sábado, 29 de outubro de 2011

Ialmar Pio Schneider (Dia Nacional do Livro)


Por ter ocorrido em 29 de outubro de 1810 a fundação da Biblioteca Nacional, esta data é comemorada como o Dia Nacional do Livro.

Ocorreu-me escrever algo a respeito do livro, este amigo mudo mas sábio que me acompanha desde que me conheço por gente. O pouco que sei nesta vida pacata que levo, além dos mestres que me ensinaram, estão os livros como fonte de conhecimentos onde procurei sempre a aprendizagem e o lazer, apesar da mortificante televisão cuja tentação não tenho resistido.

Também não posso deixar de referir-me ao leitor para o qual compus um soneto:

AO LEITOR

Quando escrevo me assalta um pensamento
indeciso de não saber a quem
possa atingir meu louco sentimento
e duvidar assim não me faz bem…

Espero apenas que o meu sofrimento
não vá prejudicar... ferir ninguém…
Ponho aqui realidade e fingimento
para a escolha daqueles que me lêem.

Segue junto comigo se te apraz
conhecer solidão e fantasia,
às vezes desespero, às vezes paz:

meus “Sonetos e Cânticos Dispersos”,
dizendo que no mundo da poesia
cada qual é o poeta dos seus versos...

Pode parecer estranho que quase sempre me socorro da poesia para escrever o meu texto aqui, buscando divulgar os autores, os mais diversos. É uma maneira de despertar o interesse para a arte poética pois sempre vejo nela uma tábua de salvação à realidade cruel que presenciamos no dia-a-dia.

Nunca é demais lembrar: “Um país se faz com homens e livros”. Monteiro Lobato (1882-1948). Então, façamos deles os nossos fiéis e constantes companheiros para enfrentar a vida.

Fonte:
Texto e soneto enviado pelo autor

Júlia Lopes de Almeida (Os Beijos)


Falam os senhores médicos contra os beijos condenando-os como transmissores de micróbios assassinos. Misérias do sangue ou feias doenças incubadas passam invisível e perfidamente de uma para outra criatura, no mais rápido ou sutil dos ósculos.

— Não se beijem! é uma das fórmulas modernas dos higienistas; resta-nos duvidar que eles, para exemplo, se submetam a essas leis de esquivança que apregoam... Porque, em verdade, quem haverá por todo este mundo vasto, por mais emurchecidos que tenha os lábios ou por mais seca que tenha a alma, que não sinta florir no peito, com maior ou menor viço, o desejo imperioso de unir a sua boca a outra boca amada ou de refrescá-la nas faces acetinadas de uma criança?

Fagulhas das labaredas em que nos consumimos, os beijos crepitarão por toda a larga face da terra, embora a ciência contra eles asseste a ducha gelada dos seus decretos proibitivos.

Não há em língua humana palavra que, como o beijo, exprima, por mais silencioso que ele seja, a ternura e o amor.

A boca de um mudo diz tudo quanto há de mais elevado e de mais veemente, quando beija; no beijo está o único triunfo da sua alma encarcerada!

Bem prega Frei Thomaz... Não se beijem! Dentro do beijo, como dentro do cálice de uma flor de aroma capitoso, está muitas vezes escondido o veneno que nos leva ao último sono. Cuidado... Quando tais palavras escrevem, esses senhores que só olham para a vida através das lentes dos microscópios, deverão sentir em si próprios o rugido da natureza ofendida a clamar contra essa impiedosa verdade da ciência.

A vida sem beijos! a vida sem beijos é como um jardim sem flores, um pomar sem frutos, ou (que escorregue ainda mais esta velha comparação) um deserto sem oásis. Não valeria a pena prolongar a existência à custa de tamanho sacrifício. Por assim entender é que a humanidade faz e fará sempre ouvidos surdos à teoria da supressão do beijo. Para ela, ele não é tal o veículo da peçonha, a ameaça constante dos fantasmas terríficos de doenças asquerosas e tristes, coisa desvirtuada e maléfica, mas sim, e por todos os séculos dos séculos, o que dele disse um poeta meu amigo:

"... O selo da amizade

E do amor! Ele só nos dá felicidade.
Dois corações que o tédio ou o cansaço importune,
Só um beijo de amor os levanta e reúne.
O beijo é vida, o beijo é luz, o beijo é glória!
Observai bem: vereis que o beijo é toda a história
Da humanidade. Foi o beijo primitivo
Que na terra o primeiro homem tornou cativo
Da primeira mulher; depois, ardente ou brando,
Veio o beijo de amor as raças perpetuando,
Unindo gerações a gerações, e unindo
O passado ao futuro insondável e infindo.
O beijo é a transfusão das almas; ele encerra
Tudo que possa haver de divino na terra."

Não é só o beijo perpetuador das raças que derrama na alma o clarão mirífico da felicidade. Quando uma mãe beija um filho, como que sente o seu coração maior que o mundo e mais vitorioso que todos os hinos do universo! Saberá alguém de coisa mais doce nem mais pura, que o beijo da amizade?

Infelizmente, nem todos os beijos são:

"Tudo que possa haver de divino na terra!"

Como diz o poeta.

É que Filinto de Almeida desconhece o horror dos beijos convencionais, que só os lábios femininos trocam entre si.

Para esses o rigor das leis científicas deveria ser bem aceito... Que se beijem duas amigas que se estimam, sim! Que por um enlevo de simpatia, uma mulher beije a outra em um primeiro dia de encontro, como um pacto de futura amizade, sim! Mas, que, sem espontaneidade de afeto ou sem velha estima, só por cortesia e obediência ao hábito, duas criaturas indiferentes, e que às vezes até se desestimam, troquem beijinhos cada vez que se encontram... Por Deus, nem é decente nem agradável!

Por mais que a gente queira esquivar-se, não pode, sem incorrer em falta grave, furtar-se ao impulso com que certas damas atraem as outras para o cumprimento da praxe. Que desastres, às vezes, nesse movimento! Abas de chapéus que se chocam, véus que se arrepanham, corpos que se contrafazem, e no fim: um chapéu torto, uma face babada, e no íntimo uns ressaibos de mel avinagrado.

A graça esquisita dessa insistência está muitas vezes em que a senhora que imprime à outra o puxão para o beijo, dá-lhe logo a face a beijar, face em que não raro desabotoam espinhas e quase sempre o cold cream se alastra.

E não há resistência capaz de livrar uma criatura de tais assaltos; quer queira quer não queira, ela há de beijar e há de ser beijada em plena rua, em plena luz, por pessoas a quem não a prende nenhum laço de afeto, ou mesmo de simpatia muito forte.

Sei que me atiro para dentro de uma casa de maribondos falando assim; pouco importa.

De resto, esta impressão não é só minha. Nenhuma mulher deixará de sentir revolver-se no seu coração um sentimento de desagrado, ao unir a sua boca a outra boca de que tenham saído por ventura epigramas que a firam ou indiretas que a molestem.

O beijo é uma coisa muito nobre para ser esbanjada assim, sem significação, em encontros de acaso, em qualquer canto de rua...

Para que ele seja suave e doce, deve ser dado com a consciência da amizade; do contrário, quando não é perverso, é ridículo.

Não se diga que foi a nossa índole meiga e expansiva que inventou tal costume; ele foi importado, mas creio que já caiu em desuso nas terras de que proveio. Pelo menos, as estrangeiras não se beijam entre si com tamanha efusão. Elas desconfiam, talvez, de que perdem o valor os beijos de uma criatura que os dispensa a toda a gente, e por isso só os gastam em família e pouco mais... Aqui, ao contrário, o furor do beijo a esmo tem aumentado; toda a gente se julga com direito a ele e o reclama num gesto imperioso que não admite recusa...

Em resumo, a minha opinião neste assunto melindroso e terrível é esta: não compreendo a vida sem o beijo, como não compreendo o beijo sem o afeto.

Como, enquanto houver mundo, há de haver o amor, o beijo triunfará de todas as perseguições que lhe fizerem os senhores bacteriologistas.

Eles mesmos, depois de horas e horas passadas no interior dos seus gabinetes e dos seus laboratórios, ao levantarem os olhos, cansados das páginas dos livros ou das lentes dos microscópios, sentirão, para refrigério das suas almas entontecidas pela vertigem de tantas misérias humanas, o desejo de as suavizarem num beijo, em que os seus lábios impuros de homens encontrem a fresca inocência da face de uma criança... E estou certa de que apressarão os passos, para irem beijar em casa os filhos pequeninos...

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Livro das Donas e Donzelas. Belém/PA: Núcleo de Educação a Distancia da Universidade da Amazonia (UNAMA).

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte VI


25 DE MARÇO

(Recife, 1885)
Em Pernambuco para o Ceará

Bem como uma cabeça inteiramente nua
De sonhos e pensar, de arroubos e de luzes,
O sol de surpreso esconde-se, recua,
Na órbita traçada -- de fogo dos obuses.

Da enérgica batalha estóica do Direito
Desaba a escravatura -- a lei cujos fossos
Se ergue a consciência -- e a onda em mil destroços
Resvala e tomba e cai o branco preconceito.

E o Novo Continente, ao largo e grande esforço
De gerações de heróis -- presentes pelo dorso
À rubra luz da glória -- enquanto voa e zumbe.

O inseto do terror, a treva que amortalha,
As lágrimas do Rei e os bravos da canalha,
O velho escravagismo estéril que sucumbe.

NINHO ABANDONADO

À distinta família Simas, pela morte de seu chefe,
o Ilmo. Sr. João da Silva Simas.

O vosso lar harmônico e tranqüilo
Era um ninho de luz e de esperanças
Que como abelhas iriadas, mansas,
Nos vossos corações tinham asilo.

Havia lá por dentro tanta crença
E tanto amor puríssimo, cantando,
Que parecia um largo sol faiscando
Por majestosa catedral imensa.

Agora o ninho está desamparado!
Sumiu-se dele o pássaro adorado,
O mais ideal dos pássaros do ninho.

Não se ouve mais a música sonora
Da sua voz -- dentro do ninho, agora,
Paira a saudade como um bom carinho.

CRENÇA

Filha do céu, a pura crença é isto
Que eu vejo em ti, na vastidão das cousas,
Nessa mudez castíssima das lousas,
No belo rosto sonhador do Cristo.

A crença é tudo quanto tenho visto
Nos olhos teus, quando a cabeça pousas
Sobre o meu colo e que dizer não ousas
Todo esse amor que eu venço e que conquisto.

