quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Edmo Rodrigues Lutterbach (1931 – 2011)

Faleceu ontem no Hospital das Clínicas, de Niterói.
O corpo velado na sede da Academia Fluminense de Letras (prédio da Biblioteca Pública de Niterói, Praça da República s/n.

As 9 e meia, o corpo seguiu para Cantagalo, onde foi também velado.
O sepultamento em Macuco.

Filho de Sebastião Henrique Lutterbach e Liberalina Rodrigues Lutterbach, nasceu na Fazenda Mont Vernon, Município de Cantagalo, no dia 12 de outubro de 1931. Faleceu em Niterói, em 27 de setembro de 2011.

Antes de completar dois anos de idade, foi com os pais residir na Fazenda da Saudade (foto abaixo), conhecidíssimo berço do genial autor de Os Sertões, Euclydes da Cunha, nascido em 20 de janeiro de 1866. Tal fazenda foi também o solo de Aníbal Teixeira de Carvalho, nato em 19 de maio de 1864.

Fez-se advogado, promotor de justiça, juiz municipal, vereador, presidiu a Câmara Legislativa de Cantagalo. Exerceu o cargo de secretário de Finanças e de Interior. Elaborou Relatório apresentado ao Presidente do Estado do Rio (dois volumes). Deputado federal; representou o Estado do Rio de Janeiro em Congresso Jurídico Americano.

Edmo fez o Curso Primário na Escola Pública Mont Vernon; após, estudou em Santa Rita do Rio Negro, fazendo um percurso de dezesseis quilômetros a cavalo, de segunda a sexta-feira.

Admissão e Ginasial no Colégio Euclydes da Cunha, em Cantagalo. Ainda, a Escola Técnica de Comércio da mesma cidade, 1948/1953.

No ano 1954, trabalhando em Banco, requereu transferência para agência de Niterói, prestou vestibular de Direito, ingressou na Faculdade de Direito de Niterói em 1956, bacharelando-se em 1960. Três anos adiante, 1963/1964, fez o curso de Doutorado no referido Templo.

No quinto ano do Curso Jurídico, apresentou a tese: A Família, Divórcio, Desquite, Casamento no estrangeiro. Aprovada, em 10.9.1960 foi sustentá-la na Universidade do Rio Grande do Sul, debatida também na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, por ocasião da X Semana Nacional de Estudos Jurídicos.

No 1° ano do Curso de Doutorado, na referida Faculdade de Direito, já então integrada à Universidade Federal Fluminense, as teses exigidas versaram sobre Conceito de Crime Militar, Classificação dos Criminosos e Influência da Lei Mosaica no Direito Penal Moderno.. No 2° ano, O Valor do estudo da Personalidade do Delinqüente, A Noção de Causalidade no Código Penal Italiano, de 1930 e no Código Penal Brasileiro, de 1940; Filosofia e Histórico da Pena.

Tão logo concluíra o Curso de Direito, inscrevera-se na Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Estado do Rio de Janeiro, sob o número 2024. Advogou por alguns anos, inclusive para os extintos Banco Agrícola de Cantagalo, S/A. e Banco do Estado do Rio de Janeiro. Exerceu ao mesmo tempo o cargo de Assessor Técnico do Tribunal de Contas do Estado, no Gabinete da Presidência de três Ministros.

No ano 1964 prestou concurso para ingresso no Ministério Público fluminense, concorrendo com 402 candidatos. Aprovado, teve lavrada sua nomeação em 24 de julho de 1965, posse e exercício a 9 imediato. Iniciou a carreira na Comarca de Niterói, como promotor substituto.

Foi promotor regional das Comarcas de Santo Antonio de Pádua, Miracema, São Fidelis, Cambuci, Itaocara, também de Bom Jardim, Campos, São Gonçalo.

Esteve afastado da Promotoria de 14 de abril de 1965 até 16 de julho de 1970, requisitado ao Procurador Geral da Justiça pelo General Atratino Cortes Coutinho, assessorando-o na Subcomissão de Investigações do Ministério da Justiça, (SCGI), no Estado do Rio de Janeiro; Membro da aludida Subcomissão, nomeado pelo Ministro da Justiça, Dr. Alfredo Buzaid e, ante a saída do General, foi eleito pelos pares, Presidente do mencionado Órgão, do qual foi dispensado (depois de vários pedidos), após a fusão dos Estados do Rio e Guanabara.

