domingo, 5 de setembro de 2010

Balaios de Trovas VII


Se acaso seu filho abusa,
diga-lhe um “não”, que faz bem.
Muita vez uma recusa
salva o futuro de alguém.
A. A. DE ASSIS – PR

De uma forma desmedida,
muita gente, a toda hora,
dizendo gozar a vida,
vai jogando a vida afora!…
ALFREDO DE CASTRO - MG

Quanta gente em devaneios,
buscando instantes risonhos,
vive dos sonhos alheios
e esquece dos próprios sonhos!...
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA-PA

Se entre guizos, eu componho
meu disfarce de Arlequim,
há sempre um Pierrô tristonho,
que chora dentro de mim!
CAROLINA RAMOS – SP

Eu peço que não me iludas,
nem me deixes com infarto
com essas pernas desnudas
na penumbra do teu quarto.
CLÊNIO BORGES – ES

E desde o raiar do dia,
entre rocha, musgo e lua,
vou te fazendo poesia,
morta de saudade sua.
DÁGMA VERÔNICA -MG

Onde a lei torta vigora
e o povo ao jugo se presta,
o rico só comemora
e o pobre é quem paga a festa.
DIVENEI BOSELI - SP

A dor materializou-se,
nestas lágrimas sem cor.
Meu orgulho evaporou-se...
Rendi-me à força do amor!
FRANCISCO NEVES MACEDO-RN

Existe amor sem sequelas,
na união de um casal,
nos romances e novelas,
nunca na vida real.
GERALDO AMÂNCIO PEREIRA - CE

E’ de ternura o momento
em que o Sol sorri no espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
GISLAINE CANALES - SC

Quando chegar, vou sorrir;
sorrirás, quando eu chegar.
Não chores quando eu partir,
para eu partir... sem chorar...
IZO GOLDMAN - SP

Sonhei um sonho tão triste!...
Sonhei que o mundo acabou...
- Logo depois, tu partiste,
e o sonho se confirmou...
JOSÉ OUVERNEY - SP

Para ser feliz, na vida,
bem alegre, a todo instante,
sem causar qualquer ferida,
o equilíbrio é importante.
NEI GARCEZ-PR

Sem rodeio e sem firula
deixo a todos essa dica:
Impostor sempre bajula,
amigo às vezes critica!
PEDRO ORNELLAS - SP

Você pode até amar
aos limites do impossível,
mas ao se relacionar,
equilíbrio, imprescindível.
RAYMUNDO SALLES BRASIL-BA

Quando à noite, a solidão
e a saudade trazem dor,
vou dizendo ao coração:
-é o preço por tanto amor.
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE - RJ

Na vida, em toscos degraus,
entre tropeços a sustos,
mais que a revolta dos maus,
temo a revolta dos justos!
RODOLPHO ABBUD - RJ

Um coração congelado
pega fogo, de repente,
quando o amor, fósforo alado,
risca faíscas na gente!
ROSA DE OLIVEIRA - PR

Fonte:
ACRUCHE, Roberto Pinheiro. Trovas e Poemas. n.19. setembro de 2010.

Athayr Cagnin (Poemas Avulsos II)

Terra Virgem do pintor
capixaba Levino Fanzeres (1884-1956)
PRIMAVERA

Farfalham folhas e despertam ninhos.
Acorda o dia em rútilos fulgores.
O sol abre a cortina dos caminhos
para a festa das aves e das flores.

Por toda a parte a voz dos passarinhos
confunde-se com a voz dos trovadores.
Namorados permutam-se carinhos...
Há uma feérica explosão de cores.

Aromas pairam no ar. Nuvens graciosas
evoluem no espaço, preguiçosas...
A conversar com os pássaros me arrisco...

É a primavera! E eu sinto dentro em mim
um desejo de amar que não tem fim,
como se eu fora um novo São Francisco!

INSÂNIA

Este amor impossível que me invade
a alma, enchendo-a de loucas fantasias,
troca minutos de felicidade
por semanas e meses de agonias.

Para beber a doce claridade
que dos teus negros olhos irradias,
em permanente estado de ansiedade
sou condenado a ruminar meus dias.

Em vão tento esquecer-te. Em vão invento
mil formas de arrancar-te da memória,
como se fora fácil meu intento.

Medito, raciocíno, persevero,
mas cada vez me afundo mais na inglória
luta de querer tanto a quem não quero.

CHAMA EXTINTA

Se ela me amasse como amou outrora.
com aquele mesmo ardor com que me quis,
eu mandaria esta tristeza embora
e voltaria até a ser feliz.

Versos de amor faria sem demora,
como jamais, em qualquer tempo, fiz,
e não vegetaria como agora,
acabrunhado, apático, infeliz.

Se ela me amasse como antigamente,
com o mesmo anhelo, o mesmo amor enfim,
minha vida seria diferente.

-Pedi-lhe que voltasse e ela voltou,
mas que me vale tê-la junto a mim,
se já não me ama mais como me amou!...

IN MEMORIAM

Homenagem a Benjamim Silva

Num dia assim, de céu tão meigo e brando,
Velho Itapemirim, por que soluças
E no leito das poedras te debruças,
Como uma grande lágrima rolando?

E Itabira, montanhas dominando,
Por que para o infinito o olhar aguças
E os espaços longínquos esmiúças,
Como que algo de grave adivinhando:
Que estranho mal vos traz tanto amargor?...

...E a tudo eu continuo perguntando,
Sem ver que a natureza está chorando,
Porque morreu o seu maior cantor!

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Ialmar Pio Schneider (Devaneios Poéticos)

Pintura de John Constable (1776 - 1837)
SE EU TE DISSESSE...

Se eu te dissesse que sinto a angústia de saber que existes
e não consigo te alcançar porque me pareces uma estrela distante...
Que os versos que componho se tornam cada vez mais tristes
e não posso te atingir como quisera e tenho que seguir adiante...

Se eu te dissesse que mesmo assim és a musa que me inspira
nos momentos de aflição, nas horas mais difíceis da vida...
Compreenderias talvez os soluços que magoada murmura a lira
do poeta que sou, maluco por tua presença inatingida ?!..

Se eu te dissesse também que representas o antes e o depois
de tudo que caminhei nas páginas de minha história...
que eu desejava, mesmo almejava, que fosse de nós dois
este feliz caminho, esta venturosa trajetória....

Se eu te dissesse que os dias custam a passar quando não estás
falando comigo e permaneço ouvindo tuas palavras ardentes...
Que em lugar nenhum consigo ficar, por assim dizer, em paz
e faço parte do rol nada agradável dos descontentes...

Sentirias a saudade que chega sem avisar, na hora
em que talvez estejas a fazer solitária, a tua prece
de amor por quem sentes bater o coração agora
pulsando ingovernável e bravio... Se eu te dissesse ....

FORAS CAPAZ....

Deixarias que eu entrasse em tua vida assim sorrateiramente
como chega um ladrão para roubar teu coração ?
Quiseras que eu fosse alguém desconhecido de ti, diferente
dos demais, e viesse para tua aceitação ?!

Se assim o desejas e vives sem preconceitos,
eu me apresento agora à tua contemplação,
embora trazendo em meu ser mil defeitos
próprios dos que amam ardentemente com tanta emoção !

Foras capaz enfim de projetares uma aventura louca
que descortinasse um mundo que nem sonhas existir,
e tivesses que enfrentá-lo, saturada de beijos em tua boca,
e dos outros que falassem te pusesses a rir...

Nós transporíamos todos os obstáculos possíveis e imagináveis
e seriamos dois em um, como sói acontecer aos amantes,
por assim dizer, enamorados e amáveis,
que querem desfrutar juntos todos os instantes...

Fonte:
O Autor

Silviah Carvalho (Tristeza)


Se minha tristeza tivesse fim, poderia mudar meu teor,
E virar a página do que há incontido no desfazer-se do nó.
No nascer de um novo dia, eu perceberia sua real beleza,
Eu poderia viver e amar, se não fosse esta tristeza.

Por ela me escondo e com ela sobrevivo e me divido,
Não há dor que não sinta, ou mal que não tenha conhecido,
Às vezes parece amiga, dorme e acorda comigo, não me deixa,
Mas de sua presença, minha alma reclama e a mim se queixa.

Dela escrevo por ela me inspiro, nela Deus se manifesta,
É a presença reflexiva que nos poemas exprime grandeza,
Perder a graça de viver é tão fácil, quanto não achar um
Motivo para tal. Finar-se, é da tristeza o estágio terminal.

Como a “Narciso” foi-me dado uma sentença, mas no espelho
D’água não vejo minha aparência, foi-se o que chamam de beleza,
Ficaram lembranças saudosas de um tempo que não volta por
Nunca ter existido que foi sonhado e não foi vivido... Tristeza!

Agora, tornar-se-á real o que parecia apenas sutileza,
Vais partir e nada terei por sua ausência, não vi teu rosto e já sinto
Saudade. Cativou-me algo tão raro, considerando sua frieza,
Restou-me esta certeza, nada sou para ti, e eterniza esta tristeza.

Fonte:
A Autora

sábado, 4 de setembro de 2010

Ialmar Pio Schneider (Em Alto Mar)


Aragem branda já enfuna as velas
da nave abandonando o cais na aurora;
há de partir p’ra longe, vai-se embora
vencendo calmarias e procelas.

E quando mar adentro, noite afora,
o céu povoar-se de milhões de estrelas
e a lua desfilar no meio delas,
cândida, pensativa e sonhadora,

uma poesia imensa nascerá de
repente, ao sussurrar sem fim das águas.
E os tripulantes vão sentir saudade

das terras que deixaram para trás,
porque nos corações cheios de mágoas
lágrimas rolarão em mananciais…

Fonte:
http://ial123.blog.terra.com.br/

Lourdes Strozzi (Paraná em Trovas)


A chuva, sem cerimônia,
sem respeito, nem piedade,
banha-me o corpo de insônia,
de desejo e de saudade…

Bem sei, a ti não importando
que eu sofra a mesma agonia
do cão arranhando a porta
de uma palhoça vazia.

Ele respeitoso, eu fria,
naquele encontro fortuito;
ninguém, ao ver-nos, diria
que um dia amamo-nos muito…

É na tarde que desmaia,
é numa canção dolente
que a saudade se atocaia
para apunhalar a gente.

Este amor pecaminoso,
obstinado e cruel,
é um composto perigoso,
feito de veneno e mel.

Lamentando meus fracassos
choro a prisão em segredo;
não tenho algemas nos braços,
apenas uma... no dedo.

Lealdade é uma utopia,
neste mundo mercenário,
somente achada, hoje em dia,
no cão e no dicionário.

Nem mesmo o inverno mais triste,
dentro da noite enfadonha,
tira a distância que existe
entre a minha e a tua fronha.

O pranto, na mocidade,
qualquer brisa põe em fuga;
e o que restar de umidade
o toque de um beijo enxuga.

Que tempo bom era aquele
que no tempo se perdeu;
quando meu sonho era dele
e o sonho dele era meu!

Renúncia, medida extrema
que tomamos certo dia...
Hoje a saudade blasfema
contra a nossa covardia!

Vence esse orgulho, castigo
que te aniquila e devora;
encosta-te a um ombro amigo,
tira essa máscara… e chora…

Fonte:
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.

Agenir Leonardo Victor e Olga Agulhon, na Semana Literária de Maringá, em 16 de Setembro

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Trova 172 - Beatriz Abaurre (Vitória/ Espirito Santo)

Aparecido Raimundo de Souza (Bichinho Arredio)


Achei você no jardim do meu olhar. Você era a flor mais bonita, a que se destacava das demais, a que sobressaia e brilhava com uma intensidade que nenhum poeta saberia descrever.

Havia um passarinho que pairava (lembrava um helicóptero em miniatura) elegante, numa espécie de dança cadenciada. Enquanto batia freneticamente as asas, com o bico beijava a maciez que lhe evolvia com uma suavidade perene. Depois dava uma volta curta em torno das outras plantas e sumia, de vez, junto com o vento.

De repente, de repente você murchou. Ficou abandonada, esquecida. Seu brilho se quedou ofuscado. A cor que lhe realçava perdeu a magia. Ninguém mais parou para lhe contemplar, nem o passarinho que vinha de longe ousou se aproximar. Sua elegância impar, num dado momento, perdeu completamente o viço. Você se apagou, por inteira, se fez toda em tristeza, se trancou sem explicação, sem motivos aparentes, numa redoma escura.

Foi ai que lhe roubei. Você estava entristecida, o coração partido e sem forças. Levei você pra mim, escondida, como um bandido que rouba alguma coisa e não quer ser pilhado em flagrante. Cuidei, então, de você, no aconchego da minha casa. Seu corpo tão cheio de vícios se decompunha coberto de chagas e espinhos pontiagudos. Durante meses, reguei com paciência, joguei água limpa, podei as dores, as mágoas, os dissabores. Afastei as lembranças que lhe feriam. Durante meses, só tive olhos para você. A sua solidão doía, não só em seu coração, mas, igualmente no meu. A dor que castigava sua alma, sem tirar, nem por, eu sentia a danada aqui dentro. O receio de morrer só e abandonada, tanto machucava você, quanto enlutava a minha existência.

Com o passar do tempo fui lhe avivando. Moldei sem pressa seu novo eu numa escala ascendente, até que, sem querer, me vi cativo da sua beleza, do seu porte de princesa, do seu jeito nobre de ser. E foi a partir daí que passei a dividir também com você meus dias, minhas horas, meus segredos. Como um louco, lhe mostrei meus fantasmas, expus meus ais, me abri, na verdade, de alma inteira e me deixei ser levado pela magnificência da lealdade que brotava do fundo do seu chão. Falei do meu hoje, abri meu presente, mostrei minhas incertezas e desconfortos para o futuro. Ensinei você de pouquinho, aos goles pequenos, ensinei a acreditar novamente na vida, a aceitar seu destino sem temer os percalços que ainda estavam por vir. Mostrei a você que se fazia necessário gostar primeiramente de si mesma, se amar, ter esperanças, persistência, sempre, houvesse o que houvesse, acontecesse o que acontecesse.

Deixei pra você, uma herança - um pedaço de mim transformado em carinho - sedimentado em esperanças imorredouras. Deixei pra você, ainda, uma canção suave, uma canção eterna, e, junto, de roldão, com o amor que, acima de qualquer coisa fará de você, um ser tranqüilo, confiante, pleno, realizado, reconhecido no mundo, não só no mundo, mas a sua volta, e o que há de melhor e de especial, dentro de sua alma.

E hoje quando lhe vejo no jardim dos meus olhos, me lembro e tenho plena convicção de que você também se recorda, sem nenhuma tristeza, sem nenhuma magoa, dos fora propositais que a vida nos deu, dos desencontros voluntários pelos quais ela nos fez e nos obrigou a passar...

Com certeza, hoje sabemos – você e eu temos a mesma visão ótica: do fundo desse poço escuro em que num momento do destino - você e eu nos envolvemos levados pelas mãos inconsequentes do destino. Hoje sabemos, a vida... A vida só estava juntando EU E VOCÊ para sermos um só!

Fontes:
O Autor
Pintura =
Alex França

Beatriz Abaurre (Espírito Santo Poético)

Convento da Penha, em Vila Velha, ES.
Pintura de Sérgio Câmara

VITÓRIA - ILHA DA ESPERANÇA

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - não se vá.
Voa num céu cheio de cor
E penso - o mar está perto.
Vejo folhas caindo inquietas
E imagino - é o verão que se finda.
São tantas e nem sequer se queixam
E peço - não morram.

Há um tempo que foi, é certo
Mas há também, talvez, um amanhã
Porque ontem e hoje é tudo isto,
Este desejo de céu, de sol, de vento,
Este grito rouco cujo eco
Talvez nunca existiu.
Talvez nem mesmo o grito.
É este desejo de ser jovem
Desejo capaz de ser história,
De transportar fora do tempo
A renúncia e o cansaço de meu corpo insone.

É esta ilha -
Azul e branca.
Obstinada ilha
Trajetória de selvagens aves marinheiras,
De barcos que navegam apressados
Rumo ao Sul, ao esquecimento.
É esta ilha assim, rude, que sabe a esperança
Onde há lágrimas secadas pelo vento
E sorrisos,
Alvos sorrisos com sabor de maresia
Terra sofrida cheia de luz e coragem.

Vejo uma ave.
Gaivota.
E digo - volta
E penso - talvez não se vá
Mas sempre se vai
Vôo alongado, solitário,
Sobre a terra, sobre o mar,
Sobre o abismo,
Sobre o planalto distante, infinito,
Sobre o tempo que não acaba de passar...

BUSCA OBSTINADA

Eu sei,
Sei que você existe
Um tanto cansado
Um pouco mais triste.
Sei que você busca,
Sozinho.
Numa solução de vida
A vida que lhe foi negada.
Sei que você procura,
Ainda,
Um rosto que se fez amado

Na antiga solidão povoada,
Eu sei
Que no silêncio você grita
E espera, contrito,
Atento,
Faminto,
A resposta de outro grito.
Não do eco
Que repete,
Que copia,
Que esquece a autenticidade.

Outro grito...

LÁGRIMAS BENDITAS

Ainda é possível chorar -
Eu vejo lágrimas em outras faces.
Não que esta seja a paz que busco
Pois sei que o sofrimento habita os seres
Em cada canto do mundo...

Ainda sorriem as crianças -
O mesmo sorriso ingênuo que nós sorrimos um dia
Quando nossas mãos não conheciam
Senão as outras mãos das rodas e dos folguedos.

Ainda é muito fácil sofrer -
Basta olhar seus olhos puros
Nos quais descubro às vezes
Uma evidência de dor.

Ainda é necessário viver -
Pois que suas mãos, nas quais pressinto ternura
São a prova mais evidente
De que nem todos os caminhos
Foram trilhados como deveriam ser.

Por tudo isto
E porque continuo a crer,
Cansada de chorar, exausta de sofrer
Afirmo que ainda sobram lágrimas
Que turvam olhos puros como os seus;
Ainda existem sorrisos
Como pontos de luz na escuridão total.
Ainda procuro a paz...

ENIGMA OBSCURO

Tentaste decifrar-me
Como a um símbolo perdido
Como se o mistério tão claro
Fosse ainda muito precioso,
Um mistério digno da tua participação.

E parecia um Deus
Frente à obra inacabada de outro Deus
Tuas palavras jogadas como pedras escuras.
Orgulhoso do teu conhecimento das almas alheias
Esqueceu-se da tua condição humana
E da minha condição mortal.

Pois eu não era obra nem mesmo plano:
Tu não eras Deus nem mesmo poderoso

Depois veio a paz difícil,
Pesada de infinito
E a necessidade urgente de libertar-se
Esquecendo as pretéritas covardias.

Falei-te então das folhas caindo no outono
Da poesia que sempe busco
Nos olhos dos outros,
Do nosso grande amor destinado ao
Esquecimento.
De rosas num jardim imenso,
Do rio percorrendo meu passado,
Sorrisos iluminando minha infância,
De horas felizes e perseguidas
E jamais reencontradas.
Tudo foi dito
E esvaiu-se
Então percebi que para ti as flores já
Nada significavam,

Nem o certo, nem o errado e nem sequer percebias
O crepúsculo pesado que te envolvia.

Quando antes muitas sortes habitavam-te
Como lâmpadas acesas.

Agora eu me vou

Levando comigo um pouco de náusea e do espanto
E na certeza cruel que é difícil dar as mãos
A quem não tem mãos de dar.

Eu me vou, eu que vim para ficar em silêncio.
Em silêncio mesmo que isto seja difícil.
Para que sozinho percebesses.

Minha desordem, minha incerteza constante
E o canto rouco do meu viver interior.

Eu não era obra nem mesmo plano,
Tu não eras Deus e nem mesmo poderoso.

SOFRIMENTO INÚTIL

Estou sozinha
inútil falar de rosas

Estou rejeitada
inútil falar de flores e amores,
se amor não há.

Estou cansada:
inútil falar nos destinos dos homens.

Há problemas grandes,
Mas é inútil.
Estou imensamente triste
E amarga em coisas tão pequeninas.

Inútil ler e tratar problemas universais
Se é tão pequeno
E insignificante,
Mas para mim tão importante
Meu sofrimento particular...

CHUVA DE SONHOS

Engraçado!
Uma coisa à toa:
Eu que gosto tanto de chuva,
De andar pela garoa
Recebendo-a nos cabelos, no rosto,
Acho que hoje chove mais triste,
Infinitamente triste...

Parece que a chuva insiste
Em cair macia e com gosto

Nesta rua cheia de ninguém.
E quando ela vem
Chorando sorrisos
Eu, sempre sozinha,
Somos tristezas...

É por isso que hoje
Notei qualquer coisa
Que inconscientemente foge
Às chuvas normais:

Hoje chove sonhos,
E chove muito, muito mais...

MENSAGEM DESESPERADA

Versos foram escritos -
Um pouco rudes, um tanto amargos,
Mensagem de fé desesperada,
Eco perdido de perdidas esperanças.

Tristes versos de quem se aprofunda
E se deixa aprofundar
Sem reclamos, sem lágrimas,
Sem gritos demasiadamente longos.

Amargura velada de quem sente
Sem deixar que a razão adormeça.
Lamentoso canto de quem coloca
Acima de tudo a razão,
Triste e dolorido pranto de quem sabe
Num mundo de lobos ser o cordeiro.
Sabendo embora que isto custa o sangue
E a própria lã que agasalha...

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Beatriz Abaurre (1937)


Maria Beatriz Figueiredo Abaurre nasceu em Londrina, no Estado do Paraná, em 31 de agosto de 1937. filha de João Figueiredo e de Marina Affonso Figueiredo.

Mudando-se para o Espírito Santo, obteve diploma de Graduação em Piano (EMES). Fez vários cursos de especialização na área de Música e Cultura. É autora de letras de música.

Integrante da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo no período de 1980/1984 e da Orquestra de Câmara da UFES de 1990/1997.

Ocupou os cargos de Diretora da Fundação Cultural - do Departameto Estadual de Cultura - e da Escola de Música do Espírito Santo.

Escritora, poeta, trovadora, teatróloga.

Vencedora do concurso literário promovido pelo jornal "A Gazeta" com o conto "Era uma vez".

Vencedora de vários concursos de trovas, é membro do Clube de Trovadores Capixaba. autora da peça teatral "Os Inconfidentes" - 1970.

É membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, onde ocupa a cadeira n. 20, cuja patrona é Juracy Loureiro Machado.

Obras:

Payé-guaçú (Revista do IHGES, n. 49), 1997
A revolução das violas (infanto-juvenil) 1997
Joaquim e seu flautim (infanto-juvenil)1998
A jibóia que virou trompa (infanto-juvenil) 1998
A Metaficção Histórica no Romance Cotaxé de Adilson Vilaça - Monografia transformada em livro pelo IHGES
Ticumbi, Preservação que se impõe - em fase de editoração
O mundo mágico da Música
Gritos sem respostas ( poemas)
Mensagem a Saturno (contos e crônicas)
As folhas da figueira (romance)
Sob um Raio de Lua (infanto-juvenil) em fase de ilustração
A história da cultura capixaba através de seus órgãos oficiais (ensaio)
Geografia afetiva de uma Ilha 2002
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Participação na Antologia 2003 - Textos e Tramas - da Academia Espírito-santense de Letras.

Participação na Antologia 2004 - Ecos da Terra Capixaba, da AFESL

Participação na Antologia 2005 - Dança das Palavras - organização de Maria Beatriz Nader e Marlusse Pestana Daher.

Participação na Antologia Clepsidra, da AFESL, organizada por Jô Drumond e Graça Neves, Gráfica Santo Antônio Ltda - GSA, Vitória/ES, 2007.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organizado por Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Trova 171 - Athayr Cagnin (Cachoeiro do Itapemirim/ ES)

Cecy Barbosa Campos (A Noitada)



Ela se olhou no espelho, de frente, de lado, entortando os olhos para trás, ao máximo possível. Defato estava linda. Gostou do resultado, sentindo-se irresistível.

Naquela noite, tudo teria que acontecer. Estava cansada de esperar pela chegada do marido que, com desculpas esfarrapadas, voltava para casa cada vez mais tarde. Agora, seria a sua vez. Ele haveria de estranhar sua ausência, sentir sua falta, preocupar-se, temendo que algo lhe houvesse acontecido. Passaria pelos vários estágios de ansiedade que constituíam o seu tormento cotidiano ou, pelo menos, bastante frequente.

Saiu com as amigas, bebeu, dançou, "ficou", sem quase se lembrar do marido. Quando começou a ficar entediada, pelo burburinho sem significado, e teve vontade de voltar para casa, sentiu medo. Não medo de sua reação, pois até gostaria de uma cena de ciúmes, mas medo de chegar antes dele e sentir a frustração de ter sua tresloucada atitude reduzida a nada. Daí reagia e continuava fingindo a alegria que mostravam seus dentes claros e perfeitos, mas que não atingia o seu coração.

Finalemnte, com o dia amanhecendo, voltou para casa. Estava exausta e com um terrível sentimento de vazio.

Ao entrar no edifício foi, imediatamente, abordado pelo porteiro que lhe entregou um envelope.

- A Moto-entrega deixou isto aqui inda agora, cedinho, disse ele solícito.

Sem agradecer, de relance, ela reconhece a letra do marido. Desolada, perdida, na brancura do papel, uma única palavra - ADEUS - sem explicação e sem assinatura, pois que ela não seria necessária.

Seria inútil, pensou. Tudo inútil.

Fontes:
CAMPOS, Cecy Barbosa. Recortes de Vida. Varginha, MG: Edições Alba, 2009.
Imagem = http://www.fotosdahora.com.br/

Athayr Cagnin (Poemas Avulsos)

VELHOS CAMINHOS

Caminhos que trilhei em minha infância,
não estranheis meu passo tardo, lento.
O tempo ficou longe, na distância,
em que me tínheis, livre irmão do vento.

Daquele velho ardor só guardo esta ânsia
de fugir, fugir sempre ao sofrimento.
Porém jamais encontro a verde estância
em que retome o fôlego e o alento.

Agora que vos piso novamente,
pobre de aspirações e sem ideais,
fico a pensar em minha luta ingente:

- Eterna fuga... Estradas sempre iguais...
A gente caminhando para a frente
E vendo que, afinal, vai para trás...

ESTAÇÕES

Aqui, na doce paz deste abandono
neste meu voluntário isolamento,
contemplo o ocaso final de um final de outono
num triste fim de dia sonolento.

Aí vem vindo o inverno nevoento
a enregelar-me e a perturbar meu sono.
Já lhe sinto o rigor. Já lhe ouço o vento
a uivar nas trinchas como um cão sem dono.

Farfalham folhas secas pelo chão,
lembrando as minhas ilusões perdidas...
- Sonhos da mocidade que se vão...

Eis que o inverno da vida me abre as portas,
levando, como folhas ressequidas,
uma por uma, as esperanças mortas.

DEUSA DA TARDE

Era na hora da tarde terna e suave
em que das pombas se ouve o arrulho amigo
que ela, com seu passinho leve de ave,
furtivamente vinha ter comigo.

Sempre que o sol se punha minha chave
abria a porta do solar antigo,
que, com seu porte austero, nobre e grave,
era do nosso amor o doce abrigo.

Nesses encontros rápidos, ousados,
todas as tardes, um desejo ardente
nos conduzia a extremos desvairados.

Para encontrar-me ela rompia amarras.
Mas um dia partiu. Ficou somente
comigo a algaravia das cigarras.

MENTIROSA

Todas diziam como tu. Sorrindo
e sem dar importância ao que falavam,
a todas eu também ia iludindo,
da mesma forma como me enganavam.

Umas juravam. Outras preferindo
com o pranto reforçar o que afirmavam,
iam, de um modo cínico, fingindo
ser eu aquele a quem no mundo amavam.

Fingi acreditar em todas elas.
Estas por demonstrarem mais ardor,
por serem algo liberais aquelas...

Foram-se todas, cheias de amargor...
Só tu que foste a mais fingida delas,
ficaste, eterna, para o meu amor!

SUBMISSÃO

Para apagá-la do meu pensamento
- ela que é tudo o que na vida almejo
nos braços de outras fui buscar alento
e sufocar a chama do desejo.

Mas por mais que eu buscasse o esquecimento
e de olvidá-la, tenha tido ensejo,
jamais pude alcançar o meu intento:
- cada beijo que eu dava era seu beijo.

Vivo neste dilema inexorável:
ou me submeto à sua tirania,
ou sofro a sua ausência irremediável.

O amor de outras mulheres posso ter...
São lindas... mas em minha fantasia,
só quero aquela que me faz sofrer!

CREPÚSCULO

Na tarde roxa, fria e evocativa
tudo parece morto e desolado.
A luz, aos poucos, como que se esquiva,
esgueirando-se ao longo do ar parado.

O céu tem a feição decorativa
de um afresco vazio e desbotado,
Constituindo a única nota viva,
como um ai, há de um pássaro o trinado.

Um cortejo de sombras, como um bando
de aves estranhas, sobre a natureza
as asas lentamente vai baixando...

E enquanto o dia, aos poucos chega ao fim,
um dilema me assalta: - Esta tristeza
Vem da tarde que morre... ou vem de mim?...

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Athayr Cagnin (1918)



Athayr Cagnin, poeta e trovador, nasceu no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, em 20/11/1918, filho dos imigrantes italianos Urbano Cagnin e Josefa Volpato Cagnin.

Fez o curso primário no Grupo Escolar "Bernardino Monteiro" e o secundário em exames de madureza no Externato "Pedro II ", depois de ter passado pelo Ginásio "Pedro Palácios" e "Instituto Popular", do professor João de Barros.

Formado em Odontologia pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Vitória, iniciou suas atividades profissionais na cidade da Serra-ES, transferindo-se posteriormente para Cachoeiro de Itapemirim.

Iniciou-se nas letras ainda muito jovem, colaborando nos jornais e revistas do Estado do Espírito Santo.

Foi nomeado professor catedrático do ensino secundário pelo Governo do Estado do Espírito Santo, após ter sido aprovado com distinção em concurso público de títulos e provas. Em outro concurso realizado em 1965 conquistou o 1º lugar na cadeira de "Ciências Físicas e Biológicas ( 2º ciclo) do Liceu "Muniz Freire", do qual também foi Diretor.

Agraciado com o título de "Professor Emérito" da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras "Madre Gertrudes de S. José" pelos relevantes serviços prestados à entidade.

Ex-membro do Conselho Estadual de Cultura, ocupa a cadeira n.02 da Academia Espírito -Santense de Letras, que tem por patrono Graciano dos Santos Neves e a cadeira n. 06 da Academia Cachoeirense de Letras que tem por patrono Narciso de Araújo.

É também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.

Obras:

"O aparelho fonador e a articulação dos fonemas" (tese de concurso) 1948
"Seixo rolado" ( poesias) -Frangraf, Cachoeiro de Itapemirim- 1982
"Cantigas em quatro linhas" - trovas - Gracal Gráfica & Editora, Cachoeiro de Itaperimirim, 1996

Participou das antologias "Trovadores do Brasil" e "Nossas Poesias", de Aparicio Fernandes.
e de "A Poesia Espírito-Santense no Século XX", organização, introdução e notas de Assis Brasil, 1998
"Cantigas em Quatro Linhas" - trovas, 1996
Meus poemas teus - 2001
Poemas rimados (inédito)
"Ainda o soneto" - 2006

Participação na Coletânea "Serra em Prosa & Versos - Poetas e Escritores da Serra", organizada por Clério José Borges de Sant'Anna.

Participação no Catálogo 2009, Letras Capixabas em Arte, organização de Maria das Graças Silva Santos.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Evaldo de Paula Moreira (Adeus…)

Pintura de Angela Kelly Topan
Nó na garganta.

Em qualquer lugar do mundo, a garganta humana denuncia quando uma pessoa está triste.

Se tirarmos um doce de uma criança, num instante veremos o olhar de indignação, seguidos de soluços e lágrimas nos olhos.

É uma maneira de demonstrar a violência sofrida.

Seja criança ou adulto.

Vi um senhor ficar triste, na roça, só porque alguém insinuou que o bode dele estava ficando velho. Sentiu-se subestimado, e logo se esboçou o nó.

Sofremos, sempre que nos tiram alguma coisa.

Meus pais se mudaram da roça quando eu era criança. Foi como se tirassem a roça de mim.
Lembro-me da viagem.

Saímos de lá, transportados por um carro de bois, até a estação de trem mais próxima.
Sem dúvida, minha garganta, por várias vezes, durante o trajeto, deu ensejo ao nó.

Na medida em que nos afastávamos das pessoas e das coisas queridas, íamos dando Adeus, acenando com as mãos, como se fosse uma despedida para sempre.

Que sensação mais estranha.

Tudo o que conhecera até aquela época era a roça. Eram as matas, os córregos, os riachos, as aves, os pássaros, os bois, as vacas, cabritos, cães... , as pessoas que amávamos.

Tirando o sol, a lua, as estrelas, tudo seria diferente dali para frente.

Era o Adeus para seguir um caminho desconhecido e ver algo diferente.

Só conhecia as coisas das cidades pelas gravuras dos livros.

Conheceria outro mundo, de maneira chocante, por causa da mudança radical, mas cheia de novas perspectivas, dado o jeito receptivo na grande cidade de São Paulo.

Mas, os “nós” me apareceram várias vezes durante muitos anos, porque é difícil vencer a saudade

Fonte:
http://zerobertoballestra.blogspot.com/

Pintura = fotografia de José Feldman

Francisco Miguel de Moura (Poesia incompleta)


O HOJE

certamente inda te adias
pois teus olhos se clareiam
ante a brisa e a paisagem
- que o horizonte é um presente
velejado por rostos escolhidos

mas não atrases teu amor
ao irmão que sofre o preterido

alegria, alegoria
o coração pede ritmos e pulsos
não é nenhum covarde

nem guarde restos e pedaços
de impressentidas elegias

o hoje é tudo o que se tece,
que bem tecido é odor, sabor e prece
em indistintas simetrias.

o amanhã não é teu dia
se hoje não tiveres empatia
com o razoável mundo e o sem-razão.

o ontem não tem clave se te agravas
em sentimento de ódio e entropia
como veio
de teu canto, em toda a via.

colhe a flor que está à mão.

O ONTEM

ontem foi o tempo emocional

assim, como passar
uma esponja
sobre o mal?

e o passado seria mortal

mas uma esponja
embebida do homem
embeberia a coisa:
- na verdade, o mal

um tempo sonâmbulo
que se gravou como um sinal
(esquecer não precisa
nem pode, é tão real)

ontem: eis o tempo que fica
como fundo do tempo
e sem rival.

O AMANHÃ

o amanhã virá
compor-te na teia
do in(completo)
nunca tecido
olho-boca-ouvido
seja fala ou prece
seja foto ou fluido
de luz desejada
paixão não vivida

é limbo incriado
é amor temido

poeta, recia
sem receio
- e recria
teu inteiro futuro

quando o hoje não for mais
essa será a glória
do teu dia.

E O SEMPRE

o hoje se esfume
o ontem se de/pedra
o amanhã quem sabe?

não há sempre
e há o sempre
sempre
sempre
não é começo
não é fim
não é processo

é um tempo sem tempo
nem temporal
nem tem/porão

semper
semper
sem-
per-
seguição

o tempo neutro
dá cacetadas no infinito.

ANTES E DEPOIS

quem saberá se um dia fomos?

e por que auscultar o passado
se se passa
adiante
sem liame de gostos ou de falas?

quando as luzes se apagam
quem diz para onde e a que vamos?

para o vazio e para a morte
de onde deveremos voltar como visões?

vamos para onde não vamos
para além da vida e da morte
onde não há sábios.

quem saberá se um dia fomos?

O CHEIO E O VÁCUO

o nada e o tudo soam nardo
e ab(sinto):
- ab(surdo) na amplidão
dos homens e dos bichos satisfeitos
(inseto ou dinossauro)

cai sobre mim uma poeira
cósmica coceira
de saber
o que constante me devora
e a paciência
me explode em palavrão

palavras vãs, palavras vão
e vêm
cortar o silêncio amplificado
de tudo quanto é voz

não há imposturas, há correntes
de sangue, sabor, gestos(contrários) parados
água e calor que luzem

nardo é nada
ab(sinto) é liberdade:
- um nome sem tempo e com paixão

palavras vêm, palavras vão
soltas ao vento e zunem no telhado
das nuvens e dos astros
mas nada produzem:

- falta espaço
e como vêm, se vão

o mundo em seu bailado, no universo
é impiedade
e tudo cala.
a fala morde a dor do falante
entre dentes, trovões, cometas...
e outras tralhas.
deus se evola e bebe as águas
do abismo
onde se banha

e não há vácuo - falta tempo
e não há cheiro - falta onde pairar.
só deus explora o esquecimento
do existir.
------

Francisco Miguel de Moura (Literatura do Piauí)


No ano de 2001, veio a lume, no Piauí, a obra condensada e organizada por Francisco Miguel de Moura: “Literatura do Piauí”. Com certa curiosidade, decidi, nesses últimos tempos, abri-la, como que esperando encontrar algo que se somasse às outras tantas pesquisas minhas, ora, é de praxe um autor-pesquisador, como o Sr. Moura, alavancar uma nova concepção; uma nova visão dos fatos.

O professor, integrante da geração moderna piauiense, então, usando-se das visões modernistas da crítica, oferece aos leitores algumas reflexões acerca do conceito de literatura e do fazer poético. Das tantas afirmações introdutórias, alguns deslizes geraram equívocos, como a própria significação latina de littera (“significa exatamente letra” [Op. Cit. p. 13]), sabemos, pois, que, embora littera tenha advindo de litteratura, sua real significação não mudou: Ensino das primeiras letras; eis aí o motivo de tantos filósofos e estudiosos da língua confundirem o termo com “gramática”.

Ainda dentro do mesmo conceito, o autor infere: “literatura é tudo o que se escreve” (idem), ferindo o verdadeiro conceito aristotélico; ora, sendo a literatura a expressão polivalente das palavras, dos signos linguísticos, “tudo que se escreve” não pode ser considerado literatura, uma bula de remédio, por exemplo, não expressa polivalência, avalie a emoção, o subjetivismo…, ingredientes estes fundamentais que exige a literatura como forma. Na condição de estudioso das letras, posso discordar do seguinte pensamento: “… há duas línguas e sua respectiva linguagem: a falada e escrita” (ibdem); no campo da literatura, nesse, e só nesse sentido, apontado pelo Sr. Moura, a construção e variação da arte não implica que a língua se fragmente, já que aplicada ao fazer literário, continua sendo apenas uma, promulgada, porém, em duas formas distintas, oral e escrita; e a oral, como sabemos, não implica literatura, tal qual o teatro, que só é literatura na sua condição impressa, logo, como advertiu, certa vez, o estudioso Massaud Moises, o teatro, ambiguamente, só interessa para a literatura quando não é teatro.

Analisar conceitos tão amplos como “literatura”, “moral”, “poesia”, “ética”, enfim, rege ao pensador e ao ensaísta reflexões profundas que visam observar as mudanças dos tempos e as transformações que uma dada ideia sofre, seja de forma positiva ou, até mesmo, não coerente com o sentido original. Como o Sr. Moura citou, “… na antiguidade, tudo o que se considerava ‘literatura’ era feito em poesia, com ritmo e metrificação” (Op. Cit. p. 14), sem dúvidas, mas é, também, sabido que esta regra vale-se para a antiguidade ocidental, que é o nosso caso. A propósito, a base do conhecimento, tanto antigo quanto contemporâneo, nunca deixou de se fixar nas artes, filosofias, religiões e ciências, sendo, aí, possível ainda, uma segunda classificação: As de base palpável, ou seja, física, concreta; e as de caráter abstrato, não-física, suposta, meditada; classificando-se, então, as ciências e as artes no primeiro caso e as religiões e filosofias no segundo.

Mudemos um pouco a análise do conceito de literatura e vejamos um pouco mais, aliás, como o Sr. Moura avalia a poesia, “palavra mais abrangente, na sua origem significava fazer” (idem). O verbo “fazer” pareceu empregado de forma insatisfatória, a palavra “poesia” vem do grego poiesis e significa, ao pé da letra, criar, no sentido de imaginar. O conceito sempre foi o mesmo. Muito me espanto quando percebo a secular confusão que existe entre a diferença de poesia para poema, talvez por serem palavras análogas; todavia, como o próprio sentido original nos dita, poesia é, na realidade, o elemento espiritual da arte, sendo refletida tanto na literatura quanto na escultura, pintura, fotografia etc., trocando em miúdos, a poesia é abstrata, individual, única, está em cada um de nós. Uma obra de arte, por exemplo, não possui poesia enquanto não for interpretada como poesia; o ponto de vista é que faz a diferença. O poema, então, é apenas uma ferramenta da qual o artista se utiliza a fim de expressar as suas emoções, ou seja, a poesia que sente no momento produtivo; o poema é o pincel, ou a tela, ou a tinta, do poeta. O Sr. Moura, na busca de entender e licenciar-se em tais conceitos, lança mão das palavras do diplomata e escritor mexicano Octávio Paz, quando cita: “o poema é poesia” (Op. Cit. p. 15); assim, desprezando o verdadeiro sentido já, aqui, descrito.

Poema pode, ou não, ter poesia e a poesia pode, ou não, ser constituída em forma de poema. Vejamos a assertiva do brasileiro Hermes Vieira, quando em ensaio sobre Humberto de Campos, nos legou as palavras do mestre Orris Soares: “há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício”; sendo todo poema um conjunto de versos, o conceito de forma generalizada aplica-se, logicamente, ao poema. Não dando ouvidos ao alerta de Massaud Moisés, Francisco Miguel de Moura entende, através de Fidelino de Figueiredo, que “a arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma supra-realidade” (Op. Cit. p. 16), e assim, como que tentando entender, fico nesta mesma linha, matutando o quê pode existir acima da realidade, já que ficção, por mais surreal que seja, busca na realidade as bases de sua construção.

O certo, porém, é classificar, sim, a literatura como a “criação de uma para-realidade”, como bem reflexiona o mestre Moisés: “o mundo ficcional não está ‘acima’ senão ‘ao lado’, paralelo à realidade ambiente, com ela realizando um permanente intercâmbio e nela se integrando inextricavelmente”, o intercâmbio de que fala é tão constante que sem ele jamais o artista poderia criar ou poderíamos interpretar uma criação à luz do raciocínio comparativo.

Fonte:
parte integrante do artigo de Daniel C. B. Ciarlini, disponível em http://franciscomigueldemoura.blogspot.com/

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Convite para Lançamento da Antologia Literária Cidade

Uma vitrine e um painel da produção literária em língua portuguesa. Assim pode ser caracterizada Antologia Literária Cidade, organizada pelos professores Mestres Abílio Pacheco e Deurilene Sousa. Os volumes IV, V e VI, sob o selo da L&A Editora, serão lançados na XIV Feira Pan Amazônica do Livro, no dia 02 de setembro, de 18:00 às 21:00 horas, no Stand do Escritor Paraense.

Os três volumes contam juntos com 66 escritores, sendo: 15 do Pará, 13 de São Paulo, 5 do Rio Grande do Sul, 4 do Rio de Janeiro, 3 do Mato Grosso, 3 de Minas Gerais, 2 do Amazonas, 2 de Pernambuco, 2 da Bahia, 2 do Distrito Federal, 2 do Rio Grande do Norte, 2 da Paraíba, 1 do Ceará, 1 de Santa Catarina, 1 do Espírito Santo, 1 do Paraná, 1 de Maranhão, 1 de Sergipe, 1 de Goiás, 1 do Piauí e 3 de Portugal.

A Antologia Literária Cidade teve seus três primeiros volumes lançados na XIII Feira Pan Amazônica do Livro, em novembro de 2009, com enorme aceitação do público, que pode conhecer obras tanto de autores inéditos quanto de autores já publicados. Espera-se a mesma aceitação com os três volumes atuais, que nos levam por um labirinto de sensações, desnudando a alma de cada autor, ímpar em percepção e inspiração.

Os organizadores da Antologia nos convidam para um encontro com a pluralidade literária dos escritores de língua portuguesa; pluralidade essa, metaforizada na palavra cidade, espaço múltiplo,de figuras moventes.

Serviço:
O quê: Lançamento da Antologia Literária Cidade
Quando: 02 de Setembro, de 18:00 às 21:00
Onde: Stand do Escritor Paraense Hangar: Centro de Convenções.
Observação: durante a XIV Feira PanAmazônica do Livro

Outras informações:

Site/Blog: http://antologiacidade.wordpress.com
Email: antologiacidade@bol.com.br
Telefones: (91) 8263-8344 / 8896-0379
(ambos a partir de 20 de agosto)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Visitas ao Blog entre Maio e Agosto de 2010

Vânia Maria Souza Ennes (Trovador)

Fonte:
ENNES, Vânia Maria Souza. Chuva de trovas, junho de 2008. Biblioteca Virtual do Portal CEN (Cá Estamos Nós).
Arte de Iara Melo.

Tristão Alencar Pereira Oleiro (Poemas Avulsos)


SAUDADE

Saudade é vento que passa
Na estrada poeirenta da vida,
Deixando lembranças gravadas
Na velocidade não percebida.
É lembrança de coisas boas,
Chegadas da estação da aurora.
É desencanto das despedidas,
É alegria dos tempos de outrora.
Saudade é ouvir as cantigas,
Do sorrir e do cantar,
Dos tempos de minha infância.
Do perfume das flores no ar.
Das brincadeiras nas calçadas,
Nas praças e jardins
Correndo pelas alamedas,
Entre rosas e jasmins.
Ah! como é bom lembrar
O conviver com inocência,
Das amizades sinceras,
Com amor em sua essência.
O tempo é o melhor amigo
Que faz a lembrança voltar
Para casar a saudade comigo
E jamais nos separar.
Saudade que fica para sempre
Assim a vida se esvai,
Trazendo muitas lembranças ,
Dos tempos que não voltam mais.
––––––––––––––––

AMANHECER

O sol desponta no horizonte amarelando areias da praia.
Alaranjadas nuvens traduzem a temperatura elevada que está por vir.
Suaves ondas desenham a orla repleta de agitadas aves em busca de alimentos.
A brisa faz farfalhar folhas dos coqueiros.
O coração do poeta segura a produção literária da madrugada, empilhada sobre a mesa para não voar ao léu.
O dia inicia e com muita nostalgia encerra-se o que passou.
Dia após dia, a sequência criadora grava no tempo a história presente.
Vida de escritor...
––––––––––––––––––––

LAGUNA AO LUAR...

Teus meus cabelos soltos
Na brisa que afaga...
Luar, trilha de prata
brilha ao teu/meu olhar...
Laguna, lagoa, mar,
Peixes (des)embainhados, reluzem...
Ondas em colares perolados
Amores ardentes, seduzem...
Praia orlada, dourada,
a sonhar, momentos
Sonhados, conduzem...
És minha lua, luar,
Claridade infinita, paixão...
Luz irradiada, clarão
A iluminar minha vida...
------

Fontes:
Antologia de Poetas Brasileiros. volume 44. março 2008.
Revista Aquilo que a gente sente. n.1. novembro 2009. Portal CEN.
Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores 2009. A Natureza em Versos. http://www.avspe.eti.br/coutinho/poesiaamigos/narureza5.htm

Tristão Alencar Pereira Oleiro (1946)



Tristão Alencar Pereira Oleiro nasceu em Valparaiso-SP a 9 de outubro de 1946.

É Contador e Servidor Público Municipal de Pelotas, onde é Diretor de Manifestações Populares da SECULT.

Ativista Cultural, Escritor e Poeta.

Tem publicado o livro “Crônicas, Contos e Poesias”, Ed. E Gráfica UFPEL, no ano de 2007. Trabalhos publicados na 44ª Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, na Antologia de Contos Fantásticos e no Livro de Ouro da Poesia Brasileira Contemporânea ambos no RJ.

Possui contos, poesias e prosas premiadas pelo Centro Literário Pelotense (CLIPE) Pelotas/RS, Academia Sul Brasileira de Letras (ASBL) Pelotas/RS, Casa do Poeta Rio-Grandense (CAPORI) Porto Alegre/RS, Centro de Escritores Lourencianos (CEL) São Lourenço do Sul/RS, Editora PorArt (Volta Redonda-RJ) e CBJE – Câmara Brasileira de Jovens Escritores (Rio de Janeiro-RJ). Presidente da CBC – Casa Brasileira de Cultura (2008-2010) Pelotas/RS,

Membro Acadêmico Correspondente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves Cadeira 12 (Porto Alegre/RS, 2009) e

Membro Correspondente da Academia Rio-Grandina de Letras- ARL (Rio Grande/RS, 2009).

Recebeu o Título de Cidadão Pelotense (Câmara de Vereadores e Prefeitura Municipal de Pelotas/RS, 2005), o Brasão da Academia Pelotense de Letras (APelL, 2005), a Medalha do Mérito Tradicionalista João Simões Lopes Neto (Movimento Tradicionalista Gaúcho / 2008), além de várias menções honrosas por participação em concursos literários.

Participa das coletâneas do Centro Literário Pelotense, onde participa; do Centro de Escritores Lourencianos e da Casa do Poeta Riograndense.

Recebeu Menções Honrosas no Concurso Nacional de Poesias Érico Veríssimo em 2005, no Concurso Literário de Poesias Pedro Baggio da Associação Brasileira de Letras em 2007. Recebeu o Título de Cidadão Pelotense da Câmara de Vereadores e o Brasão da Academia Pelotense de Letras, ambos em 2005, além do Troféu Obelisco em Administração Pública, em 2006.

É Diretor de Divulgação da Casa do Poeta Rio-grandense gestão 2008/2009 e Presidente da Casa Brasileira de Cultura sediada em Pelotas gestão 2008/2010. Escreve crônicas para jornais da cidade.

No Tradicionalismo, foi fundador da 10ª Região, em 1976, com sede em Santiago/RS e foi seu primeiro Secretário por dois anos.

Participou de vários Congressos Tradicionalistas, Convenções e Festas Gaúchas do MTG. Foi Posteiro Cultural do CTG Negrinho do Pastoreio em 1992, concorreu ao cargo de Coordenador da 26ª Região em 1994.

Escritor Imortal da Academia de Letras do Brasil, pelo Rio Grande do Sul.

Fontes:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?id=1271
http://www.camarapel.rs.gov.br/imprensa/noticias/2008/0104/0104t.htm

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas VII)


Alta noite, escrevo versos,
sentindo a falta de alguém;
quem me dera que dispersos,
ela os ouvisse também...

A trova que canto agora
tem sabor de nostalgia,
por alguém que foi embora
quando mais bem a queria.

De manhã cedo levanto
e ao Senhor dos Céus imploro,
que me ajude quando canto
e me console se choro.

Desejo que o nosso amor
nunca seja de mentira;
por isto sou trovador
romântico, ao som da lira.

De tudo que amo e venero,
vem em primeiro lugar,
teu beijo doce e sincero
que me faz revigorar.

Dos versos soltos que faço,
um deles tem mais calor;
porque lembra teu abraço
e nossos beijos de amor..

Este amor que não resiste
às tentações deste mundo,
se não fosse assim tão triste,
pudera ser mais profundo.

Estivemos frente a frente,
mas nenhum de nós sorriu;
parecias diferente
que me deixaste arredio.

És uma estrela tão alta,
brilhando no firmamento,
que a minha canção exalta
no calor do sentimento.

Eu caminho lentamente
pelas areias do mar,
debaixo do sol ardente
que descamba devagar...

Eu levo a vida cantando
minhas trovas e canções;
só assim vou afastando
mágoas e desilusões.

Eu te esperei tantos anos,
até não conseguir mais
agüentar os desenganos
que o teu desprezo me traz.

Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.

Não façamos desta vida
um motivo de revolta;
nesta estrada sem saída
é tão difícil a volta.

Não há mentira mais louca
da que sai do coração,
pois a que nasce da boca
quase sempre é pretensão.

Nesta manhã radiante
de sol claro e resplendente,
por seres tão inconstante,
me deixas tão descontente...

Nosso amor já teve fim,
pois não esteve ao alcance
o que você quis de mim
pra ter sucesso o romance.

O amor de quem não desiste,
seja forte, seja brando,
há de permanecer triste
que nem flor que vai murchando.

O amor platônico vive
em minhas trovas também;
foi um que uma vez eu tive
e não me fez muito bem.

O amor tem prazer e pranto,
também mágoas e carinhos;
pois assim sendo, portanto,
não há rosas sem espinhos!

Para esquecer-te procuro
me envolver na multidão,
mas não me sinto seguro
e retorno à solidão.

Pelo amor sempre sonhado
e nunca correspondido,
vou cantar um verso alado
pra que chegue ao teu ouvido.

Penso em ti quando a saudade
me visita de surpresa
e na minha soledade
recordo a tua beleza.

Perdido em divagações
sento à beira do caminho,
como se as recordações
não me deixassem sozinho.

Quando te vejo sorrindo,
não consigo disfarçar,
este desespero infindo
de não poder te beijar.

Se amei e fui preterido,
pouco me importa até quando,
pois não me dou por vencido
e continuo te amando.

Se tens amor não o escondas,
proclame-o para quem é;
as paixões são como as ondas
que aproveitam a maré.

Trovas de amor e saudade
trazem mil temas diversos,
mas predomina a amizade
nascendo de tantos versos...

Tu me procuras sorrindo
e te recebo contente,
como se fosse surgindo
um novo amor de repente!

Vida de amor e saudade,
que junto com nossos sonhos,
também traz a realidade
e momentos enfadonhos.

-----------------

Fonte:

O Autor

1ª Oficina de Redação no Ponto de Leitura de Itu


O Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima - realizará todas as quartas-feiras, das 18h30 às 21 horas, a partir de 15 de setembro, a 1ª Oficina de Redação. O curso é gratuito e o público alvo são estudantes de Ensino Médio de escolas públicas (normal, técnico e supletivo), porém as inscrições estão abertas a toda a população.

Serão onze encontros durante os meses de setembro a dezembro, com encerramento previsto para o dia 08 de dezembro.

Durante o curso os participantes irão trabalhar com o acervo da biblioteca comunitária nos seus diversos formatos: dicionários, livros, revistas, jornais, fanzines e cordéis. Será dada ênfase à produção literária contemporânea e reflexões sobre temas do cotidiano, nas variadas formas de expressão literária: descrição, narração, dissertação e outras. Por meio de exercícios e técnicas de leitura e escrita os participantes serão estimulados a criar textos em diversos formatos, tanto individuais como coletivos.

A oficina será coordenada por José Renato Galvão, graduando em Letras pela UNIP e voluntário da biblioteca comunitária. O limite é de 30 vagas, sendo 20 para estudantes de escolas públicas e 10 para o público em geral. A idade mínima é de 14 anos. Para se inscrever é necessário informar nome, endereço e documento de identidade (RG).

As inscrições podem ser feitas pelo e-mail bibliotecacomunitariaitu@gmail.com , pelo telefone (11) 8110.3598 ou pessoalmente (apenas aos sábados) na biblioteca, que fica na rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.

SERVIÇO

1ª Oficina de Redação

ONDE
: Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima - Rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.

QUANDO: A partir de 15 de setembro de 2010, às quartas-feiras, das 18h30 às 21 horas.

QUANTO: atividade gratuita.

INSCRIÇÕES: (11) 8110.3598, bibliotecacomunitariaitu@gmail.com ou pessoalmente no local (apenas aos sábados das 9 às 18 horas).

Fonte:
Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima

domingo, 29 de agosto de 2010

A. A. de Assis lança Trovia n. 129 – setembro de 2010


Você pode adquirir este número no site: https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home
ou fazer o download diretamente em
https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home/TROVIAmaring%C3%A1n129setembro2010.pdf?attredirects=0&d=1
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Paraná em Trovas
Se alguém se torna importante,
por certo alguém o ajudou.
Mesmo o Amazonas, gigante,
de afluentes precisou.
A. A. de Assis
Pela ambição do poder,
até guerra o homem faz.
Traz a morte por não ver
que o poder está na paz.
Adélia Woellner
A vida é dura, patrão,
rarissimamente bela...
Porém não há solução
senão conviver com ela.
Antônio da Serra
Por medo de te perder,
não errei – pobre aprendiz!
– Não soube me conceder
o risco de ser feliz...
Jeanette De Cnop
Quem tem sonhos hoje em dia
nunca perca a esperança.
Diz velha sabedoria:
Quem espera sempre alcança.
José Feldman
Primeira noite... pijama,
camisola de babado...
Ela acordada na cama,
tudo o mais... desacordado!
Lucília Decarli
Em algo simples se encerra
raro prazer e emoção:
O cheiro que exala a terra
quando a chuva cai no chão.
Olga Agulhon
E’ dia sim, dia não...
Dia anão?... Ou dia assim?...
Sei lá... mas que confusão!
O jeito é rimar com “fim”...
Osvaldo Reis
Vai trolinho carruagem...
todo mundo atrás do trem!
Vou logo comprar passagem
para encontrar o meu bem...
Renato Leite Goetten
Eu não troco o meu feitiço
por um feitiço qualquer;
meu charme eu não desperdiço:
meu feitiço é ser mulher!
Roza de Oliveira

Nos acordes da poesia,
versos de muito valor
traduzem a nostalgia
do peito de um trovador.
Sônia Ditzel Martelo
Meu tempo tornou-se esparso...
Por mais que eu tente retê-lo,
nem com tintura eu disfarço
o cinza do meu cabelo...
Vanda Alves

Nas curvas da caminhada,
tento a paisagem mudar.
Se não pode ser mudada,
mudo meu jeito de olhar!
Vanda F. Queiroz
Eu sonho no meu viver
e vivo no meu sonhar...
Na saudade o reviver,
no presente o caminhar...
Vidal Idony Stockler

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além destas, muitas outras de diversos estados e Portugal podem ser encontrados na Revista Virtual de Trovas Trovia n. 129, setembro de 2010 em https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home

Efigenia Coutinho (A Poetisa e sua Poesia)


RECOMEÇAR

Na ousadia de recomeçar a Vida
eu tentaria refazer meus sonhos
tornando-os ainda mais grandiosos!...
Embelezando ainda mais a vida!

Porque os sonhos são infindos
sem opressão, sendo mais formosos
depois que se conhece e vive o Amor
como um salmo do próprio amor!

Nada mais grandioso que um Lacre
entre duas almas solidamente selado
do mesmo ideal do sonho encantado!

Não padeças se achares meu coração
triste, mas fique triste e desolado
se não encontrares o meu coração!

TEUS AIS

Por noites de esplendor e exaltação
desfrutávamos dos sonhos o alento!
Ainda, inquietação em mim provocas
Transmutando desejos com alento!...

Ao arrebatamento íntimo a caricia
Dos teus anelos sentindo na memória
Que retorna deixando-me enleada
Somente em recordar a nossa estória:

Duas almas enamoradas juntas,
reencontros pelas escritas
Não há todavia como esquecer!

Neste tempo, magia e rituais
da paixão, na derradeira cavalgada
você vinha, com vinho e teus ais!...

TEMPESTADE

Por essa pupila luzente e molhada,
um enigma sacro soberbo de ternura,
vem pela ampla noite de gozo e loucura
estende-se, quente e perfumada.

É por onde ansioso olhar alucinado,
embebe-se da noite espessa,
rompendo dela uma voz em cruz,
chega murmurando cânticos de Luz.

Parece a voz dos Anjos, com teu olhar
falando, murmuras sonhos a completar,
contando todas as histórias de Amores.

E chegas por ela, qual divindade sorrindo,
por silfos de sonhos de volúpia, ao enredo
duma Tempestade de Risos e Lágrimas!

CORAÇÃO

Conheço um coração, onde elevado sonho,
qual filho de um rei, dono de império vasto,
entre galas se alojou. E, cercando-o risonho,
um bando de ilusões mais lhe aumentava o fasto!

Contemplando-o agora, dolorido e tristonho,
por querer palmilhar do ideal o augusto rasto
sem de todo o lograr, a animá-lo me ponho,
para que não se abata o golpe tão nefasto!

Portanto, à veemência que ele se vai despindo
de um manto santeiro, acetinado e lindo,
e enverga de vagar vestes faltas de brilho...

As minhas lágrimas de dor, eu vou contendo,
e em bom tom digo: volta ao meu coração,
dentro dele você hospedou tua canção!...

TERNURA MATINAL

Na manhã, o sonho terno
lá longe em outro mar,
alguém me causa clamor
sem contudo me alcançar.

Uma brisa de desejos
sobe mansa,vem chegando,
borrifando aroma delicado
de sonhos enamorados...

Seria comigo o sonho dele
ou eu que sonho com ele
pelas noites de luar!...

A vida pulsa ardente, longe...
chegando-me por tuas
mãos lençóis de Ternuras!

CONFIDÊNCIAS

Se existe algum segredo
sem medo ou receio dar
a cada dia novo sentido
no amor que sentimos...

Não sendo egoísta, onde
tudo arrisca ,vem até mim.
aroma delido de jasmim
pela espessa romaria...

Acolhe em teu peito
sorve os rumores que
brado, sentindo o feito!

Pode ser loucura o lume
somente desejaria
que este se consume!...

CORAÇÃO DE CRISTAL

Tenho um coração de Cristal,
minha fonte pura de magia;
rei de minhas noites de luar
aos tons suaves duma cantoria.

Fonte cristalina que vida encerra,
com sua luz engravida a terra,
de todo bem que em ti alcança
o sonho, se imortalize a senda!

Vem em mim amoroso sonho
ânsias infinitas, olor e desejo
palpitando rumores - teu beijo!...

Ó fonte cristalina que corre cheia,
que eu me desmanche alva e sonora
em teu coração, por dentro e por fora!

UM ACENO

Um aceno, e a terna recordação.
Na tua presença, sigo pela Vida
A cada segundo,tua imagem querida
Faz um ninho dentro do meu coração!

Vem um bailado por tuas mãos
Envolvendo uma suave atração
Não tem como conter o sonho
Esse murmurar cheio de afeição.

Clamo céus, que possam me dar
Tua presença eterna para sempre
Que, em minha alma vem acalentar!

Por este teu carinho resplandecente
Juntos, perpetuaremos, iremos exultar
Por infinitos reencontros premente!...

QUANDO ANOITECE

Quando anoitece gosto de te sentir
meu corpo colado ao seu,docemente
acolhemos o amor que é presente
esse contentamento que enternece

Hospedada em ti, teu corpo me aquece
sublimando, são momentos de desejos
ardentes, colados, ficam nossas peles
somos tu e eu exaltar numa prece...

Queridas são tuas mãos em mim
caricias que enaltecem o interior
amor ardente, é pecado Amar assim!

Quando me beijas e me mordes infindo,
é magia e loucura sem ter fim, extenso
é teu gemido do meu prazer sentido!

AMOR INFINITO

Dos sonhos e ilusões, os tons
mais azuis, se é verdadeiro o
Amor com que me queres, tornando-me
a primeira entre todas as Mulheres!

Eu nada mais desejo neste mundo, sendo
senhora de um afeto tão profundo,
certo suportarei as horas duras,
ditosas e altivas até nas amarguras!!!

Que na poesia fecundem todos os Mistérios
e inflame a rima clara e ardente, que
brilhem sonoramente, luminosamente...

O Amor, constelamento Puro, em suas
formas claras, fluídas e cristalina!
Amor que repurifica, canta Paz Infinita!

Fonte:
http://www.avspe.eti.br/coutinho/sonetos_efigenia.htm

Efigenia Coutinho


Nascida em Petrópolis-RJ, cresceu em São Paulo-SP, e na caminhada da vida, morou no Rio e Janeiro-RJ, Florianópolis-SC e atualmente vive em Balneário Camboriu-SC.

Formada em Artes, se especializou em Tapeçaria de TEAR, buscando os seguimentos Indígenas e sua História Natural,tendo participado de várias exposições.
Em 1977 foi residir em Florianópolis SC, e há três anos mudou-se para Balneário Camboriú -SC - 1999 -

A poesia surgiu em minha vida ainda nos sonhos de adolescente, quando menos esperava , lá estava eu com o papel e a caneta na mão, extravasando a minha emoção...Com o passar dos anos, acho que fui me perdendo, esquecendo de como era gostoso embarcar nesta viagem.

Não segui carreira ligada ao mundo das letras, e pouco conhecimento tenho de Literatura. Escolhi Artes como profissão, mesmo sem haver retorno financeiro, pois nada se compara aos tesouros da alma.

Este dom maravilhoso de escrever ficou hibernado durante muitos anos, e como na vida nada acontece por acaso, foi em um desses acasos, na paixão, que ressurgiu a poetisa. Percebi que existiam em mim sentimentos que extasiavam meu coração, mas a única forma de vivenciá-los era através de palavras. Meu estilo preferido é o
lírico, onde escrevo sobre as inquietações do coração, mas também adoro o erotismo, estimula a minha libido.

O incentivo para continuar a escrever surgiu em Junho/1989, quando tive uma das minhas poesias, editada pelo grande poeta VALDEZ, para divulgar o meu trabalho em seu Site.

Fontes:
http://www.avspe.eti.br/efi/efigenia.html
http://www.nadirdonofrio.com/biografia_efigenia_coutinho/biografia_efigenia_coutinho.htm

Lígia Antunes Leivas (Teia de Poemas)


QUANTAS VEZES QUIS TE DIZER...
PAIXÃO

Quantas vezes quis te dizer "Te amo!"
Não sei por que dobrei essa vontade.
Não sei por que guardei essas palavras.
Nem sei por que tanto adiei esse dizer
que tão feliz faz quem o declara calmamente!
Estranho... talvez não possas entender tão fácil
(assim também comigo acontece)
mas já naquela primeira frase
que me escreveste tão desinteressadamente
fascínio intenso assomou-me inteiramente...
o coração e todos os melhores sentimentos
(eu os senti no entusiasmo do meu viver)
Sim!... Como foi bom! Foi como pensei
devesse ser o verdadeiro amor:
contemplação, ardor, arrebatamento
carinho mel, enlevo céu, doce afeição
sentidos e aquerenciados
sem qualquer presença além da imaginação.
Sei... neste 'ser mais ser' vivi o pranto, a dor,
senti o coração sofrido...
transparente, porém... muito mais bonito!
Nenhum silêncio foi suficientemente forte
para constranger tão fiel amor
que a ti dediquei sem nada pedir em troca.
Sim! Este amor que hoje ainda tanto se propaga
e que não cansa de andar por todo meu ser
me faz feliz mesmo que por todo lado
com ele - tão calado - eu sempre ande!

Teu - desconhecido(?) - amor

NAMORADO

Veio chegando junto com a juventude
Veio sorrateiro, disfarçado, de mansinho
E eu cuidava nos olhos seus o sorriso
e em sua boca eu buscava todo riso

Algo invisível (não sei se era o silêncio)
dizia-me muito... tudo que meu coração queria
e eu o seguia, espreitava-o em cada canto
e nesse jeito ia encantando todo meu dia

Passou o tempo, a hora, cada momento
e no meu peito foi brotando um sentimento
que era mel (não era fel!...) era começo
de um amor que igual até hoje desconheço!

Ah! mas veio o destino, a sina e não sei mais
Ele se foi... pra onde? ...não soube jamais
Voltou a vida em seus caminhos na calçada
e aqui fiquei... às lembranças abraçada.

CARÍCIA MANSA NO HORIZONTE DE MUITOS SILÊNCIOS

A tarde começa calma... uma carícia mansa diante de um horizonte
de muitos silêncios que aparentam guardar expectativas que, de verdade, estão mesmo é dentro de nós.
Me acomodo na varanda da casa (... da casa ou do mundo?)
Aqui é meu mundo, a intimidade de mim mesma e tudo mais que vive em mim.
De onde estou descortina-se um horizonte sem fim, me parece. Não faço a menor idéia se ele termina logo ali ou não: onde o fim? onde o limite? ...Infinito!
Mar, areia, certa aragem. Alguma coisa de um sol tímido aparece de vez em quando pra me dizer que a luz não sumiu totalmente. De repente, uma rajada de vento atira montes de folhas da goiabeira que já pressente o ar outonal chegando.
Aqui me derramo... a mim mesma e tudo mais que existe em mim... meu próprio recolhimento, meus subterrâneos, meu sentimento. Cato
presságios que dominam o ar, este estado de ficar refletindo sobre, enfim, o que é 'estar no mundo'. Mas não... Hoje não dá. Não me arrisco a fazer rodar a manivela da tristeza. Deixa pra lá, deixa pr'amanhã... ou sei lá pra quando, pra onde...
Afinal, é Sexta-Feira da Paixão!
ELE morreu...
Nós estamos vivos no mundo... infinito!

QUISERA SER PÁSSARO SEM TER DE DIZER 'ADEUS'

Pelo vidro da janela, a paisagem viaja embaçada.
(- ... meus olhos marejados? - ou o vidro esfumaçado?)
Afinal,em que destino embarquei ao entrar por esta porta?

Já não sei mais nada... Já faz tempo demais...

No bilhete que ficou, jaz uma única palavra.

Quisera eu que nenhuma saudade me afligisse.
Quisera ser pássaro sem ter de dizer 'adeus'...

QUANDO O AMOR SE DESPEDE

"Adeus!", dissemos... nunca mais nos vimos
Nem mesmo nos procuramos sequer...
Permutamos olhares... tantos mimos!!
(Ele? Garoto sem plano qualquer.)

Menina eu (quando nos despedimos),
Jamais supunha um dia ser mulher
Para ter prova do que nós sentimos,
Mesmo sabendo o que o amor requer.

Hoje sozinha aqui, vou refletindo
E concluo que mesmo ele partindo,
Foi puro o nosso amor... quase fraterno.

Pois sem a dúbia sensação carnal,
A nossa união foi divinal
E fez nosso amor tornar-se eterno.

SOB O MESMO CÉU

Por muito tempo fiquei sem prumo
perdida e só não distinguia o rumo
e sobre mim, silencioso e triste,
prostrou-se o mal, quase punhal em riste.

Jamais julguei ter a paixão assim
motivo (in)justo de impor-se um fim
eis que quem ama humanamente o faz
sem nem pensar que tudo se desfaz.

Se a distância, o não-encontro, a dor
se o calvário deste louco amor
nos impediram a vida sob um mesmo teto,

se o chão não temos, se tudo é dissabor,
(por Deus!)temos estrelas, um céu compensador
a nos cobrir com a vastidão do afeto.

Fontes:
http://www.ligia.tomarchio.nom.br/ligia_amigos_ligialeivas.htm
http://www.avspe.eti.br/sonetos/LigiaAntunesLeivas.htm