranhos? Ou seriam os loucos?

Deixe-me só com minha tristeza pois o que resta é chorar afinal, alguém precisa chorar então que seja eu o ser da escuridão, o Nosferatu Deixe-me acender minha fogueira na terra das almas mortas quero deitar-me sobre as lápides frias e tortas deixadas pelos seres de outrora Deixe-me cantar nas entranhas escuras Close to me O mundo está doente talvez não há mais cura alguém precisa chorar então que seja eu o ser da noite escura
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Fonte:
KRETUS, Sandro. O jardim sombrio – 2008 . http://sandrokretus.blogspot.com/2009/10/o-gotico.html

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte X



II. — Os quatro filhos de Ayimon
(Gesta de Doon de Mogúncia)

1. — O tema

Carlos Magno armou cavaleiro aos quatro filhos de Aymon de Dordone: Aalard, Renaud, Guichard e Richard. Mas Renaud, devido a uma série de derrotas, matou Bertolai, sobrinho de Carlos Magno. Um antigo rancor gerou entre o imperador e as fileiras de Renaud; Carlos Magno, para se. vingar da afronta, perseguiu durante anos os quatro irmãos que provocavam a admiração de seus inimigos. Ei-los ao lado do rei Yon lutando contra os sarracenos, desde Ardenas até Bordéus. Com o auxílio de um primo, Maugis, o mágico, capturaram Carlos Magno para libertá-lo imediatamente. Libertarão seu maravilhoso cavalo Bayard e Renaud parte para combater na terra santa; essa vida de orgulho e violência termina com a penitência e a graça.

2. — Textos análogos

Os problemas de honra e de consciência que se impõem a esses revoltados se encontram em La chevalerie Ogier no qual o filho de Ogier, o Dinamarquês, foi morto pelo filho de Carlos Magno; Ogier quer se vingar; se arrependerá e tornar-se-á frade. Em Raoul de Cambraf, Raoul, deserdado pelo pai, devasta Vermandois. Seu implacável adversário Ybert de Ribemont, reconhecendo seus erros, funda, no local onde estão os sete castelos — monumentos do orgulho — sete mosteiros — testemunhos de penitência.

3. — Manuscritos

O manuscrito do século XIII, arquivado na Biblioteca Nacional de Paris (n.o 24.387, versão de La Vailière), deu origem a duas edições (Michelant, Tübingen, 1862; F, Castets, Montpellier, 1909). Treze outros manuscritos completaram esse texto chamado La Vailière (manuscritos de Montpellier, de Veneza, estudados por Pio Rajna, de Cambridge, ns. 766 B. N.). Um poema neerlandês (segunda metade do século XIII), retoma a trama do manuscrito La Vallière.

4. — Estudos

Paulin Paris localiza a ação primitiva nas Ardenas. Bédier acentua que a lenda não é mencionada no Catalogue de 1150, mas que é bastante conhecida no princípio do século XIII. Longnon estabelece em 1879 um paralelo histórico entre Yon de Gasconha e o rei de Aquitânia Eudon que guerreou, não contra Carlos Magno mas contra Carlos Martel. (Revue des questions historiques). Rajna (1884). Léon Jordan (1908), Castets (1909) considerando a mesma tese, mas Castets, sem demonstrá-lo, identifica os quatro filhos Aymon aos quatro filhos de Clotário: Clodoveu, Meroveu, Gondovaldo e Childeberto.

Gaston Paris atribui esse poema de dezoito mil versos a Huon de. Villeneuve, enquanto que Bédier estabelece um paralelo com a vida de Santo Agilolfo, que conteria todo o elemento histórico.

5. — Conclusão

Essa lenda de situações dramáticas, ternas, trágicas ou burlescas é a epopéia de vassalos rebeldes que lutam contra seu senhor. Com um fundo maravilhoso e cômico, cenas pueris e joviais. Les quatre fils Aymon caracterizam essa literatura feudal acentuada por uma espiritualidade cristã e pagã. A verdade histórica desaparece perante a verdade psicológica. Mais do que na Canção de Rolando, temos o retrato da sociedade dos Capetos na qual os vassalos são freqüentemente insolentes e intrépidos; guardam contudo um certo senso da honra e essa perseguição implacável dos quatro irmãos, cercada de maravilhoso, continua a ser uma obra das mais atraentes.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

domingo, 22 de novembro de 2009

Folclore de Portugal – Distrito de Leiria (O Monstro de Aljubarrota – Lenda da Bilha de S. Jorge)


A Bilha de Água - Lenda da Bilha de S. Jorge

A Batalha de Aljubarrota travou-se em 14 de Agosto de 1385 entre o exército de D. João I de Portugal e o rei de Castela, num dia de calor abrasador. A batalha tinha sido decidida pelo rei de Portugal e D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável, contra a vontade da maioria da nobreza e do exército. A principal razão era a desproporção das forças: trinta mil castelhanos contra sete mil portugueses.

O auxílio esperado de Inglaterra não viria a tempo de evitar um eventual cerco à cidade de Lisboa. Era melhor morrer com honra do que a humilhação da fuga. No dia da batalha encontravam-se os exércitos frente a frente, com o sol a queimar o ar e a sede a começar a torturar os soldados portugueses. O Condestável temia mais a sede que o exército inimigo e incumbiu Antão Vasques de procurar água, uma tarefa difícil dada a secura dos regatos. Mas por S. Jorge tudo era possível! Antão Vasques em vão procurou água e já desesperado desceu do cavalo e ajoelhou-se na terra poeirenta e pediu ao seu anjo da guarda o impossível. No mesmo instante, surgiu uma camponesa com uma bilha de água que quanto mais dela se bebia mais de água se enchia como de fonte inesgotável brotasse. Uma água que saciava a sede e renovava as forças e o espírito.

Os castelhanos atacaram, certos de encontrar os soldados enfraquecidos pela espera e pela sede. Mas os sete mil portugueses aguentaram firmes e para grande surpresa dos castelhanos responderam com tal valentia que estes retiraram em debandada nesse dia de vitória para Portugal. No lugar onde surgiu a jovem camponesa mandou o Condestável erguer a capela de S. Jorge e ainda hoje lá está uma bilha de água para dar de beber a quem passe e tenha sede. S. Jorge ficou também como padroeiro do exército português.
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O Monstro de Aljubarrota

No dia 14 de Agosto de 1385 estavam os exércitos português e castelhano frente a frente, naquela que seria conhecida para sempre como a batalha de Aljubarrota. Eram cerca de 22 000 castelhanos contra 7 000 portugueses, mas, apesar da desproporção de forças, os espanhóis hesitavam em atacar, impressionados pela serenidade mística dos portugueses. Assim ficaram durante horas, mas por fim os castelhanos avançaram e a luta foi renhida, não conseguindo o invasor atingir a estratégica defesa portuguesa.

Desesperados e tendo conhecimento da existência de uma grande fera nas imediações do terreno, os castelhanos decidiram procurar a besta infernal para que esta os auxiliasse. Neste grupo de busca encontrava-se um reputado bruxo castelhano que capturaria o monstro através das suas artes mágicas. Após ter sido hipnotizado pelo bruxo, o monstro concordou em ajudar os castelhanos. Colocado em frente do exército português, livrou-o o bruxo da sua influência para que pudesse recuperar o seu caráter violento e devorar os portugueses.

O monstro temível avançou e começou a desfazer os soldados que estavam à sua frente, assustando até D. João I que se lembrou de invocar a ajuda do seu patrono S. Jorge e da Virgem Maria, com toda a fé que tinha. Segundo a lenda, S. Jorge desceu dos céus montado no seu cavalo e rodeado por uma bola de fogo, lançando-se com a sua lança sobre a terrível fera. Depois de vencer o monstro, S. Jorge virou-se contra o exército inimigo desbaratando as sua fileiras e ajudando os portugueses a alcançar a vitória. D. João I mandou edificar uma ermida onde foi colocada a imagem de S. Jorge montado no seu cavalo, matando o monstro com a sua lança.

Fontes:
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/
Imagem = http://pt.artesanum.com/

Trova LXXVII - Ferrer Lopes (Bahia)

Fonte:
Montagem da trova sobre imagem obtida no site http://www.atribunamt.com.br de 11 de fevereiro de 2007, da reportagem Globalização não reduz desigualdadee pobreza no mundo, segundo a ONU.

Encenação da Peça Vidas Severinas, em Petrópolis


Chico Buarque (Morte e Vida Severina )



Composição: Chico Buarque sobre poema de João Cabral de Mello Neto

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas à terra dada nao se abre a boca
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Folclore de Portugal - Distrito de Leiria (Padeira de Aljubarrota)

Brasão da freguesia de Prazeres de Aljubarrota, no Distrito de Leiria,
com a pá de Brites no escudo
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Brites de Almeida, a Padeira de Aljubarrota, foi uma figura lendária de heroína portuguesa, cujo nome anda associado à vitória dos portugueses, contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385). Com a sua pá de padeira, teria morto sete castelhanos que encontrara escondidos num forno.

A lenda

Brites de Almeida teria nascido em Faro, em 1350, de pais pobres e de condição humilde, donos de uma pequena taberna. A lenda conta que desde pequena, Brites se revelou uma mulher corpulenta, ossuda e feia, de nariz adunco, boca muito rasgada e cabelos crespos. Estaria então talhada para ser uma mulher destemida, valente e, de certo modo, desordeira.

Teria 6 dedos nas mãos, o que teria alegrado os pais, pois julgaram ter em casa uma futura mulher muito trabalhadora. Contudo, isso não teria sucedido, sendo que Brites teria amargurado a vida dos seus progenitores, que faleceriam precocemente. Aos 26 anos ela estaria já órfã, facto que se diz não a ter afligido muito.

Vendeu os parcos haveres que possuía, resolvendo levar uma vida errante, negociando de feira em feira. Muitas são as aventuras que supostamente viveu, da morte de um pretendente no fio da sua própria espada, até à fuga para Espanha a bordo de um batel assaltado por piratas argelinos que a venderam como escrava a um senhor poderoso da Mauritânia.

Acabaria, entre uma lendária vida pouco virtuosa e confusa, por se fixar em Aljubarrota, onde se tornaria dona de uma padaria e tomaria um rumo mais honesto de vida, casando com um lavrador da zona. Encontrar-se-ia nesta vila quando se deu a batalha entre portugueses e castelhanos. Derrotados os castelhanos, sete deles fugiram do campo da batalha para se albergarem nas redondezas. Encontraram abrigo na casa de Brites, que estava vazia porque Brites teria saido para ajudar nas escaramuças que ocorriam.

Quando Brites voltou, tendo encontrado a porta fechada, logo desconfiou da presença de inimigos e entrou alvoroçada à procura de castelhanos. Teria encontrado os sete homens dentro do seu forno, escondidos. Intimando-os a sair e a renderem-se, e vendo que eles não respondiam pois fingiam dormir ou não entender, bateu-lhes com a sua pá, matando-os. Diz-se também que, depois do sucedido, Brites teria reunido um grupo de mulheres e constituido uma espécie de milícia que perseguia os inimigos, matando-os sem dó nem piedade.