No período em que exercia a promotoria, fez CURSOS DE EXTENSÃO na ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA: Valorização do Homem Brasileiro; O Problema Demográfico; Modelo Político Brasileiro; O Problema do Menor; Desenvolvimento Agropecuário; Condições Gerais para o Estabelecimento de uma Democracia; O Problema Psicossocial da Opção pela Agricultura, anos 1977/1981

Livros publicados:

A Vida Universitária do Prof. Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes. Geraldo Bezerra de Menezes – Homem de Fé e Apóstolo Leigo. Presença de Uma Geração. A Eternidade de Euclides Cunha. Niteroienses Ilustres do Século XIX.

INSTITUIÇÕES CULTURAIS QUE INTEGRAVA: (Academias de Letras):

Acreana de Letras;
Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras; Brasileira de Ciências Morais e Políticas;
Brasileira de Ciências Sociais;
Brasileira de Literatura; Brasileira de Trova;
Cachoeirense de Letras;
Cantagalense de Letras;
Carioca de Letras;
de Bellas Letras del Cono Sur – Republica Oriental del Uruguay - Miembro Académico “Ad Honoren”;
de Estudos Literários e Lingüísticos;
de Letras da Fronteira Sudoeste do RGS;
de Letras, Ciências e Artes do Amazonas;
de Letras da Região do ABC;
de Letras Rio – Cidade Maravilhosa;
de Letras de Uruguaiana; Eldoradense de Letras;
Fluminense de Filosofia; Fluminense de Letras;
Friburguense de Letras;
Goianiense de Letras;
Gonçalense de Letras, Artes e Ciências;
Interamericana de Literatura e Jurisprudência; Internacional de Letras “3 Fronteiras”;
Itaboraiense de Letras, Ciências e Artes;
Itaocarense de Letras;
Niteroiense de Letras;
Petropolitana de Poesia Raul de Leoni;
Sobralense de Estudos e Letras;
Cenáculo Fluminense de História e Letras;
membro Honorário da Academia Internacional de Letras.

INSTITUTOS HISTÓRICOS:

Instituto Cultural do Vale Caririense; Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas; Instituto Histórico e Geográfico de Niterói (Membro fundador e seu presidente em três ocasiões); Instituto Histórico de Nova Friburgo (Membro fundador); Instituto Histórico e Artístico de Parati; Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana; Instituto Histórico e Geográfico do Direito Brasileiro; Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal; Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro.

CONDECORAÇÕES: (Medalhas)

Medalha Luis de Camões (outorgada pela Casa Infante D. Henrique – Porto – Portugal);
Medalha Luis de Camões — conferida pela Comunidade Luso-Brasileira;
Medalha da Ordem do Mérito Araribóia, no Grau de Comendador;
Medalha Martins Afonso de Souza;
Medalha Mérito Della Dante Di Nova Friburgo;
Medalha José Cândido de Carvalho;
Medalha José Clemente Pereira;
Medalha Assis Chateaubriand;
Medalha Tiradentes;
Medalha do Mérito Comendador José Mastrângelo;
Medalha Especial de Honra ao Mérito Acadêmico;
Medalha do Mérito Della Intelectualitá;
Medalha Alda Pereira Pinto; Medalha Peregrino Júnior – Ano Novo;
Colar do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro;
Medalha 5OO Anos do Descobrimento do Brasil;
Medalha Comemorativa;
Medalha outorgada pela Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas;
Medalha comemorativa do bicentenário de Duque de Caxias.

Prêmio Cultural Cidade de Niterói;
Prêmio Cultural Martin Afonso de Souza;
Prêmio Cultural José Geraldo Bezerra de Menezes;

Fonte:
Prefeitura de Cantagalo

XXXI Concurso de Trovas da ATRN/NATAL (Programação da Premiação)


PROGRAMAÇÃO DA ATRN PREMIAÇÃO:

Caros confrades e amigos,

Envio-lhes a programação de nossa festividade dos dias 6 e 7 de outubro próximo, para premiação das trovas classificadas nos concursos nacional e estadual realizados neste ano de 2011.

Com a alegria da presença de todos vocês, nos dizemos ao embalo
das melhores expectativas.

Abraço.
Zé Lucas.

ACADEMIA DE TROVAS DO RIO GRANDE DO NORTE.

Festividade de premiação – concursos 2011.

PROGRAMAÇÃO:

Dia 6/10/2011
-Dia livre para receber os visitantes de outros Estados;

20h, no auditório da Academia Norte- Riograndense de Letras:

- Apresentação do Madrigal da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte;

-Solenidade de premiação;

-em seguida, coquetel, no salão de eventos da ANRL.

