sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 413)


Uma Trova Nacional

Dizemos que o tempo voa,
e enquanto filosofamos,
ele vive aí... à toa,
e somos nós que voamos!
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–

Uma Trova Potiguar

A despedida, a mais leve,
fere mais do que punhais:
- Se me dizes: "Até breve",
eu cuido ouvir: "Nunca mais"...
LUIZ RABELO/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Ribeirão Preto/SP
Tema: LINHA - M/E

A linha do trem recorda
o dia em que tu partiste,
e o meu coração acorda...
pulsa a dor que produziste.
–ELISA ALDERANI/SP–

Uma Trova de Ademar

A Lua tão linda e terna,
no meu sertão, por ciúme...
Acende a sua lanterna
e apaga a do vaga-lume.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Não tenho calma!... Não posso
esquecer tão de repente,
o grande amor que foi nosso
e hoje em dia é meu somente...
–NYDIA IAGGI MARTINS/RJ

Simplesmente Poesia

Eu Sou Aprendiz.
–FLAUZINEIDE MACHADO/RN–

Entre versos e rimas,
Eu escrevo poesias
Histórias contadas
Para serem sentidas.

Entre versos e rimas,
Eu escrevo emoções
Para serem vividas
Entre corações.

Entre versos e rimas,
Saio a caminhar
Para aprender,
Para ensinar.

Entre versos e rimas,
Canto feliz
A reviver.

Estrofe do Dia

A poesia é uma fonte
que não se esgota jamais;
está nas flores, nos frutos,
no canto dos sabiás,
até na gota de orvalho
que pinga de cada galho
há versos sentimentais!
–PROF. GARCIA/RN–

Soneto do Dia

Carta.
–DÉCIO DUARTE ENNES/PR–

Escrevo-te, querida, a última carta,
e nela envio o meu saudoso adeus
com o qual seguirão os dias meus,
que de viver minha alma já esta farta!

Tudo de mim agora já se aparta,
e o próprio Amor – este menino-deus –
já me renega e põe-me entre os ateus,
a mim, cuja existência quis eu dar-ta!

Poucas palavras restam-me, bem poucas,
(talvez, até as julgues tu bem loucas...):
Ofereci-te o amor – e o recusaste!

Ofereci-te a vida – e a não quiseste!
Agora eu te devolvo o que me deste:
- Os versos de um poeta que inspiraste!

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte IV


COLISÃO.

É a seqüência desagradável de consoantes ou sílabas idênticas.

ORAÇÃO COM COLISÃO
Jorge já jantou.
REDAÇÃO MELHOR
Jorge acabou de jantar.

ORAÇÃO COM COLISÃO
O rato roeu a roupa da rainha.
REDAÇÃO MELHOR
O rato roeu os nobres tecidos que compunham os trajes da rainha.

COLOQUIALISMO.

Uso da língua na forma como é escrita, ou seja, é uma armadilha para o aluno o emprego de termos coloquiais, gíria e jargão. Expressões coloquiais só são aceitas na reprodução de diálogos. Isso não significa que o texto tenha de ser empolado, de difícil entendimento.

Evite usar as expressões: só que, que nem, é o seguinte, etc.

COLORIDA.

Procure dar, às suas personagens, uma linguagem não só adequada, mas, também, colorida por imagens pertinentes, ligadas a elas e ao assunto.

A senhora soltou um pequeno grito, e o rapaz, de vermelho que estava, fez-se cor de cera; mas Botelho procurou tranqüilizá-los.

O primeiro raio do sol encontrou Tapirapé moreno, pele molhada, com cabelo e olho bem cor de noite sem lua, sentado na folha redonda do mururu.

COMEÇO.

Uma redação não é nenhum bicho de sete cabeças. Respire fundo. Três vezes. Devagarinho. Deixe o ar chegar lá embaixo, no fundão da barriga. Visualize o umbigo. Sorria para ele. Por dentro e por fora. Escolha uma frase bem atraente. Pode ser uma declaração, uma citação, uma pergunta, um verso, a letra de uma música. Depois desenvolva o seu tema. Cada idéia num parágrafo. Por fim, conclua. Com fecho de ouro.

COMPARAÇÃO.

É a aproximação de dois termos entre os quais existe alguma relação de semelhança, como na metáfora.

Quando usar comparações, escolha a conjunção que as introduz em função do tipo de linguagem que está empregada.

Use a comparação, hipotética ou não, quando perceber que estabeleceu entre o ser que você descreve e outro uma semelhança interessante e que ela vai enriquecer seu texto.

A liberdade das almas, frágil, frágil como o vidro.

A chuva caía como lágrimas de um céu entristecido.

As chamas, como língua de monstro, saíam pelas janelas.

COMUNICAÇÃO.

Em situações de comunicação descontraída e, sobretudo, oral, você pode, conforme o caso, substituir o futuro do presente pelo imperativo.

Não saia (sairás) até que tenhamos concluído esta conversa.

Eu não sabia que ele era o meu pai. Veja (verás) que não minto, basta que me dê a oportunidade de provar.

CONCISÃO.

Elimine palavras ou expressões desnecessárias.

Escreva com clareza e, na medida do possível, diga muito com poucas palavras.

Concisão, clareza, coesão e elegância: palavras-chaves que definem um texto competente num exame vestibular.

Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Use frases curtas e evite intercalações excessivas ou ordens inversas desnecessárias.

O aluno deve expressar o pensamento com o menor número de palavras possível. Aquilo que é desnecessário deve ser eliminado. A concisão dá ênfase ao estilo. O prolixo prejudica e enfraquece o texto, além de tirar o brilho de suas idéias.

EM VEZ DE…......……………………..…………..EMPREGUE
...neste momento nós acreditamos. ………...acreditamos.
Travar uma discussão…………………………..Discutir.

CONCLUSÃO.

Não conclua sua redação, jamais, com as seguintes terminologias: concluindo, em resumo, nada mais havendo, poderia ter feito melhor, como o tempo foi curto, etc.

Termine-a, sim, com conclusões consistentes (e não com evasivas).

CONCORDÂNCIA.

Cuidado para não cometer erros gramaticais, como de concordância.

Lembre-se de que o verbo sempre concordará com o sujeito e os nomes devem estar concordando entre si.

ERRADO
Falta cinco alunos.
CERTO
Faltam cinco alunos.

ERRADO
Fazem dez dias que não chove.
CERTO
Faz dez dias que não chove.

ERRADO
Minhas férias começou.
CERTO
Minhas férias começaram. (plural, com plural, isto é, férias concordando com começaram).

ERRADO
Os meninos saltavam descalço sobre as poças d´água da rua.
CERTO
Os meninos saltavam descalços sobre as poças d´água da rua.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Paraná em Trovas Collection - 18 - Marivete Souza de Moura (Ponta Grossa/PR)

Emiliano Perneta (Ilusão) Parte 17


PUNIÇÃO DO HEREGE

Ao Leite Junior

Foi no ano de mil setecentos e treze,
No meio do esplendor de vasta diocese.
Perante o tribunal da inquisição feroz,
Ninguém ousava erguer os olhos nem a voz.
Era tal o terror, então, que só de vê-lo,
O sangue dos heróis se transformava em gelo.
Tempos nefandos de catástrofe moral,
Dos holocaustos e do veneno e punhal.
A vileza, a traição, a vergonha e o crime,
Tudo para servir a igreja era sublime.
Para a louvar, enfim, para a satisfazer,
Toda abominação era um grande prazer,
Um prazer ideal, um prazer infinito,
Insaciável, mau, diabólico, esquisito...