Os historiadores possuem em linha de conta que Brites de Almeida se trata de uma lenda mas, assim mesmo, é inegável que a história desta padeira se tornou célebre e Brites foi transformada numa personagem lendária portuguesa, uma heroína celebrada pelo povo nas suas canções e histórias tradicionais.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/
http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/

Distrito de Leiria (Portugal)



Hoje estamos iniciando uma série de folclore dos distritos de Portugal. Iniciamos com o distrito de Leiria, e para que o leitor possa tomar conhecimento sobre ele, coloco alguns dados sobre a história deste distrito.

A região onde se situa Leiria já é habitada há longos tempos, apesar de sua história precoce ser bastante obscura. Os Turduli, um povo indígena da Ibéria, estabeleceu um povoado junto à cidade actual de Leiria (a cerca de 7 km). Essa povoação foi depois ocupada pelos Romanos, que a expandiram sob o nome de Collippo. As pedras da cidade anciã romana foram usadas na Idade Média para construir parte de Leiria.

Pouco é conhecido sobre a área nos tempos dos Visigodos, mas durante o período de domínio árabe, Leiria era já uma vila com praça. A Leiria moura foi capturada em 1135 pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, durante a chamada Reconquista. Essa localidade foi brevemente retomada pelos mouros em 1137, e mais tarde em 1140. Em 1142, Afonso Henriques reconquistou Leiria, sendo desse ano o primeiro foral (legislação elaborada por um rei com o intuito de regulamentar a administração de terras conquistadas e que dispunha ainda sobre a cobrança de tributos e quaisquer outros privilégios), atribuído para estimular a colonização da área.

Os dois reis esforçaram-se por reconstruir as muralhas e o castelo da vila, para evitar novas incursões mouras. A maioria da população vivia dentro das muralhas protetoras da cidade, mas já no século XII uma parte da população vivia na sua parte exterior. A mais antiga igreja de Leiria, a Igreja de São Pedro, construída em estilo românico no último quartel do século XII, servia a freguesia exterior às muralhas.

Durante a Idade Média, a importância da vila aumentou, e foi sede de diversas Cortes. As primeiras Cortes realizadas em Leiria foram em 1254, durante o reinado de Afonso III. No início do século XIV (1324), D. Dinis mandou erguer a torre de homenagem do castelo, como pode ser visto numa inscrição na torre. Esse rei construiu também uma residência real em Leiria (actualmente perdida), e viveu por longos períodos na cidade, que ele doou como feudo à sua esposa, a Rainha Santa Isabel. O rei também ordenou a plantação do famoso Pinhal de Leiria, próximo da costa com o Oceano Atlântico. Mais tarde, a madeira deste pinhal seria usada para construir as naus que serviram aos Descobrimentos portugueses, nos séculos XV e XVI. Durante o século XV, os judeus desenvolveram nesse conselho uma das mais notáveis comunidades, ao ponto de empreenderem uma florescente actividade industrial.

No fim do século XV, o rei D. João I construiu um palácio real dentro das muralhas do castelo. Este palácio, com elegantes galerias góticas que possibilitam vistas maravilhosas da cidade e da meio envolvente, ficou totalmente em ruínas, mas foi parcialmente reconstruído no século XX. D. João I foi também o responsável pela reconstrução da Igreja de Nossa Senhora da Pena, localizada dentro do perímetro do castelo, num estilo gótico tardio.

Por volta do fim do século XV, a cidade continuou a crescer, ocupando a área que se estende desde a colina do castelo até ao rio Lis. Em Leiria foi impresso o primeiro livro em Portugal. O rei D. Manuel I deu à localidade um novo foral em 1510, e em 1545 foi elevada à categoria de cidade, tornando-se sede de Diocese. A Sé Catedral de Leiria foi construída na segunda metade do século XVI, numa mistura dos estilos renascentista (gótico tardio) e maneirista (renascimento tardio).

Comparando com a Idade Média, a história subsequente de Leiria é de relativa decadência. No entanto, no século XX, a sua posição estratégica no território português favoreceu o desenvolvimento de indústrias diversas, levando a um grande desenvolvimento da cidade e da sua região.

De fato, durante vários anos, Leiria foi das poucas capitais distritais que não era a cidade mais populosa do próprio distrito, sendo suplantada pela cidade de Caldas da Rainha. Contudo, nos últimos anos a cidade tem-se desenvolvido de forma extraordinária, e é já um dos 25 principais centros urbanos de maiores dimensões do país.

Fonte:
Wikipedia

Sandro Kretus (Poesias Avulsas)



Portas escritas

Minhas calças curtas
De travessuras, de caçadas
E aventuras, Monteiro Lobato
Minha filosofia Suassuna
E meus olhos cegos, Saramago
Nas minhas borboletas mortas, Baudelaire
Na minha angustia, Florbela Espanca
Uma rosa sem perfume
E em sua dor, Augusto dos anjos
Beija sem ciúmes
Um beijo tépido no silêncio
Mortes, chagas, visões, infernos de Dante
Minhas mãos Machadianas escrevem versos de Quintana
Em uma ensolarada tarde, e as horas passam, voam
Ninguém vê Virginia Woolf
E Drummond com cara de bom, olhando o céu ao lado de Bandeira
De bobeira, soltando pipas no ar, sentados na areia
Na Villa dos lobos, um Tom toca Vinícius
Eça de Queiroz iça seus anzóis com palavras de ternura
Usando toques de Neruda
Eu ando pela Baker street mas não encontro Conan Doyle
Nem Jô Soares, e na corrida do ouro, Allan Poe corre
Apressado com os corvos enquanto Mary Shelley tranca seu monstro no armário
No corredor, Crowley vê Levi, e Bram Stoker carrega um bebê vampiro nos braços
Fernando pessoa visita o salão filosófico de Platão
Enquanto meus olhos de Byron naufragam num mar revolto...
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O último monólogo