A crença é ter os peregrinos olhos
Abertos sempre aos ríspidos escolhos;
Tê-los à frente de qualquer farol

E conservá-los, simplesmente acesos
Como dois fachos -- engastados, presos
Nas radiações prismáticas do sol!

CRISTO E A ADÚLTERA

(Grupo de Bernardelli)

Sente-se a extrema comoção do artista
No grupo ideal de plácida candura,
Nesse esplendor tão fino da escultura

Para onde a luz de todo o olhar enrista.
Que campo, ali, de rútila conquista
Deve rasgar, do mármore na alvura,
O estatuário -- que amplidão segura

Tem -- de alma e braço, de razão e vista!
Vê-se a mulher que implora, ajoelhada,
A mais serena compaixão sagrada
De um Cristo feito a largos tons gloriosos.

De um Nazareno compassivo e terno,
D'olhos que lembram, cheios de falerno,
Dois inefáveis corações piedosos!

ÊXTASE DE MÁRMORE

À grande atriz Apolônia.

O mármore profundo e cinzelado
De uma estátua viril, deliciosa;
Essa pedra que geme, anseia e goza
Num misticismo altíssimo e calado;

Essa pedra imortal -- campo rasgado
A comoção mais íntima e nervosa
Da alma do artista, de um frescor de rosa,
Feita do azul de um céu muito azulado;

Se te visse o clarão que pelos ombros
Teus, rola, cai, nos múltiplos assombros
Da Arte sonora, plena de harmonia;

O mármore feliz que é muito artista
Também -- como tu és -- à tua vista
De humildade e ciúme, coraria!

INVERNO

Amanheceu -- no topo da colina
Um céu de madrepérola se arqueia
Limpo, lavado, reluzindo -- ondeia
O perfume da selva esmeraldina.

Uma luz virginal e cristalina,
Como de um rio a transbordante cheia,
Alaga as terras culturais e arreia
De pingos d'ouro os verdes da campina.

Um sol pagão, de um louro gema d'ovo,
Já tão antigo e quase sempre novo
Surge na frígida estação do inverno.

-- Chilreiam muito em árvores frondosas
Pássaros -- fulge o orvalho pelas rosas
Como o vigor no espírito moderno.

FALANDO AO CÉU

Falas ao Céu, Amor! Em vão tu falas!
Mas o céu, esse é velho, esse é velhinho,
Todo ele é branco, faz lembrar o linho
Dos leitos alvos onde tu te embalas.

A alma do céu é como velhas salas
Sem ar, sem luz, como lares sem vinho
Sem água e pão, sem fogo e sem carinho,
Sem as mais toscas, as mais simples galas.

Sempre surdo, hoje o céu é mudo, é cego...
Jamais o coração ao céu entrego,
Eu que tão cego vou por entre abrolhos.

Mas se queres tornar jovem e louro
Dá-lhe o bordão do teu amor um pouco
Fala e vista, com a vida dos teus olhos...

GLORIOSA

A Araújo Figueredo

Pomba! dos céus me dizes que vieste,
Toda c’roada de astros e de rosas,
Mas há regiões mais que essas luminosas.
Não, tu não vens da região celeste

Há um outro esplendor em tua veste,
Uma outra luz nas tranças primorosas,
Outra harmonia em teu olhar -- maviosas
Cousas em ti que tu nunca tiveste.

Não, tu não vens das célicas planuras,
Do Éden que ri e canta nas alturas
Como essa voz que dos teus lábios tomba.

Vens de mais longe, vens doutras paragens,
Vens doutros céus de místicas celagens,
Sim, vens de sóis e das auroras, pomba.

O CHALÉ

É um chalé luzido e aristocrático,
De fulgurantes, ricos arabescos,
Janelas livres para os ares frescos,
Galante, raro, encantador, simpático.

O sol que vibra em rubro tom prismático,
No resplendor dos luxos principescos,
Dá-lhe uns alegres tiques romanescos,
Um colorido ideal silforimático.

Há um jardim de rosas singulares,
Lírios joviais e rosas não vulgares,
Brancas e azuis e roxas purpúreas.

E a luz do luar caindo em brilhos vagos,
Na placidez de adormecidos lagos
Abre esquisitas radiações sulfúreas.

DELÍRIO DO SOM

O Boabdil mais doce que um carinho,
O teu piano ebúrneo soluçava,
E cada nota, amor, que ele vibrava,
Era-me n’alma um sol desfeito em vinho.

Me parecia a música do arminho,
O perfume do lírio que cantava,
A estrela-d’alva que nos céus entoava
Uma canção dulcíssima baixinho.

Incomparável, teu piano -- e eu cria
Ver-te no espaço, em fluidos de harmonia,
Bela, serena, vaporosa e nua;

Como as visões olímpicas do Reno,
Cantando ao ar um delicioso treno
Vago e dolente, com uns tons de lua.

ILUSÕES MORTAS

A Virgílio Várzea

Os meus amores vão-se mar em fora,
E vão-se mar em fora os meus amores,
A murchar, a murchar, como essas flores
Sem mais orvalho e a doce luz da aurora.

E os meus amores não virão agora,
Não baterão as asas multicores,
Como as aves mansas -- dentre os esplendores
Do meu prazer, do meu prazer de outrora.

Tudo emigrou, rasgando a esfera branca
Das ilusões, -- tudo em revoada franca
Partiu -- deixando um bem-estar saudoso

No fundo ideal de toda a minha vida,
Qual numa taça a gota indefinida
De um bom licor antigo e saboroso.

O SONHO DO ASTRÓLOGO

As fulgurosas, rútilas estrelas
Como mundos de mundos seculares,
Formando uns arquipélagos, uns mares
De luz -- como eu deslumbro o olhar ao vê-las.

Ah! se como eu sei compreendê-las,
Sentir-lhes os seus filtros salutares,
Pudesse, da amplidão fria dos ares
Arrancá-las, na mão sempre trazê-las;

Que vagalhões de assombros palpitantes
Não me viriam perpassar, faiscantes,
Dentro do ser, nuns doutros murúrios.

Eu saberia muito mais a causa
Da evolução que nunca teve pausa,
Que é uma audácia transbordando em rios.

CRISTO

Cristo morreu, ó tristes criaturas,
Era matéria como vós, morreu;
E quando a noite sepulcral desceu
Gelou com ele o oceano das ternuras.

Nunca outro sol de irradiações mais puras
Subiu tão alto e tanto resplendeu,
Nunca ninguém tão firme combateu
Da humanidade todas as torturas.

Morreu, que se ele, o Deus, ressuscitasse,
Limpa de sangue e lágrimas a face,
Os seus olhos tranqüilos, virginais,

Dons inefáveis, corações piedosos,
Tinham de abrir-se muito dolorosos,
Também chorando quando vós chorais!

FRUTAS DE MAIO

Maio chegou -- alegre e transparente
Cheio de brilho e música nos ares,
De cristalinos risos salutares,
Frio, porém, ó gota alvinitente.

Corre um fluido suave e odorescente
Das laranjeiras, como dos altares
O incenso -- e, como a gaze azul dos mares,
Leve -- há por tudo um beijo, docemente.

Isto bem cedo, de manhã -- adiante
Pela tarde um sol calmo, agonizante,
Põe no horizonte resplendentes franjas.

Há carinhos, da luz em cada raio,
Filha -- e eu que adoro este frescor de maio
Muito, mas muito -- trago-te laranjas.

ETERNO SONHO

Quelle est donc cette femme?
Je ne comprendrai pas.
Félix Arvers

Talvez alguém estes meus versos lendo
Não entenda que amor neles palpita,
Nem que saudade trágica, infinita
Por dentro dele sempre está vivendo.

Talvez que ela não fique percebendo
A paixão que me enleva e que me agita,
Como de uma alma dolorosa, aflita
Que um sentimento vai desfalecendo.

E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
Diga, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil e carinhosa e franca:

-- Ah! bem conheço o teu afeto triste...
E se em minha alma o mesmo não existe,
É que tens essa cor e é que eu sou branca!

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Cap. IV

IV
O bobinho

O passeio que Narizinho deu com o príncipe foi o mais belo de toda a sua vida. O coche de gala corria por sobre a areia alvíssima do fundo do mar conduzido por mestre Camarão e tirado por seis parelhas de hipocampos, uns bichinhos com cabeça de cavalo e cauda de peixe. Em vez de pingalim, o cocheiro usava os fios de sua própria barba para chicoteá-los.

— lept! lept!...

Que lindos lugares ela viu! Florestas de coral, bosques de esponjas vivas, campos de algas das formas mais estranhas. Conchas de todos os jeitos e cores. Polvos, enguias, ouriços — milhares de criaturas marinhas tão estranhas que até pareciam mentiras do barão de Munchausen.

Em certo ponto Narizinho encontrou uma baleia dando de mamar a várias baleinhas novas. Teve a idéia de levar para o sítio uma garrafa de leite de baleia, só para ver a cara de espanto que dona Benta e tia Nastácia fariam. Mas logo desistiu, pensando: “Não vale a pena. Elas não acreditam mesmo...”

Nisto apareceu ao longe um formidável espadarte. Vinha com o seu comprido esporão de pontaria feita para o cetáceo, que é como os sábios chamam a baleia. O príncipe assustou-se.

— Lá vem o malvado! — disse ele. — Esses monstros divertem-se em espetar as pobres baleias como se elas fossem almofadinhas de alfinetes. Vamo-nos embora, que a luta vai ser medonha.

Recebendo ordem de voltar, o Camarão estalou as barbas e pôs os “cabecinhas de cavalo” no galope.

De volta ao palácio o príncipe deixou a menina e a boneca na gruta dos seus tesouros, indo cuidar dos preparativos da festa.

Narizinho pôs-se a mexer em tudo... Quantas maravilhas! Pérolas enormes aos montes. Muitas, ainda na concha, punham as cabecinhas de fora, espiavam a menina e escondiam-se outra vez. De medo da Emília. Caramujos, então, era um nunca se acabar. de todos os jeitos possíveis e imagináveis. E conchas! Quantas, Deus do céu!

Narizinho teria ficado ali a vida inteira, examinando uma por uma todas aquelas jóias, se um peixinho de rabo vermelho não viesse da parte do príncipe dizer que o jantar estava na mesa.

Foi correndo e achou a sala de jantar ainda mais bonita que a sala do trono. Sentou-se ao lado do príncipe e gabou muito a arrumação da mesa.

— Artes das senhoras sardinhas — disse ele. — São as melhores arrumadeiras do reino.

A menina pensou consigo: “Não é à toa que sabem arrumar-se tão direitinhas dentro das latas...”

Vieram os primeiros pratos — costeletas de camarão, filés de marisco, omeletes de ovos de beija-flor, lingüiça de minhoca – um petisco de que o príncipe gostava muito.

Enquanto comiam, uma excelente orquestra de cigarras e pernilongos tocava a música do fium, regida pelo maestro Tangará, de batuta no bico. Nos intervalos três vaga-lumes de circo fizeram mágicas lindas, entre as quais foi muito apreciada a de comer fogo.

Para lidar com fogo não há como eles.

Encantada com tudo aquilo, Narizinho batia palmas e dava gritos de alegria. Em certo momento o mordomo do palácio entrou e disse umas palavras ao ouvido do príncipe.

— Pois mande-o entrar — respondeu este.

— Quem é? — quis saber a menina.

— Um anãozinho que nos apareceu aqui ontem para contratar-se como bobo da corte. Estamos sem bobo desde que o nosso querido Carlito Pirulito foi devorado pelo peixe-espada.

O candidato ao cargo de bobo da corte entrou conduzido pelo mordomo, e logo saltou para cima da mesa, pondo-se a fazer graças.

Narizinho percebeu incontinenti que o bobinho não passava do Pequeno Polegar, vestido com o clássico saiote de guizos e uma carapuça também de guizos na cabeça. Percebeu mas fingiu não ter desconfiado de nada.

— Como é o seu nome? — perguntou-lhe o príncipe.

— Sou o gigante Fura-Bolos! — respondeu o bobinho sacudindo os guizos.

Polegar não tinha o menor jeito para aquilo. Não sabia fazer caretas engraçadas, nem dizer coisas que fizessem rir. Narizinho teve um grande dó dele e disse-lhe baixinho:

— Apareça lá no sítio de vovó, senhor Fura-Bolos. Tia Nastácia faz bolinhos muitos bons para serem furados. Vá morar comigo, em ar essa vida idiota de bobo da corte. Você não dá para isso.

Nesse momento reapareceu na sala a baratinha de mantilha, de nariz erguido para o ar como quem fareja alguma coisa.

— Achou o fugido? — perguntou-lhe o príncipe.

— Ainda não — respondeu ela — mas aposto que anda por aqui. Estou sentindo o cheirinho dele.

E farejou outra vez o ar com o seu nariz de papagaio seco.

Apesar de ser muito burrinho, o príncipe desconfiou que o tal Fura-Bolos fosse o mesmo Polegar.

— Talvez esteja — disse ele. — Talvez Polegar seja o bobinho que veio oferecer-se para substituir o Carlito Pirulito. Para onde foi? — indagou correndo os olhos em redor. — Estava aqui ainda agora, não faz meio minuto...

Procuraram o bobinho por toda a parte, inutilmente. É que a menina, mal viu entrar na sala a diaba da velha, disfarçadamente o tinha agarrado e enfiado na manga do vestido.

Dona Carochinha remexia por todos os cantos, até dentro das terrinas, sempre resmungona.

— Está aqui, sim. Estou sentindo o cheirinho dele cada vez mais perto. Desta feita não me escapa.

Vendo-a aproximar-se mais e mais, Narizinho perturbou-se. E para disfarçar gritou:

— Dona Carochinha está caducando. Polegar usa as botas de sete léguas e, se esteve aqui, já deve estar na Europa.

A velha deu uma risada gostosa.

— Não vê que não sou boba? Assim que desconfiei que ele andava querendo fugir, fui logo tratando de trancar suas botas na minha gaveta. Polegar fugiu descalço e não me escapa.

— Há de escapar, sim! — gritou Narizinho em tom de desafio.

— Não escapa, não! — retrucou a velha — e não me escapa porque já sei onde está. Está escondido aí na sua manga, ouviu? – e avançou para ela.

Foi um rebuliço na sala. A velha atracou-se com a menina, e certamente que a subjugaria, se a boneca, que estava na mesa ao lado de sua dona, não tivesse tido a bela idéia de arrancar-lhe os óculos e sair correndo com eles.

Dona Carochinha não enxergava nada sem óculos, de modo que ficou a pererecar no meio da sala como cega, enquanto a menina corria a esconder Polegar na gruta dos tesouros, bem lá no fundo de uma concha.

— Fique aqui bem quietinho até que eu volte, recomendou-lhe.

E regressou à sala, muito lampeira da sua façanha.
–––––––
continua…

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

57a. Feira do Livro de Porto Alegre (Programação de 30 de outubro, domingo)


Programa Clube de Jovens da Secretaria de Inclusão Escolar de Buenos Aires
- 09:00

Missa em trovas
- 10:00

As aventuras de Joãozinho
- 11:00

Teatro Infantil com a Cia Crakety
Cuidar quem cuida: arteterapia, espiritualidade e reabilitação
- 14:00
Evento voltado para os cuidadores

Premiação do 1º Concurso Literário de Contos Assombros Juvenis
- 14:00

Sessão de Autógrafos da Escola São Marcos - Alvorada
- 14:00

Projeto Conte Mais
- 14:00
Contação de histórias com as contadoras Gladis Pedersen e Rosiliane Goulart

CAOSótica
- 14:00

Décima Ilha Açoriana
- 14:00

O que é e o que não é a física quântica
- 14:30
Um esquema de perguntas e respostas, traçando um paralelo entre as descobertas da ciência, sua aplicação em nossa vida e em nossa evolução

Tenda.doc: Sessão Fantaspoa - True Nature
- 14:30
True Nature conta a história de uma família que se reúne quando sua filha mais jovem é encontrada um ano após o seu desaparecimento

Caminhos Interligados//As Divagações Continuam//Sissi e Sua Turma no Futuro
- 14:30

Crianças Cristal
- 15:00
As novas gerações Índigo, Y e Cristal e seu propósito de vida, suas características principais e a necessidade de um novo olhar na educação

Caravana da Fantasia conta o Patinho Feio
- 15:00

Teatro Infantil

Corre, Pedro, corre!
- 15:00

Memória e Literatura
- 15:30
A relação entre literatura e memória como meio de elaboração da identidade pessoal, cultural e social

"Vi um bicho genial lá no fundo do quintal"
- 15:30
Bate-papo seguido de sessão de autógrafos

Tchezito e as lendas Gaúchas
- 15:30

Contação de Histórias com Paulo Roberto Ferrari e Wilson Tubino

Planejando o Futuro
- 15:30

Vi um bicho genial lá no fundo do quintal
- 15:30

Imagens Faladas - Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo
- 16:00
Uma reportagem fotográfica sobre a memória do Bairro Cristal

Contos de Jack London
- 16:00

Contos de Suspense

É Fogo//O nome da fera
- 16:00

Tchezito e as lendas gaúchas
- 16:00

Diário de um correspondente internacional
- 16:30
Rodrigo Lopes, repórter internacional, relata os bastidores de momentos que marcaram a história da primeira década do século 21

Tenente, onde fica o Alegrete?
- 16:30

Alaba Textory
- 16:30

ABC da Quântica
- 16:30

Crianças Cristal
- 16:30

O Seu Floresta
- 16:30

O que é web arte? Conhecendo arte on-line e sites de arte
- 17:00
Como estão sendo desenvolvidas as produções artísticas nos meios digitais e quais são suas repercussões no sistema da arte?

O Fantástico Mistério de Feiurinha, de Pedro Bandeira
- 17:00

Contação de história com Valquíria Cardoso

Os guardiões da árvore
- 17:00

Teatro Infantil

Museu desmiolado
- 17:00

Crime e mistério no século 21: novos caminhos para a literatura de gênero
- 17:30
A discussão dos caminhos da literatura policial de ontem e de hoje, a popularidade das histórias de crime e a influência de Sherlock Holmes para o gênero

Vozes do criador no mundo e nos caminhos de Santo Antônio: poema de três cenários
- 17:30

O Hino de Galeno - 1º volume - ensaios sobre ciência e religião
- 17:30

Alegria de Servir
- 17:30

Torres em Transe
- 17:30

Predarias
- 17:30

Solenidade de inalguração da Biblioteca Moacyr Scliar
- 18:00

Contos Cantados com Valquíria Cardoso
- 18:00

A Arte Levada a Sério
- 18:00

Saraú com café do município de Taquara
Biombo Negro
- 18:00

Oficina aberta com Felipe Ehrenberg
Arte às 18:30
- 18:30

Apresentação do Coral dos Correios
Mini contar-te
- 18:30

Sociedades Limitadas
- 18:30

Tempo de Escola - Memórias
- 18:30

Web Arte e Poéticas do Território
- 18:30

Guerras e Tormentas
- 18:30

Cultura Quilombola
- 18:30

Literatura policial
- 19:00

Os segredos da construção de novelas policiais

Baile Flamenco - Identidade Gaúcha
- 19:00

Gestos, sapateados e castanholas em harmonia com os floreios da guitarra flamenca. Ritmos em espetáculo e também em livro
Cine Santander Cultural
- 19:00

Sessão Comentada

2º Seminário Reinações - O fantástico e a literatura infantojuvenil
- 19:00
Clássicos do fantástico, suas adaptações e a atração para o público infantojuvenil

Terra: um novo mundo//A Berinjela e o Gerimum
- 19:30

Rei dos Bruxos
- 19:30

Vidas Desabitadas - A sociedade
- 19:30

O silêncio e a escuridão
- 19:30

Ficção de Polpa: Crime!
- 19:30

Baile Flamenco - Identidade Gaúcha
- 19:30

Cordão da Saideira: Sarau Literário Zona Sul - o suspense na poesia
- 20:00
Sarau espetáculo mostrando diversas abordagens do elemento suspense na poesia de autores nacionais e estrangeiros

Escrevendo no Escuro
- 20:30

Fonte
http://www.feiradolivro-poa.com.br/programacao/data/2011-10-30/pag/7

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nemésio Prata Crisóstomo (Trova Ecológica 37)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 378)


Uma Trova Nacional

A folha seca do galho
promove a sabedoria,
tece a colcha de retalho
no vagar do dia a dia.
–DÁGUIMA VERÔNICA/MG–

Uma Trova Potiguar

Este poeta deduz,
e a nossa fé corrobora:
disse Deus: “Faça-se a luz”!
e eis nossa primeira aurora.
–FRANCISCO MACÊDO/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - CTS-Caicó/RN
Tema: OCASO - 9º Lugar

Desculpe, Amor, se me atraso
na volta ao lar... – Acontece
que eu me perco, olhando o ocaso,
enquanto o sol adormece!!!
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Meu “currículo” é comum,
digo com toda alegria...
Não tenho curso nenhum
mas sou formado em poesia!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Estes teus olhos brejeiros!
- ah! se eu pudesse, meu Deus!
por noites, dias inteiros,
ver os meus olhos nos teus!
–ANIS MURAD/RJ–

Simplesmente Poesia

Casa
–LUIZ OTÁVIO OLIANI/RJ–

faço do silêncio
a morada do ser

não lhe digo
palavras duras
nem amorteço quedas

apenas guardo
a concha
em que abrigo
a solidão dos homens.

Estrofe do Dia

Assim como tem alguém
Que quando perde alguém chora,
Também tem alguém que age
Quando um amor vai embora
Com a mesma simplicidade
Que um pingo d‘água se tora.
–MANOEL FILÓ/PE–

Soneto do Dia

Serenidade
–ADELMAR TAVARES/PE–

Nunca de mim se ouviu um só protesto
de maldição, de cólera aturdida,
sequer uma palavra, ou mesmo um gesto
de malquerer a quem mais quis na vida.

Arrasto como a um fardo, a alma ferida,
e a dor que me crucia, manifesto,
sem jamais inculpar de fementida,
aquela que em meu sonho amo, e requesto.

Em perdendo-a, perdi toda a alegria
do coração que em mágoas apunhalo.
Perdi a luz!... Fechou-se o sol que eu via!...

Tudo abateu com a queda desse amor,
tão forte, que ainda sinto o seu abalo,
tão grande, que ainda escuto o seu fragor.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Júlia Lopes de Almeida (Amuletos)


Foi numa das sextas-feiras da Matilde Abranches, que o seu médico, rapaz aliás simpático, afirmou que os homens são maus por culpa das mulheres...

Os dedos de Cecília desfolhavam as notas levíssimas de Ma barque légère e a meu lado Lídia sorvia o aroma de um botão de rosa. Bem comparado, fez-me lembrar um quadro ideal de Diana Cid; Lídia também estava de azul, como a formosa do "Perfume".

— Por culpa das mulheres?! Perguntou a voz empapada de uma mãe de família, que tem por hábito tomar a sério todas as conversas.

— Como desde o princípio do mundo. Agora então a influência da mulher é nefasta. A nossa sociedade cai rapidamente da sua modesta franqueza, que a fazia encantadora, para um esnobismo que a torna ridícula. A preocupação do chic estraga tudo. As portas já se não abrem como antigamente, e procuramos termos para as conversas mais simples!

Não há naturalidade nem há simplicidade. A virtude das mulheres, que era para as nossas culpas, como um tronco profundamente enraizado é para as lianas frágeis — um sustentáculo que as eleva e ampara, sente-se abalada e já não nos inspira a confiança de outrora.

Como para Bruto, para mim a Virtude não é mais que uma palavra. Bebemos todos do veneno. Agora só o dilúvio.

— Que mal lhe teriam feito as mulheres, sempre gostaria de saber...

— Estragam tudo com a sua imprudência, a sua coquetterie e o seu fanatismo. Basta olhar para uma mulherzinha moderna para a gente perceber que se preocupa com feitiços e é supersticiosa. A quantidade de figas e de amuletos que
traz ao pescoço, bem o prova. Em vez de nos ensinarem a sermos simples e cordatos, tornam a vida cada vez mais complexa e difícil.

— Exemplo?

— Nas mínimas coisas ele aparece. Vá o exemplo: convidam-nos para um jantar familiar e dão-nos um banquete em que vagueiam perfumes de flores caras e cheiros de molhos complicados. Aquilo não é o trivial: logo, aquele não é o jantar familiar. Quem ordenou e determinou o menu, não foi certamente o dono, mas a dona da casa. Portanto a atmosfera de falsidade que se respira naquela casa amiga, foi criada pela mulher.

— Ora aí está! São os nossos maridos que trazem dos hotéis e das festas a que assistem a exigência desses molhos complicados, dessas floreiras odoríferas do champagne ruinoso e dos cristais variegados das mesas ricas. São eles que nos sugerem novidades de serviço; e vêm os senhores depois pôr a ridículo a nossa pretensão! Geralmente não somos nós que compramos a prataria e as porcelanas.

Que sabemos nós, as mulheres?

— O que adivinham. Oh! E o que as mulheres adivinham! Conheço uma que, sem ter ouvido uma única confidência, sabe que uma certa pessoa evita encontrá-la, porque é vê-la e logo nessa noite perder ao jogo!

— Esse alguém é o senhor. Vê? São os homens que jogam, que ficam amáveis se ganham ou mal humorados se perdem, que tem estragado a nossa alegria. Mas sempre quero agora que me explique: o senhor, que se ri das quatro folhas de trevo e dos corcundinhas de coral que trazemos ao peito, porque foge de cumprimentar uma senhora amiga só pelo receio de que esse encontro fortuito e rápido lhe traga o azar da fortuna?

— Males de raça, minha senhora, coisas que ficam da infância. De algum modo precisamos mostrar que já fomos crianças. Creia que eu até adoro essa senhora!

— Adora-a e evita-a!

— Mas se ela tem jetattura!

— Use então de um expediente: Quando a vir, pegue em qualquer objeto de ferro. Uma chave, por exemplo. Não traz uma chave consigo?

— É bom?

— É magnífico!

— Não sabia!

A conversa embarafustava por um terreno amável.

D. Matilde confessou que deixara de se vestir de azul, porque essa cor lhe trazia infelicidade. D. Joana citou uma amiga que usava uma liga de cada cor, como portebonheur. Quase todos os presentes tinham a sua mania... Voltou-se então alguém para o velho e sério dr. Braga e perguntou com um rasinho de dúvida:

— O senhor também usa dessas coisas?

Ele tirou do bolso um caquinho de vidro azulado e disse com seriedade:

— Isto. Podem examinar.

O pedacinho de vidro andou de mão em mão; olharam todos por ele para a luz e concordaram em que não seria fácil encontrar outro tão ordinário!

Dr. Braga explicou:

— Pois, minhas senhoras e senhores, isto não é um simples amuleto, mas um talismã.

— Ainda há disso?!

— Há. Este chama-se o olho da tolerância. Infelizmente, para se ver bem por ele é preciso ter-se passado dos quarenta anos, ter-se gasto o bestunto em muitas observações e curvado a cabeça a duras exigências da sorte... O olho da tolerância, antes de censurar ou de punir a culpa, penetra-lhe a causa, mais disposto a absolve-la que a castigá-la... Tem a consciência da fragilidade da alma. Antigamente eu sentia como um romancista filósofo que disse: "plus j'aime l'humanité, plus je déteste l'individu." Hoje não; o indivíduo delinqüente é para mim um irmão fraco que devo amar de preferência, porque todas as suas impurezas são conseqüentes de males, de cuja origem não é só ele o responsável. O olho da tolerância acalma o sistema nervoso e exercita o coração na prática do bem. Quando me sinto arrastar pela indignação ou a cólera contra alguém, respiro com força, saco deste caquinho, domino-me, e, para abater o ímpeto, olho através do vidro, reflito, e uma grande piedade vem substituir o meu primeiro movimento de fúria. Ah! Minhas senhoras, é que não há nada como a tolerância para dar repouso à inquietação das almas!

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Livro das Donas e Donzelas. Belém/PA: Núcleo de Educação a Distancia da Universidade da Amazonia (UNAMA).

Neiva Fernandes (Primavera Colorida)


Primavera vem chegando,
com ela novos amores;
as rosas desabrochando
no jardim cheio de flores.

Quando chega a primavera,
o jardim fica florido;
encanto de uma quimera
deixa tudo colorido.

Primavera é estação
de temperatura amena;
enriquece o coração
com inspiração serena.

Primavera dos amores,
das poesias e do canto;
recanto dos trovadores
que fazem da vida o encanto.

Primavera sempre amiga
antes do verão chegar;
com ternura e com cantiga,
nos convida a passear.

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poesias em Quatro Estações III)
http://www.sardenbergpoesias.com.br/aniversario_2008/primavera/primavera.htm

Jane Tutikian (Helena)


Eu queria querer-te e amar o amor, construirmos
dulcíssima prisão
E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica
e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o
amor me armou
E te quero e não queres como sou, não te quero e
não queres como és
Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor.
Caetano Veloso

Acordei abstrata e acordar abstrata é sempre mau sinal. Um sentimento de nada e de tudo. De cores e de sombras. De formas e de insinuações. Acordei abstrata como um quadro atirado em qualquer canto de uma parede qualquer. E nova, tão nova como a reprodução vulgar de um velho quadro de Kandinski.

Acordei abstrata, esta é a questão. E, acordar abstrata é estar num meio do caminho e ficar deformando tudo, tornando muito mais grave e muito mais solene o que nem é tanto assim, mas. Também rindo meio boba de que, afinal, o que é nem é tanto assim.

É que depois do vinho barato de ontem e da náusea de hoje, percebi o que há muito sei: que não sei jogar e que não vou jogar este teu jogo maluco de quero não quero, porque simplesmente quero e não sei jogar.

Afasto as cobertas com os pés, sento na borda da cama e olho pela janela do quarto do hotel, lá embaixo, um pedaço de mar azul sob um céu azul e um sol quente. Vez que outra, passa um vulto, às vezes um vulto, uma sombra e um cachorro. Olho e não olho. Sinto e não sinto. É a recaída, penso.

O telefone te coloca ao meu alcance, mas o gosto do vinho barato de ontem e o mormaço do dia, e o quadro do Kandinski encostado na parede, e o jogo, sempre o jogo... Já disse que acordei abstrata e acordar abstrata é também um simples não. Um não querer um vazio assim: seco, indolor, um baço assim: meio cego, meio mórbido, cercado pela idéia modorrenta de um dia modorrento numa vida modorrenta.

Da janela do quarto de hotel, neste dia que seria outro, se não tivesse acordado abstrata, penso que acordar abstrata é.

Talvez aceitar.

Voilà! Penso com certo desprezo de mim que, de novo, Helena começa a ceder.

- Mas, se hei de ceder, que seja com elegância e, sobretudo, que seja com muito humor! - Digo com o resto de dignidade que resta em mim.

Sentada na cama, em frente à janela do quarto de hotel, neste dia em que acordei abstrata, desejo, profundamente, desejo, feito vingança mesquinha, desejo que estejas sofrendo a minha ausência, e quero que doa. Ah! Como quero que doa! E acendo um cigarro, na náusea do vinho barato de ontem e, vil, da vileza mais torpe e mais faceira, quero que minha ausência, em ti, doa.

Não! Não é por cobrar nada, não é por pagar nada, é apenas porque, querendo ou não, eu aprendi que com dor se aprende. Queria apenas te mostrar que o momento-agora é inadiável, porque ele é único e sagrado, e que o infinito é cercado de finitude por todos os lados, de pequenas finitudes de que somos feitos, tu, eu, nós, nossas expectativas, nossos sucessos e nossos fracassos.

Queria que pudesses sentir como eu, agora, a brevidade da fumaça do meu cigarro contra a janela do mundo modorrento do quarto de hotel. É assim, eu te diria, a brevidade da fumaça que somos.

Queria te mostrar, como nos vincos de um origami, os nossos ritos imperfeitos, quase imperceptíveis, de passagem, as nossas pequenas e quotidianas perdas, os nossos pequenos e quotidianos ganhos. Era outra quando acordei abstrata. Serei outra quando daqui-a-pouco-agora, abstrata, tomar consciência de que sou também passado.

Não vou mais aceitar quando me disseres que o teu amor é eterno e o meu é passageiro. É que a eternidade é em si. E eu queria que tu pensasses que a eternidade é em si. Que eterno é o momento do vulto que passou ainda há pouco na beira da praia e, depois, eternos o vulto, a sombra e o cachorro. Eterno é eu olhar pela janela, é esta tragada de cigarro, é esta fumaça jogada no nada. Isso é eterno!, porque a eternidade habita cada isso, cada tudo, cada alguém.

Meu amor é eterno e urgente.

O teu?

O teu é coisa escondida atrás da eternidade. Não! O teu é coisa que te esconde atrás da eternidade.

Pois então, eu me digo despeitada e impotente:

- Que a minha ausência te doa! Que a eternidade te queime! Mas. Que o teu amor me procure. - E fecho os olhos e cruzo os dedos e tivesse mesa neste quarto tão pequeno de hotel e eu me meteria embaixo dela, feito criança teimosa, e feito criança teimosa bateria com a cabeça três vezes e pediria e imploraria e choraria que o teu amor me procure que o teu amor me procure que o teu amor me procure e.

Pensas que vais me encontrar largada num quarto qualquer de um hotel qualquer, dormindo de meias verdes quaisquer e de abrigo cinza qualquer?

Não!

Vou estar l-i-n-d-a quando chegares. vou ficar em dúvida sobre a cor da camisola, talvez vermelha, talvez preta, e vou deixar os cabelos presos à nuca, repartidos do lado para dar um ar de mocinha, ainda que depassée, e, vagabunda fina, vou perfumar o pescoço, os seios, os pulsos, as coxas e o sexo com Paloma Picasso. E vou usar um batom bordô bordel. E vou estar vampiresca, carnavalesca, rocambolesca e rindo muito e rindo alto, bêbada de um vinho barato e cheirando a cigarro barato, só para te assustar.

Tens medo de mi-iiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmm!!! Ah! Mas que maior medo terias se me visses assim: tão abstrata. Beeeeeeeeeemmmmmmmmmmm feito que tens medo de mim! Bem feito! Bem feito que tens medo de mim e me recusas.

Olha, mas olha me vendo: é que sou ar e não és mais do que raiz. É que sou fogo e não és mais do que chão pisado. É que sou penhasco e és apenas fenda. É que sou fronteira e tu, continuação. Ad infinitum: empobrecedora e repetitiva continuação empobrecedora e repetitiva continuação empobrecedora e.

Tens medo de mim?

Eu tenho pena de ti, que olhas e não vês. Que vives e não sentes. Que mentes e acreditas. Que amas e não sabes.

Tens pena de mim?

Eu tenho medo de ti, feito Carolina na janela, a deixar que a minha vida e que a tua vida passem e caiam no vácuo do nada.

Está bem...

É que acordei abstrata e, quando acordo abstrata, num quarto de hotel, com uma reprodução vulgar de um quadro de Kandinski atirada ao chão, quando acordo abstrata num quarto barato de um hotel barato, gosto amargo na boca, quero minha cabeça no teu colo, tua boca nos meus cabelos, teu abraço me fazendo berço, teu silêncio me dizendo que estás aqui, que sempre estiveste, que sempre estarás, quero tua maior mentira: a que sou eu.

- Voilà! Helena em processo de sujeição - me digo irônica e dolorida. De puro medo de te magoar, fico sempre tão delicadamente imóvel e leve que penso ser capaz de pousar no peito de uma borboleta branca. - Voilà, apenas voilà! - quando não há mais palavras possíveis: - Voilà!

Abstrata, neste dia modorrento, numa janela de mar, de sol e de vultos, descubro que, a despeito de tudo, quero a paz suave e generosa de um pouso feito acolhida numa borboleta branca. Fecho os olhos, vejo, cheiro, toco, ouço, quero ficar assim:

apenas sentindo:
eupousadaemti,tupousadoemmim.

E porque quero, pego o telefone que te coloca ao meu alcance, e ligo. Ouço o sinal de ocupado. Tento de novo, de novo, de novo.

Fonte:
http://www.janetutikian.com/?pg=4108

Jane Tutikian (1952)


Pós-doutora em Literatura, professora de Literatura e Diretora do Instituto de Letras da UFRGS. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras e tem participação em dezenas de antologias e livros organizados e traduzidos para o inglês e o espanhol.

1952
• Maio, 05, nasce Jane Tutikian, filha de José Trindade Fraga e Doralice da Silva Fraga, em Porto Alegre.

1959
• Frequenta o Instituto de Educação General Flores da Cunha, onde cursa o primário e o ginásio.

1962
• Escreve seus primeiros textos: poesias.

1968
• Matricula-se no clássico, no Colégio Júlio de Castilhos.

1970
• Eleita Miss Porto Alegre e Primeira Princesa do Rio Grande do Sul.
• Ingressa no Curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
• Participa do "I Laboratório de Criatividade Literária da UFRGS", coordenado por Lígia Averbuck.
• Recebe a cidadania do Estado de Indiana-USA.
• Recebe a cidadania da cidade Brazil- USA

1974
• Janeiro,05.Casa-se com o advogado Edemar Morel Tutikian.
• Março,24. Publica seu primeiro texto, "Batalha naval", no "Caderno de Sábado" do Correio do Povo, passando a colaboradora.
• Dezembro,22. Conclui o curso de Graduação em Letras, na UFRGS.
• Ingressa no Mestrado em Literatura, na UFRGS.
• Novembro,11.Nasce seu primeiro filho: Cristiano.

1976
• Passa a colaboradora do suplemento "Mulher", da Folha da Tarde.

1977
• Obtém o título de Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa, pela UFRGS.
• Novembro,27. Nasce sua filha: Fernanda.

1978
• Recebe o "Destaque- Prêmio Apesul Revelação Literária.

1980
• Ingressa na Rede Pública Estadual como professora.

1981
• Publica Batalha Naval.
• Recebe Menção Especial no I Concurso de Contos de São Bernardo do Campo.

1984
• Publica A cor do azul
• Recebe Menção Honrosa da Fundação Nacional do Livro Infantil e juvenil.
• Recebe o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

1985
• Eleita Diretora da E.E. Roque Gonzáles.
• Participa da antologia Rodízio de Contos.

1987
• Publica Pessoas.
• Recebe o Prêmio Érico Veríssimo da Câmara Municipal de Porto Alegre

1988
• Reeleita Diretora da E.E. Roque Gonzáles.

1989
• Coordena a Comunicação Social da 1ª Delegacia de Educação.

1990
• Publica Geração Traída.
• Recebe o Prêmio Gralha Azul de Literatura Brasileira da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná.

1991
• Passa a lecionar literatura no Instituto de Letras da UFRGS.

1994
• Publica Um time muito especial.
• Recebe o Prêmio Tibicuera de Literatura Infanto-Juvenil da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.
• Recebe o Prêmio Tibicuera Livro do Ano de Literatura Infanto-Juvenil da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.

1995
• Ingressa no Curso de Doutorado em Literatura Comparada na UFRGS.

1997
• Participa das antologias Contos e cidade e O autor presente- Literatura Gaúcha.

1998
• Participa da Antologia Crítica do Conto Gaúcho.
Obtém o título de Doutora em Literatura Comparada pela UFRGS.

1999
• Publica O sentido das Estações.
• Publica Inquietos Olhares.
• É objeto do fascículo Autores Gaúchos, nº3, do Instituto Estadual do Livro.

2000
• Publica Alê, Marcelo, Ju & eu.
• Participa da antologia bilíngüe -português e espanhol - Contos sem fronteiras

2001
• Participa da antologia Brasil: receitas de criar e cozinhar.
• Assume a cadeira nº 39 na Academia Literária Feminina do RS.
• Recebe o Prêmio Açorianos, categoria infanto-juvenil, da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.

2002
• Publica A rua dos secretos amores.
• Publica Aconteceu também comigo.
• Participa da antologia Presença literária 2002.
• Participa da antologia Autor presente: 30 anos.
• Assume a Vice-presidência da Associação Gaúcha de Escritores.
• É patrona da Feira do Livro de Gramado.
• Dá nome à Biblioteca da Escola Edvino Bervian, de Morro Reuter.

2003
• Publica JF e a conquista de "Niu Ei".
• É um dos dez nomes indicados para Patrono da 49ª Feira do Livro de Porto Alegre.
• Participa da antologia Presença Literária 2003.
• Participa da antologia 35 melhores contos do Rio Grande do Sul.

2004
• Prêmio Livro do Ano AGES - categoria infanto-juvenil
• Prêmio O Sul - Nacional e os Livros
• Participa da antologia Paz um vôo possível
Figura entre os 10 “patronáveis” da Feira do Livro de Porto Alegre

2005
• Publica Entre Mulheres (contos de amor aprendiz) , pela WS
• Participa da antologia Contos de bolso, uma antologia de mini-contos, da Casa Verde
• Figura entre os 10 “patronáveis” da Feira do Livro de Porto Alegre

2006
• Lança Olhos azuis coração vermelho (novela infanto-juvenil) pela Artes & Ofícios.
• Participa da antologia Contos de bolsa, da Casa Verde.
• Participa da antologia Este seu olhar, publicada pela Editora Moderna.
• Publica Velhas identidades novas (ensaios)., pela Sagra Luzzatto, resultado de seu Pós- Doutorado em Literatura, realizado na PUCRS.
• Inicia a organização das obras completas de Fernando Pessoa pela L&PM, tendo editado, neste ano: Mensagem, a obra de Caeiro, Campos e Ricardo Reis.
• Organiza para a Leitura XXI a antologia poética de Fernando Pessoa.
• É Patrona XVII Feira do Livro de Dois Irmãos.

2007
• Publica Fica Ficando (novela infanto-juvenil) pela Edelbra.
• Finalista do Açorianos com Fica Ficando
• Organiza para a L&PM o Cancioneiro de Fernando Pessoa.
• Organiza, com Assis Brasil, o livro de ensaios Mar Horizonte, publicado pela PUCRS
• Luciana Éboli adapta,dirige e atua com Maninha Pedroso peça baseada em Fica Ficando.
• Recebe o prêmio Nacional O Sul por incentivo à literatura.
• É homenageada pela Feira do Livro de Caçapava do Sul.
• É Patrona da Feira do Livro de Triunfo.
• Figura entre os 10 “patronáveis” da Feira do Livro de Porto Alegre

2008
• Patrona da Feira do Livro de Camaquã
• Organiza para a L&PM a leitura comentada de Os Lusíadas.

2009
• Assume a Direção do Instituto de Letras da Univeraidade Federal do Rio Grande do Sul
• Assume a cadeira n. 35 da Academia Rio-grandense de letras
• Nasce a sua neta Maria Eduarda, filha da Fernanda e do Jeferson
• Participa da antologia Um rio de contos, publicada em Portugal pela Editorial Tágide
• Participa da antologia The Brazilian Short Story in The Late Twentieth Century, publicada nos EUA pela The Edwin Mellen Press
• Lança Por que não agora? , novela Infanto-juvenil, pela Edelbra

2010
• Ganha o Prêmio Ages Livro do Ano - categoria Infanto-juvenil pelo livro Por que não agora?
• É eleita Vice-Presidente da Associação Internacional de Professores de Literaturas Africanas
• Convidada pelo Governo Português para as comemorações dos cem anos de República de Portugal.
• Nasce o seu neto Eduardo, filho do Cristiano e da Priscila.
• Figura entre os 5 patronáveis da Feira do Livro de Porto Alegre.
• Patrona da Feira do Livro de Guaíba

2011
• Tem conto publicado na antologia Literatura Brasileira em. Tradução, publicada pela Ellipse & creators/ artistes, no Canadá.
• Primeira mulher do séc. XXI e quarta dos 57 anos de história a ser escolhida Patrona da Feira do Livro de Porto Alegre
• Lança antologia de contos comemorativa aos 30 anos de carreira: Coisa Viva, pela Território das Letras

Obras publicadas

Batalha Naval (contos). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. Porto Alegre: Movimento, 2003. 2ª ed.
A Cor do Azul (novela infanto-juvenil). São Paulo: Atual, 1984. 24ª ed.
Pessoas (contos). Porto Alegre: Movimento, 1987. 2ª ed.
Geração Traída (novela). Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.
Um Time Muito Especial (novela infanto-juvenil). São Paulo: Atual, 1993.14ª ed.
Inquietos Olhares (ensaio). São Paulo: Arte & Ciência, 1999.
O Sentido das Estações (contos). Porto Alegre: Movimento, 1999.
Alê, Marcelo, Ju & eu (novela infanto-juvenil). Porto Alegre: WS, 2000. 4ª ed.
A rua dos secretos amores (contos). Porto Alegre: WS, 2002. 2ª ed.
Aconteceu também comigo (novela infanto-juvenil). São Paulo: Arte & Ciência, 2002.
J.F. e a conquista de Niu Ei (novela infanto-juvenil). Porto Alegre: WS, 2003. 2ª ed.
Entre Mulheres (contos de amor aprendiz). Porto Alegre: WS, 2005.
Olhos azuis coração vermelho (novela infanto-juvenil). Porto Alegre: Artes & Ofícios, 2005.
Velhas identidades novas (ensaios). Porto Alegre, Sagra Luzzatto, 2006.
Fica Ficando (novela infanto-juvenil). Erechim: Edelbra, 2007.
Por que não agora? (novela infanto-juvenil). Erechim: Edelbra, 2009.

Fontes:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/
http://www.janetutikian.com/?pg=4102

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte V


[ESTAS RISADAS]

Estas risadas límpidas e frescas
Que Pan trauteia em cálamos maviosos
Nesta amplidão dos campos verdurosos,
Nestas paisagens flóreas, pitorescas;

Toda esta pompa e gala principescas
Destas searas, destes altanosos
Montes e várzeas, prados vigorosos,
Louros -- talvez como as visões tudescas;

Este luxuoso e rico paramento,
Feito de luz e de deslumbramento
-- Do grande altar da natureza imensa.

Aguarda o poeta sacerdote augusto,
Para cantar no seu missal robusto,
A nova Missa da razão que pensa...

AOS MORTOS

Oh! não é bom rir-se de um morto -- brusca
Pois deve ser a sensação que aumenta
Desoladora, vagarosa, lenta
Da negra morte tétrica velhusca...

Tudo que em vida, como um sol, corusca,
Que nos aquece, que nos acalenta,
Tudo que a dor e a lágrima afugenta,
O olhar da morte nos apaga e ofusca...

Nunca se deve desprezar os mortos...
Nos regelados e sombrios portos,
Onde a matéria se transforma e urge

Exuberar na planturosa leiva,
Vivem os mortos no vigor da seiva,
Porque dão vida ao que da vida surge!...

LUAR

Pelas esferas, nuvens peregrinas,
Brandas de toques, encaracoladas,
Passam de longe, tímidas, nevadas,
Cruzando o azul sereno das colinas.

Sombras da tarde, sombras vespertinas
Como escumilhas leves, delicadas,
Caem da serra oblonga nas quebradas,
Vão penumbrando as coisas cristalinas.

Rasga o silêncio a nota chã, plangente,
Da Ave-Maria, -- e então, nervosamente,
Nuns inefáveis, espontâneos jorros

Esbate o luar, de forma admirável,
Claro, bondoso, elétrico, saudável,
Na curvilínea compridão dos mortos.

MOCIDADE

Ah! esta mocidade! -- Quem é moço
Sente vibrar a febre enlouquecida
Das ilusões, da crença mais florida
Na muscular artéria de Colosso...

Das incertezas nunca mede o poço...
Asas abertas -- na amplidão da vida,
Páramo a dentro -- de cabeça erguida,
Vê do futuro o mais alegre esboço...

Chega a velhice, a neve das idades
E quem foi moço, volve, com saudades,
Do azul passado, o fulgido compêndio...

Ai! esta mocidade palpitante,
Lembra um inseto de ouro, rutilante,
Em derredor das chamas de um incêndio!

SONETO

Vão-se de todo os pardacentos nimbos...
Chovem da luz as nítidas faíscas
E no esplendor de irradiações mouriscas,
Abrem-se as flores em gentis corimbos.

Muito mais lestas do que amigos fimbos,
Do Azul cortando as bordaduras priscas,
Pombas do mato esvoaçando, ariscas,
Do céu se perdem nos profundos limbos.

A natureza pulsa como a forja...
Pássaros vibram no clarim da gorja,
As retumbantes, fortes clarinadas.

A grande artéria dos assombros pula...
E do oxigênio, a força que regula
Enche os pulmões a largas baforadas.

NA FONTE

Bem ao lado da gruta a fonte corre
Trepidamente, as águas encrespando,
Em murmúrios crebos, levantando
Uns chamalotes prateados -- morre

No monte o sol que a luz no oceano escorre
E ainda eu vejo, as sombras afrontando,
Uma mulher que lava, mesmo quando
O sol mais rubro, mais vermelho jorre.

-- É num sítio afastado, um sítio ermo...
Pássaros cortam vastidões sem termo,
Borboletas azuis roçam nas águas.

-- E a mulher lava, enrubescida a face;
Lava, cantando, como se lavasse
As suas tristes e profundas mágoas.

[SONETO]

A fonte de águas cristalinas corre
Chamalotes de prata levantando,
E através de arvoredos murmurando,
Entre arvoredos murmurando morre...

No ocaso, o sol, a luz no oceano escorre
E sempre vejo, as sombras afrontando,
Uma mulher que canta e ri, lavando,
Mesmo que o sol muito abrasado jorre.

É verde o campo, deleitável e ermo.
Pássaros cortam vastidões sem termo,
Borboletas azuis roçam nas águas.

E cantando, a mulher, a rir a face,
Lava cantando como se lavasse
As suas grandes e profundas mágoas.

CEGA

Parece-me que a luz imaculada
Que vem do teu olhar, todo doçuras,
Não verte no meu ser aquelas puras
Delícias de outra era já passada.

Eu creio que essa pálpebra adorada
Não mais um flóreo empíreo de venturas
Descobre-me -- na noite de amarguras,
De dúvidas intérminas cortada.

Não olhas como olhavas, rindo, outrora,
Não abres a pupila, como a aurora
Nascendo, abre, feliz, radiosa e calma.

A sombra, nos teus olhos, funda, existe!...
Tu'alma deve ser bem negra e triste
Se os olhos são, decerto, o espelho d’alma.

ERMIDA

Lá onde a calma e a placidez existe,
Sobre as colinas que o vergel encobre,
Aquela ermida como está tão pobre,
Aquela ermida como está tão triste.

A minha musa, sem falar, assiste,
Do meio-dia ante o aspecto nobre,
O vago, estranho e murmurante dobre
Daquela ermida que aos trovões resiste

E as gargalhadas funéreas, sombrias,
Dos crus invernos e das ventanias,
Do temporal desolador e forte.

Daquela triste esbranquiçada ermida,
Que me recorda, me parece a vida
Jogada às magoas e ilusões da sorte.

ÁGUA-FORTE

Do firmamento azul e curvilíneo
Cai, fecundando as trêmulas raízes
Dos laranjais, dos pâmpanos, das lizes,
A luz do sol procriador, sanguíneo.

Pelo caminho agreste e retilíneo,
Da tarde aos brandos, triunfais matizes,
A criançada, a chusma dos felizes,
Esse de auroras perfumado escrínio,

Volta da escola, rindo muito, aos saltos,
Trepando, em bulha, aos árvoredos altos
Enquanto o sol desce os outeiros longos...

Vai dentre alados madrigais risonhos,
Do abecedário juvenil dos sonhos,
A soletrar os principais ditongos.

ALMA QUE CHORA

A João Saldanha

Em vão do Cristo aos olhos dulçurosos
Onde há o sol do bem e da verdade,
Cheios da luz eterna de saudade,
Como dois mansos corações piedosos,

Em vão do Cristo os olhos lacrimosos
E aquela doce e pura suavidade
Do seu semblante, casto, de bondade,
Cor do luar dos sonhos venturosos,

Servem de exemplo a dor escruciante
Que te apunhala e fere a cada instante,
A punhaladas ríspidas, austeras!

Viste partir a tua irmã, se, viste,
Como num céu enévoado e triste
O bando azul das fúlgidas quimeras...

CHUVA DE OURO

A Rainha desceu do Capitólio
Agora mesmo -- vede-lhe o regaço...
Como tem flores, como traz o braço
Farto de jóias, como pisa o sólio

Triunfantemente, numa unção, num óleo
Mais santo e doce que essa luz do espaço...
E como desce com bravura de aço...
Pois se a Rainha, como um rico espólio,

O seu brioso coração foi dando
Aos pobrezinhos, que inda estão gozando
Bênçãos mais puras qu'os clarões diurnos,

Por certo que há de vir descendo a escada
Do Capitólio da virtude -- olhada
Pelos Albergues infantis, noturnos!

PRIMAVERA A FORA

Escute, excelentíssima: -- Que aragens
Traz do árvoredo a fresca romaria;
Como este sol é rubro de alegria,
Que tons de luz nas límpidas paisagens.

Pois beba este ar e goze estas viagens
Das brancas aves, sinta esta harmonia
Da natureza e deste alegre dia
Que resplandece e ri-se nas ervagens.

Deixe lá fora estrangular-se o mundo...
Encare o céu e veja este fecundo
Chão que produz e que germina as flores.

Vamos, senhora, o braço à primavera,
E numa doce música sincera,
Cante a balada eterna dos amores...

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Cap. III


III
No palácio

O príncipe consultou o relógio.

— Estou na hora da audiência — murmurou. — Vamos depressa, que tenho muitos casos a atender.

Lá se foram. Entraram diretamente para a sala do trono, no qual a menina se sentou a seu lado, como se fosse uma princesa. Linda sala! Toda dum coral cor de leite, franjadinho como musgo e penduradinho de pingentes de pérola, que tremiam ao menor sopro.

O chão, de nácar furta-cor, era tão liso que Emília escorregou três vezes.

O príncipe deu o sinal de audiência batendo com uma grande pérola negra numa concha sonora. O mordomo introduziu os primeiros queixosos. Um bando de moluscos nus que tiritavam de frio. Vinham queixar-se dos Bernardos Eremitas.

— Quem são esses Bernardos? — indagou a menina.

— São uns caranguejos que têm o mau costume de se apropriarem das conchas destes pobres moluscos, deixando-os em carne viva no mar. Os piores ladrões que temos aqui.

O príncipe resolveu o caso mandando dar uma concha nova a cada molusco.

Depois apareceu uma ostra a se queixar dum caranguejo que lhe havia furtado a pérola.

— Era uma pérola ainda novinha e tão galante! — disse a ostra, enxugando as lágrimas. — Ele raptou-a só de mau, porque os caranguejos não se alimentam de pérolas, nem as usam como jóias. Com certeza já a largou por aí nas areias...

O príncipe resolveu o caso mandando dar à ostra uma pérola nova do mesmo tamanho.

Nisto surgiu na sala, muito apressada e aflita, uma baratinha de mantilha, que foi abrindo caminho por entre os bichos até alcançar o príncipe.

— A senhora por aqui? — exclamou este, admirado. – Que deseja?

— Ando atrás do Pequeno Polegar — respondeu a velha. – Há duas semanas que fugiu do livro onde mora e não o encontro em parte nenhuma. Já percorri todos os reinos encantados sem descobrir o menor sinal dele.

— Quem é esta velha? — perguntou a menina ao ouvido do príncipe. — Parece que a conheço...

— Com certeza, pois não há menina que não conheça a célebre Dona Carochinha das histórias, a baratinha mais famosa do mundo.

E voltando-se para a velha:

— Ignoro se o Pequeno Polegar anda aqui pelo meu reino. Não o vi, nem tive notícias dele, mas a senhora pode procurá-lo. Não faça cerimônia...

— Por que ele fugiu? — indagou a menina.

— Não sei — respondeu dona Carochinha — mas tenho notado que muitos dos personagens das minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidade. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e quer ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar ruge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um trabalhão para contê-los. Mas o pior é que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo.

Narizinho gostou tanto daquela revolta que chegou a bater palmas de alegria, na esperança de ainda encontrar pelo seu caminho algum daqueles queridos personagens.

— Tudo isso — continuou dona Carochinha — por causa do Pinóquio, do Gato Félix e sobretudo de uma tal menina do narizinho arrebitado que todos desejam muito conhecer. Ando até desconfiada que foi essa diabinha quem desencaminhou Polegar, aconselhando-o a fugir.

O coração de Narizinho bateu apressado.

— Mas a senhora conhece essa tal menina? — perguntou, tapando o nariz com medo de ser reconhecida.

— Não a conheço — respondeu a velha — mas sei que mora numa casinha branca, em companhia de duas velhas corocas.

Ah, por que foi dizer aquilo? Ouvindo chamar dona Benta de velha coroca, Narizinho perdeu as estribeiras.

— Dobre a língua! — gritou vermelha de cólera. — Velha coroca é vosmecê, e tão implicante que ninguém mais quer saber das suas histórias emboloradas. A menina do narizinho arrebitado sou eu, mas fique sabendo que é mentira que eu haja desencaminhado o Pequeno Polegar, aconselhando-o a fugir. Nunca tive essa “bela idéia”, mas agora vou aconselhá-lo, a ele e a todos os mais, a fugirem dos seus livros bolorentos, sabe?

A velha, furiosa, ameaçou-a de lhe desarrebitar o nariz da primeira vez em que a encontrasse sozinha.

— E eu arrebitarei o seu, está ouvindo? Chamar vovó de coroca! Que desaforo!...

Dona Carochinha botou-lhe a língua. uma língua muito magra e seca. e retirou-se furiosa da vida, a resmungar que nem uma negra beiçuda.

O príncipe respirou de alívio ao ver o incidente terminado.

Depois encerrou a audiência e disse ao primeiro-ministro:

— Mande convite a todos os nobres da corte para a grande festa que vou dar amanhã em honra à nossa distinta visitante. E diga a mestre Camarão que ponha o coche de gala para um passeio pelo fundo do mar. Já.
–––––––
continua…

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

57a. Feira do Livro de Porto Alegre


A Feira do Livro de Porto Alegre, promovida pela Câmara Rio-Grandense do Livro, e que já tem espaço reservado na agenda dos gaúchos a cada primavera, chega a sua 57ª edição com a expectativa de receber mais de 1.7 milhão de visitantes. Ocupará, mais uma vez, a já tradicional área da Praça da Alfândega,estendendo-se até o Cais do Porto, entre os dias 28 de outubro e 15 de novembro. Maior evento do mercado livreiro das Américas a céu aberto e com entrada franca, recebe autores e convidados de vários outros estados e países.

Serão cerca de 700 sessões de autógrafos, aproximadamente 200 palestras e debates, 400 encontros com autores, saraus, contações de histórias e outras atividades específicas para os públicos infantil e juvenil, principalmente alunos de escolas do ensino fundamental e da educação infantil, além da EJA. A intensa e diversificada programação também contará com seminários, oficinas, apresentações artísticas, exibições de filmes e a inauguração da biblioteca infantil Moacyr Scliar, em homenagem ao escrito gaúcho falecido este ano.

A principal novidade desta edição é a inclusão dos Dias Temáticos na programação. Diariamente, um tema diferente será abordado em, pelo menos, uma atividade na programação para adultos e em outra na Àrea Infantil e Juvenil. Os temas escolhidos são: Biblioteca; Livro e Leitura; Suspense; Literatura de Terror; Viagens; Cinema; Humor; Cultura Popular; Conto; Gastronomia; Afrodescendência; História; Antropologia; Corpo/Saúde/Erotismo; América Latina; Direitos Humanos e Acessibilidade; Dia Mundial da Gentileza; Ecologia e Comunicação.

Em 2010, a Feira do Livro foi reconhecida como patrimônio imaterial da cidade pela Secretaria Municipal da Cultura. Em 2006, já havia recebido a medalha da Ordem do Mérito Cultural, concedida pela Presidência da República, que reconheceu o evento como um dos mais importantes do Brasil.

HISTÓRICO

Realizada de forma ininterrupta há 57 anos, a Feira do Livro de Porto Alegre nasceu quando um grupo de livreiros, intelectuais e jornalistas organizou a primeira edição com o lema “Se o povo não vem à livraria, vamos levar a livraria ao povo”.

Considerada a maior feira de livros realizada a céu aberto nas Américas e uma das mais antigas do país, a Feira do Livro de Porto Alegre foi idealizada pelo jornalista Say Marques, diretor-secretário do Diário de Notícias. Inspirado por uma feira que visitara na Cinelândia no Rio de Janeiro, Marques convenceu livreiros e editores da cidade a participarem do evento. O objetivo era popularizar o livro, movimentando o mercado e oferecendo descontos atrativos. Na época, as livrarias eram consideradas elitistas, fato que motivou o lema dos fundadores e organizadores da primeira edição.

A Praça da Alfândega era um local muito movimentado nos anos 50, quando Porto Alegre tinha cerca de 400 mil habitantes. Assim, no dia 16 de novembro de 1955, era inaugurada a 1ª Feira do Livro, com 14 barracas de madeira instaladas em torno do monumento ao General Osório.

Na segunda edição do evento, foram iniciadas as sessões de autógrafos. Na terceira, passaram a ser vendidas coleções pelo sistema de crediário. Nos anos 70, a Feira assumiu o status de evento popular, com o início da programação cultural. A partir de 1980, foi admitida a venda de livros usados.

Foi nos anos 90 que a Feira ampliou-se, obrigando os seus visitantes a algumas voltas a mais, com um número maior de barracas e o uso de novos espaços, incorporando a suas atividades encontros com autores, além dos tradicionais autógrafos. Em 94, algumas alamedas ganharam cobertura pois é histórica a relação da Feira com a chuva. No ano seguinte, 1996, a Feira passou por um processo de profissionalização graças à possibilidade de se captar patrocínios através da Lei Nacional de Apoio à Cultura (Lei Rouanet), e foi criado um espaço para as crianças.

A Feira tem acompanhado a transformação e internacionalização da cidade de Porto Alegre, que passou a receber grandes festivais e exposições (como o Porto Alegre em Cena e a Bienal do Mercosul).

No inicio dos anos 2000, a partir de conquistas na área do patrimônio e criação de novos centros culturais no entorno da Praça da Alfândega (como o Santander Cultural e o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, além dos já existentes Museu de Arte do RS Ado Malagoli - Margs e Memorial do RS), a programação cultural da Feira do Livro cresceu em número de autores participantes e público visitante.

Em 2006, a Feira foi reconhecida pela Presidência da República como um dos eventos mais importantes do país e, em 2010, como patrimônio imaterial da Cidade de Porto Alegre pela Secretaria Municipal da Cultura.

PATRONO

Jane Tutikian

A revelação do nome da quarta mulher na história da Feira a ocupar este posto ocorreu em café da manhã nesta terça-feira (27) no Moeda Bar e Restaurante, do Santander Cultural

“Mulheres, cheguei!” Com esta frase vitoriosa e bem humorada a escritora Jane Tutikian recebeu o anúncio de seu nome como Patrona da 57ª Feira do Livro de Porto Alegre. O patrono da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, Paixão Côrtes, e os antecessores Alcy Cheiuche (52ª) e Walter Galvani (49ª) participaram do momento solene da revelação. O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), João Carneiro, retirou o envelope e avisou: “A Feira do Livro deste ano não tem Patrono”. A plateia, composta por representantes da CRL, autoridades, imprensa e convidados, fixou os olhos na única mulher posicionada entre os outros três patronáveis, Luiz Coronel, Airton Ortiz e Celso Gutfreind.

Emocionada, a professora de Literatura que há três décadas se dedica aos livros, declarou: “Escrever é uma boa forma de estar entre as pessoas. E não tem forma melhor ainda de estar entre as pessoas do que na Feira do Livro, na ‘feira do povo’.”

E, de fato, a Câmara trabalha para envolver cada vez mais a população nesta que é a maior feira de livros a céu aberto das Américas. Para esta edição, a entidade proporcionou o voto dos leitores sugerindo a livreiros que abrissem seu voto em favor da participação de seus clientes. Além da comunidade, votaram ex-presidentes, associados da Câmara, patronos anteriores, representantes do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho Estadual de Educação, titulares de entidades vinculadas ao livro, autoridades, reitores de universidades, representantes dos patrocinadores e apoiadores.

Jane Tutikian vence a eleição na sexta vez em que concorre ao posto, 13 anos depois de uma escritora gaúcha receber a mesma homenagem e pouco menos de um ano depois de os brasileiros terem escolhido a sua primeira presidenta. Na história da Feira do Livro, outras três mulheres já figuram na lista de Patronos: Maria Dinorah do Prado (1989), Lya Luft (1996) e Patrícia Bins (1998).

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/

57a. Feira do Livro de Porto Alegre (Programação de 29 de Outubro, Sábado)


3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 09:00

Leitura de trechos de obras de Bartolomeu Campos de Queirós
Grupo escoteiro Guia Lopes do Grêmio Náutico União
29/10/2011 - 09:00

3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 09:30

Mesa de Abertura Leitura e Vida
O Monstro Monstruoso e a caverna cavernosa, de Rosana Rios
29/10/2011 - 10:30

Contação de história com Valquíria Cardoso
A Arte Levada a Sério
29/10/2011 - 11:00

A vida de Leon Tolstoi
29/10/2011 - 14:00
O grande escritor russo prossegue sua obra no além

Oficina: Contando histórias para crianças hospitalizadas
29/10/2011 - 14:00
Oficina de contação de histórias em hospitais para crianças e adolescentes. Módulo 1/3

3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 14:00
Formando leitores nas comunidades - Compartilhamento experiências de formação do leitor realizadas nas bibliotecas comunitárias

Projeto Conte Mais
29/10/2011 - 14:00

Contação de histórias com as contadoras Gladis Pedersen e Rosiliane Goulart
3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 14:00
Formando leitores nas comunidades - Compartilhamento experiências de formação do leitor realizadas nas bibliotecas comunitárias

Show de Trovas e Trovadores
29/10/2011 - 14:00
União Brasileira de Trovadores

Garibaldi, História e Literatura: Perspectivas Internacionais
29/10/2011 - 14:00

A literatura infantil como ferramenta para o desenvolvimento humano
29/10/2011 - 14:30

O hábito da leitura na formação da criança
Tenda.doc: Moacyr Scliar - Palavra de escritor
29/10/2011 - 14:30
Autores contam tudo e mais um pouco

A Saga de Júlio no Parque dos Delírios
29/10/2011 - 14:30

Onde a religião termina?
29/10/2011 - 15:00
Escrito por um ex-padre católico, o livro apresenta uma esclarecedora desconstrução dos fundamentos da crença religiosa

Show de trovas
29/10/2011 - 15:00
Com a União Brasileira de Trovadores

Caravana da Fantasia conta o Patinho Feio
29/10/2011 - 15:00

Teatro Infantil
O Aniversário
29/10/2011 - 15:00

A resolução da palavra
29/10/2011 - 15:30

Reflexão acerca das transformações que as mídias digitais trazem para o universo da leitura e da escrita
Paixão de Primavera
29/10/2011 - 15:30

A vida é breve e passa ao lado
29/10/2011 - 15:30

Três Marias, Três Destinos
29/10/2011 - 15:30

Miramar a Vida e suas sentimentalidades
29/10/2011 - 15:30

Políticas do livro e leitura
29/10/2011 - 16:00

Oficina: Referências Bibliográficas
29/10/2011 - 16:00
Referências bibliográficas: tire suas dúvidas. Módulo 1/2

Memórias de um aprendiz de escritor
29/10/2011 - 16:00
Encenação da crônica "Memórias de um aprendiz de escritor" em uma homenagem a Moacyr Scliar

3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 16:00

Painel - Formação do Eu Leitor Bate-papo com personalidades da cidade que se destacam como leitores

Perspectivas Freireanas no Processo de (Trans) Formação de Pedagogos - Tecitura de Olhares acercada Educação a Distância
29/10/2011 - 16:00

Paragens
29/10/2011 - 16:00

Despalavras
29/10/2011 - 16:00

Agenda virArte 2012
29/10/2011 - 16:00

A rua barulhenta
29/10/2011 - 16:00

Mãe de dois
29/10/2011 - 16:30

Desafios e emoções de uma mulher com o dom de gerar outra vida
Veredas da Paz
29/10/2011 - 16:30

Quando o céu madruga estrelas
29/10/2011 - 16:30

Feito pra você
29/10/2011 - 16:30

O livro negro da psicopatologia contemporânea
29/10/2011 - 16:30

Ecos do Planeta
29/10/2011 - 16:30

Onde a Religião Termina?
29/10/2011 - 16:30

Cartas à Família
29/10/2011 - 16:30

Apresentação da biblioteca do clube
29/10/2011 - 17:00

Reunião do Clube dos Editores
Oficina: Design Editorial
29/10/2011 - 17:00
O design do texto, do livro e a tipografia. Módulo 1/3

Enamorados - como Papai e mamãe se apaixonaram
29/10/2011 - 17:00

Teatro Infantil
A Arte Levada a Sério
29/10/2011 - 17:00

Dever de casa
29/10/2011 - 17:00

3º Seminário Nacional Redes de Leitura - Leitura, Vida e a Formação do Leitor
29/10/2011 - 17:30

Sarau de poemas de Bartolomeu Campos de Queirós
Receitas para meus filhos
29/10/2011 - 17:30

A revolução dos nichos: Do big bang à personalização em Massa
29/10/2011 - 17:30

Ao Vento, Sobranceiro
29/10/2011 - 17:30

Mãe de Dois
29/10/2011 - 17:30

O Poeta mais velho do mundo
29/10/2011 - 17:30

A Árvore
29/10/2011 - 17:30

Biblioteca pública - 140 anos
29/10/2011 - 18:00
Painel sobre a história da biblioteca e mostra da obra de restauro do prédio, em comemoração aos 140 anos da Biblioteca Pública do Estado do RS

Bate-papo com a Patrona Jane Tutikian
29/10/2011 - 18:00
Escritora fala sobre sua obra. Convidados fazem leitura de textos

Contos Cantados com Valquíria Cardoso
29/10/2011 - 18:00

Poemas à Flor da Pele Vol 4
29/10/2011 - 18:00

Autores Gaúchos 2011
29/10/2011 - 18:00

Livros e bibliotecas - políticas públicas para o desenvolvimento das bibliotecas
29/10/2011 - 18:30

A importância para o fortalecimento das práticas sociais da leitura no país
Ofícios Antigos de Porto Alegre
29/10/2011 - 18:30

A Fronteira onde Borges Encontra o Brasil
29/10/2011 - 18:30

Elegia à Lesma
29/10/2011 - 18:30

Oficina: Design Editorial
29/10/2011 - 19:00

O livro e a página impressa. Módulo 2/3

Cine Santander Cultural
29/10/2011 - 19:00
Sessão Comentada

2º Seminário Reinações - O fantástico e a literatura infantojuvenil
29/10/2011 - 19:00

Palestra
Médice - A verdadeira história
29/10/2011 - 19:30

Runa, a bruxa, o cientista e o orfanato
29/10/2011 - 19:30

Marcas, passagens e condensações: investigações de um processo em gravura contemporânea
29/10/2011 - 19:30

Contos e Crônicas Vol 1 Poemas à Flor da Pele
29/10/2011 - 20:00

Nova ortografia integrada
29/10/2011 - 20:30

Os viajantes medievais da rota da seda (séculos V-XV)
29/10/2011 - 20:30

Impresso no Brasil
29/10/2011 - 20:30
==================
continua … Programação de 30 de Outubro, domingo

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/