sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

David Mourão Ferreira (1927 – 1969)



David de Jesus Mourão Ferreira nasceu em Lisboa em 1927.

Distinguiu-se como poeta, professor, dramaturgo e crítico literário.

Em 1945 iniciou a sua colaboração na revista "Seara Nova", publicando aí os seus primeiros poemas. Tendo como mestres Hermâni Cidade, Vitorino Nemésio, Jacinto do Prado Coelho, Maria de Lurdes Belchior, entre outros, mergulha a partir dessa altura, numa atividade cultural traduzida na publicação de poemas e ensaios, participação em tertúlias (no Café Chave d'Ouro), e no desempenho de papéis teatrais, no Teatro Estúdio do Salitre.

No início da década de 50, é lhe atribuído o prêmio de poesia "Delfim Guimarães” pelo seu livro "Tempestade de Verão". Escreve as primeiras "letras" de fados para Amália Rodrigues.

Em 1959 publica a obra "Gaivotas em Terra" que, no ano seguinte, será premiado pela Academia das Ciências de Lisboa com o prêmio Ricardo Malheiros.

Em 1980 publica os livros "Ode à Música" e "Entre a Sombra e o Corpo" e recebe o Prêmio da Crítica da Association International des Critiques Littéraires pelo livro "As Quatro Estações".

Em 1984 passa a dirigir a revista "Colóquio/Letras" editada pela Fundação Calouste Gulbenkian e assume as funções de Presidente da Associação Portuguesa de Escritores até 1986.

Publicou ainda um importante conjunto de obras, entre as quais se destacam:
"O Corpo Iluminado", "A Arte de Amar", "Jogo de Espelhos – Reflexos de um Auto Retrato" e o romance "Um Amor Feliz", que viria a obter o Prêmio de Narrativa do Pen Clube, o Prêmio D.Dinis da Fundação da Casa de Mateus, o Prêmio de Ficção do Município de Lisboa e o Grande Prêmio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores.

Faleceu em 1996.

Fonte:
Luis Gaspar (organizador). http://www.truca.pt/ouro/obras/david_mourao_ferreira.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.58)


Trova do Dia

Nos natais de antigamente
tive os presentes que quis,
hoje, eu quero, simplesmente
ter uma “NOITE FELIZ!”
MARIA MADALENA FERREIRA/RJ

Trova Potiguar

Natal é esplendor profundo,
que traz a paz como herança,
passa, mas deixa no mundo
uma estrela de esperança...
PAULO ROBERTO DA SILVA/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > 1º Lugar

Nada ter na mesa à Ceia
do Natal, triste é! Porém,
bem mais triste é vê-la cheia
e em volta não ter ninguém.
MARIA AMÉLIA CARVALHO/PORTUGAL

Uma Trova de Ademar

Que no Natal meu irmão,
mesmo envolto em festa e em luz,
festeje de coração,
o renascer de Jesus.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

É Natal... Com humildade
faço um pedido, em segredo:
- que eu ganhe a felicidade
nem que seja de brinquedo!
J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC

Estrofe do Dia

(NA LINGUAGEM MATUTA)

Papai Noé, na verdade,
eu quiria de presente,
apenas e tão sòmente,
a tá da felicidade.
Cum tôda sinceridade,
eu num sei se vô ganhá.
Meu bom véíin, se tu achá,
traga correndo, prá mim,
pois jóia tão rara assim,
é difíce de incontrá...
BOB MOTTA/RN

Soneto do Dia

– Gislaine Canales/SC –
PAZ UNIVERSAL.

Caminhemos irmãos e de mãos dadas,
por este mundo lindo, o nosso chão,
naquelas horas tristes, desoladas,
plantemos a semente da razão.

Iluminemos assim, nossas estradas
com essa luz nascente da emoção,
cantemos em uníssono, as toadas
que sentimos surgir do coração!

Nesta cumplicidade, mundo afora,
querendo a cada instante, a cada hora
que o bem sempre supere e vença o mal!

Conquistando a alegria e a amizade
sei que vivenciaremos, na verdade,
“a Paz que se deseja Universal!”

Fonte:
Ademar Macedo

Folclore Português (O Senhor do Galo de Barcelos e o Milagre do Enforcado)



Esta lenda, que corre em Barcelos, está ligada a um antigo padrão (monumento) de pedra cuja origem se desconhece e que tem de um lado baixos-relevos com a Virgem, S. Paulo, o Sol, a Lua e um dragão, e do outro Cristo crucificado, um galo e Santiago sustentando um enforcado.

Lendas e padrões semelhantes existem em Espanha, em várias localidades situadas no caminho de Santiago de Compostela, o que leva a pensar num significado hoje perdido e ligado àquele santuário secularmente venerado e concorrido de peregrinos desde os mais remotos tempos.

Conta a lenda que, há muito tempo, deu-se na freguesia de Barcelinhos um crime de morte que ficara impune. As investigações efetuadas minuciosamente pelos oficiais da Justiça não levaram à descoberta de qualquer indício sobre o seu autor.

O tempo foi passando e o caso parecia estar esquecido quando, certo dia, surgiu na povoação um galego que se dirigia em peregrinação a Santiago de Compostela. O romeiro instalou-se no albergue da terra, onde tencionava passar aquela noite. Estava sentado à mesa, preparando-se para retemperar as forças com uma boa refeição, quando sentiu que alguém, sentado noutra mesa, o observava fixamente. Não ligou, contudo, importância, tanto mais que não conhecia ninguém na região, e lá continuou embebido nos seus pensamentos, enquanto ia depenicando (petiscar, comer aos poucos, saboreando) uma broa e bebia uma caneca de vinho verde.

Algum tempo depois, o observador levantou-se da mesa e desapareceu da hospedaria. Dirigiu-se a casa do juiz e informou-o de que o autor daquele crime antigo parecia ter voltado à povoação. E jurou à autoridade que vira aquele galego na época, já remota, do crime.

O juiz prestou-se, então, a acompanhá-lo ao albergue, onde interrogou o espantado galego, que se afirmava inocente de qualquer crime. Mas as coincidências que transpareciam do interrogatório comprometiam muito o romeiro e, além disso, ele não conseguia apresentar provas concludentes da inocência que protestava. Assim, o galego foi levado para as masmorras e julgado. Continuou, todavia, jurando a sua inocência, o que de nada lhe valeu, pois foi condenado à forca como autor daquele crime quase esquecido.

Chegado o dia do enforcamento, o homem pediu, como sua última vontade, que o levassem à presença do juiz que injustamente o condenara. E, como não se deve negar o último pedido a um condenado, levaram-no a casa do juiz, que nesse momento estava sentado à mesa, rodeado de amigos, preparando-se para trinchar um belo galo assado.

O galego entrou e, ajoelhando frente ao juiz, suplicou que não o enforcassem. Estava inocente! Não conhecia a vítima do crime! Fora aquela a primeira vez que entrara em Barcelinhos. Como era possível que o fossem enforcar por um crime que não cometera?! Era uma injustiça!

O magistrado, porém, não se comoveu. Escudado no julgamento que considerava válido aos olhos da lei, disse ao homem que nada podia fazer e que a sentença tinha de ser cumprida de acordo com as regras estabelecidas pelos usos e costumes.

O pobre do romeiro, vendo-se numa terrível situação para a qual não encontrava saída, bramou, olhando para o Alto:

— Valei-me meu Santiago, valei-me! — e virando-se para o juiz, disse com veemência: — E tão certo eu estar inocente que antes de morrer e o dia acabar, este galo assado cantará!

E lá saiu da sala, arrastado pelos algozes, em direção ao outeiro da forca.

Entretanto, na sala do juiz, passado o instante dramático que se seguiu às últimas palavras do romeiro, os convivas desataram a rir do que afirmara o galego. Mas, supersticiosamente, a verdade é que ninguém tocou no galo assado. O dia foi passando e, sub-repticiamente, as palavras do peregrino mantinham-se vivas nos ouvidos dos convivas, ainda que nenhum o confessasse. E todos ansiavam pela chegada da noite para se libertarem da expectativa.

De repente, os olhos do juiz fixaram-se atônitos no galo assado, que, estranhamente, começara a cobrir-se de penas novas. Em breve, todos puderam ver o galo levantar-se, espanejar as asas e cantar alegremente.

Correram todos ao outeiro da forca, como que impelidos por uma força incontrolável, e, pasmados, verificaram que o enforcado não só estava vivo, como a corda estava lassa (frouxa) e o corpo suspenso no ar. Assustados com aquele fato insólito, libertaram o homem e deixaram-no seguir o caminho que traçara, o caminho de Santiago.

No regresso, o galego, que voltou pelo caminho de Barcelinhos, mandou erguer, agradecido pelo milagre, o padrão (monumento) que ainda hoje podemos admirar, corroído pelo tempo e com as imagens muito gastas.

Fonte:
FRAZÃO, Fernanda. Lendas Portuguesas da Terra e do Mar.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.57)


Trova do Dia

O Natal, por mais profano
que em festejos venha a ser,
terá sempre, ano após ano,
Jesus Cristo a renascer!
HÉRON PATRÍCIO/SP

Trova Potiguar

Neste Natal do Senhor,
vou rezar ao pai dos pais
para que os círios do amor
não se apaguem nunca mais.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS -(Estadual)
Tema > Natal > 3º Lugar

Natal! No pobre ranchinho,
a mãe ao bom Deus bendiz,
acalentando o filhinho
a cantar... "Noite Feliz..."
NEOLY VARGAS/RS

Uma Trova de Ademar

Natal é festa... Emoção;
Natal é tempo de luz,
tempo de paz e oração
para o Menino Jesus.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

É Natal! A casa cheia
e a família reunida
no amor de Deus faz a ceia,
dividindo o pão da vida!
VERA MARIA BASTOS/MG

Estrofe do Dia

No Natal eu me comovo
com o espírito natalino,
então peço ao deus menino
pra vir na terra de novo,
pra convencer esse povo
e mostrar quem é Jesus,
trazer um pouco de luz
para esse povo infiel;
mesmo com o risco cruel
de voltar pra mesma cruz!
ASSIS BRAGA/RN

Soneto do Dia

– Carolina Azevedo de Castro/PE –
NATAL ANTIGO.

O Natal que este mundo conheceu,
de grandeza e de encantos diferentes,
há muito tempo já se converteu
numa festa de luzes surpreendentes.

Onde os pinheiros naturais e albentes?
Onde a ceia solene? Que ocorreu
com a surpresa ingênua dos presentes?
Quanta coisa sublime se perdeu!

Feliz Natal! Palavras que encantavam,
e que aos nossos ouvidos ressoavam,
num acorde suave e divinal,

já não têm mais o mesmo alumbramento,
e nem sequer o nobre sentimento
daquele antigo e cândido Natal!

Fonte:
Ademar Macedo

Monteiro Lobato (Emília no País da Gramática) Capítulo XII: Entre as Conjunções

O Verbo Ser levou Emília para a Casa das CONJUNÇÕES, que ficava ao lado.

— As Conjunções — explicou ele — também ligam; mas em vez de ligarem simples palavras (como fazem as Preposições) ligam grupos de palavras, ou isso a que os gramáticos chamam ORAÇÃO.

— Oração não é reza? — perguntou Emília.

— E reza e é também uma frase que forma sentido perfeito. Quando alguém diz: Emília é uma boneca, está formando uma Oração curtinha. Mas há frases muito compridas, compostas de várias Orações; nesse caso é preciso ligar as Orações entre si por meio das Conjunções. Não fazendo isso, a frase cai aos pedaços.

— Compreendo — disse Emília. — Se eu digo. . . — e engasgou.

— Espere — advertiu Ser. — Se você diz: A água é mole e a pedra é dura, você está amarrando duas Orações diversas com o barbantinho da Conjunção E.

Emília viu na Casa das Conjunções dois armários, um com as Conjunções COORDENATIVAS e outro com as ConjunÇÕES SUBORDINATIVAS. No armário das Coordenativas encontrou muitas conhecidas suas, como E, Também, Então, Bem Como, Que, Ou, Mas, Porém, Todavia, Senão, Somente, Pois Bem, Ora, Aliás. . .

— Como são numerosas! — comentou a boneca. — Nunca supus que fosse necessário tanta variedade de fios para amarrar as Senhoras Orações.

— Os homens costumam amarrar as Orações de tantos modos diferentes, que todas essas cordinhas se tornam necessárias.

Emília ainda viu lá Logo, Pois, Portanto, Assim, Por Isso, Daí, Ou, Isto É, Por Exemplo, e muitas mais.

No segundo armário estavam as Conjunções Subordinativas, que ligam as Orações dum modo especial, escravizando uma à outra. Eram igualmente abundantíssimas, e Emília notou as seguintes: Quando, Apenas, Como, Enquanto, Desde Que, Logo Que, Até Que, Assim Que, Ao Passo Que, Se, Salvo, Exceto, Sem Que, Porque, Visto Que, De Modo Que, Para Que, Segundo, Conforme, Embora e outras.

— Xi. . . São tantas que já estão me enjoando — disse Emília, fazendo um muxoxo. — Chega de Casa de Fios. Vamos ver outra coisa.

— Só nos resta visitar as Interjeições — disse o Verbo Ser, tirando do bolso uma caixinha de rape para tomar a sua pitada.

— Isso é tabaco ou pó de pirlimpimpim? — perguntou Emília.

— Pó de pirlimpimpim? — repetiu o Verbo Ser, franzindo a testa. — Que pó é esse?

Emília riu-se.

— Nem queira saber, Serência! É um pozinho levado da breca. Uma vez tomamos uma pitada e fomos parar na Lua. . .

E enquanto ia caminhando para a Casa das Interjeições, a boneca desfiou a primeira aventura da Viagem ao céu.
______________________
Continua ... Capítulo XIII: Na Casa da Gritaria
____________________________
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. SP: Círculo do Livro. Digitalizado por
http://groups.google.com/group/digitalsource

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vânia Maria Souza Ennes (Livro de Trovas)


Acalmar gesto impulsivo
num conflito sem razão:
Medicinal... curativo...
é a humildade e o perdão!

A Curitiba hibernosa.
aumenta a temperatura.
Se aquece com verso e prosa
a Capital da Cultura!

Amor, um santo remédio,
que revitaliza e cura.
Livra-nos de qualquer tédio,
também nos leva à loucura.

Afinal, eis a questão:
achei um rico alimento...
Somos gêmeos na emoção:
teu amor é o meu sustento.

Causador da minha insônia,
motivo do meu sorriso,
sem nenhuma cerimônia...
me transporta ao paraíso!

Dissipando a incerteza,
ânsia e conhecimento
o livro, vasta riqueza:
esclarece cem por cento!

Educação e cultura,
seriedade e competência
é alvo certo de ventura
que aguardamos com urgência!

Encantada olho os pinheiros,
formosos! Iguais? Não há.
Dos poetas são os parceiros
Que versam o Paraná!

Eu não mudo de país,
nem de cidade ou estado,
porque aqui sou bem feliz...
exatamente... ao teu lado!!!

Falar de amor é alegria
que conduz à inspiração.
Do poeta é a energia
e fonte de nutrição.

Fazer da vida uma festa
é atitude que fascina.
Vamos rir! A hora é esta!
O bom humor contamina.

Hoje órfã de seu afeto,
carente de seu carinho,
queria você por perto...
a iluminar meu caminho!

Mãos que orientam crianças,
seja na escrita ou leitura,
mostram sinais de alianças
de nobreza e de ventura!

Numa transfusão de afeto,
basta só abrir os braços
e o coração indiscreto,
se entrega sem embaraços!

Posso ver do meu terraço
na escuridão do infinito,
quando a lua abre espaço...
E dá seu show favorito!

Quero um planeta perfeito,
sem guerra, sem corrupção.
Povo justo e satisfeito,
respeitando seu irmão!

Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!

Romântico e apaixonado,
meu pensamento flutua,.
vai ao céu... volta zoado:
Vive no mundo da lua!

Se falta a luz ou calor,
para isso tem saída...
Só a falta do teu amor
me apaga e congela a vida!

Seu forte olhar, penetrante...
me acelera o coração.
O seu perfil estonteante
ofusca a minha visão.

Sob o feitiço do mar,
o poeta assim diria:
-É propício pra sonhar,
mas, sem você... que ironia!!!

Sou mulher, luto, decido,
sei de cor muitos poemas,
mas com seu beijo atrevido,
esqueço até dos problemas!

Surge atrevida a saudade,
sem alarme e sem aviso,
ataca qualquer idade...
Se acaba com teu sorriso!

Tendo um bom livro na mão,
alço vôo... crio asa.
Mando embora a solidão...
sem sair da minha casa!

Você que me anima a vida
e muda meu céu de cor,
numa ação bem resolvida:
-Confesso-lhe eterno amor!

Ademar Macedo (Trovadoresco n. 66)


Clique sobre a imagem ao lado para fazer o download do O Trovadoresco n. 66, do potiguar Ademar Macedo.

Trovas de Natal e Ano Novo
O Cantinho da Poesia
Trovas Potiguares
A Saudade em Quatro Versos

Você encontra neste número (e muito mais):

Nem só de presentes faz-se
o Natal, nem de comida.
Natal é aquele em que nasce
Jesus Cristo em nossa vida!
(A. A. de Assis/PR)

Podes ter em tua vida,
um Natal a cada dia,
se em cada dia é nascida
a luz da fé que te guia!
(Carolina Ramos/SP)

Deus-menino não reclama
mas a verdade é cruel...
no Natal quem leva a fama,
é sempre o papai-noel!
(Francisco José Pessoa/CE)

Da cidade da alegria,
desta Camboriú legal,
lhe desejo, em poesia,
um belo e Feliz Natal!
(Gislaine Canales/SC)

"Bem-vindo, dois mil e onze,”
que nos tragas bom agouro:
Dois mil e dez foi de bronze...
Que sejas um ano de ouro!...
(Hermoclydes S. Franco/RJ)

Menino Jesus Cristinho,
puro, simples, soberano,
ilumina o meu caminho
e os dias do Novo Ano!
(Lisete Johnson/RS)

Uma estrela fulgurante,
os Reis, a Belém conduz.
Maria, mais fulgurante,
deu à luz... a própria Luz!
(Wanda de Paula Mourthé/MG
)

Luiz Carlos Felipe (Contar histórias: como tudo começou?)


“É contando histórias, nossas próprias histórias, o que nos acontece e o sentido que damos ao que nos acontece, que nos damos a nós próprios uma identidade no tempo.” (Jorge Larrosa) Você sabe o que faz um “rapsodo”? Não? E um “griô” ? Também não? Não lhe são familiares os vocábulos “bardo”? “jogral” ? “menestrel” ? Nada. Você pode não acreditar, mas esses vocábulos exóticos denominavam em tempos e lugares diferentes as vozes ancestrais da longa família dos contadores de história.

Surgidos provavelmente no século VII a. C, os rapsodos eram poetas ou declamadores andarilhos que, na Grécia antiga, perambulavam de cidade em cidade divulgando fragmentos dos poemas épicos de Homero a “Ilíada” e a “Odisséia”. Não apresentavam suas próprias composições, especializando-se na declamação de obras de outros artistas. No noroeste da África, em Mali, os griôs (do francês “griot” que significa “feiticeiro”) preservavam os rituais antigos, as histórias orais do seu povo, atuando ora como poetas, cantores e músicos, ora como sacerdotes ou juízes, em pequenas desavenças entre as grandes famílias. Mas, há um porém, só pode ser um griô quem nasce em uma família de griôs!

Entre os celtas, galeses, irlandeses e escoceses, eram os “bardos” os guardiões da memória das linhagens das famílias importantes, das grandiosas cenas de batalhas, do elogio à vida virtuosa de reis e príncipes, muitas vezes apelando para a sátira. Viajantes incansáveis, era natural que suas histórias encantassem um público ansioso por novidades que brotavam da boca desses “viramundos”. Já na França, desde o século V, os jograis ganhavam a vida na base das caretas, mímicas, jogos, ditos engraçados e músicas divertindo todo tipo de público. No fim da Idade Média, o menestrel substituiu o jogral. Durante o séculos XIII e XIV, o menestrel exercia as funções de músico e cantor, viajando por aldeias, exercendo seu ofício em meio a uma platéia de fidalgos ou no meio do povaréu, a invenção da imprensa no século XV reduziu bastante o papel social dessas expressões artísticas. Mas falemos um pouco mais de um tempo anterior à invenção de Gutemberg.

Esses poetas viajantes em todo tempo e lugar encontraram quem os escutasse. Narrando os desafios de caçadas, vivenciando ritos como os da morte e do sepultamento; ou divulgando crenças em criaturas marítimas monstruosas, tesouros no fundo do mar e histórias de inacreditáveis náufragos. Não importa. Eles eram os portadores da tradição, esses contadores/cantadores bendiziam o casamento, mas revelavam as muitas traições e entre risos e espanto, a plateia aplaudia a descoberta de um mundo feito de palavras cujas cores e melodias ignorava. Em algumas sociedades tribais essa atividade não possuía uma finalidade exclusivamente artística; mas tinha um caráter funcional decisivo, pois os contadores de histórias funcionavam como memórias portáteis, uma vez que conservavam e transmitiam a história e o conhecimento acumulado pelas gerações, as crenças, os mitos, os costumes e valores a serem preservados por todos da comunidade.

Pode-se afirmar que como atividade artística, com normas e técnicas passíveis de serem transmitidas a todos, a prática de contar histórias se desenvolveu recentemente, sobretudo nos países nórdicos, anglo-saxões e posteriormente nos latino-americanos. Esta prática se estendeu e ainda hoje aparece reduzida a um tempo cronológico, “a hora do conto”, nas escolas e bibliotecas.

A narração oral é uma forma de comunicação que se alimenta da história e da ficção, integrando a palavra aos gestos. É nesta economia de recursos que está a força de sua expressão; o ouvinte forma com o contador de histórias as duas faces de uma unidade, pois ele deve recriar na sua imaginação o que lhe contam e com isto transformar a missão em recepção, conformando a mensagem.

Portanto, hoje, o contador de histórias urbano também se forma : é aquele que conhece as técnicas para narrá-las, é aquele que ama os textos e quer dizê-los, é aquele que, sobretudo, articula seu idioma de modo a produzir efeitos de melodia e de elaboração nova da frase, para com elas revelar a complexidade do mundo, as diferentes manifestações de cultura e poder expressá-las para seus ouvintes. Por essa razão, o contador de histórias tradicional é uma pessoa dos livros. Ou seja, no caso contemporâneo, atrás de toda narração de contos se encontra um perfil básico e essencial: um grande leitor.
–––––––––––––––––––––-
(*) Luiz Carlos Felipe, Professor de Literatura Infantojuvenil na Faculdade de Campina Grande do Sul (FACSUL) e Professor de Contos Contados e Desvelados no Instituto Aprender, (Joinville, SC).

Fonte:
Boletim Guatá – Cultura em Movimento. Agosto de 2010. http://www.guata.com.br/Tirando%20de%20letra/_1E100803TL_contar_historia_como_tudo_comecou_luis_carlos_felipe.html
Imagem = http://www.fetreli.com.br/historia2.htm

Machado de Assis (Curta História)


Sinopse
Curta História", de Machado de Assis, foi publicada originalmente em A Estação, no ano de 1886. Conta a história de Cecília, jovem de dezoito anos que ama incondicionalmente Juvêncio de Tal. Porém, em um belo dia, seu pai a leva para assistir a peça "Romeu e Julieta" e ela acaba se apaixonando perdidamente por Rossi, o ator que representa Romeu. Durante algum tempo, tudo o que passa em seu pensamento é Romeu, chegando até a se esquecer de Juvêncio. Porém, ela acaba percebendo que cada uma tem o Romeu que merece. Assim, casa-se com Juvêncio e acaba tendo dois filhos bonitos e inteligentes, que se parecem com ela.

O Conto

A leitora ainda há de lembrar-se do Rossi, o ator Rossi, que aqui nos deu tantas obras-primas do teatro inglês, francês e italiano. Era um homenzarrão, que uma noite era terrível como Otelo, outra noite meigo como Romeu. Não havia duas opiniões, quaisquer que fossem as restrições, assim pensava a leitora, assim pensava uma D. Cecília, que está hoje casada e com filhos.

Naquele tempo esta Cecília tinha dezoito anos e um namorado. A desproporção era grande; mas explica-se pelo ardor com que ela amava aquele único namorado, Juvêncio de Tal. Note-se que ele não era bonito, nem afável, era seco, andava com as pernas muito juntas, e com a cara no chão, procurando alguma cousa. A linguagem dele era tal qual a pessoa, também seca, e também andando com os olhos no chão, uma linguagem que, para ser de cozinheiro, só lhe faltava sal.

Não tinha idéias, não apanhava mesmo as dos outros; abria a boca, dizia isto ou aquilo, tornava a fechá-la, para abrir e repetir a operação. Muitas amigas de Cecília admiravam-se da paixão que este Juvêncio lhe inspirava;1 todas contavam que era um passatempo, e que o arcanjo que devia vir buscá-la para levá-la ao paraíso, estava ainda pregando as asas; acabando de as pregar, descia, tomava-a nos braços e sumia-se pelo céu acima.

Apareceu Rossi, revolucionou toda a cidade. O pai de Cecília prometeu à família que a levaria a ver o grande trágico. Cecília lia sempre os anúncios; e o resumo das peças que alguns jornais davam. Julieta e Romeu encantou-a, já pela notícia vaga que tinha da peça, já pelo resumo que leu em uma folha, e que a deixou curiosa e ansiosa. Pediu ao pai que comprasse bilhete, ele comprou-o e foram.

Juvêncio, que já tinha ido a uma representação, e que a achou insuportável (era Hamlet) iria a esta outra por causa de estar ao pé de Cecília, a quem ele amava deveras; mas por desgraça apanhou uma constipação, e ficou em casa para tomar um suadouro, disse ele. E aqui se vê a singeleza deste homem, que podia dizer enfaticamente — um sudorífico; — mas disse como a mãe lhe ensinou, como ele ouvia à gente de casa. Não sendo cousa de cuidado, não entristeceu muito a moça; mas sempre lhe ficou algum pesar de o não ver ao pé de si. Era melhor ouvir Romeu e olhar para ele...

Cecília era romanesca, e consolou-se depressa. Olhava para o pano, ansiosa de o ver erguer-se. Uma prima, que ia com ela, chamava-lhe a atenção para as toilettes elegantes, ou para as pessoas que iam entrando; mas Cecília dava a tudo isso um olhar distraído. Toda ela estava impaciente de ver subir o pano.

— Quando sobe o pano? perguntava ela ao pai.

— Descansa, que não tarda.

Subiu afinal o pano, e começou a peça. Cecília não sabia inglês nem italiano. Lera uma tradução da peça cinco vezes, e, apesar disso, levou-a para o teatro. Assistiu às primeiras cenas ansiosa. Entrou Romeu, elegante e belo, e toda ela comoveu-se; viu depois entrar a divina Julieta, mas as cenas eram diferentes, os dous não se falavam logo; ouviu-os, porém, falar no baile de máscaras, adivinhou o que sabia, bebeu de longe as palavras eternamente belas, que iam cair dos lábios de ambos.

Foi o segundo ato que as trouxe; foi aquela cena imortal da janela que comoveu até às entranhas a pessoa de Cecília. Ela ouvia as de Julieta, como se ela própria as dissesse; ouvia as de Romeu, como se Romeu falasse a ela própria. Era Romeu que a amava. Ela era Cecília ou Julieta, ou qualquer outro nome, que aqui importava menos que na peça. "Que importa um nome?" perguntava Julieta no drama; e Cecília com os olhos em Romeu parecia perguntar-lhe a mesma cousa. "Que importa que eu não seja a tua Julieta? Sou a tua Cecília; seria a tua Amélia, a tua Mariana; tu é que serias sempre e serás o meu Romeu."

A comoção foi grande. No fim do ato, a mãe notou-lhe que ela estivera muito agitada durante algumas cenas.

— Mas os artistas são bons! explicava ela.

— Isso é verdade, acudiu o pai, são bons a valer. Eu, que não entendo nada, parece que estou entendendo tudo...

Toda a peça foi para Cecília um sonho. Ela viveu, amou, morreu com os namorados de Verona. E a figura de Romeu vinha com ela, viva e suspirando as mesmas palavras deliciosas. A prima, à saída, cuidava só da saída. Olhava para os moços. Cecília não olhava para ninguém, deixara os olhos no teatro, os olhos e o coração...

No carro, em casa, ao despir-se para dormir, era Romeu que estava com ela; era Romeu que deixou a eternidade para vir encher-lhe os sonhos.

Com efeito, ela sonhou as mais lindas cenas do mundo, uma paisagem, uma baía, uma missa, um pedaço daqui, outro dali, tudo com Romeu, nenhuma vez com Juvêncio.

Nenhuma vez pobre Juvêncio! Nenhuma vez. A manhã veio com as suas cores vivas; o prestígio da noite passara um pouco, mas a comoção ficara ainda, a comoção da palavra divina. Nem se lembrou de mandar saber de Juvêncio; a mãe é que mandou lá, como boa mãe, porque este Juvêncio tinha certo número de apólices, que... Mandou saber; o rapaz estava bom; lá iria logo.
E veio, veio à tarde, sem as palavras de Romeu, sem as idéias, ao menos de toda a gente, vulgar, casmurro, quase sem maneiras; veio, e Cecília, que almoçara e jantara com Romeu, lera a peça ainda uma vez durante o dia, para saborear a música da véspera. Cecília apertou/lhe a mão comovida, tão-somente porque o amava. Isto quer dizer que todo amado vale um Romeu.

Casaram-se meses depois; têm agora dous filhos, parece que muito bonitos e inteligentes. Saem a ela.

Fontes:
Domínio Público
Imagem = http://veja.abril.com.br/blog/temporadas/pilotos-de-series/abc-desenvolve-adaptacao-de-romeu-julieta/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.56)


Trova do Dia

Os anjos tocam o sino,
esperando por Jesus.
Vai nascer o Deus Menino,
Para nos cobrir de LUZ.
MALU MOURÃO/CE

Trova Potiguar

Jesus, divina criança!
Seu Natal trouxe a pureza;
aos justos deu esperança,
aos maldosos, incerteza.
HÉLIO ALEXANDRE/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > M/H

O Natal já se insinua...
Na cidade que se agita,
são as crianças de rua
a consciência que grita!...
DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP

Uma Poesia

Narcélio Lima/CE
ESTRELINHA DE NATAL.

Caia do céu estrelinha
Caia aqui no meu quintal
Seja minha companhia
Nesta noite de Natal

Caia logo estrelinha
Estrelinha aí do céu
Nos convide com magia
Para ver Papai Noel

E depois, minha estrelinha,
Ilumine os olhos meus
Traga toda alegria
Pra noite do menino Deus.

Uma Trova de Ademar

Que na noite de Natal
vivamos apenas isto:
um momento fraternal
e uma louvação a Cristo!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Natal... Repicam os sinos...
Banha-se o mundo de luz...
Há nos lábios dos meninos
o sorriso de Jesus!
COLBERT R. COELHO/MG

Estrofe do Dia

Ao teu próximo não queira
O que não queres pra ti
Pois não sairás daqui
Devendo dessa maneira,
Só se livra da viseira
Quem nunca deseja o mal,
Faz da paz o ideal
Assim diz o Nazareno;
Pra viver no amor pleno
Pois toda a vida é Natal.
PETRONILO FILHO/PB

Soneto do Dia

– Luiz Antonio Cardoso/SP –
NATAL

Belíssimas noites, na infância perdida,
agora ressurgem, cantando o natal !
E aquela criança, já tão esquecida,
retorna esperando, que o bem vença o mal.

Mas fica tristonha... percebe que a vida
perfaz um caminho, sombrio... fatal !
E num desespero, procura a saída
de um tempo moderno... já sem ideal.

Mas saiba, menino, viver é premente...
e a vida é possível, nutrindo a esperança
de um mundo mais justo... fraterno e luzente.

Deixemos de lado, tamanha ilusão:
Natal verdadeiro? Depende, criança,
da sua vontade... de ser um cristão!

Fonte:
Ademar Macedo