segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.84)


Trova do Dia

O grande tenor se cala
ante o pássaro silvestre.
– É o discípulo de gala
querendo escutar o mestre!
A. A. DE ASSIS/PR

Trova Potiguar

A bondade não tem dono,
nem mesmo pátria ela tem,
mas, sem cansaço e sem sono,
aonde vai leva o bem.
ASCENDINO DE ALMEIDA/RN

Uma Trova Premiada

2003 > Niterói/RJ
Tema > RAZÃO > Vencedores

A razão perde o juízo,
ganha um ar de pequenez,
quando troca o NÃO preciso
pelas sombras do TALVEZ!!!
Eduardo A. O. Toledo/MG

U m a P o e s i a

– Antonio Roberto Fernandes/RJ –
SAUDADE...

...Quem diz que a saudade é roxa,
quem diz que a saudade é triste
e quem diz que não existe
quem a possa definir,
não sabe o que é saudade.
Saudade é mais do que isso.
Saudade é como um feitiço,
Saudade é falta de ti...

Uma Trova de Ademar

Quer saber por onde anda
a saudade adormecida?
Procure em sua varanda,
naquela rede estendida...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Na minha infância passada,
já distante, ainda se vê,
um circo... e na arquibancada,
eu... a saudade... e você...
ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE

Estrofe do Dia

É preciso acreditar
nunca, jamais desistir...
Percorrer longos caminhos
vivenciar, resistir...
Seguir sempre a boa luz,
quem acredita em Jesus
ganha força para agir!
DJALMA MOTA/RN

Soneto do Dia

– Amilton Maciel Monteiro/SP –
MISTÉRIO

A nossa vida em si já é um bom mistério...
Mas até onde meu juízo alcança,
Eu vejo que o sofrer, se é muito sério,
Aumenta sempre em nós a esperança!

Foi Deus que quis assim; não sem critério,
Mas só visando a nossa segurança...
Porque o Criador, mais que cautério,
Aspira a nossa bem-aventurança!

A dor tem sempre a sua utilidade,
Quer para alertar de um mal maior,
Ou tendo em vista a nossa santidade.

Por certo o sofrimento foi criado
Só pra que a gente possa ser melhor
E chegue, assim, ao céu, tão almejado!

Fonte:
Ademar Macedo

Pedro Ornellas (Escolha dos Semifinalistas das Melhores Trovas)


Na reta final, fizemos um preâmbulo, convidando os trovadores a sugerir trovas de autoria própria que julgassem merecedoras de entrar para a lista das semifinalistas.

Seguem as trovas sugeridas.

Pedimos que avalie com cuidado e indique se e quais devem entrar na lista.

Observações:
- Lembre-se de que não estamos escolhendo as melhores do conjunto e sim as melhores trovas de todos os tempos.

- Você pode apontar mais de uma, ou nenhuma, ao seu critério. Basta mencionar o(s) número(s).

- Nesta etapa, não vale votar na(s) sua(s) própria(s) trova(s). Caso alguém faça isso não será considerado.

- Entrará na lista a(s) trova(s) que obtiver(em) duas ou mais indicações por trovadores diferentes.

- Serão válidas as indicações que chegarem até a próxima quarta-feira, dia 5 de janeiro, no e-mail pedroornellas@uol.com.br.

A todos os que sugeriram trovas: continuem com esse bom espírito que têm manifestado, entendendo que se sua trova não entrar na lista, não significa que não tem qualidade. Todas as sugeridas são muito boas, mas o número de semifinalistas é limitado.

Agradecemos sua preciosa participação na escolha das trovas!
-

1
Estamos juntos, mas sós,
nossa solidão somada,
fez de ti, de mim, de nós,
a soma triste do nada!
2
Sozinhas nas madrugadas,
donas do mundo e da lua,
nossas mãos entrelaçadas
seguem juntas pela rua!
3
Quando o mar beijar teus pés,
fita o céu por um segundo,
assim saberás quem és:
um grão de areia no mundo!!!
4
Que pena: o sol, – ato falho –
ao lhe ofertar seu calor,
matou a gota de orvalho
que brincava sobre a flor!...

5
Esbanja carisma a lua,
que, alheia a qualquer conflito,
consegue, pálida e nua,
vestir de charme o Infinito!

6
Ante um grito, não se abata
por não ter respostas prontas,
que o silêncio é a mais sensata
e a mais nobre das afrontas!
7
Meu perdão foi em tributo
a uma lágrima suspensa,
um detalhe diminuto,
mas, que fez a diferença...
8
“Esquece!”, a razão exclama,
quando a saudade decide
acarinhar o pijama
que esqueceste no cabide...
9
Do cais, aceno ao vazio,
enquanto o remorso chora...
Castigo, é alguém no navio,
levando o perdão embora...
10
Quem tem sonhos hoje em dia,
não perca nunca a esperança.
Diz velha sabedoria:
“Quem espera sempre alcança!”
11
Nas noites de dissabor,
quando a saudade é cruel,
o poeta imprime a dor
num pedaço de papel !
12
Eu me lembro, com saudade,
da madrugada de outrora,
mamãe, na extrema bondade:
“Filha acorda, está na hora.”
13
Com pincel remanescente
que a saudade me legou,
pinto a vida sem presente
que o passado me roubou.
14
Da minha terra encantada
eu guardo a estação mais bela,
o canto da passarada
e os meus sonhos de janela!
15
O Deus que fez lago e monte,
que fez céu, mar, noite e dia,
fez do poeta uma fonte
por onde jorra poesia...
16
A mais triste Solidão
que os seres humanos têm
é abrir o seu coração,
olhar... e não ver ninguém!
17
Ao ver, de uma árvore, o corte,
minha angústia é paralela...
Eu sinto as dores da morte,
na dor dos “gemidos” dela!
18
Anote e depois confira,
visando o seu próprio bem:
meia verdade é mentira;
verdade e meia, também!

19
A noite, que nunca passa,
deu à insônia mais destaque
e um relógio, por desgraça,
ri de mim, no tique-taque!
20
De estrelas toda bordada,
porta aberta para a rua,
a tapera abandonada
abriga os raios da lua.
21
Eu faço das fronhas lenços,
nas longas noites sem sono
e os lençóis, braços imensos,
abraçam meu abandono…
22
Vê como a sorte judia
do nosso amor (coitadinho!):
tua cama tão vazia,
e eu na minha, tão sozinho!
23
Sofre o revés mais que justo
quem da ambição não se esquece
ao tentar a todo custo
conquistas que não merece!
24
Venceste alguém... e sorris
numa explosão de prazeres...
Serás, porém, mais feliz
quando a ti mesmo venceres!

25
"Eu volto!" - Falsa promessa
que ela ainda crê verdadeira,
pois, da varanda, não cessa
de contemplar a porteira...
26
Não desgastes, noutros leitos,
o ardor dos abraços teus,
pois teus braços foram feitos
para refúgio dos meus!
27
Navego em noite estrelada,
sulcando as ondas, sem vê-las:
meu corpo está na jangada,
minha alma está nas estrelas!
28
Meu coração foi bagual
redomão e escarceador.
Hoje, manso, lambe o sal
da saudade de um amor.
29
Quando, aninhado em teu peito,
fito teus olhos serenos,
sinceramente suspeito
que no céu há um anjo a menos.
30
Que bom, chegando aos sessenta,
saber, revendo os meus passos,
que é o bom DEUS que me sustenta,
e me carrega em SEUS braços ...
31
Não culpes os infelizes
com rudeza fria e crua,
a culpa dos seus deslizes
pode ser menor que a tua!...
32
Guarda sempre esta mensagem
da própria vida que diz:
É feliz quem tem coragem
de acreditar que é feliz!
33
Percebo, com desconforto,
que ainda sou teu vassalo:
nosso passado está morto,
mas não consigo enterrá-lo!
34
Tanto amor e afinidade
entre nós dois, já se vê,
que perdi a identidade:
eu sou eu... ou sou você?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Trova 187 - José Guilherme de Araújo Jorge (AC/RJ)

Ademar Macedo (RN) lança O Trovadoresco n. 67, de janeiro de 2011



Ademar Macedo (RN) lança agora em janeiro do novo ano, “O Trovadoresco” numero 67.
Trovas e poesias. Faça o download clicando na figura ao lado.
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Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você.
(Aparício Fernandes/RN)

Sou tal qual ave ferida
que as suas asas quebrou
e Deus, para dar-lhe vida,
os seus pedaços juntou.
(Diva da Costa Lemos/RS)

A ressaca da bebida
é pra ninguém esquecer.
Por isso a melhor pedida
é não parar de beber.
(Heliodoro Morais/RN)

O vazio dos teus braços,
depois de tristonho adeus,
fez a dor rondar meus passos,
na busca inútil dos teus...
(Júlia Leal Miranda/RJ)

Disse o carteiro, confuso:
- mora aqui o “seu” Leitão?
- Não mais, respondeu o luso:
virou torresmo e sabão.
(Relva de Egypto Rezende/MG)

Os dois velhinhos dançavam,
mostrando desenvoltura;
mas sempre que tropeçavam,
trocava de dentadura!
(Ronaldo Afonso Júnior/MG)

E muito mais ...

Francisco José Pereira (A Velha Senhora e seus Cachorros)



A velha senhora vivia só, preferira assim.

Quando ficou viúva, suas duas filhas propuseram levá-la. Ela não quis. - Assim sozinha e tão longe, mamãe - ponderaram, inutilmente.

Embora não fosse necessário, e tampouco elas houvesses pedido, a velha senhora justificou-se. Alegou razões conhecidas, atribuindo-lhes caráter de irreversibilidade. Assim, as filhas poderiam sentir-se consoladas ou redimidas. Disse-lhes:

- Casei aqui, nesta casa que ele mesmo construiu. Vocês nasceram aqui, viveram aqui e também casaram aqui. Ele morreu aqui. E eu vou morrer aqui.
- Ô mãe, que bobagem, - em uníssono. Sem que pudessem dissimular um certo tom de conforto.

Uma eternidade parecia separá-la das meiguices de suas meninas. Elas cresceram e foram perdendo aquela ternura. Ele acompanhara esse lento e natural distanciamento delas, e lamentava. Ela também acompanhara, mas sem lamentar. Afinal a vida é mesmo assim, fora assim também com ela, bifurcando-se igualmente lenta e definitiva. Elas casaram e procriaram com genros chatos. Ele os estima, ela não - e com razão. Por onde, afinal, andavam durante o calvário da penosa enfermidade que terminou por matá-lo? Só ela, solitária, estivera ali, na hora de fechar-lhe os olhos. Depois vestiram lutos, todos. Os netinhos inclusive, com tarjeta preta na manga da camisa curta. Coitados, três pequenos idiotas.

As filhas a visitavam com alguma frequência e traziam os netos que cresciam sem que ela se desse conta. E tampouco se deu conta de como as visitas das filhas, com o tempo, se tornaram cada vez menos frequentes e, agora, já muito raras. Raras mesmo.

Mas havia seus cachorros.

Ela sempre os tivera, dividindo com ele um igual carinho pelos bichos. Foram vários. Agora restavam apenas esses dois, que haviam chorado com ela a morte dele: o mais velho, Zimbo, tão velho quanto ela - exagerava, obviamente- e o Xapado, que chegou bem depois, à época em que surgira a enfermidade dele, e fora ele quem o trouxera e lhe dera o nome.

A velha senhora passava parte dos dias falando com seus cachorros. Não só porque carecesse de gente com quem falar - o que era um fato - mas porque eles a entendiam e compartilhavam seus pesares e sua solidão.

Há muitos séculos, aliás, que humanos e cães partilham seus alimentos, suas moradais e suas vidas. Neste planeta fortuito,entre outras formas de vida que nos circundam,nenhuma - exceto o cão - tem feito aliança conosco.

Após o café matinal, a velha senhora seguia sua antiga rotina de afazeres domésticos que, há muito sozinha, já se reduzido a quase nada. Ocupava-se também de pequena horta, com o mesmo desvelo dele, e preparava sem prazer o parco almoço.

Nas tardes longas e ociosas, senta-se no degrau mais alto da escada lateral, que dá acesso à sala, toma Zimbo no colo, com o Xapado sentado no degrau abaixo, e os faz confidentes de infindáveis revelações de seu tempo de menina, de sua adolescência, e sobretudo de sua vida feliz junto a ele.

Nessas ocasiões, como acontece também com a gente, Zimbo se deixa envolver pelo hipnótico som da velha senhora, cochila e dorme. Desperta minutos depois, apruma-se com olhos de espanto, sacode repentinamente a cabeça num eficaz esforço para afastar o sono, e não cochila mais. Xapado, este sempre desligado, logo estendia suas pernas traseiras e dormia a sono solto.

Vencidas as longas tardes, segue-se repetitivo ritual. A velha senhora se levanta, beija Zimbo, acaricia Xapado e os afugenta com delicadeza para os fundos do quintal. Ambos obedecem, caminhando a passos lentos e em silêncio, com as compridas e úmidas línguas lambendo seus gelados focinhos - um antigo e atávico cacoete.

Há dias em que Zimbo sente vontade de alertar Xapado para a recente tristeza da velha senhora. Esta tristeza, preocupava Zimbo, não era como as outras tristezas, tão antigas e conhecidas desde a morte dele. Essa nova tristeza era uma tristeza que lhe reduzia o cheiro. E isso, Zimbo sabia, não era boa coisa. Mas não dissera nada ao Xapado, porque este - desde pequeno - se revelara um cachorro retardado ou de poucos ouvidos.

Em verdade, essa tristeza que preocupava Zimbo tomara forma quando a velha senhora, há algum tempo já, percebera, acabrunhada, uma insuportável fadiga que - ela se convencera - iria prostrá-la definitivamente. E, desde então, um sentimento de que sua vida se tornara inútil instalara-se dolorosamente em seu coração. Após anos de tantas ausências a velha senhora finalmente sucumbia à sua imensa solidão.

Suas pernas já nem sempre lhe obedeciam, seguindo, cansadas, direção que ela não pretendia. Os pulmões respirando menos ajudavam menos, quando as pernas cansavam. A cabeça insistia em se esquecer, só tendo lembranças muito antigas. Espantou-se, por fim, quando a cabeça embaralhou dia e mês da morte dele. E, então, se horrorizou no limite do desespero, temendo que viesse a esquecer-se de si mesma. Foi quando decidiu não esperar mais pela morte que se tardava tanto, e começou a organizar sua morte com pungentes cuidados.

Utilizaria o veneno que ele trouxera para ser usado quando o suplício da dor lhe fosse insuportável. Tinha efeitos semelhantes ao arsênico, dissera, e a ensinou como preparar a dose que ela deveria servir a ele. O suplício dele se estendeu e a dor o matava lentamente, mas ela não teve coragem. Ele morreu, já sem dor, agradecendo o gesto dela.

Pensou, sem mágoas, em suas filhas que não apareciam. E resolveu, aflita, não abandonar os cachorros, temendo que eles fossem recolhidos por mãos malvadas. Havia suficiente veneno para os três.

Na véspera, à noite, ela preparou meticulosamente e com estranha frieza - da qual, aliás, já não tinha consciência - doses adequadas de veneno. Não havia nela qualquer outra emoção, senão a de concluir, com isenção, esses ritos finais.

Desde o quintal, chegavam uivos que - também à véspera - haviam anunciado a morte dele. Como soubera Zimbo? E como soube agora, se ela apenas pensara sozinha? E tem gente que não crê na percepção sensorial dos cachorros! - exclamou baixinho. Ou, quem sabe, é a morte que lhes avisa? - indagou-se ainda, já muito abalada. E dormiu tarde.

Despertou cedo. Com o café, comeu mais torradas do que normalmente comia, pois com o estômago vazio - acreditava assim - a dor do veneno seria maior. Tomaria cuidados iguais com os cachorros.

No quintal, Zimbo se movia em pequenos círculos sem parar, num verdadeiro desassossego. Xapado, distante dele, arrastava as patas na vegetação rala, buscando, paciente, algo que só ele aparentemente sabia.

Serviu-lhes a ração, como fazia a cada manhã; desta vez, porém, em quantidade excessiva. Zimbo comeu lenta e passivamente, como se já houvesse esquecido seus premonitórios uivos. Xapado, como sempre, digeriu vorazmente sua ração.

Após, como também era costume, estendeu-lhes as pequenas tinas com água - agora com o veneno dissolvido em ambas. Zimbo fixou seus olhos remelentos nos olhos exauridos da velha senhra, lambeu-lhe os pés, que já haviam perdido o antigo cheiro, bebeu a água envenenada de sua tina, e toda a água da tina do Xapado - antes que este a bebesse.

A velha senhora perturbou-se e, sem ânimo para entender o incidente, voltou à cozinha, encheu a tina de água com nova dose de veneno e depositou-a na frente de Xapado, que se deteve confuso. Zimbo, com seus movimentos já muito afetados pela ação do veneno que agia rápido, ainda teve forças para impulsionar as patas dianteiras e derramar, novamente, a água da tina do Xapado.

Só então a velha senhroa percebeu nos olhos moribundos de Zimbo sua derradeira súplica pela vida de Xapado. Não teve tempo sequer de afagá-lo, Zimbo não se movia mais.

Com a alma esvaindo-se, a velha senhora retornou a casa. Esqueceu-se de fechar a porta e de se banhar, como pretendera. Sentiu-se aliviada, enquanto sorvia o veneno no copo, escutando, lá fora, latidos alegres do Xapado provocados pelo prazer da barriga cheia.

Fonte:
PEREIRA, Francisco José. Contos Completos. Florianópolis: Garapuvu, 2006. Disponível em http://grandesautorescatarinas.blogspot.com/

Pedro Du Bois (Poemas Inéditos)


FINAL

No final do dia
aproximado ao cansaço
trazido dos ofícios
não estou
presente. Ausentado ao tempo
não traduzido, esmaecido
nos alvoreceres da noite

amanhecido em finais
de tardes recompostas

minha ausência despercebida
em minúcias: a estrada
bloqueando a entrada.

TRANSFORMAR

Sobre o despovoado: tapera

(rancho espalhado
ao mar, barco
encalhado em areias
límpidas, peixe
saciado em vontades)

sobre a beleza
paira: Itapema

(rancho desconsiderado
em altos prédios, carro
congestionando ruas,
peixe desesperado
em águas impuras).

ESTAR

Não estamos, minha senhora,
à espera do despropositado;
as vírgulas assinalam distanciamento;
estamos, minha senhora, a praticar atos
necessários no encaminhamento
da história aos primórdios: cada fato
se reporta em cadeia
ao fato inicial; minha senhora,
o esforço finda o caminhar
e do início sentimos
o ordenar das coisas;
ao primeiro soprar da vela
em chama, minha senhora,
o despertar do monstro
se apresenta: assim a espera
e a entrega.

CONSTRUIR

O telhado impede
a natureza

o piso
concede aos pés
a maciez

as portas, bifurcações
do acaso: entrar
sair
ficar na soleira
voltado ao tempo
original da hora

janelas permitem observar
a rua pelo lado de fora.

REINSTALAR

Reinstalo a vida
e a remeto ao final:
o mágico e o profeta
duelam crenças

a carta marcada
indica a morte
reinventada: vida
na sucessão
da hora
induzida
ao desconhecimento

a vida se distancia
no espaço em acreditar
e descobrir do truque
a artimanha: desvanecer
em barulhos diários de antigas
reconstruções.

ESQUECER

Inolvidável: a lembrança se aventura
em paralisações faciais

o medo
transparece
o suor
do corpo

sou o mesmo
em cabelos ralos
em cabelos brancos
em olhos ansiosos

com que procuro
na memória o inolvidável
fazer de conta.

Fonte:
O Autor

Afrânio Peixoto (Barro Branco)


Os dias passavam no Barro Branco numa sucessão rápida e descuidada, ao passo que se operava a conformação necessária do tempo e que as distrações incessantes do campo tomavam a atenção de Paulo. E percebendo que lhe voltava a serenidade e a paz, mais se absorvia nas diversões simples da vida da roça, que o tinham valido. Ele, que sempre fora um desatento à natureza, nessa inconsciência espantada das crianças inteligentes que vêem e ouvem, mas sentem apenas exteriormente a representação da própria curiosidade e imaginação, era agora quase um epicurista sutil, a retirar de cada aspecto da natureza - pedra, águas, árvore, ninhos, casa rústica, ou paisagem - uma multidão de observações felizes, logo da primeira impressão transformadas em imagens tumultuosas... Constante nesse vezo irreprimível de trocar a percepção das coisas sentidas em representação adequada ou fantasiosa, comparava-se, e aos artistas, a moedeiros obcecados que onde encontrem uma cintilação de ouro, no minério, na escória, na pepita, são levados a cunhar a medalha nítida e perfeita que lhe dará o circular e viver para o gozo humano. Muitas vezes, saindo para o campo, armado de espingarda e de petrechos de caça, e volvendo sem ter dado um tiro, nem se lembrando, mesmo ao acaso, de acordar um eco na floresta, ele se dizia pago dessas horas de excursão, enlameado embora, ou arranhado de espinhos, pois caçara imagens, vendo, contemplando, divagando...

Nesses meses procurara reviver todas as alegrias e tristezas da vida do campo; recapitulara numa inteligência afetiva e numa compassividade tranqüila todos os mistérios que encantaram ou assustaram seu coração de menino. Em volta da fazenda não ficaram córregos e valados, cachoeiras ou boqueirões, rechãs ou espigões de serra, sem a sua visita amável e melancólica, agora que, se não tinha mais o espanto dos olhos da infância, sentia a saudade das emoções que outrora lhe causaram. Em casa não perdera nenhuma dessa visões singelas e quase rituais da vida sertaneja. A diligência afanada das manhãs, pelas vacas e cabras a ordenhar, o banho frio nos riachos de vale embrumado, o café ou primeiro almoço farto de guloseimas da roça, a partida para a lavoura, a malhada, a caça, ou a feira, as sestas lânguidas e bocejantes dos meios-dias encalmados, a volta fatigada e contente nas tardes suaves e tristes, a ouvir a melancolia do aboio e acompanhar o esmorecimento lento do crepúsculo: tudo ele soubera reviver com volúpia demorada de lembrança e um gozo constante na presença.

Depois da dispersão curiosa e ativa em busca da natureza, a concentração íntima no convívio dos homens. Coisas e gentes do sertão, como lhe aparecíeis, na mesma simplicidade forte, na mesma ingênua poesia! A noite era sempre docemente ocupada no Barro Branco. Lia na varanda para o Ângelo, o Sérgio e algum adventício, a história de Carlos Magno e dos Doze Pares de França, comovendo-se com eles por bravuras e façanhas, desacreditadas hoje, mas eternamente interessantes, enquanto os homens forem rústicos e simples ou se lembrarem que a humanidade teve uma infância e eles foram meninos. Em torno da mesa familiar e à luz de uma lâmpada de petróleo, enquanto os homens fumavam e Luisinha cosia, repetira longos romances de Dumas pai, com as suas peripécias, façanhas, ardis, sacrifícios, desprendimentos, sempre animado e feliz, porque ter curiosidade e satisfazê-la foi sempre desejo e contento humano.

Outras vezes, ficava a ouvir as proezas de caça e de vaquejadas, transes arriscados e artimanhas sutis contra feras e bois bravos, misturados por caçadores e vaqueiros aos entretenimentos práticos da vida, quando a chama da fogueira os reunia no prazer de uma fumaça e no maior de despertar a curiosidade, e dar um interesse. Já lhes aprendera a gíria difícil e expressiva e não encontrava mistério quando ouvia ao Sérgio contar que dera na malhada grande com uma novilha bargada, ponta baixa, com uma estrela na testa, bico de renda e buraco de bala na orelha direita, forquilha e entalhada por cima na outra orelha... ou riscar com a ponta de um garrancho, no chão frouxo, o ferro da pá esquerda, uma flor com um monograma incluso: era a marca do Zé Lopes, do Encravado. E as histórias de Trancoso, façanhas, guerrilhas, tretas, esconjuros, assombramentos, notícias de casos rústicos e comuns pareciam-lhe mais divertidos e sadios que as literaturas perversas, indecorosas, as vaidades imbecis e os jornais interesseiros, que alimentam a curiosidade intelectual dos civilizados...

Protegido pela sombra na janela aberta, enquanto o luar escorria sobre a parede do oitão como uma gaze doirada que lhe velasse poeticamente a construção grosseira, passara serões ouvindo a velha ti’Ana contar histórias aos meninos... histórias que ele aprendera com terror ou curiosidade, que o fizeram rir e às vezes chorar, e muitas vezes recolher-se no sono para sonhar e sofrer com elas, nas indiscrições dos que não se contêm, mesmo dormindo. Eram fadas amáveis, príncipes perfeitos, animais falantes. Nossa Senhora disfarçada, mendigos que eram Nosso Senhor, pequenos heróis humildes, donzelas desvalidas e de destino magnífico, maldades castigadas, prêmio de esforço e da sagacidade... todas começadas pelo constante Era uma vez ou Foi um dia... e terminadas sempre por um vasto bródio ou grande comezaina, onde houvera doces e guloseimas, a que assistira sempre a contadora do caso e de que trouxera uma amostra, mas que no caminho se desviara e perdera ou fora comida por Sancho ou Martinho, que por isso ficaram barrigudos ou calvos... A pequenada ria do cômico dessa malvadez, quando a última frase aparecia: entrou por uma porta, saiu por outra, rei meu senhor que me conte outra... As vozes débeis e a curiosidade incansada queriam mais, e pediam... Conte outra... aquela do gato do botas... Não, a da moura torta...

E assistia de novo, ou os evocava a todos os brincos infantis, as piculas, as bocas de forno, a senhora Dona Sancha, o esquenta-sol, a cabra-cega, o anel-anda-na-roda... e cânticos... e descantes de cantadores... e sambas... e batizados e casamentos rústicos... e até os seus primeiros enleios de primavera... o seu violão... a sombra confidente da velha cajazeira... seu sacrifício e sua renúncia... meninice encantada que passara e que revivia na contemplação de outras felizes e que iam passar também, mas cuja saudade doce e carinhosa lhe espraiava uma umidade quente nos olhos e lhe descompassava um apressado bater de coração...

Esquecera o Amparo e o Rio... finalmente. Os jornais que Pedro lhe enviava ficavam atados aos maços, até que Luísa os consumia para moldes de vestidos ou para aproveitar o folhetim... No Rio talvez o esquecessem ou não queriam lembrar-se dele. Teve, pois, uma surpresa, entre mágoa e contentamento, no dia em que recebeu, tanto tempo depois, uma carta sumária do velho Lisboa, pedindo-lhe notícias. Quando voltaria aos seus trabalhos? Estava o Prometeu à espera da liberdade, que lhe cumpria dar. Fosse pensando em volver. E terminava com uma palavra afetuosa de saudade...

A princípio pensou com tristeza e quase protesto: ir-se já, tão cedo? Mas, desde esse dia, sem o querer, começou a cuidar em tornar ao Rio... Era tempo de recomeçar e de refazer a sua vida... Trepar pela montanha abrupta da existência, aprumado, tenaz e vitorioso, como as árvores das vertentes montanhosas... Fazer a sua sorte como o Zé Lopes... E uma grande esperança, toda de desejos novos, entrou a viver nele...

Um dia, calculada a época dos vapores do Amparo, avisou em casa que partiria. Foi uma grande pena silenciosa em sua família rústica... Olhavam-no com tristeza, sem ânimo de se opor, mesmo num pedido, mas numa quase exprobração de os deixar assim, tão cedo, depois que lhes comunicara o gosto de o amarem na sua simplicidade afetuosa e na sua bondade deligente... Várias vezes pegara Luisinha olhando-o de longe, com olhos compridos, cheios dele e de tristeza. Ela os desviava, quando apanhada, afastando-se e encobrindo o seu enleio num sorriso descorado. Ele mesmo andava tristonho e fechado, depois de tomada sua resolução; custava-lhe despegar-se das coisas e dos lugares, das gentes e das lembranças que tanto lhe valeram em sua aflição... possuído de um grande reconhecimento por essa bondade simples, por essa ternura esparsa em que sarara os males passados e cobrara energias sãs para tornar a viver.

Fonte:
PEIXOTO, Afrânio. A esfinge, 3a parte, capítulo VIII. Clube do Livro.

Afrânio Peixoto (1876 – 1947)




Júlio Afrânio Peixoto, médico legista, político, professor, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário, nasceu em Lençóis, nas Lavras Diamantinas, BA, em 17 de dezembro de 1876, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de janeiro de 1947.

Foram seus pais o capitão Francisco Afrânio Peixoto e Virgínia de Morais Peixoto. O pai, comerciante e homem de boa cultura, transmitiu ao filho os conhecimentos que auferiu ao longo de sua vida de autodidata.

Criado no interior da Bahia, cujos cenários constituem a situação de muitos dos seus romances, sua formação intelectual se fez em Salvador, onde se diplomou em Medicina, em 1897, como aluno laureado.

Sua tese inaugural, Epilepsia e crime, despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.

Em 1902, a chamado de Juliano Moreira, mudou-se para o Rio, onde foi inspetor de Saúde Pública (1902) e Diretor do Hospital Nacional de Alienados (1904).

Após concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de


  • professor extraordinário da Faculdade de Medicina (1911);
  • diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915);
  • diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916);
  • deputado federal pela Bahia (1924-1930);
  • professor de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932).
  • Reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935.
Após 40 anos de relevantes serviços à formação das novas gerações de seu país, aposentou-se.
A sua estréia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo, com a publicação, em 1900, do drama Rosa mística, curioso e original drama em cinco atos, luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato.

O próprio autor renegou essa obra, anotando, no exemplar existente na Biblioteca da Academia, a observação: “incorrigível. Só o fogo.”

Entre 1904 e 1906 viajou por vários países da Europa, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos no campo de sua especialidade, aliando também a curiosidade de arte e turismo ao interesse do estudo. Nessa primeira viagem à Europa travou conhecimento, a bordo, com a família de Alberto de Faria, futuro acadêmico, da qual viria a fazer parte, sete anos depois, ao casar-se com Francisca de Faria Peixoto. Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem fez o laudo de autópsia.

Ao ir ao Rio, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela literatura após a publicação de Rosa mística. Sua obra médico-legal-científica avolumava-se.

O romance foi uma implicação a que o autor foi levado em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia, quando se achava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior.

Começou a escrever o romance “A Esfinge”, o que fez em três meses antes da posse em 14 de agosto de 1911. O Egito inspirou-lhe o título e a trama novelesca, o eterno conflito entre o homem e a mulher que se querem, transposto para o ambiente requintado da sociedade carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis, as conversas do mundanismo, versando sobre política, negócios da Bolsa, assuntos literários e artísticos, viagens ao exterior. Em certo momento, no capítulo “O Barro Branco”, conduz o personagem principal, Paulo, a uma cidade do interior, em visita a familiares ali residentes. Demonstra-nos Afrânio, nessa páginas, os aspectos da força telúrica com que impregnou a sua obra novelesca.

O romance, publicado em 1911, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros. Na trilogia de romances regionalistas Maria Bonita (1914) Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922). Entre os romances urbanos escreveu “As razões do coração” (1925), “Uma mulher como as outras” (1928) e “Sinhazinha”(1929).

Dotado de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um grande causeur e um primoroso conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora. Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto.

Na Academia, teve também intensa atividade. Pertenceu à


  • Comissão de Redação da Revista (1911-1920);
  • Comissão de Bibliografia (1918) e
  • Comissão de Lexicografia (1920 e 1922).
Presidente da Casa de Machado de Assis em 1923, promoveu, junto ao embaixador da França, Alexandre Conty, a doação pelo governo francês do palácio Petit Trianon, construído para a Exposição da França no Centenário da Independência do Brasil.

Em 1923 criou a Biblioteca de Cultura Nacional dividida em : História, Literatura, Dispersos e Bio-bibliografia, iniciando esta série com a biografia de Castro Alves. Em sua homenagem a coleção passou a ter o nome de Coleção Afrânio Peixoto.

Como ensaísta escreveu importantes estudos sobre Camões, Castro Alves e Euclides da Cunha.

Em 1941 visitou a terra natal, Bahia, depois de 30 anos de ausência e publicou 2 livros: “Breviário da Bahia” (1945) e “Livro de Horas” (1947).

Afrânio Peixoto procurou resumir sua biografia o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que publicou em dois versos: “Estudou e escreveu, nada mais lhe aconteceu.”

Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Nacional de Medicina Legal, do Instituto de Medicina de Madri e de outras instituições.

Na Academia Brasileira de Letras era ocupante da Cadeira 7, eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Euclides da Cunha.

Principais obras:


  • Rosa mística, drama (1900);
  • Lufada sinistra, novela (1900);
  • A esfinge, romance (1911);
  • Maria Bonita, romance (1914);
  • Minha terra e minha gente, história (1915);
  • Poeira da estrada, crítica (1918);
  • Trovas brasileiras (1919);
  • Parábolas (1920);
  • José Bonifácio, o velho e o moço, biografia (1920);
  • Fruta do mato, romance (1920);
  • Castro Alves, o poeta e o poema (1922);
  • Bugrinha, romance (1922);
  • Ensinar e ensinar (1923);
  • Dicionário dos Lusíadas, filologia (1924);
  • Camões e o Brasil, crítica (1926);
  • Dinamene (1925);
  • Arte poética, ensaio (1925);
  • As razões do coração, romance (1925);
  • Uma mulher como as outras, romance (1928);
  • Sinhazinha (1929);
  • Miçangas (1931);
  • Viagem Sentimental (1931);
  • História da literatura brasileira (1931);
  • Castro Alves - ensaio biobibliográfico (1931);
  • Panorama da literatura brasileira (1940);
  • Pepitas, ensaio (1942);
  • Amor sagrado e amor profano (1942);
  • Despedida (1942);
  • Obras completas (1942);
  • Indes (1944);É (1944);
  • Breviário da Bahia (1945);
  • Livro de horas (1947);
  • Obras literárias, ed. Jackson, 25 vols. (1944);
  • Romances completos (1962);
  • Trovas brasileiras (s.d.);
  • Autos (s.d.).

    Fonte:
    Academia Brasileira de Letras

RD Oliveira Lima Taufick (Lançamento do Livro “Saca-rolhas”)



Esta é a estreia oficial do escritor no cenário literário nacional. RD Oliveira Lima Taufick é autor de Saca-rolhas, obra que foi disputada por algumas editoras do eixo Rio-São Paulo. Em conjunto com seu agente, Taufick decidiu pela Caki Books, pois - mesmo sendo uma nova editora - as sócias têm influência e larga experiência no mercado editorial.

De autoria do EPPGG Roberto Taufick, a obra reúne dez contos e crônicas que parecem relatar os diversos momentos vividos na vida de um mesmo personagem. Os textos abordam fatos cotidianos, situações cômicas e outros tipos de emoções. Alguns dos temas abordados são a atividade de flanelinhas nas ruas da cidade, a regionalidade e os dramas masculinos vividos na casa dos 30 anos. O prefácio da obra é de Ivan Angelo, duas vezes vencedor do Prêmio Jabuti.
––––––––––––––––––
Roberto Domingos Oliveira Lima Taufick é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco/USP (2001), com ênfase em Direito da Empresa (USP/2001) e extensão em Direito da Concorrência (UnB/2006), cursando pós-graduação em Defesa da Concorrência pela EDESP (FGV/SP).

Atualmente é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (ENAP, 2006) e Assessor no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE/MJ).

Em 2007, tornou-se o 1º International Fellow da Federal Trade Commission (Washington, DC) sob o Safe Web Act de 2006.

Assina, ainda, obras literárias sob o pseudônimo R.D. Oliveira Lima Taufick.

Membro honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco/USP.

Livros
Saca-Rolhas - repristinações apoplécticas. Rio de Janeiro: Caki Books, 2010.
Com ALMEIDA, Ruy Hallack Duarte de . 7 Selos. Brasília: Dupligráfica, 2008. v. 1.
Trouxeste a Chave?. Goiânia: produção independente, 1997. v. único.

Fontes:
Curriculo Lattes
Andrey do Amaral
http://www.anesp.org.br/?q=node/3473

sábado, 1 de janeiro de 2011

Carolina Ramos (Do Cotidiano)


Fim de tarde. Friozinho abelhudo penetrava por onde quer que lhe fosse permitido entrar, encolhendo ombros e aconchegando corpos.

Pressa. Pressa de voltar para casa. De rever a esposa, os filhos, os entes queridos. Pressa de trocar os sapatos pela comodidade dos chinelos velhos, das meias de lã, ma maioria das vezes furadas no dedão. Pressa de sumir dentro do pijama quentinho. De saborear o jantar fumegante e depois esparramar-se na poltrona, frente à TV para cochilar e falar mal dela.

Fim de tarde fria. Noite a insinuar-se, mais fria ainda.

Sem esposa, nem filhos, sem aquela pressa que movia tantas pernas, Reginaldo caminhava sem motivação maior, arrastando os passos até a lanchonete mais próxima, menos cheia de gente descompromissada, como ele, e, portanto, menos tumultuada pelo vozerio das massas.

Roído de fome, passou a perna por sobre a banqueta redonda, repousando os cotovelos no balcão de formica. Consultou os bolsos. Eles é que ditavam o pedido. Os apelos do estômago eram secundários. Fim de mês. Minguava, no fundo da algibeira, a carteira murcha. Não dava para muito. E, justamente naquele início frio de uma noite que prometia ser gélida, sentia uma fome de cão vadio!

– Um hamburger com fritas. Ah… e um cafezinho pingado.

– Bebida?

Lembrou-se da carteira murcha.

– Não…obrigado. Só o cafezinho.

Aguardou, impaciente.

Chegaram juntos: – o hamburger e o garoto de olhos tristes. Seis ou sete anos, no máximo. Disfarçou, fingindo não vê-lo. Foi puxado pela manga.

– Moço, me dá um dinheirinho? Tô cum fome.

Era tudo que não queria ouvir! Engoliu a saliva que o reflexo, condicionado à chegada do hamburger, lhe fizera crescer na boca.

– Hoje não, meu filho…Não tenho trocado. – Procurou ignorar a presença incômoda do menino, saboreando, com os olhos, a iguaria, cujo aroma lhe excitava as glândulas salivares. Apertou o hamburger com volúpia, fazendo o “catchup” escorrer pelas bordas. Chegou a abrir a boca para a primeira mordida, não consumada.

Ao seu lado, o garoto permanecia fascinado pelo petisco fumegante, entre fritas e folhas de alface.

Reginaldo engoliu em seco. Tivesse dinheiro no bolso e tudo estaria resolvido. O remorso antecipou-se à consumação, importunando-o mais do que a própria fome. Pensou em divir o pitéu. Lambuzou-se todo! Os olhos do garoto continuavam, gulosos, namorando o hamburger.

Capitulou. Pediu um saquinho de papel e encheu-o de batatas fritas. Embrulhou o hamburger num guardanapo e entregou-o, inteiro, à fome que se estampava na carinha esquálida. E achou que seria pouco!

Alegria e surpresa coloriram a face ´pálida do menino que balbuciou qualquer coisa ininteligível e disparou porta afora, temeroso de possível arrependimento.

Sobraram para Reginaldo, desapontamento e frustração total!

Perdera o jantar! A fome continuava firme. E a fuga precipitada roubava-lhe, ainda, a modesta satisfação do espetáculo proporcionado pela sua renúncia. Queria ver morrer a fome do guri! Fome a ser morta por ele! Morte da qual não se arrependeria, jamais! Direito seu!

Contentou-se com o cafezinho morno e duas fritas sobradas no prato. E enfrentou novamente a noite, mais fria do que antes, ignorando os reclamos do estômago vazio.

Meio quarteirão adiante, uma surpresa. Sentado na calçada, encostado à parede, o mesmo garoto, olhos menos tristes, dividia com a mãe, maltrapilha, e com mais duas crianças, sua finada refeição.

O sorriso do menino foi, sem dúvida, o que de mais gratificante recebera da vida!

A caminho da modesta vaga que ocupava, numa casa de cômodos, esqueceu-se da fome. Chegou mesmo a envergonhar-se dela!.

Fontes:
RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos.SP: EditorAção, abril 1993.
Imagem = http://www.iplay.com.br

Virgínia Origuela (Despertar do Ano Novo)


Ano Novo tudo novo, de novo.
Vamos brindar à arte da retomada...
Dádivas divinas despertam...
Em prol de um ano que nasce.

Ano Novo tempo de paz.
Réveillon... O Despertar.
De um ano que passou... findando um novo tempo.
Tempo de glória, tempo de amar.

Consolidar os sonhos...
Ano novo, ano ímpar.
2011 Motivos para você checar...
Coisas que o novo ano traz.

Pedidos jogados ao ar...
No universo, sonhos irão se concretizar...
Na realidade perpetuar...
Votos e desejos secretos... A Imaginar.

Eis um Novo ano, tempo de acordar...
Para as coisas que a vida...
Insiste em lembrar...
Vamos correndo, mais uma etapa avançar.

Na evolução divina...
Que vai além do que possamos desejar...
O ano que passou. serviu para preparar...
O melhor está por vir.

E ele não há de cessar.
ANO NOVO!
Que ele eternize o que há tempos você viveu.
Os desejos que você escondeu de si.
As vontades que insistem em ir e vir...
O NOVO ANO nasce dentro de si.

E brota sentido a vida que acontece fora de ti.
Os anos se refazem contextos que não voltam mais...
Liberte tudo aquilo que retém seu sucesso...
E renove os sentimentos.

O Ano Novo vêm de dentro.
A alma tem que estar em sintonia...
Com a maestria dos dias.
FELIZ ANO NOVO!
ANO DE BENFEITORIAS!
DE ALEGRIAS, ANO QUE COMPLEMENTA OS DIAS!

Fontes:
http://www.gostodeler.com.br/
Imagem = http://www.cumprimentos.net/

Olivaldo Júnior (Fim de Linha)


Pois é, o ano velho está no fim, é o fim da linha para ele. Acabam-se as aulas e as férias invadem as casas, causando frisson nas crianças e em todos que estudaram ou trabalharam durante o ano. O ano velho está de molho, o molho que é feito de amizade.

Amigos que telefonavam todo dia já não ligam quase nunca; amigos que não ligavam quase nunca já não telefonam mais. Pois é, a vida é assim mesmo: ligações ou longos períodos ocupados ou fora da área de cobertura. Cobrindo o ano velho, cubro a mim mesmo, que eu mesmo ando velho, bem velho, querendo nascer. Nasceram amigos que eu pensei que seriam eternos, mas fenecem no esquecimento desta pessoa; tenho amigos que não telefonam mais, ainda que ligassem quase todo dia. Dia a dia, eu noto bem: tudo é ciclo, e o círculo dos meus amigos é o quadrado de uma folha de papel em que pousam ilusões. Ilusão é pôr-se à mercê de ninguém. Ninguém vive sem ninguém.

Iludo-me. Mas o ano é novo. Fim de linha para o velho que mora em mim. Mas o que faço para o despejo de quem me ajuda a ter assunto para meus versos, combustível para os lampejos de um verso à-toa, que me atordoa? Contando com amores que nunca foram amáveis, amei quem nem sabe que o meu amor contava com o dele, o amor do meu amor. O amor é velho; o ano, não. E eu estou cansado de ser amigo de ninguém e de ninguém estar comigo quando entra o ano novo e todos fazem tim-tim.

Fontes:
O Autor
Imagem = http://www.gostodeler.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.82)


Trova do Dia

Neste ano novo eu pretendo
rasgar meus dias tristonhos
e, de remendo em remendo,
reconstruir os meus sonhos...
MARINA BRUNA/SP

Trova Potiguar

Um Ano Novo sem guerra,
mandai, ó Deus paternal:
que reine a paz sobre a terra,
que reine o bem contra o mal!
JOAMIR MEDEIROS/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Petrópolis/RJ
Tema > Ano 2000 > 13º Lugar

Que os anos 2000 nos falem
de novos feitos de luz,
mas que seus ecos não calem
a voz que bradou na cruz!
DOROTHY JANSSON MORETTI/SP

Uma Trova de Ademar

Neste Ano Novo eu queria
entre nós mais união;
e, que o amor pela poesia
cresça em nosso coração!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Deus com seu saber profundo,
para nos trazer a paz,
mandou o seu filho ao mundo
há dois mil anos atrás
MIGUEL RUSSOWSKY/SC

Estrofe do Dia

Hoje eu pedi para o povo,
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo,
muito amor nos corações!
E fiz pra Deus uma carta
pedindo uma mesa farta
para o faminto comer;
mandei essa carta em nome
daquele que passa fome
e que não sabe escrever!
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia


– Vanda Fagundes Queiroz/PR –
TRANSITÓRIO.

Trezentos e sessenta e cinco dias,
meu calendário, foi seu tempo exato.
Agora é estranho, quando então constato:
- É um bloco velho, já sem serventias.

Mas eu o estimo. As datas foram guias...
Cada lembrete compôs um retrato
do cotidiano que se fez, de fato,
de altos e baixos, sombras e alegrias.

Releio as notas... Dói-me concordar:
- Dever cumprido! Ceda o seu lugar
para o que chega e estréia no cenário.

Tão companheiro, em toda a minha lida
de um ano inteiro... para mim, tem vida!
– Adeus, meu velho amigo Calendário...

Fonte:
Ademar Macedo

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Trova 186 - José Feldman (PR)

Montagem sobre imagem (ondas) obtida em http://www.TecnoCientista.info

Maria da Graça Stinglin de Araújo (Livro de Trovas)


Buscar caminhos amenos,
inovar o dia-a-dia,
errar menos...sempre menos...
também é sabedoria.

Curitiba, da magia,
tem beleza, tem lisura.
Curitiba, muito fria...
mas... só na temperatura!

Faça o trânsito seguro.
Só dirija com cuidado.
Não deixe o outro no apuro...
Está certo? Combinado!

Jovens estão temerosos?
Estimule-os a aprender,
tornando-os bem poderosos
com o domínio do saber.

Linda Noite de Natal!
Nessa noite, muita luz,
brilha a estrela principal,
renasceu nosso jesus!

Na linda manhã de sol
ouvi uma canção tão bela...
Eu debaixo do lençol
e a cigarra na janela!

Os conselhos agradáveis
muitas vezes são tão fúteis,
totalmente dispensáveis.
Bons conselhos são os úteis.

Por incrível que pareça,
a pessoa que é ranzinza
leva acima da cabeça
uma leve nuvem "cinza".

Primavera... ipês floridos,
pássaros alegres cantam.
Jardins estão coloridos...
todos eles nos encantam!

Quem trafega com atenção
demonstra conhecimento,
melhora a circulação...
e evita aborrecimento!

Todos os anjos e santos
de maneira especial,
consolam os nossos prantos,
com piedade angelical.

Trovadores... luz... ribalta!
No cenário: a poesia.
Trova nasce... verso salta...
na maior coreografia.

Um abraço com frequência
sempre muito amor nos traz.
Ele desarma a violência,
constrói um mundo de paz.

Vem na natureza... em cota!
O dom de ser escritor...
Muitas vezes ninguém nota,
e o texto está numa flor!

Fontes:
União Brasileira dos Trovadores.
Portal CEN

Maria da Graça Stinglin de Araújo (1947)


Nasceu no dia 28 de dezembro de 1947, em Curitiba, Paraná, onde sempre residiu.

Casada. Professora de Português, Francês e respectivas literaturas. Pós-graduada em Magistério Superior e Ensino Religioso.

Artesã, apreciadora de arte em geral. Trovadora, iniciou no mundo da Trova trabalhando em sala de aula.

Voluntariamente, desde 1999 leva às escolas um trabalho de incentivo aos jovens, no conhecimento da Trova.

Colaborou na elaboração do livro "Papalavras" 2004, onde se registra a primeira participação de alunos no concurso de trovas dos "Jogos Florais" em Curitiba.

Participou em 2006, na "Semana de Estudos Pedagógicos" na Prefeitura Municipal de Curitiba, como docente em Oficina de "Trova em Sala de Aula", para professores do Ensino Fundamental da mesma Instituição.

Vice-presidente de Cultura da UBT-Curitiba - biênio 2007/2008.

Eleita presidente, para o biênio 2009/2010,da referida Seção, que tinha como projeto iniciar em março de 2010 um trabalho mensal de "Oficina de Trova", em parceria com a Academia Paranaense de Poesia, em espaço cedido pela Biblioteca Pública do Paraná.

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores.

Ialmar Pio Schneider (Soneto para o Ano Novo)

Fontes:
- O Autor
- Imagem obtida no Baixaki

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.81)


Trova do Dia

O Ano Velho já se deita...
e amenizando os cansaços
o Ano Novo chega e ajeita
a esperança em nossos braços.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR

Trova Potiguar

Este ano, já moribundo,
chora por não ser capaz
de ao menos puxar o mundo
para mais perto da paz!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS -Estadual
Tema > Natal > 5º Lugar

Pratique o bem, ore e peça
por seus irmãos em vigília;
Natal com Cristo começa
em nós, no lar, na família!
ANTONIO VOGEL SPANEMBERG/RS

Uma Trova de Ademar

Vou pedir pra todo o povo,
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo...
muito amor nos corações!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Chega o Natal... e as criança,
na pobreza sem brinquedo,
não tendo mais esperanças
ficam adultas mais cedo.
NYDIA IAGGI MARTINS/RJ

Estrofe do Dia

Quero desejar ao povo
de todas as regiões,
que tenham nesse Ano Novo
muitas realizações;
e que os nossos corações
se superlotem de paz,
pra não ter guerra jamais
peço a Deus que nos ajude,
com paz, amor e saúde
que o resto vamos atrás.
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia

– Edmar Japiassú Maia/RJ –
RÉVEILLON.

Os fogos de artifício mostram claras
das pessoas as faces coloridas,
e no espocar, alegre, das bebidas,
rolam champanhas em cascatas raras...

As frases de euforia, repetidas,
guardam mensagens de emoções mais caras,
e um reflorir constante das searas,
semeando esperança em nossas vidas...

A contagem do tempo, regressiva,
uníssona retumba, forte e viva,
no anseio do Ano Novo...do Ano Bom.

E em cada olhar, brotando, cristalinas,
as lágrimas são preces das retinas,
em louvação de graça ao Reveillon!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Abgar Renault (Antologia Poética)


ENCANTAMENTO

Ante o deslumbramento do teu vulto,
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em luar a treva em que me oculto.

Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.

E' tua vida minha própria vida
e trago em mim tua alma adormecida . . .
mas, num mistério surdo que me assombra,

tu és, as minhas mãos, vaga, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...

ALEGORIA

Em vão busco acender um diálogo contigo:
a alma sem tom da tua boca de água e vento
despede cinza, névoa e tempo no que digo,
devolve ao chão o meu mais longo pensamento,

e entre cactos estira esse deserto ambíguo
que vem da tua altura ao vale onde me ausento,
procurando o teu verbo. O silêncio, investigo-o,
e ouço o naufrágio, o vácuo e o deperecimento.

Sonho: desces a mim de um céu de algas e rosas,
falas às minhas mãos vozes vertiginosas,
e palavras de flor no teu cabelo enastro.

Desperto: pairas ainda em silêncio e infinita:
meu ser horizontal chora treva e medita
tua distância, teu fulgor, teu ritmo de astro.

SONETO DO IMPOSSÍVEL

Não ouvirás nem luz, nem sombra inquieta
das sílabas que beijam tuas asas,
nem a curva em que morre a ardente seta,
nem tanta eternidade em horas rasas.

Não medirás a bêbeda corola
que abriste no final do meu sorriso,
nem tocarás o mel que canta e rola
na insônia sem estradas onde piso.

Não saberás o céu construído a fogo,
que tua jovem chave cerra e empana,
nem os braços de espuma em que me afogo.

Não verão os teu olhos quotidiana
a minha morte de homem embebida
no flanco de ouro e luar da tua vida.

COMO QUEM PEDE UMA ESMOLA

Preciso de uma palavra.
Em que dia ou em que noite
estará essa, que almejo,
ideal palavra insabida,
a única, a exclusiva, a só?
Dela me sinto exilado
todas as horas por junto,
com minha face, meu punho,
meu sangue, meu lírio de água.
Soletro-me em tantas letras,
e encontrá-la deve ser
encontrar a criança e o berço,
a unidade, a exatidão,
o prado aberto na rua,
a rua galgando a estrela.
Preciso de uma palavra,
uma só palavra rogo,
como quem pede uma esmola.
Em florestas de palavras
os calados pés caminham,
as caladas mãos perquirem,
os olhos indagam firmes.
Em que parábola cruel,
em que ciência, em que planeta,
em que fronte tão hermética,
em que silêncio fechada
estará viajando agora
- mariposa de ouro azul -
a palavra que desejo?
Lâmina sexo cristal
fulcro pântano convés
voraginoso fluvial
Antígona circunflexa
catastrófico crepúsculo
ênula ventre rosal
sibila farol maré
desesperadoramente
nenhuma será nem é
aquela do meu anseio.
Como será, quando vier,
a palavra entrepensada,
necessária e suficiente
para a minha construção
de lápis, papel e vento?
Dura, espessa, veludosa
ou fina, límpida, nítida?
Asa tênue de libélula
ou maciça e carregada
de algum plúmbeo conteúdo?
Distante, insone e cativo,
debaixo da chuva abstrata,
eu me planto decisivo
no tráfego confluente,
aéreo, terrestre, marítimo,
e espero que desembarque,
triste e casta como um peixe
ou ardendo em carne e verbo,
e pouse na minha mão
a áurea moeda dissilábica,
a noiva desconhecida,
a coroa imperecível:
a palavra que não tenho.

NA RUA FEIA

Na rua feia,
de casas pobres,
morreu o filhinho daquela mulher
que lava o linho rico
de um bairro distante.
Morreu bem simplesmente,
assim como um passarinho.
O enterro saiu...lá vai...
um caixãozinho azul
num carro velho de 3a. classe.
Atrás dois autos. Dois.

A tarde irá pôr luto
na rua feia,
de casas pobres?

Garotos brincam de esconder
atrás do muro de cartazes.
Lá no alto
vai-se abrindo grande céu sem mancha
cruzeiro-do-sulmente iluminado.

POEMETO MATINAL

O ar da manhã beija a minha face.
A minha alma beija o ar leve da manhã
e olha a paisagem longínqua da cidade,
que branqueja alegremente na distância
e sorri humanamente
um sorriso branco no caiado das casas
que montam os flancos das colinas azuis
e espiam pelos olhos escancarados das janelas.

7 horas. Vai começar a função.
O despertador das sirenes fura liricamente
o silêncio doirado da manhã.
Parece que a vida acorda agora pela primeira vez
e esfrega os olhos deslumbradamente...

Meu Ford fordeja dentro da manhã
e sobe a rua velha do meu bairro,
arquejando, bufando, fumando gasolina.
Meu Ford a cabriolar nos buracos da rua descalça
é um cabrito todo preto a cabriolar, prodigioso.
O ar leve beija o radiador
e beija a minha face.

A meninice de todo o meu ser
na doirada névoa desta manhã!

NOITE

Há duas pombas brancas no telhado.
Junto delas pousa o silêncio do dia já parado,
e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo.
É tarde nos telhados e nas árvores,
é tarde (triste e mais tarde) nessa rua
que se reabriu no fundo de um olhar,
onde se movem ressurrectos mármores
e começam a discorrer ventos e velas
por sobre a limpidez das mesmas águas velhas,
e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar.

Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes,
alongam a última distância, somem a luz que se destece
e a linha dos caminhos, apagam o verde prado.
Não há duas pombas brancas no telhado:
sobre elas, seu vôo e seu arrulho ausentes
a lápide sem cor das horas desce.

Fonte:
Jornal de Poesia

Abgar Renault (1901 - 1995)



Abgar Renault (A. de Castro Araújo R.), professor, educador, político, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Barbacena, MG, em 15 de abril de 1901, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 31 de dezembro de 1995.

Era filho de Léon Renault e de Maria José de Castro Renault. Casado com D. Ignês Caldeira Brant Renault, teve dois filhos, Caio Márcio e Luiz Roberto, e três netos, Caio Mário, Abgar e Flávio.

Realizou os estudos primários, secundários e superiores em Belo Horizonte, onde começou a exercer o magistério.

Foi professor do Ginásio Mineiro de Belo Horizonte, da Universidade Federal de Minas Gerais e, no Rio de Janeiro, do Colégio Pedro II e da Universidade do Distrito Federal.

Eleito deputado estadual por Minas Gerais, nomeado Diretor da Secretaria do Interior e Justiça do mesmo Estado; Secretário do Ministério da Educação e Saúde Pública Francisco Campos e seu Assistente na Secretaria da Educação e Cultura do Distrito Federal;
  • Diretor e organizador do Colégio Universitário da Universidade do Brasil;
  • Diretor do Departamento Nacional da Educação,
  • Secretário da Educação do Estado de Minas Gerais em dois governos, quando se notabilizou por incentivar o ensino no meio rural;
  • Ministro da Educação e Cultura;
  • Diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais João Pinheiro em Belo Horizonte;
  • Ministro do Tribunal de Contas da União;
  • membro da Comissão Internacional do Curriculum Secundário da Unesco (1956 a 1959);
    consultor da Unesco na Conferência sobre Necessidades Educacionais da África, em Addis Abeba (1961);
  • membro da Comissão Consultiva Internacional sobre Educação de Adultos, também da Unesco (1968-1972);
  • representante do Brasil em numerosas conferências internacionais sobre educação levadas a efeito pela Unesco em Londres, Paris, Santiago do Chile, Teerã, Belgrado e Genebra;
  • eleito várias vezes membro da Comissão de Redação Final dos documentos dessas reuniões;
  • membro da Comissão Consultiva Internacional do The World Book Encyclopædia Dictionary (Thorndike-Barnhart Copyright, Doubleday & Company, USA, 1963);
  • membro do Conselho Federal de Educação e do Conselho Federal de Cultura;
  • Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais.

    Esteve sempre ligado à educação e, como professor, preocupou-se com a língua portuguesa, de que foi um conhecedor exímio e representante fiel.
Pertenceu à
  • Academia Mineira de Letras,
  • Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte,
  • Academia Brasiliense de Letras;
  • Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Stanford, Califórnia, EUA, e
  • Presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa de Belo Horizonte.

    Em todos os postos que ocupou, como no magistério, Abgar Renault desenvolveu intensa e exemplar atividade, registrando em A palavra e a ação (1952) e Missões da Universidade (1955) seus estudos e reflexões.

    Além disso, foi um grande poeta. Contemporâneo de Carlos Drummond de Andrade, juntou-se ao grupo surrealista moderno e participou do movimento modernista de Minas Gerais. Desde então, sua importância na literatura contemporânea só fez crescer. Apesar de ter a obra associada ao Modernismo, fazia uma poesia original, audaciosa, não formalista e não ligada a nenhuma escola poética. Era dos que não faziam questão de aparecer em público, mas sua qualidade literária se impõe nos livros que publicou.

    Foi também um notável tradutor de poetas ingleses, norte-americanos, franceses, espanhóis e alemães. Era um grande especialista em Shakespeare. Sua poesia tem sido incluída em numerosas antologias, no Brasil e no exterior.

    Quinto ocupante da Cadeira 12, da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1º de agosto de 1968.

    Bibliografia

    Obras:
    Sonetos antigos (1968);
    A lápide sob a lua, poesia (1968);
    Sofotulafai, poesia (1971);
    A outra face da lua, poesia (1983);
    Obra poética, reunião das obras anteriores (1990).

    Traduções:
    Poemas ingleses de guerra (1942); A lua crescente (1942), Colheita de frutos (1945) e Pássaros perdidos (1947), de Rabindranath Tagore;
    O boi e o jumento do Presépio (1955), de Jules Supervielle.
    Essas obras foram reunidas, em grande parte, em Poesia Tradução e versão (1994).

    Fonte:
    Academia Brasileira de Letras

Deth Haak (Antologia Poética)


DA LUA AO POETA...

Ser aluado ou disperso é o viver do poeta
Que a pena dissipa suas dores e compulsões
Imergindo inversas letras ao vento que o ata
Olhando outros olhos a miragem das ablações.

Pode parecer flutuar encantado com o que versa
Diz não a sofreguidão, deitando em constelações;
Que luzem sois na beleza do existir que perpassa
Enjeitando as aflições de suas tantas emoções...

Só há flores em seu vergel, e ao acúleo congraça,
O negrume em rendilhas bordadas na imensidão
Ri da dor no verso lido odora o lodo e a traça...

O Poeta faceta em rosas o desejar da imaginação
Transmuda o viver obscuro aos olhos de toda praça
Lamentos que despem a lua no gozar da alucinação.

ESCULPI O VENTO...

Despertar afoito no sol que desponta
Na morna canção num solo da brisa
Insuflando a completude que decanta
Rompendo muralhas alisando e frisa,

Diálogos afagados, a natureza monta
beleza esculpida que a erosão alisa .
sutilezas em cinzéis ventados em data
conturbada na memória que encanta.

Lacerando Dunas e Falésias dum amar
erosões do vento que conto no momento,
e permaneço embebida na visão do mar .

Que insiste salivar a rocha ,na sede do tempo
lambendo o fruto proibido em seu acariciar.
Flui da aragem, liras lúbricas no sentimento..

LONGA MADRUGADA...

De arcabouços carcomidos, estafados e ansiosos
Envolto a asperezas dissonantes das notas dum jazz
Náufragos embevecidos de pensamentos nervosos
Entre libar dum rubro tragado o debilitar que satisfaz...

Embalados a canções balouçadas de eus silenciosos
Buscando quem sabe onde, o acalentar de seus ais.
Lágrimas que vertem nas faces, de vultos curiosos
Providas de ilusos perdidos, balizados no olhar fugaz...

Na disfarçada melancolia, a corroer tantos corações ociosos.

Fundeados no ar denso, mitigando canchas de templos e sagas,

Definindo os semblantes, almas mortas de sonhos preciosos...

O fulgurar mesmo que diuturno o alvorecer dos sorrisos
Entre cinzas espalhadas sob as guimbas. Na brasa voraz,
O arder da musica, sons alcoolizados, afligindo orgulhosos.

A DERIVA DO AMOR...

Revoltada a ventania e o marejar irado
Deste dia, em que sonho querências.
Do afagar aquecendo o imo, no aguardo
Da bonança a envolver-me em caricias...

Naufraga imaginando as espumas brancas,
Mareada.... Na ilusão duma espera suportada.
A deriva a paixão faz água nas molancas,
E Inunda o barlavento na onda quebrada...

E , nesse nadar marolas ateadas, eu te navego
Oceano! Entrevendo ao longe, a tábua do amor
Mitigando o que vem, no sentir que a ti renego,

E apenas no sonhar a sanha, a ti me entrego
Alcançando o mastro imerso no escarcéu do ardor.
Boiando no contemplar das ondas aguçando o ego!

CHOVE EM MIM...

Inunda chuva molhando meu ser
Umedecendo o solo do escrever
Germinando vaga a triste realidade.

Lacrimejada nos olhos de quem lê;
E chora o Poeta a tamanha saudade
Descrita no tempo do não sabe por quê.

Que nas pardacentas folhas da idade
O Vento sopra á noite ruelas de mim
Enclausuradas na cruel infelicidade...

Ateando a poeira mundana no argüir
Os traços deixados no caminhar
Rimas crivadas dum amor sem fim...

Refaz o pulsar de o imo a premunir,
A tempestade de nuvens a entoar
O redivivo borrão, chovido nanquim.

Insistem mostrar o negrume ao luar
Chuvosos versos bordando marfim
Lembrar das gotas, pérolas a tilintar...

Sussurram colchas nas eras do cetim
pros catres que te chamam sem ouvir
a vaguear pelas ruas nas noites sem fim...

Chove o peito da paixão por não sorrir
os momentos nebulosos vindo do mar
A carpirem ondas de o amargo existir.

ASPIRO ROSAS...

Assim vou dando cor e aroma ao que inspiro,
das pétalas aveludadas, que desnudam o corpo
Pra vestir a vida, mesmo que seja de espinhos
Aspiro Rosas...
Envolvo o templo em matiz imaginarias
Viandando por cânones que valsam no tempo
A harmonia dos pelos que encrespam poros e,
Aspiro Rosas...
Mesmo que imersas na água da chuva, que inunda o viver
De tempestades inclementes, no carpir de amarguras
Que assolam o ser por querer da vida, um rasgo no alvorecer.
Aspiro Rosas...
Mesmo que murchem ao olhar do que vê, mesmo assim
As quero ornando a esperança que o horizonte aponta
Quando de nuvens pesadas, nebulosos os dias perceber
Aspiro Rosas...
Quando a tarde vai desmaiando em busca dum crepúsculo
Pra morrer nos braços da noite, que orvalha o que precente
no caule da flor, que o amanhã não será diferente, aspiro Rosas!
Nos ventos transportando aromas e cores.
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Deth Haak, A Poetisa dos Ventos (1959)



" A Poetisa dos Ventos"

Amante da literatura, nasci em Armaçãos dos Búzios município do Rio de Janeiro. Cantando siris nas redes, assim aprendi a contar! O mundo deu muitas voltas e eu só troquei de mar, deixei a praia do Canto, para em Ponta Negra , Natal Rio Grande do Norte, morar. Entre jangadas e velas Dunas e mar... A poesia me fez convite e no meu SER instalou-se. Hoje ouso, sou poetisa amadora e, como sou atrevida, busco nas leis de incentivo, meu sonho realizar o livro quero editar!...Eu Sou Deth Haa
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Aos dezessete dias do mês de Janeiro de 1959, nasce em Armação dos Búzios, Município do Rio de Janeiro, Odete Pereira Alves segunda dos quatro filhos. Em meio a uma tempestade onde a lua cheia se escondeu para dar lugar aos relâmpagos que riscavam aquele céu saudando a ventania que soprava Leste. Filha de Manoel Custódio Alves, um humilde pescador e de Maria Julia Pereira Alves, mulher que do sonhar se esquivou... Aos cinco anos deixa a aldeia de pescadores como se a navegar outros mares a família vai à busca de outro porto para ancorar no futuro o que o passado lhes negara...

Em 1966 desde os cinco anos alfabetizada pelo seu pai que possuía a terceira série primária matricula-se na Escola Publica Pandiá Calógeras , bairro de Alcântara São Gonçalo cidade do Rio de Janeiro. E o presente fez-se calmaria abrandando o escarcéu, da curiosidade da então menina, que incentivada pelos educadores de então alça vôos com os livros que lia.

Em 1971 termina o curso primário, e a Nau parte para outro porto. Desta vez para uma Ilha... Onde os dotes já aflorados compunham em versos seus dias. O interesse pela literatura leva-a manusear livros de Poesias na biblioteca escolar e passa ter em Pablo Neruda e outros autores de língua Espanhola o referencial que vem pautando a sua vida.

Nada lhe era mais fascinante que sonhar um mundo melhor como os Poetas...

Em 1972, presta exame admissão ao primeiro ano no Liceu de artes e Ofícios contrariando sua mãe, que sem nenhuma visão de mundo, acreditava ser a mulher feita para casar e procriar. Primeiro desafio vencido e não logrado, por não ter condição de custear despesas dessa instituição. Conclui o curso Ginasial na escola publica Zuleika Raposo Valadares na Ilha da Conceição Niterói RJ. Desperta a ousadia, e parte para o Grêmio Estudantil, fincando nesse solo a bandeira da “PALAVRA” Oradora nata, e POETA. Constrói discursos pautados na Liberdade e Igualdade.

Em 1974 recebe da Câmara dos Vereadores da Cidade Niterói Menção honrosa pela causa comunitária, trabalho desenvolvido junto aos moradores de então pelo direito a terra que ocupavam. Uma luta antiga pela posse da terra.

Não Calarei!

Se quiserem parar meu rumo, mesmo assim caminharei.
Buscando encontrar soluções para o mundo que sonhei...
Buscarei na caminhada o país que almejei.

Em 1981, contrai matrimônio, com Luiz Paulo Freitas Minnemann e realiza o sonho da maternidade.

Em 1982 nasce o fruto dessa união Paulo Roberto Alves Minnemann, rompendo no mesmo ano, essa união contrariando os princípios familiares que não tolerava separações. Primeiro caso de desquite entre as inúmeras mulheres da família que por estigma enviúvam desde os primardes!

Em 1983, sob os auspícios do Vento a soprar seu norte, parte para o então mundo alquímico, onde a beleza e os Egos se contrapõem a todo instante. Torna-se profissional de moda, figurando em salões e exposições por entre as lentes dos fotógrafos e câmeras dos estúdios da extinta TV Manchete,

Sem se distanciar das causas do POVO, auxiliando a comunidade a buscar seus ideais e desta vez valendo-se do prestigio galgado na profissão.

Em 1986 torna-se empresária de moda. Dividindo seu tempo entre a aldeia de pescadores, trabalhando pela sua emancipação e a cidade do Rio de Janeiro onde exercia a profissão.

Em 1989 casa-se com o Austríaco Rolf Helmut Haak, arquiteto e artista plástico e embarca na aventura de viver no Nordeste do Brasil. Refaz o caminho de volta do Sertanejo lutador.

Em 1990, com seu então companheiro investem na gastronomia, tornando-se referencia nesta área, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte, projetando nesse espaço artistas de todas as áreas. Fomentando a diversidade Cultural tentando resgatar trezentos anos de história da aldeia onde habita. Projeto Cultural Jangada das Sete, Vila de Ponta Negra RN.

Em 1998 Rolf Haak, falece. E como a vida não pode parar retoma os movimentos comunitários vivenciando outras realidades. União das Mulheres de Natal, Conselho Comunitário da Vila de Ponta Negra, Preservação da Natureza SOSPONTANEGRA. Coletivo Leila Diniz, UNEGRO Brasil Sem Aborto Núcleo Rio Grande do Norte, Protagonista da Paz trabalho Comunitário com 68 adolescentes de risco.

Oradora Oficial da Capoeira Arte e Vida que congraça 1500 capoeiristas pela inclusão Social.

Em 2001,-Deth Haak dedica-se a Poesia de inclusão. Escreve , recita educa através das mesmas, levando a áreas carentes onde relata e divulga a necessidade de cada comunidade fazendo lembrar ao que detém o poder e nada fazem que essa seja a hora de tentar mudar.

Incentivada pelo seu filho começa a publicar na Internet, poesias e através do mundo virtual em contato com os poetas trocando conhecimento com o Brasil e Mundo
Em busca de um raio de sol na escuridão dos mundos para fazer germinar a PAZ.

EM 2006 filia-se a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins- RN dedicando-se a difusão da poesia na terra de tantos poetas, com outro propósito levar essa arte aquém disto dela não aprendeu a sonhar.

Parte A Caravana da Poesia por escolas publicas, Centros comunitários, Universidades, Igrejas, incentivando a leitura através de apresentações em praças, clubes, sindicatos e Ongs.

Em 2006 vence na Alemanha o primeiro concurso Literário na categoria Pœsia, com o pseudônimo Deth Haak “ A Poetisa dos Ventos”. Segundo lugar do concurso na Faculdade de Direito Câmara Cascudo no Rio Grande do Norte, com poema “ Crepúsculo”.

Organiza o Abraço a Maior Duna do Nordeste Morro do Careca, pela preservação ambiental SOS.PONTA NEGRA.

Participa da elaboração das emendas do novo plano diretor da cidade do Natal, conscientizando a Câmara dos Vereadores e a população sobre o Desenvolvimento Sustentável pela causa do Planeta, Ação essa que derrubou licenças já concedidas para construção de cinco espigões no em torno da Duna, mostrando que vale a pena lutar pela preservação da vida, e a Natureza clama aos seres humanos a usar as armas que possuem.

Escreve sobre Poesia na Revista Nosso Estado, divulgando a arte de fazer versos e a produção literária no Brasil e no Mundo.

Apresenta a cidade do Natal, candidata a receber no Brasil, no ano de 2008 o Primeiro Congresso Internacional de Poetas Del Mundo.

Em 2007 é nomeada Cônsul Poeta Del Mundo - RN, em cerimônia realizada no mês de abril na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte onde recebe Menção de destaque Cultural do ano.

Munida de Vassoura e Sabão, lava a escadaria da Câmara dos Vereadores da cidade do Natal, em protesto as emendas vetadas por nove vereadores contrariando o querer do povo, por mais qualidade de vida, e acusando a corrupção dos mesmo que venderam seus votos ao Sindicato da Construção Civil. Incitando o Ministério Publico a apurar as denuncias que foram comprovadas gerando assim um processo de cassação dos mesmos.

Eleita interprete Oficial do Poeta Vinicius de Morais, AJEB

Em 2008 coordena junto a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, o Primeiro Congresso de Poetas Del Mundo na cidade do Natal, que por falta de compromisso governamental o mesmo não se realizou.

Participa da Antologia ‘ Letras e Imagens do Bem’
Poetas Del Mundo em Poesias

Eleita Embaixadora da Paz- Circulo Universal da Paz. dos Embaixadores da Paz -Genebra Suíça;

Projeto Cultura no Trem a um ano em movimento

Recebe homenagem do Memorial da Mulher Potiguar, Pela Cultura de Paz.

Lança o Projeto Caravana da Poesia- Poeta nas Escolas, com apoio da Fundação José Augusto.

Participa do XVI Congresso Brasileiro de Poesias, Bento Gonçalves RS

Coordenou a Campanha no Estado ‘ Unindo dos Rios através da Poesia, Campanha essa que levou 280 livros dos escritores locais para o Congresso.

Participa do IV ENCONTRO Internacional de Poetas Del Mundo no Chile representando o Brasil.

Participa da FLIPORTO, Festa Literária de PE

Representando o Rio Grande do Norte, com apresentação em recital, ao lado do Poeta Thiago de Melo, Embaixador de Poetas Del Mundo para o Mundo

Em 2009 recebe homenagem Poeta Vivo Imortalizado, com um Poema ao Rio Potengi, afixado na Praça da Poesia Canto do Mangue-Rocas RN

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=1048

Angela Togeiro (Brinde de Ano-Novo)


Um segundo para começar o Ano-novo.
No silêncio, na solidão do coração,
um poeta ouve o torvelim dos corações:
Vou parar de fumar, de beber, de me drogar,
vou fazer regime, vou estudar,
vou trabalhar, vou rezar, vou cantar,
vou comprar um carro novo,
vou te amar para sempre. Juro.
Vou... vou... vou... Juro, juro. Juro!
Não vou mais roubar, matar,
não vou mais desejar mal a ninguém,
não vou mais enganar meu semelhante,
não vou mais inventar bombas,
nem outras coisas que destruam a vida,
não vou mais explorar a cidadania do meu povo,
não vou mais ser mau exemplo... de nada. Juro.
Não vou... não vou... não vou... Juro, juro. Juro!
Brindes. Taças que se tocam. Sorrisos.
Abraços. Beijos. Música. Danças.
No coração solitário do poeta,
a esperança renasce majestosa.
O poeta feliz ergue sua taça.
Sua bebida tem gosto de sonho,
de encontros, de fé, de dias melhores.
E o ano-novo chega. Pontual. Inclemente.
...Tantas promessas vãs, tanto ano-novo... todo ano...
A taça do poeta se enche de lágrimas.
No seu coração, a alegria se esvazia.
Fica só a poesia - única certeza e companhia,
até o próximo brinde de Feliz Ano-novo

Fontes:
A Autora
Inagem = www.recados.etc.br