quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eça de Queirós (A Cidade e as Serras)



Análise da obra

Publicado em 1901, no ano seguinte ao da morte de Eça de Queirós, o romance A Cidade e as Serras foi desenvolvido a partir da idéia central contida no conto Civilização, datado de 1892. É um romance denso, belo, ao longo do qual Eça de Queirós ironiza ferrenhamente os males da civilização, fazendo elogio dos valores da natureza. É uma obra das mais significativas de Eça de Queirós. Nela o escritor relata a travessia de Jacinto de Tormes, um ferrenho adepto do progresso e da civilização - da cidade para as serras. Ele troca o mundo civilizado, repleto de comodidades provenientes do progresso tecnológico, pelo mundo natural, selvagem, primitivo e pouco confortável, no sentido dos bens que caracterizam a vida urbana moderna, mas onde encontra a felicidade, mudando radicalmente de opinião.

A Cidade e as Serras preconiza uma relação entre as elites e as classes subalternas na qual aquelas promovessem estas socialmente, como faz Jacinto ao reformar sua propriedade no campo e melhorar as condições vida dos trabalhadores. Por meio do personagem central, Jacinto de Tormes, que representa a elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de vida afrancesado e desprovido de autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial e se desenraiza do solo e da cultura do país. Na obra, a apologia da natureza não pode ser confundida com o elogio da mesmice e da mediocridade da vida campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se de agigantar o espírito lusitano, em seu caráter ativo e trabalhador. Assim, podemos afirmar que depois da tese (a hipervalorização da civilização) e da antítese (a hipesvalorização da natureza), o protagonista busca a síntese, ou seja, o equilíbrio, que vem da racionalização e da modernização da vida no campo. Um argumento para tal interpretação está no fato de que, quando se desloca para a serra, Jacinto sente uni irresistível ímpeto empreendedor, que luta inclusive contra as resistências dos empregados ao trabalho.

Concluindo, Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade, empreendeu uma viagem que o reencontrou consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem, que concomitantemente é exterior e interior, abarca a pátria portuguesa e se reveste de uma significação particular, pode ser lida como um processo de auto-conhecimento: um novo Portugal e um novo português se percebem nas serras que querem utilizam da cidade o necessário para se civilizarem sem se corromperem.

Podemos considerar A Cidade e as Serras um romance no qual se destaca a categoria espaço, na medida em que os ambientes são fundamentais para a compreensão da história, destacando-se os contrastes por meio dos quais se contrapõem. Assim, a amplidão da quinta de Tormes contrasta com a estreiteza do universo tecnológico do 202, o que aponta para a oposição entre o espaço civilizado e o espaço natural, presente em todo o romance.

Foco narrativo

Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as Serras, como a maioria dos romances de Eça de Queirós, há um narrador-personagem, José Fernandes, o qual não se confunde com o protagonista da obra, Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se como menos importante do que o protagonista, como podemos perceber, por exemplo, no início da obra. Nos primeiros parágrafos do livro o narrador, em vez de apresentar-se ao leitor, coloca-se em segundo plano para apresentar toda a descendência dos de Tormes, até aparecer a figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe tratamento diferenciado, parecendo idealizar Jacinto, na medida em que o chama de "Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido estudantil do protagonista.

Personagens

Uma particularidade da personagem José Fernandes, está na importância que dá aos instintos, sobrepondo-os à sua capacidade de sentir ou de pensar. Assim, tanto desilusões amorosas quanto preocupações sociais são tratadas com almoços extraordinários. Ao longo do romance ele procura provar o engano que as crenças civilizatórias de seu amigo, Jacinto de Tormes, podem conduzir, embora o admire exageradamente.

Jacinto de Tormes é filho de uma família de fidalgos portugueses, mas nascido e criado em Paris. Se cerca de artefatos da civilização e de tudo o que a ciência produz de mais moderno. Entretanto, o excesso de ócio e conforto o entedia, a ponto de fazê-lo perder o apetite, a sede lendária, a robustez física e a disposição intelectual da juventude. Levado pelas circunstâncias a conhecer suas propriedades nas serras portuguesas, apaixona-se pelo campo, lá introduzindo algumas inovações. Mesmo em contato com a natureza, Jacinto não abandona alguns de seus hábitos urbanos. Desenha futuras hortas, planeja bibliotecas na quinta, traz banheiras e vidros desconhecidos dos habitantes do lugar. Por fim, manda instalar uma linha telefônica nas serras, o que comprova que no fundo não houve grandes modificações em suas crenças.

Ele representa não apenas uma crítica do escritor à ultracivilização, mas também a utopia de um novo Portugal, uma nova pátria, capaz de modernizar-se, sem perder as tradições e as particularidades nacionais. Trata-se, enfim, de um D. Sebastião atualizado pelo socialismo e pelo positivismo. A trajetória percorrida pelo protagonista Jacinto de Tormes deve-se em grande parte, às instâncias e insistências de José Fernandes, que ao mesmo tempo é contador da história e um de seus personagens principais.

Os personagens ligados à vida no campo caracterizam-se por atitudes simples e transparentes, embora tradicionalistas. Um exemplo pode ser o avó de Jacinto, Gatão, cuja ligação ancestral com o referido ambiente manifesta-se pela total devoção à realeza absolutista, que o leva a abandonar Portugal depois da expulsão de D. Miguel. Entretanto, a melhor representação desse grupo de personagens da obra pode ser atribuída a Joaninha, a mulher por quem Jacinto se apaixona, graças a seus atributos naturais e sua simplicidade de espírito.

Enredo

O narrador centraliza seu interesse na figura de um certo Jacinto, descrevendo-o como um homem extremamente forte e rico, que, embora tenha nascido em Paris, no 202 dos Campos Elíseos, tem seus proventos recolhidos de Portugal, onde a família possui extensas terras, desde os tempos de D. Dinis, com plantações e produção de vinho, cortiça e oliveira, que lhe rendem bem. O avô de Jacinto, também Jacinto, gordo e rico, a quem chamavam D. Galeão, era um fanático miguelista. Quando D. Miguel deixou o poder, Jacinto Galeão exilou-se voluntariamente em Paris, lá morrendo de indigestão. D. Angelina Fafes, após a morte do marido, não regressou a Portugal, e, em Paris, criou seu filho, o franzino e adoentado Cintinho que se casou com a filha de um desembargador, nascendo desta união nosso protagonista.

Desde pequeno Jacinto brilhara, quer por sua inteligência, quer por sua capacidade. Aos 23 anos tornou-se um soberbo rapaz, vestido impecavelmente, cabelos e bigodes bem tratados, e feliz da vida. Tudo de melhor acontecia com ele, sendo chamado pelos companheiros de “Príncipe da Grã-Ventura”. Positivista animado, Jacinto defendia a idéia de que “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. A maior preocupação de Jacinto era defender a tese de que a civilização é cidade grande, é máquina e progresso que chegavam através do fonógrafo, do telefone cujos fios cortam milhares de ruas, barulhos de veículos, multidões... Civilização é enxergar à frente.

Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida, naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além, no planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos golfos, toda a geografia de um astro que circula a milhares de léguas dos Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui, pois, o olho primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à sua máxima potência da visão. E desde já, pelo lado do olho, portanto, eu, civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro realidades do universo que ele não suspeita e de que está privado. Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o meu princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira pela incansável acumulação das noções, só te peço que compares Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos cercar de Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver.

Em fevereiro de 1880, José Fernandes foi chamado pelo tio e parte para Guiães e, somente após sete anos de vida na província, retorna e reencontra Jacinto no 202 dos Campos Elíseos. O narrador presenciou coisas espantosas: um elevador para ligar dois andares do palacete; no gabinete de trabalho havia aparelhos mecânicos cheios de artifício; e, enquanto Jacinto escreve para Madame d’Oriol, José Fernandes visita uma enorme biblioteca de trinta mil títulos, os mais diversos possíveis, dos mais renomados autores às mais diferentes ciências. A visita termina com uma refeição em que foram servidas as mais sofisticadas iguarias e um convite de Jacinto ao narrador que ele se hospede no 202.

Primeiros desencantos

José Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior atenção o amigo; suas intensas atividades o desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos raros momentos em que conseguiam passear, confessava ao amigo que o barulho das ruas o incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um período de nítido desencanto. Alguns incidentes contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto, inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia de salvação.

As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma recepção ao Grão-Duque, Jacinto já não agüentava o farfalhar das sedas das mulheres quando lhes explicava o uso dos diferentes aparelhos, o tetrafone, o numerador de páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o peixe a ser servido ficara preso no elevador e os convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o peixe acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda mais aborrecido o anfitrião.

Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua mole densidade, que as glórias ou os tormentos de um camarada não o comoviam, como muito remotas, inatingíveis, separadas da sua sensibilidade por imensas camadas de algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura, tombado para o sofá de inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio caíra, depois de renovar tão brava mente todo o recheio mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a força e a matéria!

Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo sobre o que está ocorrendo com Jacinto. O homem respondeu com tamanho conhecimento de causa que espantou o narrador. Uma simples palavra poderia definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria de “fartura”.

Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a "delícia de viver", ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! Um jornal velho, setenta vezes relido desde a crônica até aos anúncios, com a tinta delida, as dobras roídas, não enfastiaria mais o solitário, que só possuísse na sua solidão esse alimento intelectual, do que o parisianismo enfastiava o meu doce camarada! Se eu nesse verão capciosamente o arrastava a um café-concerto, ou ao festivo Pavilhão d'Armenonville, o meu bom Jacinto, colado pesadamente à cadeira, com um maravilhoso ramos de orquídeas na casaca, as finas mãos abatidas sobre o castão da bengala, conservava toda a noite uma gravidade tão estafada, que eu, compadecido, me erguia, o libertava, gozando a sua pressa em abalar, a sua fuga de ave solta... Raramente (e então com veemente arranque como quem salta um fosso) descia a um dos seus clubes, ao fundo dos Campos Elíseos. Não se ocupara mais das suas sociedades e companhias, nem dos telefones de Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as sua convivências. As páginas da agenda cor-de-rosa murcha andavam desafogadas e brancas. E se ainda cediam a um passeio de mail-coach, ou a um convite para algum castelo amigos dos arredores de Paris, era tão arrastadamente, com um esforço saturado ao enfiar o paletó leve, que me lembrava sempre um homem, depois de um gordo jantar de província, a estalar, que, por polidez ou em obediência a um dogma, devesse ainda comer uma lampreia de ovos!
Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sensação dolorosa de abafamento, de atulhamento!

Certo dia, enquanto esperavam ser recebidos por Madame d'Oriol, José Fernandes e Jacinto subiram à Basílica do Sacré-Coeur, em construção no alto de Montmartre. Ao se recostarem na borda do terraço, puderam contemplar Paris envolta em uma nuvem cinzenta e fria, motivando profunda reflexões, pois a cidade - tão cheia de vida, de ouro, de riquezas, de cultura e resplandecência, incluindo o soberbo 202, com todas as suas sofisticações - estava agora sucumbida sob as nuvens cinzentas, a cidade não passava de uma ilusão.

(...) uma ilusão! E a mais marga, porque o homem pensa ter na cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto de ossos moles como trapos, de nervos trêmulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentauros de chumbo sem sangue, sem febre, sem viço, torto, corcunda - esse ser em que Deus, espantado , mal pôde reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar: rico e superior como um Jacinto, a sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, prazer, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel... A sua tranqüilidade (bem tão alto que Deus com ele recompensa os santos) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquietada da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos; onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arrátel, como a de vaca! Contempla esse velho deus do himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da paixão a apertada carteira do dote!
(...) Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de idéias e fórmulas que constitui a atmosfera mental das cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados só exprime todas as expressões já exprimidas; ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão.
(...) Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e agente vive acamada nos prédios com o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si uma espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!

Zé Fernandes continuou a filosofar, acrescentando preocupações de caráter pessoal, indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando aos pobres não mais que algumas migalhas. Religiosamente, acreditava ser necessário um novo Messias que ensinasse às multidões a humildade e a mansidão.

Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem!
(...) A tua Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade. (...)

Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando - considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana, trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado - e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da Terra novamente posta num Messias!...

De Schopenhauer ao Eclesiastes: pessimismo

Como já havia planejado, o narrador partiu para uma viagem pela Europa e, ao retornar, procurou o amigo e tentou descobrir o que lhe passava na lama, pois encontrou-o mais pessimista que nunca, depressão revelada pelas leituras do Eclesiastes e do filósofo pessimista Schopenhauer. Nestas leituras, encontrava um certo amparo aos comprovar que todo mal era resultante de uma lei universal e, a partir daí, encontrou uma grata ocupação - maldizer a vida. Ao mesmo tempo, sobrecarregou sua existência com fervores humanísticos. Mas de nada adiantava, pois Jacinto estava desolado. No inverno escuro e pessimista, Jacinto acordou certa manhã e comunicou a José Fernandes que esta de partida para Tormes. Decidiu viajar ao receber uma carta de Silvério, seu procurador, que dizia estarem concluídos os trabalhos de reerguimento da capela para onde seriam transladados os restos mortais de sues avós que ele não conhecera, mas que o 202 estava cheio de recordações.

Os preparativos para a viagem envolveram uma mudança da civilização para as serras. Jacinto encaixotou camas de penas, banheiras, cortinas, divãs, tapetes, livros, despachou tudo para poder enfrentar com conforto um mês nas serras. Enquanto isso; renascia nele o amor pela cidade.

