terça-feira, 31 de maio de 2011

Carlos Correia Santos (Romance de Escritor Amazônico é Lançado em Portugal)


Com prefácio assinado por José Louzeiro e nota de orelha escrita por Olga Savary, obra traz como pano de fundo polêmico projeto da Cia. Ford Motors.

Escritor também terá livro lançado na África

Registros e detalhes sobre uma marcante odisséia vivida pela Amazônia vão aportar em solo europeu graças à literatura. Emoldurado por referências sobre um dos mais polêmicos projetos industriais já realizados na História recente, o romance "Velas na Tapera", do escritor Carlos Correia Santos, será lançado em Lisboa no próximo dia 06 de junho em um recital litero-musical promovido pela FNAC Chiado. O evento promete ser uma fusão cultural que contará com uma mostra de música brasileira e amazônica a cargo dos artistas Fercy Nery (na voz e violão) e Attila Argay (na bateria). A programação incluirá um bate-papo com o autor, além da sessão de autógrafos.

Resultado de seis anos de pesquisa, "Velas na Tapera" tem como pano de fundo a colossal história de Fordlândia, núcleo urbano erguido pela Cia Ford nos anos 20, em plena selva amazônica, para produção de látex destinado à fabricação de pneus que seriam utilizados pela poderosa empresa automobilística. O projeto acabou abandonado depois que a plantação de seringueiras foi atacada por uma praga. É pelo cenário da abandonada cidade americana, em meio ao ermo da mata, que transitam os personagens da narrativa. Em especial, Rita Flor.

Rita perde sua filha de seis anos. Após um misterioso incêndio em sua tapera, ela acredita que sua menina virou uma milagreira e decide construir uma capela em sua homenagem. A jovem não tem dinheiro para cumprir seu intento. O único caminho que lhe resta é prostituir-se. O sagrado e o profano deitam-se na mesma cama. Em meio ao vazio e ao desencanto que transformam Forlândia numa vila fantasmagórica, Rita vende seu corpo para santificar a filha.

PRÊMIO E AVAL

"Velas na Tapera" venceu em 2008 o Prêmio Dalcídio Jurandir, promovido pela Fundação Tancredo Neves (FCPTN), uma das mais importantes entidades culturais da região amazônica. A obra tem prefácio assinado pelo romancista José Louzeiro (autor de clássicos da literatura brasileira, como Pixote e Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia) e orelha assinada por Olga Savary (uma das mais importantes poetas brasileiras, considerada a introdutora do hai-kai nas letras nacionais.

"Sinto que é uma honra em todos os sentidos poder lançar esse trabalho em Portugal. Primeiro porque consigo provar que, mesmo sem a cobertura de mercado de uma grande editora, é possível fazer circular a produção literária. O romance chegou aos leitores graças a um prêmio. Foi editado por uma fundação amazônica e, ainda assim, está trilhando um caminho sólido", ressalta Correia. E ele complementa: "Essa possibilidade de intercâmbio também é sempre fascinante. Para quem cria narrativas em língua portuguesa é uma experiência emocionante poder levar seus ditos ao país berço do idioma com o qual labuta".

Em breve, o trabalho de Correia também chegará à África. Em 2009, o romancista e dramaturgo venceu o concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação do Brasil, com a peça infantil "Não Conte com o Número Um no Reino de Numesmópolis". O trabalho está sendo editado numa coleção com tiragem de 300 mil exemplares que serão distribuídos em escolas brasileiras e africanas.

TRECHOS DO PREFÁCIO DE VELAS NA TAPERA

PERSONAGEM EMBLEMÁTICA
José Louzeiro*

"(...) Em boa hora, o nome do injustiçado Dalcídio vira prêmio literário em Belém, Pará, e o vencedor é o talentoso Carlos Correia Santos - "Velas na Tapera" - que prima pela criatividade, e eu até diria, pela singularidade na maneira de expressar-se.

Isso faz com que este "Velas na Tapera" seja uma obra cativante e originalíssima. O autor brinca com as frases sincopadas e a elas dá espírito novo, através de sugestivas e oportunas expressões metafóricas. A par desses recursos, de certa maneira cultivados por Guimarães Rosa, há que se destacar a preocupação do autor com a questão social, coisa essa imanente em todas as obras de Dalcídio.

A personagem trabalhada, dramaticamente por Carlos Correia é Rita Flor que, com suas vestes pretas, transforma-se numa espécie de estandarte vivo do sofrimento e da desesperança; da mulher diante de seus problemas pessoais, mas funcionando como figura emblemática neste livro que é a narrativa, também, do desastre de uma grande aventura industrial - a Fordlândia (Companhia Henry Ford Motores e Cia.) - que se instala em plena selva amazônica, mas pouco depois sobrevém a desilusão: o projeto naufraga no mar de folhas de todos os verdes, os prédios tornam-se taperas, as máquinas são esquecidas no matagal, como a pedir socorro pelo abandono a que foram entregues.

Mas ao autor, experiente teatrólogo, não basta contar a história do naufrágio do ambicioso projeto industrial numa região da mais absoluta carência; ele se esmera na técnica do dizer, do inventar, literariamente, coisa essa que o coloca no plano mais alto que um escritor poderia aspirar. Claro está que neste "Velas na Tapera" há muitos e bem traçados personagens, mas a figura que transcende é a de Rita Flor, forte e decidida como certas personagens da obra de Bertolt Brecht.

O enterro que Rita faz da filha equivale, nas entrelinhas, ao verdadeiro e definitivo funeral (ou pá de cal?...) do projeto norte-americano que se tornou esperança de vida para uma comunidade inteira, na floresta que guarda tanto viço e riquezas a serem descobertas.

Neste "Velas na Tapera", Rita me faz lembrar, de certa forma, "A Alma Boa de Setsuan" (Brecht), pois ela é, na verdade, uma "parábola teatral," ao mesmo tempo em que pode ser o espírito da mata, da dor materializada no pólen das flores, da decadência, das malárias e pesadelos, dos que sonharam e acordaram perdedores, tremendo no frio da desesperança.

Com este primeiro romance, se Carlos Correia já era considerado versátil teatrólogo, agora estréia na condição de ficcionista que prima pelas inovações e capacidade narrativa. Depois de sepultar a filha Saninha, Rita "se deitaria para sempre sobre a solidão", pois ela passa a ser a personificação do que, popularmente, chamamos de "alma penada", sujeita a chuvas e trovoadas.

O autor traça de tal forma o desenho desta personagem que sua projeção estende-se sobre a narrativa, torna-se absoluta e por que não dizer, chocante, surpreendente, pois é clara a intenção do autor em revolucionar as velhas formas "do dizer e do sentir" no contar de uma história.

"Velas na Tapera" é o que se pode chamar de realismo mágico a envolver a pequena comunidade marcada pela ausência de caminhos. Apenas Rita trilha as picadas da ausência, na louca tentativa de resgatar Saninha, materialização da saudade, do que se foi, não é mais. Menos para Rita. Curioso: essa metáfora, criada com maestria pelo ficcionista, envolve todos os habitantes das taperas, inconscientes da realidade que é uma espécie de rio sem começo e sem fim.

Somente Rita Flor, com as pegadas que deixa pelos caminhos fundos, pulsa como sendo a dor e a oculta paixão de certos homens, que sabem não serem correspondidos, pois o coração de Rita foi sepultado com o corpo de Saninha.

No desvario dela própria e no dos outros é que Rita encontra forças para manter-se viva no seu "mudo prantear". Mas na visão estreita dos vizinhos ela é apenas a desmemoriada, que tudo perdeu - o marido, a casa incendiada - e, agora, vive das luzes que recebe da filha sepultada, mas que, para ela, mantém-se "vela acesa" ou sonho que não se deixa mesclar pelas cores soturnas do seu desafiador existir.

No mundo especial em que Rita transita, além das folhas verdes da floresta, há velas acesas a iluminar sua passagem. Pena que ela já tivesse "um ver que não via nada", nem seus ouvidos registravam os "sussurros do mato" e muito menos os "cochichos de reentrâncias".

As dores transformaram Rita Flor em assombração no inconsciente dos humilhados e ofendidos. Com este livro, Carlos Correia demonstra ser um grande conhecedor do poder das metáforas e de como utilizá-las com sutileza e sabedoria.

* Um dos mais importantes nomes das letras nacionais, José Louzeiro é autor de 40 livros e criador, no Brasil, do gênero intitulado romance-reportagem. Atuou em célebres veículos de comunicação, como "Última Hora", "Correio da Manhã" e Revista Manchete. No cinema já assinou, como roteirista, dez longas-metragens, dos quais pelo menos três se tornaram populares: "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", "Pixote" e "O Homem da Capa Preta". Lançou pela Editora Francisco Alves o estudo biográfico intitulado O Anjo da Fidelidade, sobre Gregório Fortunato, o "anjo negro" de Getúlio Vargas. Em 2001, pela Editora do Brasil: "Isto não deu no jornal" (memórias de sua passagem por cinco jornais cariocas). E em 2002, "Ana Nery, a brasileira que venceu a guerra" (Editora Mondrian): biografia da heroína baiana, patrona dos en fermeiros brasileiros. O trabalho foi adaptado para a televisão, tendo Marília Pêra como protagonista. Ainda na TV, foi o autor de novelas como "Corpo Santo".

ORELHA DE VELAS NA TAPERA

A VELA ACESA POR SAVARY
Olga Savary*

Da complexidade do ser, da própria solidão e solidariedade humana, da sua simplicidade e estranheza, são realizados os textos de Carlos Correia Santos, seja na poesia, nos contos, no teatro ou no romance. Sua dedicação à cultura e à Arte faz deste autor paraense, deste grande brasileiro, um candidato constante às premiações importantes nas áreas citadas: poesia, ficção, peças teatrais.

Assisti com orgulho a uma premiação obtida por ele no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, em 2006. Carlos Correia Santos destacou-se entre dezenas e dezenas de concorrentes. Seu talento impulsionou-o a sobrepujar os demais candidatos. Uma platéia seleta e atenta assistia a apresentação do trabalho de Correia e tinha o direito de votar no melhor participante.

A literatura e a arte foram os meios de expressão eleitos por Carlos Correia Santos, que bem poderia pertencer à Academia Paraense de Letras. Seria uma honra para a APL tê-lo junto aos Acadêmicos, que só teriam a ganhar.

