quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Cassiano Ricardo (Antologia Poética)


RISO E LÁGRIMA

Há uma lágrima, sempre atenta, em nossos olhos.
LUÍS EDMUNDO

Morre na alma um sorriso e a lágrima, sentida,
surge, treme, de leve, e traz à vossa face
o signo natural da tristeza que nasce
e não pode viver tão secreta, escondida.

Muitas vezes, porém, nas horas em que a vida
alegre se vos faz, como se se ocultasse
viverá - quem o sabe? - inútil, esquecida.

E assim, quando esqueceis a vossa desventura
a tristeza se esvai e a lágrima procura
ocultar-se, qual flor que nasceu entre abrolhos.

No entanto, para mim, há destas variedades:
passo a vida a cantar para matar saudades,
vivo sempre a sorrir com lágrimas nos olhos...

(Dentro da noite, 1915.)

MANHÃ DE CAÇA

Mal entrava eu no mato
era um delírio. Os papagaios
se reuniam em bando, protestando.
Como em verde comício.

Por que tanto barulho? eu indagava
de mim mesmo, da minha malvadez.
Como se não soubesse
que era justo o protesto
dos papagaios ásperos, verde-gaios.

Araras, canindés, maitacas
mais ensurdecedoras que matracas,
reunidas em bando,
também gritavam, me acusando.

Mas por que tanto horror? por que, de súbito,
tanto medo insensato?

Como se eu não soubesse,
com absoluta certeza, que era o mato
contra a minha maueza.

Maracanãs, tiribas, periquitos,
que eram asas aos gritos,
papagaios, enfim, de vários nomes
e de vária plumagem,
que eram os donos do país selvagem
e confuso,
lavravam seu protesto contra o intruso,
gritando, gritando.

Um morro de cabelo verde pixaim
começava a pensar.
Se encolhia a pensar numa coisa sem fim.

Por que pensar assim?
Como se eu não soubesse dos motivos
de tanta guerra, de tanta algazarra.

Conferenciavam, graves, os tucanos.
Saltavam rãs e gafanhotos,
junto a meus pés, a meus sapatos rotos.
O caapora acendia o fogo do cachimbo.
A mãe-d'água - se é que a mãe-d'água existe -
saltava como louca, a face oculta
em seu cabelo verde - se é verdade
que o seu cabelo é verde.

Como se eu não soubesse que no mato
tudo é cabelo verde, é susto, é graça,
é surpresa, é protesto
(quando não é a solidão selvagem).

Mas por que tanta atoarda?

E eu apontava o cano da espingarda
e bumba! um papagaio verde-gaio
caía ao solo e os outros, com assombro,
se reuniam em bando, gritando.
Uma chuva de garras e de bicos
despencava do céu sobre o meu ombro.

Os ecos proferiam, pelas grotas,
outros protestos, como se a distância
também caísse ao chão, de bruços,
com a boca cheia de soluços!

Mas pra quê tanto medo?

E - último eco - uma voz, enroscada
num cipoal em flor, numa barba-de-bode,
ficava protestando:
não pode!
não pode!

(Vamos caçar papagaios, 1926.)

BRASIL-MENINO

I

Meu pai era um gigante, domador de léguas.

Quando um dia partiu, a cavalo
no seu dragão de pêlo azul que era o Tietê
[dos bandeirantes.
lembro-me muito bem de que me disse: olhe,
[meu filho,
eu vou sururucar por esta porta e um dia voltarei
[trazendo umas duzentas léguas de caminho
[e umas dezenas de onças arrastadas pelo
[rabo a pingar sangue do focinho!

E dito e feito! lá se foi dando empurrões no mato dos
[barrancos
por entre alas de jacarés e de pássaros brancos.

Quando veio o Natal meu pai estava longe,
em luta com os bichos peludos, com os gatos grandões
[de cabeça listada e com as mulas-de-sete-cabeças
[que moram no fundo das árvores espessas.

No planalto batia um sino perguntando: ele não vem?
[ele não vem?

Um outro sino de voz grossa respondia: não ... e
[não, dizendo "nãão" e repetindo "nãão" e não.

II

E eu me lembrei de procurar um par de botas
das que meu pai usava e pôr o par de botas
atrás da porta do sertão que resmungava entocaiado
[no arvoredo.

Como fazia frio aquela noite!
Fiquei com tanto medo... Um gato corrumiau
passeava pelos vãos da telha-vã...
Mas chegou a manhã, linda como um tesouro!
e eu fui achar, com o coração aos pulos de alegria,
as duas botas de couro
abarrotadas de ouro!

III

Passou mais um ano e meu pai não voltou.
Botei meus sapatões atrás da porta novamente
e no outro dia
fui encontrar meus sapatões abarrotados de
[esmeraldas!

Minha vovó, uma velhinha portuguesa com cabelo de
[garoa e xale azul-xadrez me garantia:
- "Foi o papá Noel quem trouxe." Até que um dia
fiz que não vi mas vi; acordei da ilusão.
Meu pai era um Gigante, caçador de léguas,
um feroz domador de onças pretas,
terror do mato, assombração das borboletas
mas tinha um grande coração.

Por fim cresci. Hoje sou gente grande.
Sou comissário de café. Tenho viadutos encantados.
Minha cidade é esse tumulto colorido que aí passa
levando as fábricas pelas rédeas pretas de fumaça!

Barulho fantástico
de um mundo que saiu da oficina.
Grito metálico de cidade americana.
Vida rodando fremindo batendo martelos
com músculos de aço.

E o Tietê conta a história dos velhos Gigantes
que andaram medindo as fronteiras da pátria,
ao tempo em que S. Paulo colocava os sapatões atrás da porta
e os sapatões amanheciam cheios de ouro...

E os sapatões amanheciam cheios de esmeraldas...

E os sapatões amanheciam cheios de diamantes...

(Martim Cererê, 1928.)

A RUA

Bem sei que muitas vezes,
o único remédio
é adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
a dívida, o divertimento,
o pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
de contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
nunca é a forma burguesa, sentada e tranqüila da espera.
Nunca é a figura de mulher
do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

(Um dia depois do outro, 1947.)

A SINTAXE DO ADEUS

O frio que a morte traz
quem o sente não é o morto.
O morto apenas esfria.
É o frio do calafrio...

E são os vivos que sentem.
Também os vivos têm medo
de olhar nos olhos do morto.
Ah, o terrível segredo.

E alguém, com dedos de rosa
vem e automaticamente
pra que o morto não nos veja,

lhe fecha as pálpebras como
a duas pétalas e adeus.
A-deus quer dizer sem Deus.

SERENATA SINTÉTICA

Rua
torta.

Lua
morta.

Tua
porta.

IMEMORIAL

Não fui quem sou, quando nasci.

Nem sou quem sou, quando amo.
Nem quando sofro.
Porque coexisto. Porque a angústia
é uma herança.

Só me aproximo de mim mesmo
quando fujo,
atravesso a fronteira,
ou me defendo, ou fico triste.

Ou quando sinto a rosa
secreta e quente da vergonha
subir-me à face.

O mar me bate à porta,
como um grito da origem.
Mas como descobrir
a onda imemorial que me trouxe?

(Um dia após o outro, 1947.)

POEMA IMPLÍCITO

O que a vida nos faz
supor esteja atrás dos objetos.
A presença do oculto,
o que a fotografia não nos diz.
As coisas
que não chegou a me dizer Lenora
a que foi
morar no reino dos pássaros mudos.
E que mais me feriram justamente
porque não chegaram a ser ditas.
Os gritos, esculpidos na boca
das figuras de pedra.
Tudo o que é implícito.
Tudo o que é tácito.

Não gosto dos explícitos
Gosto dos tácitos.
Daqueles que me dizem tudo
sem me dizer uma única palavra.
Não amo os lógicos,
os socráticos.
Amo os lunáticos,
os de cabeça virgem
e lírica.

Não amo os pássaros que cantam,
amo os pássaros mudos.

(A face perdida, 1950.)

O CACTO

This is cactus land.
Here the stone images
and raised...
T. S. ELIOT

Vamos, todos, brincar de cacto
na areia da nossa tristeza.
Uma folha sobre outra,
Em caminho do céu intacto.

Uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma folha sobre outra,
formaremos um grande cacto.

De cada braço, já no espaço,
nascerá mais um braço, e deste
outros braços, qual ramalhete
de flores para um só abraço.

Filhos da pedra e do pó,
fique aqui embaixo o nosso orgulho,
pisado sobre o pedregulho.
Formaremos, num corpo só

(uma folha sobre outra
uma folha sobre outra,
um braço a nascer de outro braço),
a nossa escada de Jacó.

Pra que torre de Babel
ou o Empire State, compacto,
se, uns nos ombros dos outros,
chegaremos ao céu, num cacto?

Uma folha sobre outra
e já uma árvore de feridas
por entre os anjos de azulejo
e as borboletas repetidas.

Que fique aqui embaixo a terra;
lá de cima nós tiraremos
uma grande fotografia
do seu rosto de ouro e prata.

Para provar a Deus que a terra,
numa fotografia exata,
não é redonda, mas chata;
não é redonda, mas chata.

Pra provar, por B mais H,
que o homem, animal suicida,
já sabe fabricar estrelas...
Se é que Deus disto duvida.