Partiram os dois amigos de volta a Portugal. As cidades passavam pelas janelas do trem: da França para a Espanha, da Espanha para Portugal... Tomado por uma suave emoção, José Fernandes estava feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), as malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita a baldeação. O narrador, com o intuito de aclamar o amigo, diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os dois só com a roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.

...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditodoso das nossas provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com sues vistoso girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo.

Desembarcaram em Tormes, onde o narrador encontrou o velho amigo Pimenta, chefe da estação. Após apresentar-lhe o senhor de Tormes, indagou por Silvério, o procurador de Jacinto em terras portuguesas. Começaram então outros desastres da viagem. Silvério não os aguardava: havia partido há dois meses para o Castelo de Vide. Os criados Grilo e Anatole, aparentemente estavam com as 23 malas em outro compartimento, não foram encontrados, o trem apitou e partiu, deixando os dois sem nada. Não havia cavalos para atravessarem a serra, pois Melchior, o caseiro, não os esperava senão para o mês seguinte. Pimenta arranjou-lhes uma égua e um burro e ambos seguiram serra cima, esquecendo, por alguns instante, os infortúnios passados enquanto contemplavam a beleza da paisagem. O pior ainda estava por acontecer: os caixotes despachados de Paris há quatro meses não haviam chegado, e o mais civilizado dos homens estava totalmente à mercê das serras. Como ninguém os esperava, a casa não estava pronta para recebê-los, a reforma acontecia devagar, os telhados ainda continuavam sem telhas, a vidraças sem vidros. Zé Fernandes sugeriu que rumassem para a casa de sua tia Vicência em Guiães e Jacinto retrucou que ia mesmo para Lisboa.

Melchior arranjou como pôde um jantarzinho, caseiro e simples, longe das comidas sofisticadas, das taças de cristal, dos metais e porcelanas. Uma comida que serviu para matar gostosamente a fome dos viajantes. O senhor de Tormes regalou-se com o jantar que lhe parecera, à primeira vista, insuportável; e o caseiro, diante das manifestações de regozijo perante a comida, pensou que seu senhor passava fome em Paris.

O bom caseiro sinceramente cria que, perdido nesses remotos Parises, o senhor de Tormes, longe da fartura de Tormes, padecia fome e minguava... E o meu Príncipe, na verdade, parecia saciar uma velhíssima fome e uma longa saudade da abundância, rompendo assim, a cada travessa, em louvores mais copiosos. Diante do louro frango assado no espeto e da salada aquele apetecera na horta, agora temperada com um azeite da serra digno dos lábios de Platão, terminou por bradar: - "É divino!" Mas nada o entusiasmava como um vinho de Tormes, caindo do alto, da bojuda infusa verde - um vinho fresco, esperto, seivoso, e tendo mais alma, entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo. Mirando, à vela de sebo, o copo grosso que ele orlava de leve espuma rósea, o meu Príncipe, com um resplendor de otimismo na face, citou Virgílio:
- Quo te carmina dicam, Rethica? Quem dignamente te cantará, vinho amável desta serras?

Após o jantar, ambos ficaram contemplando o céu cheio de estrelas, passaram a ver os astros que na cidade não se dignavam ou não conseguiam observar. O narrador ia-se deixando levar por um contato tão estreito com a paisagem, que em breve surgia uma identificação total do homem com a natureza e em tudo percebia-se Deus, num claro processo panteísta muito comum entre os romântico e que Eça passou a assumir.

- Oh Jacinto, que estrela é esta, aqui, tão viva, sobre o beiral do telhado?
- Não sei... E aquela, Zé Fernandes, além, por cima do pinheiral?
- Não sei.
Não sabíamos. Eu, por causa da espessa crosta de ignorância com que saí do ventre de Coimbra, minha mãe espiritual. Ele, porque na sua biblioteca o possuía trezentos e oito tratados sobre astronomia, e o saber assim acumulado, forma um monte que nunca se transpõe nem se desbasta. Mas que nos importava que aquele astro além se chamasse Sírio e aquele outro Aldebarã? Que lhes importava a eles que um de nós fosse Jacinto, outro Zé? Eles tão imensos, nós tão pequeninos, somos a obra da mesma vontade. E todos, Uranos ou Lorenas de Noronha e Sande, constituímos modos diversos de um ser único, e as nossas diversidades esparsas somam na mesma compacta unidade. Moléculas do mesmo todo, governadas pela mesma lei, rolando para o mesmo fim... Do astro ao homem, do homem à flor do trevo, da flor do trevo ao mar sonoro – tudo é o mesmo corpo, onde circula como um sangue, o mesmo deus. E nenhum frêmito de vida, pormenor, passa numa fibra desse sublime corpo, que se não repercuta em todas, até às mais humildes, até às que parecem inertes e invitais. Quando um sol que não avisto, nunca avistarei, morre de inanição nas profundidades, esse esguio galho de limoeiro, embaixo na horta, sente um secreto arrepio de morte; e, quando eu bato uma patada no soalho de Tormes, além o monstruoso Saturno estremece, e esse estremecimento percorre o inteiro Universo! Jacinto abateu rijamente a mão no rebordo da janela. Eu gritei:
- Acredita! ...O sol tremeu.
E depois ( como eu notei) devíamos considerar que, sobre cada um desses grãos de pó luminoso, existia uma criação, que incessantemente nasce, perece, renasce.

O cansaço vence os dois viajantes. José Fernandes adormece sob os apelos de Jacinto para que lhe enviasse algumas peças brancas e lhe reservasse alojamento em um bom hotel de Lisboa. Uma semana depois que José Fernandes havia partido para Guiães, recebeu suas malas e imediatamente enviou um telegrama para Lisboa, endereçado ao hotel Bragança, agradecendo pela bagagem que foi encontrada e alegrando-se pelo amigo estar novamente gozando os privilégios de seres civilizados. No entanto, não obteve resposta. Certo dia, o narrador voltando de Flor da Malva, da casa de sua prima Joaninha, parou na venda de Manuel Rico, e ficou sabendo algo surpreendente através do sobrinho de Melchior: Jacinto permanecia em Tormes já há cinco semanas. Ao visitar Jacinto, José Fernandes o encontrou totalmente mudado, física e mentalmente. Nada nele denunciava um homem franzino; estava encorpado, corado, como um verdadeiro montês.

Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar os servos, na Roma simples. E gritava:
- Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha!
Pulei, imensamente divertido:
- Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?...
O meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande copo, todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato.

Um homem de bem com a vida

Era um outro Jacinto a quem o campo já não mais era insignificante. Cada momento novo era uma nova e alegre descoberta. Enfim, era um homem de bem com a sua vida. Aproveitando a presença do amigo, Jacinto providenciou a transladação dos corpos de seus antepassados para a Capelinha da Carriça, agora reconstruída. Zé Fernandes, hábil observador do amigo, percebeu que Jacinto não se contentava em ser o apreciador passivo dos encantos da natureza. Ele queria participar de tudo, e lhe surgiam grandes idéias como encher pastos, construir currais perfeitos, máquinas para produzir queijos...

Certo dia, ao percorrer seus domínios, Jacinto conheceu o outro lado da serra: uma criança muito franzina viera pedir socorro para a mãe agonizante. A partir desse momento, as decisões de Jacinto tomaram novo rumo, pois ele começou a se preocupar com o lado triste da serra, e passou a fazer caridade, reconstruir casa, dar novo alento à vida dos humildes. Em uma das inúmeras visitas que lhe fez o narrador, Jacinto confessou que pretendia introduzir um pouco de civilização naqueles cantos tão rústicos. O povo da região começou a agradecer as benfeitorias e logo passou a circular a lenda que o senhor de Tormes era D. Sebastião que havia voltado para ressuscitar Portugal.

Convidado por Zé Fernandes para o aniversário de tia Vicência, Jacinto encontraria aí a oportunidade de conhecer seus vizinhos, outros proprietários. No entanto, a recepção não foi aquilo que o narrador esperava. Havia uma frieza por parte dos habitantes da região, exceto tia Vicência que o recebeu como verdadeiro sobrinho. Ao terminarem a ceia, vieram a saber porquê daquela frieza: eles pensavam que o senhor de Tormes fosse miguelista como o avô e que pretendia restituir D. Miguel ao poder.

E só compreendi, na sala, quando o Dr. Alípio, com sua chávena de café e o charuto fumegante, me disse, num daqueles seus olhares finos, que lhe valiam a alcunha de “Dr. Agudos:” – ‘Espero que ao menos, cá por Guiães, não se erga de novo a forca!...’ E o mesmo fino olhar me indicava a D. Teotônio, que arrastara Jacinto para entre as cortinas de uma janela, e discorria, com um ar de fé e de mistério. Era o miguelismo, por Deus! O bom D. Teotônio considerava Jacinto como um hereditário, ferrenho miguelista, - e na sua inesperada vinda ao solar de Tormes, entrevia uma missão política, o começo de um a propaganda enérgica, e o primeiro passo para uma tentativa de restauração. E na reserva daqueles cavalheiros, ante o meu Príncipe, eu senti então a suspeita liberal, o receio de uma influência rica, novas, nas eleições próximas, e a nascente irritação contra as velhas idéias, representadas naquele moço, tão rico, de civilização tão superior. Quase entornei o café, na alegre surpresa daquela sandice. E retive o Melo Rebelo, que repunha a chávena vazia na bandeja, fitei, com um pouco de riso, o “Dr. Agudo”.

Este jantar serviu de pretexto para o narrador mostrar a mentalidade atrasada da sociedade serrana e aquilo que a fazia sorrir Jacinto era, na verdade, um abismo entre a ignorância e o progresso. A serra estava impregnada de uma mentalidade retrógrada, ainda absolutista, enquanto no final do século polvilhavam novas teorias e doutrinas filosóficas e políticas. Tentou-se ainda um jogo de voltarete para animar a noite, mas a ameaça de uma a tempestade levou os convidados a baterem em retirada.

A manhã seguinte estava fresca e clara,. José Fernandes levou o amigo até Flor da Malva, para visitar sua prima Joaninha que não pudera comparecer à reunião, pois o pai, Adrião, estava acamado. No caminho, encontraram João Torrado, um velho eremita que supôs estar diante de D. Sebastião. Esta figura ilustrava o lado da profundidade do mito na mentalidade simples, saudando Jacinto como um profeta, e tratando-o como “pai dos pobres”. Nele estão representadas a sabedoria e a simplicidade do povo.

E um estranho velho, de longos cabelos brancos, barbas brancas, que lhe comiam a face cor de tijolo, assomou no vão da porta, apoiado a um bordão, com uma caixa de lata a tiracolo, e cravou em Jacinto dois olhinhos de um brilho negro, que faiscavam. Era o tio João Torrado, o profeta da serra... Logo lhe estendi a mão, que ele apertou, sem despregar de Jacinto os olhos, que se dilatavam mais negros. Mandei vir outro copo, apresentei Jacinto, que corara, embaraçado.
- Pois aqui tem, o senhor de Tormes, que fez por aí todo esse bem à pobreza.
O velho atirou para ele bruscamente o braço, que saía cabeludo e quase negro, de uma manga muito curta.
- A mão!
E quando Jacinto lha deu, depois de arrancar vivamente a luva, João Torrado longamente lha reteve com um sacudir lento e pensativo murmurando:
- Mão real, mão de dar, mão que vem de cima, mão já rara!
Depois tomou o copo, que lhe oferecia o Torto, bebeu com imensa lentidão, limpou as barbas, deu um jeito à correia que lhe prendia a caixa de lata, e batendo com aponta do cajado no chão:
- Pois louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, que por aqui me trouxe, que não perdi o meu dia, e vi um homem!
Eu então debrucei-me para ele, mais em confidência:
- Mas, ó tio João, ouça cá! Sempre é certo você dizer por aí, pelos sítios, que el-rei?D. Sebastião voltará?
O pitoresco velho apoiou as duas mãos sobre o cajado, o queixo da espalhada barba sobre as mãos, e murmurava, sem nos olhar, como seguindo a procissão dos seus pensamentos:
- Talvez voltasse, talvez não voltasse... Não se sabe quem vai, nem quem vem.

A chegada a Flor de Malva prepara o desfecho do romance. Joaninha, que não se apresenta sequer ruma fala na narrativa, jovem de uma formosura ímpar estaria destinada a ser a senhora de Tormes.

Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do passo e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele, e o louro ondeado dos eus belos cabelos, - lindamente risonha, na surpresa que alargava os seus largos, luminoso olhos negros, e trazendo ao colo uma criancinha, gorda e cor-de-rosa, apenas coberta cima uma camisinha, de grandes laços azuis.
E foi assim que Jacinto, nessa tarde de setembro, na Flor da Malva, viu aquela com quem casou, em maio, na capelinha de azulejos, quando o grande pé de roseira se cobrira já de rosas.

Cinco anos se passaram em plena felicidade por ver correrem por aquelas terras duas fidalgas crianças, Teresinha e Jacinto. Os caixotes embarcados de Paris enfim chegaram a Tormes e serviam para demonstrar o total equilíbrio do protagonista, aproveitando o que poderia ser aproveitado e desprezando as inutilidades da civilização, justificando deste modo a observação feita por Grilo: Sua Excelência brotara”. Certamente Jacinto descobrira seus melhores valores: era feliz e fazia os outros felizes. Algumas vezes Jacinto falou em levar a esposa para conhecer o 202 e a civilização, mas o projeto, por um motivo ou por outro, era sempre adiado.

Quem voltou a Paris foi Zé Fernandes e lá, sentindo-se abandonado e entendiado, descobriu uma porção de fantoches a viverem uma vida falsa e mesquinha. Percebeu que os antigos conhecidos eram seres frágeis e vazios, idênticos entre si e massas impessoais, amorfas, feitas para agradar ou desagradar os outros conforme seus interesses. Não suportando a cidade, retornou a Portugal. Este serrano que anteriormente valorizava os encantos da civilização foi tomado pelos mesmos sentimentos de Jacinto e confirmou uma simples verdade: no fundo, reabilitou Eça de Queirós com o seu Portugal.

Arrastei então por Paris dias de imenso tédio. Ao longo do Boulevard revi nas vitrinas todo o luxo, que já me enfartava havia cinco anos, sem uma graça nova, uma curta frescura de invenção. Nas livrarias, sem descobrir um livro, folheava centenas de volumes amarelos, onde, de cada página que ao acaso abria, se exalava um cheiro de morno de alcova, e de pó-de-arroz, de entre linhas trabalhadas com efeminado arrebique, como rendas de camisas. Ao jantar, em qualquer restaurante, encontrava, ornando e disfarçando as carnes ou as aves, o mesmo molho, de cores e sabores de pomada, que já de manhã, noutro restaurante, espelhado e dourejado, me enjoara no peixe e nos legumes. Paguei por grosso preços garrafas do nosso rascante e rústico vinho de Torres, enobrecido com o título de Chatêaou-isto, Château-aquilo, e pó postiço no gargalo. À noite, nos teatros, encontrava a cama, a costumada cama, como centro e único fim da vida, atraindo, mais fortemente que o monturo atrai as moscardos, todo um enxame de gentes, estonteadas, frementes de erotismo, zumbindo pilhérias senis. Esta sordidez da planície me levou a procurar melhor aragem de espírito nas alturas da Colina, em Montmartre; - e aí, no meio de uma multidão elegante de senhoras, de duquesas, de generais , de todo o lato pessoal da cidade, eu recebia, do alto do placo, grossos jorros de obscenidades, que faziam estremecer de gozo as orelhas cabeludas de gordos banqueiros, e arfar com delícia os corpetes de Worms e de Doucet, sobre os peitos postiços das nobres damas. E recolhia enjoado com, tanto relento de alcova, vagamente dispéptico com os molhos de pomada do jantar, e sobretudo descontente comigo, por me não divertir, não compreender a cidade, e errar através dela e da sua civilização superior, com reserva ridícula de um censor, de um Catão austero. “Oh senhores!”, pensava eu “pois não me divertirei nesta deliciosa cidade?” Entrara comigo no bolor da velhice?

Fonte:
Passeiweb.

Genaura Tormin (Goiás Poético)


CRISTAL QUEBRADO

Náufraga de sonhos,
Tenho saudades de mim mesma.
Guardiã estática
De uma performance em cacos,
Já não sei quem sou.

Quebrou-se o cristal!
Incendeiam-se restos de esperanças,
Multiplicando a inércia dos instantes.
A solidão se faz...
Sonho frustrado.
Permito-me o impossível
Porque as portas me fascinam.

Vivo emoções do tempo que se foi.
Das derrotas,
Guardo o aprendizado.
Não fujo de nada!
Nada em mim petrificado está.
Há muito sentimento
Ainda.
Mergulho nos meus cantos,
Escudo-me na coragem,
Pois inteira sou
Para esta viagem seguir,

PROTÓTIPO DA FELICIDADE

A distância edifica o amor!
Prova a sua importância,
O lugar cativo no coração.
Pode, também,
Consolidar o fim,
Lanhar a emoção.

Na dúvida,
Nunca diga adeus.
Tente outra vez!
Resista ao sentimento.
A esperança não pode partir.
Abra o seu coração!
Deixe o afeto emergir.
Cante por todas mágoas,
Por todas as dores...

As portas se abrem sempre.
Não se aprisione às que se foram.
O amor é imprescindível.
É alento, tormento,
Dinâmica do existir.

Sua falta machuca,
Diminui a auto-estima,
Abre crateras, provoca feridas...
Ame,
Mesmo que seja em sonho!
Encontre pessoas queridas.
A fantasia faz parte!
É o protótipo da felicidade!

ARQUITETA DE MIM

Vou reinventar a vida!
Fazer consertos,
Aplicar remendos.

Prenhe estou de disfarces
E esgueiram-me pelos corpo
A plangência do tempo,
Restos de batalhas
Que se reiniciam sempre.

A incoerência dos retalhos
Fragmentam-se pelos dias.
Recolho os estilhaços.
Sou enigma,
Sou incógnita no existir!
Fabrico fantasias
E metáforas.
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Genaura Tormin (1945)


Picuí, Paraiba (03 de julho de 1945)

Filha de José Patrício da Costa e Angelina Muribeca da Costa.

Após os estudos primários em sua terra natal, fez o ginásio no Colégio Santo Agostinho e o Técnico de Contabilidade, na Escola de Comércio de Goiânia.

Formou-se em Direito, pela Faculdade Anhanguera.

Advogada, Ex-Delegada de Polícia. Serventuária do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, em Goiânia.

Professora da Academia de Polícia de Goiás.

Escritora, Poetisa, Ensaísta. Pesquisadora, Memorialista, Intelectual. Pensadora, Ativista, Produtora Cultual. Literata, Cronista, Contista. Administradora, Educadora, Ficcionista.

Membro da União Brasileira de Escritores de Goiás, da Ordem dos Advogados do Brasil, da Associação dos Delegados de Polícia, além de diferentes entidades sociais, culturais e de classe, entre as quais, Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica.

Presente na Estante do Escritor Goiano, do Serviço Social do Comércio e em diferentes antologias de poesia e prosa. Biografada no Dicionário Biobibliográfico de Goiás, de Mário Ribeiro Martins, Master, Rio de Janeiro, 1999.

Genaura Maria Da Costa Tormin, é o meu nome. Nasci ao amanhecer de um domingo de julho, embalada pela sinfonia do vento e pelo cantar de pássaros. Filha de pais camponeses, tenho por lema a coragem, a fé por legado e o amor por escudo. Já vivi meio século, conheço bem a jornada. Fui menina, rebelde, barulhenta, traquina. O colégio de freiras me fez moça educada, comportada, bem intencionada. Sou casada e tenho filhos.

Nasci no nordeste brasileiro, mas reputo-me goianiense, pois aqui resido desde os nove anos de idade. Aqui conclui os meus estudos. Fiz o curso Direito e especializei-me em algumas áreas. Sou Delegada de Polícia. O tempo legou-me a aposentadoria. Irreverente que sou, arranjei outra ocupação. Estudei e prestei concurso. Sou Analista Judicário do Tribunal Regional do rabalho de Goiás.

Fui poeta, como toda adolescente, porém essa marca não passou por mim. Retenho-a até hoje. Não me importa se canto o amor, a vida, a morte... O que importa é cantar, extravasar, curtir as palavras lindas, tristes ou fortes.

Sou escritora: meu livro Pássaro Sem Asas estreou em 1991 e já está em 50 edição. A 6ª já está a caminho. Afinal, a vida é dinâmica. Tenho, ainda outro: Apenas uma flor, de poemas para acalentar a alma, colorir os momentos desbotados e falar de amor.

Em versos vou levando a vida, desnudando anseios e deixando jorrar todas as emoções de viver. No meu caminhar tenho pressa. Vivo o hoje, o agora. Sou poeta.

Fontes:
Poetas del Mundo.
Usina de Letras

Alexandra F. Dias Ribeiro (Anjo)


Joana sentada no parque observava as crianças brincarem. Uma em particular, chamou sua atenção. Tinha no máximo dois anos, pele clara com os cabelos cheios de cachinhos que conforme os reflexos do sol brilhavam intensamente, como raios dourados. Seu sorriso denuncia a ausência de alguns dentes. Corria com as pernas meio trôpegas, meio sem equilíbrio, atrás das crianças maiores. Quem a visse ali naquele momento acharia que se tratava de uma mãe atenta observando os filhos brincarem. Não era o caso de Joana, que perdida em suas lembranças, olhava para a menina de cabelos dourados. Agora sem realmente enxerga-la.

Quatro anos, era a idade que sua pequena Ana teria, se tivesse sobrevivido àquela fatalidade da natureza. Joana estava com vinte e oito anos, quando descobriu que estava grávida. Foi uma alegria tremenda, pois, haviam planejado aquele momento com o maior carinho. Estava com uma carreira brilhante como advogada, seu marido Lucas tinha um escritório onde era contador; e aos poucos prosperava.

Tudo caminhava muito bem até o dia fatal.

Naquela manhã havia marcado uma consulta onde realizaria sua primeira ultra-sonografia. Estava na maior expectativa, pois talvez com sorte houvesse chance de ver o sexo do bebê. Entrou no consultório muito empolgada. A enfermeira deu as instruções, para prepará-la para o exame. O médico era um velho amigo e também seu ginecologista. Este confirmou seu tempo de gestação, estava grávida de 22 semanas. No meio do exame ela percebeu que uma lágrima escorria no rosto do homem, imaginou que era a emoção de ver uma criança em seu pleno desenvolvimento.

- Lamento Joana, - começou o médico - não existe uma maneira delicada de falar, nem tão pouco posso te dar esperanças. - o profissional parou por alguns instantes, como se buscasse palavras adequadas para prosseguir.

A mulher não entendia o que estava acontecendo.

- Seja mais claro, por favor... - pediu ela num fio de voz, enquanto temia pelo o que viria. Mas nem em um milhão de anos estaria preparada para ouvir a noticia que sucedeu.

- Infelizmente seu bebê tem Anencefalia. É um defeito congênito, que se desenvolve bem no inicio da formação do feto.

Naquele momento seu mundo desmoronou. Lucas não proferiu uma palavra. Um silencio mortal se fez no consultório. Percebendo que os pais da criança precisavam absorver o impacto da noticia, o velho médico pediu licença, a qual ninguém ouviu, e saiu.

- Muitas crianças com anencefalia morrem intra-útero ou durante o parto. Explicou o médico que tinha noção que aquela família não precisava no momento de explicação, mas infelizmente eram os ossos do oficio.

- Você pode optar pelo aborto, pode tentar conseguir uma liminar na justiça, pedindo a antecipação do parto. Em minha opinião, será mais dolorido e constrangedor um processo, mas apenas cabe a vocês esta difícil decisão.

O casal saiu da clínica como se estivesse em transe ou até mesmo dopado. Fizeram o trajeto para casa completamente escravizados pelos pensamentos doloridos que povoavam suas mentes.

Não estavam preparados para ouvir aquela notícia. Tinham como certo que seu filho seria completamente saudável.

Já em casa Joana olhou o semblante abatido do marido, notou que chorava copiosamente. Quis pedir para que se acalmasse, mas não sentiu coragem suficiente para abrir a boca. De súbito a dor veio, como se apenas naquele momento estivesse dando conta da delicada situação que ambos se encontravam. Abraçados, as lágrimas se misturavam, em uma mesma agonia. Depois de superarem o primeiro choque ambos se olharam com a pergunta muda no olhar: E agora?
Sabiam que era menina, decidiram que se chamaria Ana.

Eram inteligentes o bastante para saberem que aquele caso, em si, não existia meio termo. Os dois nunca foram a favor do aborto, e por mais que fosse dolorido, iriam com aquele ser até o fim... Sabiam que de uma forma ou de outra Deus a levaria, resolveram então curtir os momentos que teriam com Ana.Se esforçariam em mostrar o quanto ela era amada e desejada.

Para eles, ter aquela filha era uma alegria divina, um grande diamante, o grande tesouro da vida, amor era tudo por mais que fosse por pouco tempo.

Joana acabara de completar 23 semanas de gestação, sentia muito medo por não sentir seu bebê mexer. Foi abençoada dois dias depois com o primeiro movimento. Ela sentiu-se fazendo parte de um milagre. Em êxtase, ligou para Lucas que foi logo para a casa para comemorar com a esposa. Cada vez que a pequena Ana dava um forte chute, ambos se deliciavam e um grande amor palpitava em seus corações. Amavam cada movimento da filha porque sabiam que significava mais um dia juntos.

A mãe dedicava a maior parte do tempo contando à filha os sonhos e planos que havia desejado a ela, acariciava o ventre redondo tentando transmitir para Ana apenas vibrações positivas.

Quando sentia que o bebê estava agitado, Lucas dedilhava o violão e Joana se punha a cantar. Cantava com a alma e o coração. Juntos percebiam que a “nenê” logo ficava mais relaxada, e ambos riam diante da sincronia que existia entre eles.

Às vezes o casal ficava deprimido, pois sabia que cada minuto que passava era um tempo a menos junto da filha. Logo tentavam se animar para não transmitir a dor que sentiam cada vez que pensavam no fim.

Foi em uma manhã de chuva que Joana era o último dia junto de Ana.

O parto não poderia ser de maneira natural uma vez que o cérebro estava faltando e os hormônios responsáveis não foram gerados, teria de ser induzido. O médico havia sugerido que esperassem até as trinta e oito semanas.

Na sala de parto, sentia-se bem aparentemente. Mas dentro de si permanecia uma batalha. O temor e a preocupação chegavam a causar náuseas.

Pôs-se a pedir, com todo o fervor de que era capaz, a Deus, forças para enfrentar o que estava por vir. E como em um passe de mágica, tudo foi embora, dor, medo, pesar... Na sala instalou-se uma paz quase papável.

Como em câmera lenta sua filha veio ao mundo. Ela não chora de início, mas logo depois um leve som sai de seus lábios pequenos. Ela estava viva! O mundo pára de girar naquele momento, a única coisa importante é Ana. E cada segundo que Lucas e Joana ficam junto com a filha é precioso e sagrado.

Ela é tão pequenina! Podia ter uma deformação, mas para Joana ela era sua filha querida.

Parecia-se muito com o pai, percebeu ela. Mas trazia na pequena mãozinha uma marca igual à mãe tinha no mesmo local. Gostaria de pedir a Deus que a deixasse, mas sabia que não tinha esse direito. Olhando para a pequena em seus braços, Joana a achou semelhante um anjo, que nada conhece do mal, e vai se juntar a outros em luta do bem. Quanto mais a admirava, maior era o amor que sentia palpitar dentro de si de forma sublime.

Inesperadamente Ana respirou pela última vez. Não foi necessário o médico dizer que sua filha estava morta. Uma lágrima rolou de seu rosto, e grata disse a filha:

- Foi um privilégio te amar, te conhecer. Sinto-me honrada em ser sua mãe. Vá querida... Em paz, ficaremos bem...

Beijou a face rosada da filha em um último adeus.

Ao voltar para a casa, totalmente transtornada. Queria ir ao cemitério desenterrar a filha de qualquer jeito. Não permitia que ninguém se aproximasse para consolá-la. Só de olhar as pessoas a sua volta dava nos nervos, apesar de serem gentis e cordiais, ela não queria a presença de ninguém. Nem o marido conseguia confortá-la. Este teve de ter grande paciência, e provar todo o amor que sentia pela mulher. A única coisa que a fazia ficar calma era dormir, pois em sonho tinha novamente a filha nos braços.

Algumas pessoas que se aproximavam havia nelas alguma coisa fria, falsa, era o sentimento de pena o qual Joana não precisava. Um dia se passou... dois, três, que se transformaram em meses. Mas a tristeza dela parecia não ter fim, sua alma continuava escura, sombria.

A cabeça doía e ainda tinha vertigens. Obscuridade, alguma coisa dentro de si não queria morrer. Se sentindo apagada foi-se deitar. Sem perceber acabou adormecendo.

Acabou sonhando com Ana, mas dessa vez foi diferente dos sonhos anteriores. Ana apareceu na forma de um bebe, mas como um anjo.

- Chega de sofrer, mamãe! Seu sofrimento não esta fazendo mal apenas a você, mas também as pessoas que te amam. Inclusive eu! – quando disse isso seu semblante foi tomado por uma ligeira tristeza. - Veja como padece o pobre do papai. Tente olhar o aspecto positivo. Comece pensando que foi muito bom ter seu amor por todo esse tempo. Acorde e respire, há muitas pessoas que necessitam do seu carinho e estão te esperando de braços abertos, aproveite isso! Eu estarei aqui em cima sempre olhando por vocês.

Quando acordou teve a nítida impressão que não se tratara de um sonho. Havia sido muito real. E lembrou que a dor que continuava a sentir estava afetando a pequena Ana, que onde estivesse queria vê-la feliz. Tomando um gole de leite morno, relembrou com exatidão as palavras de Ana e resolveu refletir, clarear as idéias, afinal devia isso a si mesma e as pessoas demais. E essa tentativa a levou além.

Percebeu que o sofrimento que a havia arrastado era uma forma de aprendizado e não um castigo como imaginara.

Quando Deus revelou a Maria que ela daria a luz a um filho seu; ela não o questionou. Apenas disse – “Seja feita vossa vontade”. Na oração que Jesus nos ensinou também dizemos, “Seja feita a vossa vontade”. Não cabia a ela questionar a vontade do Criador. Lembrou claramente que havia pensado tanto em sua carreira, em ter dinheiro, bens matérias. Que filhos haviam ficado em segundo plano. Entendeu que filhos jamais devem ficar em segundo plano. Ter uma vida estável para se ter um filho era importante, mas não havia necessidade de enriquecer. O primordial seria o amor para dar, sem esperar receber recompensa por isso. Chega-se em um estágio da vida que o importante não o quê você tem, mas, quem você tem na vida. Tudo um dia pode acabar menos o amor incondicional, que não pode ser destruído, por ser eterno e transcender o tempo!

Havia cumprido seu papel, dando todo o amor de que era capaz a Ana. Talvez se a tivesse para sempre não seria capaz de doar seu amor da mesma forma. Pois existem pessoas que tem seus filhos perfeitos e saudáveis e se esquecem que precisam ser amados e necessitam saber disso. Outros perdem os filhos para o mundo, drogas... Desde o nosso nascimento, cada indivíduo precisa da ajuda das pessoas para viver, com o passar do tempo, para sobreviver. Sendo seres dependentes. Não por serem fracos ou carentes, mas porque essa é uma forma pela qual se pode crescer plenamente. No seu caso não havia perda, mais ganho...

Foi capaz de entender que era capaz de amar e dar amor. Poderia ter outros filhos, não para substituir, isso jamais, mas para se doar a eles. Estava preparada em todos os sentidos para ser mãe em sua forma e plenitude.

E sabia que existiam pessoas com quem podia contar. E qualquer coisa é suportável se não estamos sozinhos.

Sorrindo Joana voltou à realidade. Levantou-se, limpando a roupa com as mãos, tinha grama grudada em suas vestes.

Sentiu alguém a tocar e virou-se. Era a criança que havia chamado sua atenção. Percebeu naquele momento que ela era idêntica com a filha que em sonho foi vê-la.

A criança sorrindo, lhe estendeu uma flor. E numa voz infantil disse:

- Seu nenê tem muita sorte...

- Que nenê? – perguntou intrigada.

- Esse que está aí. – disse apontando para sua barriga.

- Ana? Venha filha. – chamou a mãe da criança.

Joana sentiu necessidade de dizer alguma coisa, mas ela já havia partido com seu risinho puro e inocente, saltitando feliz. E Lucas se aproximava vindo feliz ao seu encontro.

O amor sempre foi fundamental nos ensinamentos de Jesus, e é o elemento essencial para a cura da alma.

Fonte:
http://rodamundinho.ning.com/

Secretaria da Cultura de Maringá (Programação de fevereiro/2010)



CLUBE DE LEITURA (entrada franca)

Dia 06/02 – Livro: “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar. Biblioteca Centro, às 10h00.

CLUBETEEN (entrada franca)

Livro: “Crepúsculo”, de Stephenie Meyer, às 15h00.
Dia 12/02, na Biblioteca Operária.
Dia 24/02, na Biblioteca Palmeiras.

Livro: “Eclipse”, de Stephenie Meyer.
Dia 23/02, na Biblioteca Alvorada, às 15h00.

Livro: “O amanhecer”, de Stephenie Meyer.
Dia 25/02, na Biblioteca do Mandacaru, às 14h00.
Dia 26/02, na Biblioteca Centro, às 15h00.

CLUBINHO DE LEITURA/TEATRO DE SOMBRAS (entrada franca)

Livro: “O Grúfalo”, de Júlia Donaldson.
Dia 10/02 – Biblioteca Palmeiras, às 10h00.
Dia 11/02 – Biblioteca Mandacaru, ÀS 14h00.
Dia 13/02 – Biblioteca Centro, às 10h00.
Dia 19/02 – Biblioteca Alvorada, às 15h00.
Dia 26/02 – Biblioteca Operária, às 15h00.

Livro: “O pavão do abre-e-fecha”, de Ana Maria Machado.
Dia 19/02 – Biblioteca do Mandacaru, às 14h00.

Livro: “Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias”, de Ruth Rocha.
Dia 23/02 – Biblioteca do Mandacaru, às 14h00.

CONVITE AO TEATRO (sempre no Teatro Barracão, às 21h00, entrada franca).

Dias 05, 12, 19 e 26/02 – Peça: “Zabelê, Caxinguelê e o Romance Perfumado”, com a Cia FANTOKIDS de Bonecos, para todas as idades.

PROJETO FÉRIAS NA BIBLIOTECA / Oficina de poesias para adolescentes (entrada franca).

Dias 01, 03 e 05/02 – Biblioteca do Mandacaru, das 14h00 às 16h00.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá

Domingos Barroso (Caderno de Poesias)


Apenas um Crepúsculo

O raio de luz
que se derrama
sobre o teclado
é motivo de louca epifania.

O que mudou
é que agora
meus dedos brincam
de pular amarelinha.

Naquele tempo
na folha de papel
havia algo estranho

mediunidade
olhar perdido
lançado à escrivaninha.

Hoje, sobre o teclado
os dedos rasgam as túnicas
enlouquecem trocando suspiros.

Enquanto o raio de luz
de final de tarde

continua o mesmo de outrora
sobre a folha de papel

e neste instante
parece milagre
nada muda sobre o teclado.
==================

Ato Tresloucado

Feliz é a lâmpada do quarto
mesmo quando queima
morre feliz.

Nem fumaça
nem barulho.

Enraiveço.
Quebro o interruptor de plástico.

Lúdica é a lâmpada do quarto.
Brinca com minha ira.

Silenciosa,
do alto do teto,
manda-me um beijo.

Pego meu tênis,
o mais sujo,
lanço-lhe ao focinho.

Agora sim,
uma tragédia:

vapor de mercúrio
dentro dos meus olhos.
––––––––––––––––––––––

No Íntimo Sou um Pré-Socrático

O poema feito panela de barro
precisa que os dedos sejam viciados.

Trêmulos.
Queimem-se as unhas.

Já bebi meu cafezinho.
Jantei um peixinho ao molho.

Agora é deitar-se na cama box solteiro
onde minhas gueixas muriçocas
esperam-me sedentas.

Inferno é que tenho
de escovar os dentes.

Minhas gueixas muriçocas
odeiam o poeta maltrapilho
com uma moreia no esôfago.
___________________

Macumba

Certa noite
Painho me disse
após beijar-me a cabeça
que era injusta minha peleja:

"Como pode um pobre mortal
contra as façanhas de uma entidade?"

Painho apiedou-se da minha alma
trêmulo, ofegante
sussurrou aos meus ouvidos:

"A partir de agora teu sofrimento
é a lâmina do meu punhal,
ouro dos meus dentes ..."

Sei que depois daquele sonho
nunca mais acordei ansioso

com a boca espumando
e o coração apertado.

Painho também me dissera
que logo eu voltaria a ser feliz
do meu jeito:

taciturno,
fora do plano celestial.

E que jamais o vinho
roubaria meus segredos:

cascos de bode,
asas de borboleta,

escamas de peixe,
veludo de urso,

presas de javali,
ventre de tubarão.

De fato,
faz tempo
que não abro
uma garrafa
em alto mar.

Todas enterradas na areia,
após um olhar discreto
dos orixás.

Quanto aos meus segredos:
é difícil guardar um poema
do úmido silêncio das paredes.
_________________________

1º Encontro de Escritores, Poetas, Cordelistas e Repentistas da Região Metropolitana do Cariri


A Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, convida V. Sa. para participar do 1º Encontro de Escritores, Poetas, Cordelistas e Repentistas da Região Metropolitana do Cariri, no dia 04 de fevereiro do corrente ano, às 8h00, no Teatro Municipal Marquise Branca, com a seguinte programação:

8h00-Café da Manhã

8h30-Abertura.

8h50-Palestra: Registros de trabalhos literários na Biblioteca Nacional, ficha catalográfica, direitos autorais entre outros esclarecimentos para a área. Palestrante: Renato Casimiro.

9h30-Palestra: Centenário de Juazeiro do Norte. Palestrante: Daniel Walker

10h20-Reunião de grupos para debate em dois eixos:

a) Participação dos Escritores, Poetas, Cordelistas e Repentistas na elaboração do Plano Municipal de Cultura.

b) Participação do segmento nos Festejos do Centenário de Juazeiro do Norte.

Atenciosamente

Glória Maria Ramos Tavares
Secretária de Cultura de Juazeiro do Norte

Franco Barbosa
Gerência de Literatura

Hugo Rodrigues
Presidente do ICVC

Fonte:
Cariricult.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Trova 114 - Roberto Tchepelentyky (São Paulo)

André Giusti (Caderno de Poesias)


OS FILMES EM QUE MORREMOS DE AMOR.

Noite de Domingo
Morre pesada
Em pratos do almoço
Ainda na pia.

Ainda insisto
Em alguma vida na casa:
Abro-fecho sites
Com os dedos no telefone
Procuro pessoas
Mas não todas:
Apenas as que me falem
De dias na praia,
De filmes em que
Morremos de amor.

Mas como a noite
Pode ser nave imensa
Que não pousa,
Desisto de buscas,
Rendo-me calado
No primeiro quarto
Que encontro.

Nos grotões da sala apagada
Sherryll Crow canta
Algo que tocava em novela,
Sem bem me lembro.

Ah, as músicas e minha
Inconformada relação
Com o tempo!

O problema
É que o CD gira sem consolo
No fim de outra noite,
Em 1995 talvez.

CASAS EM PLANALTINA DE GOIÁS.

