quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 442)



Uma Trova Nacional

É com olhos inocentes
que nos vê toda criança;
do futuro são sementes,
recheadas de esperança.
–MIFORI/SP–

Uma Trova Potiguar


Sem passado e sem futuro,
a criança abandonada
vive num mundo obscuro,
sem esperança de nada...
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada
2006 - São Paulo/SP
Tema: RESPEITO - Venc.


Desavenças de rotina;
palavras duras ao leito
o casamento termina
quando termina o respeito!
–SELMA PATTY SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Confesso: tenho esperanças,
antes de ficar senil,
de ver, nas mãos das crianças,
o Progresso do Brasil!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Rezar é belo, criança,
não há mistério na prece...
Deus dá o pão da esperança
Enquanto o trigo não cresce!...
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

M O T E :
ADELMAR TAVARES/PE


É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais.

G L O S A:
GILSON MAIA/RJ

É nossa alma uma criança,
vive no mundo dos sonhos.
Busca o amor, busca a esperança,
mesmo em caminhos tristonhos.

Meu coração, coitadinho,
que nunca sabe o que faz,
quer teu amor, teu carinho,
desde os tempos de rapaz.

Meu pensamento balança,
das paixões, aos vendavais.
quer tudo que não alcança,
por isso eu sofro demais.

Sobe o alpinista, procura
sucessos eventuais.
Busca o pico com bravura,
quando alcança, não quer mais.

Estrofe do Dia

Ao despertar deste ano
Uma vontade me veio
Do ar... do céu... do oceano...
De Deus, na verdade, veio,
De falar sempre do amor,
Sem preconceito, qual for,
Falar de um amor sublime,
Visando a paz das pessoas,
Falando de coisas boas,
Do grande amor que redime.
–RAIMUNDO SALLES BRASIL/BA–

Soneto do Dia

A Fome
–NILTON MANOEL/SP–


Pobre carrega em seu triste fadário
angústias amargas, broncas e pesares,
enquanto os barões arrotam pelos ares
que a inflação engorda em face do salário.

e o artesão da pátria, escravo do patrão,
com medo da fome que o leve a miséria,
mantém-se de pé, a morte é bem mais séria,
são juros e juras na hora do caixão

e pelos palanques, um tribuno eterno
na fome do voto em promessa, arrepia,
a vida do pobre em quimeras do inferno;

sem leite, sem pão, pagando a moradia,
devendo no empório os seus dias tristonhos,
o que pode ser quem não pode ter sonhos?

--
Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Guerra Junqueiro (Como um Camponês Aprendeu o Padre-Nosso)

Tinha um coração duro, e não era esmoler. Foi-se confessar uma vez, e o confessor deu-me por penitência rezar sete vezes o Padre-Nosso.

– Não o sei, e nunca o pude aprender, respondeu o aldeão.

– Pois nesse caso, tornou o confessor, imponho-te por penitência dar a crédito um alqueire de trigo a todas as pessoas que te forem pedir da minha parte.

No dia seguinte de manhã apresentou-se o primeiro pobre.

«Como te chamas? perguntou-lhe o camponês.»

«Padre – Nosso – Que – Estais – No – Céu, respondeu o pobre.»

«E o teu apelido?»

«Seja – Santificado – O – Vosso – Nome.»

E o pobre foi-se embora com o seu alqueire de trigo.

Ao outro dia chega segundo pobre.

«Como te chamas?»

«Venha – A – Nós – O – Vosso – Reino.»

«E o teu apelido?»

«Seja – Feita – A – Vossa – Vontade.»

E partiu com o seu alqueire de trigo.

Veio terceiro pobre.

«Como te chamas?»

«Assim – Na – Terra – Como – No – Céu.»

«E o teu apelido?»

«Dai-nos – Hoje – O – Pão – Nosso – De – Cada – Dia.»

E levou o seu alqueire.

Vieram ainda dois pobres sucessivamente, e passou-se tudo da mesma forma até chegar ao Amém.

Pouco tempo depois o confessor encontrou o aldeão.

– Então já sabes o Padre-Nosso?

– Não, senhor cura, sei só os nomes e apelidos dos pobres a quem emprestei o meu trigo.

– Quais são? tornou o padre.

E o aldeão enumerou-mos a seguir, e pela ordem em que cada um se tinha apresentado.

– Já vês, disse o confessor, que não era muito difícil aprender o Padre-Nosso, porque já o sabes perfeitamente.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – IV – A zanga de Emília

Narizinho foi espiar o que Emília estava fazendo. Encontrou-a no cantinho da sala onde era o seu “quarto”, muito atarefada em botar os seus vestidos e brinquedos nas caixas de papelão que lhe serviam de mala. Mas notou que Emília só botava os vestidos e brinquedos que ela, Narizinho, lhe havia dado. Os outros, dados pela negra, jaziam no chão, amarrotados e pisados aos pés. Emília estava seriamente ofendida e sem dúvida nenhuma preparava-se para alguma viagem. Ia arrumando as malas, ao mesmo tempo que dialogava com o cavalinho.

— Não é à-toa que ela é preta como carvão.

— ?

— Mentira de Narizinho! Essa negra não é fada nenhuma, nem nunca foi branca. Nasceu preta e ainda mais preta há de morrer.

— ?

— Boa? Está muito enganado. Mais malvada que ela só o Barba Azul. Você é porque é novo nesta casa e não a conhece. Tia Nastácia não tem dó de nada. Pega aqueles frangos tão lindos e — zás! torce-lhes o pescoço. Mata patos, mata perus, mata camundongos — não há o que não mate. Outro dia, no Natal, a diaba assassinou um irmão de Rabicó, tão bonitinho! Pegou naquela faca de ponta que mora na cozinha e — fugt! enfiou dentro dele, até no fundo. E pensa que foi só isso? Está enganado! Depois pelou o coitadinho numa água fervendo e assou o coitadinho num forno tão quente que nem se podia chegar perto.

— ?

— Como não? Você não é melhor do que os frangos, perus e leitões. Essa é uma das razões porque quero ir-me embora: para tira-lo daqui antes que a malvada o mate e asse no forno. Que pena não ser você grande como o cavalo de Tróia!...

— ?

— Para quê? É boa. Para dar um coice de Tróia no nariz dela.

Nesse ponto Narizinho, que estava escondida a escutar o diálogo, apareceu.

— Que é isso, Emília? Parece louca!...

— É que estou arrumando minhas malas para me mudar desta casa. Não gosto de velhas, nem brancas nem pretas.

— Ir para onde, boba? Pensa que é só ir saindo?

— Vou para a casa do Pequeno Polegar. Quando lhe dei de presente o pito de barro, ele me disse: “Muito obrigado. Dona Emília. Tenho lá uma casa às suas ordens. Apareça.” Chegou o dia. Vou aparecer e ficar morando lá.

— E você pensa que cabe na casinha do Pequeno Polegar? Já se esqueceu, boba, de que ele é deste tamanhinho?

Emília pôs o dedo na testa, refletindo. Afinal caiu em si e viu que realmente seria uma grande asneira. se mudasse para a casa do Pequeno Polegar, teria, sem dúvida, de ficar no terreiro e dormir ao relento, com perigo de ser atacada por quanta coruja e morcego existirem no mundo. E como tinha medo horrível de morcegos e corujas, resolveu ficar.

— Nesse caso fico, mas você há de me dar um vestido novo, de seda, com um laço de fita aqui e um babado. Dá?

— Dou, diabinha, dou. Mas com uma condição!...

— Qual é?

— Fazer as pazes com tia Nastácia. A coitada está lá na cozinha chorando de arrependimento de haver ameaçado você com palmadas.

A cólera de Emília já havia passado, cedendo lugar a sentimento muito mais rendoso. Por isso tratou imediatamente de tirar vantagem da situação, pedindo uma coisa que era o seu encanto.

— Só se ela me der aquele alfinete de pombinha que você sabe.

— Dá, sim. Eu digo a ela que dê e ela dá.

— Neste caso, fico de bem com ela outra vez. Aquele alfinete andava deixando Emilia doente. Era um alfinete do tempo de dantes, que já não se encontra em loja nenhuma de hoje. De aço azul, tendo em vez de cabeça uma pombinha de vidro colorido. Tia Nastácia possuía três, um de pombinha azul, outro de pombinha verde, outro de pombinha carijó. Era este o que Emília queria — mas queria desesperadamente, como nunca neste mundo uma boneca quis qualquer coisa.
––––––––––––––

Continua… V – João Faz-de-Conta

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Casa do Editor (Publique sua Obra)

Prezado Autor,

Quer aumentar suas chances de ver sua Obra publicada? Então mude sua estratégia. A evolução e a inovação digital lhe permitem divulgar sua obra a centenas de editoras ao mesmo tempo sem sair de casa e sem ter de ficar telefonando para as editoras perguntando se elas publicam obras do mesmo Gênero Literário que o seu.

Conheça o site Casa do Editor. Um site cuja proposta é revolucionar, com uma metodologia inédita, a comunicação do autor com o editor, e vice-versa. No portal Casa do Editor o autor poderá, por um pequeno valor anual ou semestral, divulgar suas obras não publicadas à centenas de editoras; em breve serão milhares.

Nossas pesquisas confirmam que o autor, ao anexar sua obra para divulgá-la no website Casa do Editor, as chances de encontrar uma editora para publicar sua obra aumentam em 11 (onze vezes), se comparado a outros sites e ao método tradicional de envio de obras. Além disso, o valor da Assinatura Anual no portal Casa do Editor equivale a apenas 8% do valor gasto, anualmente pelo autor, com o envio de cópias da obra às editoras pelo método tradicional.

A maneira tradicional de o autor se comunicar com o editor, e vice-versa, é extremamente falha, pois eles se comunicam somente no nível de Categoria de Gênero; por esse motivo, apenas 2% de obras são publicadas. O website Casa do Editor entra a fundo nessa comunicação.

Acesse o portal Casa do Editor, veja Como Funciona e cadastre-se.
www.casadoeditor.com.br

QUEM É A CASA DO EDITOR

Este site é uma ferramenta de extrema ajuda ao Autor em sua difícil tarefa de publicar sua Obra. O objetivo da Casa do Editor é conectar o Autor com a Editora, facilitando, e muito, para ambos, a concretização de seus sonhos, ideais e realizações. Portanto, a Casa do Editor é uma vitrine para sua Obra, expondo-a aos Editores e intermediando o contato entre ambos.