Meus dias passam lentamente como serenas marolas
E nenhuma cortina se abre diante de mim
Sinto meu corpo preso á uma corrente coberta de argolas
Vejo meu começo chegando perto do fim

Um monólogo que encena seu último ato
Segurando sua caveira com as mãos sujas de sangue
Declamando seu poema para as cadeiras vazias do teatro
Deixando cair uma última lágrima escondendo o vexame

Nem um alento seria capaz de sarar tal ferida
De que adianta o brotar das palavras
De uma peça que jamais será lida

Morrerá com sua arte o pobre artista?
Talvez um dia alguém o descubra
E assim reconhecido, não mais morrerá
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Temperanças

Mulheres com suas temperanças
Me tiraram o absinto da garganta
Quando me acalentava nas horas amargas
Tentando remeter-me á esperança

Pequenos castelos desmoronados na areia
Levados pelas ondas de um mar traiçoeiro
Ainda havia sonhos á serem sonhados
E momentos passageiros

Que talvez tivesse ao longo de uma vida
Mesmo com destroços e feridas
Viveria cada momento

Como um pássaro que se remete ao horizonte
Chegaria ao firmamento
Mesmo sabendo que o horizonte não tem fim
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A valsa das rosas

Lembra quando dançávamos a luz do luar, meu amor?
E as rosas giravam, iluminadas, no jardim das petúnias.
Ali nossos corpos rodeavam, deslizando ao som dos violinos
Que alçava-nos a urbe da luz, nos iluminado de azul
Dançávamos ao som do Danúbio, seguido por outra valsa
E mais uma, assim se fazia, sem pensar na hora, mas que hora?
Se não existia, era só nós dois
Dançando a luz da lua
Até nas noites frias, mas que frias?
Se o calor nos aquecia
Em cada dança, ali se fazia
Um passo de magia
E nos bailes de máscaras? Lembra?
Sempre um cavalheiro roubava-te dos meus braços
E mesmo distantes, nossos olhos
Estendiam-se na mesma vértice que nos unia
Éramos um do outro, meu amor
Que adorável companhia
Tê-la ao meu lado, assim
Todos os dias
Agora, uma púgil agonia
Em meu peito se afia
Ao lembrar-me destes momentos
Oh! Que tristeza! Em meu coração se alogia
Desde que partiu
Vivo esta tormenta
A dor me castiga, em infinita sentença
Porque meu amor, me deixaste?
Meu pensamento viaja, tentando encontrar
A substancia que esvaiu do teu corpo, ao postemar-se
Vejo teu sorriso em cada estrela, mas não consigo alcançar-te
Porque meu amor, me deixaste?
As vezes sou capaz de ver-te, dançando no véu da noite
Iluminada, me sorri, sorri, mas não diz nada
E ao alcançar-te em desespero, desapareces
Como nevoeiro,dispersando-se por inteiro
Oh! Espírito iluminado
Porque não me levas contigo?
Quero ficar ao teu lado
Dançando eternamente no luar encantado
Hoje mais um dia, sonho acordado
E ao olhar as petúnias mortas no jardim
Lembro-me de como éramos felizes
Também hoje, mais uma vez, venho trocar as rosas de teu jazigo
E ao sentir tua lápide fria em meus pés
Mais uma lágrima surgi em meu rosto sofrido
Digo-te, meu amor, como sempre digo
Hoje as petúnias estão mortas, mas as rosas girarão, iluminadas
pelo teu sorriso.
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Fontes:
http://sandrokretus.blogspot.com/
http://www.portugal-linha.pt/KRETUS/menu-id-105.html
Imagem = Capa do livro de Sandro, O Jardim Sombrio

Sandro Kretus (1974)


Sandro Kretus nasceu em Porto Alegre em 1974, seu interesse pela literatura começou desde muito cedo, com 10 anos de idade já participava em concursos de poesias e contos. Aos dezoito anos formou-se em desenho publicitário e desenho artístico, trabalhando em agências publicitárias e em algumas galerias de arte da capital gaúcha.

No mesmo período especializou-se em analises clinicas, no qual exerce a profissão até hoje. Em 2006, o autor escreveu seu primeiro romance, o primeiro volume da saga “Amazon”, intitulada “ A chama de Orion, uma saga épica inspirada no continente perdido de Atlântida. Em 2008 o autor brasileiro começou a divulgar seu trabalho, publicando suas poesias, contos e crônicas nos principais sites de literatura, no Brasil e em Portugal, ao todo já são treze livros publicados, entre eles estão, O jardim sombrio, Ecos na cidade de mármore, Interlúdio, O andarilho da terra do fogo, O navegante e a flor lunar, Uma gota de orvalho no jardim de cedros, pequenos poemas do espaço inerente, Vertebratrus, O príncipe de Tartária, Pensamentos revoltaires,Harmônico e Black horse.

A cada novo trabalho o autor vem conquistando cada vez mais os leitores, e chamando a atenção dos críticos literários, que afirmam, “Kretus é um poeta contemporâneo, que consegue resgatar a fórmula dos poetas do passado, sem perder sua autenticidade, sua poesia é feita com uma força extremamente expressiva.”

Visionário, lírico, romântico, ler a poesia de Kretus é como viajar no tempo”.

Atualmente Sandro Kretus vive em sua cidade natal, em Porto Alegre, capital do Rio grande do Sul.
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Fonte:
http://www.portugal-linha.pt/KRETUS/menu-id-105.html

sábado, 21 de novembro de 2009

Trova LXXVI - José Lucas de Barros (RN)

Montagem sobre imagem de http://ncego.blogspot.com

Andreia Donadon-Leal (Seus 25 Anos)



Ainda lembro dos seus primeiros passos: indecisos, trôpegos, corpo desequilibrando, e eu com os braços estendidos estimulando-a a continuar. Um sorriso inocente nos pequenos lábios rosados, pele amorenada, olhos negros e cabelos lisos. Era uma miniatura de gente, uma boneca tentando equilibrar-se para dar os primeiros passos. Chorava pouco e quando eu retornava no final da tarde do trabalho, cansado, estressado e algumas vezes muito aborrecido, abria a porta silenciosamente para não fazer barulho e meus olhos brilhavam ao vê-la sentada no tapete com as pernas cruzadas; algumas bonecas espalhadas pelo chão, suas mãozinhas ocupadas com pequenos brinquedos, despreocupada como se nada mais existisse naquele momento. E não existia mesmo... Eu parado com a cabeça encostada no alisar da porta, deslumbrado com a cena que me acalentava. As linhas de expressão logo se suavizavam e os olhos brilhavam, dizia Maria. Perdi a conta de quantas vezes fiquei parado, estático à porta, querendo imortalizar aquela imagem. A pasta pesada, às vezes, caía sem querer de minha mão e dispersava sua concentração e estado mágico em seu mundo de criança. Logo largava todos os brinquedos e ia engatinhando ao meu encontro. Eu dava apenas dois passos curtos, pois sabia que gostava de me receber na entrada da porta. Sua mãe esperava pacientemente minha disposição e felicidade retornando. Sentava no chão com você e brincávamos com os minúsculos brinquedos até seus olhos cerrarem vencidos pelo sono.

No primeiro dia de aula não consegui conter o impulso de sair do outro lado da cidade e levá-la pessoalmente à escola. A merendeira rosa nas mãos pequeninas, a mochila pendurada nas costas, vestida de uniforme azul e branco do colégio, cabelo preso com duas marias chiquinhas cor de rosa. Estava crescendo... Não dei a honra a sua mãe de levá-la no primeiro dia. Era importante vê-la entrando com segurança na sala de aula e eu recomendando à professora que tivesse mil e um cuidados, por que era uma criança dócil, muito frágil e tímida. Devo ter repetido umas sete vezes o número do meu telefone, caso fosse necessário contactar-me.

Os outros dias me contentava em buscá-la, quando não ficava até tarde no escritório. Você adorava me ver caminhando pacientemente pelo pátio da escola. Corria euforicamente ao meu encontro e contava de um fôlego só como foram às aulas, os trabalhos e as brincadeiras. Quase tive um ataque do coração, quando saíamos tranquilamente da escola, você perguntou-me repentinamente:

- Pai? Como se faz um bebê? De onde eles vêm?

Sabia que despertaria para esses tipos de perguntas, mas não esperava que fosse prematuramente. Maria ria de meu pudor excessivo, falando que as perguntas se tornariam mais constrangedoras com o tempo. Eu fechava os olhos e passava as mãos sobre a cabeça, preocupado.

- Pai? O que é sexo?

- Pai, por que a terra é redonda e meu quarto é quadrado?

- Pai, quem inventou Deus? A professora disse que quem inventou o mundo foi Deus, então quem inventou ele?

Essas interrogativas aos cinco anos, e eu embasbacado no meio do caminho, retornando da escola para casa com você. As perguntas aumentavam, os níveis também e eu tentando dar um caráter romântico a tudo. Sua mãe me reprovava com veemência. Os anos foram passando; eu e sua mãe, mais velhos e cansados. Você já não queria que eu a buscasse na escola.

- Não precisa pai. Venho caminhando com minhas colegas.

Estava ficando independente e não precisava tanto de mim.

Os quinze anos vieram e a festa de debutante também. Foi uma belíssima noite: vestido rosa, cabelos soltos, coroa na cabeça, dançando com suas colegas no meio do salão. Estava virando uma moça. O tempo correu como um filme em projeção acelerada, e eu só queria que fosse mais devagar, um pouco mais devagar e nunca tivesse que acordar daquele sonho. Depois da valsa, um guri ensimesmado e estranho, pegou-a dos meus braços. O jeito que olhou-a me fez recordar das minhas primeiras investidas amorosas e entrei num inferno astral.

- Será que Flora já beijou alguma vez, Maria?

Sua mãe olhou-me como se eu estivesse proferindo a pergunta mais absurda e fora de moda do mundo:

- O que está acontecendo com você, José? É uma adolescente despontando para a vida. É óbvio que já beijou. Sabia que ano retrasado menstruou?

Lembro desses momentos somente nos sonhos. Foram especiais e não retornam. Um dia sem repetição, uma chance para cada etapa da vida. Compreendi? Se eu compreendi? Tive que tentar compreender para não sofrer ao extremo.

- Nossa filha é uma mulher agora, Zé! Entrou para universidade! Veio a primeira notícia que comemoramos com muito orgulho.

- Está namorando com fulano, Zé!

- Está namorando com beltrano, Zé!

- Hoje não dorme em casa, Zé!

- Compreenda sua filha, Zé! Não é mais uma criança.

- Ficará uma semana fora... Ficará um mês...

- Vai para o exterior...

E eu suportando, por que sabia que minha menina voltaria para casa, para o quarto cor de rosa, com a prateleira repleta de bonecas e muitos brinquedos intactos que comprei ao longo dos anos. Voltaria para os meus sonhos, entraria pela porta gritando:

- Pai, mãe, cheguei!

Contaria tudo de um fôlego só, depois Maria faria um jantar especial com direito a sobremesa e eu contaria uma história. Era seu pedido quando ficava muito tempo fora de casa. Estava quase se formando: medicina, e esse era o meu maior trunfo e orgulho. Estufava o peito, quando meus amigos perguntavam o que minha filha estava fazendo.

- Quase médica!

Quando vi um rapaz alto, entrando em casa e você me apresentando como seu namorado, tomei o mesmo susto quando perguntou-me como eram feitos os bebês.

- Esse não é aquele guri da festa de seus quinze anos, Flora? Perguntei de cenho cerrado.

- É pai, o mesmo!

Apertei a mão do rapaz mais do que deveria e fiquei olhando-o por um tempo, até escutar a voz de Maria:

- Zé? Solta a mão dele!

- Hã? Desculpe...

- Não foi nada...

Saí da sala e fui para o quarto emburrado e de lá gritei:

- Hoje não vou jantar! Tenham um bom apetite, estou com dores no estômago...

Maria balançou a cabeça, reprovando minha atitude infantil. Relembro do meu ciúme de pai com certa graça e humor. Sabia que esse momento chegaria, fazia parte da vida como a morte fazia parte do ciclo. Se pudesse voltaria o tempo... Se pudesse... Mas o tempo é incorruptível, não tem volta e as coisas são irreversíveis.

Ajeito a gravata no espelho, enxugo as lágrimas que teimosamente insistem em despencar dos olhos, ajeito o paletó e escuto uma batidinha com três toques familiares me despertando.

- Pai? Está na hora...

- Está linda, minha filha.

Abro a porta do carro para ela entrar. Tomo a direção e no trajeto espio no retrovisor seu semblante, feliz e deslumbrante. Foi tão rápido... Muito rápido... Pego-a pelas mãos, subo as escadas de braços dados para conduzi-la até o altar. Antes de escutar os primeiros acordes da marcha nupcial, acordo com o barulho estridente do despertador e pego seu retrato amarelado e desbotado no criado-mudo: um bebê de um ano. Maria não acordou. Estava meio surda e tomava continuamente muitos remédios, inclusive para dormir, o sono era pesado e sem sonhos. Não reprovava Maria. O rosto e os olhos estavam sem vida há mais de duas décadas. Eu não teria que trabalhar, completei sessenta e nove anos, Flora, e nem parece que o tempo passou tão depressa. Até hoje sonho como teria sido sua infância e mocidade. Sua vida... Faz vinte e cinco anos... Vinte e cinco anos que você morreu e hoje é parte dos meus sonhos. A cada dia tento compreender as coisas irreversíveis da vida. Tento compreender... Tento...

Fontes:
J.B. Donadon-Leal (Jornal Aldrava Letras e Artes)
Imagem = http://ciberjornal.wordpress.com/

Andreia Donadon Leal premiada em Paranavaí - PR

Prefeito Municipal Rogério Lorenzetti entrega
troféu Barriguda a Andreia Donadon-Leal.

A mineira de Mariana, Andreia Aparecida Silva Donadon Leal esteve em Paranavaí, no dia 14 de novembro, onde recebeu o prêmio de primeiro lugar no Prêmio Nacional de Contos do 44º FEMUP - 2009, pelo seu conto "Seus 25 Anos" (veja postagem acima).

A cerimônia de entrega da premiação teve um momento inesquecível - a leitura dos 4 contos primeiros classificados. A leitura aconteceu na Biblioteca Municipal, às 15 horas, sob coordenação da Professora Rosi Sanga, coordenadora de Atividades Artísticas da Fundação Cultural de Paranavaí.

Após a leitura, os presentes puderam conversar com os autores.

A grande festa aconteceu às 20 horas no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, com a apresentação das 12 músicas finalistas, dos declamadores dos 12 poemas classificados.

Nos intervalos dessas apresentações aconteceu a entrega dos prêmios para os ganhadores do Concurso de Contos. Andreia Donadon Leal recebeu o troféu Barriguda das mãos do Prefeito Municipal Rogério Lorenzetti.

O FEMUP é uma promoção da Fundação Cultural de Paranavaí, PR, e é um dos mais importantes Festivais artísticos do país, integrando num só festival, as modalidades de música, contos, poesia e declamação, premiando na modalidade Regional e na Nacional.

Fontes:
Prof. J.B. Donadon-Leal (Jornal Aldrava Letras e Artes)
Foto de J. B. Donadon-Leal.

Lançamento do Livro Antologia do Papo Literário


O Programa Papo Literário está completando um ano de exibição. Para comemorar a data, a Tv Ceará e a Premius Editora estão lançando a Antologia do Papo Literário, organizada pelas jornalistas Yolanda Markan, Joselita Feitosa e Mônica Silveira.

A obra reúne as poesias que inspiraram os clipoemas do programa, onde os textos ganharam imagens e áudio em linguagem televisiva. No livro estão mais de 80 poesias de autores cearenses, nacionais e até internacionais. Nomes famosos e jovens talentos, autores dos mais variados estilos e temáticas.

A publicação tem prefácio de Guto Benevides e apresentação de Yolanda Markan.

O coquetel de lançamento será no próximo dia 24 de novembro, no Ideal Clube, ao lado do restaurante, a partir das 20 horas.

Com a Antologia, o Papo Literário presta uma homenagem aos poetas que abrilhantaram o programa e marca essa trajetória de um ano de divulgação da literatura através da televisão.