Essa luz da tarde seca não nos espanta:
É sempre o mesmo infortúnio
Para os olhos pesados do almoço.

Novidade também não é
O morto antigo que assunta do retrato.

Os mais novos não têm certeza
De quem foi.

Talvez tenha sido o último
A mexer nessas telhas
Por cujas rachaduras o sol se atreve.

Periga voltarmos ao século XVIII
Se, desavisados,
Suspirarmos fundo
Vencidos por um cochilo.

POR VOCÊ
Para M ª. Beatriz.

O meu amor é tão grande
Que logo quando nasceu
Já não cabia mais no peito.

O meu amor é tão grande
Que há muito tempo
Já não cabe mais no céu de Brasília
E nem em todas as praias do Rio.

O meu amor é tão grande
Que quanto mais se torna imenso,
De mais imensidão ele precisa
Para não me sufocar.

O meu amor é tão grande,
Que já não cabe mais
Dentro dele mesmo.

SEM TÍTULO I

‘Inda pouco eram sete horas
Agora são quase dez.
A semana já está acabando
E sábado-e-domingo também é tão rápido.
O ano passou do meio
E minha vida, da metade.
Logo é outro natal
Teu aniversário é mês que vem
Qualquer dia, a nossa morte.

Apenas a gradual angústia das horas
É lenta,
Lenta feito um visgo-movediço-vagaroso
Nos subindo pelas pernas,
Passando da cintura
Até nos roubar inteiramente o ar.

BRASÍLIA EM JANEIRO

Árvores tortas
Decalcam o maior céu do mundo:
Penso nelas como gestos
de quem se afoga,
de quem dá adeus da plataforma.

O sol prateia nuvens musculosas.
Atravessando o Lago,
A vela persegue
Lembrança de baía.

Em algum lugar
Bem próximo
Do horizonte
A tempestade
Espreita o fim da tarde.

HOJE FOI SEXTA-FEIRA

Passei o dia inteiro correndo atrás da vida
com o mundo no meu pé
e agora à noite fiquei só,
curtindo a liberdade de não ter pra onde ir.
Arrastei meus vinte e poucos anos pelos bares
e reconheci rostos de velhos desconhecidos.
Quis fugir do barulho lá fora,
me tranquei num caixa eletrônico
e tentei cortar os pulsos
com o cartão magnético.
Abandonei mais tarde a TV ligada
e, louco, cometi poemas desatentos,
com todos os cuidados
em não fumar a caneta
e escrever com o cigarro.
Depois de tudo me sentei na poltrona
feito um anônimo passageiro do oculto
lobo com medo da floresta.
Se ela não ligar até o fim da vida
talvez eu vá à casa de alguma ex-namorada
para ver se ainda pego as sobras do jantar.

MENDIGO

Nos últimos dias
meu coração anda dormindo
debaixo das marquises
da tua rua.
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André Giusti (O Mais Novo Grande Senhor do Tempo)


Por que resolvera, de repente, a caminho dos 40 anos, usar relógio, era para ele mesmo um mistério daqueles encruados nas cavernas das razões desconhecidas. Em toda a vida tivera um único relógio. Em algum natal bem remoto, talvez no princípio da adolescência, o pai dera-lhe um bem vistoso, a pulseira cromada, o fundo azul perolado, os minutos e os ponteiros amarelos que brilhavam com a luz apagada para que fosse possível olhar as horas até mesmo no escuro. Usou um, dois meses se tanto. Um dia foi jogar futebol no intervalo rápido do recreio na escola, uma pelada daquelas bem improvisadas com bola feita de papelão amassado e grudado com durex. Tomou um toco de um moleque maior e o pulso em que estava o relógio foi beijar a fria dureza do chão de cimento. Sobraram apenas os estilhaços do vidro. O ponteiro das horas pulou longe, jamais foi encontrado.

Nunca mais, nunca mais te dou outro, o pai sentenciou sem raiva, embora não disfarçasse a pequena mágoa pelo descaso com o presente. Se aquilo foi trauma de infância, acabou virando peculiaridade bem resolvida de adulto: cresceu com os pulsos livres, vazios daquele peso, aprendendo a calcular as horas pelo sol, feito um índio urbano. Nos dias de chuva, perguntava as horas aos apressados que perseguiam o tempo. As vitrines das joalherias nunca roubaram seus olhos. Com o passar dos anos, não usar relógio afigurou-se como um ato reservado de rebeldia. Enquanto amigos erguiam modelos caros e robustos a prova d’água, a prova de choque, a prova de tudo, ele levantava o braço, deslizava as mãos pelo cabelo, indicava com o dedo um ponto distante, enfim, fazia qualquer movimento que permitisse aos curiosos reparar em seu pulso vazio. De vez em quando pendurava ali um elástico desses de embrulho. Fazia isso para debochar não sabia exatamente do quê. Quando um primo da namorada, sujeito com quem ele não ia muito, apareceu ostentando um modelo dourado desses que valem um carro semi-novo, comprou uma fita do Senhor do Bonfim e usou-a até que praticamente virasse pó.

Portanto, qual não foi o impacto de ver e sentir aquele peso sobre o pulso que julgava fino, que em tempo algum combinou com uma pulseira ateada a uma forma esférica de metal e vidro. Por um instante teve a impressão de que não era dele o próprio braço, e sim que o membro de outra pessoa fora-lhe enxertado às pressas, trazendo de brinde o elegante modelo suíço de pulseira de couro marrom e algarismos romanos. Presente da mulher, que pousava nele uns olhos amorosos, e que no fundo eram também os olhos doces do pai, concedendo-lhe uma segunda chance. Enquanto a esposa risonha estendendia-lhe a mão para que saíssem da joalheria, o ponteiro veloz dos segundos deixava cada vez mais longe o rapaz que gastava o dinheiro apenas em livros de sebo e discos de rock. Ficara sozinho - cismado em um mundo triste e apressado - o adulto que adquirira a mania de chegar na hora, encurralado pelo horário de entrar no trabalho e deixar o filho na escola.

Quarenta, cinqüenta minutos andaram pelas galerias do shopping. Ele sentindo-se um comunista aceitando idéias liberais, um ateu que tenha recebido provas da existência de Deus. Ia a passos lentos e medrosos ao lado da esposa. Disfarçadamente, sem que ela percebesse, tirou o relógio do pulso esquerdo e colocou no direito para que mesmo dentro do enquadramento social pudesse ainda existir um resto de transgressão. Estranho objeto o relógio, que para ser contrário ao padrão comum precisa estar na direita.

O senhor pode me dizer que horas são? Uma gorduchinha de seus vinte e poucos anos perguntou quando encostaram em um balcão para tomar café. Olhou-a e a princípio pensou que havia engano. Deu-se conta, afinal, e disse as horas sem muita certeza do que via nos ponteiros. Quando saíram dali, ele conferiu as horas, mais calmo, reparando melhor no mostrador, no brilho dos metais e do vidro, e caminhou um pouco mais depressa como um perfeito e grande senhor do tempo.

Fonte:
http://www.andregiusti.com.br/
Colaboração de Andrey do Amaral

André Giusti (1968)



Andre Luis de Almeida Giusti nasceu em 11 de maio de 1968 em uma maternidade no subúrbio carioca de Cascadura. Passou a infância, a adolescência e boa parte da vida adulta no eixo subúrbios/zona norte do Rio de Janeiro, universo que levou para seus contos, criando personagens quase sempre filhos da classe média de bairros dessa área da cidade.

Entrou na literatura como tantos autores: pela porta da poesia, na adolescência vivida entre o futebol e o rock brasileiro dos anos 80. Na segunda metade da década, publicou dois livros independentes no gênero, que não aparecem em seu currículo literário.

No começo dos anos 90, começou a escrever contos, o que veio exatamente ao encontro de seus anseios literários. Entre 1992 e 1994, escreveu os contos de seu primeiro livro, Voando Pela Noite (até de manhã), publicado em 1996 pela Editora 7Letras. No ano seguinte, o livro foi indicado ao Prêmio Jabuti.

Em 1998 o autor mudou-se para Brasília.

O isolamento oferecido pela cidade o aproximou mais da literatura. Impregnado de saudades do Rio, escreveu Eu nunca fecharei a porta da geladeira com o pé em Brasília, uma novela quase autobiográfica de seus primeiros meses na capital do país. O livro, no entanto, é o terceiro do autor a ser publicado (LGE, 2004).

Antes, em 2003, também pela 7Letras, André Giusti lançou A solidão do livro emprestado, que apesar das inúmeras referências à cidade natal, já carrega elementos da atmosfera do Planalto Central.

Entre 2005 e 2006, editou o site messaginabótou, ao lado do poeta e doutor em literatura Alexandre Pilati, voltado para o conto, a poesia e a crítica literária.

Após quase três anos afastado da literatura, voltou em 2009 com seu quarto livro: A liberdade é amarela e conversível, o terceiro pela 7Letras, e no qual André Giusti se consolida como escritor urbano, em que a grande cidade é o palco de situações vividas pelo homem dessa primeira década do século.

André Giusti também é jornalista, com passagens por diversas rádios e TVs do Rio e de Brasília.

Fontes:
http://www.andregiusti.com.br/
Colaboração de Andrey do Amaral

J D Salinger (Nove Contos)



Em cada conto uma lição de vida:

Um Dia Ideal para o Peixe-Banana: Muriel está numa estância de férias com o namorado, contestado pelos seus pais devido a atos muitos ortodoxos que continuamente pratica. Enquanto Muriel está ao telefone com a mãe, ouvindo todo o tipo de críticas a Seymour, este, que se encontra na praia, protagoniza um episódio tocante com uma menina pequena, Sybil, a propósito da existência dos Peixes-Banana. Devido a este, tal episódio irá a seguir, desencadear uma acção radical e definitiva da sua parte.

Pai Torcido no Connecticut: Mary Jane visita Eloise, uma mulher frustrada com o seu casamento e que não cessa de recordar um antigo namorado, Walt, que faleceu na guerra, e que, embora tivesse um comportamento um pouco ortodoxo, surpreendia-a pela originalidade do comportamento afetivo que tinha com esta. A sua filha Ramona é uma criança de carácter estranho e que mantém um amigo imaginário que sempre a acompanha, inclusivamente mantendo um espaço para ele na sua cama. No meio de todo este ambiente adverso e estranho, ir-se-á descobrir aquilo que mantém Eloise interessada na vida.

Pouco Antes da Guerra com os Esquimós: Ginnie e Selena, duas amigas adolescentes, foram jogar a sua partida de ténis semanal, e, no final, como Ginnie estava farta de ser sempre ela a pagar o táxi, foram a casa de Selena para receber o dinheiro em dívida. Surge o irmão de Selena, Franklin, um tipo estranho com conversas realmente estranhas, mas que, sem que Ginnie se tivesse apercebido no momento, irá despertar o seu interesse.

O Homem-Gargalhada: Duas histórias numa só, narrada por um menino, do Chefe que conduz um grupo de meninos para jogos de baseball no Central Park, contando um episódio do Homem-Gargalhada ao fim de cada jogo, e a história do próprio Homem-Gargalhada, que acaba por ser influenciada pela relação que o Chefe tem com os meninos e em particular com a namorada mistério que surgiu e sumiu da sua vida num curto espaço de tempo. No desenrolar da história do Homem-Gargalhada, é tocante a simultaneidade de atos de grande violência com manifestações de amor inocente e infantil, no sentido mais puro e belo do termo.

Em Baixo no Bote: Boo Boo Tannenbaum e a conversa com o seu filho Lionel, um menino de tenra idade com o seu próprio universo imaginário, no bote onde não autoriza a sua mãe a entrar, seduzido e cativado numa conversa comovente que transporta o encanto do mundo da imaginação para o da realidade, numa cumplicidade familiar que constitui a base de todos os relacionamentos felizes.

Para Esmé - Com Amor e Sordidez: Um soldado americano, pronto para um embarque para o Dia-D, trava conhecimento com Esmé, em uma única conversa num café, após ter reparado nela numa atuação do coro de uma igreja horas antes. Fica seduzido pela originalidade do seu pensamento, pela sua declarada falta de sentido de humor, pelo calor da sua conversa desinteressada e pelo incentivo na escrita de um conto por ele. Uns meses depois, a guerra reduz o soldado escritor a uma amostra de si próprio, desinteressado de tudo e de todos, mas uma simples carta, vai mostrar-lhe o caminho de volta.

Linda Boca e Verdes Meus Olhos :Arhtur queixa-se da esposa ao seu amigo Lee, por telefone, dizendo que Joannie é uma estouvada, sem controle, com inúmeras conjecturas da sua volúpia com outros homens. Lee está em casa com uma mulher ao lado, e acalma o amigo o melhor possível. A aparência de finalidade de todo este cenário culminará num desenlace que provará como é fácil uma pessoa enganar-se com conclusões precipitadas, e muitas vezes vindas de quem menos parecia que se iria enganar.

A Fase Azul de Daumier-Smith: Vulgarmente falando, a vida dá muitas voltas e esta ensina-nos, pela própria experiência de vida, aquilo a que já assistimos aos outros mas que não interiorizámos em nós próprios. O narrador, sob o pseudónimo de Daumier-Smith, entra como monitor numa escola de pintura por correspondência, onde, em virtude de um altruísmo apaixonado, quer tentar mudar para melhor, na sua perspectiva, a vida ou carreira dos seus alunos, ovacionando uns, e mostrando a realidade crua e dura a outros, e, por ambos os caminhos chegará o resultado sob a forma de uma lição que o amadurecerá para toda a vida: nunca se deve tirar a ilusão às pessoas, nem encaminhá-la de uma forma que estas não queiram. Cada pessoa é dona das suas ilusões, e a melhor forma de contribuirmos para a sua felicidade é dar suporte imparcial às mesmas, a vida se encarregará do resto.

