quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Literatura de Cordel (11 Maneiras Diferentes de Escrever um Cordel)


Estas e outras informações sobre as métricas do cordel podem ser encontradas no livro Vertentes e Evolução da Literatura de Cordel.

01 - O INÍCIO

A evolução da literatura de cordel no Brasil não ocorreu de maneira harmoniosa. A oral, precursora da escrita, engatinhou penosamente em busca de forma estrutural. Os primeiros repentistas não tinham qualquer compromisso com a métrica e muito menos com o número de versos para compor as estrofes. Alguns versos alongavam-se inaceitavelmente, outros, demasiado breves. Todavia, o interlocutor respondia rimando a última palavra do seu verso com a última do parceiro, mais ou menos assim:

Repentista A - O cantor que pegá-lo de revés
Com o talento que tenho no meu braço...
Repentista B - Dou-lhe tanto que deixo num bagaço
Só de murro, de soco e ponta-pés.

02 - PARCELA OU VERSO DE QUATRO SÍLABAS

A parcela ou verso de quatro sílabas é o mais curto conhecido na literatura de cordel. A própria palavra não pode ser longa do contrário ela sozinha ultrapassaria os limites da métrica e o verso sairia de pé quebrado. A literatura de cordel por ser lida e ou cantada é muito exigente com questão da métrica. Vejamos uma estrofe de versos de quatro sílabas, ou parcela.

Eu sou judeu
para o duelo
cantar martelo
queria eu
o pau bateu
subiu poeira
aqui na feira
não fica gente
queimo a semente
da bananeira.

Quando os repentistas cantavam parcela (sim, cantavam, porque esta modalidade caiu em desuso), os versos brotavam numa seqüência alucinante, cada um querendo confundir mais rapida mente o oponente. Esta modalidade é pre-galdiniana, não se conhecendo seu autor.

03 - VERSO DE CINCO SÍLABAS

Já a parcela de cinco sílabas é mais recente, e não há registro de sua presença antes de Firmino Teixeira do Amaral, cunhado de Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo. A parcela de cinco sílabas era cantada também em ritmo acelerado, exigindo do repentista, grande rapidez de raciocínio. Na peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, da autoria de Firmino Teixeira do Amaral, encontramos estas estrofes:

Pretinho:
no sertão eu peguei
um cego malcriado
danei-lhe o machado
caiu, eu sangrei
o couro tirei
em regra de escala
espichei numa sala
puxei para um beco
depois dele seco
fiz dele uma mala

Cego:
Negro, és monturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recanto de muro
Negro sem futuro
Perna de tição
Boca de porão
Beiço de gamela
Venta de moela
Moleque ladrão

Estas modalidades, entretanto, não foram as primeiras na literatura de cordel. Ao contrário, ela vieram quase um século depois das primeiras manifestações mais rudimentares que permitiram, inicialmente, as estrofes de quatro versos de sete sílabas.

04 - ESTROFES DE QUATRO VERSOS DE SETE SÍLABAS

O Mergulhão quando canta
Incha a veia do pescoço
Parece um cachorro velho
Quando está roendo osso.

Não tenho medo do homem
Nem do ronco que ele tem
Um besouro também ronca
Vou olhar não é ninguém

A evolução desta modalidade se deu naturalmente. Vejamos a última estrofe de quatro versos acrescida de mais dois, formando a nossa atual e definitiva sextilha:

Meu avô tinha um ditado
meu pai dizia também:
não tenho medo do homem
nem do ronco que ele tem
um besouro também ronca
vou olhar não é ninguém.

05 - SEXTILHAS

Agora, de posse da técnica de fazer sextilhas, e uma vez consagradas pelos autores, esta modalidade passou a ser a mais indicada para os longos poemas romanceados, principalmente a do exemplo acima, com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando órfãos o primeiro, terceiro e quinto versos. É a modalidade mais rica, obrigatória no início de qualquer combate poético, nas longas narrativas e nos folhetos de época. Também muito usadas nas sátiras políticas e sociais. É uma modalidade que apresenta nada menos de cinco estilos: aberto, fechado, solto, corrido e desencontrado. Vamos, pois, aos cinco exemplos:

Aberto:

Felicidade, és um sol
dourando a manhã da vida,
és como um pingo de orvalho
molhando a flor ressequida
és a esperança fagueira
da mocidade florida.

Fechado:

Da inspiração mais pura,
no mais luminoso dia,
porque cordel é cultura
nasceu nossa Academia
o céu da literatura,
a casa da poesia.

Solto:

Não sou rico nem sou pobre
não sou velho nem sou moço
não sou ouro nem sou cobre
sou feito de carne e osso
sou ligeiro como o gato
corro mais do que o vento.

Corrido:

Sou poeta repentista
Foi Deus quem me fez artista
Ninguém toma o meu fadário
O meu valor é antigo
Morrendo eu levo comigo
E ninguém faz inventário

Desencontrado:

Meu pai foi homem de bem
Honesto e trabalhador
Nunca negou um favor
Ao semelhante, também
Nunca falou de ninguém
Era um homem de valor.

06 - SETILHAS

Uma prova de que as setilhas são uma modalidade relativamente recente está na ausência quase completa delas na grande produção de Leandro Gomes de Barros. Sim, porque pela beleza rítmica que essas estrofes oferecem ao declamador, os grandes poetas não conseguiram fugir à tentação de produzi-las. Para alguns, as setilhas, estrofes de sete versos de sete sílabas, foram criadas por José Galdino da Silva Duda, 1866 - 1931. A verdade é que o autor mais rico nessas composições, talvez por se tratar do maior humorista da literatura, de cordel, foi José Pacheco da Rocha, 1890 - 1954. No poema A CHEGADA DE LAMPIÃO NO INFERNO, do inventivo poeta pernambucano, encontram estas estrofes:

Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
- Quem é você, Cavalheiro -
- Moleque, sou cangaceiro -
Lampião lhe respondeu.

- Não senhor - Satanás, disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora
e já estou com vontade
de mandar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.

Moleque não, sou vigia
e não sou o seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é primeiro
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.

Excelente para ser cantada nas reuniões festivas ou nas feiras, esta modalidade é, ainda hoje, muito usada pelos cordelistas. Esta modalidade é, também, usada em vários estilos de mourão, que pode ser cantado em seis, sete, oito e dez versos de sete sílabas. Exemplos:

Cantador A
- Eu sou maior do que Deus
maior do que Deus eu sou

Cantador B
- Você diz que não se engana
mas agora se enganou

Cantador A
- Eu não estou enganado
eu sou maior no pecado
porque Deus nunca pecou.

Ou com todos os versos rimados, a exemplo das sextilhas explicadas antes:

Cantador A -
Este verso não é seu
você tomou emprestado

Cantador B -
Não reclame o verso meu
que é certo e metrificado

Cantador A -
Esse verso é de Noberto
Se fosse seu estava certo
como não é está errado.

07 - OITO PÉS DE QUADRÃO OU OITAVAS

Os oito pés de quadrão, ou simplesmente oitavas, são estrofes de oito versos de sete sílabas. A diferença dessas estrofes de cunho popular para as de linha clássica é apenas a disposição das rimas. Vejam como o primeiro e o quinto versos desta oitava de Casimiro de Abreu (1837 - 1860) são órfãos:

Como são belos os dias
Do despontar da existência
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O Céu - Um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida um hino de amor.

Na estrofe popular aparecem os primeiros três versos rimados entre si; também o quinto, o sexto e o sétimo, e finalmente o quarto com o último, não havendo, portanto um único verso órfão. Assim:

Diga Deus Onipotente
Se é você, realmente
Que autoriza, que consente
No meu sertão tanta dor
Se o povo imerso no lodo
apregoa com denodo
que seu coração é todo
De luz, de paz e de amor.

08 - DÉCIMAS

As décimas, dez versos de sete sílabas, são, desde sua criação no limiar do nosso século, as mais usadas pelos poetas de bancada e pelos repentistas. Excelentes para glosar motes, esta modalidade só perde para as sextilhas, especialmente escolhidas para narrativas de longo fôlego. Ainda assim, entre muitos exemplos, as décimas foram escolhidas por Leandro Gomes de Barros para compor o longo poema épico de cavalaria A BATALHA DE OLIVEIROS COM FERRABRAZ, baseado na obra do imperador francês Carlos Magno:

Eram doze cavalheiros
Homens muito valorosos
Destemidos, corajosos
Entre todos os Guerreiros
Como bem fosse Oliveiros
um dos pares de fiança
Que sua perseverança
Venceu todos os infiéis
Eram uns leões cruéis
Os doze pares de França.

09 - MARTELO AGALOPADO

O Martelo agalopado, estrofe dez versos de dez sílabas, é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. Criada pelo professor Jaime Pedro Martelo (1665 - 1727), as martelianas não tinham, como o nosso martelo agalopado, compromisso com o número de versos para a composição das estrofes. Alongava-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. Como exem plo, vejamos estes alexandrinos

"Visitando Deus a Adão no Paraíso
achou-o triste por viver no abandono,
fê-lo dormir logo um pesado sono
e lhe arrancou uma costela, de improviso
estando fresca ficou Deus indeciso
e a pôs ao Sol para secar um momento
mas por causa, talvez dum esquecimento
chegou um cachorro e a carregou,
nessa hora furioso Deus ficou
com a grande ousadia do animal
que lhe furtara o bom material
feito para a construção da mulher,
estou certo, acredite quem quiser
eu não sou mentiroso nem vilão,
nessa hora correu Deus atrás do cão
e não podendo alcançar-lhe e dá-lhe cabo
cortou-lhe simplesmente o meio rabo
e enquanto Adão estava na trevas
Deus pegou o rabo do cão e fez a Eva."

Com tamanha irresponsabilidade, totalmente inaceitável na literatura de cordel, o estilo mergulhou, desde o desaparecimento do professor Jaime Pedro Martelo em 1727, em completo esquecimento, até que em 1898, José Galdino da Silva Duda dava à luz feição definitiva ao nosso atual martelo agalopado, tão querido quanto lindo. Pedro Bandeira não nos deixa mentir:

Admiro demais o ser humano
que é gerado num ventre feminino
envolvido nas dobras do destino
e calibrado nas leis do Soberano
quando faltam três meses para um ano
a mãe pega a sentir uma moleza
entre gritos lamúrias e esperteza
nasce o homem e aos poucos vai crescendo
e quando aprende a falar já é dizendo:
quanto é grande o poder da Natureza.

Há, também, o martelo de seis versos, como sempre, refinado, conforme veremos nesta estrofe:

Tenho agora um martelo de dez quinas
fabricado por mãos misteriosas
enfeitado de pedras cristalinas
das mais raras, bastante preciosas,
foi achado nas águas saturninas
pelas musas do céu, filhas ditosas.

10 - GALOPE À BEIRA MAR

Com versos de onze sílabas, portanto mais longos do que os de martelo agalopado, são os de galope à beira mar, como estes da autoria de Joaquim Filho:

Falei do sopapo das águas barrentas
de uma cigana de corpo bem feito
da Lua, bonita brilhando no leito
da escuridão das nuvens cinzentas
do eco do grande furor das tormentas
da água da chuva que vem pra molhar
do baile das ondas, que lindo bailar
da areia branca, da cor de cambraia
da bela paisagem na beira da praia
assim é galope na beira do mar.

Logicamente que há o galope alagoano, à feição de martelo agalopado, com dez versos de dez sílabas cuja diferença única é a obrigatoriedade do mote: "Nos dez pés de galope alagoano".

11 - MEIA QUADRA

Outra interessante modalidade é a Meia Quadra ou versos de quinze sílabas. Não sabemos porque se convencionou chamar de meia quadra, quando poderia, muito bem, se chamar de quadra e meia ou até de quadra dupla. As rimas são emparelhadas e os versos, assim compostos:

Quando eu disser dado é dedo você diga dedo é dado
Quando eu disser gado é boi você diga boi é gado
Quando eu disser lado é banda você diga banda é lado
Quando eu disser pão é massa você diga massa é pão

Quando eu disser não é sim você diga sim é não
Quando eu disser veia é sangue você diga sangue é veia
Quando eu disser meia quadra você diga quadra e meia
Quando eu disser quadra e meia você diga meio quadrão.

A classificação da literatura de cordel há sido objeto da preocupação dos chamados iniciados, pesquisadores e estudiosos. As classificações mais conhecidas são a francesa de Robert Mandrou, a espanhola de Julio Caro Baroja, as brasileiras de Ariano Suassuna, Cavalcanti Proença, Orígenes Lessa, Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo. Mas a classificação autenticamente popular nasceu da boca dos próprios poetas.

No limiar do presente século, quando já brilhava intensamente à luz de Leandro Gomes de Barros, fluía abundante o estro de Silvino Pirauá e jorrava preciosa a veia poética de José Galdino da Silva Duda. Esses enviados especiais passaram a dominar com facilidade a rima escorregadia, amoldando, também, no corpo da estrofe o verso rebelde. Era o início de uma literatura tipicamente nordestina e por extensão, brasileira, não havendo mais, nos nossos dias, qualquer vestígio da herança peninsular.

Atualmente a literatura de cordel é escrita em composições que vão desde os versos de quatro ou cinco sílabas ao grande alexandrino. Até mes mo os princípios conservadores defendidos pelos nossos autores ortodoxos referem-se a uma tradição brasileira e não portuguesa ou espanhola. Os textos dos autores contemporâneos, apresentam um cuidado especial com a uniformização ortográfica, com o primor das rimas, com a beleza rítmica e com a preciosidade sonora.

Fonte:
Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Erasmo Pilotto: o Educador Paranaense


artigo de Denise Grein Santos

Se você sorri quando digo uma coisa sagrada, eu não me irrito, passa a ser um problema saber como fazer você chorar diante das coisas sagradas.
Graal

As palavras são do próprio Erasmo e praticamente resumem sua vida. A de um professor imerso na missão de educar, consciente de sua ação, vendo cada aluno em sua individualidade, destacando os aspectos a serem desenvolvidos.

Os que tiveram o privilégio de tê-lo como professor perceberam logo o caráter incomum do Mestre e sua dedicação constante. Ele comentou, certa vez, que após um dia de aula costumava, à noite, meditar e avaliar o trabalho do dia, detendo-se em cada aluno, questionando-se como contribuir para seu desenvolvimento. Para ele a educação era integral. Não se restringia a conteúdos programáticos e horários escolares, abrangia tudo que se referisse à formação do homem.

Uma de suas ex-alunas, Aliete Pina de Oliveira, tentando defini-lo disse: "Erasmo é inteiro; porta o discernimento do filósofo puro, a sensibilidade do artista, a humanidade do bom, o serviço do cidadão prestante e a alegria de criar e conduzir um adolescente. E, como, estes, é capaz de sonhar e maravilhar-se".

É essa inteireza que o faz procurado diariamente por professores de diversos níveis, artistas, músicos, estudiosos de todas as áreas. A todos atende, ouve, ajuda. Discorre sobre o assunto solicitado. Apresenta os pressupostos básicos, a fundamentação teórica, aprofunda o tema, critica, anota e emite sugestões práticas. Implícita à informação, há uma pedagogia subjacente a de melhor entender o outro.

A pessoa sai com uma orientação sólida e bem estruturada e ele retorna aos estudos que generosamente abandonara para auxiliar quem o procurara.

Quando se fala de sua imensa biblioteca, que ocupa 75% de sua casa, conta que leu tudo. Tudo lido, meditado e comentado. O quadro-negro registra alguns tópicos dessa reflexão constante. Pensamentos de Goethe, Nietzche, Tolstoi, Tagore, Schiller, Spinoza, ou de outro pensador em estudo no momento, juntamente com os livros espalhados pelo chão, são evidências de aprimoramento permanente.

Aos dezesseis anos decidiu ser professor. Opção séria e aprofundada. Empenhou-se na tarefa e a praticou a vida inteira, tendo presente o ideal de Spinoza e Goethe definido no misto de alegria e perfeição. Eis a síntese de Erasmo: tudo por inteiro, com perfeição, imerso no sentido puro da alegria.

Palmilhemos sua vida e iremos encontrar sempre essas qualidades. Primeiro, professor de classe. Lecionou na Escola Normal de Paranaguá, no Grupo Escolar Professor Brandão, na Escola de Professores de Curitiba; como "Assistente Técnico" sua participação foi marcante. Pregou a escola viva e conseguiu fazer com que os alunos vivessem a escola, desenvolvendo neles o gosto pelas artes, poesia e música. É a época áurea da Escola de Professores. Seu espírito de liderança contagiou os colegas que se entusiasmaram pelo ato de educar. Conquanto não se falasse em educação para superdotados ele já há exercia há quarenta anos. Dispôs-se a despertar em cada aluno o que tivesse de seu, a levá-lo a estruturar "seu plano pessoal de vida, a liberdade de escolha, a vida inventada" (Obras). Incentivou a criatividade de seus discípulos, preparando-os para levar aos bairros operários espetáculos de alto nível, ampliando a função da escola, colocando-a a serviço da comunidade.

Entretanto sua ação não pára aí. Funda o Instituto Pestalozzi, a Associação de Estudos Pedagógicos, onde edita excelente revista, com sugestões para o enriquecimento da prática educacional. Participou da criação da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e do Salão Paranaense. Secretário de Educação e Cultura percorreu o estado propondo soluções diversificadas e compatíveis com a realidade de cada situação.

Foi co-fundador de "Joaquim", revista mensal de artes, dedicado ao homem, mais especificamente "a todos os joaquins do Brasil". Aí igualmente valoriza o talento local, entrevistando e enaltecendo o trabalho dos artistas paranaenses.

Na plenitude de seu trabalho cabe por em relevo a manifestação de seu pensamento eclético e profundo contido em seus artigos e observações sobre o ensino no Paraná, na criação de um método de alfabetização para suprir a escassa escolaridade das professoras de escolas isoladas e na mais alta filosofia educacional, exposta nos minuciosos e notáveis estudos sobre diversos pensadores em sua estreita correlação com a educação. Além disso, escreveu sobre Turin, de Bona, Emiliano e Mallarmé, evidenciando sua preocupação de vincular a vida à arte e à educação.

Por sua inteireza é o grande educador paranaense. Rousseau, Montaigne, Pestalozzi e outros não alcançaram, em vida, a justa valorização. Erasmo também. Embora reverenciado em nossos círculos intelectuais não teve, ainda, bem como sua obra, a divulgação e o reconhecimento que merece. É inegável que ele próprio, por seu modo de vida, contribui para isso. Não obstante sempre pronto a receber e ajudar quem o procura mostra-se avesso às homenagens e honrarias. Recusa, sistematicamente, convites, esquivando-se de comparecer a eventos culturais que visam promovê-lo. Prefere a privacidade de sua casa, com seus livros, suas telas e sua música.

Orgulhoso de sua origem, escolheu dedicar sua vida, ação e obra à terra natal, com o sentido da perfeição definido por Goethe e por ele praticado: "se queres atingir o infinito, busca o finito em todas as suas direções".
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Artigo publicado na Gazeta do Povo - 24/ 05/ 1989 - 9a p.

Fontes:
http://www.artes.ufpr.br/erasmopilotto/depoimentos.htm
Foto = http:// www.ieppepoficial.kit.net/erasmopilotto.htm

Erasmo Pilotto (1910 – 1992)


Erasmo Pilotto nasceu em Rebouças, no Paraná no dia 21 de outubro de 1910. Seu pai era telegrafista e sua mãe, professora primária. Fez o curso primário em várias escolas públicas de Curitiba, como: Grupo Escolar Xavier da Silva, Grupo 19 de dezembro, e na Escola de Júlio Teodorico Guimarães instalada onde hoje funciona a escola de Belas Artes, na rua Emiliano Perneta. Fez o Curso secundário no Ginásio Paranaense . O ginásio oferecia excelentes oportunidades para o aprimoramento cultural. Não havia promoções por média. Na época das provas, eram examinados dez alunos diariamente: prova escrita pela manhã e oral à tarde, sob a fiscalização de três examinadores.

Erasmo considerava-se um aluno médio. Criou um sistema próprio de estudo: antes da aula estudava a matéria a ser prelecionada, para melhor compreender e aprender. Concluído o curso ginasial, pensava em cursar Engenharia. Menino ainda, embarca, sozinho para o Rio e Janeiro, arranja emprego para manter-se e na época de matricular-se na Escola Politécnica, se depara com sua primeira grande frustração: para o ingresso na Faculdade de engenharia passara-se a exigir latim, até então só exigido no Curso de Direito. Não estudara essa matéria e volta à Curitiba, considerando esse tempo, de ter de viver e agir sozinho na cidade grande uma valiosa experiência para sua vida. Ao tempo de seu curso ginasial, com mais três colegas forma uma patrulha de escoteiros isolados, onde estudam e praticam o que lêem e aprendem sobre escotismo. Considera esse período importante na sua formação moral.

Seu pai deixara uma série de livros mas dois foram marcantes em sua formação: O Petit Larousse e uma Bíblia onde em sua última página havia registrado a hora e o dia de seu nascimento.

Perdeu o pai ainda bem pequeno . Foi criado pela mãe que soube enaltecer a imagem do pai, comunicar-lhe o amor e o devotamento ao estudo e à Escola.

Em 1927 matriculou-se na Escola Normal de Curitiba. Esta por sua vez, não se coadunava com os anseios das modernas técnicas pedagógicas da época, tornando o padrão de ensino da Escola Normal, praticamente nulo, principalmente se comparado com o que lhe oferecera o ginásio. Funda o Centro de Cultura Filosófica e com os colegas de normal, o Centro de Cultura Pedagógica.

Caíram-lhes nas mãos, nesse tempo, os primeiros livros sobre a Escola Nova. Iniciou, um movimento de rebeldia, pregando a Escola Nova, fundamentada em obras pedagógicas que eram avidamente "devoradas" pelo grupo.Concluindo a escola Normal submeteu-se a concurso para ingressar na carreira de Professor Primário do Estado. Ao finalizar a prova foi imediatamente convidado para lecionar a cadeira de Português na Escola Normal de Paranaguá. Tinha então dezessete anos. De volta a Curitiba permaneceu algum tempo como Diretor do Grupo Brandão. Nessa época conheceu Anita Camargo que exercia as funções de professora, com que veio a se casar no dia 22 de abril de 1933. Em Ponta Grossa exerceu o cargo de Diretor da Escola Normal e continuou lecionando Português.

Posteriormente prestou concurso para a cadeira de Pedagogia e logo após transferiu-se para Curitiba para lecionar essa matéria na Escola Normal. Em 1934 é nomeado para reger, em comissão a cadeira de Psicologia, Biológica Aplicada à Educação e História da Educação Normal secundária de Curitiba. Catedrático das referidas cadeiras, concursado em primeiro lugar.

Nomeado Assistente Técnico da Escola Normal de Curitiba, imprimiu ao ensino orientação segura, tornando-a bastante dinâmica. Estabeleceu para as cadeiras do currículo escolar um rodízio semestral dos professores, objetivando a sua evolução cultural em todas as áreas. Ao mesmo tempo que orientava e incentivava os professores, procurava estimular os alunos com os quais, vencendo inúmeras dificuldades fundou a "VOZ DA ESCOLA", jornal escolar .Sua popularidade entre os alunos e a admiração que estes lhe devotavam podem ser evidenciados pelo carinho com que anos consecutivos foi convidado para paraninfar as turmas que concluíam o curso de professores.

Em abril de 1943 cria o Instituto Pestalozzi, a primeira escola que o Paraná teve, dentro de normas metodológicas avançadas e modernas... Foi sua primeira sede a casa, ainda hoje existente na Rua comendador Araújo ao lado do templo protestante. O emblema da escola, executado por Guido Viaro, mostra uma criança brincando e construindo figuras com cubos... No segundo plano erguiam-se suntuosas catedrais... "Ad templa erigenda exeo" (Eu saio para construir catedrais) lia-se no dístico aos pés da figura.

À tarde no mesmo instituto funcionava um curso de extensão cultural para as alunas do Curso Normal. Manoel Ribas, governador do estado, entusiasmado com o Instituto cedeu uma propriedade na rua visconde de Guarapuava, para onde foi transferida a Escola ao mesmo tempo que se criava ali a primeira escola de Surdos Mudos do Paraná.

Lamentavelmente, com mudanças verificadas no governo e a morte de Manoel Ribas, não podendo superar uma série de dificuldades, a escola encerrou definitivamente suas atividades. Do Instituto Pestalozzi Erasmo só guardou, o "Dunga", doado, entre outros de seus pertences ao Museu Paranaense, após a sua morte, para o espaço, que recebeu o nome do mestre. Em "Prática da Escola Serena", obra de notável atualidade, embora publicada há 40 anos, o Professor Erasmo nos dá os fundamentos filosóficos e metodológicos do Intituto Pestalozzi.

Em 1944 ajuda o professor Raul Rodrigues Gomes a fundar o Grupo Editorial Renascimento do Paraná (GERPA), publicando no ano seguinte, Emiliano.Em 1946 ajuda Dalton Trevisan a fundar a revista Joaquim.Em 1949, assumiu a Secretaria de Educação e Cultura. Como Secretário de Educação, visitou várias escolas em todo o Paraná, inclusive escolas isoladas, ouvindo e orientando professores. O trabalho nessa época desenvolvido está contido em seu livro " Educação é Direito de Todos". Alguns anos mais tarde reuniu sobre sua orientação um grupo de professores e criou a "Associação Paranaense de Estudos Pedagógicos" que realizou pesquisas educacionais em diversas áreas. Inúmeros e valiosos trabalhos foram produzidos nessa época. A maioria deles pode ser encontrada em várias monografias e em diversos números da "Revista de Pedagogia", publicados por aquela Associação.

Aposentado de suas atividades públicas, nunca deixou de exercer atividades no magistério; na escola de Surdos e Mudos, no Centro Israelita, na Escola Normal do Colégio Novo Ateneu etc, de pesquisar e estudar incessantemente.

Esteve por duas vezes na Europa, principalmente na França, com objetivos exclusivamente culturais.

Devotado inteiramente à cultura, sempre disposto a ajudar, respondia pequenas consultas sobre os mais diversos assuntos com verdadeiras aulas, cedendo livros de sua volumosa biblioteca, sua casa na Rua Ângelo Sampaio, se transformou na Meca da cultura paranaense.

Em 1973 no dia do professor, recebeu homenagem em sua residência, sendo saudado pelo Secretário de Educação em nome do Governo do Estado por ter sido o seu nome escolhido "para simbolizar o mestre paranaense", em agradecimento por tudo o que fez pela causa educacional do Paraná.

Em 1982 recebe da Universidade Federal do Paraná o título de Professor Honoris Causa como reconhecimento de sua importância e de sua valiosa contribuição na educação do Paraná.

Além das obras já citadas, escreveu: João Turin -1953, A Educação no Paraná-1954, Problemas abertos no Estudo dos Sistemas Escolares para o Brasil - 1958, Situações do Desenvolvimento Brasileiro e Educação -1959, Organização e Metodologia do Ensino na Primeira Série Primária nos países em desenvolvimento -1964, Graal, Fatos e Expectativas na Educação na América Latina -1965, Problemas de Educação 1966, Que se exalte em cada Mestre um Sonho! 1967, Para um Humanismo Individualista, Theodoro De Bona-1968, Dario Vellozo -1969, Mallarmé, Obras -V.1-1973, Obras -V.2 - 1976, Informe sobre Treinamento de Mestres e Alfabetização -1980, O Mural Redondo, 1987.

Faleceu em maio de 1992. Sua Biblioteca foi doada inteiramente à Universidade Federal do Paraná.

Modesto, tímido, extremamente sensível, era uma sinceridade a toda prova.

Em que pese sua sobriedade aparente, aqueles que o conheceram mais de perto e gozaram de sua afabilidade natural, sabem-no uma criatura extremamente alegre, com notável senso de humor, que amava intensamente a vida e respeitava profundamente o sentimento e a personalidade dos outros, o que demonstrava sempre, através da filosofia humanística que adotava , pregava e vivenciava em todas as oportunidades que a vida lhe ofereceu.

No dia 10 de novembro de 2004, por iniciativa de Anita Pilotto e um grupo de ex alunas, com o apoio das Secretarias de Educação do Estado e do Município, referendada pela Universidade Federal do Paraná, é realizado o lançamento do livro: "Autobiografia" de Erasmo Pilotto, o último presente deixado por ele , como contribuição à cultura e à educação do Paraná.

FONTE:
www.ieppepoficial.kit.net/erasmopilotto.htm

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Anair Weirich (Album de Poemas)

Pintura de Hans Arp (1886 - 1966)
PACIÊNCIA

Quem já viu algo funcionar
aos tapas e empurrões?
Nada mesmo dá certo,
quando é feito aos trambolhões!

Mas, se formos com jeitinho,
(como diz sempre a ciência...)
com amor e com carinho
tudo conseguiremos!

- Isso se chama PACIENCIA!

(do livro infantil Doce Jeito de Ser Criança)


A EMOÇÃO DE LER

- Passarinho, passarinho!
Eu também queria voar
E conhecer outros mundos...
Mas não tenho asas, nem dinheiro.

-Menininho, menininho!
Você deixe de bobagem.
Quem lê viaja ao mundo inteiro,
Sem ter que pagar passagem.

AMIGOS

Amigos vêm e vão.
Amigos são uma nação
de corações leais.
Amigos são demais!
Amigos são trigos ao sol.
São cama e lençol
para deitar-se tranqüilo.
Amigos são aquilo
de tudo o que contas.
Amigos são contas
de um colar de diamantes.
São vogais e consoantes
do alfabeto do amor.
Amigos são abrigos
da maldade e da dor.
São a segurança das pontes,
e a água das fontes!
Amigos são artigos de luxo.
Amigos são bruxos
da distância e do tempo.
Amigos são o elemento
que conta na hora H...
Amigos são maná!
São faróis no nevoeiro.
São arco e arqueiro
na precisão do alvo.
Amigos estão a salvo
das tempestades da vida.
Amigos são guarida
nas horas incautas.
Amigos são flautas
que anunciam companheirismo.
Amigos são o muro seguro
que nos protege do abismo.

(Do livro Melodias do Coração 2008)

LIMIAR DO TEMPO

Amar é...
Te encontrar,
como agora!
Só que na velhice,
de bengala,
e ainda assim
sentir a mesma emoção
que estou sentindo
nesta hora!

(Do livro Poesias do Cotidiano - 1997)

O EXEMPLO DO PIÃO

Se há uma coisa que fascina e encanta,
É ver um pião enquanto dança!
E quando estamos no nosso limite,
Olhemos o pião que rodopia,
Como se fosse um convite!

Sejamos inimigos da ociosidade.
Façamos tudo com entusiasmo
E até estardalhaço..
Viva a escandalosidade
Para sair do marasmo
E não perder o compasso.

O pião tem uma dança
Que assusta e que fascina,
Pelo espetáculo que ensina
A nos mantermos em pé
Pelo impulso.
Para o pião é insulto
Entregar-se antes
Do tempo determinado.

Mas quando fica cansado,
Nos mostra algo assustador:
Traça um círculo ao seu redor
E dentro do próprio círculo
Então cai.
Fim! Nada mais resta.
Tudo aquilo que era festa
Agora é gota que se esvai.

Tal qual o pião,
Estamos em pé,
Se estamos em movimento.
Nossa base é nossa fé,
Nossa força é o sentimento!

Tomara que na dança da vida
Haja sempre uma base plana
Para nosso pião interior girar,
Impulsionado pela força do trabalho
E pelo poder de sonhar!

(Do livro Melodias do Coração 2008)

INCÓGNITA

Moro numa rua sem saída.
A única medida para sair dela
é dando meia-volta
até chegar na esquina.
Nesta rua tem menina
brincando de sol.
Tem até bicicleta
que passeia sozinha.
Tem Luluzinha de estimação,
tem bola, tem boneca, tem canção.

Tem gato que passeia no muro
e toma sol no telhado.
Minha rua é um achado!

Tem noite de luar
e tem verso com rima.
Quem disse que quero
chegar na esquina?

Moro numa rua sem saída
que tem porta e tem janela.
Mas... quem disse
que quero sair dela?

Minha rua tem até Mercearia.
Tem linda pradaria
e tem jardim.
Quem quer sair
de uma rua assim?

(Do livro Melodias do Coração 2008)

EMBEVECIMENTO
(Homenagem a Chapecó - SC)

Sinto que conheço cada grão
da terra que compõe este chão.
Adivinho a bala do papel
que o vento leva,
e sinto que conheço seu sabor.
Conheço e sinto o perfume
de cada pétala de flor
que brota nos canteiros.
E de cada caminheiro
conheço seu sorriso
e seu semblante.
De cada margarida,
sua labuta constante.
De cada sabiá
saltitando na praça,
eu bebo seu momento.
E de cada turista
seu encantamento.
Em cada badalada
dos sinos na catedral,
é entoado um hino sem igual.
Cada canto da minha cidade
encanta de lirismo meu viver,
enternece e aquece todo meu ser.
Luzes noturnas estribilham canções
e da torre da igreja emanam orações!
Com a fronte erguida
vejo esperança e vejo vida.
Dos desenganos quase esqueço,
pois em cada melodia
que roda nas estações,
eu sinto que amo e que conheço
(Do livro Melodias do Coração 2008, homenagem a Chapecó - SC
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Nota sobre o pintor:
Hans Arp (1886 - 1966)
Hans Peter Wilhem Arp (Estrasburgo, 16 de Setembro de 1886 — 7 de Junho de 1966) foi um pintor e poeta alemão, naturalizado francês. Nasceu na Alsácia quando esta estava sobre domínio alemão. Em 1926 adquiriu a nacionalidade francesa e passou a usar o nome Jean Arp.
O pai de Arp era um empresário de origem alemã, dono de uma fábrica de cigarros e a sua mãe era de origem francesa, motivo pelo qual ele, desde muito cedo, falava fluentemente as duas línguas.
Em 1900 inscreveu-se na Escola de Artes e Ofícios em Estrasburgo, onde nunca chegou a ser bom aluno, pois não se interessava pelas matérias curriculares. Durante o ano de 1901 teve aulas de desenho com Georges Ritleng. Arp que era um admirador da poesia alemã, em 1903 publicou algumas obras literárias.
Em 1907 inscreveu-se na Academia Julian. Em 1911, juntamente com Oscar Lüthy e Walter Helbig, foi o fundador do grupo de artistas suiços, designado por Der Moderne Bund. Em 1912 conhece Kandinsky em Munique, e em 1914 dá-se com August Macke e Max Ernst, em Colónia.
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, foi viver para Zurique, em virtude de possuir nacionalidade alemã. Nesse ano casou com Sophie Taeuber, que veio a falecer, em 1943, enquanto ocorria a Segunda Guerra Mundial. No ano de 1920, Arp participa numa exposição dadaístita, em Colónia, com Baargeld e Max Ernst. Conhece Breton, e colabora em diversas publicações de conteúdo vanguardista, com poemas e collages. Em 1925, Arp junta-se a um grupo de surrealistas saídos do movimento dada, e expõe em Paris.
Versátil na sua obra, a década de 1930 é dedicada a trabalhos na perspectiva da abstracção geométrica, collages e grafismos com relevo. Na década seguinte, Arp, sempre em mudança, centra o seu trabalho na escultura.
Em 1959, casou em segundas núpcias com Marguerite Hagenbach. A sua obra atinge a fama nos anos 1950 e 60, quando expõe em Nova Iorque (1958) e Paris (1962).

Fontes:
http://anairweirich.blogspot.com/
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Arp

Anair Weirich (A Escritora em Xeque)



Anair Weirich é uma guerreira. Há mais de quinze anos na estrada, ela tornou-se bastante conhecida em Santa Catarina pela sua incansável rotina de viagens pelo estado comercializando livros - tanto seus quanto de colegas escritores. Participante de inúmeras feiras, divulgadora da cultura literária catarinense, Anair, abaixo, fala um pouco sobre sua vida, suas estratégias para venda de suas obras, suas dívidas nas gráficas, suas andanças e histórias....

*Nome:

Anair Weirich

*Data e local de nascimento:

02-11-51 - Chapecó - SC

*Fale um pouco de sua vida e carreira.

A poesia é a grande paixão da minha vida. Prosa é complemento, mensagem é complemento... E a única coisa que nunca deixo de pedir a Deus todas as noites, é saúde, por que sem ela eu não poderia andar tudo que ando o dia todo, visitando escolas, empresas e livrarias, vendendo meus livros, e quando estou de carro com meu marido, vendendo os livros de autores da terra também...

*Como é ser uma escritora praticamente independente hoje no sul do Brasil?

É viver endividada em gráficas. Estou sempre devendo, mas estou sempre mandando fazer. E ver um olhar brilhando quando alguém ouve ou lê minha poesia, para mim, é mais pagamento do que o dinheiro que me dão pelo livro. Mas acabo de passar pela experiencia de ter um livro saído por editora. Gostei porque meu nome foi pra mais de 8.000 endereços, junto com o convite. E gostei porque a Hemisfério Sul é um nome respeitável, e porque minha amiga Urda, sua proprietária, - ela é a autora mais conhecida de SC- é uma pessoa maravilhosa e fizemos uma ótima parceria.

*O que lhe levou a viajar tanto para vender seus livros?

Depois de nove anos, meu primeiro livro saiu - 1995 - e o que poderia vender na minha cidade, já tinha vendido. O que faria com o resto? Meu marido, - grande incentivador do meu trabalho - sugeriu viajar e vender, dando palestras em escolas e eventos. E deu certo, mais do que certo. Cada carta que recebo dos meus leitores, é um incentivo para continuar. Tudo tem sido muito incentivador.

*Conte algumas histórias marcantes que você já viveu na estrada ou em cidades que esteve?

Foram tantas... tantas. Bom, numa viagem de volta de Laranjeiras do Sul PR, para Chapecó, eu vi que o cobrardor olhava muito para mim, mas esqueci disso e adormeci. Quando cheguei, ele disse: Moça... a renda preta da tua calcinha vermelha está aparecendo....e não é que meu zíper estava aberto o tempo todo, enquanto eu dormia?

*Como é a recepção das pessoas em geral? Já ouvi pessoas falando mal e considerando “coitados” aqueles que vendem livros porta a porta. O que acha disso?

Os cultos, me recebem bem, e me incentivam e compram. Os que não tem cultura, me recebem com a cara amarrada e eu quebro o gelo. Esse é o desafio que mais gosto. Eu recito uma poesia, derreto o gelo e geralmente compram. E nunca enfiei um livro goela abaixo nesses 14 anos.

*Como você vê a literatura hoje aqui no sul?

É difícil, mas quanto mais difícil, mais gosto. Tudo que é fácil não tem graça.

*Você tem estratégias especiais para vender seus livros. Marcadores ecológicos, por exemplo. Fale um pouco sobre isso.

De novo meu marido entra na história. Ele tira o invólucro das sementes das árvores de Jacarandá Mimoso, lixa, fura, pinta e monta marcadores ecológicos que viram colar de pescoço. E também ele perfuma meus livros com óleo puro de rosas, que custa quatrocentos reais o litro. Ele pega um conta gostas e perfuma de um em um. Quero que cada um, ao ver meu nome nos livros, lembrem do cheiro de rosas...

*Você vende livros de outros escritores também? Como isso funciona? Eles lhe procuram e lhe dão seus livros para que você faça as vendas? Qual a sua percentagem de ganho por livro vendido?

Bom, só levo autores da terra, quando vou em algum evento ou estou de carro, com meu marido. Quando estou de onibus, não dá... Mas é um acervo flutuante, um dia acaba um, outro dia nasce outro. Alguém tem que se doer pelos autores regionais. Tem muito café no bule escondido em armários e gavetas.

*Você tem um sebo também? Tem funcionários trabalhando pra você ou você consegue trabalhar nele de vez em quando, já que muito viaja?

Não, o Sebo meu marido e eu demos pra nossa filha de 21 anos, estudante de biologia. A família toda é apaixonada por livros. E quando eu não aguentar mais viajar, quero o meu Sebo, pra estar no meu habitat natural.

*Quantos livros em media você vende de cada novo livro que publica?

O "Mensagens para um dia melhor", vendi em torno de duzentos mil de 1999 pra cá, e o Livro Ludico das cores, por se tratar de um livro diferente, vai ser minha aposentadoria, nunca mais posso ficar sem ele. O meu primeiro de poesia, vendi oito mil, mil ex. cada edição. Alguns outros, eu fiz menos. E amo criança e poesia infantil, amo meeeesmo!

*200.000 (duzentos mil) livros em 11 anos? Isso é possível para um autor independente? Calculando por cima, para que isso aconteça, (4015 dias em 11 anos) é necessário que você tenha vendido 50 livros por dia aproximadamente, o que também lhe daria muito dinheiro, a ponto de poder viver só de literatura - o que você diz nesta mesma entrevista que não dá. Seu cálculo está realmente certo? Em que você se baseia para dar este número?

Tá, vamos lá: É que quando ele nasceu, - o Mensagens para um dia melhor, - em 99, foi no auge da venda desse estilo de livrinhos. Hoje já não se vende tanto. Tinha escolas e prefeituras, nos primeiros anos, que eu vendia 200, 300 ou até mais por dia, para o dia do Professor, para festas de final de ano, para escolas que davam presentes nos aniversários, e assim, na quantia, eu ganhava na média de um real cada livro. Quando vendia avulso, em eventos tipo feira de livros e palestras, minha margem era maior. Foi quando uma gráfica, de Erechim, me passou a perna. Eles me convenceram a passar a imprimir com eles, e então, em vez de executar a minha edição de 10.000 ex., eles executaram muuuuuuuuuuito mais e ficaram com os livros. E de lá pra cá a venda foi caindo, caindo, por causa da competitividade que a própria gráfica criou, coletando material da internet ou editando material sem pagar direitos autoriais de outros autores. Enfim, é um número estimativo, o que nos deu, nesses anos de boas vendas, um carro, - que hoje está bem judiadinho, pois fomos trocando, na medida em que fomos nos apertando. e também móveis novos e outras coisas mais. E depois, eu ganhava bem, mas gastava bem. Nunca liguei pra luxo, mas conforto, nas minhas viagens, é fundamental, pra que no outro dia esteja disposta para andar o dia todo ou fazer palestras o dia todo. Há também os hotéis, as passagens de ônibus, e eu, por mais que coma pouco, gosto de comer bem, sou um pouco chata. E tenho mania de comprar presentes pra todo mundo, sou muito perdulária - rss. Mas mesmo assim, garanto pra você, a gente se aperta e muito. Vivo atolada na gráfica, pois cada livro que executam, fico devendo em média de sete a dez mil exemplares, e eles me dão pouco prazo. E de uns anos pra cá, sempre tenho comigo de tres a cinco títulos diferentes. Enfim, pode colocar aí uma quantia bem menor, se quiser, pois mais que um já me questionou, e embora o número seja mais ou menos isso, não quero encrencas com o leão.

*Usa o dinheiro que consegue ganhar para investir num próximo e em alguma outra coisa ou sobra suficiente para que consiga fazer boas economias?

Autor independente nunca tem dinheiro sobrando, tá sempre devendo. Mas temos nossa casa e nosso carrinho. E trabalho há quatorze anos em um livro que é minha auto biografia, desde que comecei a viajar, vivendo de livros na região Sul. Tive que trocar o titulo, porque qualquer coisa que lembre motivação é malhado pela crítica... se bem que que críticos não são críticos, são só cretinos.

*De tudo que já escreveu, o que você gosta mais? Qual seu livro ou texto melhor na sua opinião, que sempre gosta de vender e até oferece com mais brilho nos olhos?

É o que citei antes, o Livro ludico das cores. Tem que entrar no meu site pra conhecer. www.literaturacatarinense.com.br/anair

Você é uma escritora ativa, feliz e bastante apaixonada pelo que faz. Você se preocupa com o reconhecimento ou busca sucesso nacional? Se sim, acha que isso é possível?

Nem tô com fama, isso é vaidade, só quero fazer o que gosto e pronto.

*Deseja dizer mais alguma coisa ou deixar alguma mensagem?

Que adoro ler e leio de tudo. Acabo de ler o livro de Fernando Morais, O Mago. Cara... mago é - o Fernando - ele, que conseguiu contar com elegancia todas as barbaridades do Paulo Coelho. Eu jamais imaginaria que foi o Paulo que meteu o Raul Seixas nas drogas.
E baseada na minha experiencia pessoal de luta, quero deixar um recado bem meu:
É DO QUERER ARDENTE QUE NASCE A CONQUISTA DA VITÓRIA.

Fonte:
Escritores do Sul

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (História que a Vida Escreveu)


Fazem exatamente dois anos que nenhuma pessoa de minha família aparece aqui. Estou num asilo para velhos desamparados desde que completei setenta e um anos. Sou pai de quatro filhos. Um rapaz com a primeira esposa, uma mocinha com a segunda e duas com a terceira. Por circunstâncias outras, não pude criar meu primogênito, como pretendia, desde que nasceu. De igual forma, o destino foi demasiadamente cruel também com a menina.

Depois desses casamentos fracassados, uma dezena de jovens passaram pela minha vida, mas por convicção própria achei por bem não alimentar a idéia de começar tudo outra vez. Assim, os anos correram. O tempo, bem sei, não retroage. Meus cabelos brancos refletem a velhice que pesa de maneira latente por sobre os costados. Não sou mais aquele homem cheio de forças e vitalidade, de mãos firmes, braços fortes e cabeça erguida. Meus pés quedaram-se num cansaço embaraçoso. As vistas perderam o brilho. O pouco que consigo enxergar são imagens difusas, povoadas por brancas nuvens, manchadas, porém, de um escuro estranho que fazem-me tremer de medo e pavor. A cabeça gira e mistura-se num redemoinho de coisas e fatos passados. Sofro. O coração bate, às vezes, devagar, outras descompassado. Na verdade, o coitado pulsa como se não tivesse vontade de fazê-lo. As horas arrastam-se. Os dias estendem-se pela ampla janela debruçados sobre o peitoril e desperdiçam-se numa lentidão massacrante, atormentando e ferindo a alma combalida, moída, sofrida, morta.

Ontem – Meu Deus! – ontem minha garotinha completou quinze anos!...

Por um instante fecho os olhos e viajo. Estou em sua festa de “debut”. Vejo, então, a pequena, cercada por dezenas de coleguinhas. Como ficou linda!

Não é que lhe caiu como em uma princesa o vestido branco? Tanta gente ao redor, o bolo, as velinhas, os presentes amontoados no sofá, balões de gás colorindo, bandeirinhas espalhadas por todos os cantos da sala...

Será que ela pensa em mim?

As minhas reflexões correm mais longe. Na verdade galopam. Voam. Agora chegam ao Rio de Janeiro. Vejo-me de mãos dadas com um menino. Calças curtas, pezinhos no chão, suplica-me colo. Quer um doce. Prometo comprar. E asseguro não afastar-me jamais do seu lado...

De repente minha cabeça embaralha. E quem aparece? Minha filha numero três. Pobrezinha! Essa pequena veio ao mundo marcada. Logo, ao nascer, um balde de água fria gelou minha emoção ao final dos nove meses de espera. Lábios leporinos. O rostinho, lindo, sem igual, mas um cortezinho na boquinha deformava tudo. A vida é cruel, e por vezes, quebra as certezas que carregamos. Costuma, o destino, transformar nossos sonhos em trágicas realidades. Vontades retalham-se Despedaçam em nada os caminhos mais seguros e alguém, com mão forte, alguém escondido, afasta para além dos limites do superável tudo e todos que nos são caro.

Alguns dias atrás, um companheiro de quarto (está com câncer), vendo meu semblante aflito e os olhos chorosos, sentou-se a meu lado e com a voz embargada tentou reanimar-me:

Coragem, meu amigo, coragem. Seu barco é o mesmo que o meu. Nosso rumo é lugar nenhum. O destino, idem! Mas não esqueça nunca de uma coisa: estamos aqui, unidos para o que der e vier...e como vier...

Se fosse dado a mim, neste momento, exatamente neste ponto do caminho em que suplico à Deus que me tire o ar que respiro, a vida, se nesta hora amarga caísse dos céus a chance de pedir alguma coisa, uma apenas que fosse, rogaria somente que uma boa alma colocasse no aparelho de som o Cd com a musica que fiz para minha filha de número dois, logo que nasceu. Falha-me um pouco a memória, mas a letra da canção diz mais ou menos assim:

“...Você chegou pisando de mansinho
e pela porta entreaberta vi entrar
um vendaval de flores vivas em carinho
com certeza só o amor pode nos dar
Qual borboleta flutuando pelo ar
lança as asas no azul e se agita
mostra aos raios do sol da primavera
os seus encantos de menina tão bonita”...

Fonte:
http://www.paralerepensar.com.br/aparecidoraimundo.htm

Simões Lopes Neto (A Mboitatá)


A Andrade Neves Neto

Foi assim:

Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.

Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando...

Minto:

no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia aguentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.

Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.

Minto:

na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a – boi guaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.

Começou depois a mortandade dos bichos e a boi guaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.

Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.

A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.

Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada.

E vai, como a boi guaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boi guaçu toda já era uma luzerna,um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boi guaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!

E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laços de conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...

Mas, como dizia:

na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era por ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.

Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos... Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.

E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.

E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto:

apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir uma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo: só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.

Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.

Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...

É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manantiais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Tesconjuro!

Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emutilar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.
Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência da boitatá: o pastiçal, aí faz peste....

Tenho visto!

Fonte:
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/boitata.htm

Ialmar Pio Schneider (Soneto II)


Eu te recordo em minha fantasia
plena do belo sobrenatural,
pois hoje representas a magia
dentro do meu viver sentimental.

Após a noite insone, surge o dia
primaveril e sempre tão banal,
quando me abate a triste nostalgia
de tua ausência, oh! mulher fatal.

Fora melhor, talvez, não ter amado
quem tanto quis, sem ser correspondido,
num momento qualquer do meu passado...

E quando me reporto à juventude,
lamento em vão o tempo despendido
em ter amado alguém mais do que pude.

CANOAS (RS) - 28./09./93

Fonte:
O Autor

Revista Veja Digitalizada (Leia Grátis!)


Link de acesso a todas as revistas Veja, editadas pela Abril nesses últimos 40 anos.

Da capa a contra-capa, incluindo todas as páginas.

É um trabalho impressionante e servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.

A revista VEJA abre todo o seu acervo de 40 anos de existência na internet.

Todas as edições poderão ser consultadas na íntegra em formato digital no endereço:

http://veja.abril.com.br/acervodigital/

A revista liberou o acervo em comemoração ao seu aniversário de 40 anos.

A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.

O sistema de navegação é similar ao da revista em papel: o usuário vai folheando as páginas digitais com os cliques do mouse.

O acervo apresenta as edições em ordem cronológica, além de contar com um sistema de buscas, que permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias.

Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.

Com investimento de R$ 3 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre a Editora Abril e a Digital Pages e levou 12 meses para ficar pronto.

Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.

O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.

Semana Literária SESC : Leitura e Cotidiano (Programação de Cascavel/PR)

A Semana Literária consolida-se como um grande evento do Sesc Pr e acontece em todas as suas Unidades de Serviço. Este ano o tema do evento é Leitura e Cotidiano, e a escritora homenageada é Raquel de Queiroz, no centenário de seu nascimento. Convidamos a todos a participar desta intensa programação.

No Sesc Cascavel teremos uma série de atividades: mesas-redondas, contação de histórias, Estandes de Livrarias, Mostra de Cinema e inúmeros convidados.

Confira abaixo a programação:

PROGRAMAÇÃO SEMANA LITERÁRIA – SESC CASCAVEL

De 13 a 17 de setembro

Dia 13 (Segunda-Feira)

15h00 - A Letra de Raquel - Espetáculo Teatral sobre a vida e obra da escritora Raquel de Queiroz.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra sobre a obra O Quinze – de Raquel de Queiroz.
Prof. Dr. Mauricio Menon – Campo Mourão.
Mauricio Menon é graduado em Letras, pela Unioeste em Cascavel, especialista em Literatura Brasileira pela Unicentro, Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina e doutor em Letras pela Uel. Atualmente é professor de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio, graduação e pós graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 14 (Terça-Feira)

10h00 e 14h00
– A Letra de Raquel – Espetáculo Teatral.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

17h00 – Lançamento do Livro Aprendizagem e Ação Docente . Organizadora: Profª Maria Lídia Sica Szymanski – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público –alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Mostra: Leituras Poéticas no Cinema.
Exibição dos filmes:
Vale dos Poetas (dir.: Marcílio Brandão , BRA, 2002, 21 min.)
Wenceslau e a Árvore do Gramofone (dir.: Adalberto Muller , BRA, 2008, 15 min.)
Litania da Velha (dir.: Frederico Machado , BRA, 1997, 16 min.)
Infernos (dir.: Frederico Machado , BRA, 2006, 13 min.)
Esta mostra é uma rica experiência para a reflexão sobre poesia e adaptação para o cinema. O valor poético presente nos filmes dialoga com o valor poético dos próprios poemas, mas qual o lugar de cada um enquanto meios distintos? Os quatro filmes propostos vão fomentar essa reflexão e abrir possibilidades para muitas outras idéias.
Debate sobre os filmes após a mostra.
Mediador – Vander Colombo.
Local : Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, comerciários e público em geral.

Dia 15 (Quarta-Feira)

15h00
– O Mundo Encantado das Letras - Bate-papo com crianças.
Luiz Andrioli

O escritor fala para as crianças sobre as possibilidades do universo da leitura.
Divide com os espectadores a sua experiência de leitor e compartilha as emoções de criar histórias a partir de detalhes do nosso cotidiano. Ler é escrever a própria história, é o que se propõe neste encontro.

Luiz Andrioli é escritor e jornalista. Trabalha atualmente como apresentador, locutor e editor-chefe de TV. É cronista do telejornalismo da RICTV, Rede Record. Atuou oito anos como repórter de televisão. Pós-graduado em Cinema e mestre em Literatura com a dissertação sobre Dalton Trevisan, “O Silêncio do Vampiro” (2010). Professor universitário e ator profissional. Como escritor, teve várias peças encenadas por grupos de teatro de Curitiba, dentre elas, “Não só as Balas Matam” (2001). Autor da biografia “O Circo e a Cidade – histórias do grupo circense Queirolo em Curitiba” (2007). Para crianças, escreveu “A menina do Circo” (2009).
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra: Raquel de Queiroz e o cotidiano na Literatura.
Profª Drª. Valdeci Batista de Melo Oliveira – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 16 (Quinta-Feira)

10h00 e 15h00
– Um Fio de Histórias. Contação de Histórias.
Rosângela Janea Rauen.
Rosângela Rauen é professora de língua portuguesa em escolas da rede pública e particular e assessora pedagógica. É também contadora de histórias com atuação nas Casas da Leitura da Fundação Cultural de Curitiba, em escolas da rede pública e particular, no Programa de Leitura da Petrobrás/Leia Brasil e em eventos universitários.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

19h30 – Performance Alfabeto Móvel .
Ricardo Corona e Eliana Borges.
Ricardo Corona e Eliana Borges desde os anos 1990 fazem apresentações ao vivo de poesia e performances. Criaram duas revistas: Medusa e Oroboro. Livros: Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009). Cinemaginário (1999); Tortografia (2003); Corpo Sutil (2005) e Sonorizador (Livrodisco), pela editora Iluminuras. E Ladrão de Fogo, disco de poesia (2001, Medusa). Organizou a ontologia Outras Praias (bilíngüe, Iluminuras, 1998) e traduziu Joça Wolff os livros Momento de simetria (Medusa, 2005) e Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Escritores, estudantes, professores, comerciários e público em geral.

Dia 17 (Sexta-Feira)

15h00
- Maria de uma rima só – Espetáculo de Contação de Histórias.
Hérica Veryano - atriz, pedagoga, arte-educadora e contadora de histórias.
O espetáculo Infantil “Maria de uma rima só” conta a história de Maria, uma menina que está sempre atrasada e nunca consegue pegar o trem. Enquanto aguarda na estação, com sua mala de viagem, Maria conta outras histórias, navegando pela cultura popular, lendas e jogos infantis. O espetáculo também traz elementos da dança e malabares, tendo como inspiração o jogo das Cinco Marias. Repleto de poesia e musicalidade, “Maria de uma rima só” consegue capturar o interesse de crianças e adultos abordando temas universais como os conflitos, perdas, esperança e superação.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

*PARTICIPAÇÃO GRATUITA EM TODA A PROGRAMAÇÃO DO EVENTO*

Mais informações: 45 3225-3828

Sesc Cascavel: Rua Carlos de Carvalho, 3367.

Coordenação Geral do Evento: Simone Moura (Técnica de Atividades) e Lysiane Baldo (Técnica de Atividades).

Fonte:
SESC PR/ Cascavel

Laé de Souza (Palestra: Publiquei o meu livro! E agora?)

Palestra na 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba: Publiquei o meu livro! E agora?

No dia 26 de agosto (quinta-feira), às 19h, como parte da programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba, o escritor e produtor cultural Laé de Souza irá ministrar uma palestra no Auditório da FUNDEC, dirigida a escritores e produtores culturais.

Na palestra com o título “Publiquei o meu livro! E agora?”, Laé de Souza falará sobre as dificuldades do escritor na divulgação do seu trabalho, a experiência em doze anos de projetos de incentivo à leitura e diversos aspectos práticos e legais para execução de projetos culturais subsidiados por leis de incentivo à cultura. Ao final abrirá espaço para perguntas da platéia.

Laé de Souza é coordenador do Grupo Projetos de Leitura, que atua em todo território desde 1998, e autor de vários projetos de incentivo à leitura aprovados pelo Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, dirigidos a diversos públicos. Só o projeto “Ler é Bom, Experimente!”, contou neste ano com mais de cem mil alunos participantes, de varias regiões do país.

Além de projetos em escolas, outros são desenvolvidos pelo grupo “Projetos de Leitura” em hospitais, grupos de terceira idade, parques, ônibus, metrô e praças públicas. O escritor é autor de obras infantis, juvenis e adultos, entre elas, Acontece..., Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Quinho e o seu cãozinho – um cãozinho especial, Nos Bastidores do Cotidiano. São de sua autoria os projetos "Lendo na Escola", "Leitura no Parque", Viajando na Leitura", "Caravana da Leitura", "Minha Escola Lê", Dose de Leitura", entre outros.

A FUNDEC fica na Rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro, Sorocaba. A palestra é gratuita, está aberta ao público e a inscrição será realizada no próprio local.

Mais informações podem ser obtidas nos telefones (15) 3228-6209 e 8119-2476, com Sonia ou Cintian Moraes.

A programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba está no site: www.semanadoescritor.com.br .

Fonte:
Projetos de Leitura

Antonio Cândido (Literatura e Sociedade: A Literatura na Evolução de uma Comunidade) Parte 6, final


5 — O grupo se desprende da comunidade

Esta incorporação da literatura à comunidade — que noutras partes do Brasil já se havia dado antes — e a maneira por que se processou, explicam muitos aspectos do quinto e, para este estudo, último momento, que agora vamos considerar. Trata-se do Movimento Modernista, que nesta cidade se desenvolveu e teve as suas manifestações mais características de 1922 a 1935. Foi uma profunda renovação literária, estreitamente ligada à constituição de um agrupamento criador, como era o dos estudantes românticos; não mais justaposto à comunidade, todavia, mas formado a partir dela, oriundo da sua própria dinâmica, diferenciando-se de dentro para fora — por assim dizer. No plano funcional, diríamos que corresponde à necessidade de reajustar a expressão literária às novas aspirações intelectuais e às solicitações da mudança artística em todo o Ocidente. No plano da estrutura, diríamos que foi um esforço — em parte vitorioso — para substituir a uma expressão nitidamente de classe (como a dos anos 1890-1920) por uma outra, cuja fonte inspiradora e cujos limites de ação fossem a sociedade total.

Nesta parte, estamos ao alcance da memória de gente viva, e não há necessidade, como para os períodos anteriores, de aduzir documentos e provas. Todos sabem, por exemplo, que este movimento é o único, na literatura em São Paulo, cujo início pode ser precisamente datado: começa na famosa Semana de Arte Moderna, realizada em 1922 no Teatro Municipal. Espanemos mais uma vez a imagem cediça, para dizer que o Brasil teve, ali, a sua "noite do Ernâni"… Com efeito, ali se defrontaram duas facções, uma lutando por renovar a literatura de acordo com o espírito do tempo; outra, defendendo indignada uma tradição que, em São Paulo, correspondia a algo enraizado na sensibilidade. De ambos os lados, boa-fé e energia. Do lado dos conservadores, a aprovação tácita da comunidade; mas os renovadores tinham por si a premonição dos tempos novos e (tocamos no ponto que nos concerne sobretudo) formavam um agrupamento capaz de provocar o seu advento.

No seu estudo clássico sobre SUPERORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO, procurando explicar o motivo pelo qual o tirano — que é um só — pode manter submisso o povo, — que são todos, — argumenta Simmel que todos apenas de passagem se aplicam a pensar ou agir contra a opressão, e ainda assim com uma parte mínima das suas energias, empenhadas nos interesses vários da vida; portanto, exercem uma reação desconexa e parcial. O tirano, pelo contrário, põe no ato de mandar toda a sua personalidade em todos os momentos da sua vida, de tal forma que as reações parciais encontram sempre de volta a ação total da sua energia, expressa na inteireza do sistema repressivo.

Podemos aproveitar esta explicação para dizer que, ao passo que as tendências conservadoras se ocupavam apenas eventualmente em defender o seu ponto de vista, houve em São Paulo, durante anos, um grupo que punha na ação renovadora toda a sua capacidade de criação e agressão. De tal modo, que se as suas opiniões não chegaram a substituir a literatura dominante, elas exerceram atração poderosa sobre as forças criadoras, sobretudo o que havia de vivo e promissor. Com isso, encurralaram a literatura oficial no academismo mais estéril, e abriram caminho para a literatura nova, que dominaria completamente em nossos dias.

A ação de grupo foi, portanto, decisiva. Não só da parte do bloco inicial dos modernistas, que se manteve coeso durante algum tempo, como dos subgrupos que dele se originaram, decantando os vários aspectos contidos no movimento: Verdeamarelismo, Anta, Antropofagia, grupo do Diário Nacional, da Revista Nova etc.

No começo, o referido bloco abrangia os modernistas do Rio, dos quais Graça Aranha desejava passar por chefe. Os principais dentre os paulistas eram Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, A. Couto de Barros, Guilherme de Almeida, Rubens Borba de Morais, Sérgio Milliet — mais tarde Antônio de Alcântara Machado. O grupo desenvolveu uma linguagem própria, e muito do que se tornou expressão oficial do movimento, e pareceu ao público hermetismo voluntariamente perverso, se explica no fundo por certas formas de intercomunicação dos seus membros. Os modismos, o estritamente pessoal de cada um, passaram ao verso e à prosa, suscitando, para os não iniciados, problemas angustiosos de exegese, como certos versos de Mário de Andrade:

E os goianos governados por meu avô,
ou
A Flandres inimaginável
E a decadência dos Almeidas.

Ou ainda certo final de capítulo do Serafim Ponte Grande, jovial e realista, carregado de sentido para os que conheciam os motivos do autor.

Além desse esoterismo que reforça a coesão interna, opondo o grupo aos outros, e à sociedade geral, os modernistas desenvolveram as famosas atitudes "futuristas": interpelações públicas, protestos, intimidação, confusão do adversário. Estabeleceram uma desnorteante mistura de valores, como a citação do Guaraná Zanotta ao lado de referências a Bilac ou Fídias. Organizaram tertúlias famosas, espécies de cerimônias confirmatórias, em fazendas e salões de amigos, em excursões distantes, — a Ouro Preto, à Amazônia.

Passaram no crivo a tradição clássica, afetando total indiferença pelos seus valores. Todavia, este aparato esotérico e exotérico não passava de blindagem do grupo para a luta, cuja finalidade real foi o trabalho aturado e profundo de revisão literária. Pode-se reconhecer a autenticidade de um escritor dessa fase pela sua identificação com a vida aparente e a vida profunda do movimento. Os que dele participaram como quem tem catapora, e os que se realizaram nele, como obra e personalidade.

Na constituição desse, ou desses agrupamentos de campanha literária, deve-se apontar a relação que mantiveram com os salões burgueses, alguns oriundos da fase anterior e que, tendo constituído atmosfera estimulante para os efeitos convencionais do Parnasianismo, forneceram também, em certos casos, ambiente para os modernos. Algumas casas da classe dominante em São Paulo os acolheram, dando-lhes deste modo não apenas amparo e reconhecimento em face da tradição, mas reforçando os vínculos entre eles, confirmando-os na sua sociabilidade própria. Houve mesmo tensões e rupturas na base do apoio ou fidelidade aos vários mecenas. Dentre tais salões deve-se mencionar a famosa Vila Kyrial, onde "Freitas Vale o magnífico", — o poeta simbolista Jacques D'Avray, — congregou sucessivamente, por mais de um quarto de século, simbolistas, parnasianos, modernistas, estabelecendo um elo profundo entre estas diversas tendências. A circunstância dos modernistas se ligarem a formas tradicionais de sociabilidade literária mostra que a estrutura social da cidade, bastante rica a esta altura, já se encontrava aparelhada para assimilar as formações divergentes, originadas pela dinâmica do seu desenvolvimento.

Esta observação nos leva a outra, de natureza comparativa. Enquanto na São Paulo romântica a literatura surgiu e encorpou como expressão de um grupo, que não encontrava manifestação possível da sua integridade no quadro das atividades sociais disponíveis; na São Paulo pós-parnasiana o grupo modernista surgiu (isto é, constituiu-se enquanto grupo) como veículo de tendências intelectuais que não podiam manifestar-se através dos grupos literários (efetivos ou virtuais) então existentes.

Prossigamos na linha comparativa. Em 1922, como em 1845, o grupo literário se constituiu em oposição consciente à comunidade, na afirmação de uma existência própria. Em 1845, porém, a oposição era entre duas visões do mundo, e por assim dizer entre duas idades — adolescência e maturidade. Em 1922, era, além disso, de uma literatura a outra — pois o que se desejava era destruir um sistema literário solidamente constituído, coisa inexistente em São Paulo ao tempo do Romantismo.

Daí o estabelecimento, no plano literário, de uma competição com os grupos que representavam o sistema oficial: jornais, salões, academias, correntes de opinião. Foi nitidamente (e isto é o seu caráter diferencial do ponto de vista sociológico) uma porfia em torno da liderança intelectual em São Paulo. Foi uma concorrência em que se empenharam os defensores de uma literatura ajustada à ordem burguesa tradicional, implicando um "gosto de classe" (dominante), fielmente servido por escritores providos de beneplácito, difundindo-se pelo exemplo por toda a pirâmide social; e os renovadores, procurando exprimir valores mais profundos, aspirações e estilos recalcados na literatura popular pelo oficialismo burguês.

Por isso, embora os escritores de 1922 não manifestassem a princípio nenhum caráter revolucionário, no sentido político, e não pusessem em dúvida os fundamentos da ordem vigente, a sua atitude, analisada em profundidade, representa um esforço para retirar à literatura o caráter de classe, transformando-a em bem comum a todos. Daí o seu populismo — que foi a maneira por que retomaram o nacionalismo dos românticos. Mergulharam no folclore, na herança africana e ameríndia, na arte popular, no caboclo, no proletário. Um veemente desrecalque, por meio do qual as componentes cuidadosamente abafadas, ou laboriosamente deformadas (é o caso de "literatura sertaneja") pela ideologia tradicional, foram trazidas à tona da consciência artística. O admirável TUPI OR NOT TUPI, do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade — mestre incomparável das fórmulas lapidares —, resume todo este processo, de decidida incorporação da riqueza profunda do povo, da herança total do país, na estilização erudita da literatura. Sob este ponto de vista, as intuições da Antropofagia, a ele devidas, representam o momento mais denso da dialética modernista, em contraposição ao superficial "dinamismo cósmico" de Graça Aranha.

Outro traço, que reforça a semelhança geral do Romantismo com o Modernismo, é a atitude de negação, que lá foi satanismo e aqui troça, piada. O humor e a chacota pertencem também à atitude romântica, e uma das suas manifestações mais típicas, A ORGIA DOS DUENDES, de Bernardo Guimarães, é um xadrez de brincadeira, melancolia e perversidade, com predomínio das duas últimas. Já o Modernismo é o movimento mais alegre e jovial da nossa literatura, — manifestado no próprio comportamento dos seus protagonistas, na sua furiosa ânsia de diversão. Lembremos O CLARO RISO DOS MODERNOS, de Ronald de Carvalho, para sugerir que a alegria foi dogma equivalente à tristeza romântica e, por isso mesmo, não raro artificial, como esta. Ambas foram norma e expressão de grupo, a que se conformavam os seus membros respectivos. Macunaíma, de Mário de Andrade, a maior obra do movimento, reflete bem esta condição; mas termina num quebranto de melancolia, que revela as correntes profundas da atitude modernista.

E agora, terminando, lembremos a analogia derradeira: como o Romantismo, o Modernismo é, de todas as nossas correntes literárias, a que adquiriu tonalidades especificamente paulistanas. Se em São Paulo não tivesse havido os escritores que houve no período clássico, no Naturalismo, no Parnasianismo e no Simbolismo, a literatura brasileira teria perdido um ou outro bom escritor, mas nada de irremediável. Se tal acontecesse no Romantismo e no Modernismo, o Brasil ficaria mutilado de algumas das suas mais altas realizações artísticas, como são a tonalidade noturna do Macário e a explosão rabelaisiana de Macunaíma, com tudo o que se organizou de fecundo em volta dessas obras culminantes. Dois momentos paulistanos, portanto; dois momentos em que a cidade se projeta sobre o país e procura dar estilo às aspirações do país todo:

Dançamos juntos no Carnaval das gentes,
Bloco pachola do "Custa mas vai!"
Mário de Andrade

* * *

Se as considerações anteriores alcançaram o objetivo, o leitor terá obtido uma rápida visão da literatura nas suas relações com a comunidade paulistana. Terá visto que ambas se explicam e se complementam, se as quisermos ver solidariamente.

Com efeito, os cinco momentos mostram cinco maneiras diversas de associação dos escritores, de participação dos mesmos na vida social, de ajuste da expressão à dinâmica dessas relações e sua influência nelas.

A princípio, uma cidade em que não há condições para a vida organizada da inteligência, mas onde há alguns indivíduos animados do desejo de exprimir os valores locais. É o primeiro e vago esboço de uma literatura paulistana, definida pelo encontro de poucos intelectuais com os valores tradicionais da comunidade, já socialmente amadurecidos, mas ainda não simbólica e intelectualmente elaborados.

Decênios mais tarde, vemos desenvolver-se um agrupamento que permite a atividade literária permanente. Ele pertence à cidade, está demograficamente integrado nela, mas lhe é espiritualmente alheio. Não possui forças para elaborar uma expressão original, mas dá lugar a certas tendências que floresceriam mais tarde.

Em seguida, encontramos o corpo estudantino já estruturado e solidamente justaposto à cidade. A sua duração, a evolução das formas de sociabilidade, que lhe são próprias, deram lugar a uma atmosfera espiritual altamente condutora, que o segrega da comunidade. Os aspectos satânicos do Romantismo se casam admiravelmente a estas condições, e surge pela primeira vez uma literatura de tonalidade paulistana — expressão de um grupo que é corpo estranho na pequena cidade.

