sábado, 2 de outubro de 2010

Don McLean (Vincent)

Starry Night (Vincent van Gogh, 1889)
Museu de Arte Moderna de Nova York
O quadro "Starry Night" (Noite Estrelada) foi pintado aos 37 anos, quando o artista esteve em um asilo em Saint-Rémy-de-Provence ( 1889-1890).

"Vincent" é uma canção composta pelo músico e compositor norte-americano Don Mc Lean escrita em homenagem a Vincent Van Gogh. É também conhecida por sua linha de abertura," Starry, Starry Night ", uma referência à pintura de Van Gogh "Noite Estrelada". A Canção também descreve outras pinturas do artista.

Mac Lean escreveu a letra em 1971, depois de ter lido um livro sobre a vida do artista.No ano seguinte, a canção se tornou o Hit nº 1 no Reino Unido, e alcançou o 12º lugar nos Estados Unidos.

----
Vincent

Noite estrelada
Pinte suas cores de azul e cinza
Olhe os dias de verão
Com olhos que conhecem a escuridão da minha alma
Sombras nas colinas
Desenhe as árvores e os narcisos
Sinta a brisa e os arrepios de inverno
Em cores na terra de neve
Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir, eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora

Noite estrelada
Flores em fogo com chamas brilhantes
Nuvens que giram em uma roxa neblina
Refletem nos olhos azuis de Vincent
Cores mudando de tom
Campos matutinos de grãos âmbar
Rostos cansados com dor
São acalmados pelas mãos afetuosas do artista
Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir, eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora
Porque eles não podiam te amar
Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro
E quando não havia mais esperança
Naquela noite estrelada
Você tirou sua própria vida, como amantes geralmente fazem
Mas eu poderia ter te falado,
Vincent,
Esse mundo nunca foi desenvolvido para pessoas tão bonitas quanto você

Noite estrelada
Retratos pendurados em paredes vazias
Cabeças sem porta-retratos em paredes sem nomes
Com olhos que observam o mundo e não esquecem
Como os estranhos que você conheceu
Os homens acabados, com roupas rasgadas
O espinho prateado
de rosas sangrentas
Está esmagado e quebrado, na neve virgem
Agora eu acho que sei
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir
Ainda não estão ouvindo
Talvez nunca ouvirão
––––––––––––––––––
Original em inglês
_______________
Starry starry night..
Paint your palet blue and grey
look out on a summer's day
with eyes that know the darkness in my soul
Shadows on the hills
Sketch the trees and the daffodiles
catch the breeze and the winter chills
in colours on the snowy linen land
Now I understand
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would not listen they did not know how
perhaps they'll listen now.
Starry starry night
Flaming flowers that brightly blaze
swirling clouds in violet haze
reflect in Vincent's eyes of china blue
colours changing hue
morning fields of amber grain
weathered faces lined in pain
are soothed beneth the artist's loving hand
Now I understand
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would not listen they did not know how
perhaps they'll listen now
For they could not love you
but still your love was true
and when no hope was left inside
on that starry starry night
You took your life as lover's often do
But I could have told you,
Vincent,
this world was never ment for one as beautiful as you
Starry starry night
Portraits hung in empty halls
framless heads on nameless walls
with eyes that watch the world and can't forget
like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
a silver thorn
a bloody rose
lie crushed and broken on the virgin snow
now I think I know
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would now listen
they're not listening still
Perhaps they never will
--------
Fonte:

Pedro Ornellas (Prosas de Poeta – Soneto em 7)


Todos os sonetos com metro menor que 10 sons são por definição denominados SONETILHOS.

O soneto em sete é também chamado de soneto em redondilha maior ou heptassílabo.

Pouco cultivados, mas de beleza ímpar, merecem uma melhor atenção, razão pela qual conclamo meus amigos sonetistas a experimentá-lo, os que ainda não o fizeram. Quem sabe os trovadores que ainda não fazem sonetos possam começar por aí, afinal os dois quartetos são trovas.

Pesquisando, encontrei algumas nos poetas do passado:

De Emílio Menezes:

O VIOLINO

São, às vezes, as surdinas
Dos peitos apaixonados
Aquelas notas divinas
Que ele desprende aos bocados...

Tem, ora os prantos magoados
Dessas crianças franzinas,
Ora os risos debochados
Das mulheres libertinas...

Quando o ouço vem-me à mente
Um prazer intermitente...
A harmonia, que desata,
Geme, chora... e de repente

Dá uma risada estridente
Nos "allegros" da Traviata.

De Bernardino da Costa, que cultivava mais essa forma:

CROMO XXV

Na alcova sombria e quente
Pobre demais, se não erro,
Repousa um moço doente
Sobre uma cama de ferro.

Pede-lhe baixo inclinada,
Sua mulher — que adormeça,
Em cuja perna curvada
Ele reclina a cabeça.

Vem uma loira figura
Com a colher da tintura,
Que ele recusa, num ai!

Mas o solícito anjinho
Diz-lhe com riso e carinho:
— Bebe que é doce, papa
i!

Entre os poetas de hoje, Glauco Mattoso vem se dedicando ao heptassílado, como neste que fez aludindo a uma mensagem de teor biblico:

A TROVA E A PROVA
(a Pedro Ornellas)

A um confrade trovador
perguntei: "No que acredita?"
Respondeu: "Num Salvador,
na Palavra, em livro escrita!"

Mas pergunto-lhe: "E quem for
incapaz de ler?" Me cita
a Palavra oral: "O Amor
sempre encontra o que o transmita!"

Vem-me ainda outra questão:
si a Palavra pode ou não
ser verdade ou ser mentira.

Ele pensa um pouco e diz:
"Quem duvida e está infeliz
que comprove e que confira!"

Finalizo com um dos meus,

Pedro Ornellas
INFORMAÇÃO

Segue em seu carro o doutor
na estradinha empoeirada,
quando avista um lavrador
na roça puxando enxada.

Pergunta ao trabalhador:
“Não sou daqui... não sei nada...
pode informar, por favor,
se vai pra Franca esta estrada?”

Franzindo a testa, o caipira,
olha na estrada, suspira,
e na resposta se apressa:

“Si vai num sei, não sinhô...
mais vai sê ruim si ela fô,
que a gente aqui só tem essa!

Fontes:
O Autor
Imagem recebida por e-mail, sem definição de créditos do autor.

J. Heitor Montans Condé (O Tronco do Capeta)


Meu nome é Firmino Fonseca; isso mesmo, com dois fês, o Firmininho falado pra arrematar os fês; valente que nem a onça pintada, rápido e rusguento que nem gato do mato e ladino igual à raposa.

Vim ao mundo no meio do mato, filho de uma bugra das brabas, mulher de todas as coragens que só sossegou quando o velho meu pai, um mateiro, acho que meio português, que nunca lhe perguntei de onde vinha, lhe botou a mão no cangote. E então se embrenharam mato adentro a buscar uns palmos de terra que o pai ganhou de um coronel, talvez por não valerem nada, não compensar nem o machado.

Alguns trocados que o velho andou guardando a duras penas garantiram as ferramentas, alguns animais e uma carroça. Mais alguns sacos de mantimentos e esse foi o começo de uma luta sem trégua com a terra bruta.

A mãe me pariu agachada com as mãos apertando um galho de murici, à moda bugre mesmo, e aquele lugar esquecido de Deus foi meu berço e minha escola, a caneta era a enxada, a natureza os livros.

Já meio rapazote então, certa feita, ao voltar com o pai do povoado, que era bem longe, não encontramos minha mãe. Não fumegava a chaminé da choupana, nada no terreiro, ninguém no roçado! Sumiu!

O velho observou calado os quatro cantos, eu com o coração apertado, o fôlego curto, e tomou o rumo do rio, comigo nos calcanhares. À beira d'água jazia a tina de madeira cheia de roupas ainda por lavar, e a areia em redor toda marcada de rastros e sulcos, folhas e galhos quebrados por todo lado.

A onça pegou ela, filho! – o pai olhou para o nada. – Mas não se entregou sem luta, não, que a bugra tinha fibra!

E esse foi seu último comentário sobre o ocorrido, e eu, buscando lá no fundo uma nesga de valentia, engoli o nó na garganta e me calei para sempre, ... Ou pelo menos até hoje, quando cismei de contar a vocês esse meus passados.

Correu o tempo, sempre sem tempo pra muito matutar, até que um dia, quando a barba já me nascia farta, umas idéias de me vestir no mundo a ma rondar e martelar, o velho, como que adivinhando o que me ia na cachola, arreou a mula rosilha e me pôs as rédeas na mão;

- Rapaz, você já é homem feito e aqui não é lugar para enterrar sua vida. Vá e busque para você o que eu não consegui achar neste fim de mundo.

A mão firme em meu ombro, que o pai não era de muita prosa nem muitos afagos, me fez apenas olhar aquele olhar sereno no rosto firme, de longas barbas, a testa vincada de muitos sóis.

Um tantinho de farinha, carne seca, uns poucos trocados, e saí pela porteira de paus roliços, ganhando o trilho. Uma vez ainda, com um soluço, olhei para trás a tempo de ver a mão acenando e ouvir suas últimas palavras:

- Em três coisas jamais acredite, rapaz: cavalo do olho pelado, choro de mulher dama e promessa de político.

E de lá para hoje venho medindo esse mundo de Deus, enfrentando o que aparece, seja animal xucro pra quebrar, viagem com boiada estrada afora, qual um errante cigano, e até mesmo alguma empreita pra criador de gado. Assim foi até o dia em que um entrevero me mudou o rumo da vida ...

Calma que eu conto, mas antes me deixem molhar a goela que essa cachaça está um especialidade!

... Pois é, gente, como eu dizia, a hora da virada na vida chega sempre quando menos se espera!

Andava eu por estas paragens, seguindo a estrada batida. Era já final de tarde, o céu se avermelhando lá detrás da serra, o cavalo e a besta cargueira suspirando de cansaço, quando parei em uma encruzilhada. Ao braço direito, um tronco de angico preto deitado no barranco marcava o começo de descida suave, num caminho mais estreito. Mais além, o trilho cortava um capãozinho de mato e, por cima das copas, uma fumacinha esbranquiçava o ar. Um galo cantou ao longe e, como diz a moda roceira, no lugar que canta o galo, decerto que mora gente, desci pelo caminho estreito esperando encontrar onde passar a noite.

Parei o cavalo ante uma cerca de arames bambos. Lá no meio do terreiro batido, uma casinha simples, sem pintura , com paiol de milho e chiqueiro nos fundos. O cachorro pintado e grande latiu e a porta foi aberta deixando escapar uma luz amarelada.

Assomou ao umbral um vulto alto e magro que caminhou em minha direção, as feições se delineando à medida que se aproximava deixando para trás o brilho da lamparina. Era um homem de mais de meia idade, bem moreno, o corpo magro mas musculoso, cabelos cor de carvão.

Chegou à beira da cerca e saudou-me levando a mão à aba do chapéu.

- Boas tarde "sô" moço! Apeie e vamos acabar de chegar!

Conversamos ali por um fiozinho de tempo e eu lhe disse a que vinha.

- Ora, mas é com muito gosto que “lhe” recebo, "sô" moço.Tem um quarto e uma cama sobrando. Desarreie os animais, solte no piquete lá detrás que a grama está verdinha, e venha para dentro que a janta está pronta.

De fato o cheiro dos temperos e da banha de porco viajava o ar aguçando o apetite. Serviu o jantar uma moça morena, linda, uma beleza cabocla, o rosto delicado emoldurado pela cabeleira negra e brilhante que lhe caía pelos ombros.

O velho, "sô" Pedro Reis, apresentou.

- Essa é minha filha Esmeralda, a única família que tenho. A mãe, que Deus a tenha, partiu nas águas de novembro três anos atrás, e o rapaz sumiu no mundo faz muito tempo, que nunca teve um pingo de juízo.

De barriga cheia, sentamo-nos em tamboretes do lado de fora observando uma meia lua solitária por entre a fumaça dos cigarros de palha. Ali ficamos um tempo em silêncio, olhando para ontem, e então o velho virou-se para mim e disse, meio de surpresa, me embasbacando um pouco:

- "Sô" Firmino, o senhor acredita em assombração?

- Ora, não sei não! Já ouvi muita história, e de gente que não conta mentira, mas ver mesmo ...

- Pois eu lhe digo, "sô" Firmino, que aqui mesmo andam acontecendo coisas de arrepiar os cabelos!

E "sô" Pedro me contou o que se passava. Fazia um tanto de tempo que sua casa se transformou num inferno; era um barulho só, e toda noite, como tive ensejo de confirmar. Lá pelas tantas, acho que meia noite, começou uma algazarra infernal; pancadas no telhado como se alguém quisesse derrubar tudo, assobios agudos e esturro de onça ao redor da casa, uivo de lobo. Do outro quarto chegava até mim o som meio abafado da reza de "sô" Pedro e da moça, pedindo por tudo que é santo, mas a coisa continuou noite adentro.

Assim que amanheceu, tive uma conversa com o dono da casa.

- Mas, "sô" Pedro, como é que o senhor vive com essa fuzarca?

- A gente reza, "sô" Firmino, reza e agüenta, sei lá como.

- Mas isso é o capeta, "sô" Pedro, é o próprio! O senhor já viu?

- Ver eu não vi não! Me disseram que fica sentado num tronco de angico que tem lá na encruzilhada, amolando e assombrando todo viajante que passa, mas nunca andei por lá depois que escurece.

- Pois eu vou lá, "sô" Pedro. E é hoje mesmo que acerto as contas com esse filho da puta!

- "Sô" Firmino, não vá não, pode ser perigoso!

- Deixe comigo, "sô" Pedro, deixe comigo!

Assim disse e assim fiz. Quando foi de tarde, logo que o sol começou sua caminhada morro abaixo, arreei o cavalo, botei o “cospe-fogo” na goiaca e vim tomar um trago aqui na venda, menos de légua de distância. Passei pelo tronco e já vim maquinando:

- Na volta vamos ver onde é o ninho da onça!

Fiquei aqui tomando cachaça, essa mesmo, a boa, devagar e sem pressa, esperando o cair da noite e quando isso se deu, virei o último gole e me finquei no caminho. Lá vinha eu pela estrada e ao me aproximar do tal lugar ouvi um assobio alto que até doeu nos ouvidos e quando olhei para o lado do tronco lá estava o excomungado, sentadão, com os olhos vermelhos de fogo, sorrindo para mim um sorriso debochado com os dentes amarelos maiores que eu já vi!

Nem pensei duas vezes; saquei do “fala a verdade” e já fui fazendo barulho! E eu lhe digo, rapaz, que descarreguei o danado e tenho certeza de que não errei um tiro, que sou bom nisso, mas o desgraçado continuou lá, com aquela dentaria à mostra, se rindo de mim.

De repente, como um raio, ele saltou para a garupa do cavalo e bufou nas minhas costas; e sapecou-me um tapa no pé da orelha que me jogou ao chão, levantando poeira, e desceu atrás. Levantei-me e ficamos frente a frente.

Mas ora, "sô" menino, que eu sou o Firmininho falado!

Medi bem o cornudo e pensei:

- Se bala não adianta, a coisa vai ser é no braço mesmo!

Assim pensei, assim me aviei! Assentei-lhe um soco no bucho com a força desse braço lavrado na lida. O punho foi fundo, entrou até nos “como é que chama” lá dele arrancando um bufado feio.

Aí, pois, que só escutei um estouro de rojão e o fiadaputa sumiu numa nuvem de fumaça fedendo a enxofre ...

Bem, isso já faz um tempo. O Capeta se foi e eu fiquei.

Fiquei lá no sítio sossegadão!

"Sô" Pedro Reis hoje é meu sogro e minha cabocla Esmeralda vai parir um neto de bugra, mês que vem ou pouco mais.

Até qualquer dia, rapaziada …

Fontes:
J.H.Montans Condé. Queimando Campo.
Imagem = http://fantacos.com.sapo.pt/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.8)


Trova do Dia

De remédio tem mania,
mas vício... não tem nenhum!...
– toma mil gotas por dia...
da erva “Cinquenta e Um”!...
CLENIR NEVES RIBEIRO/RJ

Trova Potiguar

Chupando cabras na serra
o E.T. está na pior.
Sem saber que aqui na terra
tem coisa muito melhor!
BOB MOTTA/RN

Uma Trova Premiada

1994 > Bandeirantes/PR
Tema > GRANA > Venc.

Dei dinheiro esta semana
para a sogra viajar
a minha sorte é que a grana
não dá pra velha voltar.
SERGIO FERRAZ/RJ

Uma Trova de Ademar

A minha sogra, assanhada,
no barracão da mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Era uma bruxa sem graça!
Não me dava paz nem trela.
Eu, então, só por pirraça,
me casei com a filha dela.
CÉLIO GRUNEWALD/MG

Uma Poesia Livre

Sylvio Von Söhsten Gama/AL
ABANDONEI

Abandonei a infância,
ainda cedo,
porque me fiz precoce.
Abandonei a adolescência
na excelência
de seu pleno gozo,
porque ao meu destino quis dar posse.
Abandonei a luta pela vida
quando senti cansaço.
E quanto a esta velhice?
Que é que eu faço?
Se a abandono...
Da vida passo.

Estrofe do Dia

Minha mulher já brigou
com minha própria cunhada,
chamou a irmã safada
porque me cumprimentou,
inda ontem perguntou
por que é que essa cadela
só vem na minha janela
quando você se apresenta?
Eita mulher ciumenta
essa que eu casei com ela!
VALDIR TELES/PB

Soneto do Dia

Francisco Macedo/RN
VOCAÇÃO FRUSTRADA.

Menino, meu sonho! Ser Padre: Sonhava...
Falava sozinho pelo meu sertão,
fazia ecoar o mais lindo sermão
a pedra era o altar, lá de cima eu falava.

Mocós, os preás, e o vento, que escutava.
Os cães, as galinhas, porcas o barrão.
Os pássaros, todos... Uma multidão,
parava ante a voz que e à caatinga ecoava...

Fiquei só no sonho, hoje aqui confessado,
a igreja perdeu mais um padre arretado;
depois de ser Bispo; um Papa brasileiro!

Seria o maior e mais iluminado,
e o nome, por certo, deste meu papado,
deveria ser: Papa Gaio Primeiro.

Fonte:
O Autor

III Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura e XI Seminário de Estudos Literários (13 a 15 de Outubro em São José do Rio Preto/SP)


O Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", UNESP, campus de São José do Rio Preto convida os pesquisadores de literatura e de áreas afins para o III Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura e XI Seminário de Estudos Literários, SEL, que ocorrerá de 13 a 15 de outubro de 2010

O Congresso promoverá Conferências, Mesas debatedoras, Mesa de Poetas, Simpósios, Mesas de Escritores, Sessão de Paineis, coffee break, além de Coquetel de lançamento de livros. Os alunos de pós-graduação poderão apresentar comunicação nos simpósios oferecidos. Haverá também, para graduandos interessados, apresentação de paineis.

Para mais informações, acessem o site:

http://www.eventos.ibilce.unesp.br/congressoliteratura/index.php

O e-mail para esclarecimento de dúvidas é sel2010divulgacao@yahoo.com.br

O III CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM LITERATURA é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), câmpus da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de São José do Rio Preto (SP). O encontro reúne pesquisadores de literatura - mestres, doutores, pós-graduandos e graduandos -, além de poetas e escritores. O Congresso realizar-se-á nas dependências do IBILCE, nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2010.

Perfis do Contemporâneo colocará em foco uma diversidade de visões sobre as atuais manifestações literárias, por meio de atividades voltadas à reflexão crítica e à atuação artístico-cultural. O propósito do evento é abrir-se a discussões acerca dos perfis da literatura em sintonia com posicionamentos inovadores do fazer literário moldado por distintas linguagens, no que se refere, por exemplo, a novas tecnologias no campo da literatura, em termos de produção e divulgação; às relações entre literatura e fotografia, literatura e cinema, literatura e pintura; às questões de gênero literário; à problematização da teoria da literatura no âmbito das obras contemporâneas. Portanto, perfis com muitas faces, em que se entrecruzam imagem, som, texto, palavra, movimento e corpo – signos múltiplos em diálogo.

O XI SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS (XI SEL) é parte das atividades do Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE. Tem como objetivo promover o debate dos projetos desenvolvidos em nível de Mestrado e Doutorado, a fim de que haja, por meio da crítica, a melhoria no trabalho de pesquisa como um todo. É um espaço importante para o pós-graduando, uma vez que já se prepara para o embate crítico de sua pesquisa. As bancas de avaliação dos projetos, além de professores do Programa, são compostas por docentes convidados especialmente para esse fim, permitindo uma discussão mais ampla das questões implicadas nos trabalhos.

O Congresso compreende conferências, simpósios, mesas-redondas e mesas debatedoras.

As conferências serão proferidas por pesquisadores renomados em suas áreas de atuação, dividindo experiências no campo da pesquisa em literatura.

Os simpósios são organizados por professores doutores, sob cuja coordenação os participantes inscritos apresentam seus trabalhos de pesquisa.

As mesas-redondas têm como intuito promover o debate crítico sobre poesia e sobre narrativa. São formadas por docentes pesquisadores, poetas e escritores.

As mesas debatedoras discutem os projetos de pesquisa em desenvolvimento, em nível de mestrado e de doutorado.

PROGRAMAÇÃO

13 de outubro (quarta-feira)

8h: Entrega de material e últimas inscrições

9h30: Cerimonial de abertura

10h-12h: CONFERÊNCIA 1: "Literatura na era digital" - Profª Drª Lúcia Santaella (PUC/SP)

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: MESA-REDONDA: "A narrativa contemporânea em revista"

·Profª Drª Maria José Palo (PUC/SP): "A narrativa moderna e contemporânea: formas (d)escritas"

·Profª Drª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (UNESP/Araraquara): "A construção do espaço da escrita na narrativa portuguesa contemporânea"

·Profª Drª Marisa Corrêa Silva (UEM/PR): "A escrita de Murilo Rubião: a pulsão como técnica narrativa

18h-19h: Coquetel e Lançamento de livros

19h-21h: MESA DE POETAS: Fábio Weintraub (SP) e Antônio Vicente Seraphim Pietroforte (SP)

14 de outubro (quinta-feira)

8h-10h: SIMPÓSIOS

10h: Café

10h-12h: MESA DE ESCRITORES: Carlos Felipe Moisés (SP) e Francisco Lopes (MG)

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: MESA-REDONDA: "Poesia contemporânea: perfis"

·Profª Drª Diana Junke Martha Toneto (UNAERP/Ribeirão Preto): "'Memória se deseja: o resto se ouça ou veja': considerações sobre memória, corpo e desejo em um poema de Frederico Barbosa"

·Prof. Dr. Álvaro Falleiros (USP/SP): "A massa-palavra: leituras brasileiras de Christophe Tarkos"

·Profª Drª Paola Poma (USP/SP): "As voltas com Marianas, Marias e por que não José?"

18h-19h: Sessão de Painéis

19h30: Jantar por adesão

15 de outubro (sexta-feira)

8h-10h: SIMPÓSIOS

10h: Café

10h30-12h: CONFERÊNCIA 2: Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira (UFF/Niterói): "Breve Sumário da Experiência da Grafia"

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: Assembléia

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas X)


A esperança, nesta vida,
é tudo que nos conduz,
pela estrada florescida
de sonhos de amor e luz !...

A felicidade é abstrata,
Não a podemos tocar,
É uma forte candidata
De quem vive para amar.

Alguma coisa me diz
Que um dia chegarás,
Só assim serei feliz
E quem sabe viva em paz !

Às vezes na solidão,
Eu sonho com teus carinhos,
Tento te esquecer em vão,
Pois vives em meus caminhos...

Caminhemos pela vida,
qual se fôssemos crianças,
e por mais ríspida a lida,
nunca nos falte esperanças !

Certo dia andava triste
Pelas ruas da cidade,
Foi então que tu surgiste
Pra minha felicidade.

Depois de tantos caminhos
percorridos nesta vida,
meu troféu são teus carinhos
que tenho em contrapartida.

Esquecer não é somente,
A força pra não lembrar,
É viver bem o presente
Pra não ter que retornar...

Esta chuva me visita,
vem despertando a saudade,
ao lembrar quanto és bonita,
pois és a felicidade !

Eu não sei porque sorris
Quando me vês sem ninguém,
Teus sorrisos são gentis –
Talvez precises de alguém.

Eu não te quero somente
Pela aparência exterior;
Meu querer é mais ardente,
Mais profundo meu amor.

Faça chuva, faça sol,
meu amor é permanente;
desde o surgir do arrebol,
até descer o poente.

Lá na praia se encontraram
e viveram na ilusão,
pois apenas se tornaram
namorados de verão...

Lobo da Estepe sozinho
ando à procura de alguém,
seguindo pelo caminho
que agora mais me convém.

Longe de ti me entristeço
pela falta de carinho
e pago o mais alto preço
nesta vida tão sozinho...

Meu destino é fazer versos
Pra compor as minhas trovas,
Quanto mais sejam diversos
Mais elas hão de ser novas...

Na trova tudo acontece,
que o diga meu coração,
pois amei quem não merece
possuir minha paixão.

Nesta vida surge o amor
Que vem abraçar nós dois;
E no fim do corredor
Vem a saudade depois...

O menestrel sem juízo
um dia nasceu em mim,
daquele instante, preciso
me comunicar assim...

Outrora fui solitário,
não tinha grande vaidade,
mas, hoje, sou perdulário
de tanto amor e saudade.

Quando fui apaixonado
por uma estranha mulher,
meu coração era amado
e eu não quis a quem me quer.

Quantas noites mal dormidas,
Já quase perdendo o juízo,
Ó meu bem, por que duvidas
Que é de ti que eu mais preciso ?

Quantas trovas, quantos versos,
me levaram de roldão,
a conhecer universos
existentes na ilusão...

Quem deseja ser feliz
Deve nutrir a ilusão;
Será sempre um aprendiz
Das coisas do coração.

Quem namorou algum dia,
sabe o quanto se requer,
para ter a simpatia
e o coração da mulher.

São duas jabuticabas,
Teus olhos mirando os meus,
Vou dizer-te, pra que saibas,
Meus tristes olhos são teus.

Ser feliz nesta existência
Talvez apenas consiste
Em demonstrar na aparência
Ser sempre alegre e não triste...

Ter-te comigo sozinha
Numa noite enluarada,
É toda a vontade minha
E nem desejo mais nada.

Toda noite durmo e sonho
com os teus olhos brilhantes,
porque teu rosto risonho
nem me deixa por instantes...

Tua pele morena clara
Tem um quê de sedutor,
Não sei com que se compara...
Deve ter muito calor.

Fonte:
O Autor

Ésquilo (Prometeu Acorrentado)



Texto de Anatoli Oliynik, obtido em seu blog http://anatoli-oliynik.blogspot.com/
------------------------

Autor: Ésquilo (525 a.C. – 456 a.C.)
Assunto: Tragédia grega

SINOPSE:

Zeus, rei dos deuses e dos homens, acabara de assumir o poder após a titanomaquia (luta que elevou os deuses olímpicos ao poder). Soberano despótico e parricida manda acorrentar Prometeu, seu antigo aliado, em um rochedo culpando-o de muitos "crimes" a favor dos mortais. O mais grave dentre eles foi o de roubar o fogo dos deuses para dá-lo aos homens.

Por isso Zeus ordena que Prometeu seja acorrentado por 30 mil anos a um rochedo, onde uma ave vem diariamente dilacerar-lhe o fígado, que se regenera noite. No entanto, apesar das súplicas que alguns deuses fazem a Prometeu para que ele vá se redimir humildemente com Zeus, ele se recusa, afirmando que o pai dos deuses ainda necessitará de sua ajuda. Prometeu diz que sabe de um segredo que ameaça o reinado de Zeus: o filho deste num casamento próximo o destronará e somente ele sabe como impedi-lo. Porém, recusando-se a revelar como, é condenado a um castigo ainda mais mais severo.

Personagens:

Todas as personagens são divinos: a tragédia é uma teomaquia, i.e., uma disputa entre os próprios deuses. Há um intenso conflito de personalidade entre Prometeu e Zeus, este ausente do palco.

- PROMETEU: Um titã filho Urano (o Céu) e Gaia (a Terra).
- HEFESTO: Deus do fogo, dos metais e da metalurgia; filho de Zeus, irmão de Hermes.
- CRATOS: Filho de Palas; personificação do poder de Zeus.
- CORO: As jovens Oceanides, filhas de Oceano e primas de Prometeu.
- OCEANO: Titã que personificava as águas primitivas que cercam o mundo; tio de Prometeu e pai das oceânides.
- IÓ: filha do rei Ínaco, amada por Zeus e perseguida por Hera esposa de Zeus (Io é a única personagem humana na história; todos os demais não são humanos, são deuses).
- HERMES: Mensageiro dos deuses, protetor dos viajantes e condutor das almas dos mortos ao Hades; filho de Zeus, irmão de Hefesto.
- FIGURANTE: Bias, irmão de Cratos.

A OBRA:

A ação do Prometeu acorrentado transcorre numa região desolada da Cítia(1), Hefesto, o Poder e a Força, divindades auxiliares de Zeus, chegam arrastando o titã Prometeu, vítima da ira deste último deus. Hefesto prega-o num rochedo, observado pelo Poder, que vigia o deus do fogo, constrangido com sua missão, e o anima com a alegação de que Prometeu se rebelara contra a vontade divina com o intuito de ajudar a humanidade primitiva. Cumprida a missão, Hefesto, o Poder e a Força retiram-se abandonando Prometeu em sua agonia solitária. Rompendo o silêncio, o titã filantropo proclama sua indignação diante do céu, do mar e da terra em sua volta. Este monólogo cessa quando se ouve um ruído de asas e em seguida aparecem as Oceanides, ninfas do mar quem constituem o coro (voz do povo), despertadas pelo ruído do martelo contra os cravos quando Hefesto prendia o titã ao rochedo. Elas tentam animar Prometeu, que lhes conta como Zeus, graças a ele, conseguiu derrotar os outros titãs e tornar-se o novo soberano dos deuses. Isto feito, Zeus consolidou seu poder absoluto e resolveu destruir a humanidade para criar uma nova raça. Prosseguindo em sua narração Prometeu diz que, por amor às criaturas humanas, conseguiu salvá-las da destruição e lhes deu o fogo por ele roubado do céu, permitindo assim o início da civilização.

Aparece então Oceano, pai das Oceanides, um titã que se manteve afastado do conflito com Zeus. Ele deseja ver Prometeu livre de seus grilhões, e o aconselha a curvar-se diante do novo soberano. O prisioneiro ouve polidamente o conselho, mas não o aceita. O visitante retira-se, enquanto o coro comenta as lamentações de todos os mortais por causa do suplício de seu protetor. Em seguida Prometeu relembra as artes por ele inventadas para aliviar as misérias da condição humana. O coro pergunta se o titã acorrentado tem esperanças de libertar-se, e ele menciona vagamente uma possível queda de Zeus. Em seguida, celebra o poder soberano dos deuses e demonstra a estranheza diante da obstinação de Prometeu. Aparece então Io, uma mortal amada por Zeus, e, a pedido do coro, Prometeu revela o estranho infortúnio da moça: diante das investidas amorosas de Zeus contra ela, Hera, mulher dele, transformou Io em novilha e mandou que um moscardo passasse a segui-la por todos os caminhos da terra, picando-a incessantemente. Prometeu profetiza a continuação de suas caminhadas errantes, que iriam terminar no Egito, e fala com maior clareza na queda de Zeus, narrando ainda as andanças passadas de Io, concluindo com a profecia de que no Egito ela daria à luz um filho de Zeus chamado Épafo. Prosseguindo, Prometeu revela que um arqueiro corajoso (Heracles) o libertaria depois de decorridas várias gerações. Repentinamente, num acesso de desespero, Io sai correndo. O coro canta os perigos oriundos das uniões de mortais com divindades. Prometeu reitera a sua previsão de que Zeus será destronado por um filho dele.

Entra em cena Hermes, o deus mensageiro de Zeus, pedindo ao infeliz titã para revelar-lhe o segredo fatídico em relação à queda de Zeus. Tratado desdenhosamente por Prometeu, Hermes anuncia-lhe torturas ainda mais cruéis; a águia que devoraria a cada dia seu fígado, que se recomporia também diariamente, e um cataclismo que o lançaria no Hades. As Oceanides insistem para que Prometeu se submeta a Zeus, mas quando Hermes anuncia que se não se afastassem do titã elas também sofreriam, negam-se altivamente a dar-lhe ouvidos. Ocorre, então, o cataclismo, durante o qual prometeu desaparece juntamente com as Oceanides.

COMENTÁRIOS

Prometeu Acorrentado é a única tragédia que sobreviveu de uma trilogia que teria, na ordem de apresentação, Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do Fogo.
Prometeu (Prometheus em grego) significa "o que pensa antes".

A figura trágica de Prometeu constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano (o Céu) e Gaia (a Terra). O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens.

O fogo que Prometeu roubou simboliza a Inteligência. A razão dessa atitude consiste no seguinte: Epimeteu, irmão de prometeu fora encarregado da tarefa de dar a todos os animais uma autodefesa. Entretanto, Epimeteu esquece-se dos humanos. Prometeu para compensar o esquecimento do irmão, dá aos humanos o fogo que simboliza a inteligência, portanto, a única autodefesa que os humanos têm. Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe a bonita Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra. Como Prometeu resistiu aos encantos da mensageira, Zeus o acorrentou a um penhasco, onde uma águia devorava diariamente seu fígado, que se reconstituía. Lendas posteriores narram como Hércules matou a águia e libertou Prometeu. Na Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em Atenas. Nas lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo Prometeu, que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha ensinado o homem a fazer o óleo de oliva.

A cena se passa na Cítia, situada por Heródoto a nordeste do Mar Negro, território onde se situa atualmente a maior parte da Rússia. Segundo um antigo comentador da peça, Prometeu havia sido aprisionado por Zeus há mais de 30.000 anos...

Por ordem de Zeus, Hefesto, deus do fogo, prende Prometeu a uma rocha na inóspita Cítia; Cartos supervisiona seu trabalho. Prometeu lamenta-se, mas diz que previu tudo, sabe o que irá acontecer no futuro e que Zeus ainda precisará dele. O Coro (sempre representa a voz do povo) chega e lamenta a sorte de Prometeu, que volta a dizer que no futuro Zeus dependerá de seu auxílio.

Prometeu relata ao Corifeu a luta de Zeus contra os titãs, como evitou que a humanidade fosse destruída por ele, e os benefícios que obteve para os mortais. Oceano vem visitá-lo, exorta-o a dirigir-se com humildade a Zeus e diz que tentará interceder em seu favor, mas Prometeu o dissuade.

O Coro lamenta novamente o destino de Prometeu; ele conta que todas as artes vieram aos homens através dele: a construção de casas e navios, a domesticação de animais, a escrita, os números, os remédios, a adivinhação, etc. O Coro diz que é perigoso contrariar Zeus, e recorda as núpcias de Prometeu.

Chega a errante Ió, na forma de uma novilha, perseguida desde Argos pela incessante picada de um inseto enviado pela ciumenta Hera. Ela conta a Prometeu e ao Coro suas desventuras, e Prometeu revela as coisas que irão acontecer-lhe até chegar ao seu destino, o Egito, e que um de seus descendentes o libertará um dia. Ió foge, aguilhoada pela picada do inseto.

O Coro canta que "o bem supremo é a mulher se casar segundo a própria classe", e esperam que Zeus nunca olhe para elas.

Prometeu revela finalmente ao Corifeu que o filho gerado por Zeus em um casamento próximo o destronará, e que somente ele sabe como impedi-lo. Hermes aparece e interroga-o, mas Prometeu orgulhosamente recusa-se a revelar qualquer coisa. Hermes avisa que Zeus lhe dará novos castigos: um trovão o lançará no fundo da terra e, quando voltar à luz, uma águia virá diariamente comer-lhe o fígado. Prometeu recusa-se novamente, e diz que já ouve o trovão de Zeus aproximar-se... (a história é inconclusa).

A continuação da história provavelmente se encontra na obra Prometeu Libertado da qual, lamentavelmente, só se encontram alguns fragmentos. Especula-se que Prometeu se reconcilia com Zeus.

SENTIDO DA HISTÓRIA

A história representa o eterno conflito entre dois poderes: o Poder Temporal (Zeus) e o Poder Espiritual (Prometeu). Zeus representa o poder temporal porque, embora rei dos deuses e dos homens, não possuía a capacidade de prever o futuro, enquanto Prometeu sim.

CONCLUSÃO

O mundo manifestado vive o eterno conflito entre o Poder Temporal e o Poder Espiritual há mais de 2.500 anos. Considerando que o ser humano se encontra entre dois mundos: o Firmamento de Luzes (A Lei de Deus) e o Abismo de Trevas (A Lei dos Homens) a sua existência no mundo sensível, portanto real será eternamente conflituosa. Trata-se de um problema insolúvel para a humanidade, porque ambas as Leis são necessárias ao homem. A única saída possível é o respeito a hierarquia (ordem sagrada) do Poder Temporal ao Poder Espiritual. Em outras palavras: Enquanto a Lei dos Homens não considerar a hierarquia da Lei Divina, o conflito permanecerá eternamente.

Não será matando Deus, que a Paz e a Felicidade reinarão sobre a face da Terra. Em todo mundo, há exemplos fracassados de que não é possível realizar qualquer projeto humano sem considerar a possibilidade Divina.
–––––––––––––
[1] Região remota e deserta, corresponde à maior parte da atual Rússia na direção do oriente, cujos limites eram muito bem definidos. De suas montanhas podia-se ver o mar Negro (o antigo Ponto Euxino) e o mar de Azov (antigo Palos Meótis).

Blog Recomendado (ANATOLI: Um Blog Cultural)



http://anatoli-oliynik.blogspot.com/

Aqui você encontrará indicações e comentários de Grandes Obras da Humanidade de natureza ficcional e ensaística. São obras importantes para compreensão do mundo e da vida.

Inaugurado no dia 10/01/2009, este BLOG postou sinopses, análises e comentários de 90 (noventa) livros, considerados como as Grandes Obras da Humanidade.

Entre as obras, podemos encontrar títulos como:
Os Irmãos Karamázov; A Morte de Ivan Ilitch; Dom Quixote; Antígona; Édipo Rei; O Misantropo; O Processo; O Vermelho e o Negro; Hamlet; A Peste; A Montanha Mágica; Otelo; O Estrangeiro; O Coração das Trevas; Apologia de Sócrates; Fedro; Fédon; Eutífron; Fedra; Críton; A Descoberta do Outro; Banquete; 2001: Uma Odisséia no Espaço; O Rei Lear; Um Retrato do Artista Quando Jovem; Lições de Abismo; A Divina Comédia; A Consolação da Filosofia; A Metamorfose, e muito mais.

Prezado(a) Leitor(a):

Enquanto aguarda a sinopse da próxima obra literária, faça um passeio exploratório pelas obras já publicadas neste blog. São mais de sete dezenas de obras, todas elas fantásticas que valem a pena ser melhor exploradas.

Procure conhecê-las, não só pela sinopse, que sempre é precária, mas pela aquisição e leitura completa da obra.

Assim procedendo estará contribuindo com o resgate da alta cultura do Brasil que se encontra seriamente comprometida.

Este é o principal objetivo deste blog.

PENSE NISSO:

"A cultura contemporânea perdeu o sentido daqueles grandes valores que, na era antiga e medieval e também nos primeiros séculos da era moderna, constituíam pontos de referência essenciais, e em ampla medida irrenunciáveis, no pensamento e na vida". (Giovanni Reale)

Fontes:
– Criador do Blog
http://anatoli-oliynik.blogspot.com/

Cultura Acadêmica Editora (Lançamento de Títulos para Download Gratuito)


CULTURA ACADÊMICA é o segundo selo da Fundação Editora da UNESP, cujo selo central é o EDITORA UNESP, que existe desde 1987 e tornou-se marca já consagrada com um catálogo que a caracteriza como editora universitária de destaque junto ao leitor brasileiro e ibero-americano.

O segundo selo foi criado há alguns anos para auxiliar principalmente o atendimento às múltiplas demandas editoriais da Universidade Estadual Paulista - UNESP - uma universidade multicampus e com um enorme contingente de docentes, pesquisadores e pós-graduandos. Com a ampliação do número de títulos editados pelo selo CULTURA ACADÊMICA, a Fundação Editora da UNESP abre novas oportunidades de publicação num momento em que a pesquisa acadêmica e sua divulgação são cada vez mais necessárias.

Autônomo e descentralizado em relação ao selo de origem, o CULTURA ACADÊMICA presta-se a novas experimentações, abre-se a parcerias editoriais com órgãos da direção central da UNESP assim como com suas várias unidades universitárias e cursos de pós-graduação, buscando sempre a qualidade pautada nos conselhos editorias e comissões científicas responsáveis por cada um dos volumes publicados.

Assim surgiram as publicações do selo em parceria com várias Faculdades e Institutos da UNESP e, com a abertura deste sítio virtual, inaugura-se a Coleção PROPG-DIGITAL, que publica livros em primeira edição apenas nos formatos digitais, com a possibilidade de download gratuito.

Esta coleção surge em função da tradicional parceria entre a Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP - PROPG - e a Fundação Editora da UNESP, ambas responsáveis pelo lançamento de centenas de títulos e novos autores da Universidade em outros programas editoriais com suporte em papel. Sintonizada com as tecnologias da textualidade eletrônica e também com a transmissão gratuita de conhecimento gerado nas pesquisas da universidade pública, a Coleção PROPG-DIGITAL é também a primeira experiência da Fundação com o livro digital e será importante laboratório de novas iniciativas nesta área que conquista gradualmente seu lugar no imenso universo de possibilidades da publicação e da leitura acadêmica.

Fonte:
Cultura Acadêmica Editora. http://www.culturaacademica.com.br/index.asp

Camila da Silva Alavarce (O Papel Ativo do Leitor na Criação Literária)


Partindo do princípio que a ironia, a paródia e o riso são três modalidades literárias próximas que têm em comum o questionamento de uma visão maniqueísta e que geram tensão, Camila da Silva Alavarce debruça-se sobre o estudo desses discursos para identificar as diferentes vozes dissonantes e o papel do leitor na construção dos sentidos dos textos literários. Seu estudo está agora publicado em A ironia e suas refrações: um estudo sobre a dissonância na paródia e no riso, lançamento da Cultura Acadêmica Editora.

Para a autora, a ironia, a paródia e o riso atuam, nos textos literários, com o objetivo de suspender a censura e de burlar as prisões dos discursos monofônicos e consequentemente autoritários. "Isso é possível porque privilegiam a polifonia e o elemento dissonante, legitimados pelo contraste de ideias, traço comum entre esses três tipos de discurso. Logo, essas categorias, como atos de comunicação, optam por determinada ótica ou postura, que entra em choque com outra, e é isso que garante a polifonia", explica.

Como esses discursos convidam o sujeito para colaborar na construção do sentido na comunicação, eles são vias para um movimento de reflexão e de ampliação do conhecimento e da percepção crítica. "O sujeito é valorizado como um ser capaz de assimilar toda a estrutura contraditória desses discursos por meio do exercício da razão", justifica.

O primeiro capítulo dedica-se, portanto, ao receptor da mensagem: o leitor e seu papel ativo na construção do sentido. Em seguida, faz um estudo pormenorizado da ironia, de suas funções e de suas variadas possibilidades de ocorrência.

O terceiro capítulo trata da paródia como um tipo de texto literário que se constitui pelo choque entre discursos dissonantes, como é o caso, num outro nível, da ironia. O quarto é dedicado ao riso, com resgate das teorias de Schopenhauer, Baudelaire e Jean Paul. No quinto, a autora relaciona as três modalidades para, em seguida, proceder à leitura de três obras literárias, analisadas a partir da ironia, paródia e riso: os romances O homem duplicado (2002), de José Saramago, e O cavaleiro inexistente (1959), de Ítalo Calvino, e o conto "O duplo" (1846), de Dostoievski.

Para Camila, a ironia, a paródia ou o riso constituem um convite ao leitor para desvendá-los, perpetuando, assim, o ensejo de ampliação de sua percepção crítica.
–––––––-
Camila da Silva Alavarce
possui graduação em Letras (2001) e mestrado em Estudos Literários (2003) e doutorado em Teoria Literária (2008) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003). Atualmente, é professora de gramática e de literatura brasileira e portuguesa em três colégios. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária e Literatura Portuguesa, atuando, sobretudo nos seguintes temas: ironia, paródia, riso, análise do narrador e da organização da narrativa.

Fonte:
Cultura Acadêmica Editora.

Luzia Aparecida Oliva dos Santos (Representações Simbólicas do Indígena Construídas pela Literatura Brasileira)


Como entender a representação do indígena na formação do sistema literário brasileiro? Quais os matizes que diferem essa representação ou a aproxima dentre os conceitos impressos pelo indianismo e pelo indigenismo literários? Tais inquietações são o ponto de partida para O percurso da indianidade na literatura brasileira: matizes da figuração, lançamento do selo Cultura Acadêmica.

Luzia Aparecida Oliva dos Santos faz então uma viagem pela literatura brasileira em busca da imagem do índio em seus diversos matizes sob diferentes convenções ideológicas e de estilo, em obras representativas dos vários movimentos culturais existentes. Reúne a análise de dezoito obras pela perspectiva da figuração, que define a presença do nativo brasileiro pela linguagem e a colore de acordo com a época e com as estratégias de cada autor. O percurso se estende da Carta de Achamento, de Pero Vaz de Caminha, até a publicação de Maíra (1976), de Darcy Ribeiro, buscando-se as afinidades com o universo natural, mítico e aculturado do indígena.

Na leitura estabelecida pelas análises dos textos, descobre-se como o homem americano foi visto frente às relações sócio-econômicas e culturais determinadas pelo encontro com o colonizador e as consequências derivadas dos conceitos contraditórios que emergiram do quadro de ocupação da terra brasileira. Vê-se como as estratégias de figuração criadas no âmbito literário colocam o nativo em interação com um elemento externo à sua cultura, seja ele o não-índio, o cristão ou o civilizado, responsável pela oposição índio versus brasileiro.
–––––––––––––––––
Luzia Aparecida Oliva dos Santos
é doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de São José do Rio Preto, na área de Literaturas em Língua Portuguesa, mestre em Letras, também pela Unesp, em Teoria da Literatura e graduada em Letras pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. É professora do Departamento de Letras, da Universidade do Estado de Mato Grosso, câmpus de Sinop.

Fonte:
Cultura Acadêmica Editora.

Antônio de Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda) Parte III, final


ALGUMAS OBSERVAÇÕES A MAIS SOBRE BRÁS, BEXIGA E BARRA FUNDA

Como foi possível perceber, os contos forma, sem seu conjunto um panorama de um determinado fragmento social em um determinado momento histórico. Desse modo, podemos dizer que sua grande personagem é a cidade de São Paulo no início do século, vista a partir de um aspecto: a imigração.

O subtítulo do livro – Notícias de São Paulo – já define o posicionamento do autor: a realidade captada por pequenos fragmentos. A mesma relação entre literatura e o jornalismo será ainda mais detalhada em “Artigos de Fundo”, o prefácio que não é prefácio. E é a partir daí que encontramos mais claramente a unidade do livro. Em todos os contos, o realismo jornalístico está presente nos assuntos cotidianos, na ausência de idealização, na linguagem enxuta. E sempre ao lado do humor iconoclasta modernista.

Os contos abordam questões corriqueiras do mundo do imigrante italiano e do brasileiro que com ele convive. Em “Gaetaninho” e em “Lisetta”, vemos o sonho da criança que é interrompido pela tragédia da morte ou pelo preconceito sócio-econômico. Em “Carmela” e em “Coríntians (2) vs. Palestra (1)”, os amores das mocinhas que sonham com príncipes e buscam no relacionamento amoroso um reconhecimento social. Em “Amor e Sangue”, o amor já descamba para a irracionalidade e para o crime passional. “Tiro de Guerra nº 35”, “Notas Biográficas do Novo Deputado” e ainda “Nacionalidade” trazem a discussão do patriotismo e do xenofobismo. Aristodemo Guggiani, Gennarinho, os filhos de Tranquillo e o próprio barbeiro vão passando por etapas de aculturação e se tornam filhos do país que os recebeu. “A sociedade” e “Armazém Progresso de São Paulo” mostram o italiano numa ânsia de ascensão econômica e social e, a partir disso, sua prepotência e arrogância. Finalmente, a crítica à imprensa que se faz fortemente presente em “O monstro de rodas”, retratando o abandono em que vivia o imigrante.

Cabe dizer ainda que foi com Alcântara Machado que o tema da imigração firmou-se no Modernismo. Preocupado com o momento social de profunda transformação em que vivia sua cidade, o autor tornou-se o escritor de São Paulo. E falar da São Paulo de sua época era falar daqueles que a estavam compondo: os italianos.

ANTOLOGIA

Artigo de fundo

Assim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva quem nasce jornal deve ter artigo de fundo. A facha explica o resto.

Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.

Brás, Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo.

Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.

A primeira as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de mostrar suas vergonhas. A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças bem gentis daquela que tinham cabelos mui pretos, compridos pelas espadoas.

E nasceram os primeiros mamelucos.

A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, mumbandas, macumas.

E nasceram os segundos mamelucos.

E os mamelucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil. O colosso começou a rodar.

Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre elas uma alegre pisou na terra paulista cantando e na terra brotou e se alastrou como aquela planta também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza brasileira.

De consórcio da gente imigrante com o ambiente, do consórcio da gente imigrante com a indígena nasceram os novos mamelucos.

Nascem os italianinhos.
O Gaetaninho.
A Carmela.
Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.

E o colosso continuou rolando.

No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:
Carcamano pé de chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?

O pé de chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado: A brasileira, per Bacco!

Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Entregou-se. Prosperou.

E o negro violeiro cantou assim:
Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a bandeira da Itália!

Brás, Bexiga e Barra Funda como membro da livre imprensa que é tenta fixar tão-somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e quotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais nada. Notícia. Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não aprofunda.

Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha de doutrina. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de rua. O aspecto étnico-social dessa novíssima raça de gigantes encontrará amanhã o seu historiador. E será então analisado e pesado num livro.

Brás, Bexiga e Barra Funda não é um livro.

Inscrevendo em sua coluna de honra os nomes de alguns ítalo-brasileiros ilustres este jornal rende uma homenagem à força e às virtudes da nova fornada mameluca. São nomes de literatos, jornalistas, cientistas, políticos, esportistas, artistas e industriais. Todos eles figuram entre os que impulsionaram e nobilitam neste momento a vida espiritual e material de São Paulo.

Brás, Bexiga e Barra Funda não é uma sátira.

O Autor define sua obra como um não-livro, o que, reforçado pelo tom de humor do texto, provoca um estranhamento no leitor que, conseqüentemente, terá que se situar de outra forma que não leitor de contos. A aproximação com o estilo jornalístico vai além do conteúdo. Chega à forma por meio das frases curtas e da linguagem enxuta, garantindo ao texto um ar de contemporaneidade. E também por meio dos espaços em branco entre os fragmentos do texto, que lembram a organização jornalística. Com essa divisão, o autor consegue passar as informações em formas de “flashes”, mostrando a realidade de modo fragmentado, assim como o jornal.

Artigo de Fundo procurar registrar um ponto de vista positivo sobre o imigrante, diz até mesmo representá-los. E cria uma imagem do imigrante esperto, que se adaptou e se integrou à terra brasileira. Logo a seguir, porém, procura a objetividade jornalística: “Não tem partido nem ideal”. E realmente a visão predominante ao longo da obra é do narrador que observa de longe.

A Sociedade

- Filha minha não casa com filho de carcamano!

A esposa do conselheiro José Bonifácio de Matos e Arruda disse isso e foi brigar com o italiano das batatas. Teresa Rira misturou lágrimas com gemidos e entrou no seu quarto batendo a porta. O conselheiro José Bonifácio limpou as unhas com o palito, suspirou e saiu de casa abotoando o fraque.

O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ardel e trouxe Teresa Rira do escritório para o terraço.

O Lancia passou como quem não quer. Quase parando. A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino. Uiiiiia – uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mesma rua. Gostava dela. Era a rua da liberdade. Pouco antes do número 259-C já sabe: uiiíiia-uiiiiia!
- O que você está fazendo aí no terraço, menina?
- Então nem tomar um pouco de ar eu posso mais?

Lancia Lambda, vermelhinho, resplendente, pompeando na rua. Vestido do Camilo, verde, grudado à pele, serpejando no terraço.
- Entre já para dentro ou eu falo com seu pai quando ele chegar!
- Ah meu Deus, meu Deus, que vida, meu Deus!

Adriano Melli passou outras vezes ainda. Estranhou. Desapontou. Tocou para a Avenida Paulista.

Na orquestra o negro de casaco vermelho afastava o saxofone da beiçoarra para gritar:

Dizem que Cristo nasceu em Belém...

Porque os pais não a haviam acompanhado (abençoado furúnculo inflamou o pescoço do conselheiro José Bonifácio) ela estava achando um suco aquela vesperal do Paulistano. O namorado ainda mais.

Os pares dançarinos maxixavam colados. No meio do salão eram um bolo tremelicante. Dentro do círculo palerma de mamãs, moças feias e moços enjoados. A orquestra preta tonitroava. Alegria de fozes e sons. Palmas contentes prolongaram o maxixe. O banjo é que ritmava os passos.
- Sua mãe me fez ontem uma desfeita na cidade.
- Não!
- Como não? Sim senhora. Virou a cara quando me viu!
... mas a história se enganou!

As meninas de ancas salientes riam porque os rapazes contavam episódios de farra muito engraçados. O professor da faculdade de Direito citava Rui Barbosa para um sujeitinho de óculos. Sob a vaia do saxofone: turururu-turururum!
- Meu pai quer fazer um negócio com o seu.
- Ah sim?
Cristo nasceu na Baía, meu bem...

O sujeitinho de óculos começou a recitar Gustave Le Bon mas a destra espalmada do catedrático o engasgou. Alegria de vozes e sons.
... e o baiano criou!

Olhe aqui, Bonifácio: se esse carcamano vem pedir a mão de Teresa para o filho você aponte o olho da rua para ele, compreendeu?
- Já sei, mulher, já sei.

Mas era cousa muito diversa.

O cav. uff. Salvatore Melli alinhou algarismos torcendo a bigodeira. Falou como homem de negócios que enxerga de longe. Demonstrou cabalmente as vantagens econômicas de sua proposta.
- O doutor...
- Eu não sou doutor, senhor Melli.
- Parlo assim para facilitar. Non é para ofender. Primo o doutor pense bem. E poi me dê a sua resposta. Domani, dopo domani, na outra semana, quando quiser. Lo resto à sua disposição. Ma pense bem!

Renovou a proposta e repetiu os argumentos pró. O conselheiro possuía uns terrenos em São Caetano. Cousas de herança. Não lhe davam renda alguma. O cav. uff. Tinha a sua fábrica ao lado. 1200 teares. 36.000 fusos. Constituíam uma sociedade. O conselheiro entrava com os terrenos. O cav. uff. Com o capital. Arruavam, os trinta alqueires e vendiam logo grande parte para os operários da fábrica. Lucro certo, mais que certo, grandíssimo.

- É. Eu já pensei nisso. Mas sem capital o senhor compreende é impossível...
- Per Baco, doutor! Mas io tenho o capital. O capital sono io. O doutor entra com o terreno mais nada. E o lucro se divide no meio.

O capital acendeu um charuto. O conselheiro coçou os joelhos disfarçando a emoção. A negra de broche serviu o café.
- Doppo o doutor me dá a resposta. Io só digo isto: pense bem.

O capital levantou-se. Deu dois passos. Parou. Meio embaraçado. Apontou para um quadro.
- Bonita pintura.

Pensou que fosse obra de italiano. Mas era de francês.
- Francese? Não é fio non. Serve.

Embatucou. Tinha qualquer cousa. Tirou o charuto da boca, ficou olhando para a ponta acesa. Deu um balanço no corpo. Decidiu-se.
- Ia dimenticando de dizer. O meu filho fará o gerente da sociedade... sob a minha direção si capisce.
- sei, sei... O seu filho?
- Si. O Adriano. O doutor... mi pare... mi pare que conhece ele?

O silêncio do conselheiro desviou os olhos do cav. uff. Na direção da porta.
- Repito un’altra vez: o doutor pense bem.

O isotta Franschini esperava-o todo iluminado.
- E então? O que deve responder ao homem?
- Faça como entender, Bonifácio...
- Eu acho que devo aceitar.
- Pois aceite...

E puxou o lençol.

A outra proposta foi feita de fraque e veio seis meses depois.

O conselheiro José Bonifácio de Matos e Arruda e senhora

Têm a honra de participar a V. Exa. E Exma. Família, o contrato de casamento de sua filha Teresa Rita com o sr. Adriano Melli.

Rua da Liberdade, n. 259-C.

O cav. uff. Salvatore Melli e senhora

Têm a honra de participar a V. Exa. E Exma. Família o contrato de casamento de seu filho Adriano com a senhorinha Teresa Rita de Matos e Arruda.

Rua da Barra Funda, n. 427.

São Paulo, 19 de fevereiro de 1927

No chá do noivado o cav. uff. Adriano Melli na frente de toda a gente recordou à mãe de sua futura nora os bons tempinhos em que lhe vendia cebolas e batas, Olio di Lucca e bacalhau português quase sempre fiado e até sem caderneta.

Neste conto, Alcântara Machado procura retratar a dificuldade de integração sofrida pelos italianos e, ao mesmo tempo, sua capacidade de adaptação e até superação diante das famílias tradicionais e preconceituosas. Os personagens, verdadeiros estereótipos de uma sociedade, representam as etapas que vão da dissociação até a integração de duas culturas. A esposa do conselheiro retrata todo o preconceito existente em relação aos imigrantes. Rejeita qualquer tipo de união entre a sua família paulistana tradicional e a do “novo rico” italiano. Revela os últimos vestígios de resistência da aristocracia. Teresa Rita alude à aceitação decorrente de qualquer processo de assimilação cultural. Para as novas gerações, o caráter estrangeiro, imigrante, perde seu valor depreciativo, assume naturalidade. O conselheiro José Bonifácio de Matos e Arruda, como o próprio nome revela, representa a verdadeira família aristocrata e passadista em decadência. O outro lado da questão é retratado primeiramente por Adriano Melli, estereótipo do “novo rico”, caracterizado pelo seu vestuário meticuloso e afetado. O carro, as luvas, o chapéu contrastam com o traço aristocrático e ultrapassado do fraque do conselheiro. Ainda mais contrastante é a figura do imigrante Salvatore Melli, que em oposição ao tradicional título de conselheiro, ostenta o de cavagliere ufficiale, denunciando a novidade da posição alcançada no novo país. Porém, a mobilidade social ascendente através do prestígio econômico não diminui a distância cultural marcada na linguagem, no gosto, nos símbolos do prestígio. O novo rico ainda usa a “bigodeira” característica dos primeiros imigrantes. Dirige-se ao conselheiro ainda com certa humildade, ao menos no tratamento, chamando-o de “doutor”, mesmo certo de sua superioridade econômica. E a língua de origem não é esquecida nos mementos de maior afetividade do personagem.

A questão do narrador adapta-se ao estilo jornalístico de narra. O caráter realista do conto exige uma observação direto dos fatos. Outro traço forte neste conto, assim como nos demais, conforme já foi abordado, é a variação dos pontos de vista por meio dos diálogos. Com essa técnica, o leitor toma conhecimento das idéias que caracterizam as personagens e sugerem uma visão de mundo. Daí surge o desenvolvimento da tensão entre as partes.

A Sociedade aborda o tema da assimilação cultural de uma perspectiva um pouco diversa da habitual nos demais contos. A família imigrante aqui é vista a partir da já atingida ascensão econômica e prestes a conseguir a almejada posição social. Em relação ao restante da obra, Adriano Melli é o menino que sonhava andar de carro já crescido e adaptado. Essa ascensão fica mais evidenciada ao final do conto. No chá de noivado, Salvatore Melli relembra à preconceituosa mãe de Teresa Rita os tempos em que o imigrante lhe vendia cebolas. E dá destaque à já clara decadência da família aristocrata: vendia fiado. Fica óbvia a denotação do esforço de trabalho daquele que sofre o preconceito em contraste com a ociosidade da camada social aparentemente estabilizada.

Alcântara Machado aproveitou-se de uma característica comum ao Modernismo para dar um traço pessoal à sua obra: o cômico. Era essa a base de sua visão de mundo. Não buscava criar situações corriqueiras. A situação, a linguagem e os personagens é que ficam marcadas pelo cômico. Em “A Sociedade”, o ridículo é produzido pela situação ambígua da família paulistana: ao mesmo tempo em que é preconceituosa, precisa do imigrante. Os personagens estereotipados, permitindo ao leitor uma rápida associação com a realidade, também tornam-se cômicos. Finalmente a linguagem relaciona-se com o anedótico tanto pelo estilo coloquial, com traços que lembram muito o estilo modernista de Mário de Andrade, como pela imitação das expressões típicas dos italianos. Esse último aspecto traz não só a comicidade devido à sua estranheza dentro do texto, mas traz também a associação com a realidade da personagem. Em sua, Alcântara Machado faz com que a sociedade paulistana ria de sua própria imagem.
----------------
Fonte:
Estudo copiado do material do Curso Universitário, disponível em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/barrafunda

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

José Feldman (A Minha Poesia)

Pintura de Angela Kelly Topan
Hoje estava a navegar pela internet, encontrei uma poesia de Florbela Espanca, denominada “Amiga”, que coloco na postagem abaixo. Então fiquei a pensar, e me deixar envolver pela poesia de Florbela e criar uma minha. E fiz num rebento.

Algo deste poema da Florbela está imbuído dentro do poema, mas tem certas versos que a maioria dos poemas devem ter, pois eles possuem um significado especial.

Por isso, peço que me perdoem e permitam-me este momento mágico para postar algo meu, entre tantos grandes nomes de norte a sul, leste a oeste deste enorme e querido Brasil que constituem este blog.

Permitam-me fazer uma dedicatória antes. Pode parecer meio cafona (nem lembro se ainda se usa esta expressão, será que estou tão velho assim?), mas deixo aqui registrado que este poema, ou que ao menos deveria ser um, me perdoem os entendidos no assunto, mas ele é para todas as mulheres que são como musas na vida dos homens, que preenchem um espaço vazio e fazem da vida destes felizardos serem repletas de poesia.
-----------------

Deixa-me ser o teu amigo, Amor,
O melhor e mais querido de todos os seus amigos,
pois sem tua presença, não há calor
e sem calor não haverão abrigos.

Deixa eu sentir a sua presença,
o seu abraço, o seu carinho,
faça que este momento seja a diferença,
como a água que se transforma em vinho.

Que mesmo que de ti me venha mágoas e dor
Ainda assim serás sempre um sonho maravilhoso,
Bendita sejas onde for
Estarás sempre em meu coração como um tesouro valioso.

Beija meu rosto uma vez só mais, com ternura,
guardarei este beijo qual diamantes
para sempre me embriagar em sua formosura
seus sorrisos, seus olhares, sua voz, cativantes.

Seja este momento de magia,
de encanto e de prazer,
seja o verso de minha poesia,
meu eterno amanhecer.

Juliana Matos (Amor Antigo)


Era um amor tão bonito
Daqueles que em realidade admirava-se
Olhos nos olhos, a corte pregava
Com a certeza da felicidade acompanhada

As mãos trêmulas tocavam-se admiravelmente
E as estrelas sempre presenciavam o total sabor
Deste amor leve que vários instantes crescera
Em meio a sons da natureza ao esplendor

Dois seres, um caminho e um sentido
A vida já não se fazia a mesma solitária
Cada detalhe agora compunha um jardim florido
Que juntos cultivariam sempre a sorrir

Era um amor tão doce, quase conto de fadas
Brilhava no horizonte por tamanho existir
Como se o tempo fosse esquecido
Quando os dois, frente a frente, se faziam sentir...

Palavras em vão

Fontes:
http://palavraemvao.blogspot.com/
Imagem = http://retalhosdeamor.blogspot.com/

Silviah Carvalho (O Vulto)


Eu, que fui à vida uma sonhadora,
Desfiz meus Sonhos ao ver seus,
Olhos pairados em outro Mundo.

Eu que sufoquei minha solidão,
Sonhando preencher meus dias ao seu lado,
Vi seus pés galgando outra estrada,
Passo a passo até afastar-se completamente de mim,

Eu que tantas vezes tentei cruzar seu caminho,
Mas você sempre encontrou um atalho,
Para não encontrar-se comigo,
Para não sentir pesados os meus olhos em seus olhos,
Ou minhas mãos em suas mãos.

Eu que tentei ser alguém em sua vida,
Fui apenas uma sombra, um vulto na solidão,
Tu foste tudo para mim, e me fizeste nada para você.

Algum dia quando o sol brilhar mais forte em seu caminho,
O meu vulto se tornará real em sua frente,
E não haverá atalho para você.

Porque o meu caminho começará,
Aonde o seu terminar,
E então o vulto será você.

Fontes:
http://umcoracaoqueama.blogspot.com/

Caio Porfírio Carneiro (O Anel)


Não conseguia expor bem o tema, que pedia detalhes seguidos, porque ela, sentada lá no meio do público, fazia-lhe sinais continuados. Irritava-se e os membros da mesa pediam silêncio e atenção.

Palestra terminada, quis saber quem era aquela moça jovem, bonita, que o
atrapalhava. Ela, porém, se antecipou. Subiu os poucos degraus, postou-se diante da mesa:

- Preciso falar com o senhor.

Todos curiosos. E ele se mostrou aborrecido:

- Quem é você?

- O senhor não sabe quem sou eu. Mas eu sei quem é de fato o senhor.

Encarou-a, levantou-se:

- Fale baixo. O que você quer?

- Quero lhe dizer só duas palavras e lhe dar um presente.

- Presente? Depois.

- Agora. É rapidinho. Pode ser ali no canto.

O silêncio e a curiosidade aumentavam entre os assistentes próximos. O público procurava se aproximar para cumprimentá-lo.

Ele resolveu-se, contrariado:

- Com este povo todo... Está bem. Um minuto só.

Dirigiram-se para perto do cortinato, atrás da mesa. Suspirou:

- E então, moça, o que deseja?

- O senhor conheceu, anos atrás, uma moça e lhe deu de presente um anel, lembra-se?

- Faz tempo.

- O senhor a engravidou e desapareceu, não foi?

- Como é?

Ela mostrou-lhe o anel:

- Antes de morrer ela me deu o anel de presente. Até mandou lhe avisar que estava muito doente e o senhor nem sinal. Pois está aqui o anel. Está reconhecendo? Vim devolvê-lo. Sou filha dela. Filha daquela gravidez.

Ele gaguejava:

- Quer dizer... quer dizer...

- O senhor sabe o que quer dizer.

Jogou no bolso dele o anel:

- Dê de presente a outra moça. O senhor ainda tem idade para recebê-lo de volta anos depois. Parabéns pela palestra. O senhor é muito famoso.

Ele tentou segurá-la:

- Volte aqui.

Ela se foi apressada e perdeu-se no meio do povo que ainda procurava cortejá-lo.

Ele voltou à mesa e sentou-se calado. Uma voz sussurrou-lhe:

- O que ela lhe disse? Está sentindo alguma coisa?

Ele suspirou, dedos tamborilando de leve na mesa. A outra mão, fria, acariciava o anel no bolso. A voz insistiu:

Está indisposto?

- Não, não. Quero só um copo d’água.

SP., 22/05/2009.Ribeirão Preto – Hotel Stream – às 7:40 da manhã.

Fonte:
http://caioporfiriocarneiro.blogspot.com/

Nilto Maciel (O Copo Azul do Menino Caio)


Havia dias não conseguia ler nada, não por mandriice ou fastio das letras, mas por obra de um vírus não-letal, que me deixou quase cego. E cadê tua Maria Kodama? – perguntarão os desconfiados. Para não lhes dar resposta indecorosa, dou um passo adiante.

O primeiro livro lido por mim após o arremetimento do pequeno ser é de meu amigo Caio Porfírio Carneiro. Não um amigo do peito, porque pouco nos vimos, sobretudo porque moramos em cidades bem distantes uma de outra. Ele sempre em São Paulo (“sempre” é exagero de linguagem), para onde se mudou em 1955. Naquele ano eu não o conhecia ainda, como não conhecia nenhum escritor, a não ser os dos livros célebres, como José de Alencar, Machado de Assis, Alexandre Herculano, todos mortos antes do meu nascimento. Enquanto Caio morava na maior metrópole brasileira, eu sobrevivia em Baturité (até 1961), depois em Fortaleza e Brasília. E nunca o via, embora lesse seus livros. Lia por sabê-lo escritor de alta linhagem, além de ser meu conterrâneo. Vi-o pela vez primeira numa tarde do início do século XXI, em Fortaleza, para onde voltei em 2002. Apresentou-mo (ora, eu já o conhecia dos livros, desde os anos 1970) o jovem Pedro Salgueiro, que conhece de perto quase todos os grandes escritores brasileiros nascidos no século XX. Frequenta ou frequentava casas e escritórios – onde toma ou tomava chá, come ou comia biscoito, cochila ou cochilava nos sofás – de nomes eminentes como Dalton Trevisan, José J.Veiga e Rachel de Queiroz. E eu me encantei com Caio, sua prosa nervosa e galopante. Sua simplicidade, sua simpatia. Recebe jovens e velhos sem pedantice, em todo o tempo a brincar.

Toda essa digressão poderá parecer enfadonha ao leitor. É que quero deixar de lado a pretensão de ser crítico literário. Ou escrevinhadeiro de resenhas ou comentários. Serei apenas um cronista que lê (desculpem-me os cronistas se os ofendo, eu que nem consigo escrever crônica) e se serve das leituras para rabiscar frases engatadas a frases.

E aqui começa de fato a crônica da leitura do novo livro de Caio. O título é simpático, embora simples: O copo azul (Scortecci, São Paulo, 2009). Pequenos contos, de uma a cinco páginas. De tão curtos, são poucos os narradores ou protagonistas com nomes explícitos. Mas não é por serem concisos que os nomes são omitidos. É porque Caio escreve alegorias, parábolas, como em “O ponto”. Caio escreve metáforas. É um filósofo. Quando há nomes, como Maria Viviane, o nome não é do narrador ou do personagem central. Maria Viviane é apenas uma lápide.

Alguns desses contos se aproximam perigosamente da nova tendência do chamado “realismo urbano” e destoam do conjunto, como “E daí” e “Capuz”. (Outros escritores muito conhecidos têm se perdido nessas ruelas, como Dalton Trevisan.) Outros relatos de Caio se abeiram da brincadeira literária, como “Pois é”, construído à maneira de peças teatrais. “A travessia” segue esta linha. O melhor do livro está no pintar a alma do homem, perdidos em si mesmos. Seres angustiados, desiludidos (ou ainda iludidos) com sonhos, amores, novidades. Homens velhos à procura do passado. Ou de mulheres que somem, desaparecem, se esfumam nas ruas.

E o que dizer da linguagem, sempre esmerada, tratada com cuidado de ourives, como se cada frase surgisse após longo alisamento manual, como o fazem os artesãos de pequenas peças de barro? Dedicação de artista, de escultor, de apaixonado pela própria obra. Quem escreve com raiva, ódio, vontade de ferir, maltratar, não alcança a arte. Mas falar disso não cabe aqui, pois muito já foi dito a respeito do que seja arte.

Caio Porfírio Carneiro escreve com arte. Até quando brinca, ele brincalhão por natureza, quase menino ainda aos 80 anos. Escreve certo por linhas retas, sem parecer jornalista. Sua linguagem é clara, como se conduzisse o leitor, lado a lado, em conversa franca, por caminhos estreitos ou largos, sob sol forte ou chuva. Ou ao luar. Não quer enganar o leitor, levá-lo a atalhos que vão dar em abismos. Não se embrenha pelos cipoais ou pela caatinga. Não é um regionalista típico. Também não é discípulo cego dos antigos. Caio é Caio. Pra todo tipo de leitor.

Fortaleza, 15 de agosto de 2009.

Fonte:
http://www.niltomaciel.net.br/node/205

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 7)


Trova do Dia

Se acaso seu filho abusa,
diga-lhe um “não”, que faz bem.
Muita vez uma recusa
salva o futuro de alguém.
A.A. DE ASSIS/PR

Trova Potiguar

Chuvas de estrelas cadentes,
luzindo em toda amplidão,
emergem, sonhos latentes,
secretos, no coração.
FABIANO WANDERLEY/RN

Uma Trova Premiada

2006 > Fortaleza/CE
Tema > RUA

A noite, pela cidade...
coração triste e alma nua,
eu sempre encontro a saudade
me procurando na rua!
ROBERTO RESENDE VILELA/MG

Uma Trova de Ademar

Traz alentos, novas vidas,
muda a cor da plantação;
a chuva sara as feridas
que a seca faz no sertão.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Janela, a bem da verdade,
teu ranger, esse chiado,
são gemidos de saudade
na voz rouca do passado.
ERNESTO TAVARES DE SOUZA/SP

Uma Poesia livre

Jeanette De Cnop/PR
SEGREDO

Foram docemente intermináveis
os momentos em que seu rosto querido
repousou sobre meu peito...
Extasiada,
eu me ausentei tão longamente
de mim mesma,
habitando,
enquanto isso,
algum espaço inimaginável
- provavelmente a morada
da tal felicidade -,
que eu só queria muito
saber agora
o que foi que meu coração
segredou ao seu ouvido!

Estrofe do Dia

Ao sol sair eu senti
O frescor da madrugada
O riacho em enxurrada
Leva meus sonhos a ti
O canto da juriti
Anuncia o novo dia
Meu sertão é alegria
Este lar que Deus me deu
Hoje o dia amanheceu
Com cheiro de poesia.
PETRONILO FILHO/PB

Soneto do Dia

Dorothy Jansson Moretti/SP
T E M P O

O tempo apaga um sonho já desfeito
na aridez de uma vida mal traçada,
uma paixão que se evolou do peito
como essência do frasco evaporada.

Tudo finda, como água já passada
que não retorna nunca mais ao leito:
do tempo que se foi não resta nada,
é verbo no pretérito perfeito.

Mas no incontido caminhar dos anos,
paciente, a transportar os desenganos,
ele ameniza o nosso sofrimento.

Lava que esfria e se transforma em rocha,
se algum desgosto ainda nos arrocha,
o tempo é o óleo bom... do esquecimento.

Fonte:
O Autor

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Neusa Padovani Martins (Dormi!!!)


Recordo-me de minha deliciosa infância no sítio de minha família. As variadas plantações de tudo um pouco me levavam a andar muito por todo o imenso terreno. Num determinado momento lá estava eu no meio do canavial, depois corria entre os pés de laranjas-lima, outra hora estava entre carreiras sem fim dos pés de feijão. Mas o dia mais lembrado por mim é aquele em que cansada adormeci entre os tantos pés de abóboras.

Foi assim que aconteceu: eu cansada de tanto andar resolvi, sem mais nem menos, que já era hora de relaxar. Deitei-me então e adormeci olhando para o imenso céu azul, protegida pela cerca viva de cipestres que faziam sombra em mim. Passado o tempo, nem sei quanto na verdade, ouvi ao longe a voz de meu irmão, nascido antes de mim alguns anos atrás. Rapazinho peralta, era meu amado companheiro de loucas aventuras. Junto ao chamado dele eu ouvi também a voz do nosso caseiro. Ambos aparentavam certa aflição ao gritarem meu nome. Ainda sonada levantei-me cambaleante e em poucos instantes ambos acercavam-se de mim querendo saber o que havia me acontecido. – Dormi ! - respondi eu.

Naquela noite, meu pai me aconselhou, assustando-me, dizendo-me que por aqueles pés de abóbora moravam algumas cobras venenosas. Não se faz necessário que eu diga que nunca mais andei por lá. Mas em alguns outros lugares sim, sempre calçada com imensas galochas de borracha que minha mãe me obrigou a usar, dizendo-me sempre que se sentisse sono deveria voltar correndo para a casa grande para me deitar. Conselho que segui a risco.

Numa destas vezes de sono intenso, não tive dúvidas do que deveria fazer. Corri de volta para a casa grande e depois de lavar bem as mãozinhas minúsculas, pegar minha amada chupeta e meu querido travesseirinho, entrei num dos vários quartos da casa, fechei muito bem a janela, já que sempre gostei de dormir no escuro, fechei a porta com a chave e me acomodei naquela imensa e deliciosa cama macia. Não avisei a ninguém que estaria ali. Apenas deitei-me e adormeci.

Apesar do pesado janelão estar fechado, a luz do sol da tarde teimava em entrar pelas frestas existentes. Elas me incomodavam um pouco porque sempre gostei do escuro, mas tratei de virar-me de frente para a parede para não ver a luz do sol. Pela pesada e imensa porta nada passava porque não havia nenhum rastro de sol por ali. Adormeci rapidamente sem precisar sequer pensar em carneirinhos, como gostava de fazer por pura diversão.

Não sei precisar que horas seriam. Ouvi gritos pela casa e passos de várias pessoas pelo imenso salão que comportava todas as portas do tantos quartos existentes ali. Minha mãe dizia sem parar que uma cobra poderia tê-“la “ mordido e “ela” estaria caída pelas plantações. Ou então “ela” poderia ter escorregado na encosta do ribeirão e a estas horas já deveria ter descido rio abaixo. Ou então “ela” estaria perdida na parte de trás do sítio que ainda não havia sido explorado. Minha mãe só dizia coisas ruins para a tal “ela” que eu não sabia precisar quem seria tal criatura que corria tão grande risco de vida assim.

Ouvi meu pai discutindo com minha mãe sobre o fato dela ter deixado que “ela” andasse sozinha por ali. Queria saber onde minha mãe estava que nada viu. Minha mãe deveria estar desconcertada com o vozeirão nervoso de meu pai que falava rápido na frente de outras pessoas que ali se encontravam, embora eu não soubesse quem eram afinal. Ouvi-a dizer que estava na casa de D. Maria, nossa caseira, aprendendo a bordar.

Olhei para a imensa janela daquele quarto e não vi mais a luz do sol espreitando o ambiente. Mas das frestas da porta enorme vi uma luz me espiando e pensei de onde será que ela estaria vindo afinal. Naqueles dias eu não tinha mais do que sete anos. Menos, talvez. Tampouco conseguia armar em meu pensamento um raciocínio simples que me informasse que o sol se fora e as luzes do salão haviam sido acesas. Eu simplesmente continuava sonada, ainda com vontade de dormir mais.

Até que de repente entendi que estavam me procurando; era a mim que queriam saber o paradeiro. Meu irmão então, meu amado companheiro de brincadeiras teve a intuição de gritar meu nome pela casa várias vezes: - Neguinha, Neguinha... onde você está? E assim foi que apressada levantei-me da cama e me dirigi à porta tentando abri-la e para minha surpresa a chave estava presa. Assustada gritei para meu pai por socorro. A gritaria que se seguiu me deixou apavorada e ouvi então batidas fortes na porta que insistia em pemanecer fechada.

Meu pai então me disse para tentar virar a chave novamente e o obedeci. Então não se sabe como a porta se abriu e eu finalmente saí para a sala. Olhei então para todos aqueles rostos incrédulos que pareciam querer me devorar para depois então mostrarem imenso alívio. Meu irmão feliz correu antes de todos para me abraçar, perguntando-me alegre o que foi que aconteceu. Ainda sonada, respondi-lhe assustada : - Eu dormi !

Não sei qual era meu problema, nem mesmo se eu tinha algum, a verdade é que eu dormia demais e sempre nas mais adversas situações. Como naquela vez em que estávamos meus dois primos, meu irmão, a filha do caseiro e eu brincando de esconde-esconde pela imensa casa. Corríamos pra lá e pra cá sem parar, escondendo-nos e encontarndo-nos. Até que num determinado momento escondida debaixo de uma das imensas camas de um dos quartos, vi-me cansada e com sono. Enfiei então minha mãozinha no bolso do meu macacão e peguei minha adorada chupeta e a coloquei na boca sugando-a sem parar, como se pudesse ali me enroscar no ventre de minha amada mãe. Nem preciso contar que adormeci de imediato só indo acordar quando os gritos do meu irmão e do meu pai ecoaram pelo casarão me fazendo acordar.

Com a maior cara de pau saí debaixo da cama e dei-me com meu pai com cara de poucos amigos esperando minha explicação. Sem ter o que explicar para aquele pai enfezado respondi simplesmente a verdade :- Dormi!

Fonte:
Portal Vânia Diniz