Que iríamos fabricar luas
(se não fora, para Seu gáudio,
o espião nos ter furtado a fórmula)
mais bonita do que as Suas.

Vamos, todos, brincar de cacto,
uns nos ombros dos outros,
um braço a nascer de outro braço,
uma folha sobre outra.

Vamos subir, de folha em folha,
mais alto do que vai o avião.
Lá onde os anjos jogam pedras
no cão da constelação.

Que outros usem avião a jacto
pra uma viagem em linha reta:
nós, filhos da planície abjeta,
subiremos ao céu num cacto.

Uns nos ombros dos outros,
injustiças sobre injustiças,
formaremos um verde pacto...
Vamos, todos, brincar de cacto.

Vamos, todos, brincar de cacto.

(João Torto e a fábula, 1954.)

VOCÊ E O SEU RETRATO

Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?

E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,
um coral em repouso)

Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós-dois

(como um ramo de hortênsia)

Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente

(amorosamente)

Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).

Talvez porque, no retrato
você está imóvel,

(sem respiração...)

Talvez porque todo retrato
é uma retratação.

(A difícil manhã, 1960.)

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Fonte:

Academia Brasileira de Letras

Cassiano Ricardo (1895 – 1974)


Cassiano Ricardo Leite, jornalista, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 26 de julho de 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 14 de janeiro de 1974.

Era filho de Francisco Leite Machado e Minervina Ricardo Leite. Fez os primeiros estudos na cidade natal.

Aos 16 anos publicava o primeiro livro de poesias, Dentro da noite.

Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio, em 1917. De volta a São Paulo, foi um dos líderes do movimento pela Semana de Arte Moderna da 1922, participando ativamente dos grupos "Verde Amarelo" e "Anta", ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros.

No jornalismo, Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930), como redator, e dirigiu A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1940 a 1944).

Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962).

Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a "Bandeira", movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, àquele tempo, o jornal O Anhangüera, que defendia a ideologia da Bandeira, condensada na fórmula: "Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas."

Eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de Poética e iniciado a publicação da coleção "Novíssimos", destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954, foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris.

Poeta de caráter lírico-sentimental em seu primeiro livro, ligado ao Parnasianismo/Simbolismo, em A flauta de Pã (1917) adota a posição nacionalista do movimento de 1922, revelando-se um modernista ortodoxo até o início da década de 40.

As obras Vamos caçar papagaios (1926), Borrões de verde e amarelo (1927) e Martim Cererê (1928) estão entre as mais representativas do Modernismo. Com O sangue das horas (1943), inicia uma nova e surpreendente fase, passando do imagismo cromático ao lirismo introspectivo-filosófico, que se acentua em Um dia depois do outro (1947), obra que a crítica em geral considera o marco divisório da sua carreira literária.

Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra Jeremias sem-chorar, de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas.

Se a sua obra poética é tida como de importância na literatura brasileira contemporânea, a de prosador é também relevante.

Historiador e ensaísta, Cassiano Ricardo publicou em 1940 um livro de grande repercussão, Marcha para Oeste, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras.

Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura e à Academia Paulista de Letras.

Na Academia Brasileira de Letras, teve atuação expressiva.

Relator da Comissão de Poesia em 1937, redigiu parecer concedendo a láurea ao livro Viagem, de Cecília Meireles. Saiu vitorioso, e Viagem foi o primeiro livro da corrente moderna consagrado na Academia. Ao lado de Manuel Bandeira, Alceu Amoroso Lima e Múcio Leão, Cassiano Ricardo levou adiante o processo de renovação da Instituição, para garantir o ingresso dos verdadeiros valores.

Marcha para Oeste foi traduzido pelo Fondo de Cultura Económica do México, com o título La Marcha hacia el Oeste; e Martim Cererê, do qual Gabriela Mistral já havia traduzido alguns poemas, foi depois integralmente vertido para o castelhano, pela escritora cubana Emília Bernal, e publicado em Madri, pelo Instituto de Cultura Hispânica, em 1953.

Bibliografia

Poesia:
Dentro da noite (1915);
A flauta de Pan (1917);
Jardim das hespérides (1920);
A mentirosa de olhos verdes (1924);
Vamos caçar papagaios (1926);
Borrões de verde e amarelo (1927);
Martim Cererê (1928),
Deixa estar, jacaré (1931);
Canções da minha ternura (1930);
O sangue das horas (1943);
Um dia depois do outro (1947);
Poemas murais 1950;
A face perdida (1950);
O arranha-céu de vidro (1956);
João Torto e a fábula (1956);
Poesias completas (1957);
Montanha russa (1960);
A difícil manhã (1960);
Jeremias sem-chorar (1964).

Ensaio:
O Brasil no original (1936);
O negro da bandeira (1938);
A Academia e a poesia moderna (1939);
Marcha para Oeste (1940);
A poesia na técnica do romance (1953);
O tratado de Petrópolis (1954);
Pequeno ensaio de bandeirologia (1959);
22 e a poesia de hoje (1962);
Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.86)


Trova do Dia

Mãos calosas... Entretanto,
cingem de amor o filhinho...
Roseira não perde o encanto,
apenas por ter espinho!...
NEWTON VIEIRA/MG

Trova Potiguar

Fauna e floras destruídas,
ao homem só o lucro importa;
não vê nessas investidas
a natureza já morta.
HÉLIO PEDRO/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Niterói/SC
Tema > ALTIVEZ > Menção Honrosa

Que tu sejas, nos teus brios,
quando buscares a glória,
altivo nos desafios
mas humilde na vitória!
SELMA PATTI SPINELLI/SP

Simplesmente...Poesia

MOTE :
Poesia é a razão de ser da vida,
A vida sem poesia é quase nada.

GLOSA :
As “Mensagens”, por todos, recebida,
com Mote/Glosa fica mais completa.
Trazendo mais luz à alma do poeta,
Poesia é a razão de ser da vida.
Eu creio que vai ter grande acolhida,
nossa alma será mais alimentada.
Poesia é essencial, e é comprovada,
artigo da maior necessidade,
mostrará ao país, uma verdade:
A vida sem poesia é quase nada.
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova de Ademar

Eu guardei no coração
frases que você compôs
escritas sobre o colchão
no amanhecer de nós dois!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

A minha alma é consumida
por tormentos bem diversos!
Porém, me vingo da vida,
sorrindo... e fazendo versos
LUIZ OTÁVIO/RJ

Estrofe do Dia

Que o seu lar se transforme num pomar
Onde os solos mais férteis, mais humosos,
Gerem frutos sadios, saborosos,
Sem a água da chuva lhe faltar
Você próprio se empenhe em cultivar
Sem fazer concorrência com ninguém
Dando às plantas o zelo que convém
Prá que possa colher milhões de quilos
E no final da colheita dividi-los
Com os pobres famintos que não têm.
PEDRO ERNESTO FILHO/CE

Soneto do Dia

– José Antonio Jacob/MG –
AFRONTA IMPIEDOSA.

Em cada rua há um vendedor de flores
E anda distante o Dia de Finados;
Casais se beijam murmurando amores,
Também não é Dia dos Namorados...

Essa cidade tem muros dourados,
Por onde passam brisas sem rumores,
E nos salões de imperiais sobrados
Divertem-se os nobres sem pudores.

E o céu é tão azul que dói na vista,
O mar parece capa de revista
E ao longe nos acena um iate à vela...

E o que mais nos afronta e desiguala
É o luxo se exibindo na novela
E essa pobreza muda em nossa sala.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Silmar Bohrer (Antologia Poética)


(OUTROS) VERSOS MARINHOS

Estes ventos friozinhos
que gemem ali nos beirais
são coitados, coitadinhos
dos diabinhos hibernais.

Em lentárgica agonia
pela intempérie urdidas
andam gaivotas perdidas
nestas tardes de invernia.

Tem tido sido inesgotável
essa fonte dos meus versos,
são petitas dos universos
e u'a companhia saudável.

Devia ser cá na praia
perante o meu céu anil,
receber a trova sete mil
louvando a essência gaia.

Ventos, oh dóceis ventinhos,
ventilai o meu pensar,
céus, oh céus azuladinhos,
inspirai meu versejar.

E converso com as musas
varando as madrugadas,
rimas tantas, profusas,
rimas tantas, orvalhadas.

Anda uma paz de éden
cá na beira dos meus mares,
e os ventos, bons ventares
em sonares se medem.

Uma trova varonil
se não fosse singular,
é que estou a registrar
a filhotinha sete mil.

Caem as noites cá na praia,
sopram ventos desgarrados,
anoiteceres alumiados,
tanta estrela na tocaia.

Ando ao sabor dos ventinhos
pelo látego dos mares
e vejo tantos avatares
por estes velhos caminhos.

PRISIONEIRO

Em nosso mundo cheio de aguilhões
onde os seres aspiram a liberdade,
e com toda força em seus corações
lutam por ela, lutam com ansiedade,

Em nosso mundo eivado de reclamos
onde muitos vivem com a incerteza
de horas felizes e sem desenganos,
embora encontrem neles sua defesa,

Em nosso mundo nocivo que molesta
os corações humanos com embaraços
estóicos aos anelos em cada gesta,

Eu quero ser mesmo um prisioneiro
que goza na peia dos teus abraços
as delícias do nosso amor fagueiro.