Dia 7/10/2011

-7h30, saída para Natal, dos poetas que se encontrarem em Pirangi;

-8h - Saída para Parnamirim, partindo da Praça Augusto Leite, em Natal;

-9h30 – Missa em Trovas, na Matriz de Nossa Senhora de Fátima;

– após a missa, visita à Prefeitura Municipal, em cujo auditório será realizada
uma rodada de trovas em agradecimento e homenagem à progressista cidade de Parnamirim, Trampolim da Vitória;

-11h30, partida para Caicó, com almoço previsto em Currais Novos;

-16h – previsão de chegada a Caicó, para a programação do Clube dos Trovadores do Seridó, nos dias 8 e 9/10/2011, com retorno programado para após o almoço de despedida (dia 9).

José Lucas de Barros – Presidente

Fonte:
Ademar Macedo

XXI Concurso Nacional/Estadual de Trovas UBT Seção de Natal/RN. (Prorrogação do Prazo)


Caros Irmãos Trovadores/as

Comunico-lhes que devido à greve dos Correios - nosso Concurso a nível nacional, tema SORTE, e a nível estadual, tema OUTONO, foi prorrogada para o 30/10/11.

Assim sendo, todos terão mais um mês para preparar e enviar suas trovas. Espero que, por favor, divulguem para os seus pares em suas unidades das UBTs de suas cidades.

Um forte e fraternal abraço a todos.

Joamir Medeiros
Presidente UBT Seção de Natal/RN.

01) Âmbito Nacional - Tema: SORTE
Endereço: A/C de Joamir Medeiros
Av. Romualdo Galvão, 968 - Tirol
Cep: 59056-100 - Natal/RN

02) Âmbito Estadual - Tema: OUTONO
End. A/C de Ubiratan Queiroz
Rua Dr. Manoel Dantas, 423, ap. 402 - Petrópolis
Cep: 50012-270 - Natal/RN

Máximo: 2 Trovas lírico/filosóficas, por autor em cada tema.

Fonte:
Ademar Macedo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 347)


Uma Trova Nacional

Vai-se embora todo o orvalho
com o sol esfuziante
deixando o velho carvalho ...
Sem um único diamante.
–MARIA DE LOURDES REIS/SP–

Uma Trova Potiguar

É penosa a caminhada...
Mas, a vida me compraz,
em minha alcova orvalhada
de sonhos... e nada mais...
–SEBASTIÃO SOARES/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - ATRN-Natal/RN
Tema: INSPIRAÇÃO - 10º Lugar

Quando a inspiração palpita
nos meus dias mais risonhos,
cada trova é uma pepita
na bateia dos meus sonhos.
–JOSÉ ANTONIO DE FREITAS/MG–

Uma Trova de Ademar

Para você suportar
as mágoas do dia-a-dia,
não precisa se drogar,
use a Trovaterapia!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Neste amor, grande e bendito,
quando em teus braços me ponho,
o nosso espaço é infinito,
e é sem limite o meu sonho...
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

Mensagem de Amor
–ROSA REGIS/RN–

Vendo a imagem de Cristo coroado
Com os espinhos da maldade humana
E vendo dos seus olhos que emana
O imenso Amor que foi, a nós, doado,
Eu lembro com tristeza que o pecado
É algo muito ruim! E eu conclamo
A todos os irmãos, gritando. E chamo:
- Busquemos, ao invés de guerra, Paz!
- Façamos que o amor que ora jaz,
Ressurja! E ao irmão, diga-se: O AMO!!

Estrofe do Dia

Perdi os meus ideais,
minha existência está finda,
apenas recordo ainda
tempos que não voltam mais;
me restam só os sinais
das chagas do desenganos,
machucado pelos danos
chocado, sentindo medo,
olhando para o rochedo
da serrania dos anos.
–JOSUÉ DA CRUZ/PB–

Soneto do Dia

Louvação Poética.
–RACHEL RABELO/PE–
(Ao poeta/companheiro Gilmar Leite)

O teu verso repleto de beleza,
decantando meu corpo com carinho,
tem a luz que fecunda sutileza
da brancura fantástica de um linho.

Nos detalhes, expõe graça e grandeza!
um soneto alegrando meu caminho,
perfumando com ares de certeza
os desejos libertos desse ninho.

O teu beijo faz nascer nova flor
e sepulta no chão seco da dor
o retrato sem cor da solidão.

O meu ser com o teu faz melodia;
um cantar soberano de magia
que nos cobre com plumas da união.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poesias de Aniversário


Hoje, dia de meu aniversário. Todo escritor tem o seu dia especial, hoje é o meu.

Dou uma pausa nas postagens...mas, amanhã retorno com novidades: Hermoclydes S. Franco com o seu abecedário em trovas, as trovas ecológicas do Assis vingaram outras que me enviaram de outros trovadores. Amosse Mucavele com nova cronica, e muito mais.


Mas, para não deixar em branco, abaixo algumas poesias sobre aniversário.

José Feldman

VINICIUS DE MORAES
Soneto de Aniversário


Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

ELISA DIAS BATISTA
Aniversário


No dia do aniversário
A gente às vezes tem vontade
De se esconder dentro do armário
Mas aí vem um com um beijo
Outro realizando um desejo
E aquele que está sempre atrasado
Chega super animado
Estourando um champanhe
Mesmo que eu estranhe
E não entenda muito bem
Por que tantos parabéns
Fico feliz com os presentes
Agüento melhor os parentes
E não me pergunto na hora
O que há de mentirinha
Nessa anual história
Quem me dera tanto afeto
Duas vezes por semana
Pra derreter a couraça
Pra amenizar minha gana
Congelaria se possível
Muitos pedaços do bolo
Pra durante o ano carente
Come-los como consolo

ANONIMO
A Idade de Ser Feliz


Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-las
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo, nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida,
a nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo o desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Poema de Aniversário


Procurei no dicionário,
Com paciência e cuidado,
O real significado
Da palavra aniversário.
Aquele livro pesado,
Mestre dos visionários,
"Pai dos burros" batizado,
Pareceu-me sectário,
Ao responder meu chamado.
Deveras decepcionado,
Joguei o meu dicionário
Na estante, empoeirado,
Para pregar, solitário,
O meu significado
Da palavra aniversário.
Diz assim, o verbete lendário,
Ontem, por mim criado:
"Aniversário: Espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado.”

Fontes:
http://pensador.uol.com.br/poemas_sobre_o_aniversario/

Silvia Araujo Motta (Só Porque o Dia é Teu)


Soneto enviado pela Dra. Silvia Motta, Ph.I. - Presidente da Academia de Letras do Brasil/MG

Soneto decassílabo-sáfico-heróico Nº 1578

Hoje o universo veste luz brilhante;
no coração a terra está florida!
Firme regente pede:-Grupo, cante
a canção bela em rima mui querida.

O sol espalha raios cada instante,
a natureza canta a pauta lida,
compassos marcam festa que é marcante,
farta comida, doces e bebida!

Em cada face o canto não reclama;
já não se lembra a dor que fez partida,
renova tudo e acende nova chama...

À mesa servem vinho, criam laços
e cada mão saúda, brinda a vida:
-Saúde e Paz, Amigo! Mil abraços!

PARABÉNS!

BELO HORIZONTE, 27 DE SETEMBRO DE 2011.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 23

Olavo Bilac (Alma Inquieta:poesias) 1


A AVENIDA DAS LÁGRIMAS

A um Poeta morto

Quando a primeira vez a harmonia secreta
De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,
- Dentro do coração do primeiro poeta
Desabrochou a flor da lágrima primeira.

E o poeta sentiu os olhos rasos de água;
Subiu-lhe à boca, ansioso, o primeiro queixume:
Tinha nascido a flor da Paixão e da Mágoa,
Que possui, como a rosa, espinhos e perfume.

E na terra, por onde o sonhador passava,
Ia a roxa corola espalhando as sementes:
De modo que, a brilhar, pelo solo ficava
Uma vegetação de lágrimas ardentes.

Foi assim que se fez a Via Dolorosa,
A avenida ensombrada e triste da Saudade,
Onde se arrasta, à noite, a procissão chorosa
Dos órgãos do carinho e da felicidade.

Recalcando no peito os gritos e os soluços,
Tu conheceste bem essa longa avenida,
- Tu que, chorando em vão, te esfalfaste, de bruços,
Para, infeliz, galgar o Calvário da Vida.

Teu pé também deixou um sinal neste solo;
Também por este solo arrastaste o teu manto...
E, ó Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,
Passou para outras mãos, molhou-se de outro pranto.

Mas tua alma ficou, livre da desventura,
Docemente sonhando, às delícias da lua:
Entre as flores, agora, uma outra flor fulgura,
Guardando na corola uma lembrança tua...

O aroma dessa flor, que o teu martírio encerra,
Se imortalizará, pelas almas disperso:
- Porque purificou a torpeza da terra
Quem deixou sobre a terra uma lágrima e um verso.

Inania verba

Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...

O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.

Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?

E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!

Midsummer’s night’s dream

Quem o encanto dirá destas noites de estio?
Corre de estrela a estrela um leve calefrio,
Há queixas doces no ar... Eu, recolhido e só,
Ergo o sonho da terra, ergo a fronte do pó,
Para purificar o coração manchado,
Cheio de ódio, de fel, de angústia e de pecado...

Que esquisita saudade! - Uma lembrança estranha
De ter vivido já no alto de uma montanha,
Tão alta, que tocava o céu... Belo país,
Onde, em perpétuo sonho, eu vivia feliz,
Livre da ingratidão, livre da indiferença,
No seio maternal da Ilusão e da Crença!

Que inexorável mão, sem piedade, cativo,
Estrelas, me encerrou no cárcere em que vivo?
Louco, em vão, do profundo horror deste atascal,
Bracejo, e peno em vão, para fugir do mal!
Por que, para uma ignota e longínqua paragem,
Astros, não me levais nessa eterna viagem?

Ah! quem pode saber de que outras vida veio?...
Quantas vezes, fitando a Via-Láctea, creio
Todo o mistério ver aberto ao meu olhar!
Tremo... e cuido sentir dentro de mim pesar
Uma alma alheia, uma alma em minha alma escondida,
- O cadáver de alguém de quem carrego a vida...

Mater

Tu, grande Mãe!... do amor de teus filhos escrava,
Para teus filhos és, no caminho da vida,
Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava
À longe Terra Prometida.

Jorra de teu olhar um rio luminoso.
Pois, para batizar essas almas em flor,
Deixas cascatear desse olhar carinhoso
Todo o Jordão do teu amor.

e espalham tanto brilho as as asas infinitas
Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,
Que o seu grande clarão sobe, quando as agitas,
E vai perder-se entre as estrelas.

E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,
Fogem da humana dor, fogem do humano pó,
E, à procura de Deus, vão subindo essa escada,
Que é como a escada de Jacó.

Incontentado

Paixão sem grita, amor sem agonia,
Que não oprime nem magoa o peito,
Que nada mais do que possui queria,
E com tão pouco vive satisfeito...

Amor, que os exageros repudia,
Misturado de estima e de respeito,
E, tirando das mágoas alegria,
Fica farto, ficando sem proveito...

Viva sempre a paixão que me consome,
Sem uma queixa, sem um só lamento!
Arda sempre este amor que desanimas!

Eu, eu tenha sempre, ao murmurar teu nome,
O coração, malgrado o sofrimento,
Como um rosal desabrochado em rimas.

Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, é triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!

Sonho... Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.
Noite... A amplidão se estende, iluminada e calma:
De cada estrela de ouro um anjo se debruça,
E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.

Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.
Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.
E, como sobre um leito um alvo cortinado,
Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.

Porém, subitamente, um relâmpago corta
Todo o espaço... O rumor de um salmo se levanta
E, sorrindo, serena, aparecer à porta,
Como numa moldura a imagem de uma Santa...

Primavera

Ah! quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos comovesse! Ah! quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!

Saíamos com os pássaros e a aurora.
E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
“Beijemo-nos! amemo-nos! espera!”

E esse corpo de rosa recendia,
E aos meus beijos de fogo palpitava,
Alquebrado de amor e de cansaço...

A alma da terra gorjeava e ria...
Nascia a primavera... E eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço!

Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. (Coleção a obra-prima de cada autor).

França Junior (Organizações Ministeriais)


A política é uma das mais sérias preocupações do Brasil, e especialmente desta mui leal e heróica cidade do Rio de Janeiro, onde a vida pública e privada dos homens de Estado é discutida em altas vozes nos botequins, confeitarias, lojas de charutos, armarinhos, praças e pontos de bondes.

A julgar pela parte afetiva que cada cidadão toma nos negócios oficiais, este país deveria ser uma - república de anjos.

Infelizmente, assim não é.

Os tais anjos brigam por dá cá aquela palha, e os negócios conservam-se sempre no mesmo estado.

Por que brigam? Pelas idéias, pelos princípios.

E quereis saber como, entre nós, se briga pelos princípios?

É assim:

- O Machado Pereira é conservador.

- Está enganado; é liberal.

- Nunca foi liberal; votou sempre com os vermelhos.

- Na última eleição votou conosco.

- Ele é tão conservador, como o Arruda.

- Quem? O Arruda da Guaratiba?

- Sim, senhor.

- Este era liberal, foi demitido por prevaricador...

- É verdade.

- Eu conheço-o como as palmas de minhas mãos. Depois passou-se para os conservadores, quando subiu o gabinete Quintanilha...

- Não foi no gabinete Quintanilha que ele virou casaca, mas sim no ministério do Luís Pereira.

- Ora, meu caro amigo, outro ofício. No ministério do Luís Pereira ele já era republicano, e escrevia na Espada de Dâmocles, um jornal democrata que aqui houve, aquelas célebres cartas contra o chefe do estado assinadas A sentinela.

- Por sinal que o governo, para calar a boca do tal marreco, nomeou-o cônsul para a Suíça.

- E fez mais ainda: deu-lhe o título de conselho.

- Foi uma grande bandalheira!

- Mas era preciso.

- Esses conservadores foram sempre assim.

- E os liberais são ainda piores.

- Sabe o que mais, meu amigo, fique com as suas idéias que eu ficarei com as minhas.

E eis aí o que são as idéias e os princípios, de que falam quase todos.

E pelas idéias e pelos princípios cometem-se injustiças, torce-se a lógica, abocanham-se reputações e quebram-se cabeças às portas das igrejas.

Este exórdio, com tiradas cheirando a artigo de fundo de jornal de oposição, foi-me sugerido pelo papel importante que representa a política em todos os altos da nossa vida.

Quem quiser ver o Rio de Janeiro com febre e perder a cabeça, basta dizer-lhe ao ouvido:

- Caiu o ministério!

A notícia circula de boca em boca, sai do Castelões, entra no Bernardo, pára na Gazeta de Notícias, volta para o Farani, estaca nos pontos dos bondes, embarca nos ditos e percorre um por um todos os arrabaldes.

No dia seguinte não fica ninguém em casa.

A rua do Ouvidor é pequena para conter os curiosos.

Formam-se grupos às portas das lojas, pelas esquinas, e em cada semblante lê-se o seguinte ponto de interrogação:

- Quem foi chamado?

Começam as versões:

- Já sei quem é o organizador.

- Quem é?

- O Soares da Silva.

- Ora, ora!

- Acabo de estar agora mesmo com ele.

- Se não estás caçoando conosco, estás mentindo.

- Quanto apostam?

- Mas como é isto possível, se o Soares partiu ontem com a família para Teresópolis?

- É verdade; porém ontem mesmo recebeu o telegrama e desce hoje.

- Aí vem o Goulart.

- Homem, o Goulart deve estar bem informado.

- Ô Goulart, quem foi o chamado?

- O Silveira de Assunção.

- O que estás dizendo?

- A pura verdade.

- Com os diabos, por esta não esperava eu!

- Estou aqui, estou demitido.

- E dois.

- Mas isto é certo?

- E até aqui já está organizado o ministério.

- Quem ficou na Fazenda?

- O Alberto da Rocha.

- E na Justiça?

- O Brandão. Para a guerra entrou o Felício; para a Agricultura o barão de Pitanga Vermelha...

- O barão de Pitanga Vermelha?!

- Sim. Pois não o conheces?! É o Ladislau de Medeiros.

- Ah! já sei.

- Para Estrangeiros o visconde de Pedregulho; para a pasta do Império o Serzedello e para a da Marinha o Lucas Viriato.

- Quem é o Lucas Viriato?

- Não o conheço.

- Nem eu.

- O que é ele?

- Não sei, mas dizem-me que é rapaz muito inteligente e muito honesto.

- Bom-dia, meus senhores.

- Ora viva, sr. comendador.

- Então, já sabem?

- Acabamos de saber agora mesmo. O presidente do Conselho é o Silveira de Assunção.

- Não há tal; foi chamado, é verdade, mas não aceitou.

- Mas sr. comendador, eu sei de fonte limpa...

- Também eu sei que o homem esteve no Paço cinco horas a conversar com o Rei, e que de lá saiu à meia-noite, sem se haver decidido coisa alguma.

- Ora aí está quem nos vai dar boas notícias frescas.

- Quem é?

- O conselheiro Anastácio, que ali vem.

- Chama-o.

- Senhor conselheiro, satisfaça-nos a curiosidade; quem é o homem que vai nos governar?

- Pois ainda não sabem?

- São tantas as versões...

- Pensei que estivessem mais adiantados. Ora, ouçam lá: presidente do Conselho, visconde da Pedra Funda; ministro do Império, André Gonzaga; da Marinha, Bento Antônio de Campos...

- Muito bem, muito bem! Ora, graças a Deus que já se fez alguma coisa que valha a pena.

- Ministro da Fazenda, barão do Bico do Papagaio.

- Para a Fazenda?

- Sim, senhor.

- Porém este homem nunca deu provas de si..., é pouco conhecido..., as circunstâncias em que se acha o país...

- Não diga isto. E aquele aparte que ele deu ao Ramiro na questão bancária?

- Não me lembro.

- Pudera não! O senhor não acompanha os debates parlamentares, não está enfronhado nos negócios do país!

- Vamos adiante.

- Ministro da Guerra, Antônio Horta...

- Magnífico!

- Da Agricultura, João Cesário; e fica na pasta de Estrangeiros o presidente do Conselho.

- Antes ele ficasse na da Fazenda.

- Assim se tinha combinado a princípio; porém depois reconheceu-se que ele andaria melhor como ministro de Estrangeiros: porque já esteve na Europa e fala muito bem diversas línguas.

Após o conselheiro aparece um barão, sucede a este um jornalista, vêm depois diversos empregados públicos, e cada qual traz o seu ministério em um pedacinho de papel, dizendo: - Este é o verdadeiro.

Os políticos da rua do Ouvidor são tipos dignos de sérios estudos.

Em primeiro lugar figura o político bem informado.

É aquele que sabe de tudo.

Exemplo:

- Este ministério devia infalivelmente cair.

- Está visto; ele não podia ficar governando o país eternamente.

- Há muito tempo que os sujeitos andavam brigados! Eu já fui oficial de gabinete e sei o que são essas coisas. Além disso pessoa fidedigna asseverou-me que o Pereira nunca mais pôde tragar o Almeida, desde o dia em que este não quis nomear-lhe o sobrinho para a alfândega da Bahia. O Ernesto Pessoa também não olhava com bons olhos para o Miguel Faria desde a questão do Matadouro, que, a meu ver, foi o que deu com o ministério em terra. O organizador do novo gabinete não é o Matias de Araújo, ou o Siqueira, como dizem por aí. Deixe-os falar; a coisa já está assentada.

- Quem é então?

- É segredo; não posso dizer por hora

Esses políticos bem informados são, em geral, grandes jogadores de voltarete.

Ora, os leitores não ignoram a influência que o voltarete exerce sobre a nossa política.

Segundo rezam as crônicas, até alguns ministérios têm sido organizados em partidas de voltarete, e muitos indivíduos devem ao codilho as posições que ocupam.

Os políticos bem informados, apenas sob um ministério, indicam logo os nomes dos presidentes de províncias, dos chefes de polícia, dos delegados, subdelegados, de todos aqueles, enfim, que vão erguer-se ufanos sobre os destroços da derrubada.

Tipo oposto é o do político que não sabe de coisa alguma, que nada lê, que no fundo é completamente indiferente aos negócios públicos; mas que afeta acompanhar a marcha dos acontecimentos, franzindo o sobrolho e dizendo sempre:

- Isto é uma grande bandalheira!

Quando se encontra com algum amigo, assume um ar misterioso e pergunta-lhe:

- O que há de novo?

- Não sei; fala-se que o ministério caiu e que já está organizado outro.

Então chama-o para um lado, encosta-lhe a boca ao ouvido, e exclama:

- Isto é uma grande bandalheira!

Na primeira esquina encontra-se com outro amigo, e repete-lhe a mesma frase.

Há ainda o tipo do político esperto, que é aquele que tem em cada partido um compadre - probabilidade de subir ao poder.

Os tipos dessa ordem estão sempre com o governo em casa.

É por ocasião das organizações ministeriais que eles sobem à tona d’água, para a pesca.

E no fim de contas não sabem ainda os leitores quais são os novos ministros.

- Nem eu!

Quem é aquele sujeito que ali vem, suando por todos os poros, esbarrando-se nos grupos, e que procura desvencilhar-se dos indivíduos que o perseguem, dizendo-lhes:

- Não sei o que há, senhores; deixem-me, deixem-me pelo amor de Deus!

É um repórter. Já embarcou em dez tilburis e em outros tantos bondes, não dormiu toda a noite, e daria, certamente, um ano de vida para saber aquilo que nem os leitores nem eu sabemos.

O belo sexo também toma parte ativa nesse movimento.

- Tomara já ver este ministério organizado.

- Eu estou pelos cabelos!

- E eu então?! Há dois anos que meu marido está desempregado, e que nós vivemos no...no...Como se chama aquilo, menina, que teu pai fala todos os dias lá em casa?

- No ostracismo, mamãe.

- É isto mesmo. Quando penso que aquele malvado demitiu o Luís por causa das eleições de Santa Rita...

- Meu marido também foi demitido por causa das tais malditas eleições. Eu, se fosse homem acabava com câmaras, com governo, com liberais, conservadores e republicanos, e reformava este país.

Ai! ai! É o que eu digo, muitas vezes. A minha desgraça é vestir saias.

Os sujeitos que alugam carros, e que são os únicos que não têm política, andam também de um lado para o outro à cata dos sete fregueses que são bons, e pagam à boca do cofre.

Os pretendentes roem as unhas, andam às tontas, e são os que mais perguntam.

Dias depois os jornais publicam a organização do gabinete.

O novo ministério é recebido com hosanas pelos correligionários, e a ferro e fogo pelos adversários.

A cidade volta ao seu estado habitual, e eis aí o que é a política.

Tinha razão um amigo meu, sujeito de vistas largas, quando dizia:

- Eu pertenço ao partido que tem por partido tirar partido de todos os partidos.

(Folhetins, 1878.)

Fonte:
Academia Brasileira de Letras.

Florbela Espanca (Mensageira das Violetas) III


VELHINHA

Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim: "Já ela é velha!
Como o tempo passa!..."

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de ouro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...

IMPOSSÍVEL

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
"Parece Sexta-feira da Paixão.
Sempre a cismar, cismar, d´olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...

O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por ´star contente! Pois então?!..."
Quando se sofre, o que se diz é vão...
Meu coração, tudo, calado ouviste...

Os meus males ninguém mos adivinha...
A minha dor não fala, anda sozinha...
Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!...

Os males d´Anto toda a gente os sabe!
Os meus...ninguém... A minha dor não cabe
Nos cem milhões de versos que eu fizera!...

QUEM?...

Não sei quem és. Já não te vejo bem...
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!...)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...

És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És sorriso de Deus que não mereço...

És aquele que vive e que morreu...
És aquele que é quase um outro eu...
És aquele que nem sequer conheço...

SEM PALAVRAS

Brancas, suaves mãos de irmã
Que são mais doces que as das rainhas,
Hão de pousar em tuas mãos, as minhas
Numa carícia transcendente e vã.

E a tua boca a divinal manhã
Que diz as frases com que me acarinhas,
Há de pousar nas dolorosas linhas
Da minha boca purpurina e sã.

Meus olhos hão de olhar teus olhos tristes;
Só eles te dirão que tu existes
Dentro de mim num riso d’alvorada!

E nunca se amará ninguém melhor;
Tu calando de mim o teu amor,
Sem que eu nunca do meu te diga nada!...

QUE IMPORTA?...

Eu era a desdenhosa, a indiferente.
Nunca sentira em mim o coração
Bater em violências de paixão,
Como bate no peito à outra gente.

Agora, olhas-me tu altivamente,
Sem sombra de desejo ou de emoção,
Enquanto as asas louras da ilusão
Abrem dentro de mim ao sol nascente.

Minh'alma, a pedra, transformou-se em fonte;
Como nascida em carinhoso monte,
Toda ela é riso, e é frescura e graça!

Nela refresca a boca um só instante...
Que importa?... Se o cansado viandante
Bebe em todas as fontes... quando passa?...

O MEU ORGULHO

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não lembrar! Em tardes dolorosas
Lembro-me que fui a primavera
Que em muros velhos faz nascer as rosas!

As minhas mãos outrora carinhosas
Pairavam como pombas... Quem soubera
Por que tudo passou e foi quimera,
E por que os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: "Não me merecem..."
E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha
E também é nobreza não ter nada!

INCONSTÂNCIA


Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...

O NOSSO MUNDO

Eu bebo a vida, a vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Pousando em ti o meu olhar eterno
Como pousam as folhas sobre os lagos...

Os meus sonhos agora são mais vagos...
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno...
E a vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu amor, quero vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas, hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?...
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?...
O mundo, amor! ... As nossas bocas juntas!...

ANOITECER

A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos de amor pra toda a gente!
E a minha alma, sombria e penitente
Soluça no infinito desta hora!

Horas tristes que vão ao meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Ó meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho...
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...

CREPÚSCULO

Teus olhos, borboletas de ouro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Pousam nos meus, suaves e cansadas
Como em dois lírios roxos e dolentes...

E os lírios fecham... Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E a minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes...

O silêncio abre as mãos... entorna rosas...
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando...

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha.
Um coração ardente palpitando...

EXALTAÇÃO

Viver!... Beber o vento e o sol!...
Erguer Ao céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!

A chama, sempre rubra, ao alto a arder!...
Asas sempre perdidas a pairar,
Mais alto para as estrelas desprender!...
A glória!... A fama!... O orgulho de criar!...

Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos estáticos, pagãos!...

Trago na boca o coração dos cravos!
Boêmios, vagabundos, e poetas:
- Como eu sou vossa irmã, ó meus irmãos!...

Fonte:
ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket).