terça-feira, 15 de março de 2011

Lygia Fagundes Telles (Lua Crescente em Amsterdam)

Amsterdan à noite
O jovem casal parou diante do jardim e ali ficou sem palavra ou gesto, apenas olhando. A noite cálida, sem vento. Uma menina loura surgiu na alameda de areia branco-azulada e veio correndo. Ficou a uma certa distância dos forasteiros, observando-os com curiosidade enquanto comia a fatia de bolo que tirou do bolso do avental.

- Vai me dar um pedaço desse bolo? - pediu a jovem estendendo a mão. - Me dá um pedaço, hem, menininha?
- Ela não entende - ele disse.

A jovem levou a mão até a boca.

- Comer, comer! Estou com fome - insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. - Quero comer!
- Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.

A menina foi se afastando de costas. E desatou a correr pelo mesmo caminho por onde viera. Ele adiantou-se para chamar a menina e notou então que a estreita alameda se bifurcava em dois longos braços curvos que deviam se dar as mãos lá no fim, abarcando o pequeno jardim redondo.

- Um abraço tão apertado - ele disse. - Acho que este é o jardim do amor. Tinha lá em casa uma estatueta com um anjo nu fervendo de desejo apesar do mármore, todo inclinado para a amada seminua, chegava a enlaçá-la. Mas as bocas estavam a um milímetro do beijo, um pouco mais que ele baixasse... A aflição que me dava aquelas bocas entreabertas, sem poder se juntar. Sem poder se juntar.
- Mas que língua falam em Amsterdã?

A língua de Amsterdã - ele disse enfiando os dedos nos bolsos da jaqueta, à procura de cigarros. - Teríamos que morrer e renascer aqui para entender o que falam.

- Queria tanto aquele bolo, não sente o cheiro? Queria aquele bolo, uma migalha que fosse e ficaria mastigando, mastigando e o bolo ia se espalhar em mim, na mão, no cabelo, não sente o cheiro?

Ele limpou nas calças os dedos sujos da poeira de fumo que encontrou nos bolsos.

- Vamos dormir aqui. Mas vê se pára de chorar, quer que venha o guarda?
- Quero chorar.
- Então chora.

Molemente ela se recostou numa árvore. Enlaçou-a. Os cabelos lhe caiam em abandono pela cara mas através dos cabelos e da folhagem pôde ver o céu.

- Que lua magrinha. É lua minguante?

Ele avançou até o meio da alameda e expôs a cara que se banhou na luz do céu estrelado.

- Acho que é crescente, tem o formato de um C. Vem, querida, ali tem um banco.
- Não me chame mais de querida.
- Está bem, não chamo.
- Não somos mais queridos, não somos mais nada.
- Está certo. Agora vem.
- O banco é frio, quero minha cama, quero minha cama - ela soluçou e os soluços fracamente se perderam num gemido. - Que fome. Que fome.
- Amanhã a gente...
- Quero hoje! - ela ordenou endireitando o corpo. Voltou para ele a face endurecida. - Se você me amasse mesmo, faria agora um ensopado com seu fígado, com seu coração. Meus cachorros gostavam de coração de boi. Não vai me fazer um ensopado com seu coração, não vai?
- Meu coração é de isopor e isopor não dá nenhum ensopado. Li uma vez que - ele acrescentou. Puxou-a com brandura: - Vem, Ana. Ali tem um banco.
- Meu coração é de verdade.

Ele riu.

- O seu? Isopor ou acrílico, na história que li o homem achou que tinha tanto sofrimento em redor, mas tanto que não agüentou e substituiu seu coração por um de acrílico, acho que era acrílico.
- E daí?

Ele ficou olhando para os pés enegrecidos da jovem, forçando as tiras das sandálias rotas. Subiu o olhar até o jeans esfiapado, pesado de poeira.
- Daí, nada. Não deu certo, ele teria que nascer outra coisa.
- Você sabia contar histórias melhores. Sob a camiseta de algodão transparente os pequeninos bicos dos seios pareciam friorentos. E não estava frio. Foram escurecendo durante a viagem, ele pensou. Qual era a Ana verdadeira, esta ou a outra? A que jurou amá-lo na terra, no mar, no braseiro, na neve, debaixo da ponte, na cama de ouro.
- Você mentiu, Ana.
- Quando? Quando foi que menti?

Ele desviou o olhar desinteressado.

- Vem, que amanhã a gente vai ver o museu de Rembrandt, lembra? Você disse que era o que mais queria ver no mundo.
- Tenho ódio de Rembrandt.
- Não esfregue assim a cara, Ana. Você vai se machucar.
- Quero me machucar.
- Então se machuque. Mas vem.
- Minhas unhas eram limpas. E agora esta crosta - gemeu ela examinando os dedos em garra. Limpou a gota de sangue que lhe escorreu do arranhão aberto no queixo. - Confessa que quer seguir sozinho a viagem, que quer se ver livre de mim!

Nem isso. Não queria nada, apenas comer. E mesmo assim, sem aquele antigo empenho do começo. Gostaria também de sair dançando, a música leve, ele leve e dançando por entre as árvores até se desintegrar numa pirueta.

- Você disse que seria a menina mais feliz do mundo quando pisasse comigo em Amsterdã.
- Tenho ódio de Amsterdã. Eu era tão perfumada, tão limpa. Me sujei com você.
- Nos sujamos quando acabou o amor. Agora vem, vamos dormir naquele banco. Vem, Ana.

Ela puxou-lhe a barba.

- Quando foi que fiquei assim tão imunda, fala!
- Mas eu já disse, quando deixou de me amar.
- Mas você também - ela soqueou-lhe fracamente o peito. - Nega que você também...
- Sim, nós dois. A queda dos anjos, não tem um livro? Ah, que diferença faz. Vem.
- O banco é frio.

Quando ele a tomou pela cintura, chegou a se assustar um pouco: era como se estivesse carregando uma criança, precisamente aquela menininha que fugira há pouco com seu pedaço de bolo. Quis se comover. E descobriu que se inquietara mais com o susto da menina do que com o corpo que agora carregava como se carrega uma empoeirada boneca de vitrina, sem saber o que fazer com ela. Depositou-a no banco e sentou-se ao lado. Contudo, era lua crescente. E estavam em Amsterdâ. Abriu os braços. Tão oco. Leve. Poderia sair voando pelo jardim, pela cidade. Só o coração pesando - não era estranho? De onde vinha esse peso? Das lembranças? Pior do que a ausência do amor, a memória.

- E onde estão os outros? Para a viagem? Você não disse que era aqui o reino deles? - perguntou ela dobrando o corpo para a frente até encostar o queixo nos joelhos. - Tudo invenção. Isso de Marte ser pedregoso, deserto. Uma vez fui lá, queria tanto voltar. Detesto este jardim.
- Perdemos o outro.
- Que outro?

A voz dela também mudara: era como se viesse do fundo de uma caverna fria. Sem saída. Se ao menos pudesse transmitir-lhe esse distanciamento. Nem piedade nem rancor.

- Você sabia, Ana? Algumas estrelas são leves assim como o ar, a gente podia carregá-las numa maleta. Uma bagagem de estrelas. Já pensou no espanto do homem que fosse roubar essa maleta? Ficaria para sempre com as mãos cintilantes, mas tão cintilantes que não poderia mais tirar as luvas.
- Olha minhas unhas. Até a menininha fugiu de mim - queixou-se ela enlaçando as pernas.
- Desconfiou que você ia avançar no seu bolo.
- Olha minhas unhas. Será que aqui também dão comida em troca de sangue? -
- Não sei.
- Uma droga de comida. Aquela de Marrocos - disse ela esfregando na areia a sola da sandália.
- Nosso sangue também deve ser uma droga de sangue.

O silêncio foi se fazendo de pequenos ruídos de bichos e plantas até formar um tênue tecido que perpassava pela folhagem, enganchava-se imponderável numa folha e prosseguia em ondas até se romper no bico de um pássaro.

- Queria um chocolate quente com bolo. O creme, eu enchia uma colher de creme que se espalhava na minha boca, eu abria a boca...

Abriu a boca. Fechou os olhos.

Ele sorriu:

- Estou ouvindo uma música, a gente podia dançar. Se a gente se amasse a gente saía dançando.

Ela levantou as mãos e passou as pontas dos dedos nos cabelos. Na boca.

- E agora? O que acontece quando não se tem mais nada com o amor?

Quase ele levou de novo a mão no bolso para pegar o cigarro, onde fumara o último?

- Sopra o vento e a gente vira outra coisa.
- Que coisa?
- Sei lá. Não quero é voltar a ser gente, eu teria que conviver com as pessoas e as pessoas - ele murmurou. - Queria ser um passarinho, vi um dia um passarinho bem de perto e achei que devia ser simples a vida de um passarinho de penas azuis, os olhinhos lustrosos. Acho que queria ser aquele passarinho.
- Nunca me teria como companheira, nunca. Gosto de mel, acho que quero ser borboleta. É fácil a vida de borboleta?
- E curta.

O vento soprou tão forte que a menina loura teve que parar porque o avental lhe tapou a cara. Segurou o avental, arrumou a fatia de bolo dentro do guardanapo e olhou em redor. Aproximou-se do banco vazio. Procurou por entre as árvores, voltou até o banco e alongou o olhar meio desapontado pela alameda também deserta. Ficou esfregando as solas dos sapatos na areia fina. Guardou o bolo no bolso e agachou-se para ver o passarinho de penas azuis bicando com disciplinada voracidade a borboleta que procurava se esconder debaixo do banco de pedra.

Fonte:
TELLES, Lygia Fagundes. Mistérios. 4a. Edição. Nova Fronteira, 1981.

Carlos Leite Ribeiro (Teimoso & Teimosa)


Foi há muito tempo. Naquele dia...

Último encontro de dois seres que se amavam, mas como eram muito teimosos e muito orgulhosos, nunca conseguiram encontrar a fórmula que harmonizasse as suas naturais divergências.

Tal teimosia deu origem a um afastamento que tudo indicava ser definitivo.

Ela - "...tu não me apareças mais à minha frente, nem procures veres-me mais, porque eu para ti morri - entendeste? Morri!... Se por acaso, alguma vez, me encontrares na rua, por favor, muda logo de passeio e nem de soslaio olhes para mim! Nunca te esqueças, disto que te digo!"

Ele - "O que disseste também se aplica a ti, e mais, nem pensamentos em mim te autorizo a teres, porque eu não preciso, nem precisarei de ti para nada. Nada - entendeste?!... Nada! Agora, desaparece da minha vista para sempre - mulher malvada! Para sempre!
......

Passados alguns meses ambos casaram com namoros que entretanto tinham arranjado.

Foram viver para terras diferentes e nunca mais se encontraram.

O ódio que votaram um ao outro, tinha surgido efeito. Mas... Há sempre um mas...
......

Estávamos na véspera do Natal.

À porta de um supermercado, Ele, hesitou mas por fim resolveu entrar para fazer as compras que ainda lhe faltavam. Já estava quase aviado, quando ao passar por um corredor, avistou uma prateleira com bolos de rei. Ergueu o braço para ir buscar um, ao mesmo tempo que uma senhora teve a mesma ideia e fez o mesmo gesto. Resultado: o mesmo bolo que ambos agarraram caiu-lhes a seus pés, e ambos, ao tentar apanhá-lo, com a precipitação, chocaram com as cabeças um do outro...

Ainda massageando as cabeças, ambos olharam um para o outro.

Ela - Olha!... Que fazes tu aqui? - perguntou-lhe muito admirada.

Ele – Faço o mesmo que tu. Mas noto que continuas a teres a cabeça muito rija!

Ela – Oh menino, isso pode eu dizer de ti; olha o "galo" que me fizeste na cabeça... – Disse-lhe Ela enquanto afastava o cabelo para lhe mostrar um inchaço que já começava a notar-se - e continuou:

Ela - Com tantos estabelecimentos que para aí existem, tinhas que vir hoje e à mesma hora que eu também vinha, a este... É preciso ter azar!

Engrossando um pouco a voz, respondeu-lhe:

Ele: - Se eu soubesse que estavas aqui, nem nesta rua teria passado. Nem nesta terra! Que pouca sorte a minha! Bem, em que ficamos: levas o bolo ou levo eu?

Olhando-o de soslaio, disse-lhe:

- Sim, eu vou tirar o meu bolo. Quero lá saber se tu também tiras ou não o teu! E para já, a conversa acabou. Feliz Natal, passa muito bem, que não foi prazer nenhum ter-te encontrado!

Ele sorriu. Apesar dos anos, Ela, continuava "espevitada" como era dantes. E também continuava muito bonita... Por casualidade, tinha sabido há pouco tempo que ela também tinha enviuvado. Marotamente procurou a "chateá-la” um pouco mais:

- Como esse carrito das tuas compras, está muito pesado e a rolar mal, eu tenho muito prazer de o te levar até lá fora...

Ela mostrou logo o seu desacordo com tal oferta. Mas o carrito estava de facto muito pesado e rolava muito mal. Fingindo-se mais zangada do que de facto estava, lá acedeu:

- Olha que é só até à porta, pois o meu carro está ali perto.

Tentando ser mais "gozado", do que de facto era, Ele lá lhe foi dizendo:

- Não te preocupes. Eu só faço esta "gentileza" para te ver o mais longe possível; imagina, o mais rapidamente possível, de mim!"

Depois de passarem pela "caixa", Ele levou-lhe o carro cheio de compras e a rolar mal, até junto do automóvel dela, como era o seu desejo. Ela quase que lhe agradeceu:

- E pronto, acaba aqui o nosso encontro - o nosso inesperado encontro. Confesso que não tive o menor prazer em tornar-te a ver!

Não querendo ficar por baixo das palavras dela, logo lhe respondeu:

- Olha que estou plenamente de acordo contigo! Mas que lá foi um enorme prazer ter-te ajudado, isso foi. Ah antes que me esqueça, quero pedir-te desculpa de te ter feito, involuntariamente, esse "galo” na tua cabeça. Assim, talvez logo à noite, penses em mim!

Ela ao ouvir isto, quase que o "fuzilou" com os olhos, e disparou-lhe em seguida:

- Não sejas convencido, porque eu sou (e sempre serei) incapaz de pensar em ti. Pronto, pronto, a conversa já vai longa! Muito obrigado pela tua (inesperada) "gentileza" e mais uma vez um Feliz Natal para ti. Oxalá que nunca mais nos encontraremos. Vá lá, agora, sai da minha frente.

Dizendo-lhe isto, Ela entrou para dentro do carro, pô-lo a trabalhar, e, quando estava quase a arrancar, debruçou-se para o seu lado direito, e abrindo o vidro, perguntou-lhe:

- Olha lá, "menino", com quem vais tu passar a noite da Consoada? E logo rematou: Não é que me interesse, melhor, não tenho o mínimo interesse em ti nem da tua vida.

Ele parou, olhou-a nos olhos e, com um sorriso algo triste, respondeu-lhe:

- Como é já habitual há alguns anos, vou passar esta noite sozinho.

Ao sentir a tristeza dele, Ela, quebrou um pouco o seu ar que pretendia ser altivo. Mas "reguila" como era, não se conteve e disse-lhe em tom de despedida: - Isso acontece muitas vezes às pessoas más, de feitio irascível.

E lá seguiram o seu caminho, cada um para seu lado...
......

Ele voltou a entrar novamente no estabelecimento. Abeirou-se do carrito que lá deixara com as suas compras. Pensava nela:

- Porque a tinha encontrado? Porque lhe tinha falado?

Agora seria pior, pois não parava de pensar nela. A sua cabeça estava feita num verdadeiro caos. Sentiu-se revoltado. Já não lhe apetecia comprar mais nada. Não queria estar mais naquele ambiente do supermercado. Deu meia-volta ao carrito para se vir embora. Espanto seu, Ela estava novamente na sua frente. Mal pode balbuciar:

- Tu, novamente aqui...?!

Calmamente, Ela, altivamente, respondeu-lhe:

- Não penses que voltei por tua causa! Voltei, sim, porque esqueci-me de comprar umas coisas, nada mais... Ou já pensavas que?...

Ao encará-lo novamente, notou que Ele tinha os olhos de quem queria chorar. E até a sua voz era mais suave. Sentiu um grande arrepio. Nesse momento, por qualquer motivo ou avaria, as luzes do estabelecimento apagaram-se. Ela sobressaltou-se e nervosa como estava, quase lhe suplicou:

- Com esta escuridão, é melhor irmos embora.

Ele logo concordou:

- Talvez pela primeira vez na vida, estou plenamente de acordo contigo.

Dirigiram-se então para a saída. E, Ela estava ali a seu lado. Tinha a sensação de ouvir a sua respiração e sentia o calor da sua mão, que estava junto da sua. Parecia sonhar um sonho lindo, e a meia voz, balbuciou: -

- Já vejo a luz da rua. Não será bem uma luzinha "ao fundo de um túnel", mas quase...

Admirada (ou talvez não) Ela logo retorquiu-lhe:

- O que é que estás para aí a dizer?

Embora hesitante, Ele respondeu-lhe timidamente:

- Bem, é que... é que... como hei-de dizer… É que gostava imenso de cear contigo esta noite...

Ela fingiu-se muito admirada com o que ouvira momentos antes, passando a mão pelos ainda belos cabelos, embora já algo grisalhos, disse-lhe:

- Ho "menino", controla-te...pois deves de estar a delirar! Que surpresas guardou-me o destino para hoje! Olha cá para mim...não, não, não ... Repara, eu já tenho o meu programa para esta noite: o meu filho vai a minha casa com a mulher e o meu netinho; talvez também uns primos, além de umas vizinhas...

Ele interrompeu-a ao retorquir-lhe tristemente:

- Só eu é que não posso ir, não é assim?

Ela encarou-o novamente. Sorriu (talvez com malícia) mas notava-se algum nervosismo:

- Ai, tu só me trazes problemas. Como é que eu posso agora anular os convites, não me dizes? Mas porque é que eu te tinha que te encontrar novamente, e logo neste dia? Tu, como sempre, só me trazes trabalhos e problemas.

Ele até parecia que estava no meio de um sonho. Um sonho lindo. Não, não queria acordar. Mas desta vez, Ela, estava ali a seu lado, compreensiva e com uma certa doçura no olhar e na voz, que nunca tinha imaginado que Ela seria capaz...Ainda que timidamente, atreveu-se a balbuciar: - Então, "menina...Às oito horas, está bem?...

Ela ainda hesitou. Escondeu a cara entre as suas mãos. Depois fez-lhe uma festinha no rosto dele, dizendo por fim:

- Mas olha que eu não vou a tua casa!

Visivelmente satisfeito, e porque não dize-lo, muito admirado com Ela, também aprovou.

- Linda, não tem importância nenhuma esse facto, pois eu, vou a tua casa!

Ela, começou logo a fazer contas à vida:

- Oito horas?... Olha menino, vai um pouco mais cedo, pois o programa da Televisão começa às sete, e assim poderíamos o ver desde o princípio...

Ele, sorriu e pensou:

- Ou muito me engano, ou nunca mais passarei outro Natal sozinho!"

Fontes:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.142 a 144)


Mensagens Poéticas n. 142
Uma Trova Nacional
No Carnaval, meus amores,
vou atrás de outros carinhos:
sensualidade de flores
e canto de passarinhos.
(OLYMPIO COUTINHO/MG)
Uma Trova Potiguar

Triste sina a do andarilho,
sem teto, sem proteção...
Transeunte maltrapilho,
a mendigar pelo pão.
(DJALMA MOTA/RN)
Uma Trova de Ademar
Meu “currículo” é comum,
digo com toda alegria:
não tenho curso nenhum...
Mas sou formado em poesia!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram
Meus sentimentos diversos
prendo em poemas pequenos;
quem na vida deixa versos,
parece que morre menos...
(LUIZ OTÁVIO/RJ)

Simplesmente Poesia
– José Alberto Costa/AL –
VIDA REINVENTADA

A noite minh'alma percorre
o infinito espaço
das lembranças perdidas.
Enquanto durmo,
recolhe pedaços
dispersos de mim,
reinventando uma vida
de coisas esquecidas,
revolvendo escaninhos
de desejos contidos
repletos de sonhos
da adolescência
que deixei fugir.

Estrofe do Dia

Perdi os meus ideais,
minha existência está finda,
apenas recordo ainda
tempos que não voltam mais;
me restam só os sinais
das chagas do desenganos,
machucado pelos danos
chocado, sentindo medo,
olhando para o rochedo
da serrania dos anos.
(JOSUÉ DA CRUZ/PB)

Soneto do Dia
– Diamantino Ferreira/RJ –
INVEJA

- Como invejo as estrelas!... Como invejo
a placidez da lua, o brilho intenso
dos astros cintilantes... Quando penso
no que existe de belo e malfazejo!...

Ausente das disputas de um pretenso
mundo estéril, malévolo e sem pejo,
sua apatia é tudo quanto almejo
para esquivar-me aos que não têm bom senso...

Desejo vão!... Porém, fosse verdade...
Pudesse olhar, do céu, toda a maldade...
As coisas vis, de lá pudesse vê-las!...

Como seria bom!... Infelizmente,
Tais coisas acontecem tão somente
Quando a mente vagueia entre as estrelas...

Mensagens Poéticas n. 143

Uma Trova Nacional

Meus desejos reprimidos
são lembrados, de verdade,
nos momentos bem vividos
dos carnavais da saudade!...
(GUTEMBERG LIBERATO/CE)

Uma Trova Potiguar
Carnaval, festa, nudez,
o juízo fica mudo,
mas não perca a sensatez.
Prevenção é quase tudo!...
(IEDA LIMA/RN)

Uma Trova “NÃO” Premiada
Nesta paixão sem igual,
de alegria verdadeira,
nossa vida é um Carnaval
sem direito à quarta-feira!
(ARLINDO TADEU HAGEN/MG)

Uma Trova de Ademar
Sem bloco e sem fantasia
é o carnaval do Poeta.
Não pode faltar poesia,
pois se faltar... Deus completa!
(ADEMAR MACEDO/RN)
...E Suas Trovas Ficaram

A fantasia acabou...
Joguei a máscara a esmo,
e, da farsa, o que restou:
- eu, palhaço de mim mesmo!
(NÁDIA HUGUENIN/RJ)

Simplesmente Poesia

– Efigênia Coutinho/SC –
BRINCAR DE SER FELIZ!!

O carnaval já vem chegando
Os tambores o samba batucam,
Vou nessa! Do morro já desço dançando.
Lá no meio a gente esquece,
Pois as luzes nos encantam.
A folia num sensual vai-e-vem,
Entre beijos nos aquece
Com o gosto que a vida tem.

Dancei, cantei, do asfalto pura emoção!
Eu quero bis... Brincar de ser feliz!
Pelo carnaval da ilusão,
O amor vem nas cores do matiz,
Este Amor que a fé não se desfez
Bate alegre em meu coração:
Tentando mais outra vez...
Brincar de ser Feliz!...

E assim eu vou desfilando,
Pelas passarelas da folia.
Vou nessa, o ritmo acompanhando,
Num gozo de pura alegria.
Soltando as amarras, sentindo a emoção,
Vestindo as cores da fantasia,
Que se molda ao meu coração,
Eu vou... Cantando o samba da excitação.

Estrofe do Dia

Hoje eu faço do “repente”
minha grande alegoria,
nos versos de uma setilha
ponho a minha fantasia
para a festa ser completa;
pois carnaval de poeta
não pode faltar poesia.
(ADEMAR MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
CARNAVAL DE ILUSÕES.

Carnaval, explosão maior de uma alegria,
fantasia, pierrô no olhar da colombina,
“carne vale” e se vale, então a adrenalina,
tem a força total da carta de alforria.

O pandeiro dá o tom e o ritmo da harmonia,
parceria se faz com samba e dançarina,
uma porta-bandeira de alma feminina
a bailar sobre o asfalto, na coreografia.

O reinado de momo que nos fez sonhar,
sermos príncipes, reis para a escola ganhar,
bateria, no enredo e grande evolução.

Quarta-feira de cinzas, não tarda a chegar
na avenida deserta como a flutuar,
despertamos de um sonho: Foi tudo ilusão!

Mensagens Poéticas n. 144

Uma Trova Nacional

Minha mulher é nanica,
mas na cama é colossal:
ronca mais do que cuíca
na terça de carnaval!...
(WANDA DE PAULA MOURTHÉ/MG)

Uma Trova Potiguar
Para aumentar meu desejo
vou botar pimenta e sal
para esquentar cada beijo
trocado no carnaval.
(MARCOS MEDEIROS/RN)

Uma Trova “NÃO” Premiada
No carnaval; distraída,
saliente e bem dotada,
a jovem se viu perdida
e nem se deu por achada!
(JOSUÉ VARGAS FERREIRA/SP)

Uma Trova de Ademar
Cabra que se fantasia,
veste saia e bota peito;
só é homem no dia-a-dia
porque não tem outro jeito.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Sambando quase pelada
no Bloco do “Vai sem Medo”,
Paulete foi mais cantada
que o refrão do samba-enredo!
(ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE)

Soneto do Dia
– Pedro Mello/SP –
CONSAGRAÇÃO.

Cansado do "jejum" que a sua idade
lhe impôs à atividade sexual,
o vovô se animou com a novidade
de que o Viagra não faria mal...

Cheio de amor pra dar e de Ansiedade,
Alfredo foi pular o Carnaval...
E na Sapucaí, uma beldade
fê-lo sentir-se forte e jovial...

Mas na hora "H"... seu coração se abate...
Alfredo é posto fora de combate,
mas sucumbe feliz nosso ancião:

É velado com grande galhardia
e, escondendo o "tamanho" da alegria,
flores a mais enfeitam seu caixão...
---
Fonte:
Ademar Macedo
2, 3 e 4 de Março

Nilto Maciel (Dimas Macedo e o Doce Lar das Letras)


Minhas amizades com escritores cearenses se iniciaram em três etapas: até meados de 1977 (quando me retirei para Brasília); deste tempo até setembro de 2002 (período em que vivi na Capital Federal); e o depois disto. A primeira começou pouco antes do surgimento da revista O Saco: Airton Monte, Batista de Lima, Carlos Emílio, Gilmar de Carvalho, Jackson Sampaio, Oswald Barroso, Paulo Veras, Renato Saldanha, Rosemberg Cariry, Yehudi Bezerra e outros. Na segunda, sobretudo quando a Fortaleza vinha de férias, me aproximei mais de Adriano Espínola, Floriano Martins, Carlos Augusto Viana, Luciano Maia, Márcio Catunda, Nirton Venâncio e Rogaciano Leite Filho, participantes do grupo Siriará. A seguir, conheci Dimas Macedo. Não me lembro da apresentação, quem a fez, onde e quando. Pode ter sido numa das noitadas no Estoril. Não sei, pois bebíamos além do que sorviam os idólatras de Baco e, assim, quase todo o meu viver de então o arrastou o vórtice do olvido ou se afundou nas reentrâncias da memória.

Sei, porém, que é de 1980 a divulgação de seu primeiro conjunto de poemas – A distância de todas as coisas –, que me ofereceu e li, com deleite, quer à primeira refeição, quer a desoras, vésperas de calar a boca. E escrevi um artigo, publicado em jornais: “Poemas das Lavras de um poeta”. A seguir, em 1986, compôs o prefácio, intitulado “Contos picarescos e alegóricos”, para minha terceira coleção de contos: Punhalzinho cravado de ódio. Não sei se lhe pedi (devo ter pedido) tão grande favor. Se pleiteei, o fiz por ver nele não apenas o poeta, mas o crítico. Eu havia lido Leitura e conjuntura, de 1984, seu primeiro volume de artigos de análise literária. Estávamos amigos e enamorados, eu de sua poesia e seu modo de ver a Literatura, e ele, certamente, de minha prosa de ficção. Passamos a nos corresponder. Cartas longas e curtas, sempre cheias de notícias e comentários de livros. Veio, então, o tempo da revista Literatura. 1992. Convidei-o, desde a primeira hora, para fazer parte do conselho editorial e colaborar com artigos e poemas.

Dimas esteve duas vezes em minha residência de Brasília. Conversamos muito, ele a me pedir informações dos escritores de lá, a me falar dos de cá (sempre com elogios aos mais velhos, assim como aos novos) e de Fortaleza, cidade muito amada dele. Quando a nossa capital visitava, ele me conduzia, de carro, aos mais requintados bares e restaurantes, me apresentava a personalidades da política e das artes, a mulheres elegantes, a noviços das letras, como se eu fosse um príncipe exilado: Fulano, este é Nilto Maciel, o mais... Já ouvi falarem do senhor. Sim, mas não o conhecia de perto. Sempre solícito, sempre bem humorado, sempre muito educado. E sempre sabedor de tudo: de obras a serem publicadas, da biografia quer dos antepassados, quer dos contemporâneos, do folclore que forja a aura de muitos, das dificuldades financeiras deste, da opulência daquele.

Em Brasília, todos o sabiam de nome e de livros. Nem precisava apresentá-lo. Então este é Dimas Macedo? Não o imaginava tão jovem. Admiro demais a sua poesia, rapaz. Um dos melhores poetas do Ceará, terra de grandes escritores. E choviam elogios, que se repetiam muito depois de ele regressar às praias.

Nunca falávamos de política, futebol, mulher, religião, clima, ciência ou qualquer outro assunto que não fosse literatura. Como vai sua família? Não, isso não perguntávamos. Pois não éramos amigos. Nem o somos. Falo de amigos no sentido popular ou tradicional da palavra. Não contamos um ao outro nossos conflitos pessoais ou questões familiares, como costumam fazer os amigos. Não tratamos de confidências do tipo “apaixonei-me por fulana”. Não, isso não. Porque essas comunicações de segredos não as fazem os escritores. Não precisam disso. Elas são traduzidas em poemas, principalmente. Ou nas memórias. Somos, pois, amigos pela literatura ou nela.

Dimas exerce mais de uma atividade profissional, como quase todo escritor, e a elas se dedica com abnegação. Entretanto, se difere de seus colegas na divisão do ano. Seis meses jurista e professor, seis meses poeta e crítico. Chegado o tempo destes, abandona a cátedra, o fórum e o gabinete de procurador do Estado, e se consagra a ler e escrever, participar de lançamentos de livros, festas literárias, encontros, proferir palestras, frequentar bares, restaurantes e livrarias. E eu não sabia disso, por não viver na mesma cidade. Quando recebi carta dele, na qual comunicava seu afastamento temporário das lides literárias, tomei um susto: “Não me escreva até o final do ano, não me mande livros ou quaisquer outras publicações...” Pensei loucuras: o coitado deve ter sofrido imensa decepção. Enviei cartas a amigos para saber o motivo de tão esquisita decisão. Todos me deram a mesma explicação: Não se preocupe, Nilto. Ele é assim mesmo. Logo voltará ao nosso doce lar de ilusões. E voltava mesmo. Com o ímpeto de antes, nova reunião de poemas, novo conjunto de estudos, projetos e mais projetos.

E assim tem sido esse poeta magnífico, esse teórico de ampla visão, esse pensador de altos voos.

Fortaleza, 16 de fevereiro de 2011.

Fonte:
Colaboração do autor. http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/

Lino Mendes (Conversas Curtas com Fernando Máximo)



Falar com FERNANDO MÁXIMO é, pelo menos na nossa região mas não só, falar com alguém que trata por tu a “poesia popular”, e esta pequena “conversa” é disso mesmo elucidativo. Mas entremos na “conversa”, não sem antes lembrar que “ a quadra é o vaso que o Povo põe à janela da sua alma” (Fernando Pessoa).

Amigo Fernando, hoje falemos apenas de Poesia – de Poesia Popular. E a começar, o que caracteriza para si um género poético como popular?

Eu, por mim, caracterizo um género poético como popular, todo aquele que sem se servir de palavras muito rebuscadas consegue transmitir de uma forma fácil, simples e perfeitamente perceptível uma mensagem.

Que géneros populares existem e como os caracteriza?

Para mim existem duas modalidades de poesia que são essencialmente populares: a quadra e as décimas. As quadras e as décimas eram feitas por gentes sem estudos, por gentes do campo que nas suas poucas horas de ócio as desenvolviam. As cantigas à desgarrada não eram mais que improvisação de quadras, feitas na altura sempre em resposta a uma provocação, a um desafio. As décimas, mais elaboradas, eram feitas pelos homens do campo quando sós, pelas planícies, atrás dos gados, iam matutando na vida e conseguiam de modo soberbo, traduzir em verso os seus anseios, os seus medos, a dura realidade da vida de então. Qualquer destes géneros, a quadra e a décima, são expoentes cimeiros da poesia popular.

Estará a poesia popular a ser devidamente divulgada junto dos jovens?

As ambições dos jovens actuais não passam pela aprendizagem da poesia e muito menos da poesia popular. Talvez que se devesse e pudesse ir junto da juventude ler-lhe poesias que os seus familiares mais chegados – tios, avôs – tenham feito e tentar incutir-lhe o espírito de que se eles, sem terem habilitações literárias conseguiam fazer trabalhos tão bem feitos, os jovens, letrados, melhor ainda poderiam dar seguimento à poesia. Mas, sinceramente, acho muito difícil…

Muitos consideram a quadra popular como um produto menor, de fácil elaboração. Em minha opinião porém, as “quadras ao gosto popular” de Fernando Pessoa, estão longe de ter a qualidade das quadras de Aleixo. O que pensa sobre o assunto?

As quadras jamais poderão ser consideradas um produto menor se elas forem feitas com cabeça, tronco e membros. Uma quadra tem que transmitir em quatro versos apenas, uma mensagem, uma crítica, seja ela positiva ou negativa. E tanto quanto mais simples for a sua elaboração quanto mais fácil se tornará a sua percepção.
As quadras do António Aleixo, pela sua profundidade, pela sua sábia elaboração, pelo facto de atingirem perfeitamente os seus objectivos, apesar de serem feitas por um simples cauteleiro, guardador de rebanhos, quase analfabeto, e talvez até mesmo por isso, têm para mim um valor muito maior do que as quadras de Fernando Pessoa, pese embora todo o respeito que tenho por este grande vulto da cultura Nacional.

Como define o actual momento quanto aos Jogos Florais?

Pessoalmente dou grande importância aos Jogos Florais pois eles demonstram uma enorme vontade de escrever por parte daqueles que respondem afirmativamente a esses desafios. A verdade é que são sempre muitos os poetas e prosadores que concorrem a estes eventos culturais.

No entanto preocupa-me uma situação que passo a partilhar: a organização de uns Jogos Florais requer muita dedicação, muita entrega, muitas horas de trabalho. O meu receio é que, quando os “carolas” que agora estão á frente da organização destes eventos não possam mais colaborar, não haja quem lhes dê continuidade e estes concursos literários acabem abruptamente. Sei bem do que estou a falar, pois tenho conhecimento de situações em que tal já se verificou.

Que projecto gostaria fosse elaborado para uma preservação da poesia popular portuguesa?

A poesia não é coisa que se possa ensinar. Menos ainda a poesia popular. Ela é genuína, nasce com a pessoa. No entanto penso que as Associações Culturais devem ter um papel determinante nesta matéria, promovendo encontros de poetas e poetisas, não só na área de acção onde estão inseridas, mas trazendo até si poetas e poetisas doutras regiões para troca de impressões e experiências. Em Avis, há cinco anos que, com assinalável êxito, a Amigos do Concelho de Aviz – Associação Cultural (ACA) – www.aca.com.sapo.pt promove encontros de poetas, percorrendo em cada ano uma freguesia e trazendo até ao concelho de Avis, de cada vez, cerca de 40 poetas que vêm de terras tão distantes como por exemplo Évora, Portalegre, Entroncamento, Alandroal, Vila Viçosa e Ervidel, no Baixo Alentejo, além, é claro, da prata da casa.
É este espírito que deve prevalecer para que a poesia popular não se acabe de todo.

Não será que a décima é uma modalidade em vias de extinção?

A experiência de pertencer á organização dos Jogos Florais de Avis, leva-me a concluir que quem faz poesia em décimas são as pessoas de mais idade. As décimas são de difícil execução, têm regras fixas para serem elaboradas e para serem umas décimas bem feitas, não chega colocar as palavras que rimam no sítio onde é preciso rimar. Além de rimar as palavras têm que fazer sentido, têm que ter uma certa consistência de raciocínio e por vezes isso é difícil de acontecer.

Partindo de uma quadra, o mote, este é depois desenvolvido por mais quarenta versos, o que leva a que as décimas também sejam conhecidas pelos mais idosos como “obras de quarenta pontos”. Como disse atrás, as décimas antigamente eram feitas por quem passava o dia no campo com o gado e sozinho ia pensando nas agruras da vida. A maior parte desses fazedores de décimas não sabiam ler nem escrever. Mas sabiam as regras das décimas. E faziam-nas. E decoravam-nas. Ainda hoje há por aí muito poeta, infelizmente analfabetos, que sabem muitas décimas de cor e que se encontram apenas registadas nas suas memórias.

Cabe-nos a nós, os amantes deste tipo de poesia, fazer uma recolha junto dessa gente para que, um dia, quando eles morrerem, não se perca essa preciosidade que é a sua poesia.

No sentido de preservar precisamente algumas destas situações, a ACA, está a elaborara um livro de recolha de poesia popular de 40 poetas nascidos ou residentes no concelho de Avis, que estima editar em Outubro aquando da 2ª Edição dos “Escritos e Escritores”.

Todos nós temos um papel importante na preservação deste modo de poesia e podemos, fazendo recolhas, evitar que as décimas sejam uma modalidade em extinção, e que se extingam mesmo mais depressa do que o expectável.

Eu por mim estou a fazer a minha parte: tenho recolhidas mais de uma centena de décimas de diversos poetas do meu concelho que contactei e que me deram os seus trabalhos, muitos deles apenas decorados pelos autores.
E você? Vai ficar indiferente?

Fonte:
Colaboração de Lino Mendes/Portugal

Isabel Furini (Palestra: Como Escrever Livros de Ficção)


Quando: 22 de março (terça-feira)
Horário: 19:30 horas,
Local: Livrarias Curitiba do Shopping Estação - Curitiba/PR

Palestra: COMO ESCREVER LIVROS DE FICÇÃO.

Palestrante: escritora Isabel Furini, autora de “O livro do escritor”, da editora Instituto Memória (Curitiba).

ENTRADA FRANCA

Serão abordados assuntos importantes da arte de escrever, entre eles, como criar personagens marcantes, a escolha do enredo, o trabalho do escritor.

Escrever um livro é um sonho para muitas pessoas, a palestra orientará sobre possíveis caminhos para escrever obras de ficção. Segredos de escritores consagrados. Como despertar o escritor interior e estimular a criatividade? Técnicas modernas para reconhecer a própria voz narrativa.

Fonte:
A Palestrante.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia Nacional da Poesia


Mário Quintana
OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Márcia Sanchez Luz
POETA

Sou da palavra a chama que descreve
e alisa e abraça as causas mais diversas.
Se for de outrem a dor que não prescreve,
faço-lhe minha amante mesmo em trevas.

Se acaso o sopro me lançar à verve
de uma cantiga envolta em densas névoas,
deixo a cadência se verter bem breve
e transformar em flor dores primevas.

Mas se no equívoco da fantasia
eu acordar de um sonho desvalido,
não vou chorar – conheço a ventania!

Sei que adiante a luz que outrora havia
vai ressurgir até no amor premido
por uma febre ardendo em demasia.

Olivaldo Junior
POEMA AO DIA NACIONAL DA POESIA

Hoje, 14 de março, é Dia Nacional da Poesia.
Poesia... Porque existe a Poesia, existe o Poema.
Poema... Porque existe o Poema, existe o Poeta.
Tudo assim mesmo, com letra maiúscula e tudo.
Tudo assim, com letra maiúscula, sem fantasia,
que tudo tem seu próprio sentido nesse mundo.
Nada, nessa terra, é mero acaso, falso problema.
Tudo é Poesia, que se esvai e recai neste Poeta.

Hoje, eu paro e me lembro de que faço poesia,
com letra minúscula e tudo, que tudo é poema.
Deus, que é o maior de todos os poetas, poeta,
criador de curvas e de retas, Deus é o escudo,
a escada e a escola para o mundo, a Sua poesia.

Faz tempo que não mando um recado, eu sei.
Faz tempo que não tenho mais tempo, sabia?
Sei que estou em falta, mas falto por que sei
que sou todo em falta, entalhado em poesia.
Poesia, sem demagogia, sabe que não deixei
de pensar em você, companheiro nesse dia.

Efigênia Coutinho
SER POETA

A noite sempre cálida me espera ,
Tenho em versos a recente emoção
Da inquietude que abraça a quimera,
Enquanto no meu peito pulsa a oração.

A noite ouve o acalanto, esta voz
Que brada a rima solta, e então viajo;
E busco o sopro terno do ninar em nós,
Onde se farta o frêmito voraz, que trajo.

Lá , ao vento espalhado, e envolto,
Meu verso solto, que diz: mortal, eu sou
Na arte que te fecunda e faz envolto...


Porque ser poeta é ser alguém que embelezou
A prosa e o lado vil do caso vário,
E deu-se a Deus que equilibra este rosário.

Angela Togeiro
NASCER DE UM POEMA - DIA NACIONAL DA POESIA

Olho a folha branca,
vazia,
querendo um poema.
Olho a caneta,
com tinta
azul? vermelha? preta?
Olho a lapiseira. A borracha.
Uma inquietação me domina,
quero, preciso de um poema meu
nascendo sobre este papel branco...
feito de árvores mortas...
Escuto o meu silêncio...
Dentro de mim há um livro,
um livro de poemas
como este,
que espera o momento sideral
de conjunturas numerais,
espirituais, cabalísticas
de que não entendo nada,
para vir a lume.

Sorvem de mim
a alma,
e no papel
parecem libertados.
Tento em vão fechar meu livro
prender meu poema.

É tarde,
outro poema já está a caminho.

Climério Rocha
BUSQUE A POESIA

Contemplar com prazer
Ser expectador da vida e das coisas
Eis uma das muitas definições do gosto
Dá até para saber que a vida às vezes é de morte
Faça então uma canção
Um cantochão, um canto-céu
Opere uma ópera em silêncio
Deixe que a tristeza se arraste pelas ruas das metrópoles
Recolha-se às sombras dos edifícios
Busque a poesia onde não há
Contemplar com prazer
Ser inocente da vida e das coisas
Eis a leveza de uma asa em pleno vôo
A vida – no tempo – é mais que um talho, um corte
Faça um verso então
Um verso preso, um verso livre
Grite aquele grito em silêncio
Deixe que a alegria povoe os povoados
Recolha-se ao sol desses desertos
Busque a poesia onde haverá

Valdevinoxis
POESIA EM SONETO

É por alma de gente anónima
Que escorre a poesia que é dita
Que é toda livre... e anima
E enche... e não se evita.

É por alma boémia de um escritor
Que rezam todos os homens e sinos
Quando se rimam dizeres de amor
Nas bocas de ímpios e libertinos.

Digo eu, que a poesia vem da vida,
Que é flor de terra rica
E que nunca morre sem ser lida.

Digo eu, que a poesia é súplica
Que invoca de vontade nascida
A alma e o corpo a que se dedica.

Fontes:
Colaboração de Márcia Sanchez Luz.
Colaboração de Olivaldo Junior.
Colaboração de Efigênia Coutinho.
http://66.228.120.252/poesiascomemorativas/2845657
http://advivo.com.br/blog/luisnassif/o-dia-nacional-da-poesia
http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm

Castro Alves (Poesias)


A poesia é a arte da linguagem humana, do gênero lírico, que expressa sentimento através do ritmo e da palavra cantada. Seus fins estéticos transformaram a forma usual da fala em recursos formais, através das rimas cadenciadas.

As poesias fazem adoração a alguém ou a algo, mas pode ser contextualizada dentro do gênero satírico também.

Existem três tipos de poesias: as existenciais, que retratam as experiências de vida, a morte, as angústias, a velhice e a solidão; as líricas, que trazem as emoções do autor; e a social, trazendo como temática principal as questões sociais e políticas.

A poesia ganhou um dia específico, sendo este criado em homenagem ao poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), no dia de seu nascimento, 14 de março.

Castro Alves ficou conhecido como o “poeta dos escravos”, pois lutou grandemente pela abolição da escravidão. Além disso, era um grande defensor do sistema republicano de governo, onde o povo elege seu presidente através do voto direto e secreto.

Sua indignação quanto ao preconceito racial ficou registrada na poesia “Navio Negreiro”, chegando a fazer um protesto contra a situação em que viviam os negros. Mas seu primeiro poema que retratava a escravidão foi “A Canção do Africano”, publicado em A Primavera.

Cursou direito na faculdade do Recife e teve grande participação na vida política da Faculdade, nas sociedades estudantis, onde desde cedo recebera calorosas saudações.

Castro Alves era um jovem bonito, esbelto, de pele clara, com uma voz marcante e forte. Sua beleza o fez conquistar a admiração dos homens, mas principalmente as paixões das mulheres, que puderam ser registrados em seus versos, considerados mais tarde como os poemas líricos mais lindos do Brasil.
(texto de Jussara de Barros, para a Revista Nova Escola)
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AMAR E SER AMADO

Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?

AO DOIS DE JULHO

ÍNDIO GIGANTE adormecera um dia:
Junto aos Andes por terra era prostrado;
Diríeis um colosso deslocado
De um pedestal de imensa serrania.

Dos ferros a tinir a voz sombria
Desperta-o... Ruge-lhe o trovão um brado.
Roçam-lhe a fronte as nuvens... sopesado
À destra o fulvo raio lhe alumia.

Foi luta de titães, luta tremenda!
Enfim aos pés do Atlante americano
S'estorce Portugal n'angústia horrenda.

E hoje o dedo de Deus escreve ufano:
Tremei, tiranos, desta triste lenda;
Livres, erguei o colo soberano!

AO DIA DOUS DE JULHO
Versos recitados em uma reunião de estudantes baianos

PARTE PRIMEIRA
O CATIVO

QUE CÉU tão negro... que tão negra a terra,
Rugindo rola-se o trovão no espaço...
Falanges negras de chumbadas nuvens
Raios vomitam num medonho abraço...

Na terra perdem-se ao tinir de ferros
Entre soluços mil sentidos cantos,
E ao som do cedro que os machados tombam
Chora o cativo amargurados prantos.

Do rosto másculo lhe goteja a lágrima
Que as ervas torra do queimado chão.
Procura a esposa que lhe mostre o filho...
O céu troveja e lhe responde — não.

Um suor frio lhe passou nos membros...
No corpo a vida para sempre cansa.
Caiu por terra, mas lembrando o filho
Com os lábios hirtos repetiu — vingança.

Nem pôde ao menos abraçar a esposa
Na hora triste do seu passamento.
São-lhe sudário da mangueira velha
As folhas secas que lhe atira o vento.

Só tem por prantos o gemer tristonho
Da ventania que rugindo passa.
— Triste epopéia do guerreiro forte
Que enfim, cativo fez a morte escassa...

E após... Um dia a soluçar nos ferros
Passa o filhinho p'la senil mangueira...
E passa o triste sem saber ao menos
Do pátrio túmulo ter passado à beira...

PARTE SEGUNDA
A VINGANÇA

Não ouvis que voz terrível
Que nos traz a ventania
Que há pouco só nos trazia
Tristes suspiros de dor?...
E do relâmpago sinistro...
Vede... As lousas estalaram...
E os espectros acordaram...
Medonhos no seu furor...

Ergueram-se mil fantasmas
Hirsutos e suarentos
A branca mortalha aos ventos
Flutua longa alvadia.
Tiradentes mostra o insulto
Que lhe pesa sobre a fronte,
Gonzaga aponta o horizonte
Co'a mão descarnada e fria.

E Cláudio, e o forte Alvarenga
Recordam o seu passado,
Só de dores coroado...
— Triste c'roa do infeliz...
Pedem castigo p'ra aqueles
Que assinaram a — sentença —
— De — morte — a quem na defensa
Lutava de seu país.

A mãe clama pelo filho...
E pelo amante a donzela...
O índio pela mata bela
Onde a vida lh'era mansa...
— Vingança — uníssona e forte
Uma voz terrível brada...
Três séculos surgem do nada
Para bradarem — vingança —

PARTE TERCEIRA
SAUDAÇÃO

Quereis que vos conte a história brasílea
Que Deus copiara sorrindo talvez...
E as lutas terríveis do moço gigante
Com o velho que ao mundo ditara só leis...

Oh! Não... Que sois filhos do povo dos bravos...
Sois filhos hercúleos do hercúleo cruzeiro...
Sabeis esta história... Quem é que não sabe-a?
Quem é?... Se não sabe-a... não é Brasileiro.

E a este que a digam as águas de prata
Que um dia de sangue ficaram também...
Que a digam as águias, que viram as lutas
E foram contá-las às águias de além...

E o velho vigia dos louros da pátria
Da história brasílea servil sentinela
— O campo formoso ao grão Pirajá —
Que para cantá-la deitado lá vela.

E após essa luta... Nos ares um grito
Passou repetindo-se em vales e montes...
E a ouvi-lo os tiranos nos tronos tremeram
E viram tremerem-lhe as cr'oas nas frontes...

E um povo de bravos ergueu-se dizendo:
"Já somos nós livres, já somos nação!..."
Co'as águas imensas o imenso Amazonas
Pomposo repete: — "Sou livre em meu chão!..."

E ao grito de livres as fontes correram
E em lindas cascatas os rios saltaram...
Ergueram-se cantos festivos de hosanas,
As flores do seio da terra brotaram...

É hoje, senhores, o dia da pátria.
Que d'alma — os Baianos — conservam no fundo,
Saudemos o dia que ergueu-nos do lodo...
Que marca um progresso na vida do mundo.

Senhores, a glória de um povo é ser livre...
O nome de livres é o nosso brasão.
Seja esta a divisa da nossa existência.
E este epitáfio se escreva no chão...

AOS ESTUDANTES VOLUNTÁRIOS
(Recitativo)

Poesia recitada no Teatro Santa Isabel na noite do oferecimento da Academia.

O CÉU é alma... O relâmpago
É uma idéia de luz,
Que pelo crânio do espaço
Perpassa, brilha e reluz...
Depois o trovão — é o verbo.
Segue-o o raio — gládio acerbo,
Que se desdobra soberbo
Pelos páramos azuis.

Ação e idéia — são gêmeos,
Quem as pudera apartar?...
O fato — é a vaga agitada
Do pensamento — que é o mar...
Cisma o oceano curvado,
Mas da procela vibrado,
Solta as crinas indomado,
Parece o espaço escalar.

Assim sois vós!... Nem se pense
Que o livro enfraquece a mão.
Troca-se a pena com o sabre,
Ontem — Numa... Hoje — Catão...
É o mesmo... Se a pena é espada
Por mão de Homero vibrada,
Com o gládio — epopéia ousada
Traça mundos — Napoleão...

Que importa os raios trovejem
Nas florestas do existir
Parti, pois! Homens do livro!
Podeis ousados partir!
Pois sereis. . ., vindo com glória,
Ou morrendo na vitória...
Homens do livro da História
Dessa Bíblia do porvir!

DURANTE UM TEMPORAL

VAI FUNDA a tempestade no infinito,
Ruge o ciclone túmido e feroz...
Uiva a jaula dos tigres da procela
— Eu sonho tua voz —

Cruzam as nuvens refulgentes, negras,
Na mão do vento em desgrenhados elos...
Eu vejo sobre a seda do corpete
Teus lúbricos cabelos ...

Do relâmpago a luz rasga até o fundo
Os abismos intérminos do ar...
Eu sondo o firmamento de tua alma,
À luz de teu olhar ...

Sobre o peito das vagas arquejantes
Borrifa a espuma em ósculos o espaço...
Eu — penso ver arfando, alvinitentes,
As rendas no regaço.

A terra treme... As folhas descaídas
Rangem ao choque rijo do granizo
Como acalenta um coração aflito,
Como é bom teu sorriso,....

Que importa o vendaval, a noite, os euros,
Os trovões predizendo o cataclismo...
Se em ti pensando some-se o universo
E em ti somente eu cismo...

Tu és a minha vida ... o ar que aspiro ...
Não há tormentas quando estás em calma.
Para mim só há raios em teus olhos,
Procelas em tua alma!

EM QUE PENSAS?

Oh! Pepita, charmante rifle
Mon amour, à quoi penses-tu?
ALF. DE MuswT.

TU PENSAS na flor que nasce
Menos bela do que tu!
Na borboleta vivace
Beijando teu colo nu!

No raio da lua algente
Que bebe no teu olhar ...
Como um cisne alvinitente
No cálix do nenufar.

Nas orvalhadas cantigas
Destas selvagens manhãs...
Nas flores — tuas amigas!
Nas pombas — tuas írmãs!

Tu pensas, é Fiorentina,
No gênio de teu país...
Que uma harpa soberba afina
Em cada seio de atriz.

Na esteira de luz que arrasta
A glória no louco afã!
Nos diademas da Pasta...
Nas palmas de Malibran!

Pensas nos climas distantes
Que um sol vermelho queimou...
Nesses mares ofegantes
Que o teu navio cortou!

Na bruma que lá s'escoa...
Na estrela que morre além...
Na Santa que te abençoa,...
Na Santa que te quer bem!...

Tu pensas n’Arte sagrada,
Nesta severa mulher...
Mais que Débora inspirada...
Mais rutilante que Ester.

Tu pensas em mil quimeras,
Nos orientes do amor.
No vacilar das esferas
Pelas noites de languor.

Nalgum sonho peregrino
Que o teu ideal criou.
Na vassalagem, no hino...
Que a multidão te atirou!

Neste condão que teus dedos
Têm de domar os leões...
No pipilar de uns segredos,
No musgo dos corações...

No livro — que tens no colo!
Nos versos — que tens aos pés!
Nos belos gelos do pólo...
Como teus seios cruéis.

Pensas em tudo que é belo,
Puro, brilhante, ideal...
No teu soberbo cabelo!
No teu dorso escultural!

Nos tesouros de ventura
Que a um'alma podias dar;
No alento da boca pura...
Na graça do puro olhar...

Pensas em tudo que é nobre,
Que entorna luz e fulgor!
Nas minas, que o mar encobre!
Nas avarezas do amor!

Pensas em tudo que invade
O seio de um Querubim!...
Deus! Amor! Felicidade!
... Só tu não pensas em mim!...
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Fontes:
Jornal de Poesia

Ademar Macedo (O Trovadoresco n. 69)

Faça o download do Trovadoresco clicando sobre a figura acima.
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Cada vez mais eu consigo,
separar trigo do joio...
Pra quem precisa de apoio,
meu coração é um abrigo.
Desconhecido ou amigo,
mas seja lá quem ele for
no seu momento de dor
eu ponho a disposição
meu sofrido coração
para os carentes de amor.
(Francisco Macedo/RN)

Casa de rico: a fumaça
é churrasco ou chaminé...
Já, na favela. É desgraça:
“Corre que é fogo Muié!”
(Sérgio Ferreira da Silva/SP)

Tua demora é medida
no relógio das saudades;
cada minuto é uma vida
com sessenta eternidades.
(Adilson de Paula/PR)

E muito mais no Trovadoresco numero 69:
Trovas Potiguares
Trova-Riso!
Simplesmente trovas…
…E Suas trovas ficaram
O Cantinho da Poesia

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas n. 10)


PRECISO DE ESQUECER

Já tentei te esquecer,
ignorar-te
e não mais saber de ti.
Mas quando te vejo
reacende o meu desejo
meu coração estremece
meu peito aquece
tudo em mim enlouquece
tanto quanto sou louco por ti.
A tua imagem me fascina
me alucina
me faz navegar nos sonhos
no mar das ilusões,
flutuar no mundo da fantasia...
E pensar que um dia,
pelo menos um dia...
Possa tê-la em meus braços
sentir os teus abraços
o sabor dos teus beijos
e matar os meus desejos.
Ah... já tentei te esquecer
ignorar-te
e não mais saber de ti.
Mas quando te vejo
enlouqueço de desejo
me encanto
meu coração entra em pranto
e explode de amor.
Eu sabia que te amava,
que te amava muito,
só não sabia que era tanto.
Preciso te esquecer!

BARCO FORA D’ÁGUA

Viajei, rompi fronteiras,
naveguei durante dias
noites inteiras,
agora sou somente,
um barco fora d’água.
Perdi o meu mundo...
Não tenho remo,
leme, nem direção...
Meu destino é a solidão!
Não vejo mais
o mar salpicado de estrelas
e os reflexos prateados
do luar ascendendo.
A luz do sol já não me alcança,
sinto que estou perecendo
ainda que amarrado
ao verde da esperança.

MADRUGADA

Quando chego, em casa,
já de madrugada,
trazendo em mim
o teu perfume,
fico louco de ciúmes
do travesseiro que abraças,
do cobertor que te aquece.
Invejo as manhãs que te vêem acordar,
o chuveiro que te banha,
a toalha que te seca.
Quando chego, em casa,
já de madrugada,
cansado da emoção
de longa noite embalada,
ainda sentindo o sabor dos teus beijos...

Dá-me um desejo
de ser tua alvorada
para clarear com ternura
o teu rosto e
apanhar-te pela cintura,
já descansada
e ter de novo em meus braços
o teu corpo descoberto
sentindo os teus abraços
o sabor dos teus beijos
matando meus desejos.
Quando chego, em casa,
já de madrugada
o que me acode
é a esperança
de outra noite embalada,
com quem não me sai da lembrança!

ARREPENDIMENTO

Hoje eu me agredi,
me ofendi,
me injuriei, xinguei-me,
falei mal de mim;
contrariei o meu gosto,
bati em meu próprio rosto
e ri da minha cara.

Hoje eu sei
o que é sofrimento
a dor, o lamento.
o arrependimento
por ter deixado você!

CONFIDÊNCIAS AO LUAR

Lua, mística e de rara beleza
inspiradora dos enamorados,
assistente de segredos guardados...
confessados a vossa realeza!

Qual trovador não vos citou um verso
encantado com a luz prateada
ou caminhando pela madrugada,
ainda que, em estado adverso?

Crendo em vossa majestade, confesso,
que vos prestei versos e confidência...
recitei poemas com eloquência...

-Sorvido por grande amor, nele imerso,
perdido de paixão neste universo...
condenado... venho pedir, clemência!

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.139 a 141)

Observação sobre a figura abaixo:
A figura é sempre a mesma, mas a trova de Ademar é sempre diferente.
A figura: Ademar Macedo, o Brasão de Santana do Matos ao lado, na janela: a Catedral da cidade e "Asa Branca", o carro de Ademar.

Mensagens Poéticas n. 139

Uma Trova Nacional

Doces lembranças guardadas,
no peito, quem não as tem?...
De caminhar de mãos dadas,
por sobre os trilhos do trem.
(NEOLY VARGAS/RS)

Uma Trova Potiguar

Olhando Cristo, na cruz,
eu vejo nele os pecados
que a gente mesmo produz,
pondo em seus ombros sagrados.
(TARCÍSIO FERNANDES/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Belo Horizonte/MG
Tema > IMPRENSA > Venc.

Feliz o povo que pensa
e que se expressa à vontade.
Onde amordaçam a imprensa
morre à míngua a liberdade.
(A. A. DE ASSIS/PR)

Uma Trova de Ademar

Se orgulhar porque perdeu,
não lhe dá nenhuma glória;
somente quem já venceu
goza os louros da vitória...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Eu comparo o arrependido
que o perdão vê numa cruz,
ao viajante perdido
que avista ao longe uma luz.
(LILINHA FERNANDES/RJ)

Simplesmente Poesia

– Mariva/PB –
NINHO DE JOÃO DE BARRO.

Sem diploma e sem dinheiro
sem ter curso de engenheiro
fez a casa na janela
somente pensando nela.

Estrofe do Dia

Futuro jamais espero,
a decadência me diz;
já fiz tudo quanto quis
hoje não faço o que quero,
com isso eu não me altero
e nem tão pouco detesto,
vou lançar meu manifesto,
me acho de tal maneira;
igualmente um fim de feira
onde só se encontra resto.
(JOSUÉ DA CRUZ/PB)

Soneto do Dia

– Sergio Severo/RN –
SONETO DE CAMARADAGEM.
(Ao Popular Poeta Ademar Macedo)

Meu Bom Amigo, amante da poesia,
companheiro d’Armas... E de sequela,
não sendo a nossa Vida mais aquela,
que no passado, franca, nos sorria...

Ainda temos uma outra via,
onde os caminhos não são tão floridos,
onde arrastamos nossos pés, feridos
e onde a Sorte, avessa, nos espia.

Seja essa Sorte, Mãe; seja Madrasta,
para as lamúrias nós diremos: Basta!!
ao caminharmos, lentos, pela rua...

Se já não é tão forte o nosso abraço,
os nossos nervos ‘ inda são de aço...
Meu Bom Amigo, a Vida Continua !!

Mensagens Poéticas n. 140

Uma Trova Nacional

No meu baú de lembranças
onde a rotina enterrei,
restaram minhas andanças
e os prantos que derramei...
(REJANE COSTA/CE)

Uma Trova Potiguar

Usando de violência,
irmão agredindo irmão
jogam fora a consciência;
caminham na contra mão.
(ROSA REGIS/RN)

Uma Trova Premiada

2006 > Amparo/SP
Tema > SAÚDE > Menção Especial

É do passado a lição,
mas com valor no presente:
- Só pode ter corpo são
quem tem saúde na mente.
(NEWTON VIEIRA/MG)

Uma Trova de Ademar

Quem faz em nome de Cristo,
o seu próprio pedestal,
pagará caro por isto
no julgamento final...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Quando eu partir - não sei quando,
não ponhas, minha querida,
teus olhos, lindos, chorando,
sobre os meus olhos, sem vida.
(ANIS MURAD/RJ)

Simplesmente Poesia

BORBOLETA ENLOUQUECIDA.
MOTE: Alonso Rocha/PA
Sempre que eu sonho na vida
sou, numa luta sem jaça,
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.

GLOSA: Gislaine Canalles/SC
Sempre que eu sonho na vida
a tristeza me acompanha,
sinto a alegria perdida,
de maneira bem estranha!
Me sinto quase ninguém.
Sou, numa luta sem jaça,
aquele ser, que também,
sente na alma, uma mordaça!
Toda a ternura esquecida,
consegue fazer de mim,
borboleta enlouquecida
voando rumo ao seu fim!
A vida é uma caixa preta!
Meu sonho vira fumaça,
me sinto essa borboleta,
batendo contra a vidraça.

Estrofe do Dia

Canta o poeta em cantiga
as queixas sentimentais
com sua viola amiga
dando notas musicais,
o único noivo da lua
adormece em plena rua
após qualquer serenata,
ferido por mil anseios
num mundo só de gorjeios
como o sabiá da mata.
(CANCÃO/PE)

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
SILÊNCIO X GRITO.

Se quisermos falar ao coração,
que o tom da nossa voz, seja baixinho,
e toda “enternurada” de carinho,
envolvida em veludo de paixão!

No momento maior de uma emoção,
o silêncio, por si, fala sozinho,
revelando segredo do caminho,
duas almas iguais, celebração!...

Gritar alguém, por quê? - se estamos perto?
- Grita-se com alguém, lá longe, é certo...
O grito só afasta, distancia!

Grite se for falar com um casmurro,
mas falar ao sensível, só sussurro...
Grite a todo pulmão, com poesia!

Mensagens Poéticas n. 141
Uma Trova Nacional

Rasguei teu retrato e, triste,
recordando a nossa história,
o negativo persiste,
revelado na memória!...
(HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ)

Uma Trova Potiguar

Meu Deus! se a chuva caída,
fecunda o sertão no estio,
o inverno é fonte de vida
do sertanejo bravio!
(PROF. GARCIA/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > TrovaUniverso/RN
Tema > SILHUETA > Menção Especial

Trago no peito guardada,
entre as lembranças da vida
a silhueta gravada
da tua imagem querida!
(ZENAIDE MARÇAL/CE)

Uma Trova de Ademar

Quando o amor causa queixume
por um motivo banal,
cada cena de ciúme
apressa mais seu final.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A bondade é flor que encerra,
no mundo, o maior troféu,
daqueles que, aqui na Terra,
vivem voltados pro Céu.
(MARIINHA MOTA/SP)

Simplesmente Poesia

– Carmo Vasconcelos/PORTUGAL–
A PAZ DO POETA.

Vive o poeta na angústia permanente
De não ter sábios dons de bruxo ou mago,
Que lhe outorgassem poder onipotente
Pra consertar no mundo tanto estrago!

E num dilema mártir ouve os gritos
Dos que em tortura sofrem mil carências,
Minguando na miséria atroz, aflitos,
Vítimas de brutais incongruências!

E revolta-se o verso escrito a sangue,
E gela-se-lhe a mão pela impotência
De prover a cada alma e corpo exangue,
A humana e natural sobrevivência!

Enquanto houver desprezo, fome e guerra,
Às mãos cruentas dos aios de Satanaz,
Haverá de encrespar-se o mar e a terra,
E há-de lutar o Poeta pela Paz!

Estrofe do Dia

Um canário cantador
Um Xexéu de bananeira
Uma morena faceira,
Um burro véi machador
Um facão bem cortador
Bota pra pisar no chão
Num peito "chei" de paixão
Um coração ta morrendo
Isso é mesmo que estar vendo
Paisagens do meu Sertão.
(MANOEL RODRIGUES DE LIMA/SP)

Soneto do Dia

– Gilson Faustino Maia/RJ –
RENASCIMENTO.

Nasce outra rosa no jardim florido,
nasce o perfume, o amor, a poesia,
tão logo raia o sol de um novo dia
e morre a madrugada sem gemido.

Levanto o meu olhar enternecido
e vejo um horizonte que extasia,
de luz e cores, tudo em harmonia,
cenário que me deixa comovido.

E eu choro a minha humana imperfeição
diante do esplendor da natureza,
sem sentir do Universo esta lição:

se o passado morreu, viva a certeza
de um novo amor que invade o coração
matando a dor, o pranto e a tristeza.

Fonte:
Ademar Macedo
27 e 28 de fevereiro e 1 de março

sábado, 12 de março de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.135 a 138)


Mensagens Poéticas n. 135

Uma Trova Nacional

Tanta falsidade existe
por gosto ou necessidade,
que a audácia maior consiste
em dizer sempre a verdade!
(RENATA PACCOLA/SP)

Uma Trova Potiguar

Trabalhei, lutei, venci,
derramei muito suor,
desta forma consegui
ter uma vida melhor.
(MÁRCIO BARRETO/RN-PB)

Uma Trova Premiada

2005 > Niterói/RJ
Tema > ENCONTRO > Menção Honrosa

Na Trova e no Trovador
é que se encontram, suponho,
criatura e Criador
unidos no mesmo sonho!
(NÁDIA HUGUENIN/RJ)

Uma Trova de Ademar

Eu já bastante maduro,
nos momentos mais bisonhos
quis construir meu futuro
arquitetado de sonhos...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Velha rua esburacada,
o nosso sonho foi falso:
– tu nunca foste calçada
e eu continuo descalço...
(JOSÉ M. MACHADO ARAÚJO/RJ)

Simplesmente Poesia

– Gislaine Canales/SC –
O AMOR DA TARDE COM A NOITE

A tarde
vestiu-se de cinza.
A chuva
fina caindo.

O cheiro da terra
subindo.
A tarde
findando.

A noite
chegando.
A tarde amando a noite.
A noite matando a tarde.

Estrofe do Dia

Aquele corpo mulato,
que me serviu de encosto
já beijei muito seu rosto
hoje beijo o seu retrato,
se na mesa sobra um prato
sobra um vazio no leito,
nosso amor teve defeito
mas a relação foi boa;
já que quem ama perdoa
se ela voltar eu aceito.
(JOÃO PARAIBANO/PB)

Soneto do Dia

– Thalma Tavares/SP –
DIVENEI SONETISTA.

Sonetos ela os faz como alguém que cinzela
uma jóia preciosa, inusitada e bela,
para vê-la, depois, sobre algum coração,
causar inveja à luz e despertar paixão.

E o produto final que o seu estro revela
nem sempre é o ideal que o seu querer anela,
mas é fruto, afinal, de muita inspiração
que consegue encantar e causar emoção.

Afirmo que eles têm muita luz e energia...
Soam como rojões, com pirotecnia
porque causam em nós a sensação do estouro.

Não há neles lugar para o lugar comum
e além de Divenei versejador algum
consegue superá-la em seus sonetos de ouro.

Mensagens Poéticas n. 136

Uma Trova Nacional

Eu vejo Deus na magia
dos versos simples que teço:
Deus é rima, amor, poesia,
é fim, é meio, é começo !
(DELCY CANALLES/RS)

Uma Trova Potiguar

Vou procurando com calma
algo que valha uma flor,
extraindo espinhos d’alma
e implantando muito amor.
(GONZAGA DA SILVA/RN)

Uma Trova Premiada

2001 > Porto Alegre/RS
Tema > USINA > Menção Honrosa

Um cenário de magia
surge aos versos que componho:
- Um reator de poesia
na imensa usina do sonho!
(MARISA VIEIRA OLIVAES/RS)

Uma Trova de Ademar

A lua dos Trovadores
já não a vemos tão bela,
astronautas malfeitores
pisaram na face dela.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?
(ALONSO ROCHA/PA)

Simplesmente Poesia

– João Udine/CE –
SALÁRIO MÍNIMO.

Mínimo do pobre
de escassas merrecas.
Minguados cobres
Que os leva à breca.
Mínimo salário
de suor artrítico.
Valor salafrário
para um sifilítico...
Salário
minúsculo
raquítico
mínimo
ínfimo.
Salário
minguante
de fome...

Estrofe do Dia

Uma estrofe, um poema, uma canção,
um soneto, uma trova, uma sextilha,
um galope, um rojão, uma quadrilha,
um Brasil de caboclo ou um mourão,
um quadrão beira-mar, oito a quadrão,
um famoso martelo agalopado,
seja escrito ou então improvisado
não altera os valores do autor,
tudo quanto produz o cantador
deveria ser lido e divulgado.
(DAUDETH BANDEIRA/PB)

Soneto do Dia

– Sabino Romariz/AL –
O LÍRIO.

O lírio era uma flor imaculada,
casta como um sorriso de Maria;
flor de uma alvura tal que parecia
ter sido feita de hóstia consagrada.

Em Getsemâni, a face ensanguentada
Jesus tragava o cálix da agonia
e uma gota de sangue luzidia
sobre um lírio caiu cristalizada.

E nisto flor, sem mancha concebida,
foi-se tornando como que dorida
tomando aquele tom violáceo, frouxo...

E de como era outrora alvinitente
o lírio da Judeia, finalmente
crepuscular ficou, tornou-se roxo.

Mensagens Poéticas n. 137

Uma Trova Nacional

Maria-mole gigante
sonhou comendo, o doceiro...
Quando acordou, ofegante
- faltava-lhe o travesseiro!
(PEDRO ORNELLAS/SP)

Uma Trova Potiguar

Este teu corpo de miss
deixa o meu coração tenso,
imagina, se eu te visse
daquele jeito que eu penso!
(CLARINDO BATISTA/RN)

Uma Trova Premiada

2007 > Sete Lagoas/MG
Tema > CHAMA > Venc.

Mulher, o que é que te faz
ir cozinhar no vizinho?
- É que lá tem fogo a gás,
sobe a chama rapidinho...
(ALBA CHRISTINA C. NETTO/SP)

Uma Trova de Ademar

Visita pra meter medo,
que nem vassoura adianta,
é aquela que chega cedo
e só sai depois que janta!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Já diz o velho ditado,
que lenha verde e viúva,
com paciência e cuidado
pegam fogo até na chuva!...
(ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Bebo, fumo, jogo e danço,
sou perdido por mulher.

GLOSA:
Vida longa não alcanço
na orgia e no prazer,
mas, enquanto eu não morrer,
bebo, fumo, jogo e danço.
Brinco, farreio e não canso,
me censure quem quiser,
enquanto vida eu tiver
cumprindo esta sina venho
e além dos vícios que tenho
sou perdido por mulher.
(MOYSÉS SESYOM/RN)

Estrofe do Dia

Lá em casa a crise é tanta
que eu nem sei como resisto,
a roupa que estou usando
é minha e do Evaristo,
quando em não visto, ele veste;
quando ele não veste, eu visto.
(AFONSO PEQUENO/PE)

Soneto do Dia

– Luís Guimarães Júnior/RJ –
VISITA À CASA DA SOGRA

Como urubu que regressasse ao ninho,
a ver se ainda um bom caminho logra,
eu quis também rever a minha sogra,
o meu primeiro e virginal carinho.

Entrei. Pé ante pé, devagarzinho,
o fantasma, talvez, daquela cobra...
Tomou-me as mãos, olhou-me bem, de sobra...
E levou-me para dentro, de mansinho.

Era este quarto, oh! se me lembro, e quanto...
Em que, à luz da lua que brilhava,
o pau roncava forte, tanto e tanto,

no costado da gente, sem piedade,
um cacete bem grosso lá no canto...
Minhas costas choraram de saudade...

Mensagens Poéticas n. 138

Uma Trova Nacional

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro?!
(CAROLINA RAMOS)

Uma Trova Potiguar

Uma das coisas que movem
um idoso a viver bem
é ter o espírito jovem,
que muitos jovens não têm.
(JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN)

Uma Trova Premiada

1998 > Bandeirantes/PR
Tema > USINA > Venc.

Meu sofrido coração
não guarda mágoa ou rancor:
é uma usina de perdão
que opera a todo vapor.
(MILTON SOUZA/RS)

Uma Trova de Ademar

Quem “monta”, em nome de Cristo,
o seu próprio "capital";
pagará caro por isto
no julgamento final...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Saudade, quase se explica
nesta trova que te dou:
saudade é tudo que fica
daquilo que não ficou.
(LUIZ OTÁVIO/RJ)

Simplesmente Poesia

– Rodrigues de Gouveia/AL –
A MORTE DO MEU SONHO.

A morte do meu sonho foi tão triste!
Não teve velas, nem choro, nem nada.
Tão triste como a fria madrugada
que à luz do dia em ficar persiste.

Foi tão cruel a morte do meu sonho!
Sonho que morreu quase sem nascer.
Esperança vã que não quis viver
nesse mundo sem luz e tão tristonho.

Sonhar é viver, é sentir na vida
outra vida de sonho e de ventura,
que zomba da mais tétrica amargura
e alegra qualquer dor, por mais sentida.

Por isso eu sinto tanto, tanto a morte
que o meu sonho levou tão apressada
pois a minh’alma irá assim, cansada,
em busca d’outro sonho que a conforte.

Estrofe do Dia

Não tem mais o cachorro nem o gato
A cumeeira da casa é só cupim,
a panela de barro levou fim
e na cozinha não tem mais nenhum prato,
só tem cobra correndo atrás de rato,
não tem mais o cavalo nem a sela
nem ferrolho e nem porta na janela,
nem cadeira debaixo da latada;
toda casa de taipa abandonada
guarda um grito de fome dentro dela.
(CHICO QUELÉ/RN)

Soneto do Dia

– Miguel Russowsky/SC –
DOMINGO CHUVOSO...

Chove...Minha caneta escrevinhando, atoa,
pede um tema e nem sei o que fazer...
Se eu fosse nau, dirigiria a proa
ao mares da alegria e do prazer.

Se alguém se atreve a sugerir-me:- Voa!...-
com asas curtas, posso obedecer? -
Quando há zeros demais numa pessoa,
as asas se recusam a crescer.

A “Hora de escrever” trouxe nas malas
só rimas pobres e se devo usá-las
usa-las-ei; já não mais tenho brios.

Chove... Deixo que chova. Pouco importa
três versos chulos numa estrofe torta.
Domingo e chuva, os dois estão vazios.

Fonte:
Ademar Macedo
23 a 26 de fevereiro

quarta-feira, 2 de março de 2011

Período de Recesso até Meados de Março

Em virtude de estar montando a minha nova residência em Maringá/PR, estarei efetuando um recesso das postagens desde quarta-feira (23 de fevereiro) até meados de março.

Os colaboradores podem continuar enviando seus textos, que após o recesso eles serão postados gradativamente.

Abraços
José Feldman

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alonso Rocha, IV Príncipe dos Poetas do Pará falece em 22 de Fevereiro de 2011

Se tivessemos o poder de prolongar a vida do corpo físico de quem quisessemos, Alonso Rocha certamente estaria entre os nomes que desejamos. Mas, somos mortais, e assim mesmo, quando nos encantamos com versos tão soberbos como os de Alonso, mesmo que não presente em corpo físico, seu espírito estará sempre imortal dentro de nós. Este poeta-trovador se indagava em sua trova:

Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Fim? Não existe fim para alguém que escreve versos tão sublimes. Serás sempre imortal.
Partida? Apenas deste plano físico, pois onde vais é apenas o repouso merecido pelo que fez.
Porto? Voce, caro poeta, era o porto de nossas almas, de nossas emoções.
Porta? Para ti, uma porta em direção a um andar superior onde observarás a nós que o reverenciamos, e que perpetuaremos seus versos e sua pessoa.

Eu te saudo pelo legado que nos deixou. Salve, Alonso Rocha!
(José Feldman)

Alonso Rocha (Livro de Poesias)


SONETO À LUA CHEIA

Lua de celofane – lua amarga,
a mensagem de amor que hoje me trazes
rasga no coração como tenazes,
essa dor que se alarga, que se alarga.

Lua de gesso estéril, em tua carga,
por não me decifrar, tu te comprazes,
em ver que eu sou, em tons tristes, lilases,
jogral de um circo azul, na noite larga.

De sofrer já cansei, mas dizes: - “Ama!”
e tua luz – espelho onde me encanto –
na ante-manhã deserta, se derrama.

Porém não creio mais no teu milagre;
- quem teve tanto amor, odeia tanto;
eu que fui vinho agora sou vinagre.

SONETO À MESMA FLOR

Quando moço roubei na madrugada
do seio de uma flor recém-aberta
uma gota de orvalho e como oferta
a deixei em teus lábios, abrigada.

Hoje, quando recordo (Oh! Doce Amada!)
esse tempo de arroubo e descoberta
uma saudade, trêmula, desperta
e vem sangrar-me com a sua espada.

Iguais a flor, também envelhecemos
mas ao despetalar ainda trazemos
almas unidas, mãos entrelaçadas,

porque do amor a essência mais preciosa
( assim como o perfume de uma rosa)
permanece nas pétalas secadas.

SONETO À JOVEM ESPOSA

Hoje eu te trago, em minhas mãos, guardada,
a gota d’água – a pérola serena –
que eu roubei de uma pálida açucena
recém-aberta pela madrugada.

Louco poeta que sou! (Oh! Doce Amada!)
Em trazer-te essa dádiva pequena.
Culpa as estrelas, culpa a cantilena
do vento. E em nossa alcova penumbrada

dormes. E nem percebes no teu sono
que em teus lábios, fechados, abandono
a lágrima de luz – um mundo pleno.

Não despertes, ririas certamente
se me visses beijando, ingenuamente,
tua boca molhada de sereno.

POEMA DO ULTIMO INSTANTE

( ao poeta José Guilherme, onde estiver)

.
Havia o sonhador
a mesa e os seus convivas.
O pão infermentado
fragmentado
e o vinho das angústias.
- Senhor! Afasta o cálice ( câncer sobre a carne)
e a cruz dos sem-perdão.
Deixa-me (ainda) repartir os peixes
e os lírios de teus campos
- dízimo deste encanto
lobo que me devora.
Atira sobre o poema o círculo perfeito
e os dados da palavra.
Derrama a chuva
tua lança e os teus cravos
na terra que semeio.
Assim falava o Poeta
enquanto o sol e outros deuses (os mortos esquecidos)
com essência de mirra em seus turíbulos
já perfumavam a pedra
- altar para o seu corpo.

MINHA PRECE
POR MEU FILHO NO DIA DA SUA MORTE
(... para Ronaldo Alonso)

Ele era um pássaro, Senhor,
cujas asas feriste antes do vôo.
Ele era fonte
e sufocaste o canto em sua garganta
e pouca além da lágrima e do riso
- como apelo ou mensagem –
lhe deixaste.
Ele era frágil, Senhor,
e lhe enevoaste o entendimento
e com agudos espinhos o pregaste
tantos anos no seu leito.
Até seus olhos, Senhor,
- inquietos peixinhos coloridos –
aprisionaste
no reduzido aquário do seu quarto.
Mas eu te louvo, Senhor,
por Tua bondade
quando lhe ensinaste a gritar a palavra “mãe”
- única de sua boca –
como sinal de angústia e como hino de amor.
Hoje, Dá-me a beber, Senhor,
o Vinho de Tua Paz
na mesma taça de fel e sofrimento
com que o premiaste,
para que eu possa de joelhos
celebrar contigo
um retorno de um anjo ao Teu reinado!

BREVE TEMPO

Se me queres amar ama-me nesta hora
enquanto fruto dando-te a semente.
Se te apraz me louvar louva-me agora
quando do teu louvor vivo carente.

Aprende a te doar antes que a aurora
mude nas cores cinza do poente.
Se precisas chorar debruça e chora
hoje que o meu regaço é doce e quente.

A vida é breve dança sobre arame.
Sorve teu cálice antes que derrame
ninho vazio que o vento derrubou.

Porque quando eu cair num dia incerto
parado o coração o olhar deserto
nem mesmo eu saberei que já não sou.

NO ESPELHO

Da armadura do medo me desnudo
o estandarte na mão, a flor no peito
e enfrento, temerário, o cristal vivo
de tua face – espelho onde me busco.

Sou dócil ao teu poder e mel e seiva
da boca se derramam em doce riso,
como a rasgar a carne me entretenho
para me alimentar de encantamento.

Entrego-te meu rosto e o desfiguras
e a máscara real pesada tomba
- envelhecido pó – na tua lâmina.

E na visão da imagem refletida
em desespero e espanto me descubro
na placenta da morte prisioneiro.

Fontes:
Portal dos Sonhos e das Poesias
http://www.sarahmrodrigues.com/luau/prece_alonso.htm
http://covadospoetas.blogspot.com/2011/02/alonso-rocha-o-principe-dos-poetas.html