CANTILENAS

Na rude sina de escrever
não tenho o brilho de versejar,
sem o estro como me atrever
a alguma rima iluminar.

Lendo Confúcio e os sonetos
de Bilac reverberando,
nos parnasianos, nos analetos
a rabiscar vou bem lutando.

São cantigas mãos-atadas,
sem vigor e sem brilho, dezenas
de estrofes versalhadas,

São carmes sem nenhum matiz,
tantos versos cantilenas
e garatujas do bardo aprendiz.

RIQUEZAS

Tirem-me tudo na vida,
mesmo os brilhantes ouropéis,
mas me deixem na guarida
da caneta e dos papéis.

Companhias singulares
que trago na algibeira,
repositório dos pensares
que revolvo a vida inteira.

E assim neste mundo material
vou cultivando perenidades
que fazem bem ao meu astral,

Quais delícias inefáveis
os meus versos raridades
são riquezas inalienáveis.

MENSAGEM

Amados versos que faço nesta hora
todo satisfeito a relembrar o dia
que encarnei no íntimo essa magia
e o sentimento que me ocupa agora.

Não esqueço do seu gracioso olhar
eivando o amor a nossas primícias,
a voz ternura e as maçãs puníceas
são detalhes que não pude olvidar.

Meus olhos leram no seu doce olhar
a mensagem sublime do nosso porvir,
e embevecido, sem poder falar,

Imerso na candura do seu esplendor,
abri o véu da alvorada e vi surgir
a manhã radiosa do nosso amor.
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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.85)


Trova do Dia

O raio... a chuva... o trovão...
É São Pedro, na limpeza.
Acende a luz, lava o chão,
e começa a por a mesa...
HÉLIO DE CASTRO/PR

Trova Potiguar

Segue a vida em seu passar
na corredeira dos anos,
salpicando o meu sonhar
com gotas de desenganos.
GONZAGA DA SILVA/RN

Uma Trova Premiada

2010 > Curitiba/PR
Tema > MADRUGADA > Menção Especial

Eu me lembro com saudade
das madrugadas de outrora...
Mamãe, na extrema bondade:
- “Filha, acorda, está na hora”.
DÁGUIMA VERÔNICA DE OLIVEIRA/MG

Uma Poesia

Há muito já decolou
o poeta do Nordeste,
pois o Sul já se ilumina
com seu talento inconteste
e a ponte da poesia
com seus versos se reveste.
GILSON MAIA/RJ

Uma Trova de Ademar

Numa terra ressequida,
caindo a chuva, o mal some;
no inverno a terra engravida,
dá frutos e mata a fome!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Na vida sou inquilino...
Meu corpo é casa, de fato!
Meu senhorio destino
um dia rasga o contrato!
PAULO CESAR OUVERNEY/RJ

Estrofe do Dia

E fazendo o papel de grande irmão,
desta ingênua e tristonha humanidade,
Jesus Cristo acrescenta em sua lida
as lições de pureza e de bondade,
renascendo num mundo sofredor
dando a todos a eterna claridade!
LUIZ ANTONIO CARDOSO/SP

Soneto do Dia

– Divenei Boseli/SP –
LUCIDEZ

Se eu te disser que sou feliz agora,
nesse momento em que a razão cochila
e, na modorra, enxerga só a mochila
que carregavas quando foste embora;

que o meu rancor, agora, não destila
o fel que dentre estas paredes mora,
e que saudade alguma hoje devora
o coração que recobri de argila;

se eu te disser que a porta do meu quarto
por onde tu partiste foi o parto
da solidão que eu quis, sem dor, sem ira,

por hoje, podes crer, mas toma tento:
È falsa a lucidez do meu tormento
e tudo o que eu disser, hoje, é mentira!...

Fonte:
Ademar Macedo

Agostinho Craveiro (Trilogia do Amor)


EFÊMERO

A seara ondulava
Sensual
E as papoulas
Efemeras
Adornavam o cenário
Que embalava
O voar das borboletas
Assim eras tu
Em Maio
Na frescura dos caminhos
Radiante
Com o mundo a teus pés
Gostavas do teu brilho
E embriagavas-te
Na imagem do espelho
Que enfeitavas
Com as cores
Duma eterna primavera
Esqueceste os aromas da terra
E não viste que os deuses
Despreocupados
Em olímpico tédio
Jogavam o teu destino
Em jogo de dados
Dedilhado
Em acordes chorados
O espelho fragmentou-se
E não percebeste
A sensação de frio
Nos caminhos que te levaram
À solidão
Dum palco vazio.

DANÇA

Estavas tão concentrada
No papel de Margot
Que não vias
No canto da sala
Os olhos suspensos
No teu respirar
Eram mais uns
Na plateia domada
Enquanto dançavas
Como ninguém
E as pétalas das rosas
Rendidas
Vertiam perfume
Ao teu rodopiar
A carruagem partiu
Na meia-noite temida
Deixando no ar
Da sala hipnotizada
O aroma envolvente
A promessa de vida
Da cinderela alada
Desci a avenida
Nureyev a dançar
Enquanto desenhava
Com a pétala que restava
A musa encantada
Saída do sonho
Do teu esvoaçar.

PRIMAVERA

Éramos jovens potros
Imunes ao receio
E a primavera de Vivaldi
Em harmonia vibrante
Era o primoroso retrato
Do nosso entusiasmo
No galopar sem freio
A seara ondulava, sensual
E viajávamos no sonho
Embalados no rumor da aragem
Que escrevia
Nas folhas dos freixos
Sinfonias à nossa passagem
A paixão das cigarras
Morava dentro de nós
E a linha do horizonte
Meta por conquistar
Era a tela
Dos planos traçados
Dum mundo por desbravar
Adormecia nos teus braços
Em noturno de Chopin
Terna e doce vassalagem
E só o romper da aurora
Rebate do mundo lá fora
Quebrava o feitiço da viagem.

Fonte:
Colaboração de Silviah Carvalho

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.84)


Trova do Dia

O grande tenor se cala
ante o pássaro silvestre.
– É o discípulo de gala
querendo escutar o mestre!
A. A. DE ASSIS/PR

Trova Potiguar

A bondade não tem dono,
nem mesmo pátria ela tem,
mas, sem cansaço e sem sono,
aonde vai leva o bem.
ASCENDINO DE ALMEIDA/RN

Uma Trova Premiada

2003 > Niterói/RJ
Tema > RAZÃO > Vencedores

A razão perde o juízo,
ganha um ar de pequenez,
quando troca o NÃO preciso
pelas sombras do TALVEZ!!!
Eduardo A. O. Toledo/MG

U m a P o e s i a

– Antonio Roberto Fernandes/RJ –
SAUDADE...

...Quem diz que a saudade é roxa,
quem diz que a saudade é triste
e quem diz que não existe
quem a possa definir,
não sabe o que é saudade.
Saudade é mais do que isso.
Saudade é como um feitiço,
Saudade é falta de ti...

Uma Trova de Ademar

Quer saber por onde anda
a saudade adormecida?
Procure em sua varanda,
naquela rede estendida...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Na minha infância passada,
já distante, ainda se vê,
um circo... e na arquibancada,
eu... a saudade... e você...
ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE

Estrofe do Dia

É preciso acreditar
nunca, jamais desistir...
Percorrer longos caminhos
vivenciar, resistir...
Seguir sempre a boa luz,
quem acredita em Jesus
ganha força para agir!
DJALMA MOTA/RN

Soneto do Dia

– Amilton Maciel Monteiro/SP –
MISTÉRIO

A nossa vida em si já é um bom mistério...
Mas até onde meu juízo alcança,
Eu vejo que o sofrer, se é muito sério,
Aumenta sempre em nós a esperança!

Foi Deus que quis assim; não sem critério,
Mas só visando a nossa segurança...
Porque o Criador, mais que cautério,
Aspira a nossa bem-aventurança!

A dor tem sempre a sua utilidade,
Quer para alertar de um mal maior,
Ou tendo em vista a nossa santidade.

Por certo o sofrimento foi criado
Só pra que a gente possa ser melhor
E chegue, assim, ao céu, tão almejado!

Fonte:
Ademar Macedo

Pedro Ornellas (Escolha dos Semifinalistas das Melhores Trovas)


Na reta final, fizemos um preâmbulo, convidando os trovadores a sugerir trovas de autoria própria que julgassem merecedoras de entrar para a lista das semifinalistas.

Seguem as trovas sugeridas.

Pedimos que avalie com cuidado e indique se e quais devem entrar na lista.

Observações:
- Lembre-se de que não estamos escolhendo as melhores do conjunto e sim as melhores trovas de todos os tempos.

- Você pode apontar mais de uma, ou nenhuma, ao seu critério. Basta mencionar o(s) número(s).

- Nesta etapa, não vale votar na(s) sua(s) própria(s) trova(s). Caso alguém faça isso não será considerado.

- Entrará na lista a(s) trova(s) que obtiver(em) duas ou mais indicações por trovadores diferentes.

- Serão válidas as indicações que chegarem até a próxima quarta-feira, dia 5 de janeiro, no e-mail pedroornellas@uol.com.br.

