sábado, 29 de janeiro de 2011

Participação no Fanzine Episódio Cultural - Machado-MG


COMO PARTICIPAR NAS EDIÇÕES DO EPISÓDIO CULTURAL?

O Fanzine Episódio Cultural é uma publicação bimestral sem fins lucrativos, distribuído na região sul de Minas Gerais, São Paulo (capital), Belo Horizonte e Salvador-BA.

Para participar basta mandar um artigo:

poema, um conto que não ultrapasse 1 folha inteira no word (Times Roman 12).

Pode mandar também artigos que abordem: cinema, teatro, esporte, moda, saúde, comportamento, curiosidades, folclore, turismo, biografias, sinopses de livros, dicas de sites, institutos culturais, entre outros.

Mande em anexo uma foto pessoal para que seja publicada juntamente com a sua matéria..

Mande também (se desejar) uma imagem correspondente ao assunto abordado.

Caso o artigo não seja de sua autoria, favor informar a fonte.

CONTATOS COM CARLOS (Editor)
machadocultural@gmail.com

Fonte:
Movimento União Cultural

Escola do Escritor (Cursos e Oficinas de Literatura)


29/01/2011 - Sábado –
Horário: das 9h00 às 16h00
Como montar e administrar com sucesso uma Editora
Docentes: João Scortecci e Maria Esther Mendes Perfetti

03/02/2011 - Quinta-feira –
Horário: das 15h00 às 20h00
Conhecendo e escrevendo literatura infantil
Docente: Ricardo Ramos Filho

05/02/2011 - Sábado –
Horário: das 9h00 às 14h00
A Arte de escrever, publicar e comercializar o produto livro -
Questões Práticas do Direito Autoral
Docentes: João Scortecci e Maria Esther Mendes Perfetti

07/02/2011 - Segunda-feira –
Horário: das 16h00 às 20h00
Marketing Editorial - Divulgando o seu livro e sua imag em na mídia
Docentes: João Scortecci e Maria Esther Mendes Perfetti

08/02/2011 - Terça-feira –
Horário: das 16h00 às 20h00
Preparação e Revisão de textos na edição de livros e publicações periódicas
Docente: Ana Cristina Mendes Perfetti

10/02/2011 - Quinta-feira –
Horário: das 16h00 às 20h00
A WEB e as Redes Sociais - As oportunidades de negócios por meio de novas tecnologias
Docente: Luiz Semine

11/02/2011 - Sexta-feira –
Horário: das 16h00 às 20h00
Livro de Família - Resgatando o presente e o passado
Docente: Armando Alexandre dos Santos

12/02/2011 - Sábado –
Horário: das 9h00 às 16h00
Segredos para despertar a sua criatividade -
Descubra o escritor que existe dentro de você!
Docente: Armando Alex andre dos Santos

Mais Informações e Inscrições:
http://www.escoladoescritor.com.br/home.php

ESCOLA DO ESCRITOR
escoladoescritor@escoladoescritor.com.br
http://www.escoladoescritor.com.br/
(11) 3034.2981
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Fonte:
Movimento União Cultural http://uniaocultural.blogspot.com/

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Machado de Assis (Análise dos Contos de “Várias Histórias”: 6. A Causa Secreta)


Análise realizada pelo Prof. Bartolomeu Amâncio da Silva. Bacharel em Letras, pela USP, professor de literatura da rede Objetivo (colégios e cursos pré-vestibular).
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O conto pode ser obtido em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/machado-de-assis-causa-secreta.html

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O conto A Causa Secreta é um dos mais fortes de Machado de Assis. Sua estrutura narrativa lembra um pouco a de A Cartomante, com início abrupto, flashback e retomada do eixo em direção ao desfecho. Machado faz talvez um de seus melhores "desenhos psicológicos". Revela-nos a personalidade de um sádico, capaz de realizar "boas ações" desde que estas lhe permitam o exercício de seu prazer. A descrição da tortura a que submete um rato é página antológica na literatura brasileira.

Em 3ª pessoa, o narrador onisciente constitui uma notável caracterização psicológica em que revela, ao fazer o estudo do personagem Fortunato, o ápice do prazer que é conseguido na contemplação da desgraça alheia. O motivo do conto é explicar o verdadeiro sentido do termo "sadismo". Conta a estória de dois homens que, após um salvar a vida do outro e passar-se algum tempo, tornam-se sócios. Mas pouco a pouco um deles vai demonstrando tendências sádicas, torturando animais, fato que atordoa a esposa. Quando ela morre, Fortunato, o sádico, presencia o amigo beijar a testa da mulher e derreter-se em choro, saboreando o momento de dor do amigo que lhe traía.

Um conto naturalista. Ainda que a ambientação seja burguesa, os personagens parecem ratos de laboratório, uma analogia bastante explorada pelo autor na cena mais forte do texto em que o personagem Fortunato tortura um rato, cortando-lhe as patas lentamente, revelando todo o sadismo (patologia) que até então estivera oculto de todos, inclusive dos leitores.

A análise do conto A Causa Secreta, mostra que na perfeita normalidade social de Fortunato - um senhor rico, casado e de meia-idade, que demonstra interesse pelo sofrimento, socorrendo feridos e velando doentes - reside, na verdade, um sádico, que transformou a mulher e o amigo num par amoroso inibido pelo escrúpulo. Este escrúpulo, que gera o sofrimento do par, é a causa secreta do prazer de Fortunato e de sua atitude de manipulação de que o rato, no conto, é símbolo (Garcia, o protagonista, estaca perante a representação do horror. Fascinado perante o gesto frio de Fortunato, Garcia não faz sequer um gesto. Apenas contempla o sócio torturar lentamente um rato. Cortes meticulosos, pata a pata, precediam a queima do mesmo no fogo. O lento ritual prolongava o prazer. O narrador não subsume a cena em poucas palavras, mostrando-a por inteiro ao leitor).

Assim, de um narrador onisciente, nos principia o relato de um triângulo amoroso, trama comum a diversas ficções machadianas, enriquecida aqui de uma novidade incomum nas demais, o sadismo.

Em A Causa Secreta, Machado faz talvez um de seus melhores "desenhos psicológicos". Revela- nos a personalidade de uma pessoa, capaz de realizar "boas ações" desde que estas lhe permitam o exercício de seu prazer.

Começa-se com a informação de três pessoas, uma calma (Fortunato), outra intrigada (Garcia) e ainda uma terceira, tensa (Maria Luísa). Garcia havia visto pela primeira vez Fortunato durante a apresentação de uma peça de teatro, um “dramalhão cosido a facadas”. Este dava uma atenção especial às cenas, quase como se se deliciasse. Vai embora justo quando a obra entra em sua segunda parte, mais leve e alegre.

Mais tarde, Garcia volta a vê-lo quando do episódio de um esfaqueado, para o qual Fortunato dedica atenção especial durante o seu estágio crítico, tornando-se frio, indiferente quando a vítima melhora. Fica, portanto, seduzido pelo mistério sobre a explicação, a causa secreta de um comportamento estranho (não se deve esquecer que a postura de Garcia assemelha-se, guardadas as devidas proporções (já que não é dotado de onisciência), aos santos de Entre Santos, pois é dotado da capacidade de prestar atenção à personalidade humana. É, pois, quase um alter ego de Machado de Assis).

Tempos depois, passam a se encontrar constantemente no mesmo transporte, o que solidifica uma amizade. É a oportunidade para que o homem misterioso convide o amigo para conhecer casa e esposa. Estreitada a relação, duas conseqüências surgem daí. A primeira é a identificação entre Garcia e Maria Luísa, mulher do amigo. A sorte é que não se desenvolve nada mais do que isso. A segunda é a clínica que os dois homens vão abrir em sociedade. Nela, Fortunato vai-se destacar como um médico atencioso, principalmente para os doentes que se encontram no pior estágio de sofrimento.

E para aprimorar suas técnicas, pelo menos é o que confessa à cônjuge, o personagem dedica-se a dissecar animais. Chocada com o sofrimento dos bichos, Maria Luísa pede intervenção a Garcia, que faz com que Fortunato não praticasse mais tal ato, pelo menos, ao que parece, na clínica, tão perto da esposa.

A narrativa torna-se mais crítica quando Fortunato é flagrado vingando-se de um rato que supostamente teria roído documentos importantes: de forma paciente vai cortando as patas e rabo do bicho e aproximando do fogo, com cuidado para que o animal não morresse de imediato, possibilitando, assim, o prosseguimento do castigo. Maria Luísa havia pedido para Garcia interromper aquela cena, que foi a que justamente provocou o início do conto. A partir daí, encaminhamo-nos para o desfecho.

A mulher desenvolve tuberculose. É quando seu marido dedica-lhe atenção especial, extremada no momento terminal, ao qual ela não resiste. O final do texto é crucial para a total compreensão da história. Velando o corpo fica Garcia, enquanto Fortunato dorme. Em certa hora da noite, este acorda e vai até o local onde está a defunta. Vê Garcia dando um beijo naquela que amou. Ia dar um segundo beijo, mas não agüentou, entregando-se às lágrimas. Fortunato, ao invés de ficar indignado com a possibilidade de triângulo amoroso, aproveitou aquela dor “deliciosamente longa”. Descobre-se, assim, o seu caráter sádico.

É interessante notar como o autor deslinda aqui um comportamento doentio que norteia ações que aos olhos da sociedade podem parecer da mais completa bondade e dedicação ao próximo. É uma temática muito comum em Machado de Assis a idéia de que a aparência opõe-se radicalmente à essência.
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Continua… análise do conto 7. Trio em Lá Menor
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Fonte:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/v/varias_historias

Associação Poetas na Praça (Convite para 14 de Março, em Salvador/BA)


Convite

Associação Poetas na Praça, convida para o grandioso evento, o 14 de Março, DIA NACIONAL DA POESIA, em homenagem ao 164º. Aniversario de nascimento do poeta Castro Alves.

Já há décadas realizamos com poetas do país e vindos de outros paises. Possibilitando o intercambio cultural vivo, trocando informações do que é de novo da nova linguagem poética.

Programação Dia 14 de Março

Local – Praça Nacional da poesia, Salvador, Bahia, Brasil

10 H : Abertura - Exposição de artes plástica

10:15 CRIANÇARTE (trabalhos pedagógicos com crianças , Pintura criação livre

11 H Recital dos Poetas na Praça e Lançamentos de livros de poetas convidados

13 H Distribuição do Poster e Biografia de Castro Alves

Lançamento da Coletânea dos Poetas na Praça em Homenagem a Castro Alves,

15 H Show Musical

16 H Show Folclórico

17 H Recital aberto

Sede – Rua Carmosina, 17, Barros Reis, Salvador, Bahia, Brasil
Tel. 5571 88042608
http://www.poetapedrocezar.com/ poetasnapraca@hotmail.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.109)


Uma Trova Nacional

Quando a noite vem chegando,
no peito bate a saudade,
sirvo o vinho e vou sonhando
com o amor da mocidade.
(CARMEN PIO/RS)

Uma Trova Potiguar

Já não há nenhum respeito
por nós, os seres humanos!
A violência é o conceito
ideal para os insanos.
(ROSA REGIS/RN)

Uma Trova Premiada

2008 > Bandeirantes/PR
Tema > AUDÁCIA > Menção Especial

Tem, do herói, santo ou profeta
– em meio às guerras e a dor –
a mesma audácia, o poeta
que teima em falar de amor!
(THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP)

Simplesmente Poesia

– Solano Trindade/PE –
VOU PRA TERRA DE IRACEMA

Vou pra terra de Iracema,
amanhã – se Deus quiser,
dizem que a terra é bonita,
como olhar de mulher...

Vou pra terra de Iracema
vou mimbora pro Ceará
meu coração quer que eu siga
a minh’alma quer que eu vá...

Uma Trova de Ademar

Todinho, suco e licor,
ou qualquer outra iguaria,
jamais se iguala ao sabor
do “café que mãe fazia”!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Desconfio que a Saudade
não gosta de ti, meu bem.
- Quando tu vens ela vai...
Quando tu vais ela vem...
(LUIZ OTÁVIO/RJ)

Estrofe do Dia

Meu amor que não tem fim
reside num grande abrigo,
de noite sonha comigo
de dia escreve pra mim,
no meio do seu jardim
tem uma rosa amarela,
quando o vento toca nela
as pétalas caem a metade;
nasceu um pé de saudade
no jardim da casa dela.
(LOURO BRANCO/CE)

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
... VOLTA JESUS!

Jesus Cristo Voltai! Eu pediria,
e de novo calçai Tua alpercata,
usai, mais uma vez, Tua chibata,
pregai mais uma vez Tua homilia!

Os “vendilhões do Templo”, de hoje em dia,
vendem fé como quem vende batata,
banalizam milagre com bravata,
misto de fanatismo e hipocrisia.

Vê como usam o teu Santo Evangelho,
que na igreja de alguns, torna-se velho,
desvirtuado da grande missão.

Esta “raça de víboras” muito erra,
e conseguem jogar hoje por terra,
dois mil anos da Tua pregação!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Dodora Galinari (Trovas)


No calor do seu abraço,
se é inverno... não importa;
que o frio, num embaraço,
vai saindo e fecha a porta!

O lago, num doce amplexo,
como prova de paixão,
criou, da lua... o reflexo
em forma de coração!

Meu coração é uma rua -
bem fechada, já se vê -
por onde transita... nua,
a lembrança de você.

Retire a noite do olhar...
deixe o dia amanhecer
- toda alvorada ao chegar,
alegra o nosso viver.

Cupido entrou em descrença...
O AMOR, sofrendo sem fala...
- eu fingindo indiferença
você... negando notá-la.

Enquanto existir criança
e seu olhar de inocência,
pode-se ter esperança
de um mundo sem violência.

De costas, nessa apatia,
ficaste ao me ver voltar;
mas, pelo espelho, eu bem via
um brilho no teu olhar!

As montanhas, de mãos dadas
enfeitam nosso horizonte...
São princesas encantadas,
que os astros beijam na fronte!

Fonte:
UBT Nacional

Dodora Galinari


Dodora Galinari - nome literário e artístico de Maria Auxiliadora Galinari Nascimento - é membro da UBT-seção Belo Horizonte,onde reside.

Psicóloga. Pós-graduada em Pedagogia. Tem 30 anos de experiência na área da Educação: Magistério,do Ensino Fundamental ao Superior; Supervisão e Inspeção Escolar; Direção de Escola de Ensino Médio;Especialização em Superdotação.

Na chamada Melhor Idade,dedica-se às Artes cênicas como Atriz,Manequim,Modelo Fotográfico.

Natural de Dom Silvério/MG.

Desde adolescente,estudando interna em Ponte Nova/MG,diversas vezes foi premiada por seus trabalhos literários,tendo sido a 1" Presidente do Grêmio literário Pio XII - fundado na época.

Em meados de 2003,iniciou-se na UBT/BH e,na sua primeira participação em Concurso Interno obteve o 6º lugar – 2004. Em 2005 e 2006,sucessivamente,obteve o 1º lugar Anual-Concursos Internos, Novos Trovadores.

Ao término de 2006, classificada em Concurso Nacional/lnternacional, passou para a categoria Veteranos.

Outros Prêmios:
. 2004: Conc. interno Anual-Medalha de Bronze;
. 2005: Conc. Crueilandia-Menção Honrosa ;
Conc. Hum/BH-3º lugar;
Comunidade Luso-Brasileira-Menção Honrosa;
. 2006: Concurso Hum/BH-3º lugar;
Concurso Nac/lnternac. Pindamonhangaba-Menção Especial;
Concurso Nac/lnternac. Cidade Belo Horizonte-Menção Especial;
. 2007: Concurso Hurn/BH-2º lugar;
Conc. Internos/BH-Menção Especial ;
. 2008: Concurso Nac/lnternac. Univerti-Menção Especial;
Concurso lnterno BH-Menção Especial;
2009: Concurso Intersedes Cidade BH-Menção Honrosa;
Concurso Hurn/BH-Vencedor;
Concurso Interno/BH-Medalha

Participação:

Coletâneas de Trovas, UBT/BH:
2004:"Caleidoscópio";
2006:"Rosas de Cristal";
2008:"Mosaico de Trovas".

Coletânea - Coordenação Paulo Viotti: 2009/10:"Mineirices e Mineiridades".

Dodora Galinari é a atual Vice-Presidente de Administração da UBT - seção Belo Horizonte (biênio 2009/2010).

Fonte:
UBT Nacional

Folclore, Superstição, Lendas e Histórias (Aves do Brasil: Gavião)


A Tartaruga e o Gavião

Contam que, nos tempos primitivos, uma tartaruga matara um gavião, que deixou mulher e um filho pequeno. Sempre que o filho ia caçar camaleões, achava penas de pássaros. Chegando em casa perguntou à sua mãe:

- De quem são as penas que acho sempre no mato, quando vou caçar?

- Meu filho, são de teu pai, que morreu.

Calou-se ele e concentrou-se. Cresceu e estava quase moço.

Um dia foi caçar e encontrou umas tartaruguinhas. Estas disseram-lhe:

- Vamos nos banhar?

Ele disse:

- Vamos.

Dizem que se banharam e no banho, ele queria pegá-las com as unhas. Então elas disseram-lhe:

- Por isso minha avó matou teu pai.

– Agora sei quem verdadeiramente matou meu pai.

Cresceu e, quando já grande disse:

- Vou experimentar minhas forças.

Dizem que experimentou-as no grelo do meriti. Chegou e meteu as unhas para o arrancar. Experimentou, puxou e não o arrancou. Disse:

- Não tenho ainda forças.

Foi outra vez experimentá-las. Então arrancou o grelo e disse:

- Agora já tenho força. Agora vou deveras vingar meu defunto pai. Esperarei a saída da avó das tartarugas.

Dizem que um dia, aquela espalhou paracá em cima de uma esteira. Houve depois chuva com vento, e ela disse às netas:

- Vocês vão ajuntar para recolher da chuva o paracá.

As tartaruguinhas não foram, por ser aquele pesado, e por isso chamaram:

- Minha avó, venha ajudar-nos.

A avó subiu e foi ajudar as netas.

O gavião estava vigiando e, vendo-a sair, saltou-lhe em cima e a carregou para um galho de piquiá.

Então a velha tartaruga disse ao gavião:

- Como vou morrer agora, manda chamar teus parentes para que venham me ver morrer.

Vieram, então, todos os parentes do gavião. Chegaram todos os pássaros e ajudaram a matar a velha tartaruga. Os pássaros que a mataram ficaram sarapintados. Outros ficaram vermelhos. Aqueles que beliscaram o casco ficaram com o bico preto; outros que beliscaram o fígado ficaram verdes.

Assim acabaram as tartarugas assassinas; assim se acabaram.

Desde então os pássaros ficaram pintados.

Fontes:
Barbosa Rodrigues. Revista Selva. Rio de Janeiro, nº 1, setembro de 1946. In MELO, Anísio (org.). Estórias e lendas da Amazônia. São Paulo, Livraria Literat Editora, 1962. Antologia ilustrada do folclore brasileiro. Disponível em Jangada Brasil.

Frederico Augusto Garcia Fernandes* (Saci, Curupira, Mãozão e João Galafoice:



*UNESP-FCL/Assis

Começamos esta comunicação, contando um mito pantaneiro, em que a oposição “civilização X natureza” faz-se presente:

História de mãozão, essas coisas? É, essas história aí é braba, né? Quer dizer, eu nunca vi, eu conheço pessoas que já foram envolvidas nesse tipo de coisa, né? E cê quando lembra pra ele, ele puxa outra conversa, sai de perto, não quer responder, né?

Esse rapaz que ficou vinte e um dia na posse, diz que é do mãozão, né? Mas onde tinha a batida dele, tinha batida duma anta. O dia que pegaram ele, tiveram que laçar ele à moda gado. Ele correu. O pessoal diz que não viu ele, quem tava junto, né? Só via esse cara que tinha uma oração, esse tal de Parentão. Ele foi que laçou o guri. Só ele que viu, o pessoal só via a anta. E representava ele.

Então, ele falava assim pra algumas pessoa, diz que ele comia fruta. Uma pessoa que trazia as fruta pra ele comer e deixava a bóia dele, ele dormia e levava ele lá em cima, na forquilha de um pau, rodeava ele lá. A única coisa que ele contava, né? No mais, ele não falava nada.”


Silvério, o nosso contador, vai juntando elementos da tradição pantaneira num único relato, de modo a criar uma forma simples (no caso, o mito). Em outros termos, ele amalgama elementos da tradição (como o mãozão, o vaqueiro Parentão, rapto do garoto), representando valores e crenças, pessoais e compartilhadas com a comunidade pantaneira. O interessante é que seu relato é amplo, no sentido de que é possível efetuar vários cortes temáticos, porém ao mesmo tempo conciso, quando estamos tratando da linguagem em si. A performance é marcada pela “rapidez”, aspecto peculiar à literatura manifestada pela voz. Ítalo Calvino (1993) observa

A técnica da narração oral na tradição popular obedece a critérios de funcionalidade: negligencia os detalhes inúteis mas insiste nas repetições, por exemplo quando a história apresenta uma série de obstáculos a superar. O prazer infantil de ouvir histórias reside igualmente na espera dessas repetições, frases, fórmulas.”

Os “detalhes inúteis” dizem respeito a citações redundantes, descrições com pormenores irrelevantes, aspectos externos à trama, que em nada poderiam mudar o seu sentido. Não à parte, Ítalo Calvino menciona as repetições, que dizem respeito às fórmulas rimadas, comuns aos contos populares, mas que também são recorrentes em temas, situações e motivos. Estas últimas não são encontradas no relato de Silvério, ao passo que a “rapidez” em sua fala é marcante. Existe uma diversidade (pluralidade de assuntos) em torno de uma unidade, no caso, o relato conciso. Tal pluralidade é decorrente de variantes de outras histórias do universo pantaneiro, com as quais Silvério vai compor seu relato.

De fato, a manifestação dessas variantes não se dá somente dentro de um único universo. Os mitos na cultura popular espalham-se, misturam-se, preservam alguns sentidos e significados, alteram imagens. Primeiro porque uma dada cultura (como, por exemplo, a pantaneira) não é fechada em si, está em intermitente diálogo e intercâmbio com outras representações de mundo; segundo porque há casos de culturas muito distantes, sem nenhum contato, terem mitos muito semelhantes. Lévi-Strauss cataloga diversos temas que se repetem em pontos eqüidistantes:

Ao propor esta visão sincrética, não pretendo provar que um mito ou um conjunto de mitos ter-se-ia difundido de um hemisfério para o outro. O espírito, quando elabora os mitos, se entrega a um automatismo que, desde que se lhe forneça um motivo inicial, qualquer que seja a sua proveniência, efetua todas as suas transformações em seqüência. Basta um mesmo germe cá e lá para que surjam conteúdos míticos talvez muito diferentes quando olhados superficialmente, mas entre cujas estruturas a análise revela relações invariantes.” (LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 81-82.)

A criação de um mito não se trata de uma idiossincrasia, mas de uma resposta dada pelo contador aos anseios coletivos. No terreno das inquietações, problematizações ou símbolos mais ou menos comuns a todos, manifesta-se uma contigüidade. É o que acontece, por exemplo, com o caso do menino que ficou na posse de uma anta. Em História de lince, Lévi-Strauss analisa o caso do menino em poder de um mocho e vai percebê-lo como uma estrutura menor, ligada ao conjunto de histórias do mito de lince. A proximidade entre esses relatos, com estruturas semelhantes e aspectos mais ou menos comuns em relação ao meio primitivo, ainda são incógnitas. Se, a coincidência do caso lince com o do menino e a anta é difícil de ser explicada, pois faltam muitos dados; podemos contemplar, no plano literário erudito, uma fonte de inspiração do escritor com base na narrativa popular/primitiva.

Num estudo sobre as fábulas, na tese de livre-docência de Maria Lúcia Goés, perceberemos, entre outras coisas, como o popular/primitivo é assimilado pela literatura infantil. O escopo da pesquisadora recai sobre os animais, refletindo sobre como o escritor apresenta uma releitura das fábulas em “objeto novo”, isto é, a história percebida no plano das ilustrações e da narrativa compondo um único objeto, o livro. Maria Lúcia Góes vai classificar estas histórias de “Fábula Moderna”, em que se apresentam duas sub-categorias: “Estórias de animais” e “Estórias de animais em resgate de Formas”. No primeiro caso, o livro resulta de uma “Matriz-Fábula”, cujas personagens principais são animais, podendo ou não manifestar os secundários ou coadjuvantes (seres humanos ou sobrenaturais). Já, a respeito das “Estórias de animais em resgate de Formas”, opera-se a paródia ou paráfrase e suas sub-classes (apropriação e estilização). Elas dizem respeito a “formas novas e diferentes de ler o convencional: processos de liberação do discurso.” (GOÉS, 1994. p. 154)

Nosso objetivo ao falar da “Fábula Moderna” é de mostrar como a linguagem passa por uma reelaboração, tornando-se “forma artística”, no conceito jolliniano. Voltando ao mito, ele traz uma diferença essencial quanto à fábula: a atitude daquele é de verdade, ao passo que esta é de ficção. Entretanto, olhando mais detidamente, o mito traz certa semelhança com a fábula, na medida em que propicia um enredo de aventuras, não sendo exímio de uma moralidade e/ou lição sapiencial. Retomando Maria Lúcia Goés (1993, p.103): “a criação do mito supõe dois momentos:1º) animação de todas as coisas, como também acontece na vida da criança; 2º) a qualificação – aqui as histórias começam a aparecer (invenção novelesca) sob forma de aventuras.”

Decorre daí, que o mito e a fábula podem possuir estruturas narrativas próximas, ao passo que nos falam em uma linguagem simbólica, sendo cercados por uma trama. Tanto um como outro não estão isentos da adaptação do discurso em “objeto novo”. Desse modo, se o mito apresenta invariantes em culturas diferentes, porém com a essência primitiva ou popular, ele também pode ser reelaborado numa forma artística, em que as ilustrações vão assumir o mesmo relevo da própria linguagem verbal. Para a percepção de uma outra atualização da forma mítica, diferente da de G.O. e de Silvério, escolhemos o livro O saci e o curupira, de Joel Rufino dos Santos(1984), para ser analisado.

A história, em prosa, faz referência a três mitos: o saci, o curupira e João Galofoice, sendo o último ligado ao universo infantil, responsável pelo rapto de crianças desobedientes e mal comportadas. A “rapidez”, como no relato de Silvério, faz-se presente, compondo uma trama curta, sem divagações, em que os pormenores são enfatizados no plano pictórico. O ilustrador, nesse sentido, dá os detalhes dos espaços e formas às personagens, fazendo um contraste entre cores vivas (amarelo, vermelho, laranja, entre outras) e escuras (roxo e preto) ou tons pastéis, com a finalidade de marcar quadros e situações. Tal contraste desempenha função importante, uma vez que os ambientes estão restritos à casa de um caçador e à mata, sendo que as situações se repetem inúmeras vezes nesses espaços, com a modificação apenas de uma personagem. Dessa maneira, ele alerta o leitor para a mudança do tempo e de situação na narrativa, enaltecendo ainda mais a repetição da ação.

Retomando a citação de Ítalo Calvino (supra, p. 18), a repetição é responsável por boa parte do frenesi no ouvinte mirim, por causar uma expectativa da qual ele já supõe conhecer a resposta. Ela provoca, assim, uma empatia, na qual o escritor/contador convida o leitor/ouvinte a participar da construção de sua obra, envolvendo-o em situações já conhecidas, levando-o à assimilação da mensagem de maneira mais eficaz e fornecendo condições para que o mesmo leitor/ouvinte chegue ao desfecho antes de ele se concretizar, porque já assimilou a moral.

Assim, na página 2 do livro lemos:

Era uma vez um homem muito pobre” (cores vivas, mostra a penumbra de um homem saindo com uma espingarda, com o desenho de sua casa ao lado e o sol iluminando ao fundo).

e na seguinte:

Ele saía para caçar de dia, voltava sem nada. Aí resolveu experimentar de noite.” (cores escuras, repete-se a mesma imagem anterior, com exceção do sol que foi trocado pela lua e da posição da arma do caçador).

A repetição de imagens com tons diferentes será recorrente no livro, bem como da história em si. Indo direto ao tema, notaremos que ao abrir o livro, o escritor já procura inserir o leitor num universo do faz-de-conta. “Era uma vez” (página 2 do livro) é uma fórmula muito comum nos contos populares, capaz de alertar o ouvinte/leitor para uma ficção, ou melhor, um universo de fantasia do qual ele começa a fazer parte. Os mitos geralmente não se iniciam com tal fórmula, tendo em vista que o contador procura conferir a eles veracidade. Então, não é de um acontecimento verídico que o autor quer tratar, mas nos é feito um convite à fantasia, é o mundo do faz-de-conta que foi acionado, para que seja contada a história.

Em seguida, temos o caçador saindo à noite, pois não arruma alimento durante o dia. Na mata, ele encontra o saci e o diálogo é este:

“‑ Quem que lhe deu ordem pra caçar a esta hora?
‑ Ninguém – disse o homem, tremendo. – Mas é que sou muito pobre e não arrumo caça de dia.
‑ Gostei de você – falou o saci. – Você tem fumo?

O matuto deu fumo pro cachimbo do negrinho.
‑ Vamos fazer um trato – disse ele, baforando. Se você me trouxer fumo toda noite, eu lhe arrumo caça
.” (p. 6-11).

Numa comparação entre esta história e o mito do mãozão temos: saci é o dono da mata, como o mãozão, o caçador transgride o espaço do mito. O mito, ao contrário do mãozão, propõe uma relação de troca: alimento pelo fumo, estabelecendo uma situação de harmonia entre o homem (que depende da caça para sobreviver) e a natureza (representada pelo saci, que é atendido ao receber o fumo para seu cachimbo). Os dois ficam em harmonia: o homem com a caça e o saci com o fumo.

Tudo ia bem, até que um dia o fumo do caçador acabou e sua mulher, Maria Gomes, lhe sugeriu lograr o saci, dando, no lugar, estrume seco. O resultado é que o saci desapareceu e nunca mais trouxe caça. Por isso, volta a situação de penúria do caçador, encontrada no início da história. Reinstala-se o distúrbio entre o homem e a natureza, na qual, não conseguindo alimento, fica impossibilitada a sobrevivência daquele. Nas páginas seguintes, é a natureza que vai ao encontro do homem, representada pelo curupira:

Tornaram a bater. O homem se levantou para espiar pelo cantinho da janela. Era o curupira.
‑ O senhor não tem aí um pouquinho de pólvora? – perguntou o menino de calcanhar virado. Mas perguntou baixinho.
‑ Tenho e não tenho – respondeu o homem, maluco pra fazer comércio.
‑ Se o senhor me arrumar um pouco de pólvora – disse o curupira – cada noite lhe trago uma caça como essa. Só peço uma coisa: sua mulher não pode saber que sou eu
.” (p.20-23).

Novamente, com o curupira, é estabelecida a harmonia homem/natureza, a partir de uma outra relação de troca: caça pela pólvora. Só que o novo contrato foi também rompido, pois a situação imposta pelo curupira, de que o caçador deveria manter segredo para sua mulher, não se cumpriu. A repetição da situação, além de provocar a empatia no leitor, traz um norma ética, com um fundo moral: não devemos enganar a quem nos faz bem. Recorrendo à Maria Lúcia Goés (1993, p.80), notaremos uma aproximação desta história com a fábula ética, uma vez que tanto uma como a outra: “induz a um aprendizado quanto ao comportamento individual, o ser no mundo [...]”

A história de Joel Rufino dos Santos enfatiza, por sua vez, com as repetições, uma conduta humana abusiva, pois o homem deveria ter respeitado o acordo com os mitos (saci e curupira), sua moralidade reside num aprendizado ético, do ser frente a ações e situações do mundo, de como ele deveria ter se comportado para não romper a situação de equilíbrio com a natureza.

O desfecho é a briga entre o caçador e sua esposa, com os dois deixando a casa. A penúltima imagem mostra a penumbra do homem saindo pelo lado esquerdo e a mulher, na página ao lado, pelo direito, ao centro está a casa (ocupando as duas páginas). O trecho é este:

Tanto brigaram, que um saiu prum lado e outro pro outro.
O homem se chama João Galafoice. E está sempre de surrão às costas. Tem gente que acredita que é pra esconder criança. Bobagem. É um montão de fumo pra trocar com o saci. Só que o saci não aparece pra ele , não
.” (SANTOS, 1984, p.30-31)

Ocorre aí a inserção de João Galafoice (CASCUDO, 1972. p. 482), até antes velado. Todavia, a apresentação do narrador tende a abrandar e até eliminar o temor infantil, pois ele confere uma outra função ao surrão do João Galafoice: a de levar fumo para o saci e não para esconder crianças. O objetivo do escritor começa a se clarear: dissipar o medo do leitor, sugerindo uma nova função para o mito.

No último trecho do livro, isso fica mais latente:

A mulher se chama Maria Gomes. Tá sempre de cabelo despenteado, anda que anda por aí. Maria Gomes espia o calcanhar de tudo quanto é menino, mas não precisa ter medo, não. Tá só procurando o curupira pra pedir desculpa.” (imagem centrada na face de uma mulher de cabelos vermelhos e volumosos, despenteada, olhos arregalados).

Maria Gomes é personagem muito comum nos contos maravilhosos (CASCUDO, 1997. p. 47-51). Geralmente, ela é a menina que, abandonada pelo pai, encontra um príncipe encantado (em forma de cavalo branco), demonstra obediência e lealdade a ele; e por fim, quebra o feitiço e casa-se com o príncipe. A identificação da história de Joel Rufino dos Santos com o conto “Maria Gomes” é mínima e os aspectos opostos são mais latentes.

Tais fatos nos levam à conclusão de que Joel Rufino dos Santos intenta demonstrar a ineficácia do medo, tendo em vista a descrição de Maria Gomes, assustadora na imagem, porém inofensiva, conforme a linguagem verbal.

Assim, ele reveste os mitos de uma nova roupagem, até o saci e o curupira são amigáveis e prestativos, sendo que a ilustração colabora com tais aspectos. Com isso, o autor passa duas mensagens: devemos ser sinceros nas relações, o que equivale num plano mais profundo a respeitar a natureza (uma vez que o saci e o curupira são representantes dela), e, por fim, não devemos nos assustar com os mitos que, na tradição popular, geralmente são deflagradores do medo infantil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOÉS, M.L..P. de S. A fábula brasileira ou fábula saborosa: tentativa paideumática da fábula no Brasil. São Paulo, 1994. 169p. Tese (Livre-Docência) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
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SANTOS, J. R. dos. O saci e o curupira. il . Zeflávio Teixeira. São Paulo: Ática, 1984.
Fonte Oral
ENTREVISTA Silvério Gonçalves Narciso (filme-vídeo). Produção: Eudes F. Leite & Frederico A. G. Fernandes. Corumbá: Ceuc/UFMS, 1996. 90min (aprox.), color., son., VHSc.

Fonte:
XIII Seminario do CELLIP (Centro de Estudos Linguísticos e Literários do Paraná) – Campo Mourão, 1999 (CD-Rom)

Arcádia de Minas Gerais (Convite aos Membros do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa BH MG)

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Machado de Assis (Análise dos Contos de “Várias Histórias”: 5. A Desejada das Gentes)


Análise realizada por Cristiane Teixeira de Amorim, sob o título Máscaras do Desejo em “A Desejada das Gentes”, De Machado De Assis
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O conto na íntegra se encontra em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/machado-de-assis-desejada-das-gentes.html
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O conto “A desejada das gentes” foi publicado pela primeira vez em 1886. Em 1896, passa a integrar a coletânea Várias histórias.

A narrativa sustenta-se sobre um diálogo no qual um dos personagens, o Conselheiro, assume tom memorialista e nostálgico ao expor, para o amigo, seu passado – reminiscências do ano em que conhecera Quintília (1855) ao ano de sua morte (1859) – em uma seqüência quase integralmente cronológica (não fosse a referência inicial à própria morte), intercalada com reflexões, sobre fatos e comportamentos apresentados, provenientes do distanciamento temporal.

O texto deixa entrever que o diálogo já havia iniciado antes da narrativa, como se o autor tivesse feito um corte seletivo na conversa entre amigos – tipo de recurso recorrente na estética literária contemporânea.

A primeira “fala” pertence ao interlocutor que manifesta uma crítica ao estilo romanesco do Conselheiro: “Ah! Conselheiro, aí começa a falar em versos.” (p. 125). A nuance de teor sentimentalista se mantém na réplica: “Todos os homens devem ter uma lira no coração.” (p. 125). Em seguida, as razões para os “versos” e para a “lira no coração” são expostas. O espaço exterior exuma o passado; traz à tona não o real que jaz noutro tempo, mas a representação deste real, contraditoriamente assassinado e ressuscitado (embora nasça outro) no processo de rememoração. Durante o passeio pela Glória, o Conselheiro faz reviver a exuberante Quintília, ou melhor, sua imagem representativa, distanciada do real (que, em verdade, sob quaisquer circunstâncias, jamais é plenamente apreensível), embora mantenha com o mesmo certo grau de parentesco. Ela faz jus ao epíteto de deusa, ao se imortalizar através da memória, ainda que esta tenha sido orientada pela “lira que ressoa” e pela “imaginação” (p. 125).

O outeiro é apontado e, diante dele, há uma casa. A casa onde, o texto sugere, morou a “desejada das gentes”. A ironia machadiana se aproveita dos espaços. Aquela que nunca ambicionou se casar e com a qual todos cobiçavam se unir em matrimônio residia diante do altar.

O Conselheiro, ainda em réplica à fala inicial do interlocutor, questiona: “Sabe por que é que lhe pareço poeta, apesar das ordenações do Reino e dos cabelos grisalhos?” (p.125). A pergunta suscita algumas inferências: ao mencionar que o personagem possui cabelos grisalhos, o texto presta indiretamente a informação que um longo tempo se passara entre o presente do enunciado e o presente da enunciação, considerando que ele era mais novo que Quintília e que ela morrera com trinta e três ou trinta e quatro anos. O “parecer poeta”, o “falar em verso” e a “lira no coração” compõem uma tríade inicial que situa o personagem no âmbito da estética romântica. Ao mesmo tempo, o Conselheiro crê que as “ordenações do Reino” e os “cabelos grisalhos” constituem empecilhos para tais acessos romanescos.

O poeta, portanto, deveria ser jovem e não possuir nenhuma ligação com o sentido prático da existência. O autor inicia o processo de construção de seus personagens elásticos, que ocupam todas as esferas e a elas se contrapõem. No decorrer da narrativa, o interlocutor faz duas interrupções à fala do Conselheiro para criticar seu tom romantizado que será, através desta oposição e das reminiscências do discurso e do comportamento de Quintília, freqüentemente corroído. O ridículo se aproxima do Conselheiro e o riso que brota dos lábios da “desejada das gentes” parece estampado na face machadiana.

É tentador apontar a morte da estética romântica na produção da segunda fase do “bruxo do Cosme Velho”. Seria, no entanto, uma abordagem equivocada. Ela não sucumbe, ainda que se mantenha apenas para fazer contraponto a uma nova maneira de o homem ver o mundo e de se ver diante do mundo. Valentim Faciolli ao abordar, na análise do texto machadiano, “as formas artísticas”, afirma que elas são “capazes de captar o movimento social de forma contínua: a decomposição das formas velhas e, no interior destas, o nascimento das novas, com a convivência delas em tensão permanente, como movimento de contradições, dialético.” (1982, p. 39). Embora não se refira diretamente a questão aqui exposta, o autor parece corroborar a tese de que Machado não aniquila nenhuma fonte, abastece-se em todas, mesmo que tenha o aparente intuito de negá-las. Nada morre no texto machadiano; tudo vive em tensão permanente.

Ainda no início do diálogo, surgem as primeiras caracterizações de Quintília: “divina”, “linda”, “a mais bela”, “magra”, “alta”. Uma mulher que reúne atrativos que a tornam objeto de desejo. Seu nome, contudo, sugere a impossibilidade de apreensão deste objeto: o parônimo “quintilha” significa, de acordo com o Aurélio, “estrofe de cinco versos” e tem origem na combinação etimológica “quinto + ilha”, indicando, portanto, algo cercado e simultaneamente isolado. O termo “quintilho” oferece também sua contribuição: “Erva ornamental (...) de (...) flores solitárias e (...) vistosas”. A imagem do belo desabitado que brota das nomenclaturas parece autenticar a visão da personagem apresentada no decorrer do conto.

O anúncio da morte da “desejada das gentes” é feito no princípio da narrativa. Morreu em 20 de abril de 1859, durante a estação em que as flores perecem. O Conselheiro, que a conhecera em 1855, quanto ela tinha então trinta anos, faz questão de frisar que “não os parecia”. Relembra, posteriormente, que uma amiga de Quintília dizia que ela “não passava dos vinte e sete”, apenas para “diminuir-se a si própria” (p.125), já que ambas nasceram na mesma data. Inicia-se com sutileza o jogo machadiano de aparência versos essência: atitudes de feições inocentes (ou beneméritas) mascaram sempre o egocentrismo humano. O que está por traz das ações e das palavras, o não-dito, o não-confessado surge pelos espaços que a dissimulação não consegue encobrir: os personagens sempre arrastam uma barra de algodão.

O Conselheiro dá continuidade à descrição de Quintília:
(...) tinha os olhos, como eu então dizia, que pareciam cortados da capa da última noite, mas apesar de noturnos, sem mistérios nem abismos. A voz era brandíssima, um tanto apaulistada, a boca larga, e os dentes, quando ela simplesmente falava, davam-lhe a boca um ar de riso. Ria também, e foram os risos dela, de parceria com os olhos, que me doeram muito durante certo tempo. A “desejada das gentes” é inapreensível. Primeiro, porque as informações sobre ela são fornecidas através da memória, da imagem representativa e dos interesses daquele que conduz a narrativa. Segundo, porque a oposição de Quintília aos ideais femininos de sua época – que a torna fascinante em razão do distanciamento do comportamento comum – não é esclarecida ao logo do conto. No século XIX, as mulheres se casavam jovens e consideravam o casamento projeto central de vida. Permanecer solteira era motivo de infinitas tristezas, como esclarece Ingrid Stein em sua obra Figuras femininas em Machado de Assis: “O casamento representava, no quadro da época, a aspiração modelar da maior parte das moças. (...) As moças casavam muito cedo, com treze ou catorze anos. Se entrassem na casa dos vinte sem pretendente já podiam ser consideradas ‘solteironas’.” (1984, p. 31). Verifica-se, portanto, dois posicionamentos antagônicos em relação ao período: Quintília não quer se casar e os homens desejam se unir em matrimônio a uma mulher que já passara dos trinta anos!

A descrição dos olhos da personagem encerra a seguinte questão: Como possui olhos sem mistérios a mulher que constitui um enigma? Parece certo afirmar que a visão do Conselheiro é equivocada, já que ele declara em seguida: “Tanto não os tinha (mistérios) que cheguei ao ponto de supor que eram as portas abertas do castelo (...)” (p. 126). Quintília nunca “abriu as portas” a seu pretendente.

Seu olhar, misterioso ou não, encobria uma personalidade inatingível. O que desejava Machado: chacotear seu “narrador” ou sugerir nas entrelinhas que os olhos não são dignos de confiabilidade? Facioli, ao analisar a problemática do ponto de vista no texto machadiano, conclui:

(...) o próprio narrador é contestado continuamente em sua versão dos “fatos” narrados, sendo desmistificado pelos outros ou por seu próprio discurso. A verdade do texto é uma questão de ponto de vista e, portanto, sempre determinada pelos “interesses em jogo”.

O leitor estará diante dos movimentos de uma verdade sempre ambígua e instável. (Facioli, 1982, p. 40-1)

Em seguida, a descrição se foca no “ar de riso” da “desejada das gentes” que confere a sua face um tom permanentemente irônico. Quintília ri diante do discurso romântico do Conselheiro. Seu riso é pontiagudo e se dirige não apenas ao personagem, mas ao leitor habituado às paixões romanescas. Os demais leitores Machado convida a rir também. Não um riso frouxo, intenso, incontido, e sim um sutil e cáustico distender de lábios.

O Conselheiro passa a explicitar a origem de seu desejo. Ela era bela, mas não fora a beleza o chamariz da vontade. O interesse é despertado apenas quando ouve “um grupo de moços que falavam dela, como de uma fortaleza inexpugnável” (p. 126). Quintília se torna objeto de conquista valorizado pelo desejo do Outro e pela dificuldade de apreensão do próprio objeto.

Camille Dumouliè, professor de Literatura Comparada na Universidade de Paris X-Nanterre, em sua obra O desejo, reúne autores ao longo da filosofia e da psicanálise que tentaram compreender o universo deste afeto. Ao apresentar a contribuição lacaniana, assinala, tendo como foco o “seio da mulher”: Para se tornar causa do desejo, é necessário que tenha sido objeto do desejo de Outro, visto que, segundo a fórmula de Lacan, o desejo do homem é o desejo do Outro (2005, p. 110).

Embora a psicanálise alcance a concepção de desejo intrínseca no conto, a raiz deste tipo de aspiração possui um viés mais schopenhauriano e, por conseguinte, mais machadiano. Querer o que o Outro deseja centra-se não na mimese, mas na vaidade. Ao alcançar o que todos almejam, ganha-se a admiração (ou a idolatria) dos olhos da opinião. A vaidade mascarada por outros sentimentos é recorrente na obra de Machado e não são poucos os críticos que apontam a influência da doutrina do filósofo alemão. Ambos ambicionavam dissecar a alma humana e acreditavam nas aparências que camuflam verdades:

No trato humano, as pessoas fazem como a Lua e os corcundas, isto é, mostram apenas a metade; e cada um é dotado do talento inato de compor o rosto com habilidade mímica, de modo a parecer rigorosamente aquilo que devera ser; e como a máscara é feita adrede para ele, assenta-lhe tão bem, que a ilusão é completa. (Schopenhauer, 1956, p. 179)

A “cena” do grupo de moços que, feridos em seu orgulho, apontavam, sem pudor, razões para as negativas de Quintília diante de tantas propostas, se passa “entre dois atos dos Puritanos”. Machado mantém o tom irônico ao aproximar literariamente a malícia da pureza moral.

O Conselheiro e o amigo advogado João Nóbrega, que já conheciam a “desejada das gentes” e a consideravam belíssima, mas nunca pensaram em namorá-la, decidem, calcados no desejo do Outro e na dificuldade de apreensão do objeto (ela era a “fortaleza inexpugnável”), conquistá-la. Fazem, então, uma aposta e Nóbrega lembra que Quintília não era apenas bela. Era rica. Nenhum traço romântico, portanto, os impulsiona à aventura.

Um fato novo muda o rumo dos acontecimentos: os amigos, “violentamente enfeitiçados” pela “desejada das gentes”, perdem o controle da situação. A espécie é, então, responsabilizada: “(...) o homem põe e a espécie dispõe” (p. 127). Essa concepção, nitidamente schopenhauriana, coloca a Vontade da espécie, que visa sua perpetuação através da reprodução dos seres, sobreposta à vontade do indivíduo. De acordo com o filósofo, o amor constitui um “ardil da natureza” para obter seu único fim: “a combinação da próxima geração” (Schopenhauer, 1969, p. 16). Independente de a teoria alemã surgir no conto para ser reverenciada ou depreciada, o desejo nova mente aparece dissimulado. Os sentimentos dos personagens por Quintília espelham, nesta abordagem, a Vontade da espécie.

O Conselheiro e João Nóbrega se desentendem ao se tornarem rivais. A disputa pelo mesmo objeto (a “ação comum”) conduz à separação. O “narrador” afirma que “ou por desengano verbal que ela (Quintília) lhe desse, ou por desespero de vencer” (p. 127), o ex-amigo desistira da disputa. A utilização de orações alternativas põe em xeque as causas apresentadas. Em seguida, o Conselheiro assevera que Nóbrega morrera “apaixonado como um simples Werther”. (p. 127). O exagero próprio do estilo romântico é criticado na réplica do interlocutor: “Menos a pistola.” O “narrador” desconhece os motivos que levaram ao afastamento do advogado; apenas suposições são apresentadas. No texto, também não há nenhum indício de manutenção do contato entre estes personagens. Aparentemente a tendência romanesca do Conselheiro o induz a acreditar que Nóbrega falecera em decorrência do veneno exalado do amor de Quintília.

O desejo, pouco a pouco, ganha outra face. Ele já não é apenas desejo do Outro, mas o desejo narcísico de ser desejado (o desejo pelo desejo do Outro). A vaidade se mantém como a mola propulsora das vontades. Dumoulié, ao abordar esta questão, cita o pensamento de Hegel segundo Kojève:
(...) na relação entre o homem e a mulher, por exemplo, o Desejo só é humano se um deseja não o corpo, mas o Desejo do outro, se quer “possuir” ou “assimilar” o Desejo tomado enquanto Desejo, ou seja, se quer ser “desejado” ou “amado” ou então ainda: “reconhecido” no seu valor humano (...). (Hegel apud Dumoulié, 2005, p.125)

O Conselheiro afirma que “Quintília não deixava ninguém estar só em campo.” (p.128). A sentença faria o interlocutor (e o leitor) desconfiar de que “a desejada das gentes” saboreava seu lugar de “objeto de desejo”. Para evitar essa acepção, ele apressa-se por dizer:
“não digo por ela, mas pelos outros”. A imagem de sedutora mordaz rui para dar lugar a da mulher justa e piedosa. Em seguida, conclui a descrição: “(...) tinha essa espécie de olhos derramados que não foram feitos para homens ciumentos.” (p.128). O que significaria “olhos derramados” senão os que se projetam sobre o Outro, os que se alastram até tudo abarcar? Machado criou mais uma de suas personagens enigmáticas, que o “narrador” se esforça por decifrar inutilmente porque prisioneiro de seu próprio olhar. Ao leitor, resta um ponto de vista oscilatório, frágil, duvidoso. Quintília se deleitava com o desejo que incitava ou era apenas uma mulher bela a se esquivar com gentileza da cobiça alheia?

O lugar daquele que deseja é expresso por uma “voz” nada confiável, embora permita vislumbrar, pelas fendas na máscara, parte do que se encontra camuflado. A estética machadiana se assemelha a uma capa repleta de pequenos orifícios por onde escapam verdades” que os personagens ambicionavam encobrir. A narrativa se estrutura em discursos sobrepostos: o primeiro propositalmente falho, porque deixa entrever, mesmo que de forma precária, o subjacente que se ansiava por manter à sombra.

Mas quanto à nebulosa Quintília? Ela não tem “voz” e sua constituição ao longo do texto, como já referido, parte da imagem representativa do Conselheiro. Curiosamente a obra de Dumoulié, O desejo, também não aborda o tema sob a perspectiva do desejado, mas daquele que deseja, constituindo uma lacuna no entendimento desta relação.

O “narrador” sente ciúmes de sua “amada”. É tomado, portanto, por outro tipo de aspiração: o desejo de exclusividade. Ele não quer apenas que ela o deseje; ele quer que ela não deseje mais ninguém. Quintília, procurando se desvencilhar de seus pretendentes, faz uso, de acordo com o Conselheiro, da opinião contrária (e interesseira) do tio ao seu casamento. As ações dos personagens estão sempre voltadas para benefício próprio. Vale ressaltar que o Conselheiro se espanta com o fato de “uma pessoa tão amiga de bailes e passeios, de valsar e rir, fosse (...) tão severa e grave.” (p. 128). O trecho faz crer que Quintília, embora corrobore com o estereotipo da mulher da Corte, dada às futilidades e trivialidades sociais, possui uma essência contrária à aparência.

Pouco a pouco o estilo romantizado toma conta do “narrador”. Ele teme se declarar e escreve cartas que não envia. Seu pai morre e, em seguida, o tio da “desejada das gentes” adoece. O Conselheiro, então, vislumbra a felicidade frente à iminência da morte: “(...)a afeição principal ia-se embora e nessa transição da vida presente à vida ulterior podia eu alcançar o que desejava.” (p.129). Machado brinca sarcasticamente com o leitor: quando este se torna complacente com a angústia do personagem diante do desejo por Quintília, é posto frente a frente com a sordidez humana. No texto machadiano, bem e mal não constituem absolutos; encontram-se liquefeitos no íntimo dos seres.

Enfim, o Conselheiro decide pedir Quintília em casamento. O tom melodramático do “narrador” contrasta com a réplica seca da “desejada das gentes”: “Casar pra quê?” (p.129). Diante de uma reposta carregada de sentimentalismo exacerbado, ela ri. Quintília mais uma vez ri do ideário romântico. Após o relato da briga entre os amigos advogados, ela pergunta: “Mas então é um delírio?” (p.130). Posteriormente, ele declara que ela o olhava “como se olha para uma pessoa cujas faculdades pareciam transtornadas.” (p. 130). A obsessão, a idéia fixa, recorrente na ficção machadiana, invade os personagens e os conduz ao desvario. Como assinala Brás Cubas “(...) é ela a que faz os varões fortes e os doudos.” (Assis, 2001, p. 23).

Quintília jura que jamais se casará e o Conselheiro conclui: “Éramos dois sócios, que entravam no comércio da vida com diferente capital: eu, tudo o que possuía; ela, quase um óbulo.” (p.130). Aquele que deseja se mostra, portanto, obcecado pelo objeto a ponto de por ele se sacrificar.

A “desejada das gentes” adoece e, com a proximidade, o “amigo” encontra uma chave para a compreensão de sua alma: “escutando as suas leituras vi que os livros puramente amorosos achava-os incompreensíveis, e, se as paixões aí eram violentas, largava-os com tédio.” (p. 131). Quintília assume definitivamente uma postura anti-romântica, tornando-se personagem-símbolo da consolidação de uma nova estética.

Diante da finitude, ela se mostra “enérgica”; não há lágrimas ou lamentos. Casa-se com o Conselheiro à beira da morte. Ele a abraça “pela primeira vez feita cadáver”. (p. 132). O desejo deseja sua própria morte na aquisição, na conquista, na absorção do objeto, todavia a morte do objeto não configura a morte do desejo. Ao analisar o amor cortês, Dumoulié conclui que ele “se fundamenta sobre o mesmo princípio ascético que renuncia ao prazer e constrói uma forma de gerenciamento cujo fim é manter no mais alto grau a intensidade do desejo, eternizá-lo.” (Op. cit., p. 179). Quintília, portanto, fora mordaz com seu “amigo” de traços romanescos, ao presenteá-lo com um desfecho típico de romance-romântico. A partir desta concepção, pode-se compreender a combinação translógica dos epítetos “monstro” e “divino” com os quais o Conselheiro define a “desejada das gentes”.

Por outro ângulo, é possível vislumbrar a vertente schopenhauriana: o “narrador” viveu uma busca incessante que desemboca no encontro com o nada. Percorreu, portanto, a trajetória em direção à ilusão, a que todo desejo conduz, própria de todas as existências.

No conto, o desejo (ou o amor) perde a aura idealizada dos românticos e ganha agentes motivadores de feições pouco nobres. Dumoulié cita o ensaio de Girard Mentira romântica e verdade romanesca que corrobora o ponto de vista apresentado:
Nesse estudo analisa as obras de uma série de romancistas “realistas” que mostram claramente a ilusão da mentira romântica de um desejo autônomo, direto e livre por um objeto ao qual o ego atribui valor intrínseco, e revelaram a verdade do “desejo triangular”. Este último supõe a existência de um rival, de um modelo, de um obstáculo, que dá o valor a um objeto e o torna uma coisa desejável. (Dumoulié, Op. cit., p. 216)

Quintília é incontestavelmente bela e “o belo é a armadilha do desejo por excelência.” (Dumoulié, ibid., p.106). Possuir o belo significa saborear a inveja nos olhos da opinião. Todavia, a cobiça possui outros estímulos. Além de rica, a “desejada das gentes” não quer se casar. As freqüentes negativas constituem o tal obstáculo “que dá valor a um objeto”. Por outro lado, o desejo acirrado pelo desejo do Outro (deseja-se o que o Outro deseja) faz com que o número de candidatos mantenha curva ascendente. O Conselheiro, ao ambicionar o amor de Quintília, deixa entrever que o desejo também se fundamenta no desejo de ser desejado, porque “é sempre a si mesmo que se ama no amor.” (Id., ibid., p. 192). Todas as causas têm raízes, portanto, na vaidade como avalia Chamfort: Tire o amor próprio do amor e bem pouco há de restar. Uma vez purgado de vaidade, é um convalescente enfraquecido, que se arrasta com dificuldade. (Id., ibid., p. 189). A costura de todos esses elementos dá corpo a uma imagem distanciada do real e, por conseguinte, representativa do objeto: A realização do desejo não é portanto a posse de um objeto real, mas a reprodução alucinatória de uma percepção cuja imagem mnésica é de novo investida. Estamos precisamente, com o desejo, no mundo como representação: nunca temos uma relação direta com o real, (...) mas sempre com representações de afetos, ou até com representações de representações. (Dumoulié, op. Cit,, p.120)

Na estética machadiana, nada é o que parece, há sempre algo camuflado que requer um leitor atento a cada sutil movimento da narrativa para não ser lançado ao chão ou, ao menos, um leitor disposto a se levantar diante das quedas quase inevitáveis. A percepção das verdades (prováveis) surge do estranhamento provocado por expectativas frustradas. É esse estranhamento que incita o tatear textual. Machado, assim como a bela Quintília, atravessa os séculos sem se deixar apreender. O terreno é o das possibilidades de leitura limitadas pelo olhar e pela linguagem: “prisioneiros da linguagem e do nosso sistema de interpretações, ou de representações, vemo-nos obrigados a (...) projetar sobre ele noções que são próprias de nossa vida e de nossa experiência.” (Id., ibid., p.155).

O real não reside, portanto, atrás da máscara; ele é, em verdade, a própria máscara.

Referências Bibliográficas:
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Sá Editora, 2001.
______. Papéis velhos e outras histórias. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995.
BAUDELAIRE, Charles. La beauté. In: Les Fleurs du mal et autres poèmes. Paris: Garnier-Flammarion, 1964.
CÂNDIDO, Antônio. Esquema de Machado de Assis. In: Vários escritos. São Paulo: Pensamento, 1970.
DOUMOLIÉ, Camille. O desejo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
FACIOLI, Valentim Aparecido. Várias histórias para um homem célebre. In: BOSI, Alfredo, (et al.). Coleção escritores brasileiros: Antologia e estudos. Vol. 1. São Paulo: Ática, 1982.
FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
SCHOPENHAUER, Arthur. Aforismos para a sabedoria na vida. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
______. A vontade de amar. São Paulo: Edimax, 1969.
STEIN, Ingrid. Figuras femininas em Machado de Assis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
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Continua… análise do conto 6.“A Causa Secreta”
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Fonte:
http://www.filologia.org.br/

Joao Justiniano da Fonseca (Oswaldo Evandro Carneiro Martins – Contos Realistas)


A arte de escrever poesia e ficção é nem menos nem mais, que a sensibilidade de criar o ignoto ou recriar o vivido. Nessa, a dor de carregar o sofrimento da personagem ou alegria de viver o gozo de sua felicidade; a satisfação de gerar um filho. Quando a gente se põe dentro do próprio cérebro para tirar, daí, a composição literária, é como se fosse outro espírito, desligado deste da vida material. O mundo do escritor é, no momento de criar, o mundo do imaginário, um pouco o mundo dos deuses. Vem-me a lembrança ao fim da leitura de Oswaldo Evandro Carneiro Martins, em "Contos Realistas".

Trabalhador das letras clássico e purista, o autor transita livre e desembaraçadamente pelas mais despenhadas cachoeiras da arte das letras. É uma simples comparação com as coisas que amo e por isso me ocorrem mais constantemente. Bem comparando, ele tem, no manejo da pena, a facilidade do nativo brasileiro navegando seu rio, remo firme nas mãos ao piloto da igara. Tem o desembaraço dos mestres no exercício de sua profissão; a força do poder criador; a sensibilidade do iluminado. No conto manobra com a vivacidade do intelectual mais experiente no jogo das luzes do intelecto para sua formulação. Bate firme e pesado. Seu vocabulário é farto e elegante, e sendo lírico é forte, fincado na realidade dos que sabem o que escrevem e como o escrever. A erudição transparente no encadeamento das idéias sugere um sábio devorador de livros e um vivido observador do mundo.

A história curta, seja no conto contemporâneo, realista; seja na ficção pura, científica ou lírica; seja na novela policial, tem a preferência dos que lêem a título de lazer, mais que as longas histórias romanceadas. Nestas o leitor quer o enredo e o encadeamento dos fatos que se movem no conjunto. Naquela, busca o suspense. E o suspense incita a ir à frente, na leitura. Pergunte-se a quem é aficionado ao prazer da palavra impressa. E a resposta não será outra.

Hoje já não são poucos os que se contentam em ver o escrito eletrônico, preferindo-o ao impresso, e é outra história, que aqui não se comporta. Pretendo, antes, dizer do que li e entendi sobre este livro. O contista Oswaldo Evandro revela uma maneira especial de deixar com o leitor a oportunidade de ser co-autor de suas cogitações, forma de contar que eu desconhecia. Fecha a estória de uma maneira tão de leve, que nos induz a reler e imaginar, ao cabo escrever sobre seu escrito.

Quer ver se sim ou se não? Vamos ler sentados numa poltrona ao lado da poltrona do autor, os dois primeiros contos - A ÙLTIMA PACA e 0 "TRABALHO".

Abre as duas estórias criando suspense, acordando no leitor o vivo interesse pelo desfecho. E fecha-as simplesmente estimulando-o a idear sobre a sua fabulação, como se dissesse: conte você também o seu caso!

Com efeito. As palavras finais do primeiro conto: - "ela fugiu, mas ferida. Deixou sangue", indicam quase perfeita segurança de que a paca voltará a ser caçada festivamente. De fato. Essa primeira caça foi uma festa. E a seguinte, competirá ao leitor.

De igual modo o segundo conto. O larápio levou uma semana espionando a casa onde pretendia tirar "o seu". Mais quatro dias preparando a entrada. E o leitor ansioso pelo resultado do "trabalho". O camarada cai, sem nunca o imaginar, em uma gaiola. Tire-o desta, agora, quem chegar ao fim da bem imaginada estória.

Vamos para o terceiro conto e encontramos a mesma filosofia de trabalho, o mesmo empenho de envolver o leitor na trama. O personagem pesquisa, pesquisa, trabalha, trabalha, busca informações, chega a uma conclusão e sabe-se que ao falecer deixa um volumoso texto, que não é encontrado. Vá, a partir daí, o leitor embrenhar-se na novela um tanto policial, para saber que fim levou este e, encontrando-o, saber qual o seu conteúdo e a conclusão a que chegara o pesquisador. É tarefa sua, se pretende ser co-autor do mestre na criação e no estímulo à criação de estórias realistas. Falar nisso, sendo formulados nas proximidades do real, isto é, do que pode acontecer deveras, os contos presentes neste livro, bem que trazem, na textura, bons punhados de pura imaginação, de história de fantasia e muito do simbolismo metafórico.

Continua o contista trilhando o mesmo caminho, com algum raro desvio para veredas nas quais passeia pela filosofia e pela ciência, às vezes pelo devaneio. O devaneio é quase inevitável aos escritores de imaginação fértil. Este e até o sonho, como que são intrínsecos ao desenvolvimento da narrativa de ficção e da poesia.

Surpresa é, por exemplo, e ao mesmo tempo mensagem espiritual, a história do homem que não acredita em Deus. "DEUS EXISTE...", o título é seguro, insofismável. Apresenta, apesar disso, um incrédulo. E vai seguindo o caso até que o leitor entenda que se trata de um maluco. Ponto final. Ou não? Ou entenderá que o cara estava bêbado e o observador fazia mau juízo? À cena o leitor.

E "O MORTO E O VIVO"? E as seguintes estórias, bem engendradas e um tanto mentirosas, sendo realistas? Dissecar o que vem em cada uma delas, não. Para não reduzir ou tirar o gosto daquele a quem se destina, como foi comigo, a avaliação do livro e a quem desejo boa e alegre leitura, enquanto parabenizo o autor.

Mas... Mas... Por que não dizer um pouco mais? Por que não encerrar com o coração, essa modesta palavra? FEIRA DE PÁSSAROS, o último conto, apresenta vestida de inocência e simplicidade quase doces, uma abordagem humana. Uma temática tão forte que nos deixa a pensar nas implicações das necessidades do homem e nos problemas do dia-a-dia na vida das pessoas. Um cidadão simples e bom, honesto e sensível, chega a vazar os olhos dos passarinhos a vender na feira, porque descobre que cegos eles cantam melhor, e melhor cantando são mais vendáveis. Carecia do pão para a mesa de seus filhos. Ah, meu caro Oswaldo, só esse conto valeria pelo livro, se todo ele não valesse como esse conto.

Que, impresso, o trabalho chegue ao leitor. De certo este o entenderá como lazer e cultura.

Fonte:
http://www.joaojustiniano.net/files/prosa18.htm

Oswaldo Evandro Carneiro Martins (1922)


Filho de Evandro Borges Martins e Laura Carneiro Martins, nasceu no dia 17 de Agosto de 1922 na cidade de Fortaleza, onde fez os primeiros estudos (Instituto São Luís do Professor Francisco de Menezes Pimentel), o ginasial no Colégio Militar do Ceará.

Em 14 de dezembro de 1945, diplomou-se pela Escola de Agronomia no Ceará. Professor da Universidade de Fortaleza e Titular aposentado pela Universidade Federal do Ceará, também é Bacharel em Direito (1962) e Licenciado em Filosofia (pura) pela Faculdade de Filosofia do Ceará (1966).

Colabora no Boletim da Sociedade Cearense de Agronomia, na Revista dos Municípios do Ceará, revista Razão, jornal O Democrata, O Povo, Revista da Sociedade Cearense de Geografia e História. Publicou: Memória Pró-Escola de Conservação dos Recursos Naturais.

A análise dos seus trabalhos de pesquisas denota o espírito de investigação científica e que evidencia também a visão metodológica de uma interpretação crítica à luz da Ciência. Suas obras retratam mesmo a evolução conhecimento com fundamento não só dentro da Teoria da Ciência do Comportamento, mas também, e notadamente, no campo das Ciências Naturais e especialmente na Ecologia.

Quanto a cultura é uma das inteligências mais lúcidas, com excepcional contribuição ao desenvolvimento da cultura cearense, sobretudo no Ensaio Literário de Sociológico e na pesquisa de conteúdo histórico, sempre a serviço dos altos ideais do espírito e da verdade.

No ano de 1970 foi Administrador da Unidade Avançada José Veríssimo, da Universidade Federal Fluminense, em Óbidos, PA.

É membro da Sociedade Cearense de Geografia e História e do Instituto do Ceará.

Fonte:
http://www.ceara.pro.br/Instituto-site/membros/OswaldoMartins.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.108)


Uma Trova Nacional

No meu baú de lembranças
onde a rotina enterrei,
restaram minhas andanças
e os prantos que derramei...
(REJANE COSTA/CE)

Uma Trova Potiguar

Os quadros que já pintei,
usando a tinta da vida,
foi o modo que encontrei
pra torná-la colorida.
(MARCOS MEDEIROS/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Niterói/RJ
Tema > PALAVRA > Vencedora

Tu chegas de madrugada,
cabisbaixo e sempre mudo...
E o silêncio da chegada,
sem palavras, já diz tudo!
(SELMA PATTI SPINELLI/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE.
E a terra caiu no chão!

GLOSA:
Eu fiz um jardim suspenso
com terra bem adubada,
planta selecionada
e flores de muito incenso,
depois fiquei muito tenso
numa noite de São João,
no céu zoou um Trovão
que o mundo se sacudiu,
meu belo jardim ruiu
e a terra caiu no chão!
(ZÉ DE SOUSA/PB)

Uma Trova de Ademar

A promessa quando é feita
num altar da santa sé,
no céu, só será aceita
se ela for feita com fé!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Gotas de amargas vivências,
ou de alegria incontida,
lágrimas são reticências
no texto frio da vida...
(WALDIR NEVES/RJ)

Estrofe do Dia

Vejam aquele rapaz
sentado naquele banco,
com um traje que já foi branco
mas está sujo demais;
na minha mente ele traz
uma caneta na mão,
e dos olhos desse cristão
vejo descer pingos d’água;
aquilo é alguma mágoa
que ele tem no coração.
(JOSÉ TOMAZ/PB)

Soneto do Dia

– Renato Alves/RJ –
SUSSURROS

Tudo o que é bom na vida é sussurrado
as melhores verdades vêm com calma
penetram devagar em nossa alma
deixando o coração apaixonado.

Sussurra a meiga chuva no telhado
sussurra docemente, ao vento, a palma...
Deus ouve a confissão, o homem acalma,
e, sussurrando, absolve o seu pecado.

Também sussurra o mar em seu marulho
o sol desponta sem fazer barulho,
e, na oração, em tom menor, eu clamo...

Por isso, o que eu queria, em voz pequena
era ouvir tua boca tão serena
bem fundo em meu ouvido a dizer: "Te amo!"

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Cornélio Pires (Livro de Trovas)


A bica do maldizente
Que vive de reprovar;
É igual à boca da noite,
Que ninguém pode fechar.

Afirmação que interessa
Tanto ao fraco quanto ao forte:
Quem açambarca a fortuna,
Desconhece a lei da morte.

Ante a Lei de Causa e Efeito
Que nos libera ou detém,
Há muito bem que faz mal,
Muito mal produz o Bem.

A pessoa ponderada
Aceita o dever, age e pensa;
Não exagera perguntas,
Falar demais é doença.

As minhas trovas de agora;
Não guardam nada de novo,
São pensamentos dos sábios;
Com pensamentos do povo.

Até que haja na Terra
Limpeza de alma segura,
Todos nós carregaremos
Um pouco de loucura.

Computador é progresso,
Facilidade de ação,
Prodígio da inteligência,
Mas precisa direção.

Convidado para a festa
Não se adianta, nem demora,
Nunca surge tarde ou cedo,
Dará presença na hora.

Da multidão dos enfermos
Que sempre busco rever
O doente mais doente
É o que não sabe sofrer.

Diz o mundo que a nobreza
Nasce de berço opulento,
Mas qualquer pessoa é nobre,
Conforme o procedimento.

Em questões de livre-arbítrio,
Discernimento é preciso;
Todos temos liberdade,
O que nos falta é juízo.

Eis uma dupla correta
Que na vida é sempre clara:
O sofrimento nos une,
A opinião nos separa.

Estes versos me nasceram
Na intimidade do peito,
Se alguém lhes der atenção;
Fico grato e satisfeito.

Existem casos ocultos
Nos corações intranqüilos
Que, a benefício dos outros,
Não se deve descobri-los.

Existem homens famosos,
E muitos deles ateus,
Esquecidos de que moram
No grande Mundo de Deus.

Fenômeno admirável
Para os crentes e os ateus;
Notar em cada pessoa
A paciência de Deus.

Não te irrites, nem fraquejes;
Quando mais te desconfortas,
A tua vida é uma casa
Com saída de cem portas.

Não te revoltes se levas
Uma existência sofrida,
A provação, quando chega,
Age em defesa da vida.

No corre-corre dos homens
Há quadros fenomenais.
Anota: Quem sabe menos;
É fala muito mais.

No que fazer e fizeste
Registra em paz o que tens;
Há muitos bens que são males,
Muitos males que são bens

Observando a mim mesmo,
Anoto em linhas gerais;
Os nossos irmãos mais loucos
Estão fora de hospitais.

O orgulho é uma enfermidade
Na pessoa o que se aferra,
Doença que a vida cura
Usando emplastros de terra.

Provérbio antigo que achei,
Entre nobres companheiros:
"O avarento passa fome
Para luxo dos herdeiros ".

Quem quiser auxiliar
De qualquer modo auxilia;
Quem não quer, manda fazer
Ou deixa para outro dia.

Quem quiser saber o início
Das grandes obras do Bem,
Procure ajudar aos outros,
Nem fale mal de ninguém.

Sabedoria só age
No que for justo e preciso;
Mas a Ciência, por vezes,
Age fora do juízo.

Sem sofrimento em nós mesmos,
Não se sabe o que se é,
Não se sabe da ingenuidade
Nem se sabe se tem fé.

Silêncio é um amigo certo,
Guardando virtudes raras,
No entanto, a palavra livre,
Às vezes, tem muitas caras.

Sociedade é um jardim
De expressão risonha e bela;
Entretanto, a convivência
Exige muita cautela.

Vinha do enterro do avô,
Mas jogou na loteria;
Ganhando cem mil reais,
Antônio chorava e ria.

Fonte:
PIRES, Cornélio. "Alma Do Povo" – Médium: Francisco Cândido Xavier, 1995.

Cornélio Pires (1884 – 1958)


Cornélio Pires (Tietê, 13 de julho de 1884 — São Paulo, 17 de fevereiro de 1958) foi um jornalista, escritor, folclorista e espírita brasileiro. Foi um importante etnógrafo da cultura caipira e do dialeto caipira.

Cornélio Pires nasceu na cidade de Tietê, Estado de São Paulo, no dia 13 de julho de 1884, e a sua desencarnação aconteceu na cidade de S. Paulo, no dia 17 de fevereiro de 1958.

Homem de personalidade inconfundível, tornou-se figura popular e de bastante destaque em todo o Brasil, graças ao trabalho, por ele encetado, de viajar pelas cidades do Interior do Estado de S. Paulo e outros Estados, estreando na condição de caipira humorista.

Em 1910, Cornélio Pires, apresentou no Colégio Mackenzie hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros, e duplas de cantadores do interior. O Colégio Mackenzie foi fundado e sempre mantido pela Igreja Presbiteriana, à qual Cornélio Pires pertencia.

Em sua juventude aspirava participar de um concurso de admissão numa Faculdade de Farmácia. Animado desse propósito viajou de Tietê para S. Paulo, a fim de se inscrever como candidato a um desses concursos, porém, apesar do seu desempenho não logrou êxito nesse seu intento.

Ambicionando cursar a Faculdade de Farmácia, deslocou-se de Tietê para a cidade de São Paulo, a fim de prestar concurso de admissão. Não teve sucesso em seu intento.

Tomou então a deliberação de dedicar-se ao jornalismo, passando a trabalhar na redação do jornal O Comércio de São Paulo, em cujo cargo desenvolveu um aprendizado bastante estafante. Posteriormente passou a exercer atividades nos jornais O São Paulo e O Estado de São Paulo, tradicional órgão da imprensa paulista, onde desempenhou a função de revisor e, finalmente, no ano de 1914, passou a dar a sua contribuição ao órgão O Pirralho.

Numerosos escritores teceram comentários sobre a personalidade de Cornélio Pires e, para ilustração, passemos a citar Joffre Martins Veiga, que em seu trabalho A Vida Pitoresca de Cornélio Pires, escreveu " Ninguém amou tanto a sua gente como Cornélio Pires; ninguém se preocupou tanto com seus semelhantes como esse homem, que foi, antes de tudo, um Bom". O famosos poeta Martins Fontes, por sua vez, escrevendo sobre ele, afirmou: "é um bandeirante puro, um artista incansável, enobrecedor da Pátria e enriquecedor da língua".

Admirado também pelo grande jornalista Amadeu Amaral, este deu-lhe a sugestão de tornasse um dos maiores divulgadores do folclore brasileiro.

Pelos idos de 1910, Cornélio Pires lançou o livro Musa Caipira, obra que foi largamente saudada pela crítica, graças ao seu conteúdo tipicamente brasileiro. Sílvio Romero tornou-se um dos seus mais salientes críticos, comentando da seguinte forma o lançamento dessa obra: " Apreciei imensamente o chiste, a cor local, a graça, a espontaneidade de suas produções que, além do seu valor intrínseco, são um ótimo documento para o estudo dos brasileirismos da nossa linguagem".

Foi autor de mais de vinte livros, nos quais procurou registrar o vocabulário, as músicas, os termos e expressões usadas pelos caipiras. No livro "Conversas ao Pé do Fogo", Cornélio Pires faz uma descrição detalhada dos diversos tipos de caipiras e, ainda no mesmo livro, ele publica o seu "Dicionário do Caipira". Na obra "Sambas e Cateretês" recolhe inúmeras letras de composições populares, muitas das quais hoje teriam caído no esquecimento se não tivessem sido registradas nesse livro. A importância de sua pesquisa começa a ser reconhecida nos meios acadêmicos no uso e nas citações que de sua obra faz Antonio Candido, professor na Universidade de São Paulo, o nosso maior estudioso da sociedade e da cultura caipira, especialmente no livro Os Parceiros do Rio Bonito.

Foi o primeiro a conseguir que a indústria fonográfica brasileira lançasse, em 1928, em discos de 78 Rpm, a música caipira. Segundo José de Souza Martins, Cornélio Pires foi o criador da música sertaneja, mediante a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira (dança ritual indígena, durante muito tempo vedada às mulheres, catolicizada no século XVI pelos padres jesuítas), no cururu (dança indígena que os missionários transformaram na dança de Santa Cruz, ainda hoje dançada no terreiro da igreja da Aldeia de Carapicuíba, em São Paulo, por descendentes dos antigos índios aldeados, nos primeiros dias de maio, na Festa da Santa Cruz, a mais caipira das festas rurais de São Paulo).

A criação de Cornélio Pires permitiu à nascente música caipira comercial, que chegou aos discos 78rpm libertar-se da antiga música caipira original, ganhar vida própria e diversificar seu estilo. Atualmente a música caipira é chamada de música raiz para se diferenciar da música sertaneja. A música caipira dos discos 78rpm nasce, no final da década de 1920, como o último episódio de afirmação de uma identidade paulista após a abolição da escravatura, em 1888, que teve seu primeiro grande episódio na pintura, especialmente a do piracicabano Almeida Júnior, expressa em obras como "Caipira picando fumo", "Amolação interrompida", dentre outras. A ironia e a crítica social da música sertaneja originalmente proposta por Cornélio Pires, situa-se na formação do nosso pensamento conservador, que se difundiu como crítica da modernidade urbana. O melhor exemplo disso é a "Moda do bonde camarão", uma das primeiras músicas sertanejas e uma ferina ironia sobre o mundo moderno.

No início do presente século, Cornélio Pires começou a freqüentar a Igreja Presbiteriana, entretanto não conseguiu conciliar os ensinamentos dessa religião com o seu modo de pensar. Ele não admitia a existência das penas eternas e de um Deus que desse preferência aos seguidores de determinadas religiões. O demasiado apego aos formalismos da letra, na interpretação dos textos evangélicos fez com que ele quase descambasse para o materialismo.

Nessa época ele desconhecia o que era Espiritismo, entretanto, durante as suas viagens ao Interior, aconteceram com ele vários fenômenos mediúnicos, inclusive algumas comunicações do Espírito Emilio de Menezes, as quais muito o impressionaram. Como conseqüência ele passou a estudar obras espíritas principalmente as de Allan Kardec, Leon Denis, Albert de Rochas e alguns livros psicografados pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Dali por diante integrou-se decididamente no Espiritismo, interessando-se muito pelos fenômenos de efeitos físicos. Nos anos de 1944 a 1947 ele escreveu os livros Coisas do Outro Mundo e Onde estás, ó morte?, tendo desencarnado quando escrevia Coletânea Espírita.

De sua vasta bibliografia destacamos: Musa Caipira, Versos Velhos, Cenas e Paisagens de minha Terra, Monturo, Quem conta um conto, Conversas ao Pé do Fogo, Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho - O Queima Campo, Tragédia Cabocla, Patacoadas, Seleta Caipira, Almanaque do Saci, Mixórdias, Meu Samburá, Sambas e Cateretês, Tarrafas, Chorando e Rindo, De Roupa Nova, Só Rindo, Ta no Bocó, Quem conta um Conto e outros Contos..., Enciclopédia de anedotas e Curiosidades, além dos dois livros espíritas acima citados.

Num de dos seus escritos sobre o Espiritismo, dizia ele: " O Espiritismo, mais cedo ou mais tarde, fará aos católicos romanos, aos protestantes e aos adeptos de outros credos, a caridade de robustecer-lhes a Fé, com os fatos que provam a imortalidade da Alma, que se transforma em Espírito ao deixar o invólucro material" e mais adiante " O Espiritismo nos proporciona a FÉ RACIOCINADA, nos arrebata ao jugo do dogma e nos ensina a compreender DEUS como Ele é".

Pouco antes de sua morte, Cornélio Pires, demonstrando que havia assimilado o preceito de Jesus Cristo: " Amai ao próximo como a ti mesmo", voltou para a cidade do Tietê e ali comprou uma chácara, onde fundou a " Granja de Jesus", lar destinado a crianças desamparadas. Infelizmente ele não chegou a ver a conclusão da obra.

Cornélio Pires chegou a organizar o " Teatro Ambulante Cornélio Pires" perambulando de cidade em cidade, sendo aplaudido por toda a população brasileira por onde passava. Esse intento foi concretizado após ter abandonado a carreira jornalística.

Causos sobre Cornélio

Cornélio foi descendente de Bandeirantes, era filho de Raimundo Pires de Campos e de Ana Joaquina de Campos Pinto, (D. Nicota), nasceu antes do tempo, pois Tia Nicota, grávida de Cornélio, escorregou em uma casca de laranja, caiu sentada e passou a sentir fortes dores, acabou indo para a cama por volta das 11 horas. Quando Tio Raimundo chegou da roça, teve que cortar o cordão umbilical do recém nascido.

Como vê, nascido antes do tempo e ainda com o nome trocado. E o próprio escritor diz: "Meu nome tem a sua historia". Uma de minhas tias maternas andava de namoro com um parente chamado Rogério Daunt, e foi ela que me levou a Pia Batismal. Ao me batizar, Padre Gaudêncio de Campos, que era nosso parente, e nesta época já bem velho e muito surdo, pergunta: "Como se chama o inocente?". Ao que responde sua Tia, "Rogério". E o Padre – "Eu te batizo, Cornélio...".

E Cornélio crescia, porém desde cedo revelou-se um chorão de primeira, por qualquer motivo soltava as lágrimas. Certa feita, sua mãe o levou para visitar alguns parentes, e em meio a conversa com os adultos, ele começou a chorar sem nenhuma razão. A dona da casa, muito preocupada, desdobrou-se para acalmá-lo dizendo: -Que é isso Cornélio..., o que você tem? – Perguntou ela com ternura, alisou-lhe os cabelos loiros e deu-lhe uma moeda de alguns reis. – Tá, tome este presentinho pra calar o bico. Coitadinho! O menino parou de chorar, limpou as lágrimas com as costas das mãos e exclamou. – Ah! A senhora pensa que eu choro por dinheiro? E bem rápido, agarrou o níquel, enfiou no bolso da calça de brim e iniciou outra choradeira.

De outra feita, um outro tio, muito zombeteiro, sempre que o encontrava, dava-lhe amáveis e doidos piparotes na cabeça. A brincadeira tornou-se monótona pela repetição. O menino não gostava dos gracejos, porém, nunca se queixou aos pais. D. Nicota, contudo, soube dos que se passava e recomendou ao filho, entre divertida e indignada. – Quando ele bater outra vez, você responda que não foi batizado por Cabeçudo. Certo domingo, o garoto se dirigia ao jardim, quando se encontrou com o parente e este repetiu o gesto e usou da mesma expressão. Cornélio, pensando no que sua mãe lhe disse, foi logo dizendo todo atrapalhado. – "Não fui BATIZUDO por CABECADO! E saiu de cara amarrada entre risos dos presentes.

Outra passagem, ocorreu em uma das tentativas de alfabetização de Cornélio. Seus pais já cansados em tentativas frustradas, conheceram um grande sábio dinamarquês, Alexandre Hummel, um professor ideal para o filho, pensavam os pais. Hummel era pobre, solteiro, sóbrio, vivia em hotéis quando podia, altivo de caráter. Vivia baixando em fazendas, lecionando quase que só a troca de cama e mesa. Ensinava tudo o que lhe pediam e dominava muito bem o português. Com a morte de Ruy Barbosa, o jornal "O Tietê" encomendou-lhe uma reportagem. O sábio Dinamarquês, sentou-se a mesa da redação e redigiu um bonito artigo sobre Ruy Barbosa, sem consultar livros ou biografias. Hummel era dono de uma memória prodigiosa, dominador de vários idiomas, tinha um bom senso de humor, porém não era humorista, no sentido popular. Isto não lhe deixava entender ou tolerar um menino gordo, muito feio, cheio de vontades. Talvez no seu íntimo, vendo a desatenção do caipirinha, às vezes o tachasse de burro. Mas não foi o que disse um dia irritado. – "CORRRNELIO PIRRES", você e muito "INTELICHENTE, mas e muito "IGNORRANTE"!.

Já crescido, por volta de 1907, conhecido como Tibúrcio, este apelido, ele ganhou na passagem de um circo pela cidade, que possuía um orangotango chamado de Tibúrcio, seus amigos achando alguma semelhança, passaram então a chamá-lo de Tibúrcio. Cornélio foi trabalhar, a convite de um tal Dr.Vieira, na redação do jornal "O Movimento", semanário político que circulava na cidade de São Manoel, em S.P. Certa noite, alguém lançou um concurso de feiúra e divulgou pela cidade. Poucas semanas depois, o redator do jornal de Dr. Vieira, anunciou que, Cornélio Pires, ele mesmo, ganhara o concurso – por unanimidade! - O tieteense sempre brincalhão, achou graça e cooperou no certame para sua melhor performance. No dia da entrega do premio, lá estava o vencedor pronto para receber seu premio: "Uma corda para se enforcar"!

Esta outra ocorreu pelo ano de 1933, já beirando os 49 anos, com a afamada superstição do numero 13. Um grande amigo das noitadas de Cornélio o encontrou sentado em um banco na Praça do Patriarca muito pensativo. Começaram a conversar e em pouco tempo estava formada a tradicional roda em volta dos dois. Alguém fez referências ao acaso de certas pessoas serem perseguidas pelo numero 13. Cornélio com aquele jeitão, achando sempre um "a propósito" para todos os casos, chamou a atenção da roda. – Pois saibam vocês que tenho grande predileção pelo número 13, e sou por ele fartamente retribuído. E Cornélio começou sua descritiva:

Cornélio Pires – 13 letras. Vi a luz em Julho – 13 letras. Nasci no dia treze – 13 letras. Século passado – 13 letras. Eu sou paulista – 13 letras. Sou brasileiro – 13 letras. Nasci no Brasil – 13 letras. Sul de São Paulo – 13 letras. Cidade de Tietê – 13 letras. D.Anna Joaquina (minha mãe) – 13 letras. Raimundo Pires (meu pai) – 13 letras. Poeta e caipira – 13 letras. Poeta e "conteur" 13 letras. Conferencista – 13 letras. Escrevo livros – 13 letras. Sou muito pobre – 13 letras. Sou muito feliz – 13 letras. Eu sou solteiro – 13 letras. Amei treze "emes" (o M e a 13 letra do alfabeto) – 13 letras. E o escritor regionalista concluiu: Não cito os nomes das minhas 13 namoradas, porque, vocês compreendem... E com esta, até logo. – Para aonde vais? - Vou tomar Bonde! – E note uma coisa, que sua pergunta e minha resposta, ambas tem 13 letras!

Até doente Cornélio ainda mostrava sua veia de humorista. Esta aconteceu no hospital que Cornélio estava internado, em São Paulo. Ele recebia visitas de parentes, em seu quarto, quando entrou uma enfermeira com sua medicação diária. Era composta de comprimidos e de uma injeção. Tomou os comprimidos enquanto a enfermeira preparava a seringa. Virou-se ela e perguntou. – Sr. Cornélio, aonde quer que aplique esta injeção? Cornélio olhou para os braços já todos picados, olhou para cima, para os lados e sem cerimônia disse: - Pode aplicar ali na parede mesmo!

Algum tempo depois, em 17 de Fevereiro de 1958, as 2:30 h , falecia Cornélio Pires no Hospital das Clínicas de São Paulo, vítima de câncer na laringe. Seus restos mortais foram trasladados no mesmo dia para sua cidade natal e sepultados no cemitério local. Faleceu solteiro convicto e em plena lucidez, tinha 74 anos incompletos. Foi enterrado de pijamas e descalço, conforme sua vontade.

Fontes:
http://www.widesoft.com.br/users/pcastro4/biogrcp.htm
http://www.espiritismogi.com.br/biografias/cornelio.htm
http://pt.wikipedia.org/