Além de seus méritos pessoais, no trabalho em seus livros, em tudo o que faz, Carlos Correia Santos é um guerreiro, um lutador pela cultura geral e pela cultura paraense em particular, sem falar na sua esplêndida atitude como pessoa, em sua admirável postura diante da vida e dos outros.

Pela extrema elegância e gentileza, pela classe e nobreza com que se conduz em tudo, Carlos Correia Santos é um príncipe. Orgulho-me de ter o privilégio de ser sua fraterna amiga.

* Poeta, contista, tradutora e organizadora de antologias. Artista nacionalmente aclamada, é uma das introdutoras do hai-kai no Brasil.

CARLOS CORREIA SANTOS (CONTATOS)

Poeta, dramaturgo, romancista
E-MAIL: carloscorreia.santos@gmail.com
MSN: cacopoeta@hotmail.com
TWITTER: @cacopoeta
BLOG 01: http://nadasantostudoalma.blogspot.com
BLOG 02: http://mesmoquenaoqueiraseutecontos.blogspot.com
BLOG 03: http://graosparahistoria.blogspot.com


Fonte:
Carlos Correa Santos

Carlos Correia Santos

  1. Carlos Correia Santos é paraense, natural de Belém. Bacharel em Direito. Poeta, contista, cronista, dramaturgo, roteirista e romancista, Carlos Correia Santos tem feito da diversidade uma grande marca de sua carreira. É escritor vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2008, na categoria romance, com a obra "Velas na Tapera", concurso de vulto nacional criado para celebrar o centenário do romancista Dalcídio Jurandir. É autor do premiado livro de poemas "O Baile dos Versos", obra que ganhou especial saudação da Academia Brasileira de Letras, em 1999. Também são de sua autoria as obras "Poeticário" (poemas), "No Último Desejo a Carne é Fria" (coletânea de contos), "Nu Nery" (teatro), Ópera Profano (teatro / Prêmio Cidade de Manaus) e "Batista" (teatro).
Como escritor na área de artes cênicas, coleciona importantes láureas nacionais, como o Prêmio Funarte de Dramaturgia por três anos consecutivos (2003, 2004 e 2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Fomento ao Teatro (2005), o Prêmio Funarte Petrobras de Circulação Nacional (2006) e o Edital Seleção Brasil em Cena do Centro Cultural Banco do Brasil.

Incluídos no Catálogo da Dramaturgia Brasileira da renomada autora Maria Helena Kühner (iniciativa detentora do Prêmio Shell), seus textos teatrais já ganharam diversas montagens e já foram apresentados nas cidades brasileiras de Belém, São Luís, Natal, Recife, Camaçari, Piracicaba, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Suas peças já foram traduzidas para o francês e espanhol. Importantes artistas brasileiros, como Stella Miranda (que interpretou a síndica do humorístico "Toma La, Dá Cá", de Miguel Falabella, exibido na TV Globo), já assinaram direção de suas obras.

Em 2009, foi o autor vencedor da categoria dramaturgia do III Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação. O texto premiado chama-se "Não Conte com o Numero Um No Reino de Numesmópolis". No cinema, foi agraciado com o Prêmio do Edital Curta Criança do Ministério da Cultura. Assinou a seção Contando Um Conto, no jornal O Liberal (um dos maiores da região Norte) e Portal ORM. É colaborador, com seus contos, do jornal O Estado do Acre e dos sites BV News (Roraima), Amapá Digital (Amapá), Manaus On Line (Manaus), Madeira On Line (Rondônia) e Timor On Line (Timor Leste).

Fonte:
Texto enviado pelo Autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XL – A História dos Macacos


Antigamente, lá no começo do mundo, os macacos moravam com os homens nas cidades. Falavam como eles, mas não trabalhavam.

Certa vez houve uma grande festa. Durante um dia e uma noite o tanta não parou de soar. Todos dançavam e bebiam um vinho feito de caldo de palmeira, porque ainda não era conhecida a uva. O velho chefe da tribo saiu dali cambaleando e foi parar no bairro dos macacos.

Antes não fosse! Os macacos judiaram dele. Uns puxavam-lhe a tanga, outros punham-lhe a língua, outros beliscavam-lhe a pele. Tamanha foi a falta de respeito que o velho chefe enfureceu-se a ponto de queixar-se a Nzame, a divindade da tribo.

Nzame mandou chamar o chefe dos macacos. Passou-lhe uma grande descompostura e disse:

— De hoje em diante, como castigo, os macacos têm que trabalhar para os homens.

Mas os macacos revoltaram-se contra a ordem do deus. Juraram não trabalhar.

Quando iam para a roça, penduravam-se nas árvores do caminho, davam pulos pra aqui, pra ali, fugiam. Não houve meio de conseguir deles nenhum trabalho. O chefe da tribo danou.

— Preciso dar uma lição nesta macacada.

Depois de refletir algum tempo deu ordens, para uma grande festança, onde houvesse muito vinho. Mas dividiu as cabaças de vinho em dois lotes — um de vinho puro e outro de vinho misturado com uma erva dormideira. "Este é para os macacos" disse ele.

Quando os macacos souberam da grande festa e da grande vinhaça, aproximaram-se todos muito xeretas. Dançaram, pularam e beberam até não poder mais. Meia hora depois dormiam sono profundo.

O chefe, então, mandou que os seus homens metessem o chicote nos macacos até deixá-los peladinhos — e no dia seguinte botou-os no serviço.

Mas quem pode com macaco? — O berreiro que fizeram foi tamanho que o chefe, completamente zonzo, deu ordem para que lhes cortassem a língua.

"É o único meio de acabar com esta gritaria." Ficaram os macacos sem línguas — mas dois dias depois sumiram-se da aldeia, afundando no mato. Nunca mais quiseram saber dos homens — e também nunca mais falaram. Quem tem língua cortada não fala.
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— Esta história se parece, com as nossas daqui — disse Narizinho. — Bem bobinha.

— Sim, mas que havemos de esperar dos pobres negros do Congo? Sabem onde é o Congo?

— Sei — disse Pedrinho. — É quase no centro da África, do lado daquela costa que o senhor Pedro Álvares Cabral evitou de medo das calmarias. Há o Congo Belga e o Congo Francês. E sei também que cá para o Brasil vieram muitos escravos desses Congos.

— É verdade. O pobre Congo foi uma das zonas que forneceram mais escravos para a América, de modo que muitas histórias dos nossos negros hão de ter as raízes lá.

— Quem sabe se tia Nastácia é do Congo? — lembrou Narizinho.

— Não — disse dona Benta. — Nastácia é neta dum casal de negros vindos de Moçambique.

— Hum, hum! — exclamou Emília. — Moçambique! Que luxo...

— Conte outra, vovó — pediu Pedrinho. — Conte uma história dos esquimós.
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Continua… XLI – O Rato Orgulhoso
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Sidnei Schneider (Cuidados Com Quem Faz da Palavra Arte)


Ao ficcionista ou poeta, explorar o vórtice das contradições do ser humano, da sociedade e do mundo não é algo ocasional, mas parte inafastável do seu cotidiano. O que outros varreriam para baixo do assoalho, a fim de se ocuparem das responsabilidades, o escritor coloca sobre a mesa e usa como matéria-prima para dar conta das suas.

Daí que talvez não seja exatamente mais sensível, como se acredita serem os artistas, mas simplesmente mais aberto a manusear o que, de uma forma ou outra, a todos atinge. Contudo, ao transformar tais questões em palavras, se obtém alguma gratificação, paga um custo. Entrar na caverna do Minotauro pode ser heróico, mas também doloroso. Seja para Ariadne, seja para Teseu.

Alie-se a isso as dificuldades criadas pelo fato de exercer uma atividade que exige longa formação; trabalho solitário e exaustivo, normalmente contabilizado em anos a cada obra; certo desapego para encarar uma remuneração inadequada ou inexistente. Mesmo distante de uma escrita autobiográfica, expõe-se até os ossos, oferecendo a face à crítica e ao público. O conjunto faz do escritor alguém potencialmente frágil.

As histórias de superação ou sucumbência a situações de miserabilidade, internamentos e suicídio são bem conhecidas na literatura. Recordo sempre do que disse o poeta russo Nicolai Assiéiev após a morte de Vladimir Maiakóvski, ao avaliar que a essa fábrica de felicidade, de aspecto invulnerável, os amigos e cidadãos deveriam ter dedicado maiores cuidados.

A um artista da palavra (ou a qualquer outro), esse cuidado recompensa de forma peculiar e distinta. Pequenos gestos sinceros o tocam seguramente mais do que a estrondosa pompa de um prêmio. Gestos desse tipo me fazem relembrar certa madrugada. Um ônibus com a ventarola quebrada circundava os picos de neve, entre Cuzco e Arequipa, a trinta graus abaixo de zero. Nos vidros, cristalizavam-se as infinitas formas das rosáceas de gelo. Três pares de meia nos coturnos, duas calças e camisas, blusão de lhama e sobretudo não me aqueciam o suficiente. A mulher do condutor enrolava e queimava revistas para descongelar o parabrisa e manter o velho ônibus a caminho. Um homem de aspecto incaico levantou e sem dizer nada me estendeu um cobertor. O gesto entalhou-se para sempre na xilogravura da memória. Não exatamente em função de me salvar do frio, mas porque ali estava um ser humano ajudando a outro sem outro interesse a não ser o de lhe fazer bem. Não tenho medo de errar: de tais coisas, mais do que de benesses ou facilidades, alimentam-se poetas e prosadores. De alguma forma, buscam reparti-las com o leitor. E no campo oposto, as execráveis são apontadas e dissecadas.

Há pouco tempo, tive de cumprir algo que não fazia parte das minhas tarefas habituais. Criticar comparativamente e por escrito, enquanto jurado de um concurso, obras de autores meus amigos. Fazê-lo e ser ao mesmo tempo cuidadoso não é simples de alcançar fora de uma conversa informal com o colega. Não sei se obtive o bom termo, o fato me ocupa até hoje. Pois quem escreve não está imune à necessidade de prestar atenção e cuidados a seus pares. E, evidentemente, a todos que o cercam, leitores ou não. Assim, ser cuidadoso em relação aos outros é também cuidar-se, no sentido de habilitar cada vez mais a sua humanidade para o convívio.

Sugestionado por uma amiga, escrevi este pequeno texto para meninos e meninas que faziam quimioterapia e seus familiares. Talvez com ele se possa ampliar a discussão.