Ora, morava ali, quase à beira do mar,
Um moço, um fazedor de castelos no ar...
Tinha uma velha mãe e uma jovem esposa,
Que era como se fosse o aroma de uma rosa.
E viviam os três numa tal união
Como três almas a bater num coração!
Elas, metidas em lucubrações tamanhas,
Dia e noite a tecer como duas aranhas,
Teciam com amor, com singeleza e com
Arte, o linho ideal, o linho puro e bom.
Ele, sempre febril, mas de aspecto risonho,
No mármore do verso ia gravando o sonho...
Mas com tal limpidez e com uma graça tal
Como um raio de sol que ferisse um cristal.
E por isso também lhe corriam as horas,
Por esse vasto azul, magníficas, sonoras,
Bem como um colar de pérolas a cair,
Pérolas do Ceilão e pérolas d’Ofir...

O tribunal, porém, da inquisição não via
Com bons olhos crescer essa águia que subia...
Causava-lhe temor, assombrações até,
Que ele tivesse gênio e não tivesse fé.
Mas a imaginação dos filhos de Loyola,
Arrastando o bordão, de burel e sacola,
Para fazer o mal terrível e sutil,
É mais fértil talvez e maior que o Brasil.
E pois, quando passava em certo dia pela
Rua a jovem mulher formosíssima, ao vê-la,
Um abade a chamou pelo nome. Ela, assim
Interpelada, olhou: “Que desejais de mim?”
O abade era um senhor poderoso, que tinha
A ventura de ser o amante da rainha.
Tinha de Don Juan a maneira cortês,
O olhar, o gesto, a voz, o manto e a languidez.
Com o pulso de Sansão e a garganta de Baco,
Era gordo e taful, insolente e velhaco.
Tinha essas frases vãs, que sempre uma mulher
Acolhe com desdém, mas ouve com prazer.
Quando o sangrava o amor, um ferrão que aguilhoa,
Era o abade Manuel a luxúria em pessoa.
Mas, sem medo de errar, também direi, que então
Era o esteio da igreja e da religião.
“Que desejais de mim, senhor abade?” – “Filha,
O nosso encontro aqui foi uma maravilha.
Eras a ovelha ruim, que ia se desgarrar,
E eu fui, por bem dizer, teu anjo tutelar.
Pude agarrar-te, por um fio de cabelo,
Que por sinal é de um louro acendrado e belo...
Intervenção talvez daquele que nos céus
Tudo vê, minha flor. Foi o dedo de Deus.
Hoje, pela manhã, relendo teu marido,
Eu comigo pensei: eis um homem perdido!
Simbólico, através do símbolo, porém,
Ele diz o que quer, e à cabeça lhe vem.
É o inimigo, pois, mais duro e mais violento
Que investe contra nós, porque ele tem talento.
Mas é um doido também, um pobre doido, que
Não sabe contra quem está lutando, crê...
Tenho pena de ti, mas uma enorme pena,
Tu não deves seguir esse maluco, Helena.
Fui eu quem te benzeu na pia batismal,
E os santos óleos pôs e a pedrinha de sal...
Contra aquele que o mundo e as coisas todas rege
Esse doido te quer arrastar. É um herege.
Vamos, foge do mal, foge da tentação,
Entra naquela igreja e faze a tua oração. –”
A moça, erguendo o olhar, límpido como a estrela,
Feriu o abade assim, nervosamente bela:
“Se meu marido é herege eu não o sei, porém
Posso afirmar, senhor, que ele é um homem de bem;
Que é incapaz de fazer o que fazeis agora,
Encontrando na rua uma pobre senhora...
Nunca me proibiu de ir à igreja, bem sei,
Mas onde ele não for, eu também não irei.”
E inclinando de leve a formosa cabeça,
No seu passinho curto ela seguiu depressa.
Findava a luz do sol, como uma guerra em paz,
Toda vestida assim de um roxo de lilás.
Quando Helena chegou à casa, disse tudo.
O marido cingiu a blusa de veludo,
A espada; a mãe, porém, interveio: que não,
Que não fizesse tal, não havia razão,
Quem o dissera foi aquele doce guia:
Não havia razão... É porque não havia!
Ele, cuja cerviz ninguém ousou curvar,
De sua mãe bastava o mais simples olhar...
No outro dia, porém, quase ao romper da aurora,
Vieram-no chamar: que fosse sem demora...
Sem saberem por que, despedindo-se os três,
Choraram, como se fosse a última vez.

Ele foi posto, sem piedade nem mágoa,
Dentro de calabouço escuro, a pão e água.
O cabelo cortado à escovinha e os pés
Algemados, assim como os pobres galés...

Mas, um dia, através daquela estreita grade,
O perfil lobrigou asqueroso do abade,
Que lhe disse: “Tu és de uma injustiça atroz,
De uma injustiça vil para com todos nós.
Embora penses tu e a mocidade clame
Que sou mau e traidor e rancoroso e infame,
No fundo sou cristão e sou filho de Deus:
Sei perdoar, não sou como vocês, ateus!
Todo perdão, porém, somente frutifica
Quando há luz e calor e a natureza é rica.
Assim, ó meu irmão, sobretudo é mister
Que haja arrependimento em ti e tua mulher...
Que ambos saiam do mal criminoso e tamanho
Como as ovelhas que tornam ao seu rebanho.
Foi pela pena que te perdeste, pois é
Com a pena que farás a profissão de fé...
Para traçá-los já com brilho esses poemas,
Depressa mandarei arrancar-te as algemas...
Mas teu crime maior, tua condenação
Sobretudo provém dessa irreligião,
Que tu levaste ao lar, ao coração da esposa,
Que não tem mais amor nem fé religiosa...
Trêmulo de remorso ante o teu Criador,
Confessa o teu orgulho e abate o teu furor.
E antes que desça, pois, como um fogo que arde,
A ira do Senhor, que desce cedo ou tarde,
Possas remediar esse pecado vil,
Insidioso, mau, cativante e sutil,
Fazendo que essa flor, cuja doçura alveja,
Torne como um cordeiro ao seio bom da igreja:
Que chorando de dor, de vergonha e pesar,
Venha hoje mesmo aqui para se confessar.
Quero vê-la tremer, quero ter esse gozo,
Aos pés daquele que é pai todo poderoso!”
E calou-se, entreolhando o prisioneiro... Em vão...
Este a rugir de dor só respondeu-lhe: cão!

Mas dessa hora em diante, ó céu piedoso e justo,
Transformou-se a masmorra em leito de Procusto,
Em dilacerações bárbaras de punhais,
Carnificina atroz, ugolina e secreta,
Mais aguda do que se fosse uma lanceta...
Para lhe mitigar a sede mais cruel,
Faziam-no sorver taças cheias de fel.
Entre sussurros e místicos padrenossos,
Trituravam-lhe a carne e quebravam-lhe os ossos...
De tal modo que em breve esse pobre infeliz
Não foi menos nem mais do que uma cicatriz,
E nem menos nem mais do que um triste esqueleto,
De longas mãos febris e de olhar inquieto...

Vendo o verdugo, enfim, numa dessas manhãs,
Que as torturas brutais não tinham sido vãs;
Vendo que finalmente a luz dessa candeia,
Sob o vento feral da morte bruxuleia,
Como um requinte mau, jesuítico, feroz,
Alçando o olhar, erguendo as mãos, erguendo a voz,
Ele fala do céu, triunfalmente belo,
Lembra que a vida é um sonho, e a morte, um pesadelo;
E antes que de uma vez se apagasse essa luz,
Deu-lhe para beijar o corpo de Jesus.

O moribundo olhou o pálido Rabino,
Esquelético, nu, macerado e divino:
“Sei que foste, Jesus, uma espada em favor
Da justiça, do bem, da luz e do amor;
Hoje, porém, estás do lado do carrasco,
Dos que me fazem mal, dos que me causam asco:
Não te posso querer, sincero como sou!”
E virando-lhe a face, em verdade expirou.
Fevereiro – 1909

Fonte:
Emiliano Perneta. Ilusão e outros poemas. Re-edição Virtual. Revista e atualizada por Ivan Justen Santana. Curitiba: 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 16)


DA PÁ VIRADA
Pá veio do latim fala, pá. Da pá virada é a pessoa indisciplinada, degenerada. A pá emborcada, largada no solo com o lado de depósito da terra virado para baixo, é sinal de vagabundagem, indício de que o dono da pá virada não tem trabalho regular.

PÉ-DE-MEIA
É o dinheiro guardado para uma eventualidade ou com um objetivo específico. A expressão veio do costume, entre os pobres na Europa, de usar um velho pé de meia como cofre para guardar economias.

PÉ-DIREITO
É a altura entre o piso e o teto. Essa acepção veio do sentido original da palavra: coluna que sustenta um arco, uma abóbada, Com sentido equivalente, existe o francês pied-droit e o italiano piedritto. Pé (do latim pede, pé) aí tem o sentido de elemento de apoio (do teto), como em pé da mesa, pé da cadeira, pé do copo.
E direito (do latim directu, reto, que segue em linha reta, que obedece às regras) significa vertical, aprumado, reto. Em francês, o ângulo reto é chamado angle droit, ângulo direito.

ESTAR NA PINDAÍBA
Pindaíba é uma espécie de planta. Seu nome veio do tupi pindaiba, palavra formada depi"nda, anzol, + "ïwa, vara, porque a planta era usada pelos indígenas como caniço. Estar na pindaíba seria, assim, estar na miséria, contar apenas com uma vara de pescar como esperança de sobrevivência.

POIS NÃO
Coisas difíceis para um brasileiro explicar a um sueco: (a) ponto facultativo; (b) "pois não" quer dizer "sim" e "pois sim" quer dizer "não".
Dizem que "pois não", como sinônimo de "sim", seria uma forma abreviada de dizer "pois você pensa que não farei?".
"Pois não?" (com ponto-de-interrogação) é uma forma de se pôr à disposição de alguém (para dar uma informação, por exemplo).
"Pois sim" também aparece dicionarizado como um "sim" enfático, equivalente a "é claro". Popularmente, "pois sim" ganhou ares de ironia, virou sinônimo de "não mesmo, criatura" e requer uma entonação especial (experimente dizer "pois sim" no mesmo tom em que você diz "pois não"; não funciona). Na mesma linha da explicação anterior, seria uma forma abreviada de dizer "pois pensa que sim; eu não".

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Aventura do Príncipe – I – O Gato Félix

Num dia de sol muito quente Lúcia e Emília sentaram-se à sombra da jabuticabeira, à espera de Pedrinho que fora ao mato cortar varas para uma arapuca. Longo tempo estiveram as duas recordando as festas do casamento, terminadas dum modo tão estranho em virtude da eterna gulodice de Rabicó. De repente, um miado de gato.

Narizinho admirou-se, porque não havia gatos no sítio.

— Emília — disse ela de ouvido à escuta — este miado está me parecendo miado do gato Félix...

Era a primeira vez que a boneca ouvia falar em semelhante personagem.

— Quem é esse cidadão? — indagou.

— Oh, é um gato que você nem imagina que gato é, de tão inteligente e reinador! Mete-se nas maiores aventuras, aparece nas fitas de cinema, pinta o sete. Ninguém pode com a vida dele. O gato Félix sai vencendo sempre.

— Nem Tom Mix?

— Tom Mix vê o gato Félix e bota-se!...

Emília deu um suspiro.

— Ai, ai! Era com uma pessoa assim que eu desejava ser casada...

Nisto uma cara de gato apareceu numa moitinha próxima, a olhar para as duas com muita curiosidade.

— É ele mesmo! — exclamou a menina. — Juro que é o Félix!... e fez pshuit, pshuit...

O gato saiu da moita, vindo com toda a sem-cerimônia sentar-se no colo dela. Narizinho alisou-lhe o pêlo e indagou:

— Como é que anda por aqui, Félix? Pensei que morasse nos Estados Unidos.

— Ando viajando — respondeu ele. — Estou correndo mundo para fazer um estudo sobre ratos. Quero saber qual o país de ratos mais gostosos. Até no fundo do mar já estive, onde me empreguei numa corte muito bonita de um tal príncipe Escamado.

— Que bom! — exclamou a menina batendo palmas. — Não sabe que me casei com esse príncipe?

— Sei, sim. Ele mesmo me contou. Por sinal que anda morto de saudades da menina.

— E não me mandou nenhum recado?

— Mandou, sim. Mandou dizer que hoje, sem falta, vem ao sítio de dona Benta fazer uma visita à sua querida esposa. Quer matar as saudades e também conhecer sua vovó.

— Sua de quem? Minha ou dele?

— Sua e dele. O príncipe chama dona Benta de vovó.

Narizinho enterneceu-se.

— Vê, Emília? Vovó virou avó dele também... Que amor!

E voltando-se para o gato:

— Mas vem hoje mesmo ou é um modo de dizer?

— Vem, sim. Quando saí de lá, o príncipe estava aprontando a malinha de viagem, com o coche de gala já à espera na porta.

— Como é a malinha dele? — perguntou a boneca.

— Não meta o bedelho, Emília — advertiu Narizinho. — Antes vá avisar vovó e tia Nastácia da visita do príncipe. Mexa-se...

A boneca amarrou o burrinho, pois estava curiosa de ouvir a conversa do gato, e foi andando de corpo mole em direção à casa, sem a menor pressa de chegar. Enquanto isso a menina dizia ao gato:

— Continue, senhor Félix!

— Não me lembro onde estava...

— No coche...

— É verdade. O coche já está à espera dele. Vem o príncipe, vem o doutor Caramujo, vem o Bernardo Eremita, vêm todos.

Narizinho bateu palmas, e de tão contente chegou a dar um beijo no focinho do gato Félix.

— Vai ser uma lindeza! A boba da vovó e tia Nastácia vivem duvidando do que eu conto. Quero só ver a cara delas agora...

Depois chamou a boneca, que já ia meio longe:

— Emília!...

— Que é, Narizinho?

— Para onde vai indo com “tanta pressa”?

— Dar o recado que você mandou.

— Volte, boba! Não viu que falei de mentira? Emília voltou, no seu passinho duro de boneca.

— Escute — disse-lhe a menina. — Vamos hoje pregar uma grande surpresa em vovó e preciso combinar tudo com Pedrinho. Vá chamar Pedrinho. Diga-lhe que venha correndo.

— Chamar de mentira?

— Não! Desta vez é de verdade. E depressa! Vá num pé e volte noutro.

Pedrinho veio e os quatro levaram uma porção de tempo combinando a surpresa que iam pregar na pobre vovó. O gato Félix foi mandado ao encontro do príncipe para avisá-lo da hora justa em que devia chegar. Em seguida Narizinho fez recomendações à boneca.

— A surpresa vai ser no finzinho do almoço. Mas você não pegue a fazer cara de muito sabida, que vovó desconfia.

Chegada a hora do almoço, todos foram para a mesa. Nada se passou de extraordinário até o momento do café. Aí dona Benta fixou os olhos na cara da Emília e disse:

— Estou desconfiada de que vocês estão me armando alguma peça. Esse ar de sonsa da Emília não me engana.

Emília nunca soube fingir. Quando ia fingir, fingia demais e estragava o fingimento. Mas Narizinho sossegou a boa velha.

— Não é nada, vovó. Emília é uma bobinha. Nisto ouviu-se rumor lá fora, seguido de batida na porta — uma batidinha muito delicada, tic, tic, tic...

— Quem será? — exclamou dona Benta, estranhando aquele modo de bater. E gritou para a cozinha: “Nastácia, venha ver quem bate.”

A negra apareceu, de colher de pau na mão. Foi abrir, mas de acordo com o seu costume espiou primeiro pelo buraco da fechadura.

Espiou e ficou assombrada.

— Que é, filha de Deus? — perguntou dona Benta inquieta.

— Credo! — exclamou a preta. — O mundo está perdido, sinhá!...

— Mas que é, rapariga ? Desembuche...

— É uma bicharia, que não acaba mais, sinhá! O terreiro está “assim” de peixe, de concha, de caranguejo, de quanto bichinho esquisito há lá no mar. Até nem sei se estou acordada ou dormindo... — e beliscou-se para ver.

— Eu bem estava adivinhando que ia haver coisa hoje! – disse dona Benta erguendo-se da mesa para espiar também. Arrumou os óculos e, afastando tia Nastácia, olhou pelo buraco da fechadura. E ficou ainda mais assombrada do que a preta ao ver toda a população miúda do mar rodeando a casa.

— Que significa isto? — perguntou voltando-se para Narizinho.

— Não é nada, vovó. É o príncipe Escamado com sua corte que vem nos visitar. Ele quer muito conhecer a senhora.

Dona Benta olhou para tia Nastácia, de boca aberta, sem saber o que dizer.

— Eles são todos muito boa gente — continuou a menina. – Vão passar aqui a tarde e garanto que não desarrumam coisa nenhuma. Vovó pode ficar descansada.

— Mas que idéia, Narizinho, de virar esta casa em jardim zoológico! Onde iremos parar com tais brincadeiras?

— Não deixe, sinhá! — interveio a preta. — Não abra a porta. É tanto bicho esquisito que até estou tremendo de medo.

Narizinho deu uma risada.

— Eles não mordem, boba! São criaturinhas civilizadas e de muito boa educação. A preta não se convenceu.

— Eu sei! — disse ela. — Certa ocasião um caranguejo me ferrou neste dedo que até marca deixou. Não consinta, sinhá! Não deixe entrar em sua casa essa bicharia sem jeito.

E foi tratando de botar a tranca na porta. Vendo que a tranca na porta iria estragar todo o seu plano, Pedrinho saiu pelos fundos para entender-se com o príncipe, ao qual disse:

— Vovó e tia Nastácia estão tremendo de medo, sem coragem de abrir a porta. Umas bobas. Pensam que vocês são desses bichos malvados que mordem.

O príncipe, que esperava uma calorosa recepção por parte de dona Benta, ficou muito ressentido.

— Nesse caso prefiro voltar — disse com dignidade. — Não me julgo com direito de perturbar o sossego duma tão respeitável senhora.

— Isso é que não !— retorquiu Pedrinho. — Já que vieram, têm que entrar, quer as velhas queiram, quer não queiram. Se não puderem entrar pela porta, entrarão pela janela. Esperem aí...

E foi correndo buscar uma escada.
––––––––
Continua... Aventura do Príncipe – II – Entram Todos

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Balcão da Cultura em Porto Alegre


Após longas negociações, a diretoria do GNU deu luz verde ao nosso projeto. Enquanto o local da nova biblioteca, junto a sede Alto Petrópolis, aguarda a execução do projeto das quadras cobertas, sonho dos fanáticos associados do tênis, os livros abandonados, esquecidos em prateleiras, gavetas e porões, terão nova oportunidade de incentivar novos leitores.

Na primeira etapa, em local de grande circulação, na João Obino 300, será instalado o balcão da cultura. O objetivo é simples, barato e não exigirá controle algum. Não se trata de montar acervo bibliográfico, muito antes pelo contrário.

Os sócios estarão engajados numa simples tarefa. Livros em boas condições, com assuntos modernos ou mesmo clássicos, da boa leitura, serão colocados nos espaços vazios das prateleiras. Cada um ao passar poderá escolher o exemplar mais adequado à sua curiosidade. Não é obrigatória a devolução, mas o ideal, o que será divulgado, é o que importa.

— Troca de livros? — esse é o nosso lema.

Vamos levar livros para a nossa biblioteca de trânsito e retornar com outros. Pela rotatividade, espera-se que ocorra uma circulação de ideias; começa o projeto da cultura circulante no GNU.

Se a experiência der certo, a mesma será implantada nas outras duas sedes: Moinhos de Vento e Ilha do Pavão.

Para iniciar o projeto, a Editora AGE fornecerá uma carga de livros de autores gaúchos, momento de prestigiar a nossa cultura e os nossos representantes.

O que é importante, como aviso aos doadores: o momento não é de desovar livros ultrapassados, coleções antigas, enciclopédias. O local não tem espaço para outro depósito, mas procura sim obter novos donos para livros abandonados e esquecidos em locais escuros.

Entre na campanha, divulgue a idéia e incentive a leitura, principalmente para nova geração. Viajar pela imaginação é o primeiro passo para aventuras mais empolgantes e depois para descobrir as maravilhas do nosso planeta Terra usando a mochila ou avião.

O que era notícia, agora é realidade. No dia 13 de dezembro, no GNU – Sede Alto Petrópolis na Rua João Obino 300, às 18 horas, será inaugurado o “Canto da Cultura”.

Proposta para ser fato literário para a Feira do Livro de 2012 vai procurar incentivar a leitura entre os sócios do GNU.

Os livros abandonados, comidos por traças, sufocados pelo mofo terão novos donos.

Agende e venha participar trazendo um livro

Dia 13/12/2001 às 18:00horas

A cultura agradece

Fonte:
E-mail enviado por Felipe Daiello

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 412)

LAGOA DO BOMFIM-São José de Mipibu/RN
Uma Trova Nacional

Sinto sempre uma tristeza
quando o fim da tarde vem...
Acho até que a natureza
sente tristeza também!
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Se ante a ingente noite eu choro,
carente e cheio de medo,
recorro aos céus, quando imploro,
que aurora chegue mais cedo.
–UBIRATAN QUEIROZ/RN–

Uma Trova Premiada

1987 - Resende/RJ
Tema: ABANDONO - M/E

Guri de rua, sem dono,
semente em solo infecundo,
mostra no próprio abandono
a dor de ter vindo ao mundo!
–JÚLIA LEAL MIRANDA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Ela, ao receber denúncia
de coisas que eu nunca fiz,
a mim decretou renúncia
e nunca mais foi feliz!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Xepeiro, de olhos tristonhos,
à noite, exausto e sozinho,
cato no chão dos meus sonhos
a xepa do teu carinho.
–ANTONIO ROBERTO/RJ–

Simplesmente Poesia

I n t r o s p e c ç ã o
–JOÃO ALFREDO/RN–

Quero Viver
a paz íntima dos meus versos.
Sorrir,
como se libertasse o pássaro preso.
Sussurrar frases
num acalanto ao espírito,
embora o sopro morno das palavras
se fragmentem no espaço.

Estrofe do Dia


Sonhei que estava em um festival de "plumas"
com mil mulheres me pedindo autógrafos
e eu declamava poemas para algumas
perante as máquinas de dez mil fotógrafos;
embalavam-se balões coloridos
mostrando as cenas dos anos vividos
no palco nobre da minha existência!
E aplausos calorosos da plateia
galgavam versos que da minha ideia
Jorravam rápidos para a assistência.
–ANISTALDO LINS/PE–

Soneto do Dia

Mentiras...
–CAROLINA A. DE CASTRO/PE–

Sonhei contigo... estavas tão tristonho!
Dizias: “Voltarei daqui há um mês.”
E eu te esperava um ano... dois... e três...
foi apenas mentira do meu sonho!

Sonhei mais uma vez; vinhas risonho
e prometendo, assim, todo cortês:
“Voltarei amanhã.”... depois... talvez...
foi mais outra mentira do meu sonho!

Hoje sonhei contigo novamente;
notei que estavas muito diferente,
teu olhar e sorriso eram medonhos!

Despertei, tendo hirtos meus cabelos,
mas percebi que eram pesadelos
todos essas mentiras dos meus sonhos!

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte III


BRANCO.

Em caso de dar branco, procure relaxar e tente escrever qualquer coisa, desde que dentro do assunto e com um mínimo de sentido.

CABEÇALHO.

Não há pontuação após os dados do cabeçalho.

Faça o cabeçalho de sua redação completo, com todos os dados indispensáveis, dentro da estética, ou seja, organizado, perfeitamente alinhado um embaixo do outro e no centro do papel.

CACOFONIA OU CACÓFATO.

É o encontro de sílabas que formam palavras de sentido ridículo ou obsceno, com a produção de som desagradável.

ORAÇÕES COM CACÓFATOS .......ESCREVA-AS ASSIM
Meu coração por ti gela............................Meu coração gela por ti.

Vou-me já para casa................................Já estou indo para casa.

O noivo beijou a boca dela. ....................O noivo beijou-a na boca.

Nunca gaste dinheiro com bobagens.....Jamais gaste dinheiro com bobagens.

CALIGRAFIA.

Escreva com capricho e nitidez, procurando tornar sua grafia clara, uniforme e bem legível.

Se tiver a grafia ruim, faça de tudo para melhorá-la, porque uma redação escrita com capricho e grafia bonita impressiona favoravelmente.

Não invente traços novos nas letras e não enfeite demais as maiúsculas, pois o leitor do texto pode não compreender o que você está escrevendo.

CARACTERÍSTICO.

Observe os seres no que têm de mais característico. Procure traduzir essas impressões ou os fatos sem se alongar em considerações desnecessárias, que nada acrescentem de importante à cena ou ao fato.

Ombros curvados, cabelos escuros que o pente mal vira, passos arrastados – um homem ainda moço, levando consigo a carga de uma pesada e infeliz vida.

Em um canto, calada, estava Maria, com seus grandes olhos negros, cabelos que caíam em cascata pelos ombros, dona de uma beleza intrigante e misteriosa. Para ela tudo era novo e assustador.

CARTA.

É uma das formas de comunicação da língua escrita, usada desde a antiguidade. Por meio dela você (remetente) pode dizer às pessoas (destinatários) o que faz, o que pensa, o que deseja.

A primeira carta de que se tem registro foi escrita há 4 mil anos, na Babilônia e se tratava de uma correspondência amorosa.

CENA.

Para descrever aspectos de uma cena, veja se deve empregar pronomes indefinidos ou adjuntos adverbiais, de modo a ordená-la.

A escada já lhe era conhecida. No entanto, uma passadeira nova cobria os degraus desgastados, tentando trazer um pouco de claridade e alegria ao ambiente envelhecido e quase sem vida.

Uma mulher ainda jovem procurava o endereço que trazia nas mãos. Seu olhar vagava aflito. Quem a observasse poderia confundir aquela expressão ansiosa... Na verdade, o que ela esperava é que, realmente, o tal endereço não existisse.

CHAVÕES, CLICHÊS, FRASES FEITAS, JARGÕES, LUGARES COMUNS, MODISMOS.

Evite-os, pois empobrecem o texto e demonstram a ausência de originalidade, falta de imaginação e de bom gosto.

A inflação galopante, rigoroso inquérito, vitória esmagadora, astro-rei.

Caixinha de surpresas, nos píncaros da glória, encerrar com chave de ouro, nos primórdios da humanidade.

Não é fácil falar a respeito de… Bem, eu acho que… A esperança é a última que morre. …um dos problemas mais discutidos da atualidade.

CLAREZA.

Redija frases curtas e, portanto, use ponto à vontade.

Escreva com toda a simplicidade e clareza, sem embolar o assunto. Ser claro é ser coerente, conciso, não se contradizer.

São inimigos da clareza: a desobediência às normas da língua, os períodos longos e o vocabulário difícil, rebuscado ou impreciso.

O segredo está em não deixar nada subentendido, nem imaginar que o leitor sabe o que se quer dizer. Evidencie todo o conteúdo da escrita. Lembre-se de que está dando uma opinião, desenvolvendo idéias, narrando um fato. O mais importante é fazer-se entender.

TEXTO EMBOLADO—CONFUSO
Participei de um campeonato tirei segundo lugar em ping-pong e ganhei medalha de prata.
CORREÇÃO
Participei de um campeonato de “ping-pong”, no qual tirei segundo lugar, tendo ganhado uma medalha de prata.

NOTA: “Ping-pong”, entre aspas, por ser estrangeirismo.

TEXTO EMBOLADO—CONFUSO
Comemoramos o aniversário de meu pai que foi uma surpresa para ele, fizemos um churrasco com muitas bebidas.
CORREÇÃO
Comemoramos o aniversário de meu pai e, como surpresa para ele, fizemos-lhe um churrasco com muitas bebidas.

TEXTO EMBOLADO—CONFUSO
Na hora de ir embora nós fomos pela canoa, a mesma começou a balançar, eu na ponta da canoa fazendo a danada balançar, teve uma vez que a canoa quase emborcava, eu tomei um choque.
CORREÇÃO
Na hora de voltarmos, viemos numa canoa que começou a balançar, sendo que eu, que estava na ponta da canoa, fi-la balançar mais ainda. Houve um momento em que ela quase emborcava, quando tomei um grande susto.

ATENÇÃO: “Tomar um choque” é receber uma descarga elétrica. Portanto, a expressão está usada indevidamente. No caso, a expressão adequada é “tomar um susto”.

COERÊNCIA.

A coerência entre todas as partes do texto é fator primordial para se escrever bem. É necessário que elas formem um todo, ou seja, que estabeleçam uma ordem para as idéias, se completem e formem o corpo da narrativa. Explique, mostre as causas e as conseqüências.

Em muitas redações fica patente a falta de coerência. O candidato apresenta um argumento e o contradiz mais adiante. As idéias contidas no texto devem estar interligadas de maneira lógica. O vestibulando não pode expor uma opinião no início do texto e desmenti-la no final. Deve-se ter cuidado redobrado para não se cometer esse tipo de erro.

Em vestibular da FUVEST, o candidato saiu-se com a seguinte frase: “...a palidez do sol tropical refletia nas águas do rio Amazonas”. Convenhamos que o sol tropical pode ser acusado de muitas coisas, menos de palidez. O riso provocado pela leitura do texto poético é derivado de um caso de incoerência no uso da imagem.

COESÃO.

A falta de coesão provoca a redundância. Fica-se dando voltas num assunto, sem acrescentar-lhe nada de novo. É típico de quem não tem informação suficiente para compor o texto.

Em lugar de: Comprei sorvetes. Dei os sorvetes a meus filhos.

Deve-se usar: Comprei sorvetes. Dei-os a meus filhos.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Paraná em Trovas Collection - 17 - Maria Lúcia Daloce Castanho (Bandeirantes/PR)

Emiliano Perneta (Ilusão) Parte 16


GLÓRIA

Ao I. Serro Azul

Quando um dia eu descer às margens desse lago
Estígio, onde Caron, mediante uma parca
Moeda de estanho vil ou cobre, que eu lhe pago,
Há de me transportar numa sombria barca…

Quando sem um sinal, sem uma prova ou marca
De afeição, eu me for por esse abismo vago,
Vendo que sobre mim funebremente se arca
O céu, e junto a mim esse Caron pressago…

E envolvido na mais completa obscuridade,
Abandonado, e só, e triste, e silencioso,
Sem a sombra sequer do orgulho e da vaidade,

Eu tiver de rolar no olvido, que me espera,
Que ao menos possa ver o palácio radioso,
Feito de louro e sol e mirto e ramos de hera!
Curitiba, 1909

OH QUE ÂNSIA DE SUBIR HOJE MESMO A MONTANHA!

I

Sangue e lodo
E podridão,
O mundo torcia-se todo
No meio da imundície e da dissolução...
Carnificina,
Crimes os mais vis,
Com Messalina
Feita imperatriz.
Por toda a cidade
Eram vozes roucas,
Uivando, por milhões de bocas,
Os uivos tristes da ferocidade.
Dentro desse horizonte,
Sem uma linha ideal,
Sem uma ponte
Para passar além daquela bacanal,
Todo o mundo entendia que viver
Era gozar apenas a nudez
Dessas mulheres nuas,
Aquele vampirismo,
Aquele sodomismo,
Aquela fúria doida de beber,
De se torcer de bêbado nas ruas,
De se enterrar no lodo d’uma vez.
A imundície foi tal
Que os dois eram irmãos, o bem e o mal...

Mas no meio daquela escuridão
Em que andavam todos de rastros,
Olhando para o chão,
Sem poderem erguerem os olhos para os astros,
Almas sentimentais,
Misérrimos galés
Dessas prisões da Vida,
Imundas enxovias,
Tinham ânsias brutais,
Desesperos cruéis, loucas melancolias
De inda poder achar uma saída...
E no meio da mágoa que sobrevinha,
Os corações se abriam de repente,
Como janelas se abrem à noitinha,
Silenciosamente,
Na esperança de ver bruxulear,
De longe, embora, ao menos,
Mais doce do que Vênus,
A luz crepuscular...

Mas sem parar, os anos iam por aí,
E não chegava nunca a hora desse prazer
Que cada qual sentia dentro em si,
Porém sem poder ver...
E danos e gemidos
Cresciam cada vez mais;
E o ódio dos feridos
Era como se fossem uivos de animais...

II

Um pastor, porém,
Com o olhar profundo,
Como todo o mundo,
Que andava em Belém,
Tocando o rebanho
Com o seu bastão,
Uma noite olhou,
E viu, de repente,
Um brilho tamanho,
Um brilho tão doce,
Tão suavemente,
Que ele imaginou,
Que nada mais fosse
Do que uma ilusão.
Mas, quanto mais via,
Quanto mais olhava,
Mais lhe parecia
Que a luz aumentava,
Maior que uma estrela,
E de tal maneira,
Que ele deslumbrado,
Doido para vê-la,
Saiu de carreira
Por aquele lado.

Vendo-o partir, os vales e as montanhas,
Ó que suave música falaz!
E as árvores e as flores mais estranhas,
Tudo saiu logo correndo atrás...
Dentro daquela noite assim tão erma,
Daquela noite doce de luar,
A velhice esqueceu de que era velha,
A enfermidade, de que estava enferma,
E todos com o ar de quem se ajoelha,
Iam como a sorrir e a sonhar...

Era uma glória, um lírio, o encantamento,
A embriaguez, o gozo, a essência rara,
Cada vez mais formoso o firmamento,
A noite, a noite cada vez mais clara...

Era o milagre e o sonho entrelaçados,
Como se fossem rosas, como palma:
Erguiam-se do leito os entrevados,
Os cegos viam com os olhos d’alma...

A natureza, estremecida e bela,
Despertava com essa languidez,
Com esse olhar macio d’uma donzela
Que amasse enfim pela primeira vez...

Era um sussurro harmonioso em tudo:
Os astros eram como um sorvedouro,
Nos caminhos, mais doces que veludo,
Caíam folhas como se fosse ouro...

O mundo quase que a rolar de podre,
O mundo todo cheio de piolhos,
Transbordando de vinho como um odre,
Coberto de gafeira até os olhos,

Levado pelos ventos da esperança
Aos serros ínvios e aos alcantis,
Tinha sorrisos leves de criança,
Exaltações, e sonhos infantis...

Dentro daquela túnica estrelada,
Da túnica de prata do ideal,
Ia sorrindo sem pensar em nada,
Sem se lembrar do bem e nem do mal...

No meio das estradas infinitas,
Dentro daquele manto azul infindo,
De umas nervosidades esquisitas,
Ia como num sonho, ia sorrindo...

Podiam atirá-lo sobre brasas,
Às bestas-feras, aos leões, d’um salto;
Que lhe importava, se agarrado às asas
Ele voava cada vez mais alto?

Que lhe importava, a ele, o horror da mágoa,
A agonia da forca e a própria cruz,
Se através dos seus olhos cheios d’água
Via se abrir o céu banhado em luz?

Que lhe importava a lama e o ódio profundo
Com que o feriam, se ele tinha fé,
Se ele sabia desprezar o mundo,
Se ele, caindo, ia cair em pé?...

III

No meio do furor e do meu desengano,
Quando será também que há de romper-se o véu,
Para mim, que sou, mais do que o povo romano,
O homem luxurioso, e o verdadeiro incréu?

Quando essa luz virá, que às vezes, como um beijo,
Como o frêmito azul d’uma invisível asa,
De uma ânsia, que sei eu, d’um secreto desejo,
Eu sinto palpitar e quase que me abrasa?

Quando ouvirei dizer: – É por ali o caminho!
P’ra o subires, porém, é uma luta vã,
Tens de sangrar as mãos e os pés naquele espinho,
E acreditar de tarde e descrer de manhã!

Nessa estrada não há, não há senão pesares,
Uivos de fome e dor, e feras, e ladrões,
Que depois de arrancar-te o ouro que carregares,
Hão de rir-se de ti e dessas ilusões...

E é além daquele mar, e além daquele abismo,
E dos ódios brutais, e ainda talvez
Além daquele horror, e daquele egoísmo,
E ainda além, e ainda além de tudo quanto vês...

Terás de recurvar, às vezes, como um vime,
Essa espinha dorsal tão dura e inflexível,
Para poder subir a escada do Sublime,
Para poder chegar até o Inexprimível.

Terás de te bater com o máximo denodo,
Tomado de paixão, de cólera, de fúria,
Gládio nas mãos, assim como um artista doido,
Contra o Pecado vão e a incoercível Luxúria...

Tens de arrancar do seio o esplêndido Desejo,
Sem piedade e sem um suspiro sequer,
Como um troféu, como uma glória, como um beijo
Calcando sob os pés o amor dessa mulher...

Tens de vencer, escuta, as cóleras mais cegas,
O Nojo, e o Pavor, teu camarada antigo,
O Desânimo e a Dor, a que tanto te entregas,
E a Dúvida, por fim, teu pior inimigo...

Tens de arrastar na lama o manto de veludo,
E esgotar d’uma vez essa taça de fel,
E ver cair por terra o teu orgulho, e tudo,
A púrpura, e a lança, e a espada, e o broquel...

Se o puderes vencer, porém, chegando lá,
Tua alma há de fulgir, mas d’uma luz tamanha,
Batendo de prazer, teu coração crerá!... –

Oh que ânsia de subir hoje mesmo a Montanha!

Fonte:
Emiliano Perneta. Ilusão e outros poemas. Re-edição Virtual. Revista e atualizada por Ivan Justen Santana. Curitiba: 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 15)


MISSA DO GALO
Diferentemente do que possam pensar as galinhas com egos inflados, não é para elas que os galos cantam. É para demarcar seu território e dar conta disso aos outros galos. O cocorocó começa aí por volta das três, quatro horas da madrugada ou, antes disso, em edição extraordinária, para alguma notícia muito importante, o que só teria acontecido faz muitos, muitos séculos.
A missa do galo, celebrada na noite de 24 para 25 de dezembro, assim se chama em razão da crença de que um galo teria cantado à meia-noite anunciando o nascimento de Jesus.
O galo, como arauto da luz do dia, aparece na Bíblia. Quando Jesus caminha, com seus seguidores, fazendo a digestão da Última Ceia, vira-se para Pedro e o fulmina com estas palavras: "Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes!" (Mateus, 26, 34).
E assim foi. Pouco depois, enquanto Jesus é julgado, ofendido e agredido no sinédrio, a assembléia judia de anciãos, Pedro nega Jesus três vezes, dizendo que não o conhecia. Pedro poderia ter escolhido a trilha do cinismo e alegar que estava apenas cumprindo ordens de um superior.
Escolheu o arrependimento e o pranto, o que lhe restituiu a dignidade.

MUNDOS E FUNDOS
A expressão original era "mundo e fundo" e queria dizer "limpo e profundo". Mundo, como adjetivo (em desuso), significa puro (antônimo de imundo). Fundo pegou do francês o sentido de dinheiro, recursos. E, assim, mundos e fundos ficou com o sentido de quantidade ou quantia muito grande, como em "prometer mundos e fundos".

NÃO TER PAPAS NA LÍNGUA
É falar com total franqueza, sem rodeios. A questão é que diabos "papas" está fazendo aí. A expressão resultou de uma confusão na tradução do
espanhol "no tener pepita en la lengua", em que pepita faz sentido porque é um tumor que as galinhas têm na língua e que as impede de cacarejar. Quer dizer, confundiu-se pepita com papita ou papa, quando a tradução correta poderia ser "não ter pevide na língua", o problema é que pouca gente entenderia o sentido (em português, pevide, além de semente de fruta, também é uma película mórbida que aparece na língua de algumas aves e que não as deixa beber).
Em espanhol, pepita veio do latim pipita (origem do português pevide) - forma alterada de pituita, resina das árvores - e também tem os seguintes significados:
(a) semente de fruta, provavelmente em razão do líquido espesso, parecido com uma resina, em que se encontram as pevides;
(b) grão de metal (daí o português pepita).

NONATO
O sujeito chamado nonato é a negação do próprio nome. Nonato significa não nascido e veio do latim non natu.
Para não ficar mal com os Nonatos, o autor esclarece que nonato também é o nascido por meio de operação cesariana.
Conclusão: se você se chama Nonato e nasceu de parto natural, você não existe.

OMBUDSMAN
A PALAVRA É SUECA E SIGNIFICA originalmente representante. Veio do escandinavo antigo umbothsmathr, formado de umboth, comissão (da preposição um, em torno de + both, comando) + mathr, pessoa.
Em 1809, a palavra ganhou seu sentido moderno de investigador movido a queixas em razão da legislação sueca que criou o cargo de agente parlamentar de justiça com o objetivo de limitar os poderes do rei. No século seguinte, a palavra passou para o inglês e daí veio para cá, mantendo sua forma em sueco, o que confere uma dignidade enorme a quem exerce a função. Pode não ser a profissão mais importante do mundo, mas é a de nome mais imponente. Tem, entretanto, o inconveniente de ser mal entendida por quem não conhece a palavra: parece um motorista de ônibus metido a besta.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Casamento De Narizinho – VII – Vem Vindo o Socorro


Pedrinho suava na maior aflição. O socorro que pedira não vinha nunca. Quando chegasse, talvez Rabicó já estivesse estrangulado pelo monstro. O que estava retardando isso era a curiosidade do polvo. Parecia divertir-se em olhar para o focinho aterrorizado do mísero marquês de língua de fora, que revirava os olhos para todos os lados em procura da salvação. Pedrinho, que espiava a cena por uma fresta do camarote, fazia-lhe sinais para que não morresse antes da chegada do socorro. Quanto ao Visconde, estava, por ordem de Pedrinho, trepado à gávea do mastro grande para dar aviso logo que avistasse as tropas do príncipe. Mas foi coisa que nada adiantou. O Visconde era um verdadeiro sábio e os sábios são muito distraídos. Logo que chegou ao alto do mastro, distraiu-se com uma baratinha do mar que andava por ali, ficando a parafusar que nome científico poderia ela ter. Por isso não viu a chegada dos couraceiros, nem pôde dar o aviso. Eram os tais couraceiros uns terríveis caranguejos rajados, de casca rija como a da tartaruga e armados de pinças piores que boticão de dentista. Por serem muito vagarosos, vinham montados em peixes-elétricos. Chegaram, apearam. O comandante perguntou ao menino onde estava o senhor Marquês.

— No camarote número 7, bem no fundo – respondeu Pedrinho em voz baixa para que o polvo não ouvisse.

Os couraceiros foram avançando, pé ante pé. Foram avançando e, de repente, deram um pulo, todos ao mesmo tempo, e “fulminaram” o polvo. Sim, fulminaram. Como viessem montados em peixes elétricos, tinham ficado carregadíssimos de eletricidade, como pilhas, e assim, mal seus ferrões tocaram o polvo, produziu-se o terrível choque elétrico que o fulminou. E não fulminou Rabicó também? Não. Rabicó tinha-se agarrado por acaso a um pára-raio que havia ali. Isso o salvou. E mal escapou do monstro, correu, coin, coin, coin, para onde estava o menino. Mas apesar de salvo continuava, coin, coin, coin, como se ainda estivesse sofrendo alguma coisa. Pedrinho examinou-o. O pobre marquês estava com um siri ferrado na pontinha da cauda!

— Escapei dum mas caí noutro! — gemia o mísero. – Este polvinho que me está agarrado à cauda é duas vezes mais doído que o grande...

Em vez de livrá-lo do siri, Pedrinho achou graça no caso.

— Você fica lindo assim, marquês! Esse siri na cauda vai muito melhor que o laço de fita vermelha — e deixou-o como estava.

Pedrinho foi dali examinar o polvo moribundo, naquele momento rodeado dos valentes couraceiros. Nisto viu o Visconde que vinha descendo do mastro com a baratinha dentro da cartola.

— Acho que esta baratinha deve ser um Balabera gigantea das Índias Ocidentais, começou ele a explicar.

O menino ficou danado.

— E eu acho que o senhor Visconde é um perfeito palerma. Foi para pegar baratinha que eu o mandei subir ao mastro?

— É verdade! — exclamou o Visconde batendo na testa. — Esqueci-me completamente da sua recomendação. Mas não faz mal, volto para lá outra vez e assim que as tropas do príncipe apontarem ao longe darei sinal.

— Vai voltar mas é para o palácio, isso sim. Não vê que as tropas do príncipe já vieram e Rabicó já está salvo? — e pondo o marquês em marcha tomou rumo do palácio.

O Visconde seguiu atrás, com a baratinha na mão. “Será uma Balabera ou uma Stylopyga? Que pena estar tão longe aquele livro de dona Benta...” — ia pensando ele, todo rugas na testa.

Chegando ao palácio encontraram as portas fechadas. O porteiro disse-lhes que o casamento já havia começado. Pedrinho aborreceu-se.

— Essa é boa! Será que terei de assistir ao casamento de Narizinho aqui da rua? Abra a porta! — ordenou ao porteiro.

— Só com ordem do príncipe — respondeu este. Pedrinho armou o bodoque; mas mudando de idéia disse a uma minhoca do mar que estava de prosa com o porteiro:

— Senhorita, faça-me o favor de passar pelo buraco da fechadura e ir dizer ao príncipe que mande abrir a porta incontinenti, pois estou esperando aqui na rua...

Partiu a minhoca e Pedrinho, ansioso por saber o que estava se passando, trepou a uma das janelas para espiar lá dentro. E viu tudo.

Viu Narizinho deslumbrante no seu vestido cor do mar com todos os seus peixinhos. Na cabeça trazia um diadema feito das mais raras pérolas dos sete mares, e na mão um cetro de nácar todo esculpido.

Ao lado dela caminhava o príncipe no seu maravilhoso manto de rei, feito das mais raras escamas. Atrás vinha a Emília, de vestido de cauda, braço dado a um soleníssimo Bernardo Eremita. Este senhor trazia nas mãos uma salva de escama onde repousava a coroa com que o príncipe ia ser coroado. Firmando a vista, Pedrinho viu que a coroa era a tal rosquinha que a menina lhe havia mandado de presente.

— Esta Narizinho é de muita sorte! — murmurou ele consigo.

— Apanhou um marido que além de príncipe tem idéias muito felizes...

Chegados aos primeiros degraus do trono, os reais noivos principiaram a subir passo a passo, ao som das mais belas músicas que se possam imaginar. Eram cantos de sereias vindas de todos os pontos do oceano. Pedrinho, que jamais vira sereia, arregalou bem arregalados os olhos pensando lá consigo : “E a boba da vovó que não acredita em sereia?” Súbito, o príncipe parou, como se alguém estivesse a lhe mexer no pé. Olhou para baixo. Viu a minhoca com o recado. Entendeu muito bem o que ela disse e, voltando-se para Narizinho, explicou:

— É Pedrinho, o Visconde e o marquês que acabam de chegar.