A todos os que sugeriram trovas: continuem com esse bom espírito que têm manifestado, entendendo que se sua trova não entrar na lista, não significa que não tem qualidade. Todas as sugeridas são muito boas, mas o número de semifinalistas é limitado.

Agradecemos sua preciosa participação na escolha das trovas!
-

1
Estamos juntos, mas sós,
nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
2
Sozinhas nas madrugadas,
donas do mundo e da lua,
nossas mãos entrelaçadas
seguem juntas pela rua!
3
Quando o mar beijar teus pés,
fita o céu por um segundo,
assim saberás quem és:
um grão de areia no mundo!!!
4
Que pena: o sol, – ato falho –
ao lhe ofertar seu calor,
matou a gota de orvalho
que brincava sobre a flor!...

5
Esbanja carisma a lua,
que, alheia a qualquer conflito,
consegue, pálida e nua,
vestir de charme o Infinito!

6
Ante um grito, não se abata
por não ter respostas prontas,
que o silêncio é a mais sensata
e a mais nobre das afrontas!
7
Meu perdão foi em tributo
a uma lágrima suspensa,
um detalhe diminuto,
mas, que fez a diferença...
8
“Esquece!”, a razão exclama,
quando a saudade decide
acarinhar o pijama
que esqueceste no cabide...
9
Do cais, aceno ao vazio,
enquanto o remorso chora...
Castigo, é alguém no navio,
levando o perdão embora...
10
Quem tem sonhos hoje em dia,
não perca nunca a esperança.
Diz velha sabedoria:
“Quem espera sempre alcança!”
11
Nas noites de dissabor,
quando a saudade é cruel,
o poeta imprime a dor
num pedaço de papel !
12
Eu me lembro, com saudade,
da madrugada de outrora,
mamãe, na extrema bondade:
“Filha acorda, está na hora.”
13
Com pincel remanescente
que a saudade me legou,
pinto a vida sem presente
que o passado me roubou.
14
Da minha terra encantada
eu guardo a estação mais bela,
o canto da passarada
e os meus sonhos de janela!
15
O Deus que fez lago e monte,
que fez céu, mar, noite e dia,
fez do poeta uma fonte
por onde jorra poesia...
16
A mais triste Solidão
que os seres humanos têm
é abrir o seu coração,
olhar... e não ver ninguém!
17
Ao ver, de uma árvore, o corte,
minha angústia é paralela...
Eu sinto as dores da morte,
na dor dos “gemidos” dela!
18
Anote e depois confira,
visando o seu próprio bem:
meia verdade é mentira;
verdade e meia, também!

19
A noite, que nunca passa,
deu à insônia mais destaque
e um relógio, por desgraça,
ri de mim, no tique-taque!
20
De estrelas toda bordada,
porta aberta para a rua,
a tapera abandonada
abriga os raios da lua.
21
Eu faço das fronhas lenços,
nas longas noites sem sono
e os lençóis, braços imensos,
abraçam meu abandono…
22
Vê como a sorte judia
do nosso amor (coitadinho!):
tua cama tão vazia,
e eu na minha, tão sozinho!
23
Sofre o revés mais que justo
quem da ambição não se esquece
ao tentar a todo custo
conquistas que não merece!
24
Venceste alguém... e sorris
numa explosão de prazeres...
Serás, porém, mais feliz
quando a ti mesmo venceres!

25
"Eu volto!" - Falsa promessa
que ela ainda crê verdadeira,
pois, da varanda, não cessa
de contemplar a porteira...
26
Não desgastes, noutros leitos,
o ardor dos abraços teus,
pois teus braços foram feitos
para refúgio dos meus!
27
Navego em noite estrelada,
sulcando as ondas, sem vê-las:
meu corpo está na jangada,
minha alma está nas estrelas!
28
Meu coração foi bagual
redomão e escarceador.
Hoje, manso, lambe o sal
da saudade de um amor.
29
Quando, aninhado em teu peito,
fito teus olhos serenos,
sinceramente suspeito
que no céu há um anjo a menos.
30
Que bom, chegando aos sessenta,
saber, revendo os meus passos,
que é o bom DEUS que me sustenta,
e me carrega em SEUS braços ...
31
Não culpes os infelizes
com rudeza fria e crua,
a culpa dos seus deslizes
pode ser menor que a tua!...
32
Guarda sempre esta mensagem
da própria vida que diz:
É feliz quem tem coragem
de acreditar que é feliz!
33
Percebo, com desconforto,
que ainda sou teu vassalo:
nosso passado está morto,
mas não consigo enterrá-lo!
34
Tanto amor e afinidade
entre nós dois, já se vê,
que perdi a identidade:
eu sou eu... ou sou você?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Trova 187 - José Guilherme de Araújo Jorge (AC/RJ)

Ademar Macedo (RN) lança O Trovadoresco n. 67, de janeiro de 2011



Ademar Macedo (RN) lança agora em janeiro do novo ano, “O Trovadoresco” numero 67.
Trovas e poesias. Faça o download clicando na figura ao lado.
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Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você.
(Aparício Fernandes/RN)

Sou tal qual ave ferida
que as suas asas quebrou
e Deus, para dar-lhe vida,
os seus pedaços juntou.
(Diva da Costa Lemos/RS)

A ressaca da bebida
é pra ninguém esquecer.
Por isso a melhor pedida
é não parar de beber.
(Heliodoro Morais/RN)

O vazio dos teus braços,
depois de tristonho adeus,
fez a dor rondar meus passos,
na busca inútil dos teus...
(Júlia Leal Miranda/RJ)

Disse o carteiro, confuso:
- mora aqui o “seu” Leitão?
- Não mais, respondeu o luso:
virou torresmo e sabão.
(Relva de Egypto Rezende/MG)

Os dois velhinhos dançavam,
mostrando desenvoltura;
mas sempre que tropeçavam,
trocava de dentadura!
(Ronaldo Afonso Júnior/MG)

E muito mais ...

Francisco José Pereira (A Velha Senhora e seus Cachorros)



A velha senhora vivia só, preferira assim.

Quando ficou viúva, suas duas filhas propuseram levá-la. Ela não quis. - Assim sozinha e tão longe, mamãe - ponderaram, inutilmente.

Embora não fosse necessário, e tampouco elas houvesses pedido, a velha senhora justificou-se. Alegou razões conhecidas, atribuindo-lhes caráter de irreversibilidade. Assim, as filhas poderiam sentir-se consoladas ou redimidas. Disse-lhes:

- Casei aqui, nesta casa que ele mesmo construiu. Vocês nasceram aqui, viveram aqui e também casaram aqui. Ele morreu aqui. E eu vou morrer aqui.
- Ô mãe, que bobagem, - em uníssono. Sem que pudessem dissimular um certo tom de conforto.

Uma eternidade parecia separá-la das meiguices de suas meninas. Elas cresceram e foram perdendo aquela ternura. Ele acompanhara esse lento e natural distanciamento delas, e lamentava. Ela também acompanhara, mas sem lamentar. Afinal a vida é mesmo assim, fora assim também com ela, bifurcando-se igualmente lenta e definitiva. Elas casaram e procriaram com genros chatos. Ele os estima, ela não - e com razão. Por onde, afinal, andavam durante o calvário da penosa enfermidade que terminou por matá-lo? Só ela, solitária, estivera ali, na hora de fechar-lhe os olhos. Depois vestiram lutos, todos. Os netinhos inclusive, com tarjeta preta na manga da camisa curta. Coitados, três pequenos idiotas.

As filhas a visitavam com alguma frequência e traziam os netos que cresciam sem que ela se desse conta. E tampouco se deu conta de como as visitas das filhas, com o tempo, se tornaram cada vez menos frequentes e, agora, já muito raras. Raras mesmo.

Mas havia seus cachorros.

Ela sempre os tivera, dividindo com ele um igual carinho pelos bichos. Foram vários. Agora restavam apenas esses dois, que haviam chorado com ela a morte dele: o mais velho, Zimbo, tão velho quanto ela - exagerava, obviamente- e o Xapado, que chegou bem depois, à época em que surgira a enfermidade dele, e fora ele quem o trouxera e lhe dera o nome.

A velha senhora passava parte dos dias falando com seus cachorros. Não só porque carecesse de gente com quem falar - o que era um fato - mas porque eles a entendiam e compartilhavam seus pesares e sua solidão.

Há muitos séculos, aliás, que humanos e cães partilham seus alimentos, suas moradais e suas vidas. Neste planeta fortuito,entre outras formas de vida que nos circundam,nenhuma - exceto o cão - tem feito aliança conosco.

Após o café matinal, a velha senhora seguia sua antiga rotina de afazeres domésticos que, há muito sozinha, já se reduzido a quase nada. Ocupava-se também de pequena horta, com o mesmo desvelo dele, e preparava sem prazer o parco almoço.

Nas tardes longas e ociosas, senta-se no degrau mais alto da escada lateral, que dá acesso à sala, toma Zimbo no colo, com o Xapado sentado no degrau abaixo, e os faz confidentes de infindáveis revelações de seu tempo de menina, de sua adolescência, e sobretudo de sua vida feliz junto a ele.