CONFIANÇA

Vi um pai e uma mãe ao redor de uma pedra redonda de granito, três as filhas. Elas subiam na pedra, deixavam-se cair de costas, e o pai as salvava. A menor, numa das vezes, olhou para trás, insegura. Então o pai falou, olha pra frente, fecha os olhos. Ela fez, e se deixou cair, livre de ter de confiar apenas em si.

Penso que esse liame, a possibilidade de poder contar um com o outro, por mínimo que seja, mina a lei da selva que nos quer indiferentes ou inimigos. Move cordilheiras e outras galáxias.

Tema sugerido pela revista O Cuidador. Texto originalmente publicado na edição Ano III, N° 14, 2011/ 1.

Fonte:
Artistas Gaúchos

Tânia Tomé (Livro de Poesias)


MOÇAMBIQUE

Quando me sento descalça
sobre o sapato do menino pobre
que me enche o pé
muito mais que outro qualquer
me lembro que existir
não é sozinha
é com toda gente.
E me lembro
que tenho de embebedar-me de ti
Moçambique
Porque tenho saudades de mim

SONS EM UNÍSSONO

A mão que me lê
ganha no espelho
a pupila
de uma luz imensa
no fundo da concha.

É o que se me vê(m) além
da cotilédone da pele:
sons ruidosos
em uníssono.

SERMENTE

E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente

SE O MEU PESCADOR PESCASSE

Se o meu pescador me pescasse
pelo arpão me agarrasse os versos
um a um, sem pressa
a melhor palavra do mar...

Mas em que lugar da asa
a palavra poderia ser mais bela?
Com que cheiro? Com que sabor?
Onde seria o lugar do sol
Com que cor? Com que brilho?

E sei que hei de escolher
depressa mas devagar
a palavra mais carnuda para comer
E vou comer intensamente
Com toda forca dos meus (d)entes
na ponta dos dedos
as palavras que não me calo
E um peixe com asas
Há de nascer
E há de pescar-me no alto
o pescador
Espero

ENCANTOEMA

Pois ha urna verdade,
é a verdade do poema.
Urna verdade que não existe
e que não importa.
O que importa és tu
e és tu que existes
no peixe que sonhas.

ENCANTAMENTE

Uma confusão de dedos
procurando as mãos
da menina
— Onde estão, mãe,
as minhas asinhas da loucura?

A PALAVRA

A palavra quer deitar-se
sozinha, reflexa
contemplar devagar
o sol morre ao silêncio
Não há pressa, não há medo
A palavra quer morrer
quantas vezes for preciso

SONHO

Inspirada num poema que de igual forma me caracteriza de poeta amigo CAVALAIRE (Adilson Pinto).
Não tenho medo de assumir quem sou, uma eterna sonhadora que luta por aquilo em que acredita. (Tânia Tomé)

Eu tenho um sonho,
e dentro dele milhares
de sonhos possiveis...
em que acredito,
quase sempre
na plenitude
como na forma
em que respiro.

AMOR

Meu poema infinito
Tu escreves-me tão bem
esse amor todo nos teus dedos
escrevives-me exactamente
como me sonhei

Tânia Tomé (1981)


Cantora, poeta e compositora moçambicana.

Tânia Teresa Tomé, nasceu a 11 de novembro de 1981, na cidade de Maputo, Moçambique. Ingressa na vida artística aos 7 anos, ao vencer o prêmio de melhor voz no Concurso de Música organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique..

Aos 13 anos, participa do seu primeiro sarau, onde canta, declama e toca ao piano poemas de José Craveirinha, em espetáculo que inclui a presença do homenageado.

Com 17 anos, entra para a Universidade Católica Portuguesa, no curso de Economia..È Licenciada em Economia e Pos-graduada em Auditoria e Controlo de Gestão pela Universidade Católica Portuguesa (Portugal,Porto).

Em 2002, adere ao Movimento Humanista, e faz algumas atuações em Portugal para angariar fundos para as crianças desfavorecidas de Moçambique.

Um ano mais tarde, ganha o Prêmio de Mérito da Fundação Mario Soares de Portugal pelo bom desempenho acadêmico e por conciliar estudos e atividades artístico-sociais.

Em 2004, é co-autora da antologia Um abraço quente da Lusofonia, com outros jovens poetas representantes de cada país da CPLP. Nesse mesmo ano, faz parte do CD intitulado Encontro (Iniciativa dos Leigos da Boa Nova), cuja totalidade dos lucros se destina a apoiar os projetos em favor das crianças e jovens de Angola e Moçambique. Regressa a Moçambique, e contribui para diversos movimentos artísticos e culturais, a destacar Movimento 100 crítica, Clave de Soul e Amigos do Livro. Faz-se então Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação dos Músicos Moçambicanos e dos Poetas del Mundo.

Em 2006, produz e apresenla, ao lado do músico Julio Silva, um programa cultural na Televisão de Moçambique (TVM).

Em 2008, realiza e produz o espetáculo "Poesia em Moçambique", em tributo a José Craveirinha, onde todas as artes interagem para tornar vivo o poema. Introduz o conceito de Showesia (neologismo criado por ela) em Moçambique, com o qual se faz espetáculo de poesia com urna banda de músicos, ao lado da qual Tânia canta e recita poemas, havendo teatro da poesia, dança da poesia, entre outros.

Participou em alguns projectos de poesia e declamação, de referenciar "Dentro de mim outra ilha de Júlio Carrilho" com Jaime Santos (Declamador Moçambicano), e participação na Feira da Voz no Franco-Moçambicano como Júri de Declamação e actuação com Eduardo White (Poeta Moçambicano), ganhou alguns prémios de poesia, e têm "mão" alguns projectos para o futuro presente. Já foi igualmente Júri Residente de Musica em Programas de Descoberta de Novos Talentos na Televisão Nacional de Mocambique.

E em 2009 nasce o seu primeiro bebe germinado no processo de mais de 15 anos intensos de vida artística bebendo a arte e a cultura e fazendo o casamento profundo entre a música e a poesia, o seu DVD SHOWESIA (primeiro e único DVD de Poesia em Moçambique) que é o espectáculo de poesia produzido e realizado pela mesma em 2008 em homenagem ao poeta José Craveirinha.

Showesia é um conceito e movimento criado e divulgado pela Tania que designa Show/ espectáculo de Poesia, um evento cultural que incorpora poesia, declamação de poesia e todas as outras formas de expressão artística, tais como dança tradicional e moderna, e musica nas suas mais diversas variantes desde tradicional com instrumentos tradicionais (tais como as timbilas, tambores, mbiras entre outros), e outros instrumentos como Baixo, Guitarra, Piano, voz, e Skach teatral com cenários diversos para dar vida a poesia.

O objetivo num mundo de constante desenvolvimentos tecnológico e globalizado é resgatar e valorizar o patrimônio cultural mundial, criando uma plataforma e nekwork cultural mundial.
A ideia subjacente é a de que é possível fazer algo pela educação e pela cultura que seja aliciante e interessante, através de um formato entretido chamado Edutainement (Educação e cultura com entretenimento). Contribuir para mudança deste conceito linear de que a poesia, a literatura, a educação e cultura não são atractivas e são apenas elitistas e para um grupo de pessoas.

Existe uma consciência plena da dificuldade, mas nada é impossível, e a mudança mesmo que lenta acontecerá, e mesmo que não aconteça enquanto vivos estaremos a contribuir para as gerações vindouras.

Em seguida, lança oficialmente a página web www.showesia.com, e faz parte do Poetry África em Maputo, representando Moçambique, repetindo atuação e representação no Festival Internacional Poetry África na África do Sul.

Faz parte da antologia Worid Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas oriundos de 100 países).

Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado de Mia Couto e Calane da Silva.

Lançou em Maio de 2010 em Moçambique seu livro de poesia “Agarra-me o Sol por traz” que é uma das referências bibliográficas da Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Finais de 2010 a editora brasileira escrituras lançou o livro “Agarra-me o Sol por traz, outros escritos e melodias” com prefácio do Brasileiro Floriano Martins e pintura de Eduardo Eloy.

Participa do livro The bilingual anthology on african poetry (China).

Atualmente preside a associação Showesia com objetivo de resgatar o patrimônio cultural através de uma plataforma de interação entre o tradicional e o tecnológico/ocidental e de uma network cultural mundial.

Conta já com vários prêmios internacionais entre os quais se destacam premio academico da Fundação Mário Soares (presidente de Portugal), Premio Festival da Canção, Porto, Portugal, Premio soundcity music award (África), Premio de música da Organização Mundial de Saude, Premio de Poesia Millenium Bim.

" Escrevo, para que numa dimensão sem espaço e sem tempo, eu possa interagir comigo e com os outros. Promovendo cultura para todos, conscientizando pessoas, alimentando espíritos e fazendo emergir por momentos constantes e incessantes "PRAXIS" E "GNOSES". Para que possa eu, ver de mim a crescer e aprender com tudo e todos os que me possam guiar. E com isso contribuir com o que tenho na alma e na mente para fazer crescer outrem, fazer crescer meu MOÇAMBIQUE, fazer crescer MUNDO "
Tânia Tomé

www.taniatome.com
www.showesia.com

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=4351

Suely Braga (A Mulher Na Literatura Brasileira)


A mulher historicamente teve um papel secundário. Relegada ao espaço doméstico, as mulheres viviam enclausuradas. As meninas, desde cedo, aprendiam as prendas domésticas, preparando-se para o casamento. Saiam do jugo do pai, para entrar debaixo do jugo do marido, seu chefe. Sem direito a aprender a ler, escrever e votar.

Houve desde o século VI alguns nomes femininos com relevante atuação em suas comunidades: heroínas, guerreiras, beneméritas,administradoras como Ana Pimental, que geriu a capitania hereditária em lugar do seu marido.

A imprensa inexistia no Brasil. colônia, só facultada por D. João em 1808. Assim desde a década de1820 a mulher começou a expressar em letra de forma seus sentimentos, anseios e ideais. Interessante que foram as mulheres as primeiras a produzir literatura, porque ao homem cabia atividades expansionistas e econômicas.

De abrangência nacional,as primeiras intelectuai foram: a sul rio-grandense Maria Clemência da Silveira Sanpaio com suas Poesias de exaltação ao imperador, em 1823, Nísia Floresta, do Rio Grande do Norte, com sua Tradução Feminista, em1832, a cega Delfina Benigna da Cunha de São José do Norte, RS com suas poesias sentimentais e sofridas, em1834. Ana Eurídice de Barandas de Porto Alegre, em 1845, trouxe poesias e crônicas de denúncia à Guerra dos Farrapos, Ana Luiza de Azevedo Castro, de Florianópolis e Maria Firmina dos Reis,do Maranhão, foram as primeira romancista, em 1859. Nísia Floresta Brasileira Augusta publicou seu primeiro Livro: ”Direitos das mulheres e injustiça dos homens “, em 1932 e o primeiro a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho.

Em 1910, Raquel de Queiroz, de Fortaleza, ensaísta, cronista, dramaturga, tradutora, em 1940, integrou a União das Classes Femininas do Brasil. Recebeu o prêmio Machado de Assis, em 1977, da Academia Brasileira de Letras, na qual foi a primeira mulher a ingressar, em 1977. Também romancista.

Escreveu o Quinze (1932), Caminho de pedras, (1937). Muitas de suas obras são traduzidas no estrangeiro.

No regime militar, algumas escritoras se posicionaram contra o governo ditatorial, revelando suas posições politicas como Nélida Pinõn.Eleita para a Academia Brasileira de Letras(1989), foi a primeira mulher a presidir a entidade, em 1996. Nossa gaúcha Lila Ripoll, professora, poetisa.

Foi militante comunista, desde o assassinato de seu irmão.
Ganhou o prêmio Pablo Neruda com Poemas e canções, em 1957.

O rol das grandes escritora do século XX é vasto:
Cecília Meirelles, Lígia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Hilda Hist , Marina Colassanti, Lya Luft, Maria Dinorath do Prado, Patrícia Bins,Marta Medeiros, Letícia Wierzchowski e tantas outras.

As mulheres vêm conquistando seu espaço na literatura.

Atualmente está surgindo uma plêiade de escritoras e poetisas jovens, outras nem tão jovens, que se espalham pelas editoras com suas obras literárias. A Historiadora Hilda Flores buscou as escritoras para seu livro “ Dicionário de mulheres”, que já está no prelo e vai ser lançado em Porto Alegre, em 17 de maio próximo.

Ela escreveu o “Dicionário de Mulheres” , em Porto Alegre, em 1999.. Surgiram também muitas Academias Literárias femininas. Com a internet é infindável o número de escritoras com seus sites, seus blogs e seus twitters.

As mulheres de hoje deixaram de ser Amélias, para navegarem em todos os setores da sociedade e no mundo das letras.
Link
Bibliografia: Flores,Hilda –Dicionário de Mulheres - 1999.

Fonte:
Artistas Gaúchos

Biblioteca Comunitária de Itu (VERBALIZE - Sarau Literário e Musical) sábado, 4 de junho


ITU-SP | Neste sábado, 4 de junho, o Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima - realizará o VERBALIZE!, um Sarau Literário e Musical. O evento terá início às 19 horas e é gratuito e livre para todas as idades.

Haverá apresentações musicais e recitais livres de poesia, inclusive com a participação do público. A ideia é mostrar que um Sarau não é necessariamente um evento feito pela e para a elite, e sim um local de troca de conhecimentos e experiências de pessoas das mais diversas idades e classes sociais. Através da variedade de poemas e canções apresentadas, pode-se ter uma visão da diversidade da cultura brasileira.

Quem desejar apresentar algum poema ou música é só se dirigir ao local do evento. Não há necessidade de inscrição. O participante pode levar um ou mais textos pré-selecionados ou escolher no acervo literário da biblioteca, que contempla autores clássicos e modernos.

A Biblioteca Comunitária fica na rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu. Mais informações pelo telefone (11) 8110.3598.

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PONTO DE LEITURA
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PROF. WALDIR DE SOUZA LIMA
Rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.SP
CEP 13300-005
Contatos: (11) 8110.3598
www.bibliotecacomunitaria.wordpress.com

Feira Literária de Londrina Seleciona Atividades, até 24 de junho


O Festival Literário de Londrina 2011 (Londrix), está recebendo para inscrições de propostas na área de literatura. Os proponentes, poderão realizar debates, lançamentos e exposições de livros, apresentações artísticas, shows e outras atividades ligadas ao mundo literário.

Londrix acontece na cidade norte-paranaense no mês de setembro. As inscrições para o festival permanecerão abertas até o dia 24 de junho.

Em sua sétima edição, o encontro , realizado todos os anos, reúne em Londrina os grandes nomes da literatura nacional para refletir a produção e as experiências desenvolvidas no país. O objetivo final do evento é estimular a formação de leitores e divulgar escritores e obras.

O festival promove debates, palestras, shows, lançamentos de livros, sessões de autógrafos, oficinas e leituras. Em 2010, Londrix contou com lançamento de livros de autoras como Tríade Beatriz Bajo, Célia Musilli e Edra Moraes, debates com Fausto Fawcet e Alex Lima, entre outros eventos.

As inscrições de atividades literárias no Londrix devem ser feitas pela internet e são gratuitas.


EDITAL DE SELEÇÃO DE TRABALHOS PARA O FESTIVAL LITERÁRIO DE LONDRINA LONDRIX2011

O presente edital institui normas para seleção de trabalhos para o Festival Literário de Londrina – Londrix2011, que acontecerá de 20 a 24 de setembro de 2011.

1. ORGANIZAÇÃO

1.1. A seleção será organizada pela AARPA – Atrito Arte Artistas e Produtores Associados e pela Equipe Organizadora do Festival sob Coordenação do Curador Marcos Losnak.

2. DAS CATEGORIAS

2.1. Cada candidato deverá inscrever apenas uma proposta em cada uma das categorias:

2.1.1 DEBATES/PALESTRAS / NACIONAL: os candidatos devem possuir currículo representativo no cenário literário nacional. Serão selecionados dois trabalhos nesta categoria.

2.1.2 DEBATES/PALESTRAS DE ARTISTAS / LOCAL: os candidatos devem possuir vínculo com a cidade de Londrina, ter nascido em Londrina, e/ou desenvolvido sua carreira em Londrina e/ou residir em Londrina comprovadamente há mais de um ano. Serão selecionados 6 trabalhos nesta categoria.

2.1.3 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / NACIONAL: os candidatos devem possuir currículo representativo no cenário literário nacional. Será selecionado um trabalho nesta categoria.

2.1.4 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / LOCAL: os candidatos devem ter este trabalho desenvolvido na cidade de Londrina. Serão selecionados 3 trabalhos nesta categoria.

2.1.5 LANÇAMENTO DE LIVROS: os candidatos deverão possuir trabalho publicado em 2011 na área literária. Serão aceitos 10 trabalhos nesta categoria.

3 DAS INSCRIÇÕES

3.1 Período de 30 de abril a 24 de junho de 2011

3.1.1 INSCRIÇÃO PELO CORREIO: cada candidato deverá enviar 01 (uma) cópia da sua proposta, o currículo e a ficha de inscrição preenchida (anexo 1). A postagem deverá ser efetuada até 24 de junho, comprovadas pelo carimbo do Correios até esta data.Endereço: Festival Literário de Londrina – Londrix2011 Rua João Pessoa, 103 A Londrina Pr CEP 86020-220).

3.1.2 INSCRIÇÃO PELA INTERNET: a inscrição será efetuada no site do Festival: www.festivalliterariodelondrina.com.br, devendo enviar 01 (uma) cópia da proposta, o currículo e preencher a ficha de inscrição, que estará disponível no site.

4. PARTICIPAÇÃO

4.1 As inscrições são gratuitas.

4.2 É vetada a participação de funcionários públicos municipais de Londrina. Por funcionário público municipal entende-se, além dos funcionários contratados e estatutários da Administração Direta, também os funcionários de autarquias e fundações municipais e os funcionários terceirizados.

4.3 O ato da inscrição implica, automaticamente, na cessão dos direitos de imagem para uso específico na divulgação do Festival Literário de Londrina – Londrix2011.

5. SELEÇÃO

5.1 A equipe organizadora do Festival Literário de Londrina – Londrix2011, sob coordenação do Curador Marcos Losnak é responsável pela seleção dos trabalhos e se baseará nos seguintes critérios: análise de currículo, representatividade na área literária, tema da proposta e perfil do Festival.

5.2 A decisão da Comissão é soberana não cabendo recursos.

6. DIVULGAÇÃO DO RESULTADO

6.1 O resultado será divulgado em 24 julho de 2011 através do site do Festival. A partir desta data a Organização do Festival entra em contato com os autores dos trabalhos selecionados.

7. DOS VALORES

7.1 Os valores a serem pagos são diferenciados para cada categoria:

7.1.1 DEBATES/PALESTRAS / NACIONAL: Serão selecionados dois trabalhos nesta categoria com valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.2 DEBATES/PALESTRAS / LOCAL: Serão selecionados 6 trabalhos nesta categoria com valor de R$500,00 (quinhentos reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.3 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / NACIONAL: Será selecionado um trabalho nesta categoria com valor de R$2.000,00 (dois mil reais). Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.4 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS/ LOCAL: Serão selecionados 3 trabalhos nesta categoria com valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.5 LANÇAMENTO DE LIVROS: Serão aceitos 10 trabalhos. Não há pagamento de cachê nesta categoria.

8. OUTRAS DISPOSIÇÕES

8.1. Não serão aceitos trabalhos que não estiverem estritamente de acordo com este REGULAMENTO e não tiverem a ficha de inscrição preenchida corretamente.

8.2. Os trabalhos enviados que não estiverem de acordo com o REGULAMENTO terão automaticamente suas inscrições invalidadas.

8.3. A inscrição dos trabalhos implica conhecimento integral dos termos do presente.

8.4. Pedidos de informações sobre este Edital poderão ser feitos pelo e-mail festivalliterariodelondrina@bol.com.br.

CHRISTINE DO CARMO VIANNA
Diretora do Festival Literário de Londrina – Londrix2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

José Feldman (Poesia para um Amigo Querido)













Ao meu cãozinho Fluffy, falecido há um ano, que estaria fazendo 11 anos.

O sol nasceu cedinho
E seus raios de calor
Caíram sobre a terra adormecida.
A manhã despontou
E você despertou
E seus olhos brilhavam
E havia um calor intenso
Em cada gesto seu.

O dia começava e
Você estava feliz,
Mais feliz ainda
Ao me ver junto a si.

Seu rabo negro e branco
Agitava de felicidade,
E voce pulou,
E voce me lambeu,
E voce me abraçou.

Corremos pelo quintal,
E senti o seu calor,
O seu amor…incondicional.

Briguei contigo,
Mas sua amizade
Era muito forte.
E sempre fui
Dominado pelo seu amor.

As borboletas voavam pelas flores,
Os passarinhos cantavam alegremente,
O próprio dia era mais radiante.

Mas,
O céu foi ficando escuro,
Os raios estremeceram a terra,
O sol sumiu nas trevas,
Seus olhos perderam o brilho
Seu rabo parou de agitar,
Suas pernas já não se moviam.

O sol se foi para sempre,
E só restou a noite,
Só restou as lágrimas,
Encharcando minhas lembranças.

Nem houve um tempo para um adeus!
Um ano sem voce, meu amigo!
Ainda parece que foi ontem
Que estavamos juntos.

Um dia estaremos juntos,
Novamente,
E o sol voltará a brilhar!
Até mais, meu amigo!

Adolfo Casais Monteiro (1908 – 1972)


Adolfo Victor Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972.

A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística. É ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, num meio influenciado por Leonardo Coimbra, que se estreia nas Letras com os poemas de Confusão em 1929. Embora nunca ostente a sua formação em Filosofia, ela será indelével em dois aspectos: o interesse pela conceptualização e pela Linguagem, e o norte orientador da liberdade.

Depois de ter obtido qualificação pedagógica em Coimbra, começa a ensinar no Porto em 1934 no Liceu Rodrigues de Freitas. Casa-se com Alice Pereira Gomes, irmã de Soeiro Pereira Gomes, de quem só se separa um ano após partir para o Brasil, duas décadas mais tarde. No final dos anos 30 e na década seguinte foi demitido do ensino pela ditadura e preso sete vezes, vivendo uma vida profissional atribulada por motivos políticos, mantendo a sua atividade de poeta e crítico através de trabalhos de tradução e edição. Sob anonimato, coordena o semanário Mundo Literário. Não menos relevante é a sua ligação com Fernando Pessoa, que data dos dias em que dirigirá a Presença. Logo em 1942 organizara e prefaciara uma antologia poética de Pessoa, que conhecerá sucessivas re-edições e influenciará sucessivas gerações de leitores. Essa atividade iniciada na crítica e correspondência com o próprio Pessoa na década de 1930 e prosseguida editorialmente na década seguinte, terá no início de 1950 expressão em Francês, traduzindo «Tabacaria» com Pierre Hourcade.

Grande parte do trabalho destas duas décadas encontra-se na reunião de ensaios O Romance e os Seus Problemas de 50; edição modificada no Brasil, mais tarde, como O Romance: Teoria e Crítica. É também sua a fixação do texto primitivo e versão em português moderno da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (2 vols., Lisboa e Rio de Janeiro, 1952/3).

Em 1954, ano em que parte para o Brasil para participar num congresso mas já com a intenção de aí ficar e enviar uma «carta de chamada» para a mulher e o filho, João Paulo Monteiro, que se lhe juntará em 1963, publica Voo sem Pássaro Dentro (poesia) e vê uma antologia de poema seus surgir em castelhano.

No Brasil mantém atividade poética. Surgirá em 1969, como original nas Poesias Completas, O Estrangeiro Definitivo, além de continuar a organizar antologias, com destaque para A Poesia da Presença em 1959, no Brasil e 1972 em Portugal, re-editada aqui em 2003. Contudo, é sobretudo à crítica e à teoria literária que se dedica. Colaborador habitual de órgãos de comunicação social influentes como O Globo e O Estado de São Paulo, publica regularmente crítica literária que incide equitativamente sobre autores brasileiros, portugueses e escritores de outras línguas.

Tendo ensinado em várias universidades brasileiras, fixa-se em 1962 na Universidade de São Paulo, lecionando Teoria da Literatura, o que lhe permite elaborar aspectos conceptuais da crítica a que dava atenção desde a sua estreia ensaística em 1933.

Manteve sempre em vista a atividade artística e literária em Portugal onde nunca voltou, como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a Censura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume Poesias Completas, marcando a recepção da sua Obra pela geração que fará o 25 de Abril. Morreu em S. Paulo em 1972 a 24 de Julho.

Será entre essa recepção imediata (à falta de melhor termo) que outras obras surgiram, por iniciativa de seu filho e nora, Maria Beatriz Nizza da Silva, no imediato pós-revolução, como O país do absurdo (textos políticos, edição República em 1974 e A Poesia Portuguesa Contemporânea editada pela Sá da Costa em 1977. Progressivamente, as Obras Completas de Adolfo Casais Monteiro começam a ser (re)publicadas na Imprensa Nacional.

Fonte:
Estudo Raposa

Olivaldo Junior (Pois é, está frio...)


Ainda estamos no outono.
Eu sei: ninguém é meu dono.
Mas eu também sei: sonho.
Sonho com o sol mais risonho,
nestes dias que abandono.

Pois é, está frio...
Faz tempo que não nos escrevo.
Mas inda sorrio.
É difícil, mas inda lhe prescrevo,Alinhar ao centrofeito um médico,
pílulas de alegoria, “o” remédio.
Pois é, é o tédio...

Durante a falta de versos,
ninguém que me importasse
mandara um dos servos
da alegria (notícias), nem fax,
nem carta, nem uns versos...

Pois é, está frio...
Durante a falta de assunto,
fui negado ao pedir perdão,
fiquei sozinho no mundo,
esqueceram-me com violão,
poesia e pão, num segundo.
Pois é, está frio...

Sonhei que estaria cantando.
Cantei que estaria ensinando.
Ensinei que acordaria sonhando.
Sonhei com amigos tocando.
Toquei, sozinho, o acalanto.
Acalento o frio. Mas até quando?

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXIX – O Camponês Ingênuo


Era um camponês muito ingênuo, que um dia partiu para a cidade de Bagdá a fim de vender uma cabra; foi montado num jumento, a puxar a cabra, que ia, tlin, tlin, tlin, com um cincerro ao pescoço. Três ladrões resolveram roubá-lo.
— Eu me encarrego de furtar a cabra — disse um deles.

— E eu, de furtar o jumento — disse o segundo.

— E eu, de furtar-lhe as roupas — disse o terceiro.

Assim combinados; os três malandros seguiram o pobre camponês. O primeiro deu jeito de passar a campainha do pescoço da cabra para o rabo do burro sem que o pobre homem percebesse. Sempre a ouvir o toque da campainha, só muito lá adiante é que olhou para trás e não viu cabra nenhuma.

Desesperado com aquilo, porque aquele animalzinho representava muito para ele, pulou do jumento abaixo e pediu a um homem que viu por ali que o segurasse enquanto ele ia em procura da cabra. Com a maior boa vontade o homem prontificou-se a segurar o jumento — e, assim que o camponês se afastou, fugiu. Esse homem era o segundo ladrão.

Quando o camponês voltou e não encontrou nem sinal do jumento, abriu a boca, desesperado. Nisto deu com outro homem que olhava para dentro dum poço, com grande aflição.

— Que houve? — perguntou o camponês. — Perdeu também algum jumento?

— Perdi muito mais — disse o homem com voz de desespero. — Imagine que fui encarregado de entregar um escrínio de ouro ao califa, e sentando-me à beira deste poço, para descansar, não sei que jeito dei que o escrínio caiu lá dentro.

— Por que não desce para pegá-lo?

— Já pensei nisso, mas tenho medo de resfriar-me. Sou muito sujeito a resfriados. Estou esperando que apareça alguém que queira prestar-me este serviço.

— Quanto paga? — perguntou o camponês.

— Oh, pago dez moedas de ouro, porque se trata dum escrínio riquíssimo.

O camponês não disse mais nada. Sacou fora a roupa e desceu ao poço. E o tal portador do escrínio, que não era portador de escrínio nenhum e sim o terceiro ladrão, fugiu com a roupa dele...
=============
— Coitado! — exclamou Narizinho. — A vida é bem cruel. Os ingênuos e os bons são sempre iludidos pelos maus.

— Verdade, sim — concordou dona Benta.

— Os homens de boa fé saem sempre perdendo. Por isso o meu bisavô, que foi o homem mais matreiro da sua zona, costumava dizer: "Quando alguém me procura para propor um negócio, eu fico ouvindo e pensando cá comigo: "Onde estará o gato?" e descubro, porque em todo negócio que alguém propõe há sempre um gato escondido." Nesse pau tem "mé"! — dizem os caboclos.

Mas Narizinho não tirava da idéia o pobre camponês.

— Coitado! Perder a cabrinha já foi um desastre. Perdeu depois o jumento, que valia muito mais que a cabrinha. E por fim acabou nu em pêlo. E por quê? Só porque teve boa fé, só porque acreditou nos três homens...

— Por isso é que eu não gosto de gente — gritou Emília. — São os piores bichos da terra. Entre as formigas ou abelhas, por exemplo — quem é que já viu uma furtando outra, ou mentindo para outra, ou amarrando outra em rabo de burro bravo? Vivem em sociedade, aos milhares de milhares, na mais perfeita harmonia. Ah, quem quiser saber o que é honestidade de vida, vá a um formigueiro ou a uma colméia. Aqui entre os homens é que não fica sabendo disso, não. Quanto mais conheço os homens, mais aprecio as abelhas e as formigas.

— E agora vovó? Que história vai contar? — perguntou Pedrinho.

— Vou contar uma do Congo, na qual os negros explicam como é que apareceram os macacos.
–––––––––––––
Continua… XL – A História dos Macacos
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ialmar Pio Schneider (Homenagens em Soneto IV)


SONETO A VOLTAIRE
Falecimento do escritor em 30.5.1778 – In Memoriam

Disse Voltaire em Cândido ou o Otimismo:
“Devemos cultivar nosso jardim!”
E porque defendia o Liberalismo,
foi perseguido sempre até o fim...

Lutou por suas ideias, outrossim,
sem jamais aderir ao conformismo,
e pelo seu caráter foi, enfim,
nobre filósofo do Iluminismo.

“Não concordo com nenhuma palavra
que dizes, mas defenderei até
a morte teu direito de dizê-lo”.

Esta frase genial de sua lavra,
vem confirmar um símbolo de fé
que deveremos ter como modelo...

SONETO A CELSO PEDRO LUFT
Data do seu aniversário de nascimento em 28.5.1921 – há 90 anos. – – In Memoriam

Estudava no Colégio Conceição,
há mais, com certeza, de cinquenta anos,
quando li um livro: Arcos de Solidão,
de Celso Pedro Lima, com seus arcanos…

Linguagem moderna de versos soberanos,
trazendo à baila, vasta meditação,
para que se enfrentem os desenganos,
fugindo do convívio da ilusão.

Assim tomei conhecimento de um poeta
moderno que, com sua verve e talento,
me aparecia como se um profeta…

Hoje, passado tanto tempo, ainda
pairam os versos no meu pensamento,
quais se fossem de uma luz infinda…

SONETO a FRANCISCO OTAVIANO DE ALMEIDA ROSA
Falecimento em 28.5.1889 – In Memoriam

Um soneto: “Morrer… Dormir…” Um verso:
as “Ilusões da Vida”; eis a bagagem
que tenho em mãos, mas vale um universo,
pois tudo dizem de sua passagem

por este mundo que julgou perverso…
Foi Francisco Otaviano, de coragem,
neste resumo simples e disperso,
merecedor de glórias e homenagem…

Mas, foi também “enviado extraordinário”
e “Ministro Plenipotenciário”,
p´ra negociar a Tríplice Aliança…

Além do mais, poeta e diplomata,
conseguiu para o Brasil, no Prata,
Tratado de recíproca confiança…

SONETO a PADRE PIO
Nascimento do santo em 25.5.1887- In Memoriam

Pio de Pietrelcina, Padre Pio,
talvez meu nome venha desse Santo;
mas não tenho certeza, no entretanto,
sei que ele a Deus aqui muito serviu…

Uma prece: Rogai por nós, levanto…
no dia em que nasceu e as luzes viu
da Mãe Nossa Senhora que seguiu;
e a Jesus Cristo, seu Divino Encanto !

Hoje, na data do seu nascimento,
que cure nossas almas do tormento
de assistir neste mundo a tantas dores

dos que padecem duras injustiças…
Que ele esteja presente em todas missas
celebradas com glórias e louvores !…

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Carlos Leite Ribeiro (O Escritor e a Jornalista)


Mais uma noveleta do magnífico escritor português Carlos Leite Ribeiro, organizador do Portal CEN (Cá Estamos Nós) http://www.caestamosnos.org/
––––––––––––––––––
Maria Linda, uma mulher brasileira de 40 anos, jornalista do Recife (Brasil), e um português de nome Mário Guedes, escritor.

Maria Linda, apaixonou-se por ele, cujo último livro “Ninguém se Esconde atrás do Sol” arrebatou seu coração.

Depois de assinalável êxito em Portugal, Mário Guedes, foi ao Recife apresentar a sua obra. Foi aí que conheceu a Maria Linda a bela Linda...

Tinha chegado há pouco ao Hotel e, depois das formalidades, foi até ao bar tomar uma bebida, quando nas suas costas ouviu uma voz meiga que o interpelava:

Linda - Desculpe incomodá-lo, Sr. Mário Guedes, mas sou jornalista e pretendia fazer-lhe uma entrevista.

Nem ali no bar de um hotel, pouco depois da sua chegada ao Brasil, o deixavam em paz. Virou-se lentamente, respondendo à sua interlocutora:

Mário: Minha senhora, deve estar enganada, pois sou um pobre homem que nem sabe ler nem escrever...

Ela sorriu quando ele a encarou pela primeira vez e pensou logo:
Mário - “Que sorriso mais lindo numa cara tão linda!”

Apesar dos desgostos sofridos na sua vida, ainda apreciava o que era belo.

Mário, virou-se totalmente para a jornalista, pondo-se então à sua disposição. A entrevista foi longa e muito bem conduzida. Sentia-se feliz junto daquela bela desconhecida. No final, disse-lhe que tinha que levar sua bagagem para o quarto e não tinha habilidade nenhuma para a arrumar. Perguntou-lhe se ela seria tão gentil que o pudesse ajudar a arrumar suas coisas. Ela sorriu, hesitou, mas por fim acedeu. Subiram os dois no elevador e, já no quarto, ela ajudou-o a arrumar suas coisas. Notou que ele estava excitado e restringiu-se. No final, ele com a argumentação de lhe mostrar como lhe estava agradecido, pediu para a beijar. Linda tentou resistir àquele pedido, mas foi em vão. Ele, embora carinhosamente, apertou-a com firmeza contra seu corpo, beijando-a nas faces, nos olhos, na boca e já estava no pescoço, quando ela conseguiu desembaraçar-se daqueles braços que mais pareciam tentáculos de polvo. Correndo para a porta, ainda lhe disse:

Linda – Senhor Mário Guedes, desculpe-me mas não é, de maneira nenhuma, o meu modo de estar na vida! Vim só para o ajudar, nada mais…

Quando chegou à rua, bem perto do hotel telefonou ao seu chefe a dizer-lhe que tinha conseguido a entrevista, mas sentia-se mal disposta e, que não ia diretamente para a redação do jornal. O chefe ainda tentou demovê-la, mas foi em vão.

Na manhã seguinte, Maria Linda chegou ao jornal muito cedo e se mostrava bem-disposta. Durante a noite procurou reorganizar suas ideias e colocar o juízo em seu devido lugar. Foi até a redação e começou a transcrever sua reportagem Quando terminou, leu e releu, sentiu-se satisfeita. Muito embora esta entrevista não considerasse ter sido uma das melhores, mas também não seria uma das piores. Foi até ao gabinete de seu chefe para que ele examinasse o texto. Ele leu atentamente sem fazer comentários, após terminar a leitura perguntou: -

Chefe - Minha filha o que aconteceu com você ontem depois da entrevista?

Linda sorriu e respondeu:

- Nadinha, querido chefe, foi apenas um mal estar, nada que uma boa noite de sono e um pouco de repouso não curasse.

Chefe - Olhe que você não me engana, e algo se passa com você. Talvez esteja realmente precisando de umas boas férias. Vou providenciar isso para a próxima semana impreterivelmente... Mas não me engana, garota!

Ela, limitou-se a responde-lhe:

Linda - Obrigada, Sr. Osvaldo.

Já há vários meses que Mário Guedes levava uma vida muito irregular, na sua santa terrinha. Bebia muito e perdia muitas noites a fazer nem sabia o quê, descurando e dispersando a sua fértil imaginação e criatividade de escritor. O pensamento naquela mulher que amava e de seu filho, que tinham morrido num acidente de viação, não o largava.

Para terminar este seu livro, o seu grande amigo José Feliciano (um verdadeiro irmão) teve que tomar conta dele, como um menino se tratasse. O desgosto que tinha levado Mário a este desespero, era conhecido no seio de seus familiares e de amigos amigos mais íntimos.

Quando Maria Linda saiu a correr de seu quarto, ele ficou longos minutos sentado na sua cama. Ficara impressionado pela beleza e inteligência daquela bela jovem. Tanto assim que, Mário Guedes, esqueceu seus desgostos e direcionou seus preciosos pensamentos para outra direção.

Pensou então:
- “É mais uma noite que o sono não vem, sendo que dessa vez os motivos são outros bem diferentes, pois conheci uma mulher que arrebatou meu coração. Não vou conseguir dormir!”


Talvez fosse mesmo seu desejo ficar acordado, pensando e repensando, naquela linda mulher que horas antes tinha conhecido. Pensava como era linda, a sua voz suave, seus olhos pretos, seus cabelos negros eram longos e brilhantes e uma tez ligeiramente moreninha. Não conseguia pensar em mais nada, que, impulsivamente, a havia apertado contra seu peito, fazendo com que a moça se retirasse repentinamente sem enviar-lhe ao menos um olhar, um último olhar. Quem sabe se algum dia ainda a encontraria, para lhe pedir desculpa?

Essa hipótese atormentava-o, tirando-lhe a tranquilidade e o sono.
Querida - Será que alguma vez a iria encontrar de novo?
Seria muita sorte se isso acontecesse...

Mário levantou-se assim que o sol apareceu, sentindo uma forte dor de cabeça e muita sonolência, mas mesmo assim, estava disposto e preparado para a noite da apresentação de seu livro e, quem sabe, rever aquela a mulher que roubou seu coração.

O dia custou a passar, pois parecia mais longo do que os outros. Grande era a sua expectativa. Apesar da ansiedade, Mário Guedes, manteve-se lúcido, longe de bebidas e do fumo. Queria estar sóbrio para admirar aquela beldade, caso ela aparecesse. Uma dúvida assaltou-lhe sua mente:
- “E se ela não estivesse presente no lançamento? Como poderei fazer para encontra-la? Não, não irei embora enquanto não descobrir uma forma de me comunicar com ela, para lhe pedir desculpa e dizer-lhe quanto a amo.”

O tempo passou e já se aproximava da hora de sua apresentação. Vestiu-se a rigor, e desta vez escolheu um terno de cor azul claro realçando com o castanho de seus
olhos.

Linda, dormiu maravilhosamente bem. Antes de se deitar fez uma prece e pediu proteção e a espiritualidade maior, pois no dia seguinte teria de enfrentar mais um desafio que seria suportar aquele olhar, aquele sorriso maravilhoso. Pensou:
Linda – “Deverei ser forte para não me deixar ser conduzida novamente por pensamentos desequilibrados”.

O chefe tinha-lhe agendado outra entrevista com o escritor, depois da apresentação do seu livro. Pensou com seus botões:
“Desta vez ficarei atenta para não cair em certas tentações. Ele é muito bonito e atraente, cheio de charme, mas tomarei todas as precauções necessárias para evitar o pior. A final não o conheço bem e muito menos ele a mim, além do mais, não faz meu tipo, com certeza deverá ter idade para ser meu pai”.
Pensou que seria um verdadeiro absurdo pensar que ele poderia ser o homem da minha vida.
Linda - “Ainda bem que mora em outro país muito distante do meu, e veio aqui somente com a finalidade de apresentar seu livro. Talvez hoje mesmo, se vá embora e não irei vê-lo nunca mais”.

Esse último pensamento causou-lhe um certo incomodo, dor e tristeza:
- “Será mesmo que depois, não o votarei a ver? Meu Deus, esta história não está me fazendo bem. Tenho que buscar o reequilibro, o autocontrole emocional, direcionando meus preciosos pensamentos para a tarefa que devo desenvolver. Preciso de recuperar o fôlego; é imprescindível, para então, preparar algumas perguntas que demonstrem sabedoria e inteligência que ele deve ter. Não quero correr o risco de cometer os mesmos erros da primeira entrevista. Devo mostrar para aquele senhor atrevido que sou inteligente o suficiente para não lhe fazer a vontade de arrumar suas coisas em seu quarto de hotel! Com certeza deve ter rido de minha tolice, e boa vontade de só o quer ajudá-lo! Mas quem é que sua Ex.ª o Sr. Mário Guedes pensa que eu sou? Desta vez, vou estar preparadíssima para que ele não seja novamente insolente. Desta vez ser bem diferente, ai isso é que vai ser!”

Ao despertar Maria Linda, começou a sorrir dos seus pensamentos da noite e pensou naquele adágio popular:
- “A Noite é boa conselheira”.

Pensava ela, mas seu coração não estava de acordo consigo. Se não fosse à apresentação do livro do português, talvez ele nem apercebesse da sua ausência.
- “ Tão Importante como julga ser, nem pensa numa simples repórter como eu. O cara, deve passar a vida, cercado de mulheres lindas e maravilhosas”.

Queria afastar esses pensamentos de sua mente. Por estranho que parecesse, naquele momento Maria Linda foi como que transportada mentalmente para uma daquelas festas frequentadas por artistas famosos e dessa vez ela não estava no serviço profissional, e era convidada do anfitrião. Imediatamente, se projetou na sua tela mental uma imagem já conhecida, era ele, o insolente do português que desfilava ao lado de uma linda mulher. Que raiva! Linda tomou um susto, ao perceber que de seus belos olhos surgiram duas lágrimas que começaram a rolar pelo seu rosto macio e bem cuidado. Sentiu raiva, pois percebeu que poderia estar com ciúmes daquele português insuportável.

Maria Linda, não compreendia o que lhe estava acontecendo, não aceitava o fato de que ele pudesse estar lhe tirando o sossego o equilíbrio mental.
Pensava: “ – Deve ser um bruxo para me enfeitiçar dessa forma, será melhor falar com meu chefe e pedir que indique outro repórter para fazer esse trabalho. Acho que não estou bem de saúde, devo estar ficando louca, é isso mesmo, estou ficando louca, portanto não devo ir a esse evento. Tenho que convencer o Sr. Osvaldo. Dizer-lhe que estou enferma e não posso comparecer hoje à noite na apresentação do livro desse português. Mas que por cargas d’água ele apareceu na sua vida? Se tudo tem um motivo de ser, porque eu ter sido escala para o entrevistar?”

Estava decidida a ir ao jornal tentar convencer o chefe a mandar outro repórter para fazer esse trabalho. Mas estaria mesmo decidida? É que de repente seus pensamentos vieram novamente atormentar – lhe o cérebro:
- “Se não fosse à apresentação do livro, nunca mais o ia vê-lo, e, iria arrepender-se pelo resto de sua vida. Perderia a oportunidade de sentir mais uma vez emoções jamais experimentadas”.

Pensou mais uma vez para com os seus botões:
- “ Será que eu vou perder essa oportunidade? Será que ele também pensa em mim? Ai meu Deus, não posso deixar de ir, tenho que encontra-lo novamente, nem que seja de longe. Mário Guedes, porque você veio da sua santa terrinha para me atormentar ? Eu, estava tão sossegada da vida...”

Nessa manhã, Linda não foi ao jornal. Passou o dia inteiro nos preparativos. Foi de tarde a um shopping e comprou um vestido digno de uma princesa. Mandou arrumar as unhas, cabelos, e uma belíssima maquiagem, que suavizasse ainda mais sua pele delicada, realçando seu lindos olhos, e a boca. No final mirou-se a um espelho, e pensou:
– “Estou linda!”

E até poderia até mesmo ser confundida com uma estrela de cinema internacional. Admirou seu corpo, suas formas bem delineadas e em seus lindos cabelos pretos, com alguns cachos que lhe caiam sobre o rosto. Aquele tratamento havia lhe transformado numa nova mulher. O vestido era justo e modelava seu belo corpo, salientando e seguindo cada curva, cada forma. Pensou alto:
– “Ai português, tu me vais admirar, mas desta vez não me vais tocar, nem sequer com um dedo!”

Mas as dúvidas também a assaltavam: -
- “Será que ele vai me reconhecer? Afinal nos vimos apenas uma vez e não foi por muito tempo! Agora, sinto-me tão diferente! Talvez nem repare em mim, com certeza deve ter milhares de mulheres lindas nesse evento. Ele é um homem famoso e muito atraente e este será um forte motivo para que toda a sociedade esteja presente. Mas não tem importância, estou vestida para sentir-me bem e não para agrada-lo. Mas eu gostava que ele repara-se em mim...”.

Falando em voz alta, entrou em seu automóvel de cor vermelha que coincidentemente da mesma cor de seu vestido. No fundo, estava preparada para o ataque!

Maria Linda chegou ao local do evento, um pouco depois das 19:00 horas. Sua presença causou certo impacto nos homens e despertou inveja em algumas mulheres. Até seus próprios colegas de profissão, não tiravam os olhos dela, e até pararam de correr atrás do escritor português para a cortejar. Claro que observaram sua transformação, sendo que isso somente lhe causava aborrecimento, pois não tinha interesse nesses homens que só pensam em levá-la para cama, Infelizmente existem homens que não conseguem reter em suas mentes por muito tempo, pensamentos que não sejam desse teor, portanto não interessa ser cortejada por esses tarados sexuais é isso que eles são e por outro lado só lhe interessava localizar seu alvo, que era o Mário Guedes, aquele português... Procurou ser indiferente para todos para não ser importunada. Ansiosamente, procurava aquele homem diferente, especial e ao mesmo tempo estranho. E o pior de tudo é que gostava de sua forma de ser e de se comportar.

Maria Linda estava surpresa com a quantidade de pessoas ali presentes. Reconheceu que pela fama do escritor realmente deveria ser um grande evento, mas porém, não contava com tanta gente. Ali estavam pessoas de todos os níveis sociais, além dos fãs e curiosos, estavam presentes rádios, jornais e televisões, e era quase que impossível permanecer no local por muito tempo, contudo não poderia sair sem cumprir com sua obrigação e também queria e precisava ser vista pelo português. Quando por obra do acaso, algo lhe chamou a atenção: Era ele, o português, o Mário Guedes, que estava ali sentado e cercado por fãs e curiosos. Era o momento dos autógrafos, e ele gentilmente, perguntava o nome e escrevia na primeira folha do livro. Apenas um jornalista conseguiu se aproximar e as perguntas que ele fazia eram exatamente as que ela gostaria de fazer, assim, aproveitou o trabalho do colega para concluir seu trabalho dando-se por satisfeita.

Maria Linda, ia se retirando do local por está cansada; o salto de sua sandália era tipo Luís XV, não aguentava mais ficar de pé. Sentiu-se envolvida por uma grande e profunda tristeza, pois queria vê-lo de perto, observar melhor seu comportamento para com os fãs. Decepcionada, começou a andar sem olhar para trás, quando de súbito alguém lhe pega pelo braço e diz:

Feliciano - “Maria Linda, para onde pensa que vai tão cedo? Não pode se retirar dessa maneira, pois o escritor Mário Guedes, precisa muito falar com você. Olhe que por diversas vezes ele tentou fugir da multidão para vir ter contigo, mas não conseguiu, foi então que me pediu para não lhe deixar escapar. Precisa muito lhe falar”.

Maria Linda, caminhava distraída sem rumo ou destino, e sua mente atormentando-lhe com o escritor.

A abordagem deste moço lhe trouxe de volta a realidade, causando-lhe um terrível susto. Foi então que movida por um impulso de raiva, disse-lhe:

Linda - “Quem ele pensa que é? Irei embora sim. Quem vai me impedir? Diga-lhe que não falo com estranhos muito menos se for insolente, e por gentileza largue meu braço”.

Feliciano - “Desculpe mas não queria ofendê-la de modo algum! Eu sou o Feliciano, o amigo e editor do escritor Mário Guedes, e responsável por esta apresentação no Brasil”.

Delicadamente, pedia desculpa e procurava justificativas plausíveis.

Tentava explicar que não era intenção de Mário Guedes magoa-la ou agredi-la, apenas não soube se expressar o que lhe ia na alma, e assim pede-lhe que lhe perdoasse.

Mas Linda, ainda pesarosa de não ter estado com o escritor, não aceitou suas argumentações e saiu imediatamente do local do evento, deixando o Feliciano desesperado com a sua reação. Correu atrás dela e pediu (ou implorou-lhe):

Feliciano - “Por favor Maria Linda, dê-me ao menos o número de seu telefone ou o seu endereço”.

Sem olhar para trás, ela abriu a sua pequena bolsa e retirando de dentro um cartãozinho, que jogou em direção ao seu interceptor que estava atento aos seus movimentos, e ao pegá-lo observou que estava escrito apenas o endereço eletrônico: linda@neocultura.com.br. Depois, saiu quase a correr, sentido duas lágrimas a correr-lhe pelo rosto.

- “Que dia mais decepcionante - pensou então...”

José Feliciano ficou muito surpreendido e admirado com a reação da jornalista, pois não sabia como dar a notícia a seu amigo. Como dizer-lhe que tinha feito tudo errado e mais uma vez deixou escapar a felicidade dele, pensou em voz alta:
- “Eu sou um perfeito idiota e o Mário vai matar-me! E o pior é que ele vai morrer também de raiva e desgosto. Que vida esta!”

Maria Linda, chegou a sua casa por volta das 2.00 horas da manhã, pois antes fora caminhar um pouco pela praia em busca de paz e tranquilidade, daí então pensou:
- “Ainda bem que algumas coisas estão a meu favor como por exemplo: é Domingo e não irei trabalhar, o meu filho Mateus está com o pai, senão quando acordasse, teria que lhe dizer o que aconteceu, pois esse menino tem uma percepção de adulto. Não consigo esconder por muito tempo minhas angústias e dores, e quando não invento uma boa história não me larga. E com esta aparência horrível, ele não se daria por conformado com qualquer desculpa, é um menino inteligente e amável e ocupa quase todos as lacunas na minha vida – pensou em voz alta”.

Foi até ao seu quarto e abriu o zíper do seu do lindo vestido deixando que deslizasse lentamente pelo seu corpo, até cair aos seus pés. Deixou-o sobre o chão e começou a tirar as outras peças até ficar totalmente despida, depois foi ao espelho e ficou admirando seu belo e bem cuidado corpo, pensando:
- “Agora, está tudo em forma, mas daqui a 30 anos estarei com 70 anos de idade, e aí, como estarão minhas formas?”.

Com um sorriso triste nos lábios foi até o banheiro ligou a ducha na posição de Inverno e ficou um longo tempo em baixo do chuveiro, como se quisesse que a água retirasse de sua mente tudo que havia passado naquela noite inesquecível de dor e decepção, e, em seguida, foi deitar-se. Encontrava-se mais calma, e quem sabe conseguiria adormecer e ao despertar confirmaria que tudo não passara de um sonho ou melhor um pesadelo. Mas aquele português...
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Segunda - feira, mais uma semana que se inicia, Maria Linda levantou-se um pouco mais tarde do que o costume, toma um banho rápido por não querer se atrasar para o trabalho, escolhe para vestir uma calça jeans e uma blusa estilo masculino e sai rapidamente, pretende dar tudo de si ao seu trabalho, para assim, não permitir que sua mente lhe atormente com pensamentos indesejáveis. Já estava com a porta aberta para sair quando o telefone tocou. Era o seu chefe:

Osvaldo – “Recebi o teu trabalho por e-mail do evento do lançamento do livro do português. Conforme o combinado, estás dispensada uma semana. Garota, goza bem este período de férias.”

Linda – “Este período de férias calha mesmo bem. Só não sei o que vou fazer… Já sei, vou à região de Caruaru comprar umas roupas para mim e para meu filho.”

Foi nesta bela região do Nordeste brasileiro que a jornalista encontrou um casal amigo de longa data que viviam no Recife e agora moravam na Praia do Francês, já no Estado de Alagoas. Conversa puxa conversa e em determinada altura, o casal Medeiros convidou-a a ir passar uns dias no seu apartamento da praia. Aceitou o amável convite e depois de combinar com o pai de seu filho, para ficar com ele uma semana. Por fim todos rumaram ao apartamento do José Medeiros e da Maria Inês, na tal Praia do Francês.

Dias depois, o casal Medeiros resolveu ir à pesca numa jangada. Maria Linda recusou alegando que enjoava muito dentro de um barco. Assim, a jornalista ficou em terra e, em companhia de uma nova amiga que morava no mesmo bloco do apartamento dos Medeiros, foram tomar banho à praia. Já estavam a algum tempo dentro de água, quando começou a chover e, como não eram grandes nadadores, a água da chuva era mais fria do que a água do oceano. Saíram da água e procuraram um abrigo que as abrigasse da chuva fria, e o melhor (e único) sítio que encontraram, foi um pequeno barco que estava na areia voltado ao contrário. Meteram-se debaixo deste improvisado abrigo, enquanto a chuva caia implacavelmente. Duas horas depois a chuva deixou de cair com intensidade e as amigas regressaram aos respectivos apartamentos.

As horas foram passando e Maria Linda começou a ter fome (insuportável, considerava ela). Tinham combinado que o almoço seria o produto da pesca o que a impedia de poder fazer o almoço. Lembrou-se então que tinha visto umas caixas de biscoitos na dispensa do apartamento. Se pensou, melhor fez e foi comer biscoitos enquanto os anfitriões não chegassem. Por fim chegaram muito cansados e molhados.

Linda – Então a pesca foi boa?

José Medeiros tirou um peixinho que teria sequer um palmo de comprimento:

José – A pesca foi “maravilhosa”! Olha este peixinho…
Linda – Então é esse o nosso almoço?!
Inês – Não minha querida, vamos comprar mantimentos ao supermercado!

No regresso ao Recife, a jornalista recordou este curioso dia. Sorriu e embora perto do seu apartamento, sentiu saudades do seu “cantinho”. Recordou mais uma vez aquele português que ela conhecera e que se tinha portado com ela de uma maneira estranha…

Levantou-se na segunda-feira com aquela sensação de quem termina um período de férias e tem de regressar ao trabalho. E aquele português não lhe saía da cabeça…

Mal chegou ao jornal, foi abordada por uma colega que lhe segredou:

Colega – Maria Linda, você sabia que aquele escritor português, que tu foste fazer a cobertura da apresentação do livro, tem sérios problemas com mulheres e bebidas que é um viciado. Parece que nem tudo são rosas em sua vida, como muitos pensam. Só não sei como é possível um escritor famoso com o Mário Guedes, possa ter problemas tão graves ao ponto de fazer com que ele enveredasse por caminhos escuros como o da orgia e dos vícios?! Sinceramente, não consigo acreditar que isso seja verdade, apesar de que os comentários que surgiram, é o seu empresário toma conta dele, como quem cuida de uma criancinha, mas isso somente quando bebe exageradamente. Comentam também que seu ciclo de amizade está ficando bastante restrito, tendo em vista alguns problemas que ele está atravessando, nos últimos meses. A imprensa está divulgado que Mário Guedes não tem recebido quase nenhuns convites para eventos culturais, e assim, os amigos começam a desaparecer, pois só quando se tem fama, é temos muitos “amigos”. Os motivos que levaram o afastamento de seus supostos amigos, foi alguns problemas que andou metido com a sociedade e a imprensa de Lisboa.

Com esta notícia, a jornalista ficou muito triste e preocupada. Não, um homem como aquele, para ter descido tão baixo, foi por que alguma coisa de grave lhe aconteceu em sua vida, pensava ela:
- “É impossível o Mário ser assim! Quando me abraçou, notei o seu carinho de pessoa muito carente, Não, não me convenço do que ouvi”.

Foi para o seu gabinete, pegou no telefone e pediu à telefonista:

Linda - Por favor, ligue-me rapidamente ao jornal português de maior circulação.

Minutos depois estava em contato com Lisboa. Depois de uma longa conversa com o diretor do jornal português, soube que o grande problema do Mário Guedes foi a perda da mulher num brutal acidente de carro. Perdeu a mulher e um filho de 18 anos. Ficou aliviada com aquela notícia, pensando alto:
– “O “meu” português não é tão mau como o querem fazer. Ai, com os meus miminhos e carinhos, voltaria a ser ele mesmo! Mas a esta hora, o que ele estará a fazer? Vou tentar-lhe telefonar mais tarde, pois o colega de Lisboa até me deu seu número de telefone”.

Pensou melhor e, como boa nordestina e mulher arretada, resolveu ligar à agência para comprar uma viagem aérea para Portugal.

Horas depois estava dentro de um avião a caminho da bela capital de Portugal…

Logo que acabou de atender o telefonema da Maria Linda, o diretor do jornal telefonou em seguida a Feliciano, para lhe contar a conversa que tinha tido com a jornalista. Este, logo transmitiu a Mário Guedes esta conversa.

Mário – E tu já marcaste o meu voo para o Recife?

Feliciano – Claro que não! Ainda estiveste lá há pouco tempo…

Mário – Pois, não percas tempo e vai já á agência de Viagens.

Horas depois, o escritor estava a voar para a capital do Estado do Pernambuco…

Feliciano abriu a porta do apartamento e com grande surpresa encontrou Maria Linda. Ficou sem palavras e foi ela que perguntou-lhe:

Linda – O Mário Guedes está em casa?

Feliciano – Não! O Mário foi hoje para o Recife à sua procura…

Linda – Ho, que doido!

Feliciano – Direi mais: Que doidos vocês são!

No Recife, Mário foi ao jornal onde trabalhava Maria Linda, à sua procura. Todos os que estavam presente se riram e, quando apareceu o chefe Osvaldo disse que a jornalista tinha embarcado para Lisboa, por motivos pessoais.

Osvaldo – Parece que a garota está com problemas de coração…

Saiu do jornal completamente desorientado e sem saber o que fazer. Telefonou para o seu apartamento em Lisboa, mas ninguém atendeu.

Mário – Desta vez mato você, seu Feliciano!

Tentou o telefonema mais de duas horas. Por fim, conseguiu a ligação:

Mário – Por onde tens andado, meu figurão?

O amigo, deu uma grande gargalhada antes de responder-lhe:

Feliciano – Tenho andado a mostrar Lisboa a uma linda mulher e não sei se fiquei apaixonado por ela!

Mário – Deixa-te de graças, pois, não estou com paciência para te aturar. Vamos ao que me mais interessa: a jornalista do Recife esteve aí em casa?

Feliciano – Deixa-me cá ver… jornalista? Quererás tu dizer a Maria Linda?

Mário – Sim, essa mesmo!

Feliciano – Esteve e foi com ela que fui passear. Depois deixei-a num hotel.

Mário – Porque não ficou aí em casa? Esquece. Em que hotel está ela hospedada?

Feliciano – Não me recordo muito bem o nome do hotel…

Mário – Deixa-te de brincadeiras e dá-me o número telefônico e o número do quarto onde está hospedada. Já, já…

Feliciano – E quem te mandou ser maluco e ires para aí? Não fui eu, pois não? Liga-me daqui a meia hora que te darei todos esses dados. Claro, se não morreres antes!

Quando Feliciano lhe deu o nome do hotel e o número telefônico, Mário Guedes tentou logo ligar para Maria Linda. Mas escritora tinha ido numa excursão para visitar os pontos turísticos de Lisboa que incluía uma noite de fados.

Nem jantou nem saiu do quarto nessa noite, e foram as inúmeras vezes que ligou para o hotel. Precisava de falar com aquela bela moreninha que lhe tinha tomado conta de seu coração e dar-lhe volta à cabeça. Pensou alto:
– “Os fados nunca mais acabam e ele nunca mais regressa ao hotel. E eu aqui enervado e sem disposição nem para ler nem sequer ver a televisão. Que vida a minha!”.

Só cerca das 2.30 horas é que conseguiu falar com a sua “amada”, como ele já considerava:

Mário – Até que enfim que a menina regressou ao hotel. Até pensei que passasse a noite a cantar o fado, ou melhor, que se tivesse tornado fadista!

Linda – Que exagero! Que lhe deu na cabeça para me ir procurar aí no Recife?

Mário – O mesmo que te levou a ires à minha procura em Lisboa!

Ambos riram com as alegações um do outro. Já mais calmos, começaram a conversar normalmente sem aquele “arretamento” inicial.

Mário – Bem, tu ficas aí em Lisboa, pois amanhã apanharei o voo da manhã para aí…

Linda – Isso é que não poder ser pois, já marquei o voo de regresso para amanhã de manhã e não há volta a dar pois a agência a esta hora não atende. Olha, espera por mim aí no Recife – de acordo?

Mário – Tenho que estar mesmo de acordo devido às circunstâncias… Estou a pensar ficar cá uns três meses para trabalhar o esboço do meu novo livro…

Linda – Eu vou estudar um convite que me fizeram à pouco tempo de uma agência de notícias, para ser a “enviada especial”, não só em Portugal mas também em Espanha…

Mário – Essa ideia é maravilhosa!

Linda – Então até manhã.

Mário - Dorme bem e se possível, sonha comigo, meu amor!

Fonte:
Texto enviado pelo autor Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Imagem por Iara Melo (Portal CEN)