Teddy: Numa viagem de barco da Europa para os Estados Unidos, encontra-se a família de Teddy, rapaz de 10 anos aparentemente sobredotado mas também possuidor de faculdades mentais e espirituais que o tornam um caso de estudo por todo o mundo. Num diálogo deslumbrante, tido entre este e um homem de 30 anos que conhece e se interessa pelo seu caso, Teddy disserta sobre a futilidade e perenidade de todas as bases e valores de toda a humanidade, sob a perspectiva de um espírito imortal que tem presente as suas existências passadas e conhece as existências passadas, presentes, e aparentemente futuras, das outras pessoas. Uma surpreendente e aterradora tese sobre os alicerces de toda a sociedade, e quanto errados estamos todos nós na postura completamente material e extremamente redutora da nossa maneira de viver.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/

J D Salinger (O Apanhador no Campo de Centeio)



"The Catcher in The Rye"

Introdução

O objetivo deste trabalho é mostrar de forma concisa a análise efetuada do livro “The Catcher in The Rye” e tentar mostrar o que pode se passar na cabeça de um adolescente.
Apontaremos os fenômenos que provocam a degradação individual, psicológica e social de um adolescente, fazendo um breve enfoque no contexto histórico, biografia e crítica literária feita por alguns autores. O trabalho conta também com uma síntese da obra e sua análise.

Procuraremos mostrar um pouco da obra de J.D. Salinger, entretanto a leitura da obra é essencial, não é aconselhável ficar apenas neste trabalho, o livro é ótimo e faz com que pensemos sobre nossos adolescentes e até que ponto eles podem ser influenciados.

I. Contexto Histórico

Quando a Segunda Guerra Mundial começou na Europa em 1939, a maioria dos Americanos queriam ficar fora disso. “Primeiro a América” era frase popular do tempo.

As pessoas sentiam que América deveria se preocupar com seus próprios problemas e esquecer o resto do mundo.

Até 1945, a América era um mundo poderoso com enorme responsabilidade internacional. Isto fazia todos os americanos orgulhosos e extremamente inconformados.

A Segunda Guerra Mundial inspirou um grande número de romances de guerra. Muitos, no entanto, pertenceram a tradição naturalista.

Eles eram naturalistas porque estudavam o efeito da guerra nos soldados e nas outras pessoas. Embora os romancistas odiassem a guerra, eles raramente mostravam algum tipo particular da consciência política.

A maioria dos escritores dos anos 40 e 50 estavam interessados na ideologia dos esquerdistas dos anos 30.

Os autores americanos dos anos 50 mostravam que estavam inconformados com a pós-guerra mundial. A nova política temia o comunismo e a bomba atômica, que para eles era menos importante do que os problemas psicológicos da nova sociedade americana.

Não é um período de importantes experimentações no estilo. Muitos, dos maiores autores estavam interessados em desenvolver novos e importantes temas. Eles, neste período, tentaram encontrar respostas para a velha questão: “QUEM EU SOU?” Os escritores negros e judeus americanos encontraram a resposta em sua própria cultura e no seu meio racial, outros exploraram as idéias da filosofia e psicologia moderna.

Os jovens escritores usaram a religião oriental para o mesmo propósito. Os novos escritores do Sul, entretanto, eram um pouco mais modernos. Em seus trabalhos, eles sentiam a tristeza e o peso do passado.

Nesta época, a sociedade passava por várias transformações bruscas determinadas, em geral, por fenômenos exteriores.

A revolta modernista na arte buscava uma nova maneira de olhar o mundo, surgindo também uma mentalidade renovadora na educação e nas artes.

O modernismo foi um movimento, o qual rompeu com todas as estruturas do passado. Os modernistas nunca se consideraram componentes de uma escola. O que unificava era um grande desejo de expressão livre. Eles afirmaram a sua libertação em vários rumos e setores: vocabulário, sintaxe e escolha dos temas. Os escritores desse período passaram a questionar com mais vigor a realidade do século XX.

II. Síntese da Obra

O livro traz o relato de um adolescente de 17 anos – Holden Caulfield – sobre um período conturbado de sua vida.

A histórias inicia-se próximo ao Natal do ano anterior, quando ele ainda tinha 16 anos e estava saindo da terceira escola (colégio) que já havia estudado, o Pencey. Ele fora expulso por ter sido reprovado em quase todas as matérias (exceto Inglês).

Era um sábado e estava ocorrendo um jogo de futebol que envolvia o time do colégio. Sendo assim, todos estavam assistindo a partida, menos ele que estava voltando de Nova Iorque, onde deveria ter disputado um campeonato de esgrima, se não tivesse esquecido os floretes no metrô.

Ele aproveitou o momento, fez uma visita ao seu velho professor de História para se despedir e voltou para o seu quarto no colégio. Ele estava praticamente sozinho no alojamento; praticamente porque Ackley, um rapaz que não tinha amigos também estava lá.

Ackley ficou conversando com Holden até a chegada de Stradlater (companheiro de quarto de Holden). Stradlater ia sair com uma garota e queria o casaco de Holden emprestado. A garota chamava-se Jane e Holden a conhecia, pois ela fora sua vizinha e os dois jogavam damas juntos. Holden acreditava muito na pureza de sua amiga, por isso, ficou furioso quando percebeu que seu amigo, que tinha fama de conquistador, poderia ter feito alguma coisa com Jane. Os dois brigaram e Holden, por ser o mais fraco, levou a pior, após ter levado um soco de Stradlater ele ficou com o rosto todo ensangüentado e foi para o quarto ao lado que era de Ackley. Ele pediu para dormir na cama de seu amigo que só voltaria no final do dia seguinte. O rapaz não gostou muito, mas também não lhe deu muita atenção. Holden começou a sentir-se deprimido e resolveu ir embora do Pencey naquele mesmo dia. Era tarde da noite de sábado e eles só poderiam sair para as férias de Natal na quarta-feira. A família de Holden ainda não sabia da expulsão. Então, ele decidiu hospedar em um hotelzinho em Nova Iorque até o dia em que ele pudesse chegar em casa com seus pais já sabendo da notícia. Ele arrumou suas malas, contou seu dinheiro e foi embora.

Chegando em Nova Iorque, ele hospedou-se num hotel chamado Edmont. Ainda era início da madrugada de domingo, ele não estava cansado e não queria dormir. Pensou em ligar para muitas pessoas, até mesmo para sua irmã Phoebe de 10 anos, a qual ele adorava. Porém, não ligou para ninguém, resolveu sair na noite de Nova Iorque.

Foi a vários lugares, mas nada o agradava. Voltou então para o hotel e, ainda no elevador o ascensorista lhe fez uma proposta e ele aceitou. Em pouco tempo a prostituta estava em seu quarto pronta para fazer o que ele quisesse; o fato é que ele só queria conversar, pois estava um pouco deprimido. A garota achou estranho. Ele disse que pagaria o combinado e que ela poderia ira embora. Ele deu à ela 5 dólares e ela disse que o combinado era 10 dólares. Ele insistiu que não e ela foi embora. Dentro de poucos minutos bateram na porta dele novamente: eram Maurice, o ascensorista e a garota de programa. Maurice cobrou-lhe os outros 5 dólares e ele recusou-se a pagar. O cafetão, perdendo a paciência, pegou o seu dinheiro e deu um soco no estômago de Holden, deixando-o em seu quarto em meio a delírios, acreditando até mesmo que ia morrer.

Na manhã seguinte, ele ligou para Sally, uma garota com a qual ele costumava sair e eles combinaram de ir ao teatro. Holden arrumou suas malas, pagou o hotel e foi embora sem nem ao menos ver o ascensorista novamente.

As malas foram deixadas em um armário da estação e ele foi tomar seu café antes do encontro. À tarde, ele encontrou-se com Sally, os dois foram ao teatro e depois à uma pista de patinação. Lá, ele propôs à Sally que os dois fugissem juntos apenas com o dinheiro que ele tinha ( o que nesse momento já era praticamente nada). Sally considerou-o um louco e recusou a proposta. Após ter ofendido a garota, Holden vai embora e deixa-a sozinha. De noite, vai à um bar e fica embriagado. Quando melhora do porre, ele decide ir até sua casa conversar com sua irmã Phoebe, mesmo correndo o risco de ser apanhado por seus pais. Ele adorava sua irmã mais nova.

Chegando lá, ele sobe até o apartamento, abre a porta e vai até o quarto de seu irmão D.B. que era escritor em Hollywood e que, portanto, não estava em casa. Ele sabia que sua irmã gostava de dormir lá quando D.B. não estava em casa. Ele acendeu a luz da escrivaninha, sentou na cama e ela acordou, dando-lhe um forte abraço de alegria. Como ela era muito esperta, após alguns minutos de conversa percebeu que ele só estava ali naquele momento porque havia sido expulso do colégio. Ela desespera-se falando que o pai deles iria matá-lo quando soubesse. Como seus pais haviam saído, Holden aproveitou para dar um telefonema para seu ex-professor e pedir-lhe “hospedagem” em sua casa até poder votar para casa de seus pais.

Quando ele voltou a conversar com Phoebe, ela começou a questioná-lo em relação as coisas que ele gostava na vida, já que ele criticava tanto o colégio e as pessoas que lá estudavam. Holden disse à ela que gostava do irmão dele, o Allie, menino que havia morrido aos dez anos de leucemia e a quem Holden realmente admirava. Logo depois, ela começou a questioná-lo sobre o que ele queria ser, se era um advogado ou coisa parecida. Ele então respondeu que queria ser um “Apanhador no campo de centeio” e explicou que seria o único adulto em meio a muitas crianças que brincavam no campo de centeio e que, caso alguma delas se distraísse e fosse cair no precipício, ele apareceria de algum lugar e não deixaria a criança cair.

Depois de muito conversarem e, até mesmo dançarem, os pais de Holden chegaram. Ele correu para se esconder no armário. A mãe dele entrou no quarto, conversou com Phoebe e foi embora. Ele saiu do armário e, antes de ir embora, pediu emprestado o dinheiro que sua irmã havia guardado para o Natal. De lá, ele seguiu para a casa de seu ex-professor. Chegando lá, o professor lhe deu conselhos, conversou muito com ele e depois arrumou sua “cama” no sofá. Holden já estava quase desmaiando de tanto sono que sentia. Sendo assim, ele dormiu rapidamente, acordando apenas no momento em que sentiu algumas carícias em sua cabeça. Quando abriu os olhos e percebeu que era seu professor que fazia as carícias, ele ficou extremamente nervoso, vestiu-se rapidamente e saiu da casa dizendo que tinha que pegar sua mala na estação. O professor, não entendendo o que estava ocorrendo, considerou Holden um garoto “muito esquisito”.

Holden foi para a estação, pegou sua mala e adormeceu num banco até o momento em que a estação começou a ficar movimentada. Pela manhã, ele parou para refletir sobre o ocorrido e pensar se não fora precipitado em achar que seu professor era um homossexual, mas já era tarde. Ele então teve a idéia de ir embora, de ir para o oeste do país pegando caronas.

Após essa fabulosa idéia, ele decidiu que deveria despedir-se apenas de sua irmã Phoebe. Mandou então um bilhete para ela na escola, dizendo que fosse encontrá-lo em frente ao museu na hora do almoço. Ela foi, mas não foi sozinha, levou sua mala consigo. Holden não aceitou de forma alguma que ela fugisse com ele e ficou extremamente irritado. Ela, por sua vez, ficou magoada com o irmão e não quis voltar para a escola a tarde. Ele, tencionando agradá-la, propôs que os dois fossem ao Jardim Zoológico. Ela aceitou. Eles foram ver os animais e, durante o passeio, eles avistaram um carrossel. Holden sabia que sua irmã adorava andar no carrossel e comprou um bilhete para ela brincar com os cavalinhos. Quando ela subiu no brinquedo, começou um dilúvio. Todos correram para debaixo da proteção do carrossel, menos ele que ficou apreciando sua irmã rodar e rodar no carrossel, quase chorando por estar diante de tamanha beleza.

...e a história termina do ponto onde ele começou a contar: hoje ele está em um sanatório fazendo tratamento psicanalítico.

III. Crítica da Obra

Nesta parte do trabalho nosso intuito é mostrar a opinião dos críticos literários sobre a obra e o autor.

Harold Roth declara “Este livro poderá ser um choque para muitos pais que se indagam sobre os pensamentos e ações dos jovens, num efeito salutar. Uma obra adulta (muito franca) e altamente recomendada”.

Para Arthur Mizener “J. D. Salinger é provavelmente o mais avidamente lido autor com legítimas pretensões da sua geração”.

James Yaffe diz “ Salinger escreveu um livro com vida, sentimento e sinceridade – raras qualidades nos nossos dias. Torna-se capaz de compreender a mente dos adolescentes”. Outro comentário importante que ele faz é que “livro de culto, proibido ou recomendado, à prova de tempo, avant-letrista da época das flores nos cabelos, The Catcher in the Rye foi-se tornando mais imprescindível que obrigatório. Um hino-reduto à inocência perdida”.

Para finalizar separamos o comentário de Charlotte Alexander sobre a obra “Perante o corrosivo materialismo, Holden purga-se pela queda, sem se esquecer de denunciar as incompatibilidades do sistema escolar, as linhas demasiadas cruzadas do diálogos pais – filhos e de defender a infância, (...) na personagem o desejo de pré-adolescência é transmutação do saudosismo por uma América tão pura quanto selvagem: o continente mítico dos puritanos, o farol do mundo, o neo-éden, a última grande oportunidade de, na terra nova, refazer sem vícios nem pecado, a história Humana”.

IV. Análise da Obra

Os tradutores de “The Catcher in the Rye “ fizeram três traduções para o título da obra, são elas: O Apanhador no campo de centeio, Agulha em palheiro e Apanhador na seara.

Clássico da moderna literatura americana desde o momento em que chegou as livrarias, em 1951, The Catcher in the Rye levaria mais dois anos para ser traduzido no Brasil, por um trio de aficionados (os diplomatas Alvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster) e com o título de O Apanhador no Campo de Centeio. É essa a tradução que acaba de ser reeditada entre nós, com capa nova (de Liberati) e um trabalho de marketing dirigido especialmente ao público juvenil.

O livro prevê uma realidade avançada para sua época, ou seja, Salinger consegue em seu livro demonstrar atitudes que só após trinta anos foram comprovadas realmente.
Uma boa fatia do sucesso deste romance deve-se precisamente à verossimilhança da personagem principal. Clinton Fadiman explica: “O Apanhador no Campo de Centeio é um raro milagre da ficção. Holden é real, não obstante ter sido feito apenas de tinta, papel e imaginação.”

O apanhador no campo de centeio, numa narrativa em primeira pessoa, relata alguns dias na vida do adolescente Holden Caulfield, que acaba de ser expulso da sua terceira escola bem às vésperas do natal, nos EUA do pós-guerra. Numa linguagem simultaneamente criativa e coloquial (o que dificulta a vida dos tradutores), Holden vai revelando, aos poucos, algo sobre o seu passado, sua família e seus conhecidos, ao mesmo tempo em que vagueia por New York pulando de uma encrenca para outra. E, para alguém entediado e deprimido como ele, nada melhor que uma encrenca para manter o interesse.

Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga...” (p.07)

“...ia acampar num hotel por uns dias e só voltaria para casa depois do começo das férias.” (p.55)

“- Você é um idiota – falei.-“

“Aí ele me acertou. Nem tentei sair do caminho, ou me esquivar, nem nada. Só senti aquele murro tremendo no estômago.” (p.91)

O fluxo de consciência funciona particularmente bem, pois permite expressar a instabilidade emocional do protagonista.

“De vez em quando eu banco o maluco uma porção de tempo, só para não ficar chateado.” (p.23)

“Se a gente ficasse um pouco por lá e ouvisse todos os cretinos aplaudindo e tudo, tinha que acabar odiando todo mundo que existe na terra, juro que tinha.” (p.122)

“As pessoas estão sempre pensando que alguma coisa é totalmente verdadeira”. (p.13)

Holden – Menino Prodígio

No universo dos seus escritos, Salinger apresenta-nos um menino prodígio, de sensibilidade e inteligência à flor da pele, que em dado momento faz um ajuste de contas com a sociedade materialista e o mundo adulto. Holden recusa-se a crescer e a desertar a infância;

“...estou com dezessete agora – mas de vez em quando me comporto como se tivesse uns treze. E a coisa é ainda mais ridícula porque tenho um metro e oitenta e cinco e já estou cheio de cabelos brancos (...) Apesar disso, às vezes me comporto como se tivesse doze anos.”(p.13)

Holden viaja até o final da inocência, grotescamente revoltado contra a desumanidade, a desvantagem do amor, a ausência de comunicação.

Bem, eu odeio a escola. Pôxa, como detesto o troço – falei. E não é só isso. É tudo. Detesto viver em N.Y. e tudo. Táxis, ônibus da Avenida Madison, com os motoristas gritando sempre...”(p.113)

De fato, a indisciplinada hipersensibilidade de Holden leva-o a não conseguir diferenciar entre bom e mau – tudo se lhe afigura negativo, dada a sua impotência em se purgar. Como um balão, retém a globalidade do fôlego e experiência, adivinhando-se, no final o esgotamento nervoso do anti-herói. Este culminar é pressagiado logo no início da obra, pois Holden anuncia estar num sanatório recuperando-se da queda psicológica.

“...pouco antes de sofrer um esgotamento e de mandarem parar aqui, onde estou me recuperando.” (p.07)

No entanto, o clímax só ocorre no penúltimo capítulo, quando, sob um dilúvio, vê a pequena irmã Phoebe a girar no carrossel e se apercebe da impossibilidade do seu sonho.

“Puxa, aí começou a chover pra burro. Um dilúvio, juro por Deus. (...) Mas nem liguei. Me senti feliz de repente, vendo a Phoebe passar e passar. Pra dizer a verdade, eu estava a ponto de chorar de tão feliz que me sentia. Sei lá por quê. É que ela estava tão bonita, do jeito que passava rodando e rodando, de casaco azul e tudo. Puxa, só a gente estando lá para ver.” (p.179)

Ao longo do livro, o leitor vai apreendendo a sucessão dos falhanços de Holden, na tentativa patética de preservar a inocência pueril, face a um mundo adulto corrupto e desumano. Luta, por exemplo, para apagar os palavrões escritos nas paredes da escola freqüentada pela irmã. E bate-se com o playboy da escola, afim de proteger a pureza platônica da namorada, Jane Gallagher. Pequenas utopias de bolso, próprias de quem acredita poder salvar o mundo.

“Aí ele mandou um murro tremendo e eu capotei. Não me lembro se cheguei a perder os sentidos, mas acho que não.” (p.42)

Holden Caulfield é ao mesmo tempo o herói e o vilão da história. Vítima de si próprio e de sua sensibilidade ao que o cerca, divertidamente mentiroso, assumidamente covarde, parece buscar uma espécie de redenção ajudando desconhecidos e cultuando sua irmãzinha de dez anos.

“Sou o maior mentiroso do mundo.” (p.19)

“Eu só tinha uns treze anos, e meus pais resolveram que eu precisava ser psicanalisado e tudo, porque quebrei todas as janelas da garagem.” (p.37)

Mas o que realmente o incomoda é o vazio e a falsidade das pessoas, que por mais promissoras que pareçam sempre acabarão por se revelar como mais uma decepção. Isto não faz de The Catcher in the Rye exatamente uma leitura animadora, mas ainda assim existe alguns resquício de inocência e ingenuidade infantil em Holden Caulfield, e também um humor (Negro, é claro!) e exagerado, que não deixam o livro afundar num poço de pessimismo e depressão.

“...mas uma velhinha de uns cem anos de idade, estava sentada, batendo a máquina.” (p.170)

“Fui pela escada dos fundos. Por pouco não quebrei o pescoço nuns dez milhões de latas de lixo, mas saí direitinho.”(p.153)

Com efeito, numa passagem sublinhada e simbólica da obra, Holden desabafa à Phoebe.

“...fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto – quer dizer – ninguém grande – a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.” (p.147)

Tida por alguns como chave do livro, esta passagem, adverte-se, não roda mais do que algumas vezes na fechadura complexa do texto. Mas elucida. Poderemos aqui entrançar alguns símbolos com os seus significados. O precipício é o pecado. Os garotinhos, a inocência, jogando junto ao perigo. O apanhador, Holden é quem as protege, interpondo-se, e assim evitando a queda – ou seja, o crescimento, a entrada no hostil mundo dos adultos.

Curioso é constatar a justaposição entre esta discreta alegoria e a explicação bíblica (e puritana) dos demônios, como sendo anjos inocentes que caíram, dissolvidos nas profundezas gigantescas.

E a este propósito, o autor brinca com o aspecto fônico dos nomes próprios. Holden Caulfield evoca-nos hold (agarrar) e field (campo) – a sua função é ser o apanhador no campo, título da obra, numa tradução literal.

Phoebe, a irmã de 10 anos de Holden, é sinônimo de pré-adolescência e candura. Protótipo da menina-gênio. É em si que a obsessiva ternura do protagonista vai recair ao querer ver nela a próxima vítima da sociedade adulta. Atente-se no fato de o nome Phoebe remeter para fobia. Porém, o valor da menina não se esgota em ser destinatária da proteção do irmão. Atua como confidente do seu sonho.

“Valia a pena conhecê-la. Juro que ninguém nunca viu uma criança mais bonitinha e esperta do que ela. É esperta mesmo. Por exemplo, na escola ela tira cem em tudo. (...) É impossível não gostar dela. Por exemplo, quando a gente conta alguma coisa, ela sabe direitinho de que diabo é que a gente está falando.” (p.62)

“...Para uma criança ela é muito emotiva. É mesmo. E tem outra coisa, ela escreve livros o tempo todo...” (p.62)

V. Discussão: Colapso Urbano
Nos anos 90, dois americanos cometeram suicídio e deixaram uma nota citando a letra da música “Suicide Solution” do Ozzy. Ao investigar a vida dos suicidas, a polícia descobriu todo tipo de problema, de distúrbios familiares até envolvimento com drogas. É bem discutível dizer até que ponto uma letra pode ser a mola propulsora de um crime. Se assim fosse, todo mundo que lê Edgar Alan Poe ou Byron, seria um criminoso em potencial. Culpar a música e se esquivar das verdadeiras causas do problema.

Ozzy foi absolvido depois de muita dor de cabeça e declarou ironicamente que se for processado mais uma vez por esta razão, quem se mata é ele. Não sei se isto aplica-se ao cinema, onde um aluno de medicina matou vários em São Paulo (durante o filme Clube da Luta), é claro que ele faria alguma coisa destas mais cedo ou mais tarde. Os filmes e a mídia banalizaram a violência de tal maneira que a gente acaba se acostumando com massacres e chacinas.

Um dos sinais do colapso urbano é considerar toda essa brutalidade como parte integrante do nosso cotidiano. Os atores brutamontes como Chuck Norris ou Steven Seagal matam em média 300 pessoas por filme sem mostrar o menor sinal de misericórdia. Isso quando não emendam uma piada de mau gosto logo após ter dado 70 tiros na vítima.

Isto pode confundir a cabeça de um garoto com 15 anos. Até os videogames enveredaram para jogos movidos por uma violência gratuita. Games em que você corta virtualmente a cabeça do adversário não tem nenhum caráter educativo. No meu tempo os jogos eram mais divertidos e menos sádicos.

A violência se espalhou rápido como uma célula cancerígena e atingiu índices alarmantes em vários setores da sociedade, seja no trânsito, no futebol ou nas escolas. É preciso acabar com esse fascínio mórbido que a mídia e a sociedade depositam nas tragédias. Violência como sinônimo de diversão é um péssimo sinal.

Palavras como cordialidade, piedade e altruísmo perderam sentido. Acho que uma das últimas atitudes cordiais que nos separam da barbárie total e dar passagem para ambulâncias nos congestionamentos/ Quando nem isso ocorrer, o mundo vai definitivamente para o caos.

Um louco chamado Mark Chapman inventou de matar John Lennon em 1980 para exterminar com os últimos resquícios dos anos 60. Chapman se declarou influenciado pelo livro Apanhador no Campo de Centeio, clássico de J. D. Salinger que conta um período na vida do caustico personagem Holden Caulfield.

Com justiça ou não, a verdade é que Mark Chapman, ao assassinar John Lennon se dizia inspirado por essa obra. E também que o livro, após ter sido estudado durante vários anos em Portugal, desaparece dos currículos do 12º ano sem deixar rastro.

Mark Chapman pediu a John Lennon que autografasse uma cópia de The Catcher in the Rye, e no mesmo dia assassinou o ex-Beatle.

Conclusão

Concluímos que a obra de J.D. Salinger descreve uma realidade atual e faz um retrato fiel da adolescência, a ficção imita perfeitamente a realidade. O autor não têm limitações para descrever sobre medos e dúvidas que cercam a vida de um jovem de 16 anos, ele dá importância para esta fase.

A personagem principal vive um dilema infernal entre o bem e o mal, em toda narrativa ele vive de desavenças. O objetivo do autor é fazer-nos pensar sobre o comportamento humano, o aspecto moral das personagens envolvidas na trama e a hipocrisia que se instaura na vida de uma pessoa adulta.

Ao lermos a obra nós viajamos com Holden à vários lugares, entretanto, temos um único objetivo: a volta para casa, ou seja, a defrontação com a realidade dura e crua e o final dos sonhos infantis.
––––––––––––––––––
Nota: Os ítens foram renumerados, pois foi extraido o ítem III onde constava a biografia do autor, que está em postagem mais abaixo.
Também, algumas citações com palavras de “baixo calão” foram retiradas para manter o nível do blog. Contudo, isto é apenas um resumo e, não substitui o livro.

Fonte:
http://www.vestibular1.com.br/

J. D. Salinger (1919 – 2010)


Jerome David Salinger (Nova Iorque, 1 de Janeiro de 1919 — Cornish, New Hampshire, 27 de janeiro de 2010[1]) foi um escritor norte-americano. Sua obra mais conhecida é o romance intitulado The Catcher in the Rye (O Apanhador no Campo de Centeio no Brasil), publicado em 1951 nos Estados Unidos.

Salinger nasceu em Manhattan, Nova Iorque, em 1º de janeiro de 1919, filho de pai judeu de origem polaca e mãe de origem escocesa e irlandesa. Começou escrevendo ainda na escola secundária, e publicou vários contos no início da década de 1940, antes de servir na II Guerra Mundial.

Em 1948, ele escreve o seu primeiro conto aclamado pela crítica, A Perfect Day for Bananafish (Um dia perfeito para Peixe-banana), publicado na revista The New Yorker, que seria o local de onde sairiam mais outros contos seus nos anos seguintes.

Em 1951, publica seu primeiro romance, The Catcher in the Rye (O Apanhador no Campo de Centeio), que torna-se um sucesso imediato. Sua descrição da alienação da adolescência e da inocência perdida através do seu protagonista, Holden Caulfield, serviu de influência para toda uma geração de novos leitores, especialmente adolescentes. O livro continua tendo uma vendagem estimada em 250 mil cópias por ano.

O sucesso de The Catcher in the Rye chamou atenção do público para Salinger, que, a partir de então, torna-se recluso, publicando menos do que antes. Os livros que se seguem ao Centeio são: Nine Stories (Nove Histórias), de 1953, um apanhado de nove contos publicados na revista The New Yorker entre 1948 e 1953; Franny & Zooey, de 1961, que consiste de duas novelas curtas, Franny e Zooey; e Raise High the Roof Beam, Carpenters and Seymour: An Introduction (Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira e Seymour, uma Introdução), de 1963, que também reúne duas novelas de Salinger. Estes três livros têm histórias em que são personagens principais a Família Glass, constituída por Buddy (espécie de alter ego do escritor), Seymour, Boo Boo, Franny e Zooey Glass, todos irmãos.

Seu último trabalho publicado, uma novela intitulada Hapworth 16, 1924, apareceu em The New Yorker em 19 de junho de 1965.

Depois disso, Salinger continuou recluso, aparecendo esporadicamente na imprensa. No final dos anos 90, são publicadas duas obras de memórias de pessoas próximas a Salinger; Joyce Maynard, sua ex-amante, e Margareth Salinger, sua filha.

Em 1996, um pequeno editor americano anunciou um acordo com Salinger para a publicação de Hapworth 16, 1924 em forma de livro, mas alguns problemas adiaram o lançamento da obra indefinidamente. Hapsworth foi escrita como uma carta de Seymour Glass, então com 7 anos, para sua família. Seria o desfecho da saga da Família Glass, também presente nos livros anteriores de Salinger.

Salinger faleceu em 27 de janeiro de 2010, por causas naturais, em sua casa em Cornish, em New Hampshire.

Jerome David Salinger é uma figura realmente estranha, pois desde sempre foi avesso à imprensa ou outras formas de divulgação da sua figura. O que dificultou muito para os autores que queriam publicar uma biografia sua. O único que conseguiu esta proeza foi o crítico inglês Ian Hamilton, que considerava Salinger um ídolo e que por isso passou anos o perseguindo. Salinger recorreu ao tribunal para impedir a publicação da biografia, ganhou em primeira estância, mas o supremo tribunal ratificou o último veredicto. Então Hamilton após refazer por duas vezes a biografia, finalmente a publica em 1988 com o título A procura de J.D. Salinger (In search of J.D.Salinger).

Na biografia a explicação para o comportamento de Salinger talvez seja a difícil relação que ele tinha com seu pai judeu e com sua mãe de origem escocesa. Na sua biografia Hamilton também fala das medíocres passagens como estudante pela escola secundária, pela academia militar e durante um breve período pela Universidade de Nova York. Revela que aos 22 anos, durante o serviço militar, foi enviado para a Áustria, onde foi promovido a sargento e viu em ação as primeiras tropas nazistas. É na segunda Guerra Mundial distingue-se pela coragem (participa inclusive do desembarque da Normandia) e é condecorado. Dividiu a 2ª Guerra Mundial entre a contra-espionagem e a escrita de contos em solitários quartos de hotel. Até que um dia, na Greenwhich Village, descobre o budismo Zen e com ele alguns dos temas e essências da sua obra.

Foi casado três vezes, primeiro com Sylvie (uma médica francesa); depois com Claire Douglas (uma psicóloga) com quem teve dois filhos Matt (ator) e Margareth Ann (consultora) e dois netos. Que ninguém da família permite revelar absolutamente nada. A terceira e atual mulher é Collen O’Neill (profissão desconhecida, ninguém consegue desvendar).

A grande obra prima, o romance no qual trabalhou 10 anos, surge em 1951: The Catcher in the Rye (O Apanhador no Campo de Centeio). Ainda na época do lançamento, na década de cinqüenta, fez o seu editor prometer que não lhe enviaria quaisquer críticas que fossem publicadas sobre o livro. Reclamou também que a sua foto na contra-capa estaria muito grande. Solicitou que não fosse feita qualquer publicidade do livro aludindo à sua pessoa, alegando que não queria correr o risco de acreditar no que leria.

Desde 1965 só deu duas entrevistas, em uma delas declarou “ Tenho uma fantástica sensação de paz ao não publicar meus trabalhos. Veria sua livre circulação como um atentado à minha privacidade. Gosto muito de escrever. Mas somente para mim mesmo, para o meu prazer.”

No filme Teoria da Conspiração, Mel Gibson faz o papel de um motorista de taxi psicótico que acha que todos estão contra ele, e que possui uma compulsão, comprar diariamente um volume de O Apanhador no Campo de Centeio, existindo em sua casa milhares de exemplares. Por conta de uma dessas compras, ele é descoberto por seus inimigos e quase acaba morto.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.vestibular1.com.br/

Harley Clóvis Stocchero (Caderno de Trovas)


O mundo de hoje nos deixa
na terrível contingência
de ver aumentar a queixa
da escalada das violência…

Como é belo, nesta terra,
semeado o vale de flor;
amor numa flor se encerra,
pois flor é rima de amor…

Quem passando nesta vida
seu próximo nunca amou,
pode assim ser definida:
Que não viveu, vegetou!…

A Pátria não é somente
o céu, o rio e o chão;
é mais: É a alma da gente
que vibra no coração!

A mulher que a gente ama,
Para nós sempre é a mais bela,
Pois o coração conclama
Não ver os defeitos dela!…

Felicidade é o momento
que a alegria nos traduz;
e feliz no sentimento
que me une ao meu Jesus!

Esperando ardentemente
a felicidade encontrar,
entre sonhos de demente,
eu fico sempre a esperar…

Trovador que a dor reprova
e trovando a dor suplanta
é um beija-flor que comprova
ter sempre mel na garganta.

Para manter este sonho
de trovar com perfeição
nas mãos de Deus eu deponho
o poder da inspiração.

Sonho que sempre acalento
e mantenho todo o dia:
– ser bom, mesmo em pensamento,
semeando paz e alegria!

Manter moeda equilibrada:
– dólar valendo real…
é tentativa frustrada
da fantasia nacional!…

O homem que se compraz
com artimanhas de guerra,
jamais vai encontrar paz
para os seus aqui na terra!

Mundo cruel, mundo triste,
mundo ingrato, mundo cão,
onde o pobre subsiste
catando lixo no chão!…
--------

Fontes:
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. São Paulo: Scortecci, 2001.
– TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs.). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: Edição de O Formigueiro. Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

Harley Clóvis Stocchero (Hino de Almirante Tamandaré)


No teu céu, que é tão belo e azul,
brilha sempre o Cruzeiro do Sul;
quando Deus, ao compor o Universo,
fez aqui o seu mais belo verso;
e ao pintar, também, a natureza,
pôs mais cor no pincel, com certeza...

Nas tuas matas, no morro ou restinga,
nasce, cresce e dá mel bracatinga,
que, aliada à extração mineral
sua lenha vai produzir cal,
desta terra maior produção
que é exportada por toda Nação.

Estribilho

Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando,na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição.

Da união do minério e o trabalho
por igual produzimos calcário;
tendo aqui sempre boa produção
nosso milho, a batata e o feijão;
também forte é em nossa lavoura
o repolho, o tomate e a cenoura...
O Tingüi nos levou o amor
que preserva o riacho e a flor;

Gralha Azul nos plantou o pinheiro,
que cresceu para o céu altaneiro;
e os gorjeios de nosso sabiá
têm beleza que em outros não há!...
Nesta terra abençoada e feliz
vive um povo que ora e prediz
a grandeza de Tamandaré
no valor do trabalho e da fé.

Estribilho

Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando,na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição

Estribilho

Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando,na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição

Harley Clóvis Stocchero (1926 – 2005)


Harley Clóvis Stocchero nasceu m Tamandaré/PR, em 1926, filho de Bortolo Ferreira Stocchero e Hercília de Oliveira Stocchero.

Estudou na PUC-PR. Foi professor e advogado. Funcionário fazendário estadual,

Exerceu cargos diretivos da Escola Normal Dr. Cícero Silva, no interior do estado e FIDES (PROMOPAR), em Curitiba.

Delegado da UBT deAlmirante Tamandaré, sócio da seção UBT-Curitiba, da Academia de Cultura de Curitiba, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Soberana Ordem do Sapo e sócio efetivo da Academia de Letras José de Alencar ocupando a cadeira n.5, na qual foi vice-presidente. Foi presidente do Centro de Letras do Paraná. Cadeira n.6 da Academia Paranaense de Letras, cadeira n.12 da Academia Paranaense de Poesia e cadeira 17 da Academia Sul-Brasileira de Letras.

Recebeu o título de Vulto Emérito, pela Câmara Municipal de Almirante Tamandaré em 1994.

Possui medalhas e diplomas de concursos de trovas. Possui dois livros publicados: Ermida Pobre (poesia); e Os Dois Mundos (poesia, mensagens e cronicas).

Faleceu em 23 de março de 2005.

Fontes:
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. São Paulo: Scortecci, 2001.
– Os Trovadores. Boletim Cultural da UBT/Curitiba – ano 14 – n.46 – maio/2005 – artigo de Vânia Ennes.
– TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs.). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: Edição de O Formigueiro. Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

Revista Trovia, de fevereiro já está disponível

Fontes:
Antonio Augusto de Assis e Olga Agulhon

domingo, 31 de janeiro de 2010

Constelação de Trovas

Constelação de Trovas

É primavera, querida!
Deixemos para depois
as nossas rusgas da vida…
que a vida somos nós dois…
(Alfredo Brasílio de Araújo – Baependi/MG)

Não sei de outro documento
que contenha, em seu teor,
mais vida e mais sentimento
do que uma carta de amor!
(A. A. de Assis – Maringá/PR)

Num enterro de segunda,
houve tanta confusão
que um pedaço da Raimunda
foi por fora do caixão!
(Antonio Carlos Teixeira Pinto – DF)

É verdade, neste inverno,
vou dar tudo a quem não tem,
porque sei que para o inferno
nunca vai quem faz o bem.
(Cecim Calixto – Tomazina/PR)

“Não há bem que sempre dure,
nem mal que nunca se acabe…”
- Por mais que um ser nos perfure,
que nossa alma não desabe!
(Cidinha Frigeri – Londrina/PR)

Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto…
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
(Cyro Armando Catta Preta - Orlândia/SP)

Toda união é perfeita
se, congregando emoções,
além das mãos que ela estreita,
unir também corações…
(Ercy Maria Marques de Faria – Bauru/SP)

Vendo a perua chegar,
pergunta logo a vizinha:
- Querida, que vai tomar?
- Seu marido, queridinha…
(Istela Marina Gotelipe Lima (Bandeirantes/PR)

Toda vez que a sogra inventa
de minha bóia filar,
eu capricho na pimenta
pra ver a velha chorar.
(João Costa – Saquarema/RJ)

O piolho, por capricho,
por incrível que pareça,
não há no jogo do bicho,
mas sempre dá na cabeça.
(José Antônio de Freitas – Pitangui/MG)

Coração desconsolado,
não podeis esmorecer,
se viver é complicado,
muito mais é não viver.
(Luiz Antonio Cardoso – Tremembé/SP)

Entre os véus da noite, imerso,
insone, em meu travesseiro,
escrevo apenas um verso
e a saudade…um livro inteiro!
(Maria Lucia Daloce Castanho – Bandeirantes/PR)

Quando a foto iam bater,
meu patrício se escondia,
pois…queria aparecer…
…”de surpresa” … pra Maria!!!
(Maria Madalena Ferreira – Magé/RJ)

No momento em que partiste
pranteei minha viuvez…
Foi o trajeto mais triste
que uma lágrima já fez!…
(Maria Nascimento Santos Carvalho – Rio de Janeiro/RJ)

Diz o cinquentão vaidoso:
“Eu sou madeira de lei!”
E a mulher, em tom jocoso:
“Então deu cupim…que eu sei!”
(Martha Maria O. Paes de Barros – São Paulo/SP)

Na trova e no Trovador,
é que se encontram, suponho,
Criatura e Criador
unidos no mesmo sonho!
(Nádia Huguenin – Nova Friburgo/RJ)

Ao chegar em Portugal,
depois da grande conquista,
vendo a sogra em seu quintal,
diz Cabral: “Encrenca à vista!”
(Renata Paccola – São Paulo/SP)
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Fontes:
Boletim Nacional da União Brasileira de Trovadores
2007 – setembro; outubro
2008 – maio; julho
2009 – maio, junho; julho; agosto; novembro
2010 - janeiro