Nessas ocasiões, como acontece também com a gente, Zimbo se deixa envolver pelo hipnótico som da velha senhora, cochila e dorme. Desperta minutos depois, apruma-se com olhos de espanto, sacode repentinamente a cabeça num eficaz esforço para afastar o sono, e não cochila mais. Xapado, este sempre desligado, logo estendia suas pernas traseiras e dormia a sono solto.

Vencidas as longas tardes, segue-se repetitivo ritual. A velha senhora se levanta, beija Zimbo, acaricia Xapado e os afugenta com delicadeza para os fundos do quintal. Ambos obedecem, caminhando a passos lentos e em silêncio, com as compridas e úmidas línguas lambendo seus gelados focinhos - um antigo e atávico cacoete.

Há dias em que Zimbo sente vontade de alertar Xapado para a recente tristeza da velha senhora. Esta tristeza, preocupava Zimbo, não era como as outras tristezas, tão antigas e conhecidas desde a morte dele. Essa nova tristeza era uma tristeza que lhe reduzia o cheiro. E isso, Zimbo sabia, não era boa coisa. Mas não dissera nada ao Xapado, porque este - desde pequeno - se revelara um cachorro retardado ou de poucos ouvidos.

Em verdade, essa tristeza que preocupava Zimbo tomara forma quando a velha senhora, há algum tempo já, percebera, acabrunhada, uma insuportável fadiga que - ela se convencera - iria prostrá-la definitivamente. E, desde então, um sentimento de que sua vida se tornara inútil instalara-se dolorosamente em seu coração. Após anos de tantas ausências a velha senhora finalmente sucumbia à sua imensa solidão.

Suas pernas já nem sempre lhe obedeciam, seguindo, cansadas, direção que ela não pretendia. Os pulmões respirando menos ajudavam menos, quando as pernas cansavam. A cabeça insistia em se esquecer, só tendo lembranças muito antigas. Espantou-se, por fim, quando a cabeça embaralhou dia e mês da morte dele. E, então, se horrorizou no limite do desespero, temendo que viesse a esquecer-se de si mesma. Foi quando decidiu não esperar mais pela morte que se tardava tanto, e começou a organizar sua morte com pungentes cuidados.

Utilizaria o veneno que ele trouxera para ser usado quando o suplício da dor lhe fosse insuportável. Tinha efeitos semelhantes ao arsênico, dissera, e a ensinou como preparar a dose que ela deveria servir a ele. O suplício dele se estendeu e a dor o matava lentamente, mas ela não teve coragem. Ele morreu, já sem dor, agradecendo o gesto dela.

Pensou, sem mágoas, em suas filhas que não apareciam. E resolveu, aflita, não abandonar os cachorros, temendo que eles fossem recolhidos por mãos malvadas. Havia suficiente veneno para os três.

Na véspera, à noite, ela preparou meticulosamente e com estranha frieza - da qual, aliás, já não tinha consciência - doses adequadas de veneno. Não havia nela qualquer outra emoção, senão a de concluir, com isenção, esses ritos finais.

Desde o quintal, chegavam uivos que - também à véspera - haviam anunciado a morte dele. Como soubera Zimbo? E como soube agora, se ela apenas pensara sozinha? E tem gente que não crê na percepção sensorial dos cachorros! - exclamou baixinho. Ou, quem sabe, é a morte que lhes avisa? - indagou-se ainda, já muito abalada. E dormiu tarde.

Despertou cedo. Com o café, comeu mais torradas do que normalmente comia, pois com o estômago vazio - acreditava assim - a dor do veneno seria maior. Tomaria cuidados iguais com os cachorros.

No quintal, Zimbo se movia em pequenos círculos sem parar, num verdadeiro desassossego. Xapado, distante dele, arrastava as patas na vegetação rala, buscando, paciente, algo que só ele aparentemente sabia.

Serviu-lhes a ração, como fazia a cada manhã; desta vez, porém, em quantidade excessiva. Zimbo comeu lenta e passivamente, como se já houvesse esquecido seus premonitórios uivos. Xapado, como sempre, digeriu vorazmente sua ração.

Após, como também era costume, estendeu-lhes as pequenas tinas com água - agora com o veneno dissolvido em ambas. Zimbo fixou seus olhos remelentos nos olhos exauridos da velha senhra, lambeu-lhe os pés, que já haviam perdido o antigo cheiro, bebeu a água envenenada de sua tina, e toda a água da tina do Xapado - antes que este a bebesse.

A velha senhora perturbou-se e, sem ânimo para entender o incidente, voltou à cozinha, encheu a tina de água com nova dose de veneno e depositou-a na frente de Xapado, que se deteve confuso. Zimbo, com seus movimentos já muito afetados pela ação do veneno que agia rápido, ainda teve forças para impulsionar as patas dianteiras e derramar, novamente, a água da tina do Xapado.

Só então a velha senhroa percebeu nos olhos moribundos de Zimbo sua derradeira súplica pela vida de Xapado. Não teve tempo sequer de afagá-lo, Zimbo não se movia mais.

Com a alma esvaindo-se, a velha senhora retornou a casa. Esqueceu-se de fechar a porta e de se banhar, como pretendera. Sentiu-se aliviada, enquanto sorvia o veneno no copo, escutando, lá fora, latidos alegres do Xapado provocados pelo prazer da barriga cheia.

Fonte:
PEREIRA, Francisco José. Contos Completos. Florianópolis: Garapuvu, 2006. Disponível em http://grandesautorescatarinas.blogspot.com/

Pedro Du Bois (Poemas Inéditos)


FINAL

No final do dia
aproximado ao cansaço
trazido dos ofícios
não estou
presente. Ausentado ao tempo
não traduzido, esmaecido
nos alvoreceres da noite

amanhecido em finais
de tardes recompostas

minha ausência despercebida
em minúcias: a estrada
bloqueando a entrada.

TRANSFORMAR

Sobre o despovoado: tapera

(rancho espalhado
ao mar, barco
encalhado em areias
límpidas, peixe
saciado em vontades)

sobre a beleza
paira: Itapema

(rancho desconsiderado
em altos prédios, carro
congestionando ruas,
peixe desesperado
em águas impuras).

ESTAR

Não estamos, minha senhora,
à espera do despropositado;
as vírgulas assinalam distanciamento;
estamos, minha senhora, a praticar atos
necessários no encaminhamento
da história aos primórdios: cada fato
se reporta em cadeia
ao fato inicial; minha senhora,
o esforço finda o caminhar
e do início sentimos
o ordenar das coisas;
ao primeiro soprar da vela
em chama, minha senhora,
o despertar do monstro
se apresenta: assim a espera
e a entrega.

CONSTRUIR

O telhado impede
a natureza

o piso
concede aos pés
a maciez

as portas, bifurcações
do acaso: entrar
sair
ficar na soleira
voltado ao tempo
original da hora

janelas permitem observar
a rua pelo lado de fora.

REINSTALAR

Reinstalo a vida
e a remeto ao final:
o mágico e o profeta
duelam crenças

a carta marcada
indica a morte
reinventada: vida
na sucessão
da hora
induzida
ao desconhecimento

a vida se distancia
no espaço em acreditar
e descobrir do truque
a artimanha: desvanecer
em barulhos diários de antigas
reconstruções.

ESQUECER

Inolvidável: a lembrança se aventura
em paralisações faciais

o medo
transparece
o suor
do corpo

sou o mesmo
em cabelos ralos
em cabelos brancos
em olhos ansiosos

com que procuro
na memória o inolvidável
fazer de conta.

Fonte:
O Autor

Afrânio Peixoto (Barro Branco)


Os dias passavam no Barro Branco numa sucessão rápida e descuidada, ao passo que se operava a conformação necessária do tempo e que as distrações incessantes do campo tomavam a atenção de Paulo. E percebendo que lhe voltava a serenidade e a paz, mais se absorvia nas diversões simples da vida da roça, que o tinham valido. Ele, que sempre fora um desatento à natureza, nessa inconsciência espantada das crianças inteligentes que vêem e ouvem, mas sentem apenas exteriormente a representação da própria curiosidade e imaginação, era agora quase um epicurista sutil, a retirar de cada aspecto da natureza - pedra, águas, árvore, ninhos, casa rústica, ou paisagem - uma multidão de observações felizes, logo da primeira impressão transformadas em imagens tumultuosas... Constante nesse vezo irreprimível de trocar a percepção das coisas sentidas em representação adequada ou fantasiosa, comparava-se, e aos artistas, a moedeiros obcecados que onde encontrem uma cintilação de ouro, no minério, na escória, na pepita, são levados a cunhar a medalha nítida e perfeita que lhe dará o circular e viver para o gozo humano. Muitas vezes, saindo para o campo, armado de espingarda e de petrechos de caça, e volvendo sem ter dado um tiro, nem se lembrando, mesmo ao acaso, de acordar um eco na floresta, ele se dizia pago dessas horas de excursão, enlameado embora, ou arranhado de espinhos, pois caçara imagens, vendo, contemplando, divagando...

Nesses meses procurara reviver todas as alegrias e tristezas da vida do campo; recapitulara numa inteligência afetiva e numa compassividade tranqüila todos os mistérios que encantaram ou assustaram seu coração de menino. Em volta da fazenda não ficaram córregos e valados, cachoeiras ou boqueirões, rechãs ou espigões de serra, sem a sua visita amável e melancólica, agora que, se não tinha mais o espanto dos olhos da infância, sentia a saudade das emoções que outrora lhe causaram. Em casa não perdera nenhuma dessa visões singelas e quase rituais da vida sertaneja. A diligência afanada das manhãs, pelas vacas e cabras a ordenhar, o banho frio nos riachos de vale embrumado, o café ou primeiro almoço farto de guloseimas da roça, a partida para a lavoura, a malhada, a caça, ou a feira, as sestas lânguidas e bocejantes dos meios-dias encalmados, a volta fatigada e contente nas tardes suaves e tristes, a ouvir a melancolia do aboio e acompanhar o esmorecimento lento do crepúsculo: tudo ele soubera reviver com volúpia demorada de lembrança e um gozo constante na presença.

Depois da dispersão curiosa e ativa em busca da natureza, a concentração íntima no convívio dos homens. Coisas e gentes do sertão, como lhe aparecíeis, na mesma simplicidade forte, na mesma ingênua poesia! A noite era sempre docemente ocupada no Barro Branco. Lia na varanda para o Ângelo, o Sérgio e algum adventício, a história de Carlos Magno e dos Doze Pares de França, comovendo-se com eles por bravuras e façanhas, desacreditadas hoje, mas eternamente interessantes, enquanto os homens forem rústicos e simples ou se lembrarem que a humanidade teve uma infância e eles foram meninos. Em torno da mesa familiar e à luz de uma lâmpada de petróleo, enquanto os homens fumavam e Luisinha cosia, repetira longos romances de Dumas pai, com as suas peripécias, façanhas, ardis, sacrifícios, desprendimentos, sempre animado e feliz, porque ter curiosidade e satisfazê-la foi sempre desejo e contento humano.

Outras vezes, ficava a ouvir as proezas de caça e de vaquejadas, transes arriscados e artimanhas sutis contra feras e bois bravos, misturados por caçadores e vaqueiros aos entretenimentos práticos da vida, quando a chama da fogueira os reunia no prazer de uma fumaça e no maior de despertar a curiosidade, e dar um interesse. Já lhes aprendera a gíria difícil e expressiva e não encontrava mistério quando ouvia ao Sérgio contar que dera na malhada grande com uma novilha bargada, ponta baixa, com uma estrela na testa, bico de renda e buraco de bala na orelha direita, forquilha e entalhada por cima na outra orelha... ou riscar com a ponta de um garrancho, no chão frouxo, o ferro da pá esquerda, uma flor com um monograma incluso: era a marca do Zé Lopes, do Encravado. E as histórias de Trancoso, façanhas, guerrilhas, tretas, esconjuros, assombramentos, notícias de casos rústicos e comuns pareciam-lhe mais divertidos e sadios que as literaturas perversas, indecorosas, as vaidades imbecis e os jornais interesseiros, que alimentam a curiosidade intelectual dos civilizados...

Protegido pela sombra na janela aberta, enquanto o luar escorria sobre a parede do oitão como uma gaze doirada que lhe velasse poeticamente a construção grosseira, passara serões ouvindo a velha ti’Ana contar histórias aos meninos... histórias que ele aprendera com terror ou curiosidade, que o fizeram rir e às vezes chorar, e muitas vezes recolher-se no sono para sonhar e sofrer com elas, nas indiscrições dos que não se contêm, mesmo dormindo. Eram fadas amáveis, príncipes perfeitos, animais falantes. Nossa Senhora disfarçada, mendigos que eram Nosso Senhor, pequenos heróis humildes, donzelas desvalidas e de destino magnífico, maldades castigadas, prêmio de esforço e da sagacidade... todas começadas pelo constante Era uma vez ou Foi um dia... e terminadas sempre por um vasto bródio ou grande comezaina, onde houvera doces e guloseimas, a que assistira sempre a contadora do caso e de que trouxera uma amostra, mas que no caminho se desviara e perdera ou fora comida por Sancho ou Martinho, que por isso ficaram barrigudos ou calvos... A pequenada ria do cômico dessa malvadez, quando a última frase aparecia: entrou por uma porta, saiu por outra, rei meu senhor que me conte outra... As vozes débeis e a curiosidade incansada queriam mais, e pediam... Conte outra... aquela do gato do botas... Não, a da moura torta...

E assistia de novo, ou os evocava a todos os brincos infantis, as piculas, as bocas de forno, a senhora Dona Sancha, o esquenta-sol, a cabra-cega, o anel-anda-na-roda... e cânticos... e descantes de cantadores... e sambas... e batizados e casamentos rústicos... e até os seus primeiros enleios de primavera... o seu violão... a sombra confidente da velha cajazeira... seu sacrifício e sua renúncia... meninice encantada que passara e que revivia na contemplação de outras felizes e que iam passar também, mas cuja saudade doce e carinhosa lhe espraiava uma umidade quente nos olhos e lhe descompassava um apressado bater de coração...

Esquecera o Amparo e o Rio... finalmente. Os jornais que Pedro lhe enviava ficavam atados aos maços, até que Luísa os consumia para moldes de vestidos ou para aproveitar o folhetim... No Rio talvez o esquecessem ou não queriam lembrar-se dele. Teve, pois, uma surpresa, entre mágoa e contentamento, no dia em que recebeu, tanto tempo depois, uma carta sumária do velho Lisboa, pedindo-lhe notícias. Quando voltaria aos seus trabalhos? Estava o Prometeu à espera da liberdade, que lhe cumpria dar. Fosse pensando em volver. E terminava com uma palavra afetuosa de saudade...

A princípio pensou com tristeza e quase protesto: ir-se já, tão cedo? Mas, desde esse dia, sem o querer, começou a cuidar em tornar ao Rio... Era tempo de recomeçar e de refazer a sua vida... Trepar pela montanha abrupta da existência, aprumado, tenaz e vitorioso, como as árvores das vertentes montanhosas... Fazer a sua sorte como o Zé Lopes... E uma grande esperança, toda de desejos novos, entrou a viver nele...

Um dia, calculada a época dos vapores do Amparo, avisou em casa que partiria. Foi uma grande pena silenciosa em sua família rústica... Olhavam-no com tristeza, sem ânimo de se opor, mesmo num pedido, mas numa quase exprobração de os deixar assim, tão cedo, depois que lhes comunicara o gosto de o amarem na sua simplicidade afetuosa e na sua bondade deligente... Várias vezes pegara Luisinha olhando-o de longe, com olhos compridos, cheios dele e de tristeza. Ela os desviava, quando apanhada, afastando-se e encobrindo o seu enleio num sorriso descorado. Ele mesmo andava tristonho e fechado, depois de tomada sua resolução; custava-lhe despegar-se das coisas e dos lugares, das gentes e das lembranças que tanto lhe valeram em sua aflição... possuído de um grande reconhecimento por essa bondade simples, por essa ternura esparsa em que sarara os males passados e cobrara energias sãs para tornar a viver.

Fonte:
PEIXOTO, Afrânio. A esfinge, 3a parte, capítulo VIII. Clube do Livro.

Afrânio Peixoto (1876 – 1947)




Júlio Afrânio Peixoto, médico legista, político, professor, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário, nasceu em Lençóis, nas Lavras Diamantinas, BA, em 17 de dezembro de 1876, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de janeiro de 1947.

Foram seus pais o capitão Francisco Afrânio Peixoto e Virgínia de Morais Peixoto. O pai, comerciante e homem de boa cultura, transmitiu ao filho os conhecimentos que auferiu ao longo de sua vida de autodidata.

Criado no interior da Bahia, cujos cenários constituem a situação de muitos dos seus romances, sua formação intelectual se fez em Salvador, onde se diplomou em Medicina, em 1897, como aluno laureado.

Sua tese inaugural, Epilepsia e crime, despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.

Em 1902, a chamado de Juliano Moreira, mudou-se para o Rio, onde foi inspetor de Saúde Pública (1902) e Diretor do Hospital Nacional de Alienados (1904).

Após concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de


  • professor extraordinário da Faculdade de Medicina (1911);
  • diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915);
  • diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916);
  • deputado federal pela Bahia (1924-1930);
  • professor de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932).
  • Reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935.
Após 40 anos de relevantes serviços à formação das novas gerações de seu país, aposentou-se.
A sua estréia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo, com a publicação, em 1900, do drama Rosa mística, curioso e original drama em cinco atos, luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato.

O próprio autor renegou essa obra, anotando, no exemplar existente na Biblioteca da Academia, a observação: “incorrigível. Só o fogo.”

Entre 1904 e 1906 viajou por vários países da Europa, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos no campo de sua especialidade, aliando também a curiosidade de arte e turismo ao interesse do estudo. Nessa primeira viagem à Europa travou conhecimento, a bordo, com a família de Alberto de Faria, futuro acadêmico, da qual viria a fazer parte, sete anos depois, ao casar-se com Francisca de Faria Peixoto. Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem fez o laudo de autópsia.

Ao ir ao Rio, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela literatura após a publicação de Rosa mística. Sua obra médico-legal-científica avolumava-se.

O romance foi uma implicação a que o autor foi levado em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia, quando se achava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior.