Mas esta cresce, e a moda romântica passa. O aumento de densidade demográfica e social abre novas possibilidades de ajuste dos moços, e deste modo rompe a sua sociabilidade hermética. As novas tendências literárias acentuam o caráter comunicativo da palavra, surgem escritores que não dependem da Faculdade de Direito. A literatura e os escritores se integram na comunidade. Como a sociedade é de classes, constitui-se uma literatura convencional, ajustada aos padrões de refinamento e inteligibilidade da classe dominante, cujo prestígio garante a sua difusão pelas outras camadas.

Ora, nessas condições, a literatura passa de tal modo a ser um elemento da ordem social, que não se sente nela a vibração e a receptividade em face das novas sugestões da vida, em constante fluxo. Daí um novo movimento, para lhe dar amplitude ainda maior, fundando-a, não no gosto e no interesse de um limitado setor da sociedade, mas na vida profunda de toda esta, na sua totalidade. O Modernismo completa o processo iniciado na segunda metade do século XVIII, quando os seus grupos revolucionários procuram alargar o âmbito da criação artística, englobando os aspectos recalcados da sociedade e da cultura nacional. É o segundo momento em que a cidade de São Paulo contribui com algo próprio ao patrimônio comum do país.

Um grupo virtual, bruxuleando na cidade indiferente; um grupo ordenado, estabelecendo a tradição literária; um grupo ordenado e vivo, criando uma expressão à margem da cidade; a cidade absorvendo este grupo e chamando a si a atividade literária, que se ordena pelos padrões eruditos da burguesia culta; da cidade surgindo um grupo que rompe esta dependência de classe e, quebrando as barreiras acadêmicas, faz da literatura um bem de todos. Há uma história da literatura que se projeta na cidade de São Paulo; e há uma história da cidade de São Paulo que se projeta na literatura.
–––––––––––––––-
Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

domingo, 22 de agosto de 2010

22 de Agosto (Dia do Folclore)

O Folclore Brasileiro

Imagem = Neli Neto
O folclore brasileiro é um conjunto de mitos, lendas, usos e costumes transmitidos em geral oralmente através das gerações com a finalidade de ensinar algo, ou meramente nascido da imaginação do povo. Por ser o Brasil um país de dimensões continentais, possui um folclore bastante rico e diversificado e suas histórias enaltecem o conhecimento popular e encantam os que as escutam.

O folclore brasileiro, apesar de ter raízes imemoriais, só começou a receber a atenção da elite nacional em meados do século XIX, durante o Romantismo. Naquele momento, acompanhando uma onda de interesse pela cultura popular que crescia na Europa e nos Estados Unidos, alguns estudiosos brasileiros como Celso de Magalhães e Sílvio Romero passaram a pesquisar as manifestações folclóricas nativas e publicar estudos sistemáticos [1]. Ao mesmo tempo, diversos artistas cultos passaram a empregar elementos da cultura popular na criação de obras destinadas aos círculos ilustrados, como parte de um projeto, estimulado e desenvolvido pelo governo de Dom Pedro II, de construção de um corpo de símbolos nacionalistas que poderia contribuir para a afirmação do Brasil entre as nações civilizadas. As classes superiores nunca foram inteiramente livres da influência da cultura popular, mas obras como por exemplo I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, e a música de Luciano Gallet e Alexandre Levy deram a temas do folclore brasileiro um papel de destaque na arte culta, e desde então o interesse pelo assunto só cresceu, e em várias frentes, dando origem a numerosas obras de arte, estudos literários e pesquisas científicas, com vasta bibliografia local e atraindo também a atenção internacional.

O resultado disso é que atualmente o folclore brasileiro se encontra em uma posição privilegiada. Além de ser a base alimentadora de boa parte do turismo cultural do país, se tornou instrumento de educação nas escolas e está protegido por lei, sendo considerado um bem do patrimônio histórico e cultural do Brasil. A Constituição protege o folclore através dos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro, ou seja, "os bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira". Os órgãos estatais responsáveis pelo estudo, proteção e divulgação do folclore nacional são a Comissão Nacional de Folclore, ligada à UNESCO e ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, e responsável pela elaboração da Carta do Folclore Brasileiro, e o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Por outro lado, como se observa em outras partes do mundo, o folclore brasileiro está experimentando modificações importantes em virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias de registro e difusão de informações, ocasionando a descaracterização de muitos fatos folclóricos e sua transformação em espetáculos de massa. Essa transformação cultural está obrigando os pesquisadores a rever seus conceitos e métodos de estudo dentro de uma perspectiva interdisciplinar mais ampla e mais livre de preconceitos etnocêntricos, incorporando os avanços recentes da ciência e da tecnologia.

Enlogação folclórica

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Música

Caracteriza-se pela simplicidade, monotonia e lentidão. Sua origem pode estar ligada a uma música popular cujo autor foi esquecido ou pode ter sido criada espontaneamente pelo povo. Observa-se a música folclórica sobretudo em brincadeiras infantis, cantos religiosos, ritos, danças e festas.

São exemplos:

cantigas de roda;
acalantos;
modinhas;
cantigas de trabalho;
serenatas;
cantos de velório;
cantos de cemitério.

Danças e festas

As danças acompanham as músicas em vários rituais folclóricos, sendo as principais danças folclóricas brasileiras samba, baião, frevo, xaxado, maracatu, tirana, catira, quadrilha.

As principais festas são Carnaval, Festas juninas, Festa do Rosário, Festa do Divino, Congado e as Cavalhadas.

Linguagem

As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:

Adivinhações: também chamados de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.
Exemplo:

O que é o que é?

Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?

Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?

Uma árvore com doze galhos, cada galho com trinta frutas, cada fruta com vinte e quatro sementes?

Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato, cada gato vê três gatos, quantos gatos têm na casa?

Altas varandas, formosas janelas, que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas?

Respostas:
A letra M
Ovo
Ano, mês, dia, hora
Quatro
Olhos

Parlenda: são palavras ordenadas de forma a ritmar, com ou sem rima.

Provérbios: ditos que contém ensinamentos.
"Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão."
"A fome é o melhor tempero."
"Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão."
"Pagar e morrer é a última coisa a fazer."

Quadrinhas: estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.

Piadas: Piada ou Anedota é uma história curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas (ou sensação de) no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia.

Literatura de Cordel: livrinhos escritos em versos, no nordeste brasileiro, e pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos às situações social, política e econômica atuais.

Frases prontas: frases consagradas de poucas palavras com significado direto e claro.

Frase de pára-choque: Trabalho com minha família para servir a suaFrases de para-choque de caminhão: frases humorísticas ou religiosas que caminhoneiros pintam em seus pára-choques.

Trava-Língua: É um pequeno texto, rimado ou não, de pronunciação difícil. Podemos definir os trava línguas como frases folclóricas criadas pelo povo com objetivo lúdico (brincadeira). Apresentam-se como um desafio de pronúncia, ou seja, uma pessoa passa uma frase difícil para um outro indivíduo falar. Estas frases tornam-se difíceis, pois possuem muitas sílabas parecidas (exigem movimentos repetidos da língua) e devem ser faladas rapidamente. Estes trava línguas já fazem parte do folclore brasileiro, porém estão presentes mais nas regiões do interior brasileiro.

Usos e costumes

Neste campo inclui-se itens a respeito da alimentação, cultivo, vestuário, comportamento, etc, de um povo de uma região, que tem costumes de ir a vários lugares.

Brinquedos e brincadeiras

Os brinquedos são artefatos para serem utilizados sozinho, como a boneca de pano, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga, etc.

As brincadeiras envolvem disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, resgate, nunca 3, pique-bandeira, etc.

As brincadeiras se modificam de acordo com sua região, pode ser mudar o nome ou então a forma de brincar.

Algumas lendas, mitos e contos folclóricos do Brasil:

Boitatá - Representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre".

Boto - Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto.

Caipora - uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Chupa-cabra - é, supostamente, um animal desconhecido para a zoologia que mata sistematicamente animais rurais em regiões da América, como Porto Rico, Flórida (Estados Unidos), Nicarágua, Chile, México e Brasil. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas no pescoço e o seu sangue alegadamente drenado. Esta lenda moderna não é autóctone do Brasil e sim uma assimilação de lendas hispânicas divulgadas com fervor até pela mídia norte-americana.

Cuca - um dos principais seres mitológicos do folclore brasileiro. Diz a lenda que era uma velha feia na forma de jacaré que rouba as crianças desobedientes.

Curupira - Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.

Lobisomem - Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.

Iara - Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.

Mula-sem-cabeça - uma mulher, virgem ou não, que tivesse coito com um padre católico, se transformaria em Mula-sem Cabeça. Outra versão é que, se um padre engravidasse uma mulher e a criança fosse do sexo feminino viraria mula-sem cabeça e se fosse menino seria um lobisomem.

Negrinho do Pastoreio - lenda meio africana meio cristã, contada por defensores do fim da escravidão. A virgem Maria aparece para um menino escravo que é espancado pelo dono por ter perdido um cavalo baio. Com ela, o cavalo volta e o negrinho foge com toda a tropa do dono.

Corpo-seco - É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada.

Pisadeira - É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.

Mapinguari - Seria uma criatura coberta de um longo pelo vermelho vivendo na Floresta Amazônica. Segundo povos nativos, quando ele percebe a presença humana, fica de pé e alcança facilmente dois metros de altura. Seus pés seriam virados ao contrário, suas mãos possuiriam longas garras e a criatura evitaria a água, tendo uma pele semelhante a de um jacaré.

Mãe-de-ouro - Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.

Saci Pererê - O Saci-Pererê é representado por um menino negro, que tem apenas uma perna. Está sempre com seu cachimbo, e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas. A lenda também diz, que o Saci tem o poder de andar dentro de redemoinhos de vento, e folhas secas.

Vitória Régia - Uma índia que queria tanto encontrar Jaci (a lua) se engana com seu reflexo e se afoga no rio. Compadecida, Jaci a transforma na vitória-régia, a estrela das águas.

CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES

SABENÇA: sabedoria popular utilizada na cura de doenças e solução de problemas pessoais através de benzeduras.
CRENDICE: crença absurda, também chamada de ablusão.
SUPERSTIÇÃO: explicações de fatos naturais como consequências de acontecimentos sobrenaturais.

ARTE E ARTESANATO

Compreende uma ampla área, que se estende desde a culinária até o artesanato propriamente dito. Baseiam-se em técnicas rudimentares de produção e utilizam-se de matéria-prima natural como madeira, ossos, couro, tecido, pedras, sementes, entre outros.

Fonte:
Wikipedia