Neste primeiro ano, a revista eletrônica literária da TVC conseguiu mostrar diferentes aspectos da literatura, desde a forma clássica, até a virtual . Entrevistou diversos escritores renomados (Ana Miranda, Juarez Leitão, Lira Neto, Barros Pinho, Batista de Lima,Ubiratan Aguiar, Jorge Tufic, Ruy Câmara, Rosa Alice Branco, Pedro Salgueiro, Nilto Maciel e muitos outros). Um dos primeiros autores a incentivar o programa foi Affonso Romano de Sant'Anna, que passou a ser padrinho do Papo Literário.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro (Portal CEN)

Lairton Trovão de Andrade (Torrente de Trovas)

Clique sobre as imagens para ampliar ----
Fontes:
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas I. Portal CEN. 2007.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas II. Portal CEN. 2007.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Luz das Trovas III. Portal CEN. 2008.
ANDRADE, Lairton Trovão de. Sinos de Trovas II. Portal CEN. 2006
.

Lairton Trovão de Andrade (1943)


Filho de Boanerges Trovão de Andrade e Ana Vizotto de Andrade, é poeta e trovador brasileiro, bacharel e licenciado em Filosofia Pura.

Nasceu no dia 28 de fevereiro de 1943, em Pinhalão, município interiorano do Norte Pioneiro do Paraná, Brasil.

Dedicou sua vida ao ensino escolar, tendo lecionado Filosofia, Psicologia e História, além de outras disciplinas.

Tornou-se professor efetivo do Estado do Paraná, através de concurso público.

Editou sete livros - cinco de poesias e dois de reflexões filosóficas, além da participação em diversas antologias literárias.

Possui também mais de uma dezena de livros eletrônicos no Portal CEN - 'Cá Estamos Nós'.

Além disso, concluiu o Curso de Música, tornando-se organista e compositor.

Escreveu a música e a letra do Hino Oficial de Pinhalão, a música e a letra do Hino da Padroeira de Pinhalão, a música e a letra do Hino Oficial do Portal CEN - 'Cá Estamos Nós', a música e a letra da Canção ao Portal CEN - 'Cá Estamos Nós', uma missa polifônica, em três vozes mistas, além de outras composições musicais.

É dirigente e organista do Coral Bento XVI da Igreja Matriz de Pinhalão.

Nos momentos de folga, como professor aposentado, curte a vida em contato com a natureza, ainda bela e rica, da sua terra natal.

Entidades a que pertence:
– União Brasileira de Trovadores - UBT – Delegado de Pinhalão.
– Portal CEN – Cá Estamos Nós – Marinha Grande/ Portugal.
– Liga dos Amigos do Portal CEN – Marinha Grande/ Portugal.
– Movimento - Poetas Del Mundo – Cônsul de Pinhalão.
– Movimento de Poetas e Trovadores - Porto Alegre /RS.
– Grupo Mahavydia – Rio de Janeiro, RJ.
– Grupo Trovabela – Porto Alegre, RS.
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Seus livros virtuais podem ser baixados gratuitamente do Portal CEN em http://www.caestamosnos.org/autores/autores_l/lairtondeandrade_ebook.htm
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Fonte:
O Autor.

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas (Letra S)


salus populi suprema lex esto
Latim: A salvação do povo seja a suprema lei. Máxima do Direito Romano.

sancta sanctorum
Latim: O santo dos santos. O lugar mais secreto do templo de Jerusalém, onde só entrava o sumo-sacerdote quando em funções.

sans-culotte
Francês: Sem calção. Apelativo por que eram tratados os revolucionários de 1789, por usarem calças em vez de calções.

sans peur et sans reproche
Francês: Sem medo e sem censura. Sem temor e com a consciência tranqüila.

sapienti sat
Latim: Basta para o sábio; ele não precisa de muitas explicações.

sapiens filius laetificat patrem
Latim: O filho sábio alegra o pai (Provérbios, X, 1).

sapientis est mutare consilium
Latim: É próprio do sábio mudar de parecer. Sabe reconhecer os erros.

Scilicet
Latim: (cílicet) Isto é.

scintilla contempta excitavit magnum incendium
Latim: Pequena centelha ateou um grande incêndio. Coisas pequenas podem ter graves conseqüências.

scribitur ad narrandum, non ad probandum
Latim: Escreve-se para narrar e não para provar. Quintiliano estabelece assim a diferença entre a história e a eloqüência (Inst. Orat. X, 1, 31).

sede vacante
Latim: Estando vaga a sede. Usado principalmente no Direito Canônico.

sedia gestatoria
Italiano: Cadeira especial em que se conduz o papa nas grandes solenidades.

self-governement
Inglês: Governo próprio. Como o dos Estados e municípios brasileiros que gozam de autonomia.

semel emissum volat irreparabile verbum
Latim: A palavra uma vez pronunciada voa irreparável.

senatus populusque romanus
Latim: O senado e o povo romano. Divisa da antiga república romana.

se non è vero, è bene trovato
Italiano: Se não é verdade foi bem inventado.

servum pecus
Latim: Rebanho servil. Assim classifica Horácio os plagiadores (Epístolas, I, 19).

sic itur ad astra
Latim: Assim se vai aos astros. Expressão virgiliana muito empregada durante as descobertas aeronáuticas.

sic transit gloria mundi
Latim: Assim passa a glória do mundo. Reflexão da Imitação de Cristo que nos convida a desprezar as glórias mundanas.

similia similibus curantur
Latim: Os semelhantes curam-se pelos semelhantes. Med Lema da homeopatia que se opõe à alopatia cujo princípio é: contraria contrariis curantur.

sine die
Latim: Sem dia. Adiar sine die, isto é, sem data fixa.

sine ira et studio
Latim: Sem ódio e sem preconceito. É a diretriz de Tácito para aqueles que desejam escrever a História; sem parcialidade.

sine qua non
Latim: Sem a qual não. Diz da condição essencial à realização de um ato.

sinite parvulos venire ad me
Latim: Deixai vir a mim os pequeninos. Palavras com que Jesus (Mt. XIX, 14) manifesta sua predileção para com as crianças e para com os humildes.

sint ut sunt aut non sint
Latim: Que sejam como são ou deixem de existir. Resposta do Geral dos jesuítas, Padre Ricci, a alguém que lhe propunha modificar os estatutos da Companhia.

si parla italiano
Italiano: Fala-se italiano. Encontrada em estabelecimentos comerciais.

sit pro ratione voluntas
Latim: A vontade sirva de razão. Verso de Juvenal que demonstra até onde podem ir os caprichos dos prepotentes longe de seguir a lógica, preferem impor o seu ponto de vista mesmo com prejuízo próprio ou de terceiros.

sit tibi terra levis
Latim: Que a terra te seja leve; lê-se nas inscrições tumulares.

si vis me flere, dolendum est primum ipsi tibi
Latim: Se queres que eu chore, começa tu também por chorar. Conselho de Horácio ao ator dramático, citado por todos os autores de retórica e eloqüência (Arte Poética, 102-103).

si vis pacem, para bellum
Latim: Se queres a paz, prepara a guerra. Aforismo ainda hoje seguido pelas nações, que procuram fortalecer-se a fim de evitar uma eventual agressão.

sola apis mel conficit
Latim: Somente a abelha faz mel: cada qual no seu ofício.

sola Deus salus
Latim: Deus (é) a única salvação.

sola nobilitas virtus
Latim: A virtude (é) a única nobreza.

sol lucet omnibus
Latim: O Sol brilha para todos.

solve senescentem
Latim: Solte o velho. Conselho horaciano, que compara o escritor ao cavalo, que depois de velho deve aposentar-se, a fim de não sucumbir na luta.

spiritus ubi vult spirat
Latim: O espírito sopra onde quer. A inspiração divina não procede da vontade humana mas de Deus. São palavras de Cristo (Jo. III, 8).

spiritus promptus est, caro infirma
Latim: O espírito é pronto, a carne é fraca. Assim Cristo aconselha os apóstolos à vigilância e oração (Mt. XXVI, 36-41).

sponte sua
Latim: Por sua própria iniciativa.

stabat mater
Latim: A mãe estava de pé. Canto litúrgico da semana da paixão e festas de Nossa Senhora das Dores, que descreve os sofrimentos de Maria Santíssima ante o martírio de Jesus Cristo.

stare sulla corda
Italiano: Aguentar-se na corda. Equilibrar-se em uma situação instável. Corresponde a: dançar na corda bamba.

Statim
Latim: Imediatamente. No início das receitas médicas, indica que há urgência em aviá-las.

statu quo
Latim: Estado em que. Estado anterior à questão de que se trata.

stricto sensu
Latim: No sentido restrito.

struggle for life
Inglês: Luta pela vida. Expressão empregada por Darwin para explicar a seleção das espécies.

stultitiam simulare loco summa prudentia est
Latim: Simular tolice às vezes é grande prudência. Aforismo de Catão.

stultorum infinitus est numerus
Latim: O número dos tolos é infinito (Eclesiastes, I, 15).

sub conditione
Latim: Sob a condição; com a condição de.

sub Jove
Latim: Debaixo de Júpiter; ao relento.

sub judice
Latim: Sob o juízo. Direito: Diz-se da causa sobre a qual o juiz ainda não se pronunciou.

sublat a causa, tollitur effectus
Latim: Eliminada a causa, desaparece o efeito. Não existe efeito sem causa.

sub lege libertas
Latim: Liberdade dentro da lei. Liberdade sem lei degenera em licenciosidade.

sufficit diei malitia sua
Latim: A cada dia basta o seu mal. Cristo aconselha-nos a não nos preocuparmos com o futuro, que está nas mãos de Deus (Mt. VI, 34).

sui generis
Latim: Do seu gênero; peculiar, singular. Designa coisa ou qualidade que não apresenta analogia com nenhuma outra.

sui juris
Latim: Do seu direito.
Direito: Diz-se da pessoa livre, capaz de determinar-se sem depender de outrem.

summum jus, summa injuria
Latim: Excesso de direito, excesso de injustiça.
Direito: Axioma jurídico que nos adverte contra a aplicação muito rigorosa da lei, que pode dar margem a grandes injustiças.

sunt lacrimae rerum
Latim: Existem as lágrimas das coisas. Expressão de Virgílio (Eneida, I, 462). Nos grandes infortúnios até os seres inanimados parecem chorar.

suo jure
Latim: Por seu direito; por direito próprio.

suo tempore
Latim: Em seu tempo. No momento oportuno.

super flumina Babylonis
Latim: Junto dos rios de Babilônia. Assim começa o Salmo 137, no qual o profeta-rei chora os sofrimentos do povo eleito, exilado em Babilônia.

sursum corda
Latim: Corações ao alto. Locução proferida pelo sacerdote ao iniciar o prefácio da missa, convidando os fiéis a prepararem suas almas para a participação no sacrifício.

suscipe Sancta Trinitas
Latim: Recebei, ó Santíssima Trindade. Oração que o celebrante faz durante a missa, após o lavabo.

suscipe Sancte Pater
Latim: Recebei, ó Pai Santo. Oração pela qual o sacerdote oferece a hóstia a ser consagrada durante a missa.

sus Minervam docet
Latim: O porco ensina a Minerva. Diz-se sempre que alguém pretende ensinar a outrem aquilo em que ele é especializado. Equivale a: ensinar o pai-nosso ao vigário.

sustine et abstine
Latim: Sofre e abstém-te. Princípio de espiritualidade, que consiste em suportar os incômodos da vida e abster-se de tudo que não seja absolutamente necessário.
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LETRA B
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LETRA C
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Fonte:
Por Tras das Letras
http://www.portrasdasletras.com.br/