domingo, 3 de julho de 2011

Aparecido Raimundo de Souza (A Canção que Tocou no Meio da Noite...)


Minha namorada ao ouvir uma música no rádio resolve me acordar às quatro horas da manhã.

- Amor, amor -, grita numa euforia barulhenta. – Olha que coisa linda...!!!

Pulo, assustado, tropeçando os olhos embaralhados no travesseiro sonolento.

- O que foi PP???

- Olha...!!!

- Não estou vendo nada. Onde? Cadê???

- A música...!!!

- Que música???

- Essa que está tocando... Ouça...!!!

- Então não é pra ver, é pra ouvir. Tudo bem! Estou gostando. O que tem ela?

- Não é divina? - Completa PP espichando para meu rosto seus olhos meigos da noite não dormida.

- Ah, sim, maravilhosa! Principalmente para se curtir depois de ser arrancado, aos sobressaltos, dos braços de Morfeu.

- Desculpa amor, não foi por querer – cochicha à vozinha fina: É que achei tão caliente. Sabe quem está cantando?

- Sei.

- Nossa, amor, que bom. Hoje então será meu dia de sorte. Nosso dia, melhor dizendo. Diz ai: quem é a deusa dessa voz venturosa?

- Você daqui a cem anos.

- Engraçadinho. Fala sério – troveja injuriada. Quem canta essa preciosidade?

- Sua irmã Pri - digo acorrendo num ímpeto quase carinhoso.

- Não brinca - Brada incontrolável. - Olha como estou trêmula. Parece até que me acorrentei às raias de um piripaque.

- Minha linda, se essa droga da música está lhe fazendo mal, me deixa desligar o som. Basta um clic e pronto.

- Pelo amor de Deus, não faça isso. Eu amo essa música. Eu amo, entende? Amo de paixão. Amoooooooooo!...

- Como consegue gostar de uma música, ou melhor, amar uma canção que desconhece quem a está cantando?!...

- Acontece, amor. – Diz num acesso de arrebatamento jubiloso. - Nunca passou por uma situação assim? Asseguro que é deveras constrangedor, mas, ao mesmo tempo, inebriante, avassalador – completa PP espalhando, por tudo, em redor, a doçura do seu entusiasmo.

- Concordo com você. Mas, PPzinha, como pode ver, essas bobeiras não me acontecem nem quando entro em alfa. Sabe, ao menos, o nome da bendita cantora?

- Nem imagino...!!!

- PP, PPzinha, me explica de novo: como se deixar envolver por uma simples canção que toca no rádio, se você acabou de me dizer que desconhece o principal, que é nome da artista?

- A isso, seu bobinho, se dá o nome de amor a primeira vista. Despertei com ela, me enamorei. Ela mexeu comigo. Desculpe, me esqueci: você não é nem um pouquinho romântico – conclui a guisa de resmungo.

- Sou romântico sim.

- Me poupe. Se fosse romântico, ao menos carinhoso, estaria, agora, grudado em meu peito, curtindo juntinho ao meu corpo essa belíssima canção angelical.

- O fato de não estar colado em você não quer dizer que não seja romântico. Sou mais do que possa imaginar.

- Aposto que não se deu conta. Pare um minuto, ouça a letra, sinta a melodia, se ligue nos acordes, procure viajar na orquestração, na voz, enfim, cadê seu lado zen...?

-... Em...???

-... Zen...!!!

-... Ah, meu amor, deixa isso pra lá: vem pra mim, vem!...

Centro de São Paulo horas depois, na avenida movimentadíssima, em direção ao meu trabalho, perto do prédio onde fica o escritório da empresa, ao passar em frente duma loja de eletroeletrônicos, deparo, sem querer, com a tal da musica tocando em vários aparelhos ao mesmo tempo. Pergunto para a moça que se apressa ao meu encontro com um sorriso aberto de um canto a outro da boca:

- Pois não, senhor? Em que posso ajudá-lo?

- Que música é esta? - Berro trovejando vertente ansiedade.

- Não sei senhor!

Tomado por um impulso movido a doidera momentânea, passo a mão em um dos aparelhos que servem de mostruário ao público. Na verdade, arranco do meio dos outros um três em um pequeno, movido a pilha e luz, e, saio correndo em direção à movimentação da cidade barulhenta. Os seguranças deitam em meu encalço. O gerente chama a policia. Na calçada, esbarrando em transeuntes açodados, desembesto o trocinho tocando, numa altura anormal. Entro em outra loja, logo adiante, e me dirijo também à primeira funcionária que se destaca, não só pelo brilho do rosto, como pela beleza de seu uniforme impecável. Mando a pergunta, na bucha:

- Que música é esta? – Aventuro incontido. - Sabe dizer que música é esta? - Ou quem canta, pelo menos?

Diante da negativa da jovem volto a carreira, o rádio executando a música que me acordou às quatro horas da manha. Outra loja e mais gente balançando a cabeça contraria a resposta que busco, embalde. Finalmente, me deparo com uma discoteca enorme, sofisticada, bem sortida. “ - Ufa! Até que enfim...” - Murmuro com meus botões – “Alguém, nesta joça, me dará a resposta que procuro”. Dito e feito:

- Essa musica ai se chama “Canção do amor verdadeiro”, temos em estoque, e quem canta é Mariza da Ximbica Cor de Rosa. O senhor quer ouvir???

Agradeço, viro as costas e me disponho a ganhar o dia lindo de céu azul e ensolarado. Todavia, ao meter os pés no frontispício da giratória, percebo uma galera a minha recepção, lá fora. Vislumbro a vendedora, o dedo em riste apontado em minha direção, os seguranças imbuídos de um forte apetite bestial, e, em meio a esse quase surto histérico, capturo os semblantes de poucos amigos de dois policiais militares, um dos quais, com as algemas ameaçadoras e prontas para encaixarem em meus braços.

- “... É ele...!!! ... É ele...!!!...” - Escuto a alta voz. – “... Foi ele...”- Fulmina uma branquelinha com uma soberba vivacidade de discrição – “... Olha a prova do crime nas patas sujas do sujeito...” -, instiga outra notívaga, que a acompanha, enquanto cerra a meio os seus macios olhos de míope. “... Cana no meliante, sargento...!!!”.

Saio preso e algemado em flagra, depois de levar uns belos catiripapos pelas ventas. Contudo, feliz, realizado. Sei, agora, o nome da porcaria da música e quem a interpreta. Depois de me livrar do delegado, poderei adentrar numa dessas lojinhas existentes ai pela cidade e comprar o cd para a PPzinha, minha doce e esfuziante cara metade.

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem = http://teianeuronial.com/antianticomunicacao/

sábado, 2 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 261)


Uma Trova Nacional

Diz o Zezinho, zangado,
do zero que recebeu:
- “não acho que escreva errado;
se escrevo, o “pobrema” é meu!...
–IZO GOLDMAN/SP–

Uma Trova Potiguar

A trovadora reclama
o peso do pé gessado;
e repousando na cama,
faz trovas de pé-quebrado.
–DJALMA MOTA/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: VISITA - M/E.

Não reclamo da visita
e nem vou fazer piada,
pois minha sogra é bonita
e eu “adoro” essa danada!
–ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ–

Uma Trova de Ademar

Um poeta sem “crachá”
rimou feio pra chuchu:
“a castanha do Pará
com castanha de caju.”
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Adão é que teve a sorte
que a maioria não logra,
foi feliz até a morte,
porque nunca teve sogra.
–NEY DAMASCENO/RJ–

Simplesmente Poesia

Se a morte acena o seu véu,
quem há de nos socorrer?
convite pro beleléu,
não se pensa em receber.
Todos querem ir pro céu
de mala, terno e chapéu,
mas ninguém pensa em morrer.
–VITOR RONALDO COSTA/DF–

Estrofe do Dia

Mamãe dizia a papai:
se estiver aborrecido,
me avise logo com tempo,
pode ficar prevenido:
da forma que eu mudo a saia,
mudo também o marido.
–LEANDRO GOMES DE BARROS/PB–

Soneto do Dia

–FRANCISCO MACEDO/RN–
...E, Não Nasceu!

Menino das quebradas do sertão,
um pequeno matuto sonhador.
Na verdade, um exímio plantador,
já cansado do milho e do algodão...

Um dia, ao conhecer o macarrão,
fez despertar seu ser agricultor
e pensando tornar-se um inventor
começou em sigilo, a plantação.

Plantou seu macarrão às escondidas,
nas covas, que cavou, bem divididas,
e esperou que nascesse, e, não nasceu!

Um sonho de frustrada agricultura...
E o menino deste sonho e aventura,
de idealismo e fé, digo: Era eu.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cláudio de Cápua (Galo Doidão)


publicado originalmente na edição número 2 da revista Santos Arte e Cultura

Certas cenas indelevelmente ficam registradas, em nossa mente e, de uma forma ou de outra, marcam nossas vidas. Uma delas: eu tinha aproximadamente sete anos e Berto, meu irmão, uns três menos. Morávamos na Avenida Inajá, hoje Lavandisca, no bairro de Indianópolis, em São Paulo. Terreno, com 20 metros de frente, e 65 de fundos. Na frente, a casa de meu avô materno, e nos fundos, a nossa casa. Tínhamos no belo pomar dois pessegueiros, limoeiro, laranjeira, ameixeira e dois pés de figo, sendo que um deles era raro, figo branco. E ainda uma parreira de uvas rosé, um pé de louro, touceira média de cana e uma enorme goiabeira de frutos vermelhos, que, temporã, frutificava o ano inteiro.

Certo dia, nossa avó, Maria da Glória, fez-nos uma surpresa; - trouxe da feira cinco pintinhos, que nos foram dados de presente. Dois logo morreram, e os outros três se transformaram em duas frangas e um frango. As frangas logo foram parar na panela, mas o galo virou bicho de estimação. Nossa família, descendente de italianos, como 85% das famílias paulistanas, nunca deixava faltar vinho à mesa. Certo dia, num almoço domingueiro, tio Rafael, irmão de minha mãe, molhou miolo de pão num resto de vinho e arremessou-o pela janela, em direção ao nosso galo. Petisco de imediato devorado. Resultado: o galo pôs-se a cantar fora de hora.

Berto, meu irmão, embora pequeno, era vivo e arteiro. Viu o que o pão e o vinho fizeram ao galo e passou a repetir a arte a qualquer hora do dia ou da noite. E, após algum tempo, o galo assumiu um ritual todo seu. Devorava o petisco, subia no tanque, pulava para o muro da vizinha, de onde saltava para o telhado do tanque e depois para o telhado da casa. E, aí, ele percorria o telhado, até a frente da residência e bem no alto da cumeeira punha-se a cantar, a qualquer hora do dia ou da noite, para uma platéia de transeuntes que paravam diante da casa, abismados com o espetáculo daquele galo doidão, sem entender as razões de sua estranha euforia.

Fonte:
Cláudio de Cápua
Imagem = http://www.clipart.criadoronline.com.br

Antonio Brás Constante (Humor - Sol e Frio [tomou Doril e NÃO sumiu])


...A netinha então perguntou para sua vovozinha, muito velhinha e bondosa: “Vovó, quando a senhora nasceu o Sol já existia?”, e a vovozinha lhe respondeu cheia de ternura: “sim, minha netinha queridinha, por quê?”, a menininha, na inocência de sua tenra infância, arregalou os seus olhinhos brilhantes e disse: “NOOOOSSA!! COMO O SOL É VELHO!”. Alguns dizem que a anedota termina por aí, já outros juram que a tal avó arrancou a própria dentadura da boca e arremessou na cabeça da netinha malcriada. Mas essa introdução serve apenas para falarmos do maior rei anão que conhecemos: O nosso Sol (para quem não sabe, o Sol é uma estrela anã que fugiu do circo do infinito para brilhar em nosso sistema solar).

O Sol parece uma bola gorda e gigantesca (provavelmente deve até ter sofrido algum tipo de bulling após os acontecimentos do Big Bang, moldando assim o seu atual jeitão esquentadinho). Ele fica no espaço ocupando espaço de forma aparentemente sedentária, mas queima calorias como ninguém, e é graças as suas terríveis crises de gases que continuamos vivos aqui na Terra.

Algumas pessoas tiveram que queimar na fogueira da ignorância (porém, montada com madeira de verdade), para que o Sol ganhasse o destaque que merece como centro de nosso sistema solar, e apesar de não ser egocêntrico (esses sentimentos pequenos e desprezíveis pertencem a muitas das criaturas minúsculas que se acham grande coisa por aqui na nossa terrinha) ele é a principal peça do sistema heliocêntrico (para quem não sabe, heliocêntrico é como o seu Hélio chama o seu sistema de vendas de pipoca com gordura hidrogenada, que ele estoura e comercializa através de seu carrinho de pipoqueiro, localizado no centro da praça universal, em uma das periferias do bairro Via Láctea).

O Sol tem uma característica explosiva, e talvez por isso poucos amigos (apenas nove, sendo que um deles, Plutão, foi rebaixado para segunda divisão há alguns anos atrás). Eles ficam perambulando em volta do Sol como se estivessem brincando de ciranda (só que em uma espécie de fila indiana formada por bêbados) ou como moscas em volta de uma lâmpada acesa qualquer. Alguns desses planetas são acompanhados por seus filhotes, também conhecidos como satélites. É o caso da lua, que é filha da Terra (e a Terra, como muitos sabem, dispõe de muitos indivíduos que são verdadeiros filhos da mãe e outros que vivem no mundo da lua).

É através dos raios do Sol que nóis pega um bronzeado (estou me adequando as novas tendências e aderindo a linguagem popular, lembrando sempre que a principal expressão popular aqui no Brasil é o famoso “nóis fumo”, ou seja, “nóis fumo robadu”, “nóis fumo enganadu”, “nóis fumo sacaneadu”, mas no fundo nóis é tudo CB “Sangue Bom”). O Sol tem seu brilho próprio de verdadeira estrela em todas as suas dimensões, e quando nosso planeta lhe dá as costas (literalmente falando) é porque está na hora de irmos dormir um pouco, muitas vezes olhando para o céu e vendo a parentada celestial e brilhante de nosso astro-rei, pontilhada na negritude do espaço.

Mas é no inverno que sentimos mais falta do calor desumano do Sol, principalmente aqui no Sul, que não é o Pólo Sul, mas também é frio pra chuchu (não sei explicar porque o chuchu serve para exemplificar algo tão frio). Neste período do ano o cobertor frio do inverno cobre os habitantes bem ao sul do Equador em uma época em que Papai Noel ainda está hibernando no Pólo Norte ou quem sabe escravizando duendes e obrigando-os a fazerem brinquedos para as crianças do mundo, mas somente para aquelas que foram boazinhas o ano inteiro (provavelmente apenas uma meia dúzia).

Ao ser percebido através de uma visão cósmica, o clima frio que muitos lugares enfrentam é insignificante perante a força e majestade do esplendoroso Sol. Mas infelizmente esta insignificância nos dá calafrios quando notamos que ele, o clima frio, não está nem aí para isso tudo que acabei de escrever e nos faz tremer com suas baixas temperaturas, tão agressivas quanto qualquer golpe baixo em campeonatos de luta livre.

O Sol na imensidão fria do universo servindo de farol para nossa existência, intrinsecamente ligado a nossa tênue essência, lutando bravamente contra o frio que tantas vezes cerceia nossa temporária vivencia. Frio este também aplacado com o mate quente e amargo, servido em minha amada querência.

Buenas tchê! Já falei do Sol, já falei do frio, mas e o Doril? No caso do Doril, você pega ele, tira da embalagem, e depois você... Você... Você... Você, você, você, você, você, você (vamos lá gente, todo mundo fazendo a dança “Você, Você” do pânico na TV). Eu até ia terminar este texto falando alguma coisa sobre o Doril, mas agora a ideia sumiu...

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem = http://fotos.imagensporfavor.com/

Frank Reichstein (Testamento de um Cão)


Minhas posses materiais são poucas e eu deixo tudo para você... Uma coleira mastigada em uma das extremidades, faltando dois botões, uma desajeitada cama de cachorro e uma escudela de água que se encontra fendada na borda.

Deixo para você metade de uma bola de borracha, uma boneca rasgada, que você vai encontrar debaixo da geladeira, um ratinho de borracha sem apito, que está debaixo do fogão da cozinha e uma porção de ossos enterrados no canteiro de rosas, e sob o assoalho de minha cama. Além disso, eu deixo para você a memória, que, aliás são muitas.

Deixo para você a memória de dois enormes olhos marrons, a memória de uma caudinha curta e espetada, de nariz molhado e de choradeiras atrás da porta.

Deixo para você uma mancha no tapete da sala de estar junto à janela, quando nas tardes de inverno eu me apropriava daquele lugar, como se fosse meu, e me enrolava feito uma bolinha para pegar um pouco de sol.

Deixo para você um tapete esfarrapado em frente à sua cadeira preferida, o qual nunca foi concertado com o tipo de linha certo, essa é a verdade. Eu o mastiguei todinho, quando tinha ainda cinco meses de idade, lembra-se? Também deixo para você a memória da primeira surra que levei e também todo o meu esquecimento.

Deixo para você um esconderijo que fiz no jardim, debaixo dos arbustos perto da varanda da frente, onde eu encontrava asilo durante aqueles dias de verão. Ele deve estar cheio de folhas agora, e, por isso, talvez você tenha dificuldades em me encontrar. Sinto muito!

Deixo, também, e só para você, o barulho que eu fazia ao sair correndo sobre as folhas de outubro, quando nós vagabundeávamos pelo bosque.

Deixo, ainda, a lembrança de momentos pelas manhãs quando saíamos juntos pela margem do riacho, e você me dava aqueles biscoitos de baunilha. Recordo-me das suas risadas, porque eu não conseguia alcançar aquele coelho impertinente.

Deixo-lhe como herança minha devoção, minha simpatia, meu apoio quando as coisas não andavam bem; meus latidos quando você levantava a voz aborrecido... e minha frustração por você ter ralhado comigo todas as vezes que eu colocava o nariz debaixo da cauda.

Eu nunca fui à igreja e nunca escutei um sermão. No entanto, mesmo sem haver falado sequer uma palavra em toda a minha vida, deixo para você exemplo de paciência, de amor e compreensão.

Sua vida terá sido mais alegre porque eu vivi.

Fonte:
Foto do Fluffy com 4 meses de idade, em Curitiba, fotografia de José Feldman

Jesy Barbosa (1902 – 1987)


(por Zálkind Piatigórsky)

Jesy de Oliveira Barbosa
15/11/1902, Campos RJ - 30/12/1987, Rio de Janeiro RJ

JESY BARBOSA, filha do jornalista e poeta Luiz Barbosa (ambos campistas), nasceu em Campos, Estado do Rio, em 15 de novembro de 1902. Espírito versátil e sensível, desde cêdo deixou patenteado seu temperamento artístico, tendo iniciado sua atuação em 1930, na Cidade Maravilhosa, onde também estudou. Dona de excepcional talento e de uma voz “diferente”, sua primeira expressão foi através do canto, tendo estreiado, sob os auspícios do saudoso Roquete Pinto, na Rádio Sociedade, no Rio, gravando a seguir inúmeros discos com canções brasileiras na R.C.A. Victor.

Paralelamente, iniciava-se na arte de escrever, fazendo-se presente em jornais e revistas de então.

Deixando mais tarde o canto, onde tanto se destacou, foi durante nove anos redatora e apresentadora de programas na Rádio Globo, da Guanabara; tendo sido uma das sócias fundadoras da Associação Brasileira de Rádio (A.B.R.).

Mas a plenitude de seu espírito criador só veio a amadurecer um pouco mais tarde, quando Jesy Barbosa, participando do movimento trovadoresco nacional, encontrou, nas quatro linhas da trova, o seu verdadeiro veículo de comunicação.

Mesmo assim, faltava-lhe um estímulo. Mas, predestinada para as cumieiras da arte do coração, êste não se fêz tardar. Apareceu sob a forma de um concurso de trovas. De um grande concurso de trovas – Os Primeiros Jogos Florais de Nova Friburgo – genial idéia de Luiz Otávio que os introduziu no Brasil, para isto contando coma cooperação e o dinamismo do consagrado poeta J. G. de Araújo Jorge. E Jesy apareceu. E apareceu ganhando, conseguindo, entre mais de 2.500 trovas concorrentes, o 4.° e 6.° lugares, pondo seu nome com letras de ouro entre os vinte vencedores. Era uma grande estrêla, luzindo no meio de uma constelação.

“Duvidas que numa trova
eu encerre o nosso amor?
Na hóstia tu tens a prova:
Não cabe Nosso Senhor?”

“Teu orgulho me parece
estranha contradição:
Nosso amor, que te engrandece,
é a minha humilhação.”

Excepcional em tudo que se refira ao que é de dentro, o seu amor filial conseguiu a ventura desta constatação:

“Surpreendente maravilha
A que agora me acontece!
­- Minha mãe é minha filha
a medida que envelhece!”

Nestas “Cantigas de Quem Perdoa” descobrimos que a meiga Jesy não perdoou o mundo. Na verdade, ama-o demais. E quem ama, não chegando a sentir a ofensa, desconhece a necessidade do perdão.

Rio, março de 1963.

Era o milagre da sensibilidade, o triunfo do talento, a consagração da beleza. Era fôrça do coração atingindo alturas sublimes nesta composição.

“És rico... Mas que tristeza!
Tens vazio o coração...
Não ter amor é pobreza
mais triste que não ter pão.”

Era a poetisa Jesy que se descobria. Uma fonte límpida e incontrolável de água pura que corria sob o sol, sorrindo à libertação.

Suave flor em festa em alto cume, em breve Jesy superou-se e repetiu-se. E, em 1962, nestes mesmos Jogos Florais de Nova Friburgo que evoluíram como a própria escritora, entre mais de 5.000 concorrentes, alcançou o 1.° lugar com magnifica trova sobre ciúme:

“Quanto mais teu corpo enlaço.
mais padeço o meu tormento
por saber que o meu abraço
não prende o teu pensamento.”

Não só por êsses triunfos em competições públicas, mas por todo o conjunto de sua obra, hoje, é indubitável ser Jesy Barbosa um dos mais admirados e autênticos nomes representativos da poesia trovadoresca da língua portuguêsa.

Extremamente feminina – a mais feminina de quantas poetisas exercitam-se no idioma – suas trovas são bem o claro-escuro incompreensível e meigo e doce da alma da mulher:

“A maior impiedade
daquele que me magoa
é mostrar que, em realidade,
não vale a pena ser boa.”

É uma queixa. Mas sua queixa é suave como pétalas que tombam. E na saudade, a saudade do vulto amado é mais que um milagre do coração:

“Tenho tua imagem tão viva
e tão dentro do meu ser
que, quando que rever-te,
fecho os olhos para ver”.

Poesia-conformação, poesia-ternura, Jesy Barbosa é sentimento, E, sobretudo, poesia-verdade, verdade clara e profunda, simples, sem contradição:

Fontes:
http://ubtsp.com.br/page3.aspx
Foto : acervo Rádio Club do Brasil.

Monteiro Lobato (Caçadas de Pedrinho) XII – Rinoceronte familiar


A vida no sítio mudou depois da entrada do rinoceronte para o bando. No começo Narizinho e Pedrinho não podiam esconder certo medo. Quanto a Dona Benta e Tia Nastácia, isso nem é bom falar. Tremiam de pavor sempre que à tarde, conforme seu costume, o paquiderme vinha da Figueira-Brava postar-se no terreiro para longas prosas com a Emília. Nem espiar pela janela espiavam, as coitadas. Mas os meninos espiavam. Regalavam-se de espiar.

O rinoceronte vinha e dava um bufo. Emília e o Visconde largavam incontinenti o que estivessem fazendo e iam na volada ao encontro dele, para ouvirem histórias da África. Depois se punham os três a brincar de esconde-esconde, de chicote-queimado, de pegador. Emília logo inventou jeito de montar a cavalo no chifre dele para passear pelo terreiro. O Visconde puxava o monstruoso paquiderme por uma cordinha atada à orelha.

— Que danada esta Emília! — dizia Narizinho, lá da sua janela, com uma inveja louca de fazer o mesmo. — Não tem medo de coisa nenhuma...

— Grande milagre! — retorquia Pedrinho, com uma ponta de inveja. — Se eu fosse de pano, como ela, até em três rinocerontes montava ao mesmo tempo.

— Não sei, não sei, Pedrinho — intervinha a Cléu, fazendo cara de dúvida. — Emília é mesmo uma exceção completa. Isso de não ter medo me parece o de menos. O que me assombra é o jeito que ela tem para tudo. Repare que neste caso do rinoceronte foi quem fez sempre o primeiro papel. Foi quem o descobriu, foi quem o amansou, foi quem passou a perna nos caçadores e os botou daqui para fora a fugirem como veados. Ora, isto é muito para uma boneca, não acha?

Pedrinho, que estava namorando a Cléu, não teve remédio senão achar que sim.

Numa dessas vezes Tia Nastácia criou coragem e entreabriu muito devagarinho a janela. Espiou pela fresta.

— Nossa Senhora da Aparecida! — exclamou, com os olhos pulando da cara. — Venha ver, sinhá! A Emília a cavalo no tal boi de um chifre só e o Visconde puxando ele por uma cordinha, como se fosse a coisa mais natural do mundo! Credo!...

Dona Benta espiou e também assombrou-se.

— Realmente! Para mim a Emília é alguma fadinha que anda pelo mundo disfarçada em boneca de pano. Passear a cavalo num rinoceronte! Vá a gente contar isso lá fora — ninguém acredita, nem pode acreditar...

— E o Visconde, sinhá, repare o jeitinho dele, puxando o boi...

— Não é boi, Nastácia, é ri-no-ce-ron-te — emendou Dona Benta.

— Para mim é boi — insistiu a negra. — Não sei dizer esse nome tão comprido e feio. Estou velha demais para decorar palavras estrangeiras. Mas repare no Visconde, sinhá. Puxa o boi da África como se estivesse puxando um boizinho de chuchu, daqueles que Seu Pedrinho costuma fazer...

E as duas ficavam de boca aberta, admirando aqueles assombros.

Um dia Narizinho gritou lá da sua janela:

— Emília, estou com vontade de perder o medo e montar nele também. Que acha?

— Pois venha, boba! Não há bicho mais manso que este. A História natural de Dona Benta está errada. Não vê como faço dele gato e sapato?

— Sim, mas você é de pano e eu não. Sou de carne...

— Por dentro; por fora é de pano como eu — os vestidos. Faça de conta que é de pano inteirinha e venha. Ele tem reparado muito na sua ausência, está até sentido. Venha e diga a Pedrinho e Cléu que venham também.

Narizinho, Pedrinho e Cléu entreolharam-se com uma vontade louca de aceitar o convite.

— Vamos? -— propôs Narizinho, já meio decidida.

— Vamos! — responderam os outros, corajosamente. Minutos depois estavam os três repimpados no lombo do rinoceronte.

— Falta Rabicó! — berrou a Emília. E pôs-se a chamar: — Rabicó! Rabicó! Não seja bobo, venha também!...

Mas Rabicó estava a duzentos metros dali, no pasto, espiando a cena por detrás dum capim. Não vê que ia!

As brincadeiras com o rinoceronte repetiam-se diariamente, por horas. Além das passeatas, inventaram novas coisas, como, por exemplo, fazê-lo puxar o carrinho de cabrito, com um passageiro de cada vez porque não cabiam dois. Ora ia Narizinho, ora o menino, ora a Cléu. Emília nunca deixava o seu posto no chifrão do monstro. Aquele lugar era dela só.

Um dia Tia Nastácia não resistiu. Foi para o terreiro ver de perto a brincadeira. Quando virou o rosto, viu Dona Benta que vinha vindo. Dona Benta também não resistira à tentação.

Os meninos fizeram-lhes uma grande festa.

— Ora, graças que se estão civilizando! — berrou Narizinho. — Viva vovó! Viva Tia Nastácia!

Nisto, Cléu, que estava dentro do carrinho, pulou fora e disse:

— Chegou sua vez, Dona Benta. Suba!

Era um despropósito aquilo, coisa para desmoralizar a boa velha para o resto da vida. Apesar disso a tentação foi forte e, como Cléu a ia empurrando, Dona Benta de súbito decidiu-se. Ajuntou a saia e, sem olhar para Tia Nastácia (de vergonha), subiu ao carrinho.

— Viva! Viva vovó! — berraram, do alto do paquiderme, os meninos. — Toca, Emília! Puxa, Visconde!

Emília deu no rinoceronte com o seu chicotinho e o Visconde o puxou quatro vezes até à porteira, ida e volta. Se houvesse por ali um aparelho de cinema podia ser tirada a melhor fita do mundo...

Nesse ponto da brincadeira, porém, aconteceu uma atrapalhação. Dois homens a cavalo surgiram na estrada. Mais que depressa Dona Benta pulou fora do carrinho e correu para a varanda.

Os homens pararam na porteira e pediram licença para entrar. Entraram. Apearam-se. Dirigiram-se para a varanda.

— Desejamos falar com a dona da casa — disseram.

Dona Benta adiantou-se.

— Sou eu a dona da casa. Que é que Vossas Senhorias desejam?

Um dos homens era alemão. O outro, brasileiro. Foi este quem falou.

— Minha senhora — disse ele —, quero apresentar a Vossa Excelência o Senhor Fritz Müller, proprietário do circo de cavalinhos que está no Rio de Janeiro. O Senhor Müller é dono dum rinoceronte que fugiu de lá faz uns meses. Depois de longas pesquisas descobriu que o animal estava escondido aqui e veio comigo reclamá-lo. Sou o seu advogado.

O rinoceronte reconheceu o Senhor Müller e pendurou o focinho, muito triste, já sem vontade de brincar.

— Que é que há? — perguntou-lhe a boneca, ao ouvido.

— Aquele homem louro é o meu dono — respondeu o paquiderme — e veio buscar-me. Estou triste porque gosto muito mais daqui do que do circo...

Emília abespinhou-se toda, lançando um olhar terrível para os dois intrusos. Refletiu uns instantes e depois disse ao animalão:

— Não se aborreça. Darei um jeito desses piratas fugirem daqui ainda mais depressa que os caçadores. — Disse e desceu, dirigindo-se para a varanda, onde ficou atrás duma cadeira, escutando a conversa dos homens com a velha.

— Pois não haja dúvida — dizia Dona Benta. — Se o animal é seu, pode levá-lo, apesar de que está muito acostumado aqui e não nos incomoda em nada.

— Está bem — disse o alemão. — Vou levá-lo já.

Ao ouvir tais palavras Emília não se conteve. Pulou de trás da cadeira, plantou-se diante do homem, de mãozinhas na cintura, e disse:

— A coisa não vai assim, meu caro senhor! Não basta ir dizendo que o rinoceronte é seu. Tem que provar que é seu, sabe?

O alemão ficou espantadíssimo daquele prodígio: uma bonequinha falando, e falando daquele jeito, com tal arrogância.

— Quem é esta “senhorrita”? — perguntou ele a Dona Benta.

— Pois é a Emília, Marquesa de Rabicó; nunca ouviu falar dela? Foi quem descobriu o rinoceronte no capoeirão dos Taquaruçus. Depois o vendeu a Pedrinho. Depois o amansou e agora passa o dia a brincar com ele.

O alemão estava cada vez mais assombrado. Apesar de ser homem vivido, e de ter corrido o mundo inteiro com o seu circo, jamais observara fenômeno igual: uma bonequinha tão pernóstica. Quis continuar a falar e não pôde. Estava engasgado. Quem falou dali por diante foi o seu companheiro.

— Sim, sim, minha senhorinha — disse este —, o rinoceronte pertence aqui ao meu amigo Müller, que o vem reclamar. Vejo que tanto a senhorinha como os outros meninos já estão acostumados com o paquiderme. Infelizmente somos obrigados a levá-lo para o circo.

Emília empertigou-se mais ainda.

— Vamos por partes — disse ela. — Antes de mais nada, quero que o senhor doutor me prove que ali o Senhor Müller é mesmo o dono deste rinoceronte. Exijo provas, sabe? Eu não uso anel de advogado no dedo, mas acho que em direito o que vale são as provas.

Foi a vez de o advogado abrir a boca, de espanto. A tal bonequinha sabia discutir como um perfeito rábula.

— Toda gente deste país sabe que o rinoceronte pertence ao Senhor Müller — disse ele. — Os jornais deram mil notícias a respeito de sua fuga e da busca que os homens do detetive X B2 andaram fazendo pelo Brasil inteiro. É um fato de domínio público.

— Perfeitamente — replicou Emília. — Não nego que esse cara-de-cavalo-melado...

— Emília! — repreendeu Dona Benta. — Mais modos, hem?... — ... seja dono dum rinoceronte. Mas quero que prove que o rinoceronte dele é este, está entendendo?

O advogado deu uma risadinha amarela.

— Muito fácil provar, bonequinha. No Brasil não há rinocerontes. O Senhor Müller foi o primeiro homem que trouxe um para cá. Esse um fugiu. Em seguida aparece este rinoceronte por aqui. Logo, o presente rinoceronte é o mesmo rinoceronte do referido Senhor Müller.

— Isso nunca foi prova, nem aqui nem na casa do diabo — contestou Emília. — Quero prova de verdade. Alguma marca, algum sinal de nascença...

— A marca é aquele chifre único que ele tem na testa — disse o advogado, piscando o olho, como se Emília não soubesse que todos os rinocerontes daquela espécie possuem sempre um chifre só.

Emília não respondeu. Achou um grande desaforo querer aquele idiota fazê-la de boba. Em vez de responder, disse apenas:

— Espere aí.

O advogado esperou, com um sorriso nos lábios, certo de que a tinha vencido na argumentação. Enquanto esperava, ia trocando olhares velhacos com o Senhor Müller.

Emília foi mexer nos guardados de Pedrinho e trouxe uma pitada de pó de pirlimpimpim num pires.

— Vamos resolver esta questão dum outro modo — disse ela, ao voltar. — Tenho aqui este tabaco que vou dividir em duas porções. O senhor toma uma pitada e ali o “cara-melada...”

— Emília!... — repreendeu de novo Dona Benta.

— ... toma outra. Se não espirrarem, é que o rinoceronte é o mesmo que andam procurando.

O advogado e o alemão acharam muita graça naquilo e, sem desconfiança nenhuma, resolveram tomar a pitada de pó de pirlimpimpim, certos de que não espirrariam. Era dose pequena demais para fazer espirrar dois homões como eles, acostumados ao fumo forte. Tomaram a pitada, sorridentes e... fiunnn! — ninguém nunca soube onde foram parar! Sumiram-se no espaço...

A vitória da Emília foi saudada com berros e palmas. Até o rinoceronte aplaudiu com urros, contentíssimo do feliz desfecho do incidente.

Dona Benta deu um suspiro de alívio e voltou ao terreiro. Queria continuar o seu passeio no carrinho. Mas não pôde. Tia Nastácia já estava escarrapachada dentro dele.

— Tenha paciência — dizia a boa criatura. — Agora chegou minha vez. Negro também é gente, sinhá...

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho/Hans Staden. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. III. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Luiz Otávio (Declaração de Princípios da UBT) Acróstico São Francisco


Simplicidade – Sendo a Trova a expressão mais simples da poesia e, pois, um reflexo da alma do Trovador, devemos agir sempre com simplicidade na arte, nas palavras e nas ações.

Amor – Nosso padroeiro São Francisco de Assis – pregou o amor total. Assim, não nos devemos afastar deste ensinamento. Amor ao próximo, à nossa arte, mas também à UBT. Em outras palavras , fidelidade à nossa agremiação.

Ordem – Sem ordem, disciplina, responsabilidade – de dirigentes e sócios – não poderá haver processo, segurança e paz. Faremos tudo para manter esta ordem, a fim de que possamos atingir nossos objetivos, elevando culturalmente o meio social em que vivemos.

Fraternidade – Todas as religiões pregam a fraternidade. O “pobrezinho do Assis”, ao fundar a sua Ordem, denominou seus companheiros de “Irmãos”. Nós que recebemos de Deus o dom da Poesia, mais do que ninguém, devemos ser, verdadeiramente, Irmãos Trovadores. Mas se esquecer que a Bondade deve ser justa, o Perdão sem humilhações e a Tolerância sem fraqueza.

Renúncia – A Renúncia pode ser resumida em não querer tirar proveito da Associação para si, mas ao contrário, em dar algo de si para a mesma.

Autenticidade – Se desejamos fazer parte de uma comunidade devemos ser autênticos. E autenticidade exige lealdade, cooperação e trabalho.

Neutralidade – A UBT tem finalidades definidas. Dentro de nossa Associação, os sócios devem abster-se de debates políticos e religiosos. A neutralidade deve ser compreendida, também,no sentido de isenção e imparcialidade, em nossos trabalhos de direção e julgamento.

Comunicabilidade – Se a Trova é o gênero mais comunicativo, nós, Trovadores devemos cultivar a comunicabilidade não só entre nós da UBT, mas também, com a sociedade que nos cerca.

Idealismo – Temos um Ideal em comum, Ideal simples de espiritualidade e de beleza. Na conquista de Ideal devemos trabalhar com fé e, também, com dinamismo e perseverança.

Sinceridade – Se a todos os empreendimentos elevados é indispensável a sinceridade, nós, como artistas e Trovadores, em nossas atividades repudiamos a mentira, a deslealdade, a intriga e a má fé.

Controle – Os dirigentes devem saber controlar, com habilidade e segurança, o setor que lhes foi dado para dirigir, zelando pela disciplina, pois dessa atuação, é que decorrem a uniformidade, a unidade e força de nossa Agremiação.

Obediência – Obedecer não é humilhante. Há na vida de nosso Padroeiro a lição:- “Quem sabe obedecer, aprendeu a vencer-se e a triunfar”. A liberdade não afasta os princípios de ordem, disciplina e obediência. Aquele que sabe obedecer, que possui espírito de equipe, que acredita realmente na Lei, é o que poderá, com maior êxito, ser bom dirigente. A obediência aos nossos Estatutos, Regimentos e Declaração de Princípios é o que traz a ordem, a paz, a união, e faz a grandeza de nossa UBT – União Brasileira de Trovadores.

(Atualizado em 29/04/2010)

Fonte:
http://ubtsp.com.br/page2.aspx

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 260)

Stonehenge (por John Constable 1776 - 1837)
Uma Trova Nacional

Quando em meus braços te aperto
numa ternura sem fim,
eu sinto que mesmo perto
tu ficas longe de mim.
–CLÊNIO BORGES/RS–

Uma Trova Potiguar

Sei que deste mundo lindo
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: DESVELO - Venc.

Quem dera a Justiça cega
pudesse ver, tão somente,
a falsa prova que entrega
- sem desvelo – um inocente!
–RENATA PACCOLA/SP–

Uma Trova de Ademar

Disse para minha amada
baseado num estudo:
todo amor nasce de um nada,
e morre, de quase tudo!!!
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Bendigo a pessoa honrada
que guarda, na alma, a raiz
da humildade ilimitada
de São Francisco de Assis.
–JOSÉ MARIA M. ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

Tenho que agir agora,
vou resolver a questão,
pra poupar meu coração
mandei a saudade embora;
agi logo sem demora
pois ela a paz me roubou,
quase até que me matou
e criou ódio de mim,
querendo ver o meu fim,
ela se foi mas voltou.
–MAJÓ/RN–

Estrofe do Dia

Calmamente por ti vou esperar
os trezentos e sessenta e cinco dias,
me distraio escrevendo poesias
pra depois em teus braços recitar.
Esse dia pra nós há de chegar
acendendo entre nós eterna chama,
nosso pranto que hoje se derrama
vai tornar-se em doçura de quimera;
um minuto é demais pra quem espera
e uma vida inda é pouco pra quem ama.
–MANOEL XUDU/PB–

Soneto do Dia

–CARMO VASCONCELOS/Portugal
Meu Novo Amor.

Chegas-me de surpresa neste Inverno!
Como me adivinhaste assim tão só,
Mordendo da saudade o amargo pó,
Roçando o cio nas grades deste inferno?

Quem te mandou?... Demónio ou zelo de anjos?
Trazes dos deuses, néctar nos teus beijos,
No mel da voz, hipnóticos harpejos,
Mescla de harpas e cítaras com banjos!

Mas... não sei se te quero ou mando embora,
Se me entrelaço ao róseo desta aurora
Ou se me solto às sombras do poente...

Somar bisado arco-íris na memória,
Dos tais que chuva intrusa rouba a glória?...
- Não sei, meu novo amor, sinceramente!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

quinta-feira, 30 de junho de 2011

J B Xavier (O Bandolim e o Piano)

Bandolinistas Contemporâneos, por Mário Beltrame
13-04-2007 Dedicado a Mário Beltrame

Ainda ouço o bandolim,
e no céu também me irmano,
pois sempre terás de mim
os carinhos de um piano.

Em tuas pirogravuras,
nas cores de tuas telas,
cantavas tuas agruras
tornando-as coisas belas...

Vida é cristal que se parte,
que carece polimento,
E tu poliste com arte
da vida, cada momento.

A nota que sai ligeira
do mágico bandolim,
pela minha vida inteira
soará dentro de mim...

Chora a nota ressentida
que tua ausência nos traz,
embora nesta outra vida
saibamos que estás em paz.

Sendo do Choro um doutor,
deixaste triste, a cantar
em nosso peito uma dor.
O Chorinho está a chorar...

Mário se foi, nos deixou.
Quisera fosse um engano!
Alçou asas e voou:
Caiu finalmente o pano.

E enquanto se chora a ausência
de tua ida de nós,
meu piano, sem clemência,
transforma-se em tua voz.

Bem sabemos que és saudade,
que serás luz noutro plano.
Nasce uma nova amizade:
Um bandolim e um piano.

Fontes:
http://ubtsp.com.br/page2.aspx
http://www.bandolim.net/bandolinistas-na-contempor%C3%A2nea-pain%C3%A9-m%C3%A1rio-beltrame