Começou a escrever o romance “A Esfinge”, o que fez em três meses antes da posse em 14 de agosto de 1911. O Egito inspirou-lhe o título e a trama novelesca, o eterno conflito entre o homem e a mulher que se querem, transposto para o ambiente requintado da sociedade carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis, as conversas do mundanismo, versando sobre política, negócios da Bolsa, assuntos literários e artísticos, viagens ao exterior. Em certo momento, no capítulo “O Barro Branco”, conduz o personagem principal, Paulo, a uma cidade do interior, em visita a familiares ali residentes. Demonstra-nos Afrânio, nessa páginas, os aspectos da força telúrica com que impregnou a sua obra novelesca.

O romance, publicado em 1911, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros. Na trilogia de romances regionalistas Maria Bonita (1914) Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922). Entre os romances urbanos escreveu “As razões do coração” (1925), “Uma mulher como as outras” (1928) e “Sinhazinha”(1929).

Dotado de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um grande causeur e um primoroso conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora. Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto.

Na Academia, teve também intensa atividade. Pertenceu à


  • Comissão de Redação da Revista (1911-1920);
  • Comissão de Bibliografia (1918) e
  • Comissão de Lexicografia (1920 e 1922).
Presidente da Casa de Machado de Assis em 1923, promoveu, junto ao embaixador da França, Alexandre Conty, a doação pelo governo francês do palácio Petit Trianon, construído para a Exposição da França no Centenário da Independência do Brasil.

Em 1923 criou a Biblioteca de Cultura Nacional dividida em : História, Literatura, Dispersos e Bio-bibliografia, iniciando esta série com a biografia de Castro Alves. Em sua homenagem a coleção passou a ter o nome de Coleção Afrânio Peixoto.

Como ensaísta escreveu importantes estudos sobre Camões, Castro Alves e Euclides da Cunha.

Em 1941 visitou a terra natal, Bahia, depois de 30 anos de ausência e publicou 2 livros: “Breviário da Bahia” (1945) e “Livro de Horas” (1947).

Afrânio Peixoto procurou resumir sua biografia o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que publicou em dois versos: “Estudou e escreveu, nada mais lhe aconteceu.”

Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Nacional de Medicina Legal, do Instituto de Medicina de Madri e de outras instituições.

Na Academia Brasileira de Letras era ocupante da Cadeira 7, eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Euclides da Cunha.

Principais obras:


  • Rosa mística, drama (1900);
  • Lufada sinistra, novela (1900);
  • A esfinge, romance (1911);
  • Maria Bonita, romance (1914);
  • Minha terra e minha gente, história (1915);
  • Poeira da estrada, crítica (1918);
  • Trovas brasileiras (1919);
  • Parábolas (1920);
  • José Bonifácio, o velho e o moço, biografia (1920);
  • Fruta do mato, romance (1920);
  • Castro Alves, o poeta e o poema (1922);
  • Bugrinha, romance (1922);
  • Ensinar e ensinar (1923);
  • Dicionário dos Lusíadas, filologia (1924);
  • Camões e o Brasil, crítica (1926);
  • Dinamene (1925);
  • Arte poética, ensaio (1925);
  • As razões do coração, romance (1925);
  • Uma mulher como as outras, romance (1928);
  • Sinhazinha (1929);
  • Miçangas (1931);
  • Viagem Sentimental (1931);
  • História da literatura brasileira (1931);
  • Castro Alves - ensaio biobibliográfico (1931);
  • Panorama da literatura brasileira (1940);
  • Pepitas, ensaio (1942);
  • Amor sagrado e amor profano (1942);
  • Despedida (1942);
  • Obras completas (1942);
  • Indes (1944);É (1944);
  • Breviário da Bahia (1945);
  • Livro de horas (1947);
  • Obras literárias, ed. Jackson, 25 vols. (1944);
  • Romances completos (1962);
  • Trovas brasileiras (s.d.);
  • Autos (s.d.).

    Fonte:
    Academia Brasileira de Letras

RD Oliveira Lima Taufick (Lançamento do Livro “Saca-rolhas”)



Esta é a estreia oficial do escritor no cenário literário nacional. RD Oliveira Lima Taufick é autor de Saca-rolhas, obra que foi disputada por algumas editoras do eixo Rio-São Paulo. Em conjunto com seu agente, Taufick decidiu pela Caki Books, pois - mesmo sendo uma nova editora - as sócias têm influência e larga experiência no mercado editorial.

De autoria do EPPGG Roberto Taufick, a obra reúne dez contos e crônicas que parecem relatar os diversos momentos vividos na vida de um mesmo personagem. Os textos abordam fatos cotidianos, situações cômicas e outros tipos de emoções. Alguns dos temas abordados são a atividade de flanelinhas nas ruas da cidade, a regionalidade e os dramas masculinos vividos na casa dos 30 anos. O prefácio da obra é de Ivan Angelo, duas vezes vencedor do Prêmio Jabuti.
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Roberto Domingos Oliveira Lima Taufick é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco/USP (2001), com ênfase em Direito da Empresa (USP/2001) e extensão em Direito da Concorrência (UnB/2006), cursando pós-graduação em Defesa da Concorrência pela EDESP (FGV/SP).

Atualmente é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (ENAP, 2006) e Assessor no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE/MJ).

Em 2007, tornou-se o 1º International Fellow da Federal Trade Commission (Washington, DC) sob o Safe Web Act de 2006.

Assina, ainda, obras literárias sob o pseudônimo R.D. Oliveira Lima Taufick.

Membro honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco/USP.

Livros
Saca-Rolhas - repristinações apoplécticas. Rio de Janeiro: Caki Books, 2010.
Com ALMEIDA, Ruy Hallack Duarte de . 7 Selos. Brasília: Dupligráfica, 2008. v. 1.
Trouxeste a Chave?. Goiânia: produção independente, 1997. v. único.

Fontes:
Curriculo Lattes
Andrey do Amaral
http://www.anesp.org.br/?q=node/3473

sábado, 1 de janeiro de 2011

Carolina Ramos (Do Cotidiano)


Fim de tarde. Friozinho abelhudo penetrava por onde quer que lhe fosse permitido entrar, encolhendo ombros e aconchegando corpos.

Pressa. Pressa de voltar para casa. De rever a esposa, os filhos, os entes queridos. Pressa de trocar os sapatos pela comodidade dos chinelos velhos, das meias de lã, ma maioria das vezes furadas no dedão. Pressa de sumir dentro do pijama quentinho. De saborear o jantar fumegante e depois esparramar-se na poltrona, frente à TV para cochilar e falar mal dela.

Fim de tarde fria. Noite a insinuar-se, mais fria ainda.

Sem esposa, nem filhos, sem aquela pressa que movia tantas pernas, Reginaldo caminhava sem motivação maior, arrastando os passos até a lanchonete mais próxima, menos cheia de gente descompromissada, como ele, e, portanto, menos tumultuada pelo vozerio das massas.

Roído de fome, passou a perna por sobre a banqueta redonda, repousando os cotovelos no balcão de formica. Consultou os bolsos. Eles é que ditavam o pedido. Os apelos do estômago eram secundários. Fim de mês. Minguava, no fundo da algibeira, a carteira murcha. Não dava para muito. E, justamente naquele início frio de uma noite que prometia ser gélida, sentia uma fome de cão vadio!

– Um hamburger com fritas. Ah… e um cafezinho pingado.

– Bebida?

Lembrou-se da carteira murcha.

– Não…obrigado. Só o cafezinho.

Aguardou, impaciente.

Chegaram juntos: – o hamburger e o garoto de olhos tristes. Seis ou sete anos, no máximo. Disfarçou, fingindo não vê-lo. Foi puxado pela manga.

– Moço, me dá um dinheirinho? Tô cum fome.

Era tudo que não queria ouvir! Engoliu a saliva que o reflexo, condicionado à chegada do hamburger, lhe fizera crescer na boca.

– Hoje não, meu filho…Não tenho trocado. – Procurou ignorar a presença incômoda do menino, saboreando, com os olhos, a iguaria, cujo aroma lhe excitava as glândulas salivares. Apertou o hamburger com volúpia, fazendo o “catchup” escorrer pelas bordas. Chegou a abrir a boca para a primeira mordida, não consumada.

Ao seu lado, o garoto permanecia fascinado pelo petisco fumegante, entre fritas e folhas de alface.

Reginaldo engoliu em seco. Tivesse dinheiro no bolso e tudo estaria resolvido. O remorso antecipou-se à consumação, importunando-o mais do que a própria fome. Pensou em divir o pitéu. Lambuzou-se todo! Os olhos do garoto continuavam, gulosos, namorando o hamburger.

Capitulou. Pediu um saquinho de papel e encheu-o de batatas fritas. Embrulhou o hamburger num guardanapo e entregou-o, inteiro, à fome que se estampava na carinha esquálida. E achou que seria pouco!

Alegria e surpresa coloriram a face ´pálida do menino que balbuciou qualquer coisa ininteligível e disparou porta afora, temeroso de possível arrependimento.

Sobraram para Reginaldo, desapontamento e frustração total!

Perdera o jantar! A fome continuava firme. E a fuga precipitada roubava-lhe, ainda, a modesta satisfação do espetáculo proporcionado pela sua renúncia. Queria ver morrer a fome do guri! Fome a ser morta por ele! Morte da qual não se arrependeria, jamais! Direito seu!

Contentou-se com o cafezinho morno e duas fritas sobradas no prato. E enfrentou novamente a noite, mais fria do que antes, ignorando os reclamos do estômago vazio.

Meio quarteirão adiante, uma surpresa. Sentado na calçada, encostado à parede, o mesmo garoto, olhos menos tristes, dividia com a mãe, maltrapilha, e com mais duas crianças, sua finada refeição.

O sorriso do menino foi, sem dúvida, o que de mais gratificante recebera da vida!

A caminho da modesta vaga que ocupava, numa casa de cômodos, esqueceu-se da fome. Chegou mesmo a envergonhar-se dela!.

Fontes:
RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos.SP: EditorAção, abril 1993.
Imagem = http://www.iplay.com.br

Virgínia Origuela (Despertar do Ano Novo)


Ano Novo tudo novo, de novo.
Vamos brindar à arte da retomada...
Dádivas divinas despertam...
Em prol de um ano que nasce.

Ano Novo tempo de paz.
Réveillon... O Despertar.
De um ano que passou... findando um novo tempo.
Tempo de glória, tempo de amar.

Consolidar os sonhos...
Ano novo, ano ímpar.
2011 Motivos para você checar...
Coisas que o novo ano traz.

Pedidos jogados ao ar...
No universo, sonhos irão se concretizar...
Na realidade perpetuar...
Votos e desejos secretos... A Imaginar.

Eis um Novo ano, tempo de acordar...
Para as coisas que a vida...
Insiste em lembrar...
Vamos correndo, mais uma etapa avançar.

Na evolução divina...
Que vai além do que possamos desejar...
O ano que passou. serviu para preparar...
O melhor está por vir.

E ele não há de cessar.
ANO NOVO!
Que ele eternize o que há tempos você viveu.
Os desejos que você escondeu de si.
As vontades que insistem em ir e vir...
O NOVO ANO nasce dentro de si.

E brota sentido a vida que acontece fora de ti.
Os anos se refazem contextos que não voltam mais...
Liberte tudo aquilo que retém seu sucesso...
E renove os sentimentos.

O Ano Novo vêm de dentro.
A alma tem que estar em sintonia...
Com a maestria dos dias.
FELIZ ANO NOVO!
ANO DE BENFEITORIAS!
DE ALEGRIAS, ANO QUE COMPLEMENTA OS DIAS!

Fontes:
http://www.gostodeler.com.br/
Imagem = http://www.cumprimentos.net/

Olivaldo Júnior (Fim de Linha)


Pois é, o ano velho está no fim, é o fim da linha para ele. Acabam-se as aulas e as férias invadem as casas, causando frisson nas crianças e em todos que estudaram ou trabalharam durante o ano. O ano velho está de molho, o molho que é feito de amizade.

Amigos que telefonavam todo dia já não ligam quase nunca; amigos que não ligavam quase nunca já não telefonam mais. Pois é, a vida é assim mesmo: ligações ou longos períodos ocupados ou fora da área de cobertura. Cobrindo o ano velho, cubro a mim mesmo, que eu mesmo ando velho, bem velho, querendo nascer. Nasceram amigos que eu pensei que seriam eternos, mas fenecem no esquecimento desta pessoa; tenho amigos que não telefonam mais, ainda que ligassem quase todo dia. Dia a dia, eu noto bem: tudo é ciclo, e o círculo dos meus amigos é o quadrado de uma folha de papel em que pousam ilusões. Ilusão é pôr-se à mercê de ninguém. Ninguém vive sem ninguém.

Iludo-me. Mas o ano é novo. Fim de linha para o velho que mora em mim. Mas o que faço para o despejo de quem me ajuda a ter assunto para meus versos, combustível para os lampejos de um verso à-toa, que me atordoa? Contando com amores que nunca foram amáveis, amei quem nem sabe que o meu amor contava com o dele, o amor do meu amor. O amor é velho; o ano, não. E eu estou cansado de ser amigo de ninguém e de ninguém estar comigo quando entra o ano novo e todos fazem tim-tim.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.gostodeler.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.82)


Trova do Dia

Neste ano novo eu pretendo
rasgar meus dias tristonhos
e, de remendo em remendo,
reconstruir os meus sonhos...
MARINA BRUNA/SP

Trova Potiguar

Um Ano Novo sem guerra,
mandai, ó Deus paternal:
que reine a paz sobre a terra,
que reine o bem contra o mal!
JOAMIR MEDEIROS/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Petrópolis/RJ
Tema > Ano 2000 > 13º Lugar

Que os anos 2000 nos falem
de novos feitos de luz,
mas que seus ecos não calem
a voz que bradou na cruz!
DOROTHY JANSSON MORETTI/SP

Uma Trova de Ademar

Neste Ano Novo eu queria
entre nós mais união;
e, que o amor pela poesia
cresça em nosso coração!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Deus com seu saber profundo,
para nos trazer a paz,
mandou o seu filho ao mundo
há dois mil anos atrás
MIGUEL RUSSOWSKY/SC

Estrofe do Dia

Hoje eu pedi para o povo,
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo,
muito amor nos corações!
E fiz pra Deus uma carta
pedindo uma mesa farta
para o faminto comer;
mandei essa carta em nome
daquele que passa fome
e que não sabe escrever!
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia


– Vanda Fagundes Queiroz/PR –
TRANSITÓRIO.

Trezentos e sessenta e cinco dias,
meu calendário, foi seu tempo exato.
Agora é estranho, quando então constato:
- É um bloco velho, já sem serventias.

Mas eu o estimo. As datas foram guias...
Cada lembrete compôs um retrato
do cotidiano que se fez, de fato,
de altos e baixos, sombras e alegrias.

Releio as notas... Dói-me concordar:
- Dever cumprido! Ceda o seu lugar
para o que chega e estréia no cenário.

Tão companheiro, em toda a minha lida
de um ano inteiro... para mim, tem vida!
– Adeus, meu velho amigo Calendário...

Fonte:
Ademar Macedo

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Trova 186 - José Feldman (PR)

Montagem sobre imagem (ondas) obtida em http://www.TecnoCientista.info

Maria da Graça Stinglin de Araújo (Livro de Trovas)


Buscar caminhos amenos,
inovar o dia-a-dia,
errar menos...sempre menos...
também é sabedoria.

Curitiba, da magia,
tem beleza, tem lisura.
Curitiba, muito fria...
mas... só na temperatura!

Faça o trânsito seguro.
Só dirija com cuidado.
Não deixe o outro no apuro...
Está certo? Combinado!

Jovens estão temerosos?
Estimule-os a aprender,
tornando-os bem poderosos
com o domínio do saber.

Linda Noite de Natal!
Nessa noite, muita luz,
brilha a estrela principal,
renasceu nosso jesus!

Na linda manhã de sol
ouvi uma canção tão bela...
Eu debaixo do lençol
e a cigarra na janela!

Os conselhos agradáveis
muitas vezes são tão fúteis,
totalmente dispensáveis.
Bons conselhos são os úteis.

Por incrível que pareça,
a pessoa que é ranzinza
leva acima da cabeça
uma leve nuvem "cinza".

Primavera... ipês floridos,
pássaros alegres cantam.
Jardins estão coloridos...
todos eles nos encantam!

Quem trafega com atenção
demonstra conhecimento,
melhora a circulação...
e evita aborrecimento!

Todos os anjos e santos
de maneira especial,
consolam os nossos prantos,
com piedade angelical.

Trovadores... luz... ribalta!
No cenário: a poesia.
Trova nasce... verso salta...
na maior coreografia.

Um abraço com frequência
sempre muito amor nos traz.
Ele desarma a violência,
constrói um mundo de paz.

Vem na natureza... em cota!
O dom de ser escritor...
Muitas vezes ninguém nota,
e o texto está numa flor!

Fontes:
União Brasileira dos Trovadores.
Portal CEN

Maria da Graça Stinglin de Araújo (1947)


Nasceu no dia 28 de dezembro de 1947, em Curitiba, Paraná, onde sempre residiu.

Casada. Professora de Português, Francês e respectivas literaturas. Pós-graduada em Magistério Superior e Ensino Religioso.

Artesã, apreciadora de arte em geral. Trovadora, iniciou no mundo da Trova trabalhando em sala de aula.

Voluntariamente, desde 1999 leva às escolas um trabalho de incentivo aos jovens, no conhecimento da Trova.

Colaborou na elaboração do livro "Papalavras" 2004, onde se registra a primeira participação de alunos no concurso de trovas dos "Jogos Florais" em Curitiba.

Participou em 2006, na "Semana de Estudos Pedagógicos" na Prefeitura Municipal de Curitiba, como docente em Oficina de "Trova em Sala de Aula", para professores do Ensino Fundamental da mesma Instituição.

Vice-presidente de Cultura da UBT-Curitiba - biênio 2007/2008.

Eleita presidente, para o biênio 2009/2010,da referida Seção, que tinha como projeto iniciar em março de 2010 um trabalho mensal de "Oficina de Trova", em parceria com a Academia Paranaense de Poesia, em espaço cedido pela Biblioteca Pública do Paraná.

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores.