sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Donzília Martins (1942)


Donzília Martins nasceu em Murça, Portugal, a 25 de Setembro de 1942.

Em 1964, conclui o curso do Magistério Primário em Vila Real. Cursa também História na Universidade do Porto, fazendo o Estágio Pedagógico em Vila Real.

Torna-se professora do quadro de nomeação definitiva e orientadora de Estágio Pedagógico na EB 2,3 de Paredes.

Pertence à Associação de Escritores, jornalistas e artistas do Vale de Sousa, desde a sua fundação em 17 de Setembro de 1994.

Em 1991, estreia como escritora com o livro de poemas Lágrimas e Sorrisos em Sonhos de Vida. Os dois seguintes, Lírios Do Campo e Quando o teu Olhar, também em poesia, já são respectivamente de 2004 e de 2006.

Colabora regularmente no semanário Progresso de Paredes.

Tem obtido alguns prêmios e menções honrosas em vários certames literários, e figura na antologia Poetas de Sempre.

Obras:

- Lágrimas e Sorrisos, (1991);
- O Mercado Feira de Lordelo - Subsídios para a sua História, (2003);
- Lírios do Campo, (2004);
- Quando O Teu Olhar, (2005).
- Um País Na Janela Do Meu Nome, (2007);
- História de Zé Luis, o menino petiz (2008)
- Sonhos de Encantar, (2009);

Fontes:
http://bmmurca.blogspot.com/2009/02/escritores-da-terra-donzilia-martins.html

Ialmar Pio Schneider (Da Condição Humana)


Jamais eu te direi que estou feliz
e me reservo agora este direito
de sofrer por aquilo que não fiz,
pois este é o meu destino e assim o aceito.

Não quero que me julgues satisfeito
e nem tampouco um mísero infeliz,
o meu caminho embora seja estreito
tem amplitudes que sonhei e quis.

Se desejarmos merecer a vida
profundamente além da concebida
iremos naufragar em dissabores...

Por isso aonde eu for e aonde fores
não é preciso conseguir extremos:
sejamos o que somos e seremos...

Fontes:
O Autor

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Folclore Brasileiro (Curupira)


O folclore brasileiro é rico em personagens lendários e o curupira é um dos principais. De acordo com a lenda, contada principalmente no interior do Brasil, o curupira habita as matas brasileiras. De estatura baixa, possui cabelos avermelhados (cor de fogo) e seus pés são voltados para trás.

A função do curupira é proteger as árvores, plantas e animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.

Para assustar os caçadores e lenhadores, o curupira emite sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e assustadoras para espantar os "inimigos da florestas". Dificilmente é localizado pelos caçadores, pois seus pés virados para trás servem para despistar os perseguidores, deixando rastros falsos pelas matas. Além disso, sua velocidade é surpreendente, sendo quase impossível um ser humano alcançá-lo numa corrida.

Entre os mitos indígenas, o Curupira é incontestavelmente o mais antigo, companheiro inseparável das crenças populares, de onde se admite a possibilidade de ser verdadeiramente indígena, senão antes legado pela população primitiva que habitou o Brasil no período pré-colombiano e que descendia dos invasores asiáticos. Curupira, de “curu”, abreviação de “curumim” e “pora”, corpo ou corpo de menino. É a “Mãe do Mato”, o tutor da floresta, que se torna benéfico ou maléfico aos freqüentadores desta, segundo as circunstâncias e o seu procedimento. Ele possui várias formas apresentando-se através de uma figura de um menino de cabelos vermelhos, peludo, com a particularidade de ter os pés virados para trás, pode Ter os dentes azuis ou verdes e é orelhudo. Todos lhe celebraram as manifestações como guardião das florestas.

Para crença em geral, ele o Senhor, a Mãe, o Guardião das florestas e da caça, que castiga a todo aquele que a destrói, premiando a aqueles que não o contrariam no seu desejo de manter a mata viva, e também para aqueles que se mostram solícitos e obedientes. O Curupira, ora é imperioso e brutal, ora é delicado e compassivo, ora não admite desrespeito ou desobediência, ora se deixa iludir como uma criança. Segundo uma crença generalizada, é o responsável pelos estrondos da floresta. Assim, quando no meio da mata se ouve um estrondo, que não seja uma trovoada, pode estar certo que o Curupira anda por ali… Sob sua guarda direta está a caça que protege, mas entende o caçador e é sempre propício ao homem que mate de acordo com suas necessidades, ou seja, para matar a fome dos seus filhos. Mostra-se extremamente hostil ao caçador que persegue e mata as fêmeas quando prenhas ou cause danos aos filhotes. Para estes o curupira vira uma fera e um é inimigo terrível. Consegue iludi-los sob a feição de caça, levando-os longe… Também é capaz de imitar a voz humana para atrair os caçadores, fazendo-os com que se percam dentro da floresta deixando-os no mato abandonados à fome e ao desamparo. Além de ser protetor dos animais, o Curupira é considerado o Senhor das Árvores. Ele cuida de todas, protege as mudinhas, admira as grandes e bela árvores da floresta. Dizem que armado com um casco de jabuti, bate nas árvores para ver se conservam-se fortes para resistir as tempestades.

Os contadores de lendas dizem que o curupira adora pregar peças naqueles que entram na floresta. Por meio de encantamentos e ilusões, ele deixa o visitante atordoado e perdido, sem saber o caminho de volta. O curupira fica observando e seguindo a pessoa, divertindo-se com o feito.

Análise do simbolismo da lenda

Em mais uma lenda brasileira, assim como na do Saci, vamos encontrar um guardião da mata que precisa se esconder, ludibriar e enganar para fazer o bem. Essa função do oculto, do implícito, para tentar lidar com a ganância, o imediatismo e a inconseqüência dos homens, representado pelo Curupira, mostra e revela a necessidade de estarmos atentos à forma como lidamos com o que a Terra Mãe generosamente nos oferece. Neste jogo de esconde e aparece do Curupira vamos também encontrar uma associação com os próprios recursos naturais, por vezes perigosos, hostis e enganadores, mas cujos mistérios e segredos uma vez passado o susto inicial, podem revelar-se fundamentais para descobertas relacionadas à saúde, por exemplo, se pensarmos na biodiversidade e seu importante e ainda pouco conhecido papel no auxílio às doenças e disfunções do homem e da natureza.

Fonte:
Keila Macário Pavani. Lendas do Saber, Permacultura e Histórias: cuidando da Terra e das pessoas. Ed. Insular. 2008

Folclore Brasileiro (Uma História de Curupira)



Estava o Curupira andando pela floresta, quando encontrou um índio caçador que dormia profundamente. O Curupira estava com muita fome e cismou em comer o coração do homem. Assim, fez com que ele acordasse. O caçador levou um susto, mas como ele era muito controlado, fingiu que não estava com medo. O Curupira disse-lhe:

- Quero um pedaço de seu coração!

O Caçador, que era muito esperto, lembrando-se que havia atirado num macaco, entregou ao Curupira um pedaço do coração do macaco. O Curupira provou, gostou e quis comer tudo.

- Quero mais! Quero o resto! – pediu ele. O Caçador entregou-lhe o que havia sobrado, mas, em troca, exigiu um pedaço do coração do Curupira.

- Fiz sua vontade, não fiz? Agora você deve dar-me em pagamento um pedaço de seu coração, disse ele.

O Curupira não era muito esperto e acreditou que o Caçador havia arrancado o próprio coração, sem ter sofrido nenhuma dor e sem haver morrido.

- Está certo, respondeu o Curupira, empreste-me sua faca.

O Caçador entregou-lhe a faca e afastou-se o mais que pôde, temendo levar uma facada. O Curupira, porém, estava sendo sincero. Enterrou a faca no próprio peito e tombou, sem vida. O Caçador não esperou mais, disparou pela floresta com tal velocidade que deixaria para trás os bichos mais velozes…Quando chegou à aldeia, estava com a língua de fora e prometeu a si mesmo não voltar nunca mais à floresta. Pensou: “Desta escapei. Noutra é que não caio”

Durante um ano, o índio não quis saber de entrar na mata. Quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia, ele se desculpava, dizendo estar doente.

O Caçador tinha uma filha que era muito vaidosa. Como haveria uma festa dentro de poucos dias, ela pediu ao pai um colar diferente de todos os que ela já tinha visto.

O índio, pai dedicado, começou a pensar num modo de satisfazer o desejo da filha. Lembrou-se, então, dos dentes verdes do Curupira. Daria um bonito colar, sem dúvida.

Partiu para a floresta e procurou o lugar onde o gênio havia morrido. Depois de algumas voltas, deu com o esqueleto meio encoberto pelo mato. Os dentes verdes brilhavam ao sol, parecendo esmeraldas.

Conseguindo vencer o receio, apanhou o crânio do Curupira e começou a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse os dentes.

Imaginem a sua surpresa quando, de repente, viu o Curupira voltar à vida! Ali estava ele, exatamente como antes, parecendo que nada havia acontecido!

Por sorte, o Curupira acreditou que o Caçador o ressuscitara de propósito e ficou todo contente:
- Muito obrigado! Você devolveu-me a vida e não sei como agradecer-lhe!

O índio percebeu que estava salvo e respondeu que o Curupira não tinha nada que agradecer, mas ele insistia em demonstrar sua gratidão. Pensou um pouco e disse:

- Tome este arco e esta flecha. São mágicos. Basta que você olhe para a ave ou animal que deseja caçar e atire. A flecha não errará o alvo. Nunca mais lhe faltará caça. Mas, agora, ouça bem: jamais aponte para uma ave ou animal que esteja em bando, pois você seria atacado e despedaçado pelos companheiros dele. Entendeu?

O índio disse que sim e desde aquele momento não mais lhe faltou caça. Era só atirar a flecha e zás! O bicho caía. Tornou-se o maior caçador de sua tribo. Por onde passava, era olhado com respeito e admiração.

Um dia, ele estava caçando com outros companheiros que não tinham mais palavras para elogiá-lo. O índio sentiu-se tão importante que, ao ver um bando de pássaros que se aproximava, esqueceu-se da recomendação do Curupira e atirou…

Matou somente um pássaro e, como o Curupira avisara, foi atacado pelo bando enlouquecido pela perda do companheiro.

De seus amigos, não ficou um: dispararam pela floresta, deixando-o entregue à própria sorte.

O pobre índio foi estraçalhado pelos pássaros. A cabeça estava num lugar, um braço no outro, uma perna aqui, outra longe… O Curupira ficou com pena dele. Arranjou cera e acendeu um fogo para derretê-la. Depois recolheu os pedaços do Caçador e colou-os com a cera. O índio voltou à vida e levantou-se:

- Muito obrigado! Não sei como agradecer-lhe!

- Não tem o que agradecer, respondeu o Curupira, mas preste atenção. Esta foi a primeira e ú1tima vez que pude salvá-lo! Não beba, nem coma nada que esteja quente! Se o fizer, a cera se derreterá e você também!

Durante muito tempo, o índio levou uma vida normal. Ninguém sabia do acontecido. Um dia, porém, sua mulher lhe serviu uma comida quente e apetitosa, tão apetitosa que o índio nem se lembrou que a cera poderia derreter-se. Engoliu a comida e pronto! Não só a cera se derreteu, mas também o próprio índio.

Fonte:
Histórias e Lendas do Brasil (adaptação do texto original de Gonçalves Ribeiro). São Paulo: APEL Editora.

Gonçalo Ferreira da Silva (Lenda do Caipora)


A humana criatura
se pergunta insatisfeita:
_Como uma coisa existe
sem nunca ter sido feita? -
Quem prega não prova nada
quem escuta não aceita.

Diz a gênese mosaica
que Deus Pai Onipotente
disse: “Faça-se a luz”
e a luz obediente
do atro abismo do nada
surgiu repentinamente.

Assim também são as lendas
as vezes surgem do nada
ou como remanescência
duma cultura importada
que sempre sensibilizam
gente não civilizada.

De acordo com tais lendas
há o regente do mar,
o deus dos mananciais,
o gênio que rege o ar,
e é de um desses gênios
que nós queremos falar.

Vivendo na intimidade
da aconchegante flora
como um guardião que zela
a quem mais ama e adora
é o protetor da fauna
o lendário caipora.

E o caçador prudente
ao conduzir o seu cão
antes de entrar na mata
deve, por obrigação
ao caipora pedir
a sua autorização.

Senão estará sujeito
a ser desafortunado
ou inexplicavelmente
ficar desorientado
andando em círculo na mata
por tempo indeterminado.

Outras vezes algo estranho
fica o cachorro sentindo
andando em torno do dono
se lastimando e ganindo
sem que o dono perceba
quem o está perseguindo.

Outro artifício que é
pelo caipora usado
é reter o cão esperto
infantilmente acuado
latindo muito diante
dum toco designado.

“Hoje não é o meu dia”
pensa imediatamente
o caçador convidando
o cão desobediente
que abana o rabo, entretanto,
volta a latir novamente.

Agora o caçador sente
um inexplicável frio
tenta dominar o medo
porém sente um arrepio
algo como um mudo aviso,
um sentimento sombrio.

Pedras à feição de trempes
bota na mata fechada
acende fogo dizendo:
_Vamos parar a jornada
só depois da hora-grande
reinicia a caçada.

Mas depois da hora-grande
incompreensivelmente
ouve o caçador um longo
assovio à sua frente
o caçador intrigado
escuta detidamente.

Gira sobre os calcanhares
segue oposta direção
mas não percorre uma jarda
tem ele a decepção
de saber que o assovio
já mudou de posição.

E assim pra todo lado
em que o caçador for
segue o assovio como
se o assoviador
se entretenha mangando
da cara do caçador.

Um caçador nos contou
um curioso ocorrido
um caso igualmente aquele
nunca tinha acontecido
dessa vez o caipora
se deixou ser percebido.

Quando entrou na mata virgem
repentinamente viu
três porcos-do-mato que
quando ele os pressentiu
os alvejou um por um
até que o último caiu.

Quando ia dirigir-se
aos porcos mortos no chão
um moleque apareceu
com um enorme ferrão
montado num porco-espinho
na densa vegetação.

E enfiando o ferrão
nos flancos dum animal
mandou-o se levantar
que o tiro não foi mortal
o porco saiu correndo
por dentro do matagal.

Repetiu com o segundo
essa mesma operação
e no terceiro também
ele enfiou o ferrão
os animais dispararam
sem vestígios de lesão.

A seguir o caipora
dirigiu-se a um ribeiro
simulando raiva disse:
_Vou amanhã ao ferreiro
consertar este ferrão
pra ele ficar linheiro.

Logo o caçador pensou:
“Amanhã eu vou ficar
na porta da oficina
ver se alguém vai chegar
com um ferrão como este
para mandar consertar”.

Chegando em casa, sequer
colocou da porta a tranca
num dos cantos da latada
colocou sua alavanca
e depois da sua esposa
acariciou a anca.

E foi dormir levemente
para acordar muito cedo
para saber se o ferreiro
conhecia algum segredo
porque durante a caçada
pra ser franco, teve medo.

O sol já estava alto...
o caçador conversando
com seu amigo ferreiro
sobre negócios tratando
quando avistaram um vaqueiro
que vinha se aproximando.

Quando o vaqueiro apeou
foi exibindo um ferrão
dizendo para o ferreiro:
_Tenho muita precisão
que conserte este instrumento
com a maior perfeição.

Sem querer teve o ferreiro
um leve estremecimento
mas consertou o ferrão
naquele mesmo momento
e disse para o vaqueiro:
_Eis aí seu instrumento.

Disse o vaqueiro: _ O ferrão
está como me convém
fitando o caçador disse:
_Preste atenção muito bem
o que você viu de noite
não conte nunca a ninguém

Fonte:
Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Literatura de Cordel (11 Maneiras Diferentes de Escrever um Cordel)


Estas e outras informações sobre as métricas do cordel podem ser encontradas no livro Vertentes e Evolução da Literatura de Cordel.

01 - O INÍCIO

A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros, demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:

Repentista A - O cantor que pegá-lo de revés
Com o talento que tenho no meu braço...
Repentista B - Dou-lhe tanto que deixo num bagaço
Só de murro, de soco e ponta-pés.

02 - PARCELA OU VERSO DE QUATRO SÍLABAS

A parcela ou verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa do contrário ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé quebrado. A literatura de cordel por ser lida e ou cantada é muito exigente com questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro sílabas, ou parcela.

Eu sou judeu
para o duelo
cantar martelo
queria eu
o pau bateu
subiu poeira
aqui na feira
não fica gente
queimo a semente
da bananeira.

Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa seqüência alucinante, cada um querendo confundir mais rapida mente o oponente. Esta modalidade é pre-galdiniana, não se conhecendo seu autor.

03 - VERSO DE CINCO SÍLABAS

Já a parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista, grande rapidez de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:

Pretinho:
no sertão eu peguei
um cego malcriado
danei-lhe o machado
caiu, eu sangrei
o couro tirei
em regra de escala
espichei numa sala
puxei para um beco
depois dele seco
fiz dele uma mala

Cego:
Negro, és monturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recanto de muro
Negro sem futuro
Perna de tição
Boca de porão
Beiço de gamela
Venta de moela
Moleque ladrão

Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de cordel. Ao contrário, ela vieram quase um século depois das primeiras manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as estrofes de quatro versos de sete sílabas.

04 - ESTROFES DE QUATRO VERSOS DE SETE SÍLABAS

O Mergulhão quando canta
Incha a veia do pescoço
Parece um cachorro velho
Quando está roendo osso.

Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém

A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e definitiva sextilha:

Meu avô tinha um ditado
meu pai dizia também:
não tenho medo do homem
nem do ronco que ele tem
um besouro também ronca
vou olhar não é ninguém.

05 - SEXTILHAS

Agora, de posse da técnica de fazer sextilhas, e uma vez consagradas pelos autores, esta modalidade passou a ser a mais indicada para os longos poemas romanceados, principalmente a do exemplo acima, com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e quinto versos. É a modalidade mais rica, obrigatória no início de qualquer combate poético, nas longas narrativas e nos folhetos de época. Também muito usadas nas sátiras políticas e sociais. É uma modalidade que apresenta nada menos de cinco estilos: aberto, fechado, solto, corrido e desencontrado. Vamos, pois, aos cinco exemplos:

Aberto:

Felicidade, és um sol
dourando a manhã da vida,
és como um pingo de orvalho
molhando a flor ressequida
és a esperança fagueira
da mocidade florida.

Fechado:

Da inspiração mais pura,
no mais luminoso dia,
porque cordel é cultura
nasceu nossa Academia
o céu da literatura,
a casa da poesia.

Solto:

Não sou rico nem sou pobre
não sou velho nem sou moço
não sou ouro nem sou cobre
sou feito de carne e osso
sou ligeiro como o gato
corro mais do que o vento.

Corrido:

Sou poeta repentista
Foi Deus quem me fez artista
Ninguém toma o meu fadário
O meu valor é antigo
Morrendo eu levo comigo
E ninguém faz inventário

Desencontrado:

Meu pai foi homem de bem
Honesto e trabalhador
Nunca negou um favor
Ao semelhante, também
Nunca falou de ninguém
Era um homem de valor.

06 - SETILHAS

Uma prova de que as setilhas são uma modalidade relativamente recente está na ausência quase completa delas na grande produção de Leandro Gomes de Barros. Sim, porque pela beleza rítmica que essas estrofes oferecem ao declamador, os grandes poetas não conseguiram fugir à tentação de produzi-las. Para alguns, as setilhas, estrofes de sete versos de sete sílabas, foram criadas por José Galdino da Silva Duda, 1866 - 1931. A verdade é que o autor mais rico nessas composições, talvez por se tratar do maior humorista da literatura, de cordel, foi José Pacheco da Rocha, 1890 - 1954. No poema A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO, do inventivo poeta pernambucano, encontram estas estrofes:

Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
- Quem é você, Cavalheiro -
- Moleque, sou cangaceiro -
Lampião lhe respondeu.

- Não senhor - Satanás, disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora
e já estou com vontade
de mandar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.

Moleque não, sou vigia
e não sou o seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é primeiro
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.

Excelente para ser cantada nas reuniões festivas ou nas feiras, esta modalidade é, ainda hoje, muito usada pelos cordelistas. Esta modalidade é, também, usada em vários estilos de mourão, que pode ser cantado em seis, sete, oito e dez versos de sete sílabas. Exemplos:

Cantador A
- Eu sou maior do que Deus
maior do que Deus eu sou

Cantador B
- Você diz que não se engana
mas agora se enganou

Cantador A
- Eu não estou enganado
eu sou maior no pecado
porque Deus nunca pecou.

Ou com todos os versos rimados, a exemplo das sextilhas explicadas antes:

Cantador A -
Este verso não é seu
você tomou emprestado

Cantador B -
Não reclame o verso meu
que é certo e metrificado

Cantador A -
Esse verso é de Noberto
Se fosse seu estava certo
como não é está errado.

07 - OITO PÉS DE QUADRÃO OU OITAVAS

Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito versos de sete sílabas. A diferença dessas estrofes de cunho popular para as de linha clássica é apenas a disposição das rimas. Vejam como o primeiro e o quinto versos desta oitava de Casimiro de Abreu (1837 - 1860) são órfãos:

Como são belos os dias
Do despontar da existência
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O Céu - Um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida um hino de amor.

Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si; também o quinto, o sexto e o sétimo, e finalmente o quarto com o último, não havendo, portanto um único verso órfão. Assim:

Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
apregoa com denodo
que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.

08 - DÉCIMAS

As décimas, dez versos de sete sílabas, são, desde sua criação no limiar do nosso século, as mais usadas pelos poetas de bancada e pelos repentistas. Excelentes para glosar motes, esta modalidade só perde para as sextilhas, especialmente escolhidas para narrativas de longo fôlego. Ainda assim, entre muitos exemplos, as décimas foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema épico de cavalaria A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ, baseado na obra do imperador francês Carlos Magno:

Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França.

09 - MARTELO AGALOPADO

O Martelo agalopado, estrofe dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 - 1727), as martelianas não tinham, como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Alongava-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. Como exem plo, vejamos estes alexandrinos

"Visitando Deus a Adão no Paraíso
achou-o triste por viver no abandono,
fê-lo dormir logo um pesado sono
e lhe arrancou uma costela, de improviso
estando fresca ficou Deus indeciso
e a pôs ao Sol para secar um momento
mas por causa, talvez dum esquecimento
chegou um cachorro e a carregou,
nessa hora furioso Deus ficou
com a grande ousadia do animal
que lhe furtara o bom material
feito para a construção da mulher,
estou certo, acredite quem quiser
eu não sou mentiroso nem vilão,
nessa hora correu Deus atrás do cão
e não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
cortou-lhe simplesmente o meio rabo
e enquanto Adão estava na trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva."

Com tamanha irresponsabilidade, totalmente inaceitável na literatura de cordel, o estilo mergulhou, desde o desaparecimento do professor Jaime Pedro Martelo em 1727, em completo esquecimento, até que em 1898, José Galdino da Silva Duda dava à luz feição definitiva ao nosso atual martelo agalopado, tão querido quanto lindo. Pedro Bandeira não nos deixa mentir:

Admiro demais o ser humano
que é gerado num ventre feminino
envolvido nas dobras do destino
e calibrado nas leis do Soberano
quando faltam três meses para um ano
a mãe pega a sentir uma moleza
entre gritos lamúrias e esperteza
nasce o homem e aos poucos vai crescendo
e quando aprende a falar já é dizendo:
quanto é grande o poder da Natureza.

Há, também, o martelo de seis versos, como sempre, refinado, conforme veremos nesta estrofe:

Tenho agora um martelo de dez quinas
fabricado por mãos misteriosas
enfeitado de pedras cristalinas
das mais raras, bastante preciosas,
foi achado nas águas saturninas
pelas musas do céu, filhas ditosas.

10 - GALOPE À BEIRA MAR

Com versos de onze sílabas, portanto mais longos do que os de martelo agalopado, são os de galope à beira mar, como estes da autoria de Joaquim Filho:

Falei do sopapo das águas barrentas
de uma cigana de corpo bem feito
da Lua, bonita brilhando no leito
da escuridão das nuvens cinzentas
do eco do grande furor das tormentas
da água da chuva que vem pra molhar
do baile das ondas, que lindo bailar
da areia branca, da cor de cambraia
da bela paisagem na beira da praia
assim é galope na beira do mar.

Logicamente que há o galope alagoano, à feição de martelo agalopado, com dez versos de dez sílabas cuja diferença única é a obrigatoriedade do mote: "Nos dez pés de galope alagoano".

11 - MEIA QUADRA

Outra interessante modalidade é a Meia Quadra ou versos de quinze sílabas. Não sabemos porque se convencionou chamar de meia quadra, quando poderia, muito bem, se chamar de quadra e meia ou até de quadra dupla. As rimas são emparelhadas e os versos, assim compostos:

Quando eu disser dado é dedo você diga dedo é dado
Quando eu disser gado é boi você diga boi é gado
Quando eu disser lado é banda você diga banda é lado
Quando eu disser pão é massa você diga massa é pão

Quando eu disser não é sim você diga sim é não
Quando eu disser veia é sangue você diga sangue é veia
Quando eu disser meia quadra você diga quadra e meia
Quando eu disser quadra e meia você diga meio quadrão.

A classificação da literatura de cordel há sido objeto da preocupação dos chamados iniciados, pesquisadores e estudiosos. As classificações mais conhecidas são a francesa de Robert Mandrou, a espanhola de Julio Caro Baroja, as brasileiras de Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Orígenes Lessa, Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo. Mas a classificação autenticamente popular nasceu da boca dos próprios poetas.

No limiar do presente século, quando já brilhava intensamente à luz de Leandro Gomes de Barros, fluía abundante o estro de Silvino Pirauá e jorrava preciosa a veia poética de José Galdino da Silva Duda. Esses enviados especiais passaram a dominar com facilidade a rima escorregadia, amoldando, também, no corpo da estrofe o verso rebelde. Era o início de uma literatura tipicamente nordestina e por extensão, brasileira, não havendo mais, nos nossos dias, qualquer vestígio da herança peninsular.

Atualmente a literatura de cordel é escrita em composições que vão desde os versos de quatro ou cinco sílabas ao grande alexandrino. Até mes mo os princípios conservadores defendidos pelos nossos autores ortodoxos referem-se a uma tradição brasileira e não portuguesa ou espanhola. Os textos dos autores contemporâneos, apresentam um cuidado especial com a uniformização ortográfica, com o primor das rimas, com a beleza rítmica e com a preciosidade sonora.

Fonte:
Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Erasmo Pilotto: o Educador Paranaense


artigo de Denise Grein Santos

Se você sorri quando digo uma coisa sagrada, eu não me irrito, passa a ser um problema saber como fazer você chorar diante das coisas sagradas.
Graal

As palavras são do próprio Erasmo e praticamente resumem sua vida. A de um professor imerso na missão de educar, consciente de sua ação, vendo cada aluno em sua individualidade, destacando os aspectos a serem desenvolvidos.

Os que tiveram o privilégio de tê-lo como professor perceberam logo o caráter incomum do Mestre e sua dedicação constante. Ele comentou, certa vez, que após um dia de aula costumava, à noite, meditar e avaliar o trabalho do dia, detendo-se em cada aluno, questionando-se como contribuir para seu desenvolvimento. Para ele a educação era integral. Não se restringia a conteúdos programáticos e horários escolares, abrangia tudo que se referisse à formação do homem.

Uma de suas ex-alunas, Aliete Pina de Oliveira, tentando defini-lo disse: "Erasmo é inteiro; porta o discernimento do filósofo puro, a sensibilidade do artista, a humanidade do bom, o serviço do cidadão prestante e a alegria de criar e conduzir um adolescente. E, como, estes, é capaz de sonhar e maravilhar-se".

É essa inteireza que o faz procurado diariamente por professores de diversos níveis, artistas, músicos, estudiosos de todas as áreas. A todos atende, ouve, ajuda. Discorre sobre o assunto solicitado. Apresenta os pressupostos básicos, a fundamentação teórica, aprofunda o tema, critica, anota e emite sugestões práticas. Implícita à informação, há uma pedagogia subjacente a de melhor entender o outro.

A pessoa sai com uma orientação sólida e bem estruturada e ele retorna aos estudos que generosamente abandonara para auxiliar quem o procurara.

Quando se fala de sua imensa biblioteca, que ocupa 75% de sua casa, conta que leu tudo. Tudo lido, meditado e comentado. O quadro-negro registra alguns tópicos dessa reflexão constante. Pensamentos de Goethe, Nietzche, Tolstoi, Tagore, Schiller, Spinoza, ou de outro pensador em estudo no momento, juntamente com os livros espalhados pelo chão, são evidências de aprimoramento permanente.

Aos dezesseis anos decidiu ser professor. Opção séria e aprofundada. Empenhou-se na tarefa e a praticou a vida inteira, tendo presente o ideal de Spinoza e Goethe definido no misto de alegria e perfeição. Eis a síntese de Erasmo: tudo por inteiro, com perfeição, imerso no sentido puro da alegria.

Palmilhemos sua vida e iremos encontrar sempre essas qualidades. Primeiro, professor de classe. Lecionou na Escola Normal de Paranaguá, no Grupo Escolar Professor Brandão, na Escola de Professores de Curitiba; como "Assistente Técnico" sua participação foi marcante. Pregou a escola viva e conseguiu fazer com que os alunos vivessem a escola, desenvolvendo neles o gosto pelas artes, poesia e música. É a época áurea da Escola de Professores. Seu espírito de liderança contagiou os colegas que se entusiasmaram pelo ato de educar. Conquanto não se falasse em educação para superdotados ele já há exercia há quarenta anos. Dispôs-se a despertar em cada aluno o que tivesse de seu, a levá-lo a estruturar "seu plano pessoal de vida, a liberdade de escolha, a vida inventada" (Obras). Incentivou a criatividade de seus discípulos, preparando-os para levar aos bairros operários espetáculos de alto nível, ampliando a função da escola, colocando-a a serviço da comunidade.

Entretanto sua ação não pára aí. Funda o Instituto Pestalozzi, a Associação de Estudos Pedagógicos, onde edita excelente revista, com sugestões para o enriquecimento da prática educacional. Participou da criação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e do Salão Paranaense. Secretário de Educação e Cultura percorreu o estado propondo soluções diversificadas e compatíveis com a realidade de cada situação.

Foi co-fundador de "Joaquim", revista mensal de artes, dedicado ao homem, mais especificamente "a todos os joaquins do Brasil". Aí igualmente valoriza o talento local, entrevistando e enaltecendo o trabalho dos artistas paranaenses.

Na plenitude de seu trabalho cabe por em relevo a manifestação de seu pensamento eclético e profundo contido em seus artigos e observações sobre o ensino no Paraná, na criação de um método de alfabetização para suprir a escassa escolaridade das professoras de escolas isoladas e na mais alta filosofia educacional, exposta nos minuciosos e notáveis estudos sobre diversos pensadores em sua estreita correlação com a educação. Além disso, escreveu sobre Turin, de Bona, Emiliano e Mallarmé, evidenciando sua preocupação de vincular a vida à arte e à educação.

Por sua inteireza é o grande educador paranaense. Rousseau, Montaigne, Pestalozzi e outros não alcançaram, em vida, a justa valorização. Erasmo também. Embora reverenciado em nossos círculos intelectuais não teve, ainda, bem como sua obra, a divulgação e o reconhecimento que merece. É inegável que ele próprio, por seu modo de vida, contribui para isso. Não obstante sempre pronto a receber e ajudar quem o procura mostra-se avesso às homenagens e honrarias. Recusa, sistematicamente, convites, esquivando-se de comparecer a eventos culturais que visam promovê-lo. Prefere a privacidade de sua casa, com seus livros, suas telas e sua música.

Orgulhoso de sua origem, escolheu dedicar sua vida, ação e obra à terra natal, com o sentido da perfeição definido por Goethe e por ele praticado: "se queres atingir o infinito, busca o finito em todas as suas direções".
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Artigo publicado na Gazeta do Povo - 24/ 05/ 1989 - 9a p.

Fontes:
http://www.artes.ufpr.br/erasmopilotto/depoimentos.htm
Foto = http:// www.ieppepoficial.kit.net/erasmopilotto.htm

Erasmo Pilotto (1910 – 1992)


Erasmo Pilotto nasceu em Rebouças, no Paraná no dia 21 de outubro de 1910. Seu pai era telegrafista e sua mãe, professora primária. Fez o curso primário em várias escolas públicas de Curitiba, como: Grupo Escolar Xavier da Silva, Grupo 19 de dezembro, e na Escola de Júlio Teodorico Guimarães instalada onde hoje funciona a escola de Belas Artes, na rua Emiliano Perneta. Fez o Curso secundário no Ginásio Paranaense . O ginásio oferecia excelentes oportunidades para o aprimoramento cultural. Não havia promoções por média. Na época das provas, eram examinados dez alunos diariamente: prova escrita pela manhã e oral à tarde, sob a fiscalização de três examinadores.

Erasmo considerava-se um aluno médio. Criou um sistema próprio de estudo: antes da aula estudava a matéria a ser prelecionada, para melhor compreender e aprender. Concluído o curso ginasial, pensava em cursar Engenharia. Menino ainda, embarca, sozinho para o Rio e Janeiro, arranja emprego para manter-se e na época de matricular-se na Escola Politécnica, se depara com sua primeira grande frustração: para o ingresso na Faculdade de engenharia passara-se a exigir latim, até então só exigido no Curso de Direito. Não estudara essa matéria e volta à Curitiba, considerando esse tempo, de ter de viver e agir sozinho na cidade grande uma valiosa experiência para sua vida. Ao tempo de seu curso ginasial, com mais três colegas forma uma patrulha de escoteiros isolados, onde estudam e praticam o que lêem e aprendem sobre escotismo. Considera esse período importante na sua formação moral.

Seu pai deixara uma série de livros mas dois foram marcantes em sua formação: O Petit Larousse e uma Bíblia onde em sua última página havia registrado a hora e o dia de seu nascimento.

Perdeu o pai ainda bem pequeno . Foi criado pela mãe que soube enaltecer a imagem do pai, comunicar-lhe o amor e o devotamento ao estudo e à Escola.

Em 1927 matriculou-se na Escola Normal de Curitiba. Esta por sua vez, não se coadunava com os anseios das modernas técnicas pedagógicas da época, tornando o padrão de ensino da Escola Normal, praticamente nulo, principalmente se comparado com o que lhe oferecera o ginásio. Funda o Centro de Cultura Filosófica e com os colegas de normal, o Centro de Cultura Pedagógica.

Caíram-lhes nas mãos, nesse tempo, os primeiros livros sobre a Escola Nova. Iniciou, um movimento de rebeldia, pregando a Escola Nova, fundamentada em obras pedagógicas que eram avidamente "devoradas" pelo grupo.Concluindo a escola Normal submeteu-se a concurso para ingressar na carreira de Professor Primário do Estado. Ao finalizar a prova foi imediatamente convidado para lecionar a cadeira de Português na Escola Normal de Paranaguá. Tinha então dezessete anos. De volta a Curitiba permaneceu algum tempo como Diretor do Grupo Brandão. Nessa época conheceu Anita Camargo que exercia as funções de professora, com que veio a se casar no dia 22 de abril de 1933. Em Ponta Grossa exerceu o cargo de Diretor da Escola Normal e continuou lecionando Português.

Posteriormente prestou concurso para a cadeira de Pedagogia e logo após transferiu-se para Curitiba para lecionar essa matéria na Escola Normal. Em 1934 é nomeado para reger, em comissão a cadeira de Psicologia, Biológica Aplicada à Educação e História da Educação Normal secundária de Curitiba. Catedrático das referidas cadeiras, concursado em primeiro lugar.

Nomeado Assistente Técnico da Escola Normal de Curitiba, imprimiu ao ensino orientação segura, tornando-a bastante dinâmica. Estabeleceu para as cadeiras do currículo escolar um rodízio semestral dos professores, objetivando a sua evolução cultural em todas as áreas. Ao mesmo tempo que orientava e incentivava os professores, procurava estimular os alunos com os quais, vencendo inúmeras dificuldades fundou a "VOZ DA ESCOLA", jornal escolar .Sua popularidade entre os alunos e a admiração que estes lhe devotavam podem ser evidenciados pelo carinho com que anos consecutivos foi convidado para paraninfar as turmas que concluíam o curso de professores.

Em abril de 1943 cria o Instituto Pestalozzi, a primeira escola que o Paraná teve, dentro de normas metodológicas avançadas e modernas... Foi sua primeira sede a casa, ainda hoje existente na Rua comendador Araújo ao lado do templo protestante. O emblema da escola, executado por Guido Viaro, mostra uma criança brincando e construindo figuras com cubos... No segundo plano erguiam-se suntuosas catedrais... "Ad templa erigenda exeo" (Eu saio para construir catedrais) lia-se no dístico aos pés da figura.

À tarde no mesmo instituto funcionava um curso de extensão cultural para as alunas do Curso Normal. Manoel Ribas, governador do estado, entusiasmado com o Instituto cedeu uma propriedade na rua visconde de Guarapuava, para onde foi transferida a Escola ao mesmo tempo que se criava ali a primeira escola de Surdos Mudos do Paraná.

Lamentavelmente, com mudanças verificadas no governo e a morte de Manoel Ribas, não podendo superar uma série de dificuldades, a escola encerrou definitivamente suas atividades. Do Instituto Pestalozzi Erasmo só guardou, o "Dunga", doado, entre outros de seus pertences ao Museu Paranaense, após a sua morte, para o espaço, que recebeu o nome do mestre. Em "Prática da Escola Serena", obra de notável atualidade, embora publicada há 40 anos, o Professor Erasmo nos dá os fundamentos filosóficos e metodológicos do Intituto Pestalozzi.

Em 1944 ajuda o professor Raul Rodrigues Gomes a fundar o Grupo Editorial Renascimento do Paraná (GERPA), publicando no ano seguinte, Emiliano.Em 1946 ajuda Dalton Trevisan a fundar a revista Joaquim.Em 1949, assumiu a Secretaria de Educação e Cultura. Como Secretário de Educação, visitou várias escolas em todo o Paraná, inclusive escolas isoladas, ouvindo e orientando professores. O trabalho nessa época desenvolvido está contido em seu livro " Educação é Direito de Todos". Alguns anos mais tarde reuniu sobre sua orientação um grupo de professores e criou a "Associação Paranaense de Estudos Pedagógicos" que realizou pesquisas educacionais em diversas áreas. Inúmeros e valiosos trabalhos foram produzidos nessa época. A maioria deles pode ser encontrada em várias monografias e em diversos números da "Revista de Pedagogia", publicados por aquela Associação.

Aposentado de suas atividades públicas, nunca deixou de exercer atividades no magistério; na escola de Surdos e Mudos, no Centro Israelita, na Escola Normal do Colégio Novo Ateneu etc, de pesquisar e estudar incessantemente.

Esteve por duas vezes na Europa, principalmente na França, com objetivos exclusivamente culturais.

Devotado inteiramente à cultura, sempre disposto a ajudar, respondia pequenas consultas sobre os mais diversos assuntos com verdadeiras aulas, cedendo livros de sua volumosa biblioteca, sua casa na Rua Ângelo Sampaio, se transformou na Meca da cultura paranaense.

Em 1973 no dia do professor, recebeu homenagem em sua residência, sendo saudado pelo Secretário de Educação em nome do Governo do Estado por ter sido o seu nome escolhido "para simbolizar o mestre paranaense", em agradecimento por tudo o que fez pela causa educacional do Paraná.

Em 1982 recebe da Universidade Federal do Paraná o título de Professor Honoris Causa como reconhecimento de sua importância e de sua valiosa contribuição na educação do Paraná.

Além das obras já citadas, escreveu: João Turin -1953, A Educação no Paraná-1954, Problemas abertos no Estudo dos Sistemas Escolares para o Brasil - 1958, Situações do Desenvolvimento Brasileiro e Educação -1959, Organização e Metodologia do Ensino na Primeira Série Primária nos países em desenvolvimento -1964, Graal, Fatos e Expectativas na Educação na América Latina -1965, Problemas de Educação 1966, Que se exalte em cada Mestre um Sonho! 1967, Para um Humanismo Individualista, Theodoro De Bona-1968, Dario Vellozo -1969, Mallarmé, Obras -V.1-1973, Obras -V.2 - 1976, Informe sobre Treinamento de Mestres e Alfabetização -1980, O Mural Redondo, 1987.

Faleceu em maio de 1992. Sua Biblioteca foi doada inteiramente à Universidade Federal do Paraná.

Modesto, tímido, extremamente sensível, era uma sinceridade a toda prova.

Em que pese sua sobriedade aparente, aqueles que o conheceram mais de perto e gozaram de sua afabilidade natural, sabem-no uma criatura extremamente alegre, com notável senso de humor, que amava intensamente a vida e respeitava profundamente o sentimento e a personalidade dos outros, o que demonstrava sempre, através da filosofia humanística que adotava , pregava e vivenciava em todas as oportunidades que a vida lhe ofereceu.

No dia 10 de novembro de 2004, por iniciativa de Anita Pilotto e um grupo de ex alunas, com o apoio das Secretarias de Educação do Estado e do Município, referendada pela Universidade Federal do Paraná, é realizado o lançamento do livro: "Autobiografia" de Erasmo Pilotto, o último presente deixado por ele , como contribuição à cultura e à educação do Paraná.

FONTE:
www.ieppepoficial.kit.net/erasmopilotto.htm

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Anair Weirich (Album de Poemas)

Pintura de Hans Arp (1886 - 1966)
PACIÊNCIA

Quem já viu algo funcionar
aos tapas e empurrões?
Nada mesmo dá certo,
quando é feito aos trambolhões!

Mas, se formos com jeitinho,
(como diz sempre a ciência...)
com amor e com carinho
tudo conseguiremos!

- Isso se chama PACIENCIA!

(do livro infantil Doce Jeito de Ser Criança)


A EMOÇÃO DE LER

- Passarinho, passarinho!
Eu também queria voar
E conhecer outros mundos...
Mas não tenho asas, nem dinheiro.

-Menininho, menininho!
Você deixe de bobagem.
Quem lê viaja ao mundo inteiro,
Sem ter que pagar passagem.

AMIGOS

Amigos vêm e vão.
Amigos são uma nação
de corações leais.
Amigos são demais!
Amigos são trigos ao sol.
São cama e lençol
para deitar-se tranqüilo.
Amigos são aquilo
de tudo o que contas.
Amigos são contas
de um colar de diamantes.
São vogais e consoantes
do alfabeto do amor.
Amigos são abrigos
da maldade e da dor.
São a segurança das pontes,
e a água das fontes!
Amigos são artigos de luxo.
Amigos são bruxos
da distância e do tempo.
Amigos são o elemento
que conta na hora H...
Amigos são maná!
São faróis no nevoeiro.
São arco e arqueiro
na precisão do alvo.
Amigos estão a salvo
das tempestades da vida.
Amigos são guarida
nas horas incautas.
Amigos são flautas
que anunciam companheirismo.
Amigos são o muro seguro
que nos protege do abismo.

(Do livro Melodias do Coração 2008)

LIMIAR DO TEMPO

Amar é...
Te encontrar,
como agora!
Só que na velhice,
de bengala,
e ainda assim
sentir a mesma emoção
que estou sentindo
nesta hora!

(Do livro Poesias do Cotidiano - 1997)

O EXEMPLO DO PIÃO

Se há uma coisa que fascina e encanta,
É ver um pião enquanto dança!
E quando estamos no nosso limite,
Olhemos o pião que rodopia,
Como se fosse um convite!

Sejamos inimigos da ociosidade.
Façamos tudo com entusiasmo
E até estardalhaço..
Viva a escandalosidade
Para sair do marasmo
E não perder o compasso.

O pião tem uma dança
Que assusta e que fascina,
Pelo espetáculo que ensina
A nos mantermos em pé
Pelo impulso.
Para o pião é insulto
Entregar-se antes
Do tempo determinado.

Mas quando fica cansado,
Nos mostra algo assustador:
Traça um círculo ao seu redor
E dentro do próprio círculo
Então cai.
Fim! Nada mais resta.
Tudo aquilo que era festa
Agora é gota que se esvai.

Tal qual o pião,
Estamos em pé,
Se estamos em movimento.
Nossa base é nossa fé,
Nossa força é o sentimento!

Tomara que na dança da vida
Haja sempre uma base plana
Para nosso pião interior girar,
Impulsionado pela força do trabalho
E pelo poder de sonhar!

(Do livro Melodias do Coração 2008)

INCÓGNITA

Moro numa rua sem saída.
A única medida para sair dela
é dando meia-volta
até chegar na esquina.
Nesta rua tem menina
brincando de sol.
Tem até bicicleta
que passeia sozinha.
Tem Luluzinha de estimação,
tem bola, tem boneca, tem canção.

Tem gato que passeia no muro
e toma sol no telhado.
Minha rua é um achado!

Tem noite de luar
e tem verso com rima.
Quem disse que quero
chegar na esquina?

Moro numa rua sem saída
que tem porta e tem janela.
Mas... quem disse
que quero sair dela?

Minha rua tem até Mercearia.
Tem linda pradaria
e tem jardim.
Quem quer sair
de uma rua assim?

(Do livro Melodias do Coração 2008)

EMBEVECIMENTO
(Homenagem a Chapecó - SC)

Sinto que conheço cada grão
da terra que compõe este chão.
Adivinho a bala do papel
que o vento leva,
e sinto que conheço seu sabor.
Conheço e sinto o perfume
de cada pétala de flor
que brota nos canteiros.
E de cada caminheiro
conheço seu sorriso
e seu semblante.
De cada margarida,
sua labuta constante.
De cada sabiá
saltitando na praça,
eu bebo seu momento.
E de cada turista
seu encantamento.
Em cada badalada
dos sinos na catedral,
é entoado um hino sem igual.
Cada canto da minha cidade
encanta de lirismo meu viver,
enternece e aquece todo meu ser.
Luzes noturnas estribilham canções
e da torre da igreja emanam orações!
Com a fronte erguida
vejo esperança e vejo vida.
Dos desenganos quase esqueço,
pois em cada melodia
que roda nas estações,
eu sinto que amo e que conheço
(Do livro Melodias do Coração 2008, homenagem a Chapecó - SC
-------------------------------
Nota sobre o pintor:
Hans Arp (1886 - 1966)
Hans Peter Wilhem Arp (Estrasburgo, 16 de Setembro de 1886 — 7 de Junho de 1966) foi um pintor e poeta alemão, naturalizado francês. Nasceu na Alsácia quando esta estava sobre domínio alemão. Em 1926 adquiriu a nacionalidade francesa e passou a usar o nome Jean Arp.
O pai de Arp era um empresário de origem alemã, dono de uma fábrica de cigarros e a sua mãe era de origem francesa, motivo pelo qual ele, desde muito cedo, falava fluentemente as duas línguas.
Em 1900 inscreveu-se na Escola de Artes e Ofícios em Estrasburgo, onde nunca chegou a ser bom aluno, pois não se interessava pelas matérias curriculares. Durante o ano de 1901 teve aulas de desenho com Georges Ritleng. Arp que era um admirador da poesia alemã, em 1903 publicou algumas obras literárias.
Em 1907 inscreveu-se na Academia Julian. Em 1911, juntamente com Oscar Lüthy e Walter Helbig, foi o fundador do grupo de artistas suiços, designado por Der Moderne Bund. Em 1912 conhece Kandinsky em Munique, e em 1914 dá-se com August Macke e Max Ernst, em Colónia.
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, foi viver para Zurique, em virtude de possuir nacionalidade alemã. Nesse ano casou com Sophie Taeuber, que veio a falecer, em 1943, enquanto ocorria a Segunda Guerra Mundial. No ano de 1920, Arp participa numa exposição dadaístita, em Colónia, com Baargeld e Max Ernst. Conhece Breton, e colabora em diversas publicações de conteúdo vanguardista, com poemas e collages. Em 1925, Arp junta-se a um grupo de surrealistas saídos do movimento dada, e expõe em Paris.
Versátil na sua obra, a década de 1930 é dedicada a trabalhos na perspectiva da abstracção geométrica, collages e grafismos com relevo. Na década seguinte, Arp, sempre em mudança, centra o seu trabalho na escultura.
Em 1959, casou em segundas núpcias com Marguerite Hagenbach. A sua obra atinge a fama nos anos 1950 e 60, quando expõe em Nova Iorque (1958) e Paris (1962).

Fontes:
http://anairweirich.blogspot.com/
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Arp

Anair Weirich (A Escritora em Xeque)



Anair Weirich é uma guerreira. Há mais de quinze anos na estrada, ela tornou-se bastante conhecida em Santa Catarina pela sua incansável rotina de viagens pelo estado comercializando livros - tanto seus quanto de colegas escritores. Participante de inúmeras feiras, divulgadora da cultura literária catarinense, Anair, abaixo, fala um pouco sobre sua vida, suas estratégias para venda de suas obras, suas dívidas nas gráficas, suas andanças e histórias....

*Nome:

Anair Weirich

*Data e local de nascimento:

02-11-51 - Chapecó - SC

*Fale um pouco de sua vida e carreira.

A poesia é a grande paixão da minha vida. Prosa é complemento, mensagem é complemento... E a única coisa que nunca deixo de pedir a Deus todas as noites, é saúde, por que sem ela eu não poderia andar tudo que ando o dia todo, visitando escolas, empresas e livrarias, vendendo meus livros, e quando estou de carro com meu marido, vendendo os livros de autores da terra também...

*Como é ser uma escritora praticamente independente hoje no sul do Brasil?

É viver endividada em gráficas. Estou sempre devendo, mas estou sempre mandando fazer. E ver um olhar brilhando quando alguém ouve ou lê minha poesia, para mim, é mais pagamento do que o dinheiro que me dão pelo livro. Mas acabo de passar pela experiencia de ter um livro saído por editora. Gostei porque meu nome foi pra mais de 8.000 endereços, junto com o convite. E gostei porque a Hemisfério Sul é um nome respeitável, e porque minha amiga Urda, sua proprietária, - ela é a autora mais conhecida de SC- é uma pessoa maravilhosa e fizemos uma ótima parceria.

*O que lhe levou a viajar tanto para vender seus livros?

Depois de nove anos, meu primeiro livro saiu - 1995 - e o que poderia vender na minha cidade, já tinha vendido. O que faria com o resto? Meu marido, - grande incentivador do meu trabalho - sugeriu viajar e vender, dando palestras em escolas e eventos. E deu certo, mais do que certo. Cada carta que recebo dos meus leitores, é um incentivo para continuar. Tudo tem sido muito incentivador.

*Conte algumas histórias marcantes que você já viveu na estrada ou em cidades que esteve?

Foram tantas... tantas. Bom, numa viagem de volta de Laranjeiras do Sul PR, para Chapecó, eu vi que o cobrardor olhava muito para mim, mas esqueci disso e adormeci. Quando cheguei, ele disse: Moça... a renda preta da tua calcinha vermelha está aparecendo....e não é que meu zíper estava aberto o tempo todo, enquanto eu dormia?

*Como é a recepção das pessoas em geral? Já ouvi pessoas falando mal e considerando “coitados” aqueles que vendem livros porta a porta. O que acha disso?

Os cultos, me recebem bem, e me incentivam e compram. Os que não tem cultura, me recebem com a cara amarrada e eu quebro o gelo. Esse é o desafio que mais gosto. Eu recito uma poesia, derreto o gelo e geralmente compram. E nunca enfiei um livro goela abaixo nesses 14 anos.

*Como você vê a literatura hoje aqui no sul?

É difícil, mas quanto mais difícil, mais gosto. Tudo que é fácil não tem graça.

*Você tem estratégias especiais para vender seus livros. Marcadores ecológicos, por exemplo. Fale um pouco sobre isso.

De novo meu marido entra na história. Ele tira o invólucro das sementes das árvores de Jacarandá Mimoso, lixa, fura, pinta e monta marcadores ecológicos que viram colar de pescoço. E também ele perfuma meus livros com óleo puro de rosas, que custa quatrocentos reais o litro. Ele pega um conta gostas e perfuma de um em um. Quero que cada um, ao ver meu nome nos livros, lembrem do cheiro de rosas...

*Você vende livros de outros escritores também? Como isso funciona? Eles lhe procuram e lhe dão seus livros para que você faça as vendas? Qual a sua percentagem de ganho por livro vendido?

Bom, só levo autores da terra, quando vou em algum evento ou estou de carro, com meu marido. Quando estou de onibus, não dá... Mas é um acervo flutuante, um dia acaba um, outro dia nasce outro. Alguém tem que se doer pelos autores regionais. Tem muito café no bule escondido em armários e gavetas.

*Você tem um sebo também? Tem funcionários trabalhando pra você ou você consegue trabalhar nele de vez em quando, já que muito viaja?

Não, o Sebo meu marido e eu demos pra nossa filha de 21 anos, estudante de biologia. A família toda é apaixonada por livros. E quando eu não aguentar mais viajar, quero o meu Sebo, pra estar no meu habitat natural.

*Quantos livros em media você vende de cada novo livro que publica?

O "Mensagens para um dia melhor", vendi em torno de duzentos mil de 1999 pra cá, e o Livro Ludico das cores, por se tratar de um livro diferente, vai ser minha aposentadoria, nunca mais posso ficar sem ele. O meu primeiro de poesia, vendi oito mil, mil ex. cada edição. Alguns outros, eu fiz menos. E amo criança e poesia infantil, amo meeeesmo!

*200.000 (duzentos mil) livros em 11 anos? Isso é possível para um autor independente? Calculando por cima, para que isso aconteça, (4015 dias em 11 anos) é necessário que você tenha vendido 50 livros por dia aproximadamente, o que também lhe daria muito dinheiro, a ponto de poder viver só de literatura - o que você diz nesta mesma entrevista que não dá. Seu cálculo está realmente certo? Em que você se baseia para dar este número?

Tá, vamos lá: É que quando ele nasceu, - o Mensagens para um dia melhor, - em 99, foi no auge da venda desse estilo de livrinhos. Hoje já não se vende tanto. Tinha escolas e prefeituras, nos primeiros anos, que eu vendia 200, 300 ou até mais por dia, para o dia do Professor, para festas de final de ano, para escolas que davam presentes nos aniversários, e assim, na quantia, eu ganhava na média de um real cada livro. Quando vendia avulso, em eventos tipo feira de livros e palestras, minha margem era maior. Foi quando uma gráfica, de Erechim, me passou a perna. Eles me convenceram a passar a imprimir com eles, e então, em vez de executar a minha edição de 10.000 ex., eles executaram muuuuuuuuuuito mais e ficaram com os livros. E de lá pra cá a venda foi caindo, caindo, por causa da competitividade que a própria gráfica criou, coletando material da internet ou editando material sem pagar direitos autoriais de outros autores. Enfim, é um número estimativo, o que nos deu, nesses anos de boas vendas, um carro, - que hoje está bem judiadinho, pois fomos trocando, na medida em que fomos nos apertando. e também móveis novos e outras coisas mais. E depois, eu ganhava bem, mas gastava bem. Nunca liguei pra luxo, mas conforto, nas minhas viagens, é fundamental, pra que no outro dia esteja disposta para andar o dia todo ou fazer palestras o dia todo. Há também os hotéis, as passagens de ônibus, e eu, por mais que coma pouco, gosto de comer bem, sou um pouco chata. E tenho mania de comprar presentes pra todo mundo, sou muito perdulária - rss. Mas mesmo assim, garanto pra você, a gente se aperta e muito. Vivo atolada na gráfica, pois cada livro que executam, fico devendo em média de sete a dez mil exemplares, e eles me dão pouco prazo. E de uns anos pra cá, sempre tenho comigo de tres a cinco títulos diferentes. Enfim, pode colocar aí uma quantia bem menor, se quiser, pois mais que um já me questionou, e embora o número seja mais ou menos isso, não quero encrencas com o leão.

*Usa o dinheiro que consegue ganhar para investir num próximo e em alguma outra coisa ou sobra suficiente para que consiga fazer boas economias?

Autor independente nunca tem dinheiro sobrando, tá sempre devendo. Mas temos nossa casa e nosso carrinho. E trabalho há quatorze anos em um livro que é minha auto biografia, desde que comecei a viajar, vivendo de livros na região Sul. Tive que trocar o titulo, porque qualquer coisa que lembre motivação é malhado pela crítica... se bem que que críticos não são críticos, são só cretinos.

*De tudo que já escreveu, o que você gosta mais? Qual seu livro ou texto melhor na sua opinião, que sempre gosta de vender e até oferece com mais brilho nos olhos?

É o que citei antes, o Livro ludico das cores. Tem que entrar no meu site pra conhecer. www.literaturacatarinense.com.br/anair

Você é uma escritora ativa, feliz e bastante apaixonada pelo que faz. Você se preocupa com o reconhecimento ou busca sucesso nacional? Se sim, acha que isso é possível?

Nem tô com fama, isso é vaidade, só quero fazer o que gosto e pronto.

*Deseja dizer mais alguma coisa ou deixar alguma mensagem?

Que adoro ler e leio de tudo. Acabo de ler o livro de Fernando Morais, O Mago. Cara... mago é - o Fernando - ele, que conseguiu contar com elegancia todas as barbaridades do Paulo Coelho. Eu jamais imaginaria que foi o Paulo que meteu o Raul Seixas nas drogas.
E baseada na minha experiencia pessoal de luta, quero deixar um recado bem meu:
É DO QUERER ARDENTE QUE NASCE A CONQUISTA DA VITÓRIA.

Fonte:
Escritores do Sul

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (História que a Vida Escreveu)


Fazem exatamente dois anos que nenhuma pessoa de minha família aparece aqui. Estou num asilo para velhos desamparados desde que completei setenta e um anos. Sou pai de quatro filhos. Um rapaz com a primeira esposa, uma mocinha com a segunda e duas com a terceira. Por circunstâncias outras, não pude criar meu primogênito, como pretendia, desde que nasceu. De igual forma, o destino foi demasiadamente cruel também com a menina.

Depois desses casamentos fracassados, uma dezena de jovens passaram pela minha vida, mas por convicção própria achei por bem não alimentar a idéia de começar tudo outra vez. Assim, os anos correram. O tempo, bem sei, não retroage. Meus cabelos brancos refletem a velhice que pesa de maneira latente por sobre os costados. Não sou mais aquele homem cheio de forças e vitalidade, de mãos firmes, braços fortes e cabeça erguida. Meus pés quedaram-se num cansaço embaraçoso. As vistas perderam o brilho. O pouco que consigo enxergar são imagens difusas, povoadas por brancas nuvens, manchadas, porém, de um escuro estranho que fazem-me tremer de medo e pavor. A cabeça gira e mistura-se num redemoinho de coisas e fatos passados. Sofro. O coração bate, às vezes, devagar, outras descompassado. Na verdade, o coitado pulsa como se não tivesse vontade de fazê-lo. As horas arrastam-se. Os dias estendem-se pela ampla janela debruçados sobre o peitoril e desperdiçam-se numa lentidão massacrante, atormentando e ferindo a alma combalida, moída, sofrida, morta.

Ontem – Meu Deus! – ontem minha garotinha completou quinze anos!...

Por um instante fecho os olhos e viajo. Estou em sua festa de “debut”. Vejo, então, a pequena, cercada por dezenas de coleguinhas. Como ficou linda!

Não é que lhe caiu como em uma princesa o vestido branco? Tanta gente ao redor, o bolo, as velinhas, os presentes amontoados no sofá, balões de gás colorindo, bandeirinhas espalhadas por todos os cantos da sala...

Será que ela pensa em mim?

As minhas reflexões correm mais longe. Na verdade galopam. Voam. Agora chegam ao Rio de Janeiro. Vejo-me de mãos dadas com um menino. Calças curtas, pezinhos no chão, suplica-me colo. Quer um doce. Prometo comprar. E asseguro não afastar-me jamais do seu lado...

De repente minha cabeça embaralha. E quem aparece? Minha filha numero três. Pobrezinha! Essa pequena veio ao mundo marcada. Logo, ao nascer, um balde de água fria gelou minha emoção ao final dos nove meses de espera. Lábios leporinos. O rostinho, lindo, sem igual, mas um cortezinho na boquinha deformava tudo. A vida é cruel, e por vezes, quebra as certezas que carregamos. Costuma, o destino, transformar nossos sonhos em trágicas realidades. Vontades retalham-se Despedaçam em nada os caminhos mais seguros e alguém, com mão forte, alguém escondido, afasta para além dos limites do superável tudo e todos que nos são caro.

Alguns dias atrás, um companheiro de quarto (está com câncer), vendo meu semblante aflito e os olhos chorosos, sentou-se a meu lado e com a voz embargada tentou reanimar-me:

Coragem, meu amigo, coragem. Seu barco é o mesmo que o meu. Nosso rumo é lugar nenhum. O destino, idem! Mas não esqueça nunca de uma coisa: estamos aqui, unidos para o que der e vier...e como vier...

Se fosse dado a mim, neste momento, exatamente neste ponto do caminho em que suplico à Deus que me tire o ar que respiro, a vida, se nesta hora amarga caísse dos céus a chance de pedir alguma coisa, uma apenas que fosse, rogaria somente que uma boa alma colocasse no aparelho de som o Cd com a musica que fiz para minha filha de número dois, logo que nasceu. Falha-me um pouco a memória, mas a letra da canção diz mais ou menos assim:

“...Você chegou pisando de mansinho
e pela porta entreaberta vi entrar
um vendaval de flores vivas em carinho
com certeza só o amor pode nos dar
Qual borboleta flutuando pelo ar
lança as asas no azul e se agita
mostra aos raios do sol da primavera
os seus encantos de menina tão bonita”...

Fonte:
http://www.paralerepensar.com.br/aparecidoraimundo.htm

Simões Lopes Neto (A Mboitatá)


A Andrade Neves Neto

Foi assim:

Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.

Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando...

Minto:

no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia aguentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.

Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.

Minto:

na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a – boi guaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.

Começou depois a mortandade dos bichos e a boi guaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.

Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.

A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.

Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada.

E vai, como a boi guaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boi guaçu toda já era uma luzerna,um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boi guaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!

E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laços de conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...

Mas, como dizia:

na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era por ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.

Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos... Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.

E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.

E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto:

apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir uma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo: só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.

Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.

Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...

É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manantiais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Tesconjuro!

Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emutilar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.
Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência da boitatá: o pastiçal, aí faz peste....

Tenho visto!

Fonte:
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/boitata.htm

Ialmar Pio Schneider (Soneto II)


Eu te recordo em minha fantasia
plena do belo sobrenatural,
pois hoje representas a magia
dentro do meu viver sentimental.

Após a noite insone, surge o dia
primaveril e sempre tão banal,
quando me abate a triste nostalgia
de tua ausência, oh! mulher fatal.

Fora melhor, talvez, não ter amado
quem tanto quis, sem ser correspondido,
num momento qualquer do meu passado...

E quando me reporto à juventude,
lamento em vão o tempo despendido
em ter amado alguém mais do que pude.

CANOAS (RS) - 28./09./93

Fonte:
O Autor

Revista Veja Digitalizada (Leia Grátis!)


Link de acesso a todas as revistas Veja, editadas pela Abril nesses últimos 40 anos.

Da capa a contra-capa, incluindo todas as páginas.

É um trabalho impressionante e servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.

A revista VEJA abre todo o seu acervo de 40 anos de existência na internet.

Todas as edições poderão ser consultadas na íntegra em formato digital no endereço:

http://veja.abril.com.br/acervodigital/

A revista liberou o acervo em comemoração ao seu aniversário de 40 anos.

A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.

O sistema de navegação é similar ao da revista em papel: o usuário vai folheando as páginas digitais com os cliques do mouse.

O acervo apresenta as edições em ordem cronológica, além de contar com um sistema de buscas, que permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias.

Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.

Com investimento de R$ 3 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre a Editora Abril e a Digital Pages e levou 12 meses para ficar pronto.

Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.

O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.

Semana Literária SESC : Leitura e Cotidiano (Programação de Cascavel/PR)

A Semana Literária consolida-se como um grande evento do Sesc Pr e acontece em todas as suas Unidades de Serviço. Este ano o tema do evento é Leitura e Cotidiano, e a escritora homenageada é Raquel de Queiroz, no centenário de seu nascimento. Convidamos a todos a participar desta intensa programação.

No Sesc Cascavel teremos uma série de atividades: mesas-redondas, contação de histórias, Estandes de Livrarias, Mostra de Cinema e inúmeros convidados.

Confira abaixo a programação:

PROGRAMAÇÃO SEMANA LITERÁRIA – SESC CASCAVEL

De 13 a 17 de setembro

Dia 13 (Segunda-Feira)

15h00 - A Letra de Raquel - Espetáculo Teatral sobre a vida e obra da escritora Raquel de Queiroz.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra sobre a obra O Quinze – de Raquel de Queiroz.
Prof. Dr. Mauricio Menon – Campo Mourão.
Mauricio Menon é graduado em Letras, pela Unioeste em Cascavel, especialista em Literatura Brasileira pela Unicentro, Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina e doutor em Letras pela Uel. Atualmente é professor de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio, graduação e pós graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 14 (Terça-Feira)

10h00 e 14h00
– A Letra de Raquel – Espetáculo Teatral.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

17h00 – Lançamento do Livro Aprendizagem e Ação Docente . Organizadora: Profª Maria Lídia Sica Szymanski – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público –alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Mostra: Leituras Poéticas no Cinema.
Exibição dos filmes:
Vale dos Poetas (dir.: Marcílio Brandão , BRA, 2002, 21 min.)
Wenceslau e a Árvore do Gramofone (dir.: Adalberto Muller , BRA, 2008, 15 min.)
Litania da Velha (dir.: Frederico Machado , BRA, 1997, 16 min.)
Infernos (dir.: Frederico Machado , BRA, 2006, 13 min.)
Esta mostra é uma rica experiência para a reflexão sobre poesia e adaptação para o cinema. O valor poético presente nos filmes dialoga com o valor poético dos próprios poemas, mas qual o lugar de cada um enquanto meios distintos? Os quatro filmes propostos vão fomentar essa reflexão e abrir possibilidades para muitas outras idéias.
Debate sobre os filmes após a mostra.
Mediador – Vander Colombo.
Local : Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, comerciários e público em geral.

Dia 15 (Quarta-Feira)

15h00
– O Mundo Encantado das Letras - Bate-papo com crianças.
Luiz Andrioli

O escritor fala para as crianças sobre as possibilidades do universo da leitura.
Divide com os espectadores a sua experiência de leitor e compartilha as emoções de criar histórias a partir de detalhes do nosso cotidiano. Ler é escrever a própria história, é o que se propõe neste encontro.

Luiz Andrioli é escritor e jornalista. Trabalha atualmente como apresentador, locutor e editor-chefe de TV. É cronista do telejornalismo da RICTV, Rede Record. Atuou oito anos como repórter de televisão. Pós-graduado em Cinema e mestre em Literatura com a dissertação sobre Dalton Trevisan, “O Silêncio do Vampiro” (2010). Professor universitário e ator profissional. Como escritor, teve várias peças encenadas por grupos de teatro de Curitiba, dentre elas, “Não só as Balas Matam” (2001). Autor da biografia “O Circo e a Cidade – histórias do grupo circense Queirolo em Curitiba” (2007). Para crianças, escreveu “A menina do Circo” (2009).
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra: Raquel de Queiroz e o cotidiano na Literatura.
Profª Drª. Valdeci Batista de Melo Oliveira – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 16 (Quinta-Feira)

10h00 e 15h00
– Um Fio de Histórias. Contação de Histórias.
Rosângela Janea Rauen.
Rosângela Rauen é professora de língua portuguesa em escolas da rede pública e particular e assessora pedagógica. É também contadora de histórias com atuação nas Casas da Leitura da Fundação Cultural de Curitiba, em escolas da rede pública e particular, no Programa de Leitura da Petrobrás/Leia Brasil e em eventos universitários.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

19h30 – Performance Alfabeto Móvel .
Ricardo Corona e Eliana Borges.
Ricardo Corona e Eliana Borges desde os anos 1990 fazem apresentações ao vivo de poesia e performances. Criaram duas revistas: Medusa e Oroboro. Livros: Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009). Cinemaginário (1999); Tortografia (2003); Corpo Sutil (2005) e Sonorizador (Livrodisco), pela editora Iluminuras. E Ladrão de Fogo, disco de poesia (2001, Medusa). Organizou a ontologia Outras Praias (bilíngüe, Iluminuras, 1998) e traduziu Joça Wolff os livros Momento de simetria (Medusa, 2005) e Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Escritores, estudantes, professores, comerciários e público em geral.

Dia 17 (Sexta-Feira)

15h00
- Maria de uma rima só – Espetáculo de Contação de Histórias.
Hérica Veryano - atriz, pedagoga, arte-educadora e contadora de histórias.
O espetáculo Infantil “Maria de uma rima só” conta a história de Maria, uma menina que está sempre atrasada e nunca consegue pegar o trem. Enquanto aguarda na estação, com sua mala de viagem, Maria conta outras histórias, navegando pela cultura popular, lendas e jogos infantis. O espetáculo também traz elementos da dança e malabares, tendo como inspiração o jogo das Cinco Marias. Repleto de poesia e musicalidade, “Maria de uma rima só” consegue capturar o interesse de crianças e adultos abordando temas universais como os conflitos, perdas, esperança e superação.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

*PARTICIPAÇÃO GRATUITA EM TODA A PROGRAMAÇÃO DO EVENTO*

Mais informações: 45 3225-3828

Sesc Cascavel: Rua Carlos de Carvalho, 3367.

Coordenação Geral do Evento: Simone Moura (Técnica de Atividades) e Lysiane Baldo (Técnica de Atividades).

Fonte:
SESC PR/ Cascavel

Laé de Souza (Palestra: Publiquei o meu livro! E agora?)

Palestra na 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba: Publiquei o meu livro! E agora?

No dia 26 de agosto (quinta-feira), às 19h, como parte da programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba, o escritor e produtor cultural Laé de Souza irá ministrar uma palestra no Auditório da FUNDEC, dirigida a escritores e produtores culturais.

Na palestra com o título “Publiquei o meu livro! E agora?”, Laé de Souza falará sobre as dificuldades do escritor na divulgação do seu trabalho, a experiência em doze anos de projetos de incentivo à leitura e diversos aspectos práticos e legais para execução de projetos culturais subsidiados por leis de incentivo à cultura. Ao final abrirá espaço para perguntas da platéia.

Laé de Souza é coordenador do Grupo Projetos de Leitura, que atua em todo território desde 1998, e autor de vários projetos de incentivo à leitura aprovados pelo Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, dirigidos a diversos públicos. Só o projeto “Ler é Bom, Experimente!”, contou neste ano com mais de cem mil alunos participantes, de varias regiões do país.

Além de projetos em escolas, outros são desenvolvidos pelo grupo “Projetos de Leitura” em hospitais, grupos de terceira idade, parques, ônibus, metrô e praças públicas. O escritor é autor de obras infantis, juvenis e adultos, entre elas, Acontece..., Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Quinho e o seu cãozinho – um cãozinho especial, Nos Bastidores do Cotidiano. São de sua autoria os projetos "Lendo na Escola", "Leitura no Parque", Viajando na Leitura", "Caravana da Leitura", "Minha Escola Lê", Dose de Leitura", entre outros.

A FUNDEC fica na Rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro, Sorocaba. A palestra é gratuita, está aberta ao público e a inscrição será realizada no próprio local.

Mais informações podem ser obtidas nos telefones (15) 3228-6209 e 8119-2476, com Sonia ou Cintian Moraes.

A programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba está no site: www.semanadoescritor.com.br .

Fonte:
Projetos de Leitura