O Autor, ao cadastrar sua Obra no Banco de Dados da Casa do Editor, estará disponibilizando-a a milhares de Editoras do Brasil e de Portugal (tal quantidade de Editoras é o nosso objetivo a ser atingido em curtíssimo prazo). Após cadastrar-se, o Autor irá informar o Gênero de sua Obra, bem como a Categoria de Gênero e suas Subcategorias, seu Resumo Biográfico, dentre outros dados, facilitando a localização de sua Obra pelas Editoras que publicam Obras do seu Gênero.

O Editor, ao cadastrar-se, gratuitamente, na Casa do Editor, terá em mãos uma poderosa ferramenta de Busca avançada que o ajudará em sua difícil tarefa de encontrar Obras que se enquadram em sua Linha Editorial (Gênero de Publicação). Ao pesquisar uma Obra por Gênero, por Categorias de Gênero e suas Subcategorias, em seus quatro níveis de pesquisa, o Portal Casa do Editor mostrará as Obras que realmente se enquadram em sua Linha Editorial, proporcionando economia de tempo e de dinheiro às Editoras.

A Casa do Editor é uma ferramenta extremamente segura, útil e eficaz para Autores de todos os Gêneros literários existentes. É simples, fácil e barato fazer parte deste site, cujo objetivo é tornar-se o maior e melhor Portal do gênero no Brasil e no exterior.

São mais de 50 mil Categorias e Subcategorias de Gêneros literários. Nosso objetivo é ter no Banco de Dados da Casa do Editor mais de 100 mil Categorias e Subcategorias de Gêneros, pois o Autor, ao cadastrar sua Obra, se ela não se enquadrar em uma das Categorias de Gêneros e em suas Subcategorias, ele terá a liberdade de criar uma nova Categoria ou Subcategoria. Portanto, a Casa do Editor será um site inteligente, pois cada nova Categoria de Gênero e/ou Subcategoria inserida pelo Autor, ou pelo Editor, ela passa a fazer parte do Banco de Dados de Categorias de Gêneros da Casa do Editor.

Além de Autores e Editoras, o Distribuidor de livros e o Livreiro também terão acesso ao site. Ao cadastrar-se gratuitamente, o Distribuidor e o Livreiro estarão se mostrando às Editoras e aos Autores. As Editoras também terão acesso à relação de Distribuidores e Livreiros de todo o País.

Por um pequeno valor semestral ou anual, o Autor se conectará ao mundo editorial, ganhando tempo, economizando dinheiro e aumentando, em muito, suas chances de publicar sua Obra. Editoras, Distribuidores e Livreiros terão acesso gratuito à Casa do Editor.

Clique em Como Funciona e conheça o funcionamento deste site. Cadastre-se já e usufrua dos benefícios que a Casa do Editor lhe proporcionará!

Quem somos

Nós somos um grupo composto por dois Escritores e um Editor. Todos com uma vasta experiência no ramo literário brasileiro.

Cientes das dificuldades que tanto o Autor quanto o Editor enfrentam para publicar uma Obra, trabalhamos arduamente durante dois anos para oferecer uma forma eficaz de comunicação entre Autores e Editores.

Visando facilitar e intermediar o casamento entre Autor e Editor, desenvolvemos uma forma inédita de comunicação entre ambos. Essa comunicação, viabilizada por intermédio do site Casa do Editor, dará uma grande contribuição à Literatura brasileira, bem como à estrangeira. Veja maiores detalhes em Como Funciona.

A Casa do Editor pertence à Editora Leste Minas Ltda.

Prezado Autor,

Ao Anexar uma Obra no Portal Casa do Editor, ela ficará disponível para ser vista e acessada pelas Editoras que publicam Obras cujos Gêneros são os mesmos de sua Obra. Logo ao Anexar uma Obra na Casa do Editor, e assim que você escolher as Categorias de Gêneros, o sistema faz a busca de Editoras cujos Gêneros se enquadram os Gêneros de sua Obra e, automaticamente, envia um e-mail para as Editoras comunicando que uma Obra anexada no site se enquadra na Linha Editorial delas.

Ao cadastrar-se, você, após fazer o pagamento da Opção de Divulgação escolhida (se Anual ou Semestral), suas Obras poderão ser anexadas no Banco de Dados da Casa do Editor para serem acessadas por milhares de Editoras do Brasil e de Portugal cadastradas neste site (tal quantidade de Editoras é o nosso objetivo a ser atingido em curtíssimo prazo). São quatro os tipos de Obras que podem ser anexadas no Banco de Dados da Casa do Editor, a saber:

Livro, Texto Avulso, Intenção, Coletânea

Intenção é se você tem um plano concreto de escrever determinada Obra e está à procura de uma Editora que banque a publicação. Coletânea é um Livro normalmente composto por um conjunto de contos, crônicas, poemas, poesias, etc. Coletânea deverá ser usada também por aqueles escritores que desejam divulgar na Casa do Editor um conjunto de Obras ou uma Coleção.

Para anexar uma Obra, basta entrar com seu login e sua senha e, depois, clicar no botão Obras. Em seguida, você deverá escolher o Tipo de Obra e assinalar o Tema de Gênero, a Categoria de Gênero e suas Subcategorias.

Dividimos os Gêneros em onze Temas para facilitar o enquadramento de sua Obra nos devidos Temas, bem como para facilitar, também, a Busca de Obras feita pelas Editoras. São eles:

Temas de Gêneros:
01 Ficção
02 NF: Ciências Biológicas e Naturais
03 NF: Ciências da Saúde
04 NF: Ciências Exatas e Aplicadas
05 NF: Ciências Humanas e Sociais
06 NF: Diferenciados
07 NF: Gêneros Clássicos
08 NF: Incomuns
09 NF: Pseudociências e Religiões
10 NF: Textos Avulsos
11 NF: Coletânea

A Casa do Editor lhe oferece quatro níveis de Gêneros, por Categorias de Gêneros e suas Subcategorias, a saber:
1º nível: Categorias de Gêneros
2º nível: Subcategorias da Categoria de Gêneros (ou Subcategoria 1)
3º nível: Subcategorias de Subcategorias da Categoria de Gêneros (ou Subcategoria 2)
4º nível: Subcategorias de Subcategorias da Categoria de Gêneros
acrescentada pelo Autor e/ou pelo Editor quando ela não existir (ou Subcategoria 3)

Para que sua Obra fique acessível à Busca Avançada feita pela Editora nos quatro níveis de Categorias de Gêneros, você deverá escolher e assinalar a Categoria de Gênero no 1º nível, e as Subcategorias no 2º nível, no 3º e no 4º nível. Se a Subcategoria 1, ou 2 ou 3 estiver em branco, você pode fazer a inserção digitando a Subcategoria quando for Anexar a Obra.

Se você escolher e assinalar os quatro níveis, sua Obra estará disponível para que as Editoras a busquem no 1º, no 2º, no 3º e no 4º nível. Dessa forma, uma Editora poderá encontrar, em segundos, sua Obra, se ela se enquadrar na Linha Editorial da Editora.

Vamos dar um exemplo de como funciona o Banco de Dados da Casa do Editor:
Gênero: NF
Tema: Ciências da Saúde
  Categoria de Gênero: Medicina: ........................... 1º nível
  Subcategoria 1: ................. Endocrinologia: .……..... 2º nível
  Subcategoria 2: ...................................... Diabetes: ... 3º nível
  Subcategoria 3: ............................................... Outra . 4º nível

Se um Autor escreveu uma Obra sobre cura do Diabetes, então ela deverá ser divulgada na Casa do Editor exatamente como o exemplo acima. Se um Editor está buscando uma Obra sobre cura do Diabetes, a encontrará, em segundos, se ela estiver divulgada no Banco de Dados da Casa do Editor. Então, no exemplo acima, o Gênero é Não Ficção, o Tema é Ciências da Saúde, a Categoria de Gênero é Medicina (nível 1), a Subcategoria 1 é Endocrinologia (nível 2), a Subcategoria 2 é Diabetes (nível 3) e a Subcategoria 3 é Cura (nível 4).

Se uma Editora fizer uma Busca de Obras apenas no 1º nível, ou seja, apenas no nível da Categoria de Gênero Medicina no Tema Ciências da Saúde, todas as Obras que se enquadram neste Tema e na Categoria de Gênero Medicina serão mostradas à Editora. A Editora tem a opção de escolher até que nível ela deseja realizar a Busca de Obras.

Se você tiver dificuldades em encontrar uma Categoria de Gênero ou uma Subcategoria, então deverá utilizar o sistema de Busca de Categoria ou de Subcategoria na Página Principal.

O Autor poderá, ao anexar sua Obra, escolher até três Temas, até três Categorias de Gêneros e suas Subcategorias 1, 2 e 3. Dessa forma, as chances de uma Editora encontrar sua Obra serão onze vezes mais do que no metódo tradicional.

Com certeza, as chances de uma Editora encontrar sua Obra e publicá-la serão muito maiores, pois a Casa do Editor, com seu Sistema, resolveu um enorme problema de comunicação que sempre existiu entre o Autor e o Editor, ou seja, o Editor tem sua Linha Editorial, mas dificilmente encontra o Autor cuja Obra se enquadra exatamente em sua Linha Editorial porque a comunicação entre ambos ficava apenas no 1º nível, ou seja, apenas no âmbito de Categoria de Gênero.

Significado e função dos botões da Página Principal do website Casa do Editor:
1. INÍCIO: quando você estiver navegando no site e desejar voltar à página ou tela inicial, clique neste botão.

2. QUEM SOMOS: uma breve apresentação do Portal Casa do Editor, bem como informações sobre os criadores do site.

3. COMO FUNCIONA: esta página tem como objetivo principal explicar a cada um dos quatro tipos de usuários do site o funcionamento da inédita e revolucionária forma de comunicação do Autor-Editor, e vice-versa.

4. NOTÍCIAS: sempre que houver uma notícia de destaque e que seja interessante aos usuários do Portal Casa do Editor, ela será divulgada nesta página. Você terá à sua disposição, também, as notícias já divulgadas.

5. DEPOIMENTOS: qualquer um dos quatro tipos de usuários do site poderá dar seu depoimento, fazer sua crítica, dar sugestões, etc. Mas, para tanto, deverá estar logado no site.

6. CONTATO: use este botão para entrar em contato com a equipe do Portal Casa do Editor.

7. CADASTRE-SE: ao clicar neste botão, outros quatro botões serão exibidos para cada um dos quatro tipos de usuários do site fazer seu cadastramento.

8. DÚVIDAS: esta página esclarece as dúvidas frequentes dos Autores, Editores, Distribuidores de livros e Livreiros.

9. RELAÇÃO DE:
a) Autores: exibe o número de Autores cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todos os Autores cadastrados no site.

b) Obras: exibe o número de Obras cadastradas no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todas as Obras divulgadas no website Casa do Editor.

c) Editoras: exibe o número de Editoras cadastradas no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todas as Editoras cadastradas no site, bem como sua Linha Editorial.

d) Distribuidores: exibe o número de Distribuidores cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, por Estado, de todos os Distribuidores de livros cadastrados no Portal Casa do Editor, bem como o endereço, o telefone, o e-mail, dentre outros dados.

e) Livreiros: exibe o número de Livreiros cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, por Estado, de todos os Livreiros cadastrados no Portal Casa do Editor, bem como o endereço, o telefone, o e-mail, dentre outros dados.

10. APLICATIVOS GRÁTIS: o Portal Casa do Editor oferece, gratuitamente, dois testes muitíssimos interessantes aos usuários cadastrados e aos visitantes. Faça-os, e você verá!

11. PRESTADORES DE SERVIÇOS: ao clicar neste botão, o usuário terá acesso ao nome, ao telefone e ao e-mail dos quatro tipos de prestadores de serviços na área da literatura, a saber: Ilustradores e Capistas, Revisores, Tradutores e Agentes Literários.

12. OBRAS PUBLICADAS: esta página mostra todas as Obras publicadas por intermédio do Portal Casa do Editor.

Nota:
Se você usa o Firefox anterior à versão 4, atualize seu Firefox para a versão 4 ou superior.

Seja bem-vindo à Casa do Editor. Quaisquer dúvidas clique no botão Autores em Dúvidas. Se persistirem dúvidas, clique no botão Contato e informe suas dúvidas. Estaremos ao seu inteiro dispor.

Atenciosamente,

Casa do Editor

Fonte:
Dados enviados pela Editora Leste Minas e obtidos no site da Casa do Editor

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Paraná em Trovas Collection - 35 - Olga Agulhon (Maringá/PR)


Thaty Marcondes (Crônica do vento)

Hoje o vento não sussurra. Também não afaga as folhas das árvores do jardim, nem refresca a grama seca pela estiagem e pela geada que a castigou neste inverno seco. Hoje o vento não uiva como os lobos. Sinto que o vento, hoje, está triste. Ouço o seu lamento melancólico, um pouco desafinado - perdeu o tom, o coitado.O vento hoje está lacrimoso, como se levasse suas mágoas a varrer o mundo, espalhando seu canto desencontrado. Talvez esteja se despedindo. Talvez o verão esteja expulsando-o daqui, e ele teima em não partir, pois ele sabe que partir é triste! Talvez por isso, esse lamento fantasmagórico e assustador, como as almas perdidas chorando a vida que não puderam levar consigo, assim como seus pertences. Por que ele sabe que partir, às vezes, é o mesmo que morrer! O vento hoje está frio, gélido, morto.

Fonte:
Garganta da Serpente. Contos do Coral.
Imagem = http://gifsanimadoscarlos.blogspot.com

Nilto Maciel (O Bom Selvagem) 1a. Parte

(novela integrante do livro Vasto Abismo)

PRESENTE

As noites aqui no Boqueirão já foram mais alegres. Agora nem saio mais de casa. Se há luar, olho para o céu, feito poeta de antigamente. Porém, não dura um minuto sequer meu namoro com as estrelas. E volto ao caderno, onde escrevo em minha língua a História do Brasil. É uma tradução apenas.

Quem me encarregou dessa missão foi padre Tonelli. Quer ensinar aos bororo a História do Brasil. Já ensina português, aritmética, geografia, religião. A católica, logicamente.

Padre Tonelli é meio esquisito. Diz que índio deve continuar índio, preservar suas tradições. Sobretudo sua língua. Mas deve renegar alguns costumes. Como o de viver nu.

Não sei mais viver nu. Além do mais, todos por aqui usam roupas. Mesmo os índios mais atrasados. Os padres da Missão não permitem a nudez. Chamam de pecado. E chamam a Missão de Colônia.

Tudo mudou muito em minha vida. Primeiro mudou meu nome. De Bokodori passei a Daniel Álvares. Deixei a aldeia indígena, um amontoado de cabanas de palha, e fui viver no meio dos brancos.

Hoje sou de novo um bororo, um selvagem. Ninguém me aceitaria de paletó e gravata, falando português, andando pelas ruas das grandes cidades, dentro de automóveis.

O padre missionário, no entanto, não se cansa de querer me desfigurar. Devo voltar a ser professor. Esquecer os dissabores. Levar uma vida cristã e moderna. Educar os filhos, viver em paz com Lucina.

Não quero desgostar padre Tonelli. Vou cumprir minha promessa, traduzir para o bororo o livro de História. Ele é um homem de bom coração. E me trata com muito respeito e amizade.

Deixarei de lado este caderno e dedicarei algumas horas à tradução. Aos heróis portugueses e seus descendentes. Os matadores de índios.

ANTEPASSADOS

Minha tarefa estou para concluir. Mais algumas páginas, nomes, datas, fatos, e fim. Aliás, o autor devia ter ficado por aqui. O resto está tão recente que nem devia ter sido escrito. A história de um país é diferente da história de uma pessoa. Na minha vida, por exemplo, 17 anos valem muito. Na de um país são migalha. Eu mesmo não me lembro de nada muito importante ocorrido aqui nos últimos tempos. Comigo, sim, aconteceram coisas para lá de desastrosas. E é disso que vou tratar agora. Deixarei de lado essa História do Brasil e me voltarei para mim mesmo. Ora, sou mais importante para mim do que esses marechais.

Aprendi um pouco de tudo. Aprendi caminhos desconhecidos. Aprendi, sobretudo, que o sonho passa por nós feito nuvem. E emigra para longe, na eterna correria do tempo.

Aproveitando o método do livro que traduzo, relembrarei tudo, desde meu nascimento.

O Brasil – diz o livro – nasceu dos portugueses. Já eu, embora brasileiro, não venho de portugueses. Meus pais eram bororo, que viviam aqui muito antes de o Brasil nascer. Engraçadíssima essa história! Em compensação, só tenho a idade da República. Antes de mim houve o Império. Anteriores a este, porém, são meus avós.

Para falar de mim, devo começar lembrando meu povo. Só assim os leitores – pois pretendo publicar isto um dia – poderão me entender melhor.

Contam os mais velhos terem sido Bacororo e Itubori os primeiros bororo. Foram gerados de um canguçu e uma mulher, viveram inúmeras aventuras na selva, ditaram leis aos homens e animais, tiveram poder sobre todas as coisas, foram príncipes dos bororo, e o serão para sempre.

Meu defunto pai chegou a chefe de tribo, assim como seu pai, etc. E todos muito inteligentes. Conheciam os Tereno, os Botocudo e outros povos. Iam do Paraguai até Goiás, grandes caçadores que eram. E eu herdei tudo isso. Só não sou chefe porque hoje não temos mais tribo. Em compensação, aprendi várias línguas e vivi na Europa. Ouvi falar da teoria quântica e conheci Marconi. Li Rilke e Conrad e vi os quadros de Picasso. Admiro profundamente Einstein e Santos Dumont. Discuti a teoria da deriva continental, em francês, com estudantes parisienses. Hoje me interesso pelos Nêutrons e pelos estudos de John Logie Baird. Seus inventos ainda vão revolucionar o mundo. Quero ler Virgínia Woolf, Pirandello, William Faulkner e ver de perto a arquitetura de Le Corbusier.

Tudo isto, no entanto, de nada me serve. Aliás, se falo de progresso, desenvolvimento, mudança, é por mera vaidade. Ou talvez para não olhar para dentro de mim mesmo e de meu povo. Por isso, me chamam de índio metido a besta. Por outro lado, meus irmãos de sangue me olham com desdém. Tiraram-me de meu mundo e agora vivo isolado, como se fosse estranho a uns e outros. A solidão, essa cadela marcada, me segue os passos. Não sou mais índio, porque me ensinaram a ser europeu, branco, cristão. Não sou europeu, porque nasci índio. Para tentar conciliar as duas situações, ensino aos bororo a língua, a cultura e a História dos brancos. Traduzi do português para o bororo a Bíblia, e agora me dedico a essa estúpida História do Brasil. Desde Pedro Álvares Cabral. De quebra, me deram o nome de Daniel Álvares. A escolha do nome pode ter sido casual. Poderiam me chamar de Pedro Caminha.

Terão tido propósitos de me ridicularizar?

Há quem ainda me chame pelo meu nome indígena – Bokodori. Noto, porém, um certo ar de deboche na pronúncia. Como se quisessem dizer: você é um selvagem, mesmo sabendo falar português e francês.

INFÂNCIA

Passou mais uma noite. Não pude dormir. Revi quase minha vida inteira. Não consigo, no entanto, me lembrar de meus dias mais remotos. Depois de tanto viver, de tanto ouvir e ler, de tanto forçar a memória, é-me impossível reconstruir meu primeiro passado. Confundo-me com personagens de mitos, com outros meninos reais e imaginários, e me represento adulto em tempos de criança.

Há pouco reli trechos da História do Brasil, assim como as páginas que ontem escrevi. Os primeiros me parecem destituídos de vida. As segundas estão incompletas. Não me interessa, porém, dar vida aos capítulos da História, a menos que eu pudesse incluir nela meus antepassados. Mas como, se mal conheci meus pais?

Imaginei minha mãe, viva, tão terra, tão natureza, de repente desesperada. E depois calada, triste e morta. Sigo-lhe o destino, eu que há 36 ou 25 anos sequer supunha um só dia de desespero e solidão. Naquele tempo tudo para mim era festa e eu comemorava até minhas estupefações. Revejo todas as cenas que se seguiram aos primeiros olhares de curiosidades do padre Pittini, às suas primeiras palavras a mim dirigidas. Sua figura alva, bonita, simpática me animou, me fez sonhar mil maravilhas. Meu primeiro desejo foi entender-lhe a fala, o significado dela, traduzir seus gestos, para, em seguida, compreender a razão de tudo – da batina, da cor de sua pele, seus cabelos e olhos, dos seus passos e, sobretudo, do seu interesse por nós e por mim, em particular. Ele me cativou e por mim se enfeitiçou desde o primeiro contato. Conversou comigo, fez-me todas as perguntas do questionário humano e prometia transformar-me num sábio, num salvador ou guia de meu povo. E eu só tinha 11 anos de idade.

Hoje compreendo quase tudo. Eu seria a isca e o modelo, para ser devorado e mostrado. E, mais do que isca e modelo, o boneco bem conservado para as exposições, espécie de atleta ou manequim, objeto de carne e osso, filhote de troglodita transformado em gentleman pelas mãos hábeis e santas do cristianismo. Aprendi a rezar, primeiro como me ensinaram e depois a meu modo. Pura lamentação. Assim: Minha madrinha, Nossa Senhora, tu vês o mundo todo verde, não é? Meus olhos, no entanto, são tão pretos! Ah! Minha Nossa Senhora, pinta meus olhos, que eu quero verdes os dias futuros.

Decorei orações latinas, nomes e vidas de santos, descobri pecados e virtudes e elegi um deus todo-poderoso. Credo in Deum Patrem omnipotentem, creatorem e caeli et terra. Reneguei Ké-Marugodu, o personagem lagarto de uma das principais lendas de nosso povo. Fiz tudo para esquecê-lo. Apagar da memória meu passado de selvagem. E enchi de jactâncias e me cobri de outro nome.
------------
continua...

Fonte:
Nilto Maciel. Vasto Abismo. Brasília: Ed. Códice, 1998.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 441)

Uma Trova Nacional

Tão fugaz e passageiro,
tal nuvem no firmamento;
foi aquele amor primeiro,
desfeito no pensamento!
–NEMÉSIO PRATA/CE–

Uma Trova Potiguar

Se você fosse uma estrela,
e a nuvem branca seu véu.
Para que eu pudesse vê-la
bastaria olhar o céu!
–WALTER CANUTO/RN–

Uma Trova Premiada


2004 - Taubaté/SP
Tema: SABIÁ - M/H


Oprimido na gaiola,
lamentando a escravidão,
o sabiá cantarola
para o algoz sem coração.
–RUTH FARAH/RJ–

Uma Trova de Ademar

Fiz do quarto um santuário,
pus sua foto no andor
e rezei um novenário
para louvar nosso amor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Lamento quem, transtornado
pela treva que o seduz,
olhando o céu estrelado
duvida da própria luz!
–CÍCERO ROCHA/MG–

Simplesmente Poesia

Mote e Glosa:

–ISMAEL GAIÃO/PE–


Vi juízes condenados,
Por atitudes malignas,
Ao seduzirem meninas
Em troca de alguns trocados.
Porém esses magistrados,
Nunca mais irão sofrer,
Pois passaram a receber
Sem prestar nenhum serviço…
Se eu nunca soubesse disso,
Era feliz sem saber.

Corruptos e ilegais,
Com suas fichas extensas,
Vendedores de sentenças,
Pra gangs e marginais.
Ganham doze mil mensais
Só pra viver de lazer
E a gente no desprazer
É quem paga tudo isso…
Se eu nunca soubesse disso,
Era feliz sem saber.

Estrofe do Dia

Igual a um tabaréu
que não sabia de nada,
cheguei na sua calçada
a lua brilhou num véu,
era a kodak do céu
com o filme da paixão
que transmitia um clarão
tirando a foto da gente,
a lua entrou lentamente
nas frestas do barracão.
–VALDIR TELES/PB–

Soneto do Dia

Palavra Morta
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–


Lembrei uma palavra já perdida
nos meandros do tempo. Desgastada,
sumiu nos alfarrábios. Teve a vida
que mereceu e agonizou na estrada.

Se consta de algum livro, esmaecida,
já em pleno desuso, não diz nada.
É como alguém que, aos poucos, se liquida,
depois de uma existência malograda.

Talvez ela inda esteja namorando
a pena de um poeta inexistente
que pudesse tirar-lhe alguns efeitos,

ou, quem sabe, em antigo memorando
que daria registro, incontinenti,
aos poemas que nunca foram feitos.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Guerra Junqueiro (Contos para a Infância: A Criança, O Anjo e a Flor)

Quando uma criança morre, vem um Anjo do Céu, toma-a nos braços, e desdobrando as asas imaculadas, voa por cima dos sítios que ela amou durante a sua pequenina existência; de quando em quando desce o Anjo a colher flores, que leva a Deus, para que desabrochem no Paraíso mais belas ainda do que tinham sido na Terra. Deus aceita as flores, escolhe uma delas, toca-a nos lábios, e a flor escolhida, adquirindo voz imediatamente, começa a cantar os coros maviosos dos bem-aventurados.

Ora escutai o que disse o Anjo a uma criança morta, que levava nos braços. Pairou primeiro com ela sobre a casa da sua meninice e ao depois sobre um jardim balsâmico, estrelado de flores.

– Qual é a flor que desejas cultivar no Paraíso? interrogou o Anjo.

Havia nesse jardim uma roseira, que fora desempenada, vigorosa, magnífica; mas quebraram-lhe o pé, e todos os ramos, cheios de botõezinhos, lindíssimos, vergavam estiolados para o chão.

– Infeliz roseira! disse a criança ao Anjo;, vamos nós buscá-la, a ver se pode florir no Paraíso.

O Anjo obedeceu e beijou a criança. Colheram muitas flores, boninas humildes e violetas silvestres.

Acabara a colheita e não voavam ainda para Deus. Já era de noite e pairavam por cima de uma grande cidade. Atravessaram uma das ruas mais estreitas, cheia de cacos de louça, de vidros partidos, de farrapos, de toda a casta de imundície. Entre esses escombros distinguiu o Anjo uni vaso de flores com a terra dispersa no chão, onde se viam as longas raízes de uma flor dos campos, meio estiolada; lançaram-na para ali, como coisa morta.

– Merece a pena erguê-la, disse o Anjo; levemo-la, e pelo caminho, voando, te contarei a história desta flor. Lá ao fundo, lá ao fundo, naquela rua estreita e tortuosa, morava um pequerrucho, uma criança miserável e doente. Quando se sentia melhor, o mais que podia era passear de muletas ao longo do seu pequenino quarto. Nalguns dias de Verão, os raios do Sol visitavam-lhe a alcova, durante meia hora. Então o menino sentado à janela, aquecido ao sol, imaginava-se vagueando pelos campos: não conhecia dos bosques, da fresca verdura da Primavera, senão o ramo de faia, que urna vez o filho do vizinho tinha colhido para ele. Suspendia por cima da cabeça o ramo verdejante, e, supondo-se abrigado do sol debaixo das árvores, sonhava, enlevado com o doce canto doe passarinhos. Um dia, o pequeno do vizinho trouxe-lhe flores, e por acaso entre elas havia uma com raízes; plantou-a num vaso e pô-lo à varanda. A flor plantada por mão inocente cresceu, cresceu, e todos os anos desabrochava em novas flores. Era o seu jardinzinho, o seu único tesouro neste mundo; regava-o, cultivava-o, adorava-o; fazia-lhe haurir os raios do Sol até ao último. Com ele sonhava todas as noites, e, quando se sentiu morrer, foi para ele que se voltou.

Faz hoje um ano que esse menino habita o Paraíso; a sua idolatrada flor, esquecida à janela desde Então, murchou, estiolou-se e lançaram-na à rua finalmente. É esta que nós aqui levamos. Quase seca, é o tesouro do nosso ramalhete. Deu mais prazer e alegria do que todos os canteiros do jardim de um príncipe.

– Como sabes tu isso? perguntou a criança, que o Anjo levava para o Céu.

– Sei-o, respondeu o Anjo, porque era eu o pequenino doente que andava em muletas; como não havia de eu reconhecer a minha flor bem-amada!

A criança abriu os olhos e viu a radiosa figura do Anjo quando entravam no Céu, onde tudo era alegria e felicidade. Deus pegou nas flores, levou-as ao coração, mas a que ele beijou foi a florinha silvestre, desprezada e murcha. E a flor, por milagre adquirindo voz, pôs-se a cantar com as almas que rodeiam o Criador, umas junto dele, outras ao longe, formando círculos que vão aumentando sucessivamente, multiplicando-se até ao infinito, num com inextinguível e deslumbrador.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Lóla Prata (Lançamento do Livro Didático para Poetas “E Eu Sei Fazer Versos?)

Trata-se de um Curso de esquemas poéticos, apresentando pouco mais de 70 técnicas clássicas, medievais, modernas e pós-modernas, brasileiras e estrangeiras, de elaboração de poemas. Na 2ª parte, vocabulário relativo às peculiaridades gramaticais que orientam a perfeita contagem métrica dos versos, assim como definem estruturas para confecção de trabalhos literários tanto em verso como em prosa. Tem por objetivo o aprimoramento dos poetas na nobre arte de versejar. 

A autora vende o livro por 20 reais + 3 reais do frete...
Lóla Prata Garcia
11-4035-2426 e 11-9882-0770

Fonte:
A autora

Biblioteca do Centro Integrado de Educação Pública, de Rio Grande/RS aceita doações

O Bibliotecário, de Giuseppe Arcimboldo
O CIEP do Bairro São João "Dr. José Mariano de Freitas Beck", inaugurado em 1993, atende em média cerca de 500 alunos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. O corpo docente é formado por 22 professores.

A biblioteca do CIEP do Bairro São João na cidade do Rio Grande precisa da ajuda de pessoas voluntárias que se disponham a doar um pouco do seu tempo para organizar o seu acervo e desenvolver projetos que aproximem os alunos dos livros e da leitura.

Possui um diversificado acervo que precisa ser organizado e classificado de maneira a possibilitar que os alunos ali encontrem o que procuram para suas pesquisas escolares e leituras gerais.

A Biblioteca do CIEP aceita doações de livros, revistas, quadrinhos e audiovisuais.
Entre em contato com a escola:

Centro Integrado de Educação Pública – CIEP
“Doutor José Mariano dos Santos Becker”
Rua Eduardo Araújo,
Bairro São João
Rio Grande – RS
Brasil
CEP: 96.213-040

Telefone: (53) 32301612

E-mail:
bibliotecacieprg@gmail.com
Blog: http://bibliotecacieprg.blogspot.com/

Fonte:
Biblioteca CIEP Rio Grande

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – III – O concurso

Achado o pau vivente, só restava fazer com ele um boneco para que surgisse no mundo o irmão do Pinóquio. Pedrinho, entretanto, por mais que o sacudisse e espetasse com o canivete, não conseguia que o pedaço de pau desse o menor sinal de vida.

— É esquisito isto! — exclamava. — O tronco gemeu de cortar o coração, mas este pedaço nem pia. É esquisitíssimo...

Emília, sempre com a pulga atrás da orelha de medo que seu estratagema fosse descoberto, disse logo, muito espevitadinha:

— Dona Benta falou outro dia que as grandes dores são mudas. Esse pau bem que sente, mas como a dor de se ver separado do tronco pai dele é muito grande, está assim mudo como peixe. De repente a dor diminui e ele começa a gemer que ninguém o pode aturar.

O Visconde tossiu e olhou para ela com o rabo dos olhos, admirado dos progressos “psicológicos” que Emília estava revelando.

Apesar da mudez do pau, Pedrinho resolveu fazer o boneco, na esperança de que de repente vivesse. Mas, fazê-lo como? Cada qual queria que o irmão de Pinóquio fosse de um jeito, e tanto disputaram que Pedrinho resolveu abrir um concurso. O desenho vencedor seria adotado para modelo.

— Concurso de desenho, gentarada! — gritou ele batendo palmas. — Pára tudo! Vovó, largue essa costura e pegue no lápis. Tia Nastácia, você também pare com esse fogão! Toca a desenhar!

Começou o concurso. Durante meia hora ninguém naquela casa cuidou de outra coisa senão de desenhar. Prontos que foram os seis desenhos, Pedrinho os pregou na parede para serem julgados. Que exposição mais engraçada! O desenho de tia Nastácia não tinha forma de gente; parecia um coisa-ruim de carvão, tão feio que todos se riram. O de Narizinho era bastante jeitoso, mas tinha o defeito de ser parecido demais com o Pinóquio.

— Foi de propósito — explicou a menina. – Fiz um irmão gêmeo.

O de dona Benta parecia um judas no sábado de aleluia. O de Pedrinho saiu o retrato de um menino opilado que às vezes aparecia no sítio, acompanhando sua avó, Nhá Veva Papuda. O do Visconde saiu tão científico que não se entendia. Era cheio de triângulos copiados da Geometria e tinha no nariz um X de Álgebra. O de Emília era um embrulho. Emília quis botar no boneco tanta coisa que o virou numa trapalhada. Fez cacunda de Polichinelo, boca de sapo, rabo de jacaré, orelhas de morcego, pés de bode e nariz ainda mais comprido que o de Pinóquio. Tinha também um olho arregalado nas costas, “para que ninguém o pudesse agarrar de surpresa” — explicou ela cheia de orgulho dessa lembrança que ninguém havia tido.

Por três vezes Pedrinho botou em votação os desenhos, sem o menor resultado. Cada qual achava o seu o mais bonito e votava em si próprio.

— Com votação não vai — disse ele. — O melhor é tirar a sorte.

Todos concordaram. Pedrinho escreveu o nome de cada concorrente num pedaço de papel, enrolou-os e botou-os no seu chapéu, pedindo a dona Benta, como mais velha, que tirasse um.

Emília, porém, protestou, erguendo a mão esquerda no ar e escondendo a direita no bolsinho da saia.

— Quem vai tirar a sorte sou eu! Dona Benta não sabe!

— Não é você, não! É vovó !— determinou Pedrinho.

— Sou eu! Sou eu! — insistiu a boneca.

— Já disse que é vovó. Não teime!

— Sou eu! Sou eu! — continuou a boneca, batendo o pé e sempre de mão no bolso.

Narizinho desconfiou da insistência daquela mão no bolso.

— Deixe ver a mão, Emília.

— Não deixo! — respondeu a boneca, corando até à raiz dos cabelos.

Narizinho agarrou-a e, tirando-lhe a mão do bolso à força, viu que havia nela um papelzinho do mesmo tamanho e enrolado do mesmo jeito dos que estavam no chapéu.

Foi um escândalo. Todos a criticaram, achando muito feio aquele procedimento; depois caíram na gargalhada, ao lerem o que estava no papelzinho. Emília, em vez de escrever o seu nome, havia escrito, na sua letrinha torta de boneca de pano — O MEU. Por isso insistia tanto em tirar a sorte. Já estava com o nome do vencedor na mão .. .

— Che, que fiasco! — exclamou tia Nastácia pendurando o beiço. — Nunca vi ação mais feia. Eu, se fosse Dona Benta, não deixava que essa cavorteiragem fosse passando assim sem mais nem menos. Dava umas palmadinhas nela, ah, isso dava mesmo! Onde se viu querer empulhar a gente dessa maneira? Credo!

Emília, cada vez mais furiosa, botou-lhe um palmo de língua

— ahn!

— Tia Nastácia tem razão, Emília — observou dona Benta. – O ato que você praticou é dos mais feios e só perdôo porque você é uma bobinha que não distingue o bem do mal. Fosse algum dos meus netos e eu o castigaria.

Era a primeira repreensão que Emília levava de dona Benta.

Sua vontade foi de também lhe botar um palmo de língua ainda mais comprido. Mas compreendeu que não devia fazer semelhante coisa e limitou-se a sair da sala, resmungando e batendo o pezinho com toda a força.

— Como está ficando! — comentou a negra. — Parece uma cascavelzinha. Credo!

Terminado o incidente, prosseguiram na tirada da sorte. Dona Benta meteu a mão no chapéu e pescou um dos papéis. Abriu-o e leu — “TIA NASTÁCIA”.

Foi um desapontamento geral. Ninguém esperou que a Sorte fosse tão burra de escolher justamente a autora do desenho mais feio. Mas a Sorte é a Sorte; o que ela decide está decidido e ninguém pode reclamar. Em vista disso a negra ficou encarregada de dar forma humana ao pedaço de pau vivente, pondo assim no mundo o irmão de Pinóquio.
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Continua… IV – A zanga de Emília

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Paraná em Trovas Collection - 34 - Emiliano Perneta (Pinhais/PR)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 440)

Uma Trova Nacional

Poeta e mulher perdida
trazem sempre uma ilusão,
procurar por toda a vida
encontrar uma paixão.
–NEALDO ZAIDAN/PE–

Uma Trova Potiguar


As mulheres e as rosas,
partilham vida e costumes:
- Nascem belas, majestosas
e exalam finos perfumes...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

1975 - Porto Alegre/RS
Tema: MULHER - 1º Lugar

Quando meu filho acalanto,
meu versejar rosicler
são preces, que a Deus eu canto,
por ter nascido mulher.
–WILMA MELLO CAVALHEIRO/RS–

Uma Trova de Ademar

Num Flerte a mulher revela
com seu olhar, o que sente...
Ela finca os olhos dela
dentro dos olhos da gente.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não há poeta ou pintor,
nem outro artista qualquer,
que enalteça com rigor
a perfeição da Mulher.
–ALYDIO C. SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

Meu Vício
–DJALMA MOTA/RN–


Na condição de dependente,
não encontro uma forma
de desembaraçar-me de tal vício.

Em verdade, bem melhor,
seria morrer viciado.

Quantas vezes
bebi e traguei o seu sabor?
Outras tantas
não exalei o seu cheiro?
Já nem sei a quantidade
de substância emotiva
adentrada em minhas veias,
fazendo pulsar mais forte
o meu coração!

Sou viciado, sim!
Pois, adoro seu beijo,
seu cheiro e o seu calor.

Saiba mulher:
Meu vício é você!

Estrofe do Dia

No delírio dos beijos sensuais
qualquer homem se entrega pra mulher,
vira um servo fazendo o que ela quer
fica louco por tudo o que ela faz,
no momento do ato ele é capaz
de esquecer-se do mundo e pensar nela,
quando passa o momento ele revela
as loucuras de amor que ele sente;
a mulher carinhosa faz da gente
um brinquedo de amor no colo dela.
–EDEZEL PEREIRA/PI–

Soneto do Dia

Oração de Poeta
–MIGUEL RUSSOWSKY/SC–


– Que me darás, Senhor, pela jornada
de dores, privações e misereres?
– Eu te darei a noite salpicada
de estrelas e silêncio. Que mais queres?

– E para a solidão da madrugada?
– Já fiz o mundo cheio de mulheres.
procura e encontrarás a tua amada.
Faz os mais lindos versos que puderes.

– Mas como irei, Senhor, reconhecê-la?
– Há no céu, entre todas, uma estrela
que apenas tu verás. Que mais perguntas?

– E este frio e esta angústia que ora sinto?
– quando ela penetrar em teu recinto
a primavera e a paz hão de vir juntas.
--
Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Affonso Romano de Sant'Anna (De Que Ri a Mona Lisa? )

Estou na sala Da Vinci, no Louvre. Aqui penetrei encaminado por uma seta que dizia "Sala Da Vinci". É como se fosse uma indicação para uma grande avenida no trânsito de uma cidade. Não que a seta seja apelativa ou extraordinária. Mas reconheço que nela está escrito implicitamente algo mais. É como se sob aquelas letras estivesse escrito: "Preparem o seu coração para um encontro histórico com a Gioconda e seu indecifrável sorriso". E tanto é assim que as pessoas desembocam nesta sala e estacionam diante de um único quadro - o da Mona Lisa.

Do lado esquerda da Gioconda, dezesseis quadros de renascentistas de primeiro time. Do lado direito, dez quadros de Rafael, Andrea del Sarto e outros. E na frente, mais dez Ticianos, além de Veroneses, Tintorettos e vários outros quadros do próprio Da Vinci.

Mas não adianta, ninguém os olha.

Estou fascinado com este ritual, E escandalizado com o que a informação dirigida faz com a gente. Agora, por exemplo, acabou de acorrer aos pés da Mona Lisa um grupo de japoneses: caladinhos, comportadinhos, agrupadinhos diante do quadro. A guia fala-fala-fala e eles tiram-tiram-tiram fotos num plic-plic-plic de câmeras sem flash. Sim, que é proibido foto com flash, conforme está desenhado num cartaz para qualquer um entender.

E lá se foram os japoneses. A guia os arrastou para fora da sala e não os deixou ver nenhum outro quadro. E assim as pessoas vão chegando sem se dar conta de que sobre a porta da entrada há um gigantesco Veronese, Bodas de Caná. É singularíssimo, porque o veneziano misturou a festa de Caná com a "última ceia". Cristo está lá no meio da mesa, num cenário greco-romano. O pintor coloou a escravaria no plano superior da tela e ali há uma festança com a presença até de animais.

Entrou agora na sala outro grupo. São espanhóis e italianos. "Veja só os olhos dela", diz um à sua esposa, exibindo o original senso crítico. "De qualquer lado que se olha, ela nos olha", diz outro parecendo ainda mais esperto. "Mas, que sorriso!", acrescentou outro ainda. E se vão.

Ao lado esquerdo da Mona Lisa reencontro-me com dois quadros de Da Vinci. Mas como as pessoas não foram treinadas para se extasiar diante deles, são deixados inteiramente para mim. São A Virgem dos Rochedos e São João Batista. Este último me intriga particularmente. É que este São João assim andrógino tem uma graça especial. E mais: tem o rosto muito semelhante ao de Santa Ana, do quadro Santa Ana, a Virgem e o Menino, no qual Freud andou vendo coisas tão fantásticas, que se não explicam o quadro pelo menos mostram como o psicanalista era imaginoso.

Chegou um bando de garotos ingleses-escoceses-irlandeses, vermelhinhos, agitadinhos, de uniforme. Também foram postos diante da Mona Lisa como diante do retrato de um ancestral importante. Só diante dela. O guia falava entusiasmado como se estivesse ante o quadro de uma batalha. E ele ali, talvez, achando graça da situação.

Enquanto isto ocorre, estou enamorado da Belle Ferronière, do próprio Da Vinci, que embora possa ser a própria Mona Lisa de perfil, ninguém olha.

Chegou agora um grupo de jovens surdos-mudos holandeses. Postaram-se ali perplexos, o guia falou com as mãos e foram-se. Cheou um grupo de africanos. E repete-se o ritual. E ali na parede os vários Rafaéis, outros Da Vincis, do lado esquerdo os dezesseis renascentistas de primeira linha, do lado direito os dez quadros de Rafael, Andrea del Sarto e outros e na frente mais dez Ticianos, além dos Veroneses, Tintorettos etc., que ninguém vê.

O ser humano é fascinante. E banal. Vêm para ver. Não vêem nem o que vêem, nem o que deviam ver. Entende-se. Aquele cordão de isolamento em torno da Mona Lisa aumenta sua sacralidade. E tem um vigia especial. E um alarme especial contra rouba. Quem por ali passou defronte dela acionando sua câmera, pode voltar para a Oceania, Osaka e Alasca com a noção de dever cumprido. Quando disseram que viram a Mona Lisa, serão mais respeitados pelos vizinhos.

Mal entra outro grupo de turistas para repetir o ritual, percebo que Mona Lisa me olha por sobre o ombro de um deles e sorri realmente.

 Agora sei do que ri a Mona Lisa.

Lendas e Contos Populares do Paraná (Cidades de Cerro Azul/ Dois Vizinhos/ Itaipulândia/ Mamborê)

CIDADE DE CERRO AZUL
HERMÓGENES


Talvez o personagem mais conhecido do imaginário popular cerroazulense seja o “coronel” Hermógenes de Araújo, que viveu nos idos do século XIX, em tempos de coronelismo e voto de cabresto.

Hermógenes era figura muito conhecida na região, sua casa era a melhor e mais rica e ele tinha muita influência junto ao Governo do Estado, representado por Vicente Machado. Bastante conhecido pela sua dureza e crueldade, era o mandatário da região, vivendo cercado de jagunços encarregados de fazer o “serviço sujo”.

O episódio mais famoso envolvendo seu nome está relatado no livro “A Cruz do Alemão”, de Cid Destefani: é o assassinato, à tocaia, de um imigrante alemão chamado Henning. Henning foi executado por um bandido chamado Diomiro Furquim e capangas, a mando de Hermógenes, por razões políticas que envolviam nomes importantes do cenário paranaense da época, como Vicente Machado, Padre Alberto, Pároco de Curitiba e o Barão do Serro Azul.

Por ser uma figura tão peculiar, são controversas as muitas histórias a respeito dele. Conta-se que teria morrido de uma febre misteriosa que tomou seu corpo. Antes de morrer, agonizou durante vários dias e seus empregados se revezavam noite e dia, abanando o seu corpo na tentativa de aplacar o calor. Muitos diziam que era o fogo do inferno, castigando-o por seus pecados.

Conta-se, também, que depois da morte, seu túmulo vivia rachando, porque a alma não encontrava descanso. Para resolver o problema, o túmulo recebeu grossas correntes a sua volta. Mais tarde, estas correntes foram levadas para o antigo pátio da Prefeitura Municipal e conta-se que enquanto elas ali permaneceram, nada naquele local prosperou.

MAIS UMA DO HERMÓGENES

Isso foi nos tempos da primeira república. Hermógenes, o grandalhão, mandava em Cerro Azul. Sua fama é de um homem muito malvado. Era tão temido, que teve pai batizando filho com o nome de Hermógenes, como sinal de respeito e para aplacar a ira do “Sinhozinho Malta” daquele tempo.

Era um político muito vingativo, segundo a versão de alguns. Ele tinha o apoio do Governo Estadual, por ser o chefe político da região. Como “não havia” autoridade policial era ele que “fazia o serviço”, à sua maneira. Estava sempre rodeado dos seus capangas, que cumpriam religiosamente todas as suas ordens. Quando ordenava para prender alguém e este não obedecia à voz de prisão, os capangas tinham recomendação de matar.

Certa vez, conta-nos Chico Tiblier, Hermógenes teria mandado prender um camarada e disse que se não pudessem trazê-lo vivo, que trouxessem a cabeça dele. E não é que os desgraçados fizeram o serviço ao pé da letra! Trouxeram a cabeça do miserável e a colocaram na mesa. Hermógenes, ao vê-la, teria dito:

– Barbaridade! Que serviço vocês fizeram. Com o susto, o tirano desmaiou e nunca mais conseguiu ser o mesmo. A cabeça do homem foi enterrada nos fundos de sua casa, onde é hoje o bar do Jadir. Depois que Hermógenes morreu, contam muitas pessoas, a casa dele ficou assombrada. Dizem, por exemplo, que o assoalho da casa se erguia e formava um caixão.

CIDADE DE DOIS VIZINHOS
AS CAÇADAS NO GIRAU


Desde o surgimento do povoado, que deu origem ao município, o local tem dois centros: sul e norte. Quando ainda era distrito de Pato Branco, a parte sul foi denominada Girau Alto, devido à construção de um rancho

de madeira tosca, no qual os caçadores de anta colocavam-se na parte superior e ficavam de tocaia aguardando os animais selvagens que se aproximavam do lambedor, às margens do rio Girau.

Certa vez, o caçador Waldomiro Schirmer surrou uma onça com um cobertor. O animal invadira a parte baixa do galpão, promovendo um grande alvoroço. Schirmer, pensando inocentemente que se tratava de uma briga entre cães, armou-se de seu cobertor e deu algumas lambadas no lombo de um dos “cães”.

Só depois ficou sabendo pelos companheiros que o tal “cão” tinha pelo de onça, urrava como uma onça e parecia nada satisfeito, como é próprio das onças, e que, portanto, era uma onça. Testemunhas de seu susto, os companheiros afirmam que a onça ainda deve estar correndo de medo.

CIDADE DE ITAIPULÂNDIA
A ÁRVORE DA MORTE


Contam os mais antigos, que nos tempos das obragens vivia nas barrancas do rio Paraná um argentino, este contratava somente homens solteiros para trabalhar em sua propriedade. Quando o empregado pedia a conta para ir embora, o argentino fazia o acerto; depois mandava capangas executar o empregado, enforcando-o na árvore e tirando todo o seu dinheiro. Todos os mortos tinham seus nomes entalhados na árvore.

CIDADE DE MAMBORÉ
PALA BRANCA


O conhecido Pala Branca veio da região de Caçador, Santa Catarina, após um tiroteio com a polícia daquele lugar. Passou a residir na região de Pensamento e possuía um documento com o nome de Fermino Caneveze, outro com o nome de Augusto Cela e havia, ainda, um terceiro documento. Era chamado de Pala Branca, pois sempre usava um pala desta cor, para cobrir as armas de fogo que carregava presas ao seu corpo.

Ele tinha três filhos e três filhas, todos muito educados. Todos os membros de sua família eram muito acolhedores, segundo contam os antigos. Ao chegar, à noite, na casa de alguém, por mais que fosse conhecido, não incomodava. Dormia próximo à cerca e só pela manhã chamava os donos da casa.

O Pala Branca era temido por aqueles que o conheciam ou sabiam de sua fama. Ao mesmo tempo, para os amigos, era um bom homem e estes usufruíam de sua proteção. Não era difícil para ele tirar a vida de alguém. Bastava que este o provocasse, ou prejudicasse um amigo seu. Numa festa em Pensamento, um bêbado o provocou e o ameaçou com uma faca. Pala Branca afastou-se até os limites dos galhos de uma árvore. Aí o bêbado o feriu na cabeça. Pala Branca sacou sua arma e o matou. Entre os integrantes de sua gangue, destacavam-se Pé Grande, Cabeça de Tigre e Camisa de Couro.

Numa ocasião chegou a entrar a cavalo num bar em Mamborê à procura de alguém.

Alguns proprietários de cavalos procuravam fazer amizade com Pala Branca; assim, ficavam mais tranqüilos e os animais não seriam roubados. Para alguns que o conheceram, ele não era um “ladrão de cavalos”, propriamente dito. Houve casos nos quais ele e seus homens retiraram animais de propriedades, só com a intenção de prejudicar o proprietário, inimigo seu. Estes animais não eram para ser vendidos nem utilizados por Pala Branca. Ele, porém, era envolto num grande mistério. Ninguém explicava como Pala Branca desaparecia nos momentos em que sua liberdade parecia ameaçada. Casos como o de uma festa com os amigos, numa residência em Mamborê. Lá pelas tantas, apareceu a polícia à procura de Pala Branca. Simplesmente ele desapareceu, voltando ao meio dos amigos algum tempo mais tarde.

Numa ida a Pensamento com um amigo, à noite e a cavalo, após aproximadamente cinco quilômetros da cidade, Pala Branca avistou dois Jeeps da polícia vindo em sentido contrário; disse ao amigo para que seguisse adiante. Assim ele fez. Passando a ponte, os policiais perguntaram ao amigo por Pala Branca. Este disse não saber. Os policiais seguiram em frente. Minutos mais tarde Pala Branca alcançou o amigo. Acontece que naquele trecho a estrada se transformava num verdadeiro corredor, com mato e cerca dos dois lados, não havendo a mínima possibilidade de se esconder.

Numa outra feita, Pala Branca e os amigos estavam numa zona do baixo meretrício, que se localizava nas proximidades da esquina da atual Av. Paulino F. Messias e rua Pirai. A polícia apareceu de repente na porta. Pareceu ser automático: entrou a polícia, Pala Branca sumiu. Os amigos disseram aos policiais que ele estava ali e que não sabiam para onde tinha ido. Apenas sua mula foi levada para a delegacia. Uma hora mais tarde, mais ou menos, Pala Branca já estava novamente entre os amigos e as mulheres.

Quando saiu de mudança para Pinhão foi ferido e escondeu-se em Pensamento, por um certo tempo. Veio a morrer mais tarde em uma briga com seus capangas, em Laranjeiras do Sul. Nesta, morreram, além de Pala Branca, mais duas pessoas.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Ari Bandeira (Cordel: Homenagem ao “Rei do Baião” Luiz Gonzaga)

I
Ó senhor da poesia
Meu bom Deus da criação
Derramai sabedoria
E a luz da inspiração
Vou fazer uma homenagem
Ao nosso rei do baião
II
Gonzaga e sua sanfona
Cruzou sertões e agreste
E mostrou para o sulista
Que existe o nordeste
Retirante do baião
Foi um bom cabra da peste
III
Do caboclo nordestino
Sempre foi um defensor
E cunpriu o seu destino
Como Deus determinou
Mostrando que no Nordeste
Tem riqueza e tem valor
IV
Gonzaga foi alegria
Para o povo do sertão
Animando as quadrilhas
Nas noites de São João
E no forró, na vaquejada
Xaxado, xote e baião
V
Na sombra do juazeiro
Gonzaga então cantou
E voou com a aza branca
Pra mostrar o seu valor
E no baião cintura fina
O mundo se encantou
VI
Pro caboclo lá da roça
Gonzaga foi cidadão
Denunciou as injustiças
Que imperava no sertão
Com música, fé e coragem
Cumpriu a sua missão
VII
E no santo São Francisco
Gonzaga lhe tinha fé
E cantou a natureza
Na estrada de Canindé
Sob a luz da lua cheia
No sertão andando a pé
VIII
Gonzaga logo mostrou
A magia do baião
Que encantou o padre Ciço
Um homem que era São
E deixou enlouquecido
Os cabras do lampião
IX
Gonzaga e sua sanfona
Viajou por todo o mundo
Um humilde sertanejo
Nos deu orgulho profundo
E cantou pra Santidade
Papa João Paulo Segundo
X
Saiu lá do pé da serra
Lá da terra de Exu
Esse humilde sanfoneiro
Que partiu foi para o sul
E mostrou que o Nordeste
Não é só seca e céu azul
XI
O triângulo e a zabumba
Dá o ritmo e a marcação
O folejo da sanfona
Dá beleza e emoção
Quem não dança agarradinho
Não sabe dançar baião
XII
Esse tal de pancadão
Tá deixando o jovem louco
Eu prefiro o meu baião
Numa sala de reboco
Pra falar do Gonzagão
Um cordel ainda é pouco
XIII
Gonzaga o Rei do Baião
Sanfoneiro de primeira
Ele nasceu em Exu
Eu nasci foi em Barreira
Receba essa homenagem
Do poeta Ari Bandeira.
-
Fonte:
Cordel enviado pelo autor
Apoio Cultural
- Ponto de Cultura
- AESCRIBA – Ass. Dos Escritores da Região do Maciço de Baturité – CE.

Ari Bandeira (Autobiografia)

Ari Bandeira, poeta escritor e professor; sou natural da cidade de Barreira – CE.

Sou formado em Ciências pela UECE. Pós-Graduado em e Química e Biologia pela Universidade KURIOS. E sou professor da Escola José Pereira no município de Ocara – CE.

Atualmente sou Presidente da AESCRIBA – Associação dos Escritores da Região do Maciço de Baturité – CE.

Esse é meu 36º trabalho, e foi um imenso prazer escrever esta homenagem ao “Rei do Baião” este patrimônio da cultura e da musica brasileira. espero que vocês leiam, gostem e aguardem o próximo trabalho.

OBRAS

01 - A Historia de Barreira – 1998.
02 - Amor e Poesia – 2000.
03 - Vida de Estudante – 2001.
04 - Chorozinho sua Historia e devoção ao menino Jesus – 2001.
05 - Vida de Cachaceiro- 2002.
06 - Hoje Barreira tem Prefeito-2002.
07 - Mãos ao alto – 2003.
08 - Versos Contra Dengue – 2003.
09 - S.O.S Meio Ambiente – 2004.
10 - Meu Verso Maior – 2004.
11 - A Menina e a Gatinha -2005.
12 - Danisio Correa “21 anos de Historia” – 2005.
13 - Barreira e suas Barreiras – 2005.
14 - AESCRIBA – 2005.
15 - O Liceu do Horizonte – 2005.
16 - A partida - 2005
17 - Deficiência não é falta de Eficiência – 2006.
18 - Vida de Sertanejo – 2006.
19 - Salvem o planeta – 2007.
20 - O analfabeto e o alfabetizado – 2007.
21 - Santa Paulina e o Santuário em Barreira – 2007.
22 - Boca rica, arte e alegria – 2007.
23 - Uma Escola e sua historia – 2007.
24 - Antologia, II poetas do Brasil (participação) – 2007.
25 - Preserve a água – 2008.10
26 – Cidade Sem Prefeito -Abril – 2008.
27 – Cearense Fala é Assim - 2008
28– O mundo é um jardim e mamãe é uma flor – 2008
29 – A gaiola não é morada a gaiola é uma prisão – 2008
30 – Cem Anos de Patativa - 2009
31 – Danisio Correa: Escola Arvore do Saber 2008
32 – ABC da Poesia – 2009
33 – Homenagem a São Pedro Jun 2009
34 – O que é Cultura 2009
35 – O ponto de Cultura Julho de 2009

Fonte:
Autobiografia enviada pelo autor

Guerra Junqueiro (Contos para a Infância: O Malmequer)

Ouvi com atenção esta pequenina história:

No campo, junto da estrada real, havia uma casinha muito bonita, que deveis ter visto muitas vezes. Há na frente um jardinzinho com flores, rodeado por uma sebe verdejante. Ali perto, nas bordas do vaiado, no meio da erva espessa, floria um pequenino malmequer. Desabrochava a olhos vistos, graças ao Sol, que repartia igualmente a sua luz tanto por ele como pelas grandes e ostentosas flores do magnífico jardim. Uma linda manhã, já inteiramente luminosa, com as folhinhas alvas e desabrochando, parecia um sol em miniatura circundado de raios. Pouco se lhe dava que o vissem no meio da erva e não fizessem caso dele, pobre florinha insignificante. Vivia satisfeito, aspirando deliciado o calor do Sol, e ouvindo o canto da cotovia, que se perdia nos ares.

Nesse dia o malmequer, apesar de ser numa segunda-feira, sentia-se tão feliz como se fosse um domingo. Enquanto as crianças sentadas nos bancos da escola estudavam a lição, ele, sentado na haste verdejante, estudava na formosura da natureza a bondade de Deus, e tudo o que sentia misteriosamente, em silêncio, julgava ouvi-lo traduzido com admirável nitidez nas canções alegres da cotovia. Por isso, pôs-se a olhar com uma espécie de respeito, mas sem inveja, para essa avezinha feliz que cantava e voava.

– Eu vejo e ouço, ponderou o malmequer; o Sol aquece-me e o vento acaricia-me. Ora, adeus! não tenho razão de me queixar.

Dentro da sebe havia muitas flores altivas, aristocráticas; quanto menos aromas rescendiam, mais orgulhosas se aprumavam. As dálias empertigavam-se, para fingir maior tamanho que o das rosas; mas não é o volume que faz a rosa. As túlipas davam-se ares pela beleza das cores, pavoneando-se pretensiosamente. Nem se dignavam lançar os olhos ao pequenino malmequer, enquanto que o pobrezinho as admirava exclamando: – «Que ricas e que bonitas! A cotovia irá certamente visitá-las. Graças a Deus, poderei assistir a este belo espetáculo». – E no mesmo instante a cotovia dirigiu o voo, não para as dálias e túlipas, mas para a relva, junto do triste malmequer, que morto de ventura nem sabia o que havia de pensar.

E o passarinho, saltitando em roda alegremente, cantava: – «Que erva tão macia! ai! que bonita flor, com um coração de ouro, vestidinha de prata!»

Não pode imaginar-se a felicidade do malmequer!

A ave acariciou-o com o bico, gorjeou de novo, e perdeu-se depois no azul do firmamento. Durante mais de um quarto de hora não pôde o malmequer reprimir a sua comoção. Meio envergonhado, mas todo contente, olhou para as outras flores do jardim, testemunhas da grande glória que ele acabava de alcançar; mas a haste vermelha e pontiaguda das túlipas manifestava o despeito. As dálias tinham a cabeça toda inchada. Se falassem, diriam coisas bem desagradáveis ao pobre malmequer. A florinha viu isto, e ficou melancólica.

Daí a pouco entrou no jardim uma rapariguita com uma grande faca afiada e brilhante, aproximou-se das túlipas, e cortou-as uma a uma.

– Que desgraça! disse o malmequer suspirando; é horrível; foram-se todas.

E, enquanto a rapariga levava as túlipas, o malmequer alegrava-se por ser apenas uma florinha simples escondida entre as ervas. Agradecido à bondade de Deus, cerrou as folhas ao cair da tarde, e sonhou toda a noite com a luz do Sol e a cotovia.

No outro dia de manhã, assim que o malmequer abriu as folhas reconheceu a voz do passarinho, mas o seu canto era triste, muitíssimo triste. Pobre cotovia! Tinham-na encerrado numa gaiola, suspensa entre uma janela aberta; prisioneira, cantava a alegria da liberdade, a beleza dos campos e as suas antigas viagens luminosas através do espaço ilimitado.

O pequenino malmequer bem desejaria acudir-lhe: mas como? Era difícil. A compaixão pela desventurada cotovia fez-lhe esquecer as belezas que o cercavam, o doce calor do Sol e a alvura resplandecente das suas próprias folhas.

Nisto dois rapazinhos entraram no jardim. O mais velho trazia aberta uma navalha comprida e afiada como a da pequerrucha, que cortara as túlipas. Encaminharam-se para o malmequer, que não lhes compreendia as intenções.

– Levemos daqui um pedaço de erva para a cotovia, disse um dos rapazes.

E começou a fazer um quadrado profundo à volta da florinha.

– Arranca a flor, disse o outro.

A estas palavras o malmequer estremeceu de medo. Ia morrer e nunca abençoara tanto a existência, como no momento em que esperava entrar com a relva na gaiola da cotovia.

– Não; deixemo-la, tornou o mais velho. Está aí muito bem.

Foi por conseguinte poupado, e entrou na gaiola da cotovia.

O pobre passarinho, queixando-se amargamente do cativeiro, batia com as asas sangrentas nos arames da gaiola. E o malmequer, se não falava, como é que o havia de consolar em tamanha dor?

Correu assim a manhã.

– Água! exclamou a prisioneira. Saiu toda a gente, e não me deixaram ao menos uma gota de água. A garganta escalda-me, ardo em febre. Ai! Não há remédio senão morrer, longe do sol esplêndido, longe da fresca verdura e de todas as maravilhas da criação!

Depois mergulhou o bico na relva húmida, para se refrescar um pouco. Viu então o malmequer; fez-lhe um sinal de cabeça amigável, e disse-lhe afagando-o:

– Também tu, pobre flor, morrerás aqui! Em vez do mundo inteiro, que já foi meu, deram-me a tua companhia e este pedacito de relva. Nada mais! Oh! que saudades das belas coisas que perdi!

– Se eu te pudesse consolar! cismava o malmequer, incapaz do mais ligeiro movimento.

No entanto o seu hálito perfumado tornou-se mais intenso que de costume; a cotovia sentiu-o, e, apesar da sede devoradora que a obrigava a arrancar a erva, teve o máximo cuidado em não bulir, nem de leve, na pequenina flor.

Caiu a noite; e não voltara ninguém, que enchesse o bebedouro à desventurada cotovia. Então ela abriu as suas lindas asas, agitou-as angustiadamente, e pôs-se a cantar uma cançãozinha melancólica; e o seu coração, quebrado de penas, enfim, deixara de bater. O malmequer, diante disto, não pôde já, como na véspera, cerrar as folhas e dormir; curvou-se para o chão, doente de mágoa e de tristeza.

Os rapazitos só no outro dia voltaram, e, dando com o passarinho morto, debulhados em lágrimas, fizeram-lhe uma cova. Meteram o cadáver numa caixa vermelha, lindíssima, e celebraram-lhe um enterro grandioso, juncando-lhe a sepultura com folhas de rosas e madressilvas.

Pobre passarinho! Enquanto viveu e cantou, esqueceram-se dele deixando-o morrer à sede na gaiola; depois de morto é que o choraram, prestando-lhe homenagens bem inúteis.

A relva e o malmequer, deitaram-nos à poeira do caminho; a flor, que tão extremosamente amara a cotovia, dessa é que ninguém se lembrou.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – II – O pau vivente

A grande idéia de Emília não deixou mais a cabeça de Pedrinho. Só pensava em ir à Itália, ver se no quintal do homem que fez o Pinóquio não existiria ainda um resto do tal pau. Mas ir como? A pé não podia ser, porque era muito longe e teria de atravessar o oceano. De navio também não, porque dona Benta tinha um medo horrível de naufrágios e jamais consentiria que ele embarcasse.

Como resolver o problema? Desta vez foi o Visconde quem teve a melhor idéia. Esse sábio estava ficando cada vez mais sabido, depois da temporada que passou atrás da estante, entalado entre uma Álgebra e uma Aritmética. Por isso só falava cientificamente, isto é, de um modo que tia Nastácia não entendia.

— Eu acho — observou ele cuspindo um pigarrinho – que não é preciso ir à Itália para descobrir madeira com “propriedades pinoquianas”. A Natureza é a mesma em toda parte; e se lá há disso, não vejo razão plausível para que não o haja aqui também. Logo, se você procurar, bem procurado, é possível que descubra em nossas matas algum “exemplar esporádico da mirífica substância”.

Tia Nastácia, que naquele momento ia passando de trouxa de roupa à cabeça, parou, escutou o discurso, de olhos arregalados, e lá se foi, resmungando: “Que mania essa do Visconde de só falar inglês agora! Credo!” Para a boa negra, tudo que ela não entendia era inglês. Mas Pedrinho compreendeu perfeitamente e até se entusiasmou com o que o sábio disse.

— Boa idéia, não há dúvida. Vou amolar meu machadinho e amanhã cedo começarei as “investigações”.

E assim fez. No dia seguinte, logo depois do café botou o machadinho ao ombro e partiu para a floresta disposto a picar todos os paus por lá existentes até encontrar um que desse sinais de vida.

A semana inteira passou naquilo. Não deixava escapar uma só árvore. Golpeava-as todas, e aplicava o ouvido ao tronco para ver se gemia. Muitas choraram lágrimas de resina, mas gemer nenhuma gemeu durante todo aquele tempo.

— Acho que estou fazendo papel de bobo — disse ele um dia ao voltar. — Pau de Pinóquio só mesmo na Itália. A idéia do Visconde está me parecendo como o nariz dele.

Ouvindo-o dizer aquilo, Emília ficou de pulga atrás da orelha. Pôs-se a refletir que se o menino não achasse pau vivente, era capaz de lhe tomar o cavalinho, alegando que sua idéia também era como o nariz de alguém. Pensou, pensou, pensou e por fim concebeu um plano. Foi procurar o Visconde e disse-lhe:

— Largue esse livro (era uma álgebra) e diga-me uma coisa: o senhor Visconde sabe gemer?

— Nunca gemi — respondeu o sábio, estranhando a pergunta — mas não creio que seja muito difícil.

— Então gema um pouquinho para eu ver.

O Visconde, com uma careta muito feia, gemeu em vários tons o melhor que pôde.

— Muito bem — aprovou a boneca. — Sabe gemer, sim, e nesse caso preciso que me preste um grande serviço, Presta?

O velho sábio parece que tinha alguma paixão oculta pela boneca, pois se apressou a fazer uma mesura e a declarar, todo deslambido:

— Dona Emília manda, não pede.

— Pois então venha comigo.

E Emília, sem mais cerimônias, levou-o a certo lugar no campo, para lá da porteira, onde havia um velho tronco de pau caído à beira da estrada. Parou naquele ponto e disse:

— Pedrinho tem o costume de passar por aqui quando volta da mata onde anda procurando o pau vivente. E como está que não pode passar por perto de pau nenhum sem dar um golpe, já estou vendo o jeitinho dele: chega, pára e — pá! machadada neste tronco. Pois bem, vosmecê vai ficar escondido aqui neste oco de pau; assim que ele chegar, parar e der o golpe, vosmecê vai gemer – mas gemer bem gemido, com voz rouca de pau velho, está entendendo?

— Mas para que isso? — atreveu-se o sábio a perguntar.

— Não é da sua conta, Visconde. Faça o que estou dizendo e não discuta.

Nisto Pedrinho apontou lá longe, de machadinho ao ombro.

— Depressa! Depressa, Visconde! — disse Emília, empurrando o sábio para dentro do oco. — Ele vem vindo!...

O Visconde sumiu-se no oco e ela correu para casa antes que o menino a visse por ali e desconfiasse.

Pedrinho chegou e fez como fora previsto. Parou e — machadada. Mas fez aquilo por fazer, pela força do hábito, porque já não tinha a menor esperança de encontrar pau vivente nenhum. Com imensa surpresa sua, porém, o tronco gemeu. — ai! ai! ai! o que o fez dar um pulo para trás como se tivesse pisado em uma cobra.

— Homessa! — exclamou, arregalando os olhos. — Será possível que este tronco tenha gemido ou foi ilusão minha?

Para certificar-se deu novo golpe, mas de longe, meio ressabiado.

— Ai! ai! ai! — gemeu novamente o tronco. Embora andasse já por uma semana a procurar aquilo, Pedrinho ficou seriamente impressionado com o milagre e sem ânimo de meter o machado no pau para cortar o pedaço necessário à fabricação do boneco. Teve de ir ao riacho que corria perto beber uns goles d’água, que lhe acalmassem a agitação e lhe dessem coragem. A água fez efeito.

Pedrinho criou ânimo e, apesar do pau continuar a gemer, cortou dele um bom pedaço, voltando para casa a correr, na maior alegria de sua vida.

Ao penetrar no terreiro deu com a boneca sentadinha na soleira da porta, assobiando o “Pirulito que bate bate” com a cara mais inocente deste mundo.

— Achei, Emília! — gritou o menino de longe.

E ela, com a maior indiferença:

— Que é que você achou, Pedrinho?

— O pau vivente, ora essa! Que é que havia de achar se é só isso que ando procurando?

— Nesse caso, bom proveito! — murmurou a sonsa, sem erguer os olhos e a fingir que estava cavoucando o chão com um pauzinho.

O menino danou. Disse-lhe um desaforo e entrou em casa como um pé-de-vento, ansioso por contar a história dos gemidos.

— Vocês não imaginam que coisa mais espantosa! — gritou quase sem fôlego logo que todos o rodearam. — O pau gemia que nem gente de carne e osso — ai! ai! ai! numa voz que lembrava um pouco a do Visconde. Gemia de cortar o coração! Nunca imaginei que pudesse haver uma coisa assim no mundo! Um assombro!...

Pedrinho teve de repetir a história uma porção de vezes, enquanto o maravilhoso pedaço de pau corria de mão em mão, apalpado, cheirado, provado com a ponta da língua. Só tia Nastácia não teve coragem de chegar perto. Espiou de longe — e nunca fez tantos pelos-sinais nem murmurou tantos credos.

Todos comentavam, menos o Visconde e a boneca. O Visconde fingia-se absorvido na leitura do seu livro de Álgebra, mas na realidade estava observando a cena com o rabo dos olhos; de vez em quando dava sua risadinha. E Emília, essa espiava pelo vão da porta; depois saiu tapando a boca para abafar o riso, indo conversar com o seu cavalinho. Botou-o ao colo e disse-lhe ao ouvido:

— Pedrinho caiu como um pato e com certeza agora não se lembra mais de tomar você de mim. Viva! Viva! Você é meu e bem meu, e tem que brincar comigo o dia inteiro. Antes de mais nada, preciso consertar Vossa Senhoria, pois onde já se viu um cavalo sem rabo? Vou arranjar para Vossa Cavalência um lindo rabo de galo, muito mais na moda que esses rabos de cabelo com que os cavalos nascem, está ouvindo, Senhor Barão Cavalgadura Cavalcanti Cavalete da Silva Feijó?

Estava aberta a célebre torneirinha das asneiras — e aberta ficou durante todo o tempo em que Emília deu voltas pelo terreiro em procura duma boa pena de galo que servisse de cauda para o novo barão.
–––––––
Continua... O Irmão de Pinóquio – III – O concurso

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa