sábado, 11 de setembro de 2010

I Concurso de Poemas Cultura Revista, tema Primavera (Classificação Final)



Nesta edição, estamos divulgando a relação dos vinte primeiros classificados do “I Concurso de Poemas Cultura Revista, tema Primavera”, conforme previsto no regulamento.

A entrega dos prêmios está prevista para 24 de setembro de 2010, em razão de estarmos no início da Primavera. Local e horário serão divulgados, até trinta dias antes da data prevista para entrega, aqui na Cultura Revista.

Mais informações podem ser obtidas solicitando via e-mail
redacao@culturarevista.jor.br ou via telefone 0..27 8155-3446.
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CLASSIFICADOS ATÉ O 20º COLOCADO

1º –
Luiz Antonio Cardoso (Taubaté/SP)
CHEGASTE...

Chegaste em meu destino, de repente,
com poucas palavrinhas, a sorrir.
Chegaste no meu mundo e docemente,
fizeste a minha vida refulgir.

Chegaste, completando o meu presente...
traçando com detalhes meu porvir.
fazendo renascer, efervescente,
a vida - que queria inexistir !

Chegaste, numa noite irretocável,
alimentando sonhos magistrais
de um tempo de carícia incomparável.

Chegaste... e amanheceu neste jardim...
e aquele que era triste? Não é mais...
fizeste florescer dentro de mim !

2º –
Rosana Banharoli (Santo André/SP)
ESPERA

Pendurada no tempo,
Balanço entre outonos
À sua espera

Você, verão
Desperta em sóis
Apresenta-me à vida

Fechada em passados
Eu, gris
Em invernos

Você, primavera
Planta futuros
Em Viagens

No recorte das estações
Nos encontramos
Na zona de confluências
Embebidas em fotografias


António José Barradas Barroso (Parede/Portugal)
PRIMAVERA EM FLOR

Mostrando, muito leve, um tom de rosas,
Todas brancas, algumas mais lilases,
Ondulam, com a brisa, tão formosas,
Que os olhos, de as deixar não são capazes.

Essas flores que brotam, tão vivazes,
Tão belas, tão puras, tão vistosas,
Em momentos de vida tão fugazes,
São só belezas de alma, milagrosas!

E enquanto tronco e ramo sem mais nada,
A amendoeira só vive esperançada
Na rima das flores que não se queixam;

Que nascem por amor, com alegria,
E que, ao morrer, dão lições de poesia
Nos frutos que, afinal, elas nos deixam!


Eduardo de Paula Nascimento (São Paulo/SP)
AS QUATRO ESTAÇÕES

“Desejo-te o amor no universo
Disperso em cada etéreo sonho humano
E por mais que pareça controverso
Desejo gritar bem alto que eu te amo

Desejo uma paixão tão elevada
Que a estrela mais distante alcançaria
Mesmo a deusa mais linda e desejada
Ser você, ao deus do amor, imploraria

Desejo que nosso amor seja eterno
Em todo ano, em todas as estações
No outono mágico, quente no inverno

Na primavera forte em emoções
E no verão, no calor dos seus beijos
Desejo que me guardes seu desejo”


Denise Moraes (Vitória/ES)
PRIMAVERA

É primavera
teço uma tela.
Pinto os frondosos ipês,
que já estavam a minha espera.
Os pincéis, as tintas...
Aguardavam a inspiração na quimera.

Os ipês amarelos
iluminam,
ofuscam
e roubam a cena

A cor amarela
sente - se a mais bela.
Envaidecida
causa fuzuês,
ansiosa,
para ter vida na tela.

ganham vida os ipês amarelos,
reluzentes como ouro.

Ao desabrochar,
seus cachos despontam
confundindo - se com o raiar do sol.
Iluminando a madrugada que adentra
umedecida pelo orvalho,
o seu perfume vem exalar.

Silenciosa chega a aurora!


Nilton Silveira (Porto Alegre/RS)
SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA

Em carruagem de estrelas,
Num tilintar de magia,
Desabrocha a Primavera
Ante o castelo da Vida
Que com festejo celebra
A sua digna chegada.
Para a entrada triunfal,
O tapete que a enobrece
Não é de carmim veludo,
Mas a terra que se doa
E dadivosa a abençoa
Em sua divinal missão
De, por onde quer que passe,
Deixar rastros de empatia,
Respeito e aceitação,
Todos ornados de flores
Que deem ensejo ao milagre
Da olorada beleza
Que estabelece a nobreza
Na evolução do humano
E atrai os seres alados,
Das borboletas aos anjos.
Ao toar de clarinadas
Escancara-se o portal
E adentra a Primavera,
Que luzente ascende ao trono
Onde Ígor Stravinski,
Com fato de Sinfonia,
Cinge-lhe a fronte com poesia
E a consagra rainha.


Ivan Frederico Lupiano Dias (Londrina/ PR)
PRIMAVERA E UM QUERER

Primavera
Que aos olhos dela
Me conduz
Em uma caravela
Para dentro dos olhos dela
Onde outra primavera
Se reduz
A um verde tanto verde
De um verde que não me lembro
A não ser o de setembro
De um certo dia
Que traduz
O seu ver de fantasia
Um verde que eu sabia
Ser o ver de do olhar dela
Um verde de aquarela
Que reluz
Como uma estrela que revela
O caminho da primavera
Para o verde do olhar dela
E me seduz!


Solange Firmino de Souza (Rio de Janeiro/RJ)
SETEMBRO

Um poema-deserto
Vê um oásis
Na primavera florida

Descobre cores
Olores
E o silêncio
Da semente
Rasgando o ventre
Da estação repetida

Um poema-fruto
Brota na ruga
Do tempo
Cíclico


Tatiana Alves Soares Caldas (Rio de Janeiro/RJ)
SAZONAL

Mirava os bosques, de todo sem vida
Em sua existência, um ar sepulcral
Era como um cais, já em despedida,
O vento na face batia, glacial.

Saudoso do estio dos braços de outrora
Dos tempos do vinho, hoje já vinagre,
Contava as perdas, do tempo que chora
Clamava aos céus por santo milagre.

Lembrando o Outono, de folhas caídas,
Chorou pela vida deixada pra trás
Agarra-se às dores, mesmo as sofridas,
Mostrando-lhe tudo de que era capaz.

Percebe, enfim, que, nesse umbral,
Há ritmo, hora, e tempo de espera
Se as sombras trouxeram-lhe a dor hibernal,
Aguarda, risonho, pela Primavera!

10º
Nilson Vieira Moreno (São Carlos/SP)
PRIMAVERA

Eu sinto como fosse um reinício
Que o mundo convidasse o olhar e o ócio
Em setembro, passado do equinócio
Tudo ao fundo das almas mais propício

Beleza se fazendo mais que indício
Desfilando mais leve, doce e dócil
Primavera zelosa, um sacerdócio
Que só finda em dezembro, no solstício

Celebrando estação de mais amores
Assaltam nossas ruas vivas cores
Céu azul, tempo ameno, belos dias

Tantos ninhos, abelhas, girassóis
Sensação que eu e um outro somos nós
Natureza declama poesias.

11º
Regina dos Anjos Sousa Gouveia (Porto - Portugal)
PRIMAVERA

Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Por certo nem para ela olhei
eu que, ansiosamente, sempre aguardo que dê flor
e em frente a ela me sento, comovida ao vê-la tão florida.
Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Por certo andava distraída com a vida
quem sabe a pensar em ti, que nem conheço
e que, por certo, não mereço,
tão perfeito esse “ti” que imaginei.
Um ser dotado de tão grande perfeição
quiçá nunca existiu em toda a criação.
Estou a pensar na lua e em Galileu
que nela viu crateras e montanhas,
e foi julgado por dizer heresias tão tamanhas
pois no pensar dos homens que o julgaram a lua,
porque celestial, não poderia ter qualquer imperfeição.
E afinal Galileu tinha razão.
Floriu a magnólia e nem me apercebi
mas as flores da magnólia, que eu não vi,
de tão simples e belas, provocam em mim tal sensação
que fico extasiada só de vê-las.
Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Não havia mais flores quando para ela olhei.
Também elas não cumprem o ideal da perfeição.
As que ainda restavam, tombadas no chão,
já não eram as flores da minha magnólia
apenas seres em decomposição.
Floriu a magnólia e eu não vi.
Fico à espera do pré- dealbar da nova primavera.

12º
Reginaldo Costa de Albuquerque (Campo Grande/MS )
O IPÊ

Sob a esfolhada pele dos teus ramos
fomos os mais ditosos dos mortais:
havia em nós, ipê, risos demais,
havia em ti, pesar que lamentamos.

Sobre outonais corolas nos amamos,
e tu que assim nos viste tão sensuais,
do amor às mil volúpias divinais,
invejaste os momentos que gozamos...

Veio a separação que nos surpreende
e assomou-te em regalo a primavera,
que em dourado matiz e aroma, esplende.

E agora, ante os teus pés quanta mudança:
há em ti as flores e o frescor de outra era,
há em nós um pranto, um luto, uma lembrança...

13º
Paulo Tórtora (Rio de Janeiro/RJ)
MAIS UMA VEZ, PRIMAVERA...


Primavera! Eclode a natureza
Numa profusão de ninhos e flores,
Numa pujança de gozo e de amores,
Num frêmito de júbilo e beleza!

Há em cada canto festas e risos.
Há em cada coração, esperança,
E, até onde a vista alcança,
Descortina-se o sol do paraíso.

Sinfonia de casais enamorados,
Amando-se sem pudor ou pecado,
Pelos parques e alamedas dispersos.

E o poeta só, sorrindo, indulgente,
E fingindo não sentir o que sente,
Ilude a solidão, tecendo versos...

14º –
Jayme Cardozo dos Santos Junior (Mogiguaçu/SP)
O JARDIM

Eu quero um jardim na primavera
Com toda sua luz, suas cores
Seu cheiro - cheiros que inebriam
Seu envolver em minh'alma, sua calma.

O jardim, os jardins na primavera
São a prova mais nítida de que há paz
Paz na turbulência, nos espaços sós
Paz que se vê, que quem quer faz.

Qual é a mais linda flor do jardim?
Será enfim que já sabemos ser todas?
Irmãos são o amor e a fraternidade
São um só a humanidade e flores.

Tem que ter chegado a esperada Era
E como a primavera têm seu tempo
O ser racional também tem um vento
Que sopra levando as cinzas; refazendo.

A vida tem que ser mais importante
Do que a morte no centro, no morro
Do que os tanques lá na faixa de Gaza.
A vida é primavera em rebento.

Que seja a Terra então um Jardim
De belas flores e odores suaves
Onde se possa reconhecer não só uns
Mas todos os comuns que nela viajam.

15º
Marisa Helena Carneiro Ribas (Curitiba/PR)
ESTAÇÃO

Suave canto invade a madrugada,
Não é a cotovia de Romeu.
O regional canto ora transformado
em alegre trinado do sabiá
Anúncio que o dia já vem
Colorindo todo o céu
com todas as cores do arco-íris.
O pintor que ora amanheceu
a brincar com as cores,
no céu e na terra
repletos de muitas flores.
Assim como o paraíso,
falado e descrito
nos sonhos dos homens.
É hora de novas vidas
Surgirem na Terra
Na estação do amor.

16º
Tânia Diniz (Belo Horizonte/MG)
FEITO FLOR

Trepadeira
dama-da-noite
em cantos e muros
varanda e escuro
a vida enfeita
e perfuma

germina e apruma
floresce desejos
corpos-deleite
buquês de beijos
mordentes-de-leão

Verdegestação

Em lençóis d'água
alastra, propaga
carícia-folhagem
larga ramagem
cobrindo o leito
em arranjos
de amor-perfeito
Indecorosa
Delírio
Jas em in.
Eu, jardim.

17º
Fernando Catelan (Mogi das Cruzes/SP)
VEM, PRIMAVERA

Vem, primavera, que tanto te anseio,
'inda hoje a esfolar a carne o inverno
Se de minha investidura, vê, eu apeio
é por te adiares em desenlace eterno!

Vem, primavera, que tanto te anelo,
se, ajardinada, vens num riso florido,
'inda cá mui se dê as costas ao Belo,
'inda cá o versejar há tanto, crê, ido!

Vem, primavera, cessa de vez vento,
vento que, impiedoso, rói as vísceras
Traz-nos tua brisa por dádiva, alento,
acende sóis, ora da palidez de ceras!

Tu, ausente, 'inda cá o peito te ama,
o facho de luz que irradias tudo para
Vem, primavera, flor na verde rama,
se verdes são teus olhos, coisa rara!

Vem, primavera, noite ébria de perfume,
'inda lancem garras sobre botão em flor
Se desejo campos cheios de teu lume,
mais ainda és, ó primavera, meu amor!

Vem, primavera, vem em doce vestal,
traja lírios, e nada mais, pois, te cubra
Desce de vez desse teu régio pedestal,
ou deusa caída cá verve, sei, elocubra!

Vem primavera, verdes olhos em diva,
espargindo da Terra vez mais a flora
Se minh'alma da tua, ora sei, se priva,
teu prisco amante vinda tua implora!

18º
Edinan de Almeida Preisigke (Aracruz/Espírito Santo)
PRIMAVERA

Flores de todas as cores e tons
Rosas, tulipas e alecrins.
Flores da primavera
Que enfeitam o jardim

O Beija Flor
Encanta-se com tanta beleza
E agradece ao pai da natureza
Por todas as cores das flores

Os passarinhos
Nos galhos verdes e pequeninos
Constroem seus ninhos.

As borboletas, quase que se perdem
No meio de tantas cores.
Misturam-se na paisagem
Deixando mas linda a sua imagem.

E todos os animais da floresta
Em um só tom, numa só orquestra
Cantam alegres pelo verde que os cerca

19º
Ruth Hellmann Claudino (Dourados/MS)
É SETEMBRO

Abra a janela e veja
Como o panorama se transforma,
O que estava seco e sem forma
Com mito vigor verdeja.

É setembro, é vida, tudo cresce.
É primavera de alegria e paz.
E em cada criatura capaz
É tempo em que o amor floresce.

Natureza, enorme palco especial
Onde impera o verde encanto
Dos pássaros a arte do canto,
Dos insetos a dança espacial.

É hora de conscientização e ação;
Sem plantas tudo fica imundo.
Semeia, para colher neste mundo
Bons frutos e paz no coração.

20º
Lia Abreu Falcão (Pernambuco)
SOL DE PRIMAVERA

Da solitude da sua vida
pressentiu o que era nunca

E pendurou cascas de ovos
no pé seco da umburana

Fez cortinas para a sala
com flor de chitão guardado

No sagrado de sua casa
fincou o sempre de uma rosa

E colheu flores campestres
para alguém vindo dos longes

Trajou-se de branco-lírio
para a ceia derradeira

E viu o mar reluzente
pela luz do Sete Estrelo

E chorou todo o seu pranto
vendo o Sol da Primavera

Que semeia a Vida sempre
com Verdade e Esperança.

COMISSÃO JULGADORA

Rose Vieira Tunala - Poetisa, cronista, delegada da UBT em Cachoeiro de Itapemirim-ES, colunista da Cultura Revista-ES.

Maria Catherine Rabello - poetisa, colunista do Jornal da Cidade On Line www.jornaldacidadeonline.com.br

Andrade Sucupira Filho - jornalista, poeta, cronista, delegado da UBT em Vila Velha-ES, editor da Cultura Revista- ES

Falecimento de Antonio José Giacomazzi

Antonio José Giacomazzi (1941 - 2010)


Giacomazzi nasceu em Salto/SP 21 de março de 1941 radicando-se em Canoas/RS. Faleceu em Canoas/RS, em 9 de setembro de 2010.

Militar da Reserva da Força Aérea, cursou Jornalismo na Fundação Casper Líbero, Artes Plásticas no Liceu de Artes e Ofícios, e Teatro, curso Eugênio Kusnet.

Com Vinício Cassiano e Voldinei Lucas introduziu em Canoas as Exposições Coletivas. Artista plástico premiado, participou de exposições em Canoas, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza.

Escritor e poeta, tendo seus trabalhos inseridos em uma dezena de coletâneas.

Recebeu onze prêmios literários nacionais e um prêmio internacional. Entre eles:
Moutonnée de Poesia (USP- Universidade de São Paulo/SP);
Conto e Poesia (UCS-Universidade de Caxias do Sul);
Conto ( Editora Taba/RJ);
Conto ( Alphas - Cruz Alta/RS);
Concurso Poetrix (Salvador/BA); e
Poesia ( Tietê - São Paulo, Curitiba e Ponta Grossa).

Antônio José Giacomazzi foi o patrono da 25ª Feira do Livro de Canoas, em 2009, e da II Feira do Livro de Niterói, sendo escolhido entre representantes de movimentos e entidades literárias da cidade, e poder público municipal. Na oportunidade, o nome do canoense foi sugerido ao longo dos encontros que defiram detalhes sobre o evento, junto com o de profissionais como Nelsi Urnau e Neida Rocha. Eleito pela maioria, Giacomazzi esteve à frente dos trabalhos da feira temática pelos 70 anos de Canoas, entre os meses de junho e julho do ano passado.

Publicou os livros:
Seita Diabólica (aventura, infanto-juvenil);
Tu e eu (poesias);
Como Vicente Praguetone Venceu o Diabo e Ficou Rico (sob pseudônimo);
25 anos do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Canoas (livro comemorativo).

Sócio-fundador da Associação Canoense de Escritores (ACE) e da Casa do Poeta de Canoas

Fontes:
http://www.canoas.rs.gov.br/Site/Feira/AntonioJoseGiacomazzi.asp
http://www.deniteroi.blog.br/2010/09/morre-antonio-jose-giacomazzi.html

Antonio José Giacomazzi (Escuna)


Doce roteiro
Aquele em que navego
Tripulante
Da escuna leve de teu corpo

A me envolver na espuma
Flutuante
Ondulante
De um prazer sem fim.

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Antonio Brás Constante (Você Reconhece os Presentes que Ganha?)


NOTA DO AUTOR: Nesta data (09.09.2010) morreu um grande escritor Canoense, Antonio José Giacomazzi, e para prestar uma homenagem ao nobre amigo das letras, envio o texto abaixo, extraído e forjado em uma conversa casual com ele, em uma bela tarde de sol, tendo como platéia uma legião de livros. Espero que apreciem.
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Bons presentes muitas vezes não custam dinheiro, mas em virtude disto, custamos a reconhecê-los como presentes. Uma troca de palavras pode ser bem mais preciosa do que uma jóia. Foi o que aconteceu em um dos dias em que estive prestigiando a feira do livro de Canoas de 2009. Estava eu na praça vendo as pessoas rodeadas pelas árvores e as árvores rodeadas de pessoas, tendo os livros preenchendo todos os demais espaços vazios. Naquele dia tive a oportunidade de conversar um pouco com o patrono do evento.

Para quem não o conheceu, posso descrever o patrono daquela feira do livro, Antonio José Giacomazzi, como um jovem de um pouco mais de sessenta anos, poeta, artista plástico, escritor e dono de uma mente indomável, capaz de criar obras lindíssimas, usando os papéis ou pincéis ao seu dispor. Ele me agraciou com uma história, dessas que ocorrem durante a valsa entre dois dançarinos hindus chamados de: espaço e tempo.

A história falava sobre a amizade entre um menino e um golfinho, e que graças a esta relação de amizade, o animal foi desenvolvendo acrobacias e malabarismos como forma de brincar e interagir com o garoto. Essas brincadeiras com ares de show circense foram atraindo pessoas de longe para conhecer e assistir ao espetáculo que ali acontecia.

Mas toda essa migração de pessoas de outras localidades começou a onerar o reino local, que se via obrigado a dar abrigo e comida para aquela multidão que ali se aglomerava, ansiosa para ver o menino e seu golfinho. O que o rei resolveu fazer então para sanar o problema? Matou o golfinho...

Antes que alguém possa pensar que esta história pretende falar sobre os políticos em geral, que com suas tantas atitudes cegas e burras acabam matando verdadeiros tesouros, no intuito simplista de resolver problemas administrativos, se enganou. Quero dizer que o rei está dentro de nós. Pois nossos atos geram políticos decepcionantes, matam golfinhos artistas e destroem presentes valiosos que deixamos de lado por não entendê-los como presentes. Ao cobiçar o jarro de ouro em um deserto, muitas vezes desperdiça-se a preciosa água guardada dentro dele, que poderia salvar uma vida.

Bons presentes devem ser partilhados, e por isso resolvi compartilhar de forma escrita esta bela história. E você? Já presenteou alguém, ou recebeu de presente algo que considera especial?

Fonte:
O Autor
Imagem = http://utopia-artes.bloguedobebe.com

Sylvio Von Söhsten Gama (Sonetos Parnasianos)


AQUELA FLOR
Maceió / 1938
Em um dos primeiros namoros meus houve troca de mimos.

Achei aquela flor, já desbotada,
que um dia, perfumada, recebi.
Um pouco... Um muito a relembrar de ti
nas páginas de um livro agasalhada.

Nós dois... Uma ilusão que foi guardada,
é tudo que esta flor resume em si;
ilusão em que a vida conheci,
num amor de criança... Só, mais nada.

Talvez contigo não conserves inda,
mesmo que ressequida quem foi linda,
a outra flor que dei apaixonado.

Eu a minha guardei tendo a certeza
de um dia recordar toda beleza
do que depressa se tornou passado.

DECEPÇÃO
Maceió / 1938

Uma desejada vingança.

Muito desejo confessar-te tudo,
dizendo-te o tanto que te quero
e, aguardando o momento, calo e espero,
na agonia de ter que ficar mudo.

Ignoras o quanto sou sincero
e tua indiferença é conteúdo
que torna meu desejo mais agudo.
Não o posso reprimir e desespero.

Não suporto viver mais de desejos,
pensando noite e dia nos teus beijos
que, certo, me encheriam de emoção...

Por isso, agora, sinto diferente,
o que me agradaria no presente
era o teu sim, para dizer um não.

ENGANO
Maceió / 1938

Na adolescência, quase infância, o exagero dominava os sentimentos.

Tentei vê-la outra vez. Melhor seria
que eu houvesse ficado na ilusão,
pois os sonhos que tinha, com emoção,
decorriam de mera fantasia.

Como a encontrei mudada! Parecia
que não era você. Desilusão!
Nos olhos seus a procurei em vão
não reencontrando aquela que eu queria.

Foi triste constatar acabrunhado
que só eu conservava do passado
o nosso amor, meu sonho, a sua jura...

Não me conformo em ter fingido tanto
pra mim que acreditava, lhe garanto,
ser você das mulheres a mais pura.

PRIMEIRA DESVENTURA
Maceió / 1939

Felizmente as desventuras não foram muitas.

Descamba a tarde a se arrastar tristonha,
envolve a Terra um tom esmaecido.
A Natureza perde o colorido,
é quase anoitecer... O mundo sonha.

Por entre as nuvens, pálido, perdido,
um brilho que escondeu-se de vergonha...
e a escuridão a se espalhar medonha
deixam, no espaço, o negro difundido.

Esperei por você com ansiedade,
custa-me acreditar que na verdade
o seu alheamento me tortura.

Nosso encontro não foi realizado.
Em mim ficou um coração magoado
e o gosto da primeira desventura.

INSPIRAÇÃO
Maceió / 1939

Eu ainda não sabia que poesia não se faz, se liberta, e que está em todas as coisas.

Saí pra fazer versos, procurando
em tudo que encontrava uma inspiração.
Estrelas, céu, luar, escuridão,
e a tudo indiferente ia passando.

Horas vaguei mal inspirado... Em vão
tentei o espaço percorrer voando,
e as imagens que ia formulando,
se as erguia, rolavam pelo chão.

Desditosa ventura de poeta!
Se acaso quer sonhar – coisa dileta –,
o mundo o contraria e lhe diz não.

Se resolve viver na realidade,
força estranha lhe tolhe essa vontade
e o envolve no manto da ilusão.

ENCONTRO MARCADO
Maceió / 1940

Naquele tempo o namoro era proibido.
Acontecia, furtivamente, na entrada e saída dos colégios.

Meio-dia, poeira, solo ardente.
O sol se apraz em espalhar mormaço,
e este, com forte e tenebroso abraço,
me envolve e me angustia horrivelmente.

Demoras... Apreensivo, olhando o braço,
vejo o relógio que anda lentamente.
Me aborreço. Nervoso, impaciente,
entro em luta, debato-me, fracasso.

Sou todo exaltação de ansiedade.
Minutos se transformam em eternidade
e lentos se sucedem... Desespero!

Mas o desejo de te ver é tanto
que venço a impaciência e, num recanto,
fico sereno, acalmo-me, te espero.

ADEUS
Rio de Janeiro / 1941

O porto de Maceió não existia e os navios ficavam ao largo.
O embarque e o desembarque eram feitos em barcos a remo.

Adeus foi o que lhe disse... Adeus, parti.
Parti e, do navio a praia olhando,
vi seu vulto nas águas mergulhando...
E as lágrimas deter não consegui.

Longos dias se vão... Triste, pensando
nos momentos de angústia que vivi,
fecho os olhos pra vê-la tal a vi,
linda, na tarde triste, e chorando.

Busco em tudo lembranças do passado.
Horas vivo no tédio mergulhado,
mergulhado em tristeza como quê.

A recordá-la com carinho e encanto,
quase, quase a ver, vertida em pranto,
a saudade que sinto de você.

ESPADIM
Realengo(RJ) / 1941

Juramento que fiz no recebimento do espadim – miniatura do Sabre de Caxias –,
depois de rigoroso teste, na Escola Militar do Realengo.

Ah! Que sonho eu sonhei, quando desperto,
que te incluía, Escola Militar!
Um projeto de vida a modelar
pro qual o coração estava aberto.

Consegui em teu seio ingressar.
Formidável conquista foi... Decerto.
Porém, outro maior feito concreto,
eu confiava, ia se realizar.

Realizou-se entre alegria pura,
quando apuseram, em minha cintura,
o que eu julgava ser demais pra mim.

Prometo vida plena em ousadias
– miniaturas, porém, das de Caxias,
como é a dimensão desse espadim.

LONGE
Rio de Janeiro / 1941

Um cadete, no Rio de Janeiro, morria de saudades da namorada que deixara em Maceió.

Parto deixando-te. E, em partir somente,
o pensamento fica atordoado.
Não sei... Quero falar, porém, calado,
te deixo o coração, levo-te em mente.

De longe, te relembro. Ao meu lado
sinto-te em tudo, em tudo que se sente:
tristeza ou alegria... E, em ter-te ausente,
o alegre pelo triste vem trocado.

Tenho fé que na vida serás minha,
porquanto a cada dia mais se aninha
no fundo do meu eu esse desejo.

Eu sei que minha vida será tua.
Isso fica evidente e se acentua,
pois sonhando somente a ti eu vejo.

PRIMEIRO BEIJO
Palmeira dos Índios / 1942

O cadete, no hotel, recordava o lindo dia que fez acontecer.

Agora aqui, neste cair de tarde,
hora da dúvida, hora da incerteza,
busquei uma alegria na tristeza,
na tristeza feliz que tudo invade.

Em você e em nós dois pensei... Verdade.
É verdade, querida. Com certeza
deste dia completo de beleza
ficou lembrança para a eternidade.

É verdade e foi hoje! Um sonho ousado,
que sonhei tanto tempo acordado
alimentando a chama de um desejo.

Tomei-a nos meus braços palpitante...
E aconteceu, marcando aquele instante,
o seu, o meu, nosso primeiro beijo.
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Fonte
Gama, Sylvio von Söhsten. Meus sonetos: 211 parnasianos. Maceió,AL: [S N], 2005

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Associação Gaúcha de Escritores


História

Em 1981, um grupo de escritores iniciou as atividades da AGES, entidade que busca reunir e representar os escritores; preservar seus interesses e direitos; preservar nosso patrimônio cultural; estimular quaisquer expressões e atividades culturais; atuar em defesa das liberdades democráticas e da livre manifestação de pensamento em todas as suas formas; combater os preconceitos e promover a convivência pacífica com base em justas relações de intercâmbio; participar no desenvolvimento e no progresso cultural do RS e do Brasil.

Relação dos sócio-fundadores
Alfredo Nery Paiva
Alfredo Roberto Bessow
Antonio Carlos Resende
Antonio Hohlfeldt
Ary Quintella
Carlos Carvalho
Carlos Reverbel
Carlos Saldanha Legendre
Celso Pedro Luft
Cesar Alexandre Pereira
Dilan Camargo
Donaldo Schüler
Humberto Zanatta
Ivette Brandalise
Ivo Bender
Jaime Cimenti
Jayme Paviani
Jorge Rein
José Eduardo Degrazia
José Guaraci Fraga
Kenny Braga
Laci Osório
Luiz Antonio de Assis Brasil
Luiz Coronel
Luiz de Miranda (primeiro presidente da Associação)
Luiz Pilla Vares
Lya Luft
Mario Quintana
Moacyr Scliar
Ozy Pinheiro Souto
Paulo Kruel de Almeida
Ruy Carlos Ostermann
Sergio Faraco
Sergio Jockymann
Sergio Napp
Tarso Genro
Tau Golin

Diretoria atual:

Presidente: Maria Eunice (Marô) G. Barbieri
Vice-Presidente Administrativo: Marcelo Spalding
Vice-Presidente Social: Sérgio Napp
Vice-Presidente Cultural: Waldomiro Manfrói
Secretaria Geral: Ana Maria de Souza Mello
Tesouraria: Christian David
Diretoria de Comunicação: Lu Thomé
Diretoria de Relações Públicas: Celso Sisto

ATIVIDADES

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA
Com muita satisfação, vimos comunicar que a AGEs foi inscrita para as Eleições do Conselho Estadual de Cultura, biênio 2004/2005, no Segmento Cultural Livro e Literatura. Por conseqüência, desde janeiro temos no Conselho um membro titular, a poeta Maria Carpi, e sua suplente, a escritora Marô Barbieri. Sem dúvida, esta é uma grande conquista para a AGEs e todo seu corpo associativo.

PALAVRA NOVA
O Palavra Nova é um evento mensal organizado pela AGES com o objetivo de reunir seus sócios e degustar um pouco do mundo da palavra. A cada edição um escritor gaúcho é homenageado com a leitura de trechos de sua obra e responde a algumas curiosidades dos espectadores. Em 2002, quando o evento começou a ser realizado, foram homenageados autores como Sérgio Napp, Liberato Vieira da Cunha, Ruy Carlos Ostermann e Fernando Neubarth.

JANTAR DOS PATRONÁVEIS
Desde 2002 a Associação tem a tradição de promover o Jantar dos Patronáveis, realizado em parceria com a CDL. O jantar é uma oportunidade única de se conhecer pessoalmente os 10 indicados para patrono da Feira do Livro de Porto Alegre do corrente ano.

JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO
A cada seis meses os sócios da Associação se reúnem ao redor de uma bela mesa para conversar sobre literatura e rever os amigos. Estes jantares também são belas ocasiões para se prestar justas homenagens. No inverno de 2002 homenageou-se os indicados a Patrono da Feira do Livro, e em Dezembro de 2002, início do verão, final do ano, foi a vez de homenagear os ex-Presidentes da AGES.

ENCONTRO GAÚCHO DE ESCRITORES
O Encontro Gaúcho de Escritores é uma tradição da AGEs desde as primeiras gestões. Os sócios são convidados a participar de um ciclo de palestras durante o fim de semana em determinada cidade do interior do estado. Em 2003 foi realizado o I Encontro Gaúcho de Escritores em Bento Gonçalves.

FEIRAS DO LIVRO
A Associação Gaúcha de Escritores é convidada a participar de diversas Feiras do Livro ou eventos culturais do Rio Grande do Sul e até de outros Estados. A sua diretoria representa a Associação nestes eventos. A partir de 2003 a idéia é convidar os sócios a também participar em nome da AGES para que possamos estar presentes num maior número destes eventos.

PRÊMIO 'LIVRO DO ANO'
O prêmio é uma escolha de escritores para escritores onde todo livro publicado pode ser indicado. No entanto, a escolha será feita apenas por associados da AGEs em sete categorias: Narrativa Longa, Narrativa Curta, Crônica, Poesia, Literatura Juvenil, Literatura Infantil e Não-ficção.

Os premiados

NARRATIVA LONGA
2009: A parede no escuro - Altair Martins
2008: Contramão - Henrique Schneider
2007: Por que sou gorda, mamãe? - Cíntia Moscovich
2006: O reino de Macambira - José Eduardo Degrazia
2005: Estudo das teclas pretas - Luiz Paulo Faccioli
2004: A Margem Imóvel do Rio - Luiz Antonio de Assis Brasil
2003: Dores, amores e assemelhados - Claudia Tajes

CONTO
2009: Trocando em miúdos - Luiz Paulo Faccioli
2008: Olhos de morcego - Leonardo Brasiliense
2007: Transversais do tempo - Tailor Diniz
2006: O gato escarlate - Luiz Coronel
2005: Arquitetura do Arco-íris - Cintia Moscovich
2004: Mínimos Múltiplos Comuns - João Gilberto Noll
2003: A rua dos secretos amores - Jane Tutikian

CRÔNICA
2009: Agora eu era - Cláudia Laitano
2008: Cartas à minha neta - Armindo Trevisan
2007: O amor esquece de começar - Fabrício Carpinejar
2006: O olhar médico - Moacyr Scliar
2005: A lei primordial - Franklin Cunha
2004: Tipo Assim - Kledir Ramil
2003: Todos os meses - Valesca de Assis e Ana Maldonado

POESIA
2009: Prosa do mar - Marlon de Almeida
2008: Meu filho, minha filha - Fabrício Carpinejar
2007: O herói desvalido - Maria Carpi
2006: As sombras da vinha - Maria Carpi
2005: O sonho nas mãos - Armindo Trevisan
2004: A Força de Não Ter Força - Maria Carpi
2003: Biografia de uma árvore - Fabrício Carpinejar

NÃO-FICÇÃO
2009: A matéria encantada, por Xico Stockinger: ode a um guerreiro - Armindo Trevisan
2008: Crianças no asfalto - Marcelo Spalding
2007: O crepúsculo da arrogância - Sergio Faraco
2006: Crônica: o vôo da palavra - Walter Galvani
2005: Travessia da Amazônia - Airton Ortiz
2004: O Rosto de Cristo - Armindo Trevisan
2003: Lágrimas na chuva - Sergio Faraco

INFANTIL
2009: Cida, a Gata Maravilha - Luiz Paulo Faccioli
2008: Iberê menino - André Neves e Christina Dias
2007: A almofada que não dava tchau - Celso Gutfreind
2006: Bolacha Maria - Carlos Urbim
2005: O cavaleiro da mão-de-fogo - Mario Pirata
2004: Pestilóide e o Sumiço da Chuva - Marô Barbieri
2003: Fera domada - Celso Gutfriend

JUVENIL
2009: A cor do outro - Marcelo Spalding
2008: Mais ou menos normal - Cíntia Moscovich
2007: Adeus conto de fada - Leonardo Brasiliense
2006: Debaixo de mau tempo - Caio Riter
2005: Atrás da porta azul - Caio Riter
2004: J F e a Conquista de Niu Ei - Jane Tutikian
2003: Aconteceu também comigo - Jane Tutikian

Fonte:
Associação Gaúcha de Escritores

domingo, 5 de setembro de 2010

Balaios de Trovas VII


Se acaso seu filho abusa,
diga-lhe um “não”, que faz bem.
Muita vez uma recusa
salva o futuro de alguém.
A. A. DE ASSIS – PR

De uma forma desmedida,
muita gente, a toda hora,
dizendo gozar a vida,
vai jogando a vida afora!…
ALFREDO DE CASTRO - MG

Quanta gente em devaneios,
buscando instantes risonhos,
vive dos sonhos alheios
e esquece dos próprios sonhos!...
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA-PA

Se entre guizos, eu componho
meu disfarce de Arlequim,
há sempre um Pierrô tristonho,
que chora dentro de mim!
CAROLINA RAMOS – SP

Eu peço que não me iludas,
nem me deixes com infarto
com essas pernas desnudas
na penumbra do teu quarto.
CLÊNIO BORGES – ES

E desde o raiar do dia,
entre rocha, musgo e lua,
vou te fazendo poesia,
morta de saudade sua.
DÁGMA VERÔNICA -MG

Onde a lei torta vigora
e o povo ao jugo se presta,
o rico só comemora
e o pobre é quem paga a festa.
DIVENEI BOSELI - SP

A dor materializou-se,
nestas lágrimas sem cor.
Meu orgulho evaporou-se...
Rendi-me à força do amor!
FRANCISCO NEVES MACEDO-RN

Existe amor sem sequelas,
na união de um casal,
nos romances e novelas,
nunca na vida real.
GERALDO AMÂNCIO PEREIRA - CE

E’ de ternura o momento
em que o Sol sorri no espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
GISLAINE CANALES - SC

Quando chegar, vou sorrir;
sorrirás, quando eu chegar.
Não chores quando eu partir,
para eu partir... sem chorar...
IZO GOLDMAN - SP

Sonhei um sonho tão triste!...
Sonhei que o mundo acabou...
- Logo depois, tu partiste,
e o sonho se confirmou...
JOSÉ OUVERNEY - SP

Para ser feliz, na vida,
bem alegre, a todo instante,
sem causar qualquer ferida,
o equilíbrio é importante.
NEI GARCEZ-PR

Sem rodeio e sem firula
deixo a todos essa dica:
Impostor sempre bajula,
amigo às vezes critica!
PEDRO ORNELLAS - SP

Você pode até amar
aos limites do impossível,
mas ao se relacionar,
equilíbrio, imprescindível.
RAYMUNDO SALLES BRASIL-BA

Quando à noite, a solidão
e a saudade trazem dor,
vou dizendo ao coração:
-é o preço por tanto amor.
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE - RJ

Na vida, em toscos degraus,
entre tropeços a sustos,
mais que a revolta dos maus,
temo a revolta dos justos!
RODOLPHO ABBUD - RJ

Um coração congelado
pega fogo, de repente,
quando o amor, fósforo alado,
risca faíscas na gente!
ROSA DE OLIVEIRA - PR

Fonte:
ACRUCHE, Roberto Pinheiro. Trovas e Poemas. n.19. setembro de 2010.

Athayr Cagnin (Poemas Avulsos II)

Terra Virgem do pintor
capixaba Levino Fanzeres (1884-1956)
PRIMAVERA

Farfalham folhas e despertam ninhos.
Acorda o dia em rútilos fulgores.
O sol abre a cortina dos caminhos
para a festa das aves e das flores.

Por toda a parte a voz dos passarinhos
confunde-se com a voz dos trovadores.
Namorados permutam-se carinhos...
Há uma feérica explosão de cores.

Aromas pairam no ar. Nuvens graciosas
evoluem no espaço, preguiçosas...
A conversar com os pássaros me arrisco...

É a primavera! E eu sinto dentro em mim
um desejo de amar que não tem fim,
como se eu fora um novo São Francisco!

INSÂNIA

Este amor impossível que me invade
a alma, enchendo-a de loucas fantasias,
troca minutos de felicidade
por semanas e meses de agonias.

Para beber a doce claridade
que dos teus negros olhos irradias,
em permanente estado de ansiedade
sou condenado a ruminar meus dias.

Em vão tento esquecer-te. Em vão invento
mil formas de arrancar-te da memória,
como se fora fácil meu intento.

Medito, raciocíno, persevero,
mas cada vez me afundo mais na inglória
luta de querer tanto a quem não quero.

CHAMA EXTINTA

Se ela me amasse como amou outrora.
com aquele mesmo ardor com que me quis,
eu mandaria esta tristeza embora
e voltaria até a ser feliz.

Versos de amor faria sem demora,
como jamais, em qualquer tempo, fiz,
e não vegetaria como agora,
acabrunhado, apático, infeliz.

Se ela me amasse como antigamente,
com o mesmo anhelo, o mesmo amor enfim,
minha vida seria diferente.

-Pedi-lhe que voltasse e ela voltou,
mas que me vale tê-la junto a mim,
se já não me ama mais como me amou!...

IN MEMORIAM

Homenagem a Benjamim Silva

Num dia assim, de céu tão meigo e brando,
Velho Itapemirim, por que soluças
E no leito das poedras te debruças,
Como uma grande lágrima rolando?

E Itabira, montanhas dominando,
Por que para o infinito o olhar aguças
E os espaços longínquos esmiúças,
Como que algo de grave adivinhando:
Que estranho mal vos traz tanto amargor?...

...E a tudo eu continuo perguntando,
Sem ver que a natureza está chorando,
Porque morreu o seu maior cantor!

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Ialmar Pio Schneider (Devaneios Poéticos)

Pintura de John Constable (1776 - 1837)
SE EU TE DISSESSE...

Se eu te dissesse que sinto a angústia de saber que existes
e não consigo te alcançar porque me pareces uma estrela distante...
Que os versos que componho se tornam cada vez mais tristes
e não posso te atingir como quisera e tenho que seguir adiante...

Se eu te dissesse que mesmo assim és a musa que me inspira
nos momentos de aflição, nas horas mais difíceis da vida...
Compreenderias talvez os soluços que magoada murmura a lira
do poeta que sou, maluco por tua presença inatingida ?!..

Se eu te dissesse também que representas o antes e o depois
de tudo que caminhei nas páginas de minha história...
que eu desejava, mesmo almejava, que fosse de nós dois
este feliz caminho, esta venturosa trajetória....

Se eu te dissesse que os dias custam a passar quando não estás
falando comigo e permaneço ouvindo tuas palavras ardentes...
Que em lugar nenhum consigo ficar, por assim dizer, em paz
e faço parte do rol nada agradável dos descontentes...

Sentirias a saudade que chega sem avisar, na hora
em que talvez estejas a fazer solitária, a tua prece
de amor por quem sentes bater o coração agora
pulsando ingovernável e bravio... Se eu te dissesse ....

FORAS CAPAZ....

Deixarias que eu entrasse em tua vida assim sorrateiramente
como chega um ladrão para roubar teu coração ?
Quiseras que eu fosse alguém desconhecido de ti, diferente
dos demais, e viesse para tua aceitação ?!

Se assim o desejas e vives sem preconceitos,
eu me apresento agora à tua contemplação,
embora trazendo em meu ser mil defeitos
próprios dos que amam ardentemente com tanta emoção !

Foras capaz enfim de projetares uma aventura louca
que descortinasse um mundo que nem sonhas existir,
e tivesses que enfrentá-lo, saturada de beijos em tua boca,
e dos outros que falassem te pusesses a rir...

Nós transporíamos todos os obstáculos possíveis e imagináveis
e seriamos dois em um, como sói acontecer aos amantes,
por assim dizer, enamorados e amáveis,
que querem desfrutar juntos todos os instantes...

Fonte:
O Autor

Silviah Carvalho (Tristeza)


Se minha tristeza tivesse fim, poderia mudar meu teor,
E virar a página do que há incontido no desfazer-se do nó.
No nascer de um novo dia, eu perceberia sua real beleza,
Eu poderia viver e amar, se não fosse esta tristeza.

Por ela me escondo e com ela sobrevivo e me divido,
Não há dor que não sinta, ou mal que não tenha conhecido,
Às vezes parece amiga, dorme e acorda comigo, não me deixa,
Mas de sua presença, minha alma reclama e a mim se queixa.

Dela escrevo por ela me inspiro, nela Deus se manifesta,
É a presença reflexiva que nos poemas exprime grandeza,
Perder a graça de viver é tão fácil, quanto não achar um
Motivo para tal. Finar-se, é da tristeza o estágio terminal.

Como a “Narciso” foi-me dado uma sentença, mas no espelho
D’água não vejo minha aparência, foi-se o que chamam de beleza,
Ficaram lembranças saudosas de um tempo que não volta por
Nunca ter existido que foi sonhado e não foi vivido... Tristeza!

Agora, tornar-se-á real o que parecia apenas sutileza,
Vais partir e nada terei por sua ausência, não vi teu rosto e já sinto
Saudade. Cativou-me algo tão raro, considerando sua frieza,
Restou-me esta certeza, nada sou para ti, e eterniza esta tristeza.

Fonte:
A Autora

sábado, 4 de setembro de 2010

Ialmar Pio Schneider (Em Alto Mar)


Aragem branda já enfuna as velas
da nave abandonando o cais na aurora;
há de partir p’ra longe, vai-se embora
vencendo calmarias e procelas.

E quando mar adentro, noite afora,
o céu povoar-se de milhões de estrelas
e a lua desfilar no meio delas,
cândida, pensativa e sonhadora,

uma poesia imensa nascerá de
repente, ao sussurrar sem fim das águas.
E os tripulantes vão sentir saudade

das terras que deixaram para trás,
porque nos corações cheios de mágoas
lágrimas rolarão em mananciais…

Fonte:
http://ial123.blog.terra.com.br/

Lourdes Strozzi (Paraná em Trovas)


A chuva, sem cerimônia,
sem respeito, nem piedade,
banha-me o corpo de insônia,
de desejo e de saudade…

Bem sei, a ti não importando
que eu sofra a mesma agonia
do cão arranhando a porta
de uma palhoça vazia.

Ele respeitoso, eu fria,
naquele encontro fortuito;
ninguém, ao ver-nos, diria
que um dia amamo-nos muito…

É na tarde que desmaia,
é numa canção dolente
que a saudade se atocaia
para apunhalar a gente.

Este amor pecaminoso,
obstinado e cruel,
é um composto perigoso,
feito de veneno e mel.

Lamentando meus fracassos
choro a prisão em segredo;
não tenho algemas nos braços,
apenas uma... no dedo.

Lealdade é uma utopia,
neste mundo mercenário,
somente achada, hoje em dia,
no cão e no dicionário.

Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.

O pranto, na mocidade,
qualquer brisa põe em fuga;
e o que restar de umidade
o toque de um beijo enxuga.

Que tempo bom era aquele
que no tempo se perdeu;
quando meu sonho era dele
e o sonho dele era meu!

Renúncia, medida extrema
que tomamos certo dia...
Hoje a saudade blasfema
contra a nossa covardia!

Vence esse orgulho, castigo
que te aniquila e devora;
encosta-te a um ombro amigo,
tira essa máscara… e chora…

Fonte:
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.

Agenir Leonardo Victor e Olga Agulhon, na Semana Literária de Maringá, em 16 de Setembro

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Trova 172 - Beatriz Abaurre (Vitória/ Espirito Santo)

Aparecido Raimundo de Souza (Bichinho Arredio)


Achei você no jardim do meu olhar. Você era a flor mais bonita, a que se destacava das demais, a que sobressaia e brilhava com uma intensidade que nenhum poeta saberia descrever.

Havia um passarinho que pairava (lembrava um helicóptero em miniatura) elegante, numa espécie de dança cadenciada. Enquanto batia freneticamente as asas, com o bico beijava a maciez que lhe evolvia com uma suavidade perene. Depois dava uma volta curta em torno das outras plantas e sumia, de vez, junto com o vento.

De repente, de repente você murchou. Ficou abandonada, esquecida. Seu brilho se quedou ofuscado. A cor que lhe realçava perdeu a magia. Ninguém mais parou para lhe contemplar, nem o passarinho que vinha de longe ousou se aproximar. Sua elegância impar, num dado momento, perdeu completamente o viço. Você se apagou, por inteira, se fez toda em tristeza, se trancou sem explicação, sem motivos aparentes, numa redoma escura.

Foi ai que lhe roubei. Você estava entristecida, o coração partido e sem forças. Levei você pra mim, escondida, como um bandido que rouba alguma coisa e não quer ser pilhado em flagrante. Cuidei, então, de você, no aconchego da minha casa. Seu corpo tão cheio de vícios se decompunha coberto de chagas e espinhos pontiagudos. Durante meses, reguei com paciência, joguei água limpa, podei as dores, as mágoas, os dissabores. Afastei as lembranças que lhe feriam. Durante meses, só tive olhos para você. A sua solidão doía, não só em seu coração, mas, igualmente no meu. A dor que castigava sua alma, sem tirar, nem por, eu sentia a danada aqui dentro. O receio de morrer só e abandonada, tanto machucava você, quanto enlutava a minha existência.

Com o passar do tempo fui lhe avivando. Moldei sem pressa seu novo eu numa escala ascendente, até que, sem querer, me vi cativo da sua beleza, do seu porte de princesa, do seu jeito nobre de ser. E foi a partir daí que passei a dividir também com você meus dias, minhas horas, meus segredos. Como um louco, lhe mostrei meus fantasmas, expus meus ais, me abri, na verdade, de alma inteira e me deixei ser levado pela magnificência da lealdade que brotava do fundo do seu chão. Falei do meu hoje, abri meu presente, mostrei minhas incertezas e desconfortos para o futuro. Ensinei você de pouquinho, aos goles pequenos, ensinei a acreditar novamente na vida, a aceitar seu destino sem temer os percalços que ainda estavam por vir. Mostrei a você que se fazia necessário gostar primeiramente de si mesma, se amar, ter esperanças, persistência, sempre, houvesse o que houvesse, acontecesse o que acontecesse.

Deixei pra você, uma herança - um pedaço de mim transformado em carinho - sedimentado em esperanças imorredouras. Deixei pra você, ainda, uma canção suave, uma canção eterna, e, junto, de roldão, com o amor que, acima de qualquer coisa fará de você, um ser tranqüilo, confiante, pleno, realizado, reconhecido no mundo, não só no mundo, mas a sua volta, e o que há de melhor e de especial, dentro de sua alma.

E hoje quando lhe vejo no jardim dos meus olhos, me lembro e tenho plena convicção de que você também se recorda, sem nenhuma tristeza, sem nenhuma magoa, dos fora propositais que a vida nos deu, dos desencontros voluntários pelos quais ela nos fez e nos obrigou a passar...

Com certeza, hoje sabemos – você e eu temos a mesma visão ótica: do fundo desse poço escuro em que num momento do destino - você e eu nos envolvemos levados pelas mãos inconsequentes do destino. Hoje sabemos, a vida... A vida só estava juntando EU E VOCÊ para sermos um só!

Fontes:
O Autor
Pintura =
Alex França

Beatriz Abaurre (Espírito Santo Poético)

Convento da Penha, em Vila Velha, ES.
Pintura de Sérgio Câmara

VITÓRIA - ILHA DA ESPERANÇA

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - não se vá.
Voa num céu cheio de cor
E penso - o mar está perto.
Vejo folhas caindo inquietas
E imagino - é o verão que se finda.
São tantas e nem sequer se queixam
E peço - não morram.

Há um tempo que foi, é certo
Mas há também, talvez, um amanhã
Porque ontem e hoje é tudo isto,
Este desejo de céu, de sol, de vento,
Este grito rouco cujo eco
Talvez nunca existiu.
Talvez nem mesmo o grito.
É este desejo de ser jovem
Desejo capaz de ser história,
De transportar fora do tempo
A renúncia e o cansaço de meu corpo insone.

É esta ilha -
Azul e branca.
Obstinada ilha
Trajetória de selvagens aves marinheiras,
De barcos que navegam apressados
Rumo ao Sul, ao esquecimento.
É esta ilha assim, rude, que sabe a esperança
Onde há lágrimas secadas pelo vento
E sorrisos,
Alvos sorrisos com sabor de maresia
Terra sofrida cheia de luz e coragem.

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - volta
E penso - talvez não se vá
Mas sempre se vai
Vôo alongado, solitário,
Sobre a terra, sobre o mar,
Sobre o abismo,
Sobre o planalto distante, infinito,
Sobre o tempo que não acaba de passar...

BUSCA OBSTINADA

Eu sei,
Sei que você existe
Um tanto cansado
Um pouco mais triste.
Sei que você busca,
Sozinho.
Numa solução de vida
A vida que lhe foi negada.
Sei que você procura,
Ainda,
Um rosto que se fez amado

Na antiga solidão povoada,
Eu sei
Que no silêncio você grita
E espera, contrito,
Atento,
Faminto,
A resposta de outro grito.
Não do eco
Que repete,
Que copia,
Que esquece a autenticidade.

Outro grito...

LÁGRIMAS BENDITAS

Ainda é possível chorar -
Eu vejo lágrimas em outras faces.
Não que esta seja a paz que busco
Pois sei que o sofrimento habita os seres
Em cada canto do mundo...

Ainda sorriem as crianças -
O mesmo sorriso ingênuo que nós sorrimos um dia
Quando nossas mãos não conheciam
Senão as outras mãos das rodas e dos folguedos.

Ainda é muito fácil sofrer -
Basta olhar seus olhos puros
Nos quais descubro às vezes
Uma evidência de dor.

Ainda é necessário viver -
Pois que suas mãos, nas quais pressinto ternura
São a prova mais evidente
De que nem todos os caminhos
Foram trilhados como deveriam ser.

Por tudo isto
E porque continuo a crer,
Cansada de chorar, exausta de sofrer
Afirmo que ainda sobram lágrimas
Que turvam olhos puros como os seus;
Ainda existem sorrisos
Como pontos de luz na escuridão total.
Ainda procuro a paz...

ENIGMA OBSCURO

Tentaste decifrar-me
Como a um símbolo perdido
Como se o mistério tão claro
Fosse ainda muito precioso,
Um mistério digno da tua participação.

E parecia um Deus
Frente à obra inacabada de outro Deus
Tuas palavras jogadas como pedras escuras.
Orgulhoso do teu conhecimento das almas alheias
Esqueceu-se da tua condição humana
E da minha condição mortal.

Pois eu não era obra nem mesmo plano:
Tu não eras Deus nem mesmo poderoso

Depois veio a paz difícil,
Pesada de infinito
E a necessidade urgente de libertar-se
Esquecendo as pretéritas covardias.

Falei-te então das folhas caindo no outono
Da poesia que sempe busco
Nos olhos dos outros,
Do nosso grande amor destinado ao
Esquecimento.
De rosas num jardim imenso,
Do rio percorrendo meu passado,
Sorrisos iluminando minha infância,
De horas felizes e perseguidas
E jamais reencontradas.
Tudo foi dito
E esvaiu-se
Então percebi que para ti as flores já
Nada significavam,

Nem o certo, nem o errado e nem sequer percebias
O crepúsculo pesado que te envolvia.

Quando antes muitas sortes habitavam-te
Como lâmpadas acesas.

Agora eu me vou

Levando comigo um pouco de náusea e do espanto
E na certeza cruel que é difícil dar as mãos
A quem não tem mãos de dar.

Eu me vou, eu que vim para ficar em silêncio.
Em silêncio mesmo que isto seja difícil.
Para que sozinho percebesses.

Minha desordem, minha incerteza constante
E o canto rouco do meu viver interior.

Eu não era obra nem mesmo plano,
Tu não eras Deus e nem mesmo poderoso.

SOFRIMENTO INÚTIL

Estou sozinha
inútil falar de rosas

Estou rejeitada
inútil falar de flores e amores,
se amor não há.

Estou cansada:
inútil falar nos destinos dos homens.

Há problemas grandes,
Mas é inútil.
Estou imensamente triste
E amarga em coisas tão pequeninas.

Inútil ler e tratar problemas universais
Se é tão pequeno
E insignificante,
Mas para mim tão importante
Meu sofrimento particular...

CHUVA DE SONHOS

Engraçado!
Uma coisa à toa:
Eu que gosto tanto de chuva,
De andar pela garoa
Recebendo-a nos cabelos, no rosto,
Acho que hoje chove mais triste,
Infinitamente triste...

Parece que a chuva insiste
Em cair macia e com gosto

Nesta rua cheia de ninguém.
E quando ela vem
Chorando sorrisos
Eu, sempre sozinha,
Somos tristezas...

É por isso que hoje
Notei qualquer coisa
Que inconscientemente foge
Às chuvas normais:

Hoje chove sonhos,
E chove muito, muito mais...

MENSAGEM DESESPERADA

Versos foram escritos -
Um pouco rudes, um tanto amargos,
Mensagem de fé desesperada,
Eco perdido de perdidas esperanças.

Tristes versos de quem se aprofunda
E se deixa aprofundar
Sem reclamos, sem lágrimas,
Sem gritos demasiadamente longos.

Amargura velada de quem sente
Sem deixar que a razão adormeça.
Lamentoso canto de quem coloca
Acima de tudo a razão,
Triste e dolorido pranto de quem sabe
Num mundo de lobos ser o cordeiro.
Sabendo embora que isto custa o sangue
E a própria lã que agasalha...

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Beatriz Abaurre (1937)


Maria Beatriz Figueiredo Abaurre nasceu em Londrina, no Estado do Paraná, em 31 de agosto de 1937. filha de João Figueiredo e de Marina Affonso Figueiredo.

Mudando-se para o Espírito Santo, obteve diploma de Graduação em Piano (EMES). Fez vários cursos de especialização na área de Música e Cultura. É autora de letras de música.

Integrante da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo no período de 1980/1984 e da Orquestra de Câmara da UFES de 1990/1997.

Ocupou os cargos de Diretora da Fundação Cultural - do Departameto Estadual de Cultura - e da Escola de Música do Espírito Santo.

Escritora, poeta, trovadora, teatróloga.

Vencedora do concurso literário promovido pelo jornal "A Gazeta" com o conto "Era uma vez".

Vencedora de vários concursos de trovas, é membro do Clube de Trovadores Capixaba. autora da peça teatral "Os Inconfidentes" - 1970.

É membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, onde ocupa a cadeira n. 20, cuja patrona é Juracy Loureiro Machado.

Obras:

Payé-guaçú (Revista do IHGES, n. 49), 1997
A revolução das violas (infanto-juvenil) 1997
Joaquim e seu flautim (infanto-juvenil)1998
A jibóia que virou trompa (infanto-juvenil) 1998
A Metaficção Histórica no Romance Cotaxé de Adilson Vilaça - Monografia transformada em livro pelo IHGES
Ticumbi, Preservação que se impõe - em fase de editoração
O mundo mágico da Música
Gritos sem respostas ( poemas)
Mensagem a Saturno (contos e crônicas)
As folhas da figueira (romance)
Sob um Raio de Lua (infanto-juvenil) em fase de ilustração
A história da cultura capixaba através de seus órgãos oficiais (ensaio)
Geografia afetiva de uma Ilha 2002
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Participação na Antologia 2003 - Textos e Tramas - da Academia Espírito-santense de Letras.

Participação na Antologia 2004 - Ecos da Terra Capixaba, da AFESL

Participação na Antologia 2005 - Dança das Palavras - organização de Maria Beatriz Nader e Marlusse Pestana Daher.

Participação na Antologia Clepsidra, da AFESL, organizada por Jô Drumond e Graça Neves, Gráfica Santo Antônio Ltda - GSA, Vitória/ES, 2007.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organizado por Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Trova 171 - Athayr Cagnin (Cachoeiro do Itapemirim/ ES)

Cecy Barbosa Campos (A Noitada)



Ela se olhou no espelho, de frente, de lado, entortando os olhos para trás, ao máximo possível. Defato estava linda. Gostou do resultado, sentindo-se irresistível.

Naquela noite, tudo teria que acontecer. Estava cansada de esperar pela chegada do marido que, com desculpas esfarrapadas, voltava para casa cada vez mais tarde. Agora, seria a sua vez. Ele haveria de estranhar sua ausência, sentir sua falta, preocupar-se, temendo que algo lhe houvesse acontecido. Passaria pelos vários estágios de ansiedade que constituíam o seu tormento cotidiano ou, pelo menos, bastante frequente.

Saiu com as amigas, bebeu, dançou, "ficou", sem quase se lembrar do marido. Quando começou a ficar entediada, pelo burburinho sem significado, e teve vontade de voltar para casa, sentiu medo. Não medo de sua reação, pois até gostaria de uma cena de ciúmes, mas medo de chegar antes dele e sentir a frustração de ter sua tresloucada atitude reduzida a nada. Daí reagia e continuava fingindo a alegria que mostravam seus dentes claros e perfeitos, mas que não atingia o seu coração.

Finalemnte, com o dia amanhecendo, voltou para casa. Estava exausta e com um terrível sentimento de vazio.

Ao entrar no edifício foi, imediatamente, abordado pelo porteiro que lhe entregou um envelope.

- A Moto-entrega deixou isto aqui inda agora, cedinho, disse ele solícito.

Sem agradecer, de relance, ela reconhece a letra do marido. Desolada, perdida, na brancura do papel, uma única palavra - ADEUS - sem explicação e sem assinatura, pois que ela não seria necessária.

Seria inútil, pensou. Tudo inútil.

Fontes:
CAMPOS, Cecy Barbosa. Recortes de Vida. Varginha, MG: Edições Alba, 2009.
Imagem = http://www.fotosdahora.com.br/

Athayr Cagnin (Poemas Avulsos)

VELHOS CAMINHOS

Caminhos que trilhei em minha infância,
não estranheis meu passo tardo, lento.
O tempo ficou longe, na distância,
em que me tínheis, livre irmão do vento.

Daquele velho ardor só guardo esta ânsia
de fugir, fugir sempre ao sofrimento.
Porém jamais encontro a verde estância
em que retome o fôlego e o alento.

Agora que vos piso novamente,
pobre de aspirações e sem ideais,
fico a pensar em minha luta ingente:

- Eterna fuga... Estradas sempre iguais...
A gente caminhando para a frente
E vendo que, afinal, vai para trás...

ESTAÇÕES

Aqui, na doce paz deste abandono
neste meu voluntário isolamento,
contemplo o ocaso final de um final de outono
num triste fim de dia sonolento.

Aí vem vindo o inverno nevoento
a enregelar-me e a perturbar meu sono.
Já lhe sinto o rigor. Já lhe ouço o vento
a uivar nas trinchas como um cão sem dono.

Farfalham folhas secas pelo chão,
lembrando as minhas ilusões perdidas...
- Sonhos da mocidade que se vão...

Eis que o inverno da vida me abre as portas,
levando, como folhas ressequidas,
uma por uma, as esperanças mortas.

DEUSA DA TARDE

Era na hora da tarde terna e suave
em que das pombas se ouve o arrulho amigo
que ela, com seu passinho leve de ave,
furtivamente vinha ter comigo.

Sempre que o sol se punha minha chave
abria a porta do solar antigo,
que, com seu porte austero, nobre e grave,
era do nosso amor o doce abrigo.

Nesses encontros rápidos, ousados,
todas as tardes, um desejo ardente
nos conduzia a extremos desvairados.

Para encontrar-me ela rompia amarras.
Mas um dia partiu. Ficou somente
comigo a algaravia das cigarras.

MENTIROSA

Todas diziam como tu. Sorrindo
e sem dar importância ao que falavam,
a todas eu também ia iludindo,
da mesma forma como me enganavam.

Umas juravam. Outras preferindo
com o pranto reforçar o que afirmavam,
iam, de um modo cínico, fingindo
ser eu aquele a quem no mundo amavam.

Fingi acreditar em todas elas.
Estas por demonstrarem mais ardor,
por serem algo liberais aquelas...

Foram-se todas, cheias de amargor...
Só tu que foste a mais fingida delas,
ficaste, eterna, para o meu amor!

SUBMISSÃO

Para apagá-la do meu pensamento
- ela que é tudo o que na vida almejo
nos braços de outras fui buscar alento
e sufocar a chama do desejo.

Mas por mais que eu buscasse o esquecimento
e de olvidá-la, tenha tido ensejo,
jamais pude alcançar o meu intento:
- cada beijo que eu dava era seu beijo.

Vivo neste dilema inexorável:
ou me submeto à sua tirania,
ou sofro a sua ausência irremediável.

O amor de outras mulheres posso ter...
São lindas... mas em minha fantasia,
só quero aquela que me faz sofrer!

CREPÚSCULO

Na tarde roxa, fria e evocativa
tudo parece morto e desolado.
A luz, aos poucos, como que se esquiva,
esgueirando-se ao longo do ar parado.

O céu tem a feição decorativa
de um afresco vazio e desbotado,
Constituindo a única nota viva,
como um ai, há de um pássaro o trinado.

Um cortejo de sombras, como um bando
de aves estranhas, sobre a natureza
as asas lentamente vai baixando...

E enquanto o dia, aos poucos chega ao fim,
um dilema me assalta: - Esta tristeza
Vem da tarde que morre... ou vem de mim?...

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Athayr Cagnin (1918)



Athayr Cagnin, poeta e trovador, nasceu no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 20/11/1918, filho dos imigrantes italianos Urbano Cagnin e Josefa Volpato Cagnin.

Fez o curso primário no Grupo Escolar "Bernardino Monteiro" e o secundário em exames de madureza no Externato "Pedro II ", depois de ter passado pelo Ginásio "Pedro Palácios" e "Instituto Popular", do professor João de Barros.

Formado em Odontologia pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Vitória, iniciou suas atividades profissionais na cidade da Serra-ES, transferindo-se posteriormente para Cachoeiro de Itapemirim.

Iniciou-se nas letras ainda muito jovem, colaborando nos jornais e revistas do Estado do Espírito Santo.

Foi nomeado professor catedrático do ensino secundário pelo Governo do Estado do Espírito Santo, após ter sido aprovado com distinção em concurso público de títulos e provas. Em outro concurso realizado em 1965 conquistou o 1º lugar na cadeira de "Ciências Físicas e Biológicas ( 2º ciclo) do Liceu "Muniz Freire", do qual também foi Diretor.

Agraciado com o título de "Professor Emérito" da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Madre Gertrudes de S. José" pelos relevantes serviços prestados à entidade.

Ex-membro do Conselho Estadual de Cultura, ocupa a cadeira n.02 da Academia Espírito -Santense de Letras, que tem por patrono Graciano dos Santos Neves e a cadeira n. 06 da Academia Cachoeirense de Letras que tem por patrono Narciso de Araújo.

É também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.

Obras:

"O aparelho fonador e a articulação dos fonemas" (tese de concurso) 1948
"Seixo rolado" ( poesias) -Frangraf, Cachoeiro de Itapemirim- 1982
"Cantigas em quatro linhas" - trovas - Gracal Gráfica & Editora, Cachoeiro de Itaperimirim, 1996

Participou das antologias "Trovadores do Brasil" e "Nossas Poesias", de Aparicio Fernandes.
e de "A Poesia Espírito-Santense no Século XX", organização, introdução e notas de Assis Brasil, 1998
"Cantigas em Quatro Linhas" - trovas, 1996
Meus poemas teus - 2001
Poemas rimados (inédito)
"Ainda o soneto" - 2006

Participação na Coletânea "Serra em Prosa & Versos - Poetas e Escritores da Serra", organizada por Clério José Borges de Sant'Anna.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organização de Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Evaldo de Paula Moreira (Adeus…)

Pintura de Angela Kelly Topan
Nó na garganta.

Em qualquer lugar do mundo, a garganta humana denuncia quando uma pessoa está triste.

Se tirarmos um doce de uma criança, num instante veremos o olhar de indignação, seguidos de soluços e lágrimas nos olhos.

É uma maneira de demonstrar a violência sofrida.

Seja criança ou adulto.

Vi um senhor ficar triste, na roça, só porque alguém insinuou que o bode dele estava ficando velho. Sentiu-se subestimado, e logo se esboçou o nó.

Sofremos, sempre que nos tiram alguma coisa.

Meus pais se mudaram da roça quando eu era criança. Foi como se tirassem a roça de mim.
Lembro-me da viagem.

Saímos de lá, transportados por um carro de bois, até a estação de trem mais próxima.
Sem dúvida, minha garganta, por várias vezes, durante o trajeto, deu ensejo ao nó.

Na medida em que nos afastávamos das pessoas e das coisas queridas, íamos dando Adeus, acenando com as mãos, como se fosse uma despedida para sempre.

Que sensação mais estranha.

Tudo o que conhecera até aquela época era a roça. Eram as matas, os córregos, os riachos, as aves, os pássaros, os bois, as vacas, cabritos, cães... , as pessoas que amávamos.

Tirando o sol, a lua, as estrelas, tudo seria diferente dali para frente.

Era o Adeus para seguir um caminho desconhecido e ver algo diferente.

Só conhecia as coisas das cidades pelas gravuras dos livros.

Conheceria outro mundo, de maneira chocante, por causa da mudança radical, mas cheia de novas perspectivas, dado o jeito receptivo na grande cidade de São Paulo.

Mas, os “nós” me apareceram várias vezes durante muitos anos, porque é difícil vencer a saudade

Fonte:
http://zerobertoballestra.blogspot.com/

Pintura = fotografia de José Feldman

Francisco Miguel de Moura (Poesia incompleta)


O HOJE

certamente inda te adias
pois teus olhos se clareiam
ante a brisa e a paisagem
- que o horizonte é um presente
velejado por rostos escolhidos

mas não atrases teu amor
ao irmão que sofre o preterido

alegria, alegoria
o coração pede ritmos e pulsos
não é nenhum covarde

nem guarde restos e pedaços
de impressentidas elegias

o hoje é tudo o que se tece,
que bem tecido é odor, sabor e prece
em indistintas simetrias.

o amanhã não é teu dia
se hoje não tiveres empatia
com o razoável mundo e o sem-razão.

o ontem não tem clave se te agravas
em sentimento de ódio e entropia
como veio
de teu canto, em toda a via.

colhe a flor que está à mão.

O ONTEM

ontem foi o tempo emocional

assim, como passar
uma esponja
sobre o mal?

e o passado seria mortal

mas uma esponja
embebida do homem
embeberia a coisa:
- na verdade, o mal

um tempo sonâmbulo
que se gravou como um sinal
(esquecer não precisa
nem pode, é tão real)

ontem: eis o tempo que fica
como fundo do tempo
e sem rival.

O AMANHÃ

o amanhã virá
compor-te na teia
do in(completo)
nunca tecido
olho-boca-ouvido
seja fala ou prece
seja foto ou fluido
de luz desejada
paixão não vivida

é limbo incriado
é amor temido

poeta, recia
sem receio
- e recria
teu inteiro futuro

quando o hoje não for mais
essa será a glória
do teu dia.

E O SEMPRE

o hoje se esfume
o ontem se de/pedra
o amanhã quem sabe?

não há sempre
e há o sempre
sempre
sempre
não é começo
não é fim
não é processo

é um tempo sem tempo
nem temporal
nem tem/porão

semper
semper
sem-
per-
seguição

o tempo neutro
dá cacetadas no infinito.

ANTES E DEPOIS

quem saberá se um dia fomos?

e por que auscultar o passado
se se passa
adiante
sem liame de gostos ou de falas?

quando as luzes se apagam
quem diz para onde e a que vamos?

para o vazio e para a morte
de onde deveremos voltar como visões?

vamos para onde não vamos
para além da vida e da morte
onde não há sábios.

quem saberá se um dia fomos?

O CHEIO E O VÁCUO

o nada e o tudo soam nardo
e ab(sinto):
- ab(surdo) na amplidão
dos homens e dos bichos satisfeitos
(inseto ou dinossauro)

cai sobre mim uma poeira
cósmica coceira
de saber
o que constante me devora
e a paciência
me explode em palavrão

palavras vãs, palavras vão
e vêm
cortar o silêncio amplificado
de tudo quanto é voz

não há imposturas, há correntes
de sangue, sabor, gestos(contrários) parados
água e calor que luzem

nardo é nada
ab(sinto) é liberdade:
- um nome sem tempo e com paixão

palavras vêm, palavras vão
soltas ao vento e zunem no telhado
das nuvens e dos astros
mas nada produzem:

- falta espaço
e como vêm, se vão

o mundo em seu bailado, no universo
é impiedade
e tudo cala.
a fala morde a dor do falante
entre dentes, trovões, cometas...
e outras tralhas.
deus se evola e bebe as águas
do abismo
onde se banha

e não há vácuo - falta tempo
e não há cheiro - falta onde pairar.
só deus explora o esquecimento
do existir.
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Francisco Miguel de Moura (Literatura do Piauí)


No ano de 2001, veio a lume, no Piauí, a obra condensada e organizada por Francisco Miguel de Moura: “Literatura do Piauí”. Com certa curiosidade, decidi, nesses últimos tempos, abri-la, como que esperando encontrar algo que se somasse às outras tantas pesquisas minhas, ora, é de praxe um autor-pesquisador, como o Sr. Moura, alavancar uma nova concepção; uma nova visão dos fatos.

O professor, integrante da geração moderna piauiense, então, usando-se das visões modernistas da crítica, oferece aos leitores algumas reflexões acerca do conceito de literatura e do fazer poético. Das tantas afirmações introdutórias, alguns deslizes geraram equívocos, como a própria significação latina de littera (“significa exatamente letra” [Op. Cit. p. 13]), sabemos, pois, que, embora littera tenha advindo de litteratura, sua real significação não mudou: Ensino das primeiras letras; eis aí o motivo de tantos filósofos e estudiosos da língua confundirem o termo com “gramática”.

Ainda dentro do mesmo conceito, o autor infere: “literatura é tudo o que se escreve” (idem), ferindo o verdadeiro conceito aristotélico; ora, sendo a literatura a expressão polivalente das palavras, dos signos linguísticos, “tudo que se escreve” não pode ser considerado literatura, uma bula de remédio, por exemplo, não expressa polivalência, avalie a emoção, o subjetivismo…, ingredientes estes fundamentais que exige a literatura como forma. Na condição de estudioso das letras, posso discordar do seguinte pensamento: “… há duas línguas e sua respectiva linguagem: a falada e escrita” (ibdem); no campo da literatura, nesse, e só nesse sentido, apontado pelo Sr. Moura, a construção e variação da arte não implica que a língua se fragmente, já que aplicada ao fazer literário, continua sendo apenas uma, promulgada, porém, em duas formas distintas, oral e escrita; e a oral, como sabemos, não implica literatura, tal qual o teatro, que só é literatura na sua condição impressa, logo, como advertiu, certa vez, o estudioso Massaud Moises, o teatro, ambiguamente, só interessa para a literatura quando não é teatro.

Analisar conceitos tão amplos como “literatura”, “moral”, “poesia”, “ética”, enfim, rege ao pensador e ao ensaísta reflexões profundas que visam observar as mudanças dos tempos e as transformações que uma dada ideia sofre, seja de forma positiva ou, até mesmo, não coerente com o sentido original. Como o Sr. Moura citou, “… na antiguidade, tudo o que se considerava ‘literatura’ era feito em poesia, com ritmo e metrificação” (Op. Cit. p. 14), sem dúvidas, mas é, também, sabido que esta regra vale-se para a antiguidade ocidental, que é o nosso caso. A propósito, a base do conhecimento, tanto antigo quanto contemporâneo, nunca deixou de se fixar nas artes, filosofias, religiões e ciências, sendo, aí, possível ainda, uma segunda classificação: As de base palpável, ou seja, física, concreta; e as de caráter abstrato, não-física, suposta, meditada; classificando-se, então, as ciências e as artes no primeiro caso e as religiões e filosofias no segundo.

Mudemos um pouco a análise do conceito de literatura e vejamos um pouco mais, aliás, como o Sr. Moura avalia a poesia, “palavra mais abrangente, na sua origem significava fazer” (idem). O verbo “fazer” pareceu empregado de forma insatisfatória, a palavra “poesia” vem do grego poiesis e significa, ao pé da letra, criar, no sentido de imaginar. O conceito sempre foi o mesmo. Muito me espanto quando percebo a secular confusão que existe entre a diferença de poesia para poema, talvez por serem palavras análogas; todavia, como o próprio sentido original nos dita, poesia é, na realidade, o elemento espiritual da arte, sendo refletida tanto na literatura quanto na escultura, pintura, fotografia etc., trocando em miúdos, a poesia é abstrata, individual, única, está em cada um de nós. Uma obra de arte, por exemplo, não possui poesia enquanto não for interpretada como poesia; o ponto de vista é que faz a diferença. O poema, então, é apenas uma ferramenta da qual o artista se utiliza a fim de expressar as suas emoções, ou seja, a poesia que sente no momento produtivo; o poema é o pincel, ou a tela, ou a tinta, do poeta. O Sr. Moura, na busca de entender e licenciar-se em tais conceitos, lança mão das palavras do diplomata e escritor mexicano Octávio Paz, quando cita: “o poema é poesia” (Op. Cit. p. 15); assim, desprezando o verdadeiro sentido já, aqui, descrito.

Poema pode, ou não, ter poesia e a poesia pode, ou não, ser constituída em forma de poema. Vejamos a assertiva do brasileiro Hermes Vieira, quando em ensaio sobre Humberto de Campos, nos legou as palavras do mestre Orris Soares: “há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício”; sendo todo poema um conjunto de versos, o conceito de forma generalizada aplica-se, logicamente, ao poema. Não dando ouvidos ao alerta de Massaud Moisés, Francisco Miguel de Moura entende, através de Fidelino de Figueiredo, que “a arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma supra-realidade” (Op. Cit. p. 16), e assim, como que tentando entender, fico nesta mesma linha, matutando o quê pode existir acima da realidade, já que ficção, por mais surreal que seja, busca na realidade as bases de sua construção.

O certo, porém, é classificar, sim, a literatura como a “criação de uma para-realidade”, como bem reflexiona o mestre Moisés: “o mundo ficcional não está ‘acima’ senão ‘ao lado’, paralelo à realidade ambiente, com ela realizando um permanente intercâmbio e nela se integrando inextricavelmente”, o intercâmbio de que fala é tão constante que sem ele jamais o artista poderia criar ou poderíamos interpretar uma criação à luz do raciocínio comparativo.

Fonte:
parte integrante do artigo de Daniel C. B. Ciarlini, disponível em http://franciscomigueldemoura.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Convite para Lançamento da Antologia Literária Cidade

Uma vitrine e um painel da produção literária em língua portuguesa. Assim pode ser caracterizada Antologia Literária Cidade, organizada pelos professores Mestres Abílio Pacheco e Deurilene Sousa. Os volumes IV, V e VI, sob o selo da L&A Editora, serão lançados na XIV Feira Pan Amazônica do Livro, no dia 02 de setembro, de 18:00 às 21:00 horas, no Stand do Escritor Paraense.

Os três volumes contam juntos com 66 escritores, sendo: 15 do Pará, 13 de São Paulo, 5 do Rio Grande do Sul, 4 do Rio de Janeiro, 3 do Mato Grosso, 3 de Minas Gerais, 2 do Amazonas, 2 de Pernambuco, 2 da Bahia, 2 do Distrito Federal, 2 do Rio Grande do Norte, 2 da Paraíba, 1 do Ceará, 1 de Santa Catarina, 1 do Espírito Santo, 1 do Paraná, 1 de Maranhão, 1 de Sergipe, 1 de Goiás, 1 do Piauí e 3 de Portugal.

A Antologia Literária Cidade teve seus três primeiros volumes lançados na XIII Feira Pan Amazônica do Livro, em novembro de 2009, com enorme aceitação do público, que pode conhecer obras tanto de autores inéditos quanto de autores já publicados. Espera-se a mesma aceitação com os três volumes atuais, que nos levam por um labirinto de sensações, desnudando a alma de cada autor, ímpar em percepção e inspiração.

Os organizadores da Antologia nos convidam para um encontro com a pluralidade literária dos escritores de língua portuguesa; pluralidade essa, metaforizada na palavra cidade, espaço múltiplo,de figuras moventes.

Serviço:
O quê: Lançamento da Antologia Literária Cidade
Quando: 02 de Setembro, de 18:00 às 21:00
Onde: Stand do Escritor Paraense Hangar: Centro de Convenções.
Observação: durante a XIV Feira PanAmazônica do Livro

Outras informações:

Site/Blog: http://antologiacidade.wordpress.com
Email: antologiacidade@bol.com.br
Telefones: (91) 8263-8344 / 8896-0379
(ambos a partir de 20 de agosto)