— Que bom! — exclamou a menina batendo palmas. — Mas agora temos de recomeçar a festa desde o começo, se não Pedrinho fica danado.

Quem mandava no reino já era Narizinho. Um desejo seu valia por ordem terminante, de modo que o príncipe fez parar a festa para começar novamente.

Cada qual foi para o seu posto, todos muito compenetrados, à espera de que Pedrinho, o marquês e o Visconde entrassem e tomassem as poltronas que lhes estavam reservadas. As portas do palácio abriram-se afinal e os três aventureiros surgiram. Emília incontinenti notou qualquer coisa estranha na ponta da cauda do marquês.

— Que é que Rabicó tem na cauda? — interrogou ela firmando a vista. — Parece que o laço de fita virou siri... e correu para ver bem.

Verificando que era siri mesmo, desmaiou de vergonha — Ah!...

Houve grande rebuliço. Toda a corte correu para ampará-la.

Veio à pressa o doutor Caramujo, que lhe tomou o pulso demoradamente.

— Não está morta, não! — disse ele por fim. – Apenas desacordada.

— E como há de ser para acordá-la? — perguntou Narizinho ansiosa. — Não haverá éter por aqui?

— Há coisa melhor — declarou o doutor Caramujo. — Há siris. Para acordar uma criatura desmaiada, não conheço nada melhor do que botar um siri em cima. Tragam-me um siri!...

O príncipe gritou:

— Um siri! Meu reino por um siri!...

— Aqui está um — disse Rabicó voltando-se de costas para o doutor Caramujo, muito contente de ter aparecido aquele jeito de se livrar do incômodo brinco da cauda.

O doutor agarrou no siri, tirou-o da cauda de Rabicó e aplicou-o no nariz da Emília. A boneca imediatamente deu um suspiro.

— Onde estou eu? — murmurou abrindo os olhos, ainda apalermada.

— Sente-se melhor? — indagou o médico.

— Um pouco... Mas tenho a vista turva. Vejo tudo atrapalhado, como se o mundo estivesse cheio de pernas...

Eram as pernas do siri ainda penduradas no nariz dela! O doutor riu-se e, afastando-lhe do nariz aquele pernudo “éter”, guardou-o no bolso para outra emergência, dizendo:

— Um médico deve andar sempre prevenido...

Terminado o incidente, ia a festa começar de novo. Chegou o casamenteiro — outro Bernardo Eremita, muito respeitado no reino pelas suas manhas. Fora convidado não só para fazer o casamento como também para coroar o príncipe com a famosa coroa de rosquinha engastada de diamantes.

— Começa tudo de novo desde o principio! — foi a ordem do príncipe.

E tudo recomeçou desde o princípio. As sereias repetiram os lindos cantos que já haviam cantado e os noivos repetiram a marcha a passos lentos em direção ao trono nupcial! Enquanto caminhavam, uma chuva de pérolas em pó caía sobre eles. Subiram ao trono. Sentaram-se. O venerando Bernardo Eremita pronunciou as palavras sacramentais e os casou, bem casadinhos. Palmas romperam, e gritos, e hurras. Narizinho estava princesa, finalmente! Restava a coroação.

O venerando Bernardo pronunciou outras palavras sacramentais e concluiu pedindo a coroa.

Mas... que é da coroa? Havia desaparecido.

— A coroa sumiu! — murmurou o fidalgo que segurava a salva de escama, mais pálido que uma folha de papel. — Alguém furtou a coroa!...

— Miserável! — rugiu o príncipe, avançando para ele, tomado de súbito acesso de cólera. — Como deixou perder-se a mais rica jóia de meu tesouro? — e deu-lhe uma cetrada na cabeça.

Foi um rebuliço. A corte debandou apavorada. Todos sabiam que quando o príncipe surrava alguém com o cetro era sinal de fim do mundo, pior que tempestade em alto mar. Narizinho e seus companheiros acharam melhor debandarem também. Saíram dali correndo e chegaram pingando ao sítio de dona Benta. Assim que pararam para tomar fôlego, Emília voltou-se para a menina e disse:

— Eu vi, Narizinho! Juro que vi! Foi Rabicó quem comeu a coroa do príncipe!...

––––––––
Continua... Aventura do Príncipe – I – O Gato Félix

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Alerta aos Assinantes do Blog



Por uma falha minha de digitação, faço uma errata no Trovia do Assis

Ao final da postagem onde se lê
Visite e participe da Trova-Legenda de Eliana Jimenez - http://poemaemtrovas.blogspot.com

No endereço do blog da Eliana, o correto é http://poesiaemtrovas.blogspot.com

Na postagem abaixo, já foi corrigido.


Perdoem-me a falha.
José Feldman

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trova Ecológica 55 - Prof. Garcia (RN)

A. A. de Assis (Lançamento da Revista Virtual Trovia n. 144 - dezembro de 2011)

Jogos Forais de Porto Alegre – 2011
Flávio Stefani e Maurício Friedrich
Trovadores de Balneário Camboriú


INESQUECÍVEIS

Na conquista de troféus,
um só quero merecer:
chegar às portas dos céus
e a mão de Deus me acolher.
Aurolina de Castro

Gostar de ti, quem não há de?
Inspiras tal simpatia,
que a gente sente saudade
se deixa de ver-te um dia.
Colombina

Meus irmãos, tenham piedade
do infeliz que, sem talento,
na muleta da vaidade
tem seu único sustento.
Ernesto Machado

Miséria de pão maltrata...
Mas quanta gente, Senhor,
sabeis que morre ou se mata
quando há miséria de amor!
Lilinha Fernandes

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !...
Luiz Otávio

Senhor, escuta os cicios
dos excluídos, sem teto...
Troca seus ninhos vazios
por ninhos cheios de afeto!
Milton Nunes Loureiro

Parabéns, presidente Luiz Carlos Abritta.
A trova e os trovadores esperam muito de você.

BRINCANTES

Vendia colchões... vendia,
porque em nova “profissão”
ganha mais grana hoje dia
usando o mesmo colchão...
Darly O. Barros – SP

Eu vivo numa sinuca
por causa de uma vizinha:
ela desarma a arapuca
sempre que eu solto a rolinha...
Divenei Boseli – SP

O pobre do pipoqueiro
não escapa da fofoca:
faz pipoca o dia inteiro,
mas, de noite, só... “pipoca”...
Izo Goldman – SP

Ao homem muito ciumento
há um dilema que emperreia:
ou esquece o casamento,
ou casa com mulher feia!
Josa Jásper – RJ

– Preciso falar contigo...
E eu, que o conheço tão bem,
lhe disse: – Prezado amigo,
vamos falar mal de quem?...
José Fabiano – MG

Sobre o colo da visita
pula logo a cadelinha
e a visita, mesmo aflita,
tem que dizer: - Que gracinha!...
Marina Bruna – SP

Enquanto conta lorota
cantando as gatas na rua,
em casa vira chacota,
por não dar conta da sua...
Osvaldo Reis – PR

A pulga e o “pulgo” a brigar...
Foi enorme a confusão!
A pulga deixou o lar
e... foi morar noutro cão!
Renato Alves – RJ

LÍRICAS E FILOSÓFICAS

No meio da multidão,
pode ocorrer-lhe o imprevisto:
alguém, que lhe estenda a mão,
ser de novo Jesus Cristo.
A. A. de Assis – PR

Nossa cultura se entende
nas lições que eu mesmo tive;
o saber a gente aprende,
a cultura a gente vive.
Ademar Macedo – RN

Eu vi crianças brincando
junto de lindas roseiras
como aves cantarolando
nos ninhos todas faceiras
Agostinho Rodrigues – RJ

Este amor que é meu tormento
bate em casa abandonada;
responde, na voz do vento,
somente o eco – mais nada!
Amaryllis Schloenbach – SP

Sem fazer-me de rogada,
só persiste uma verdade:
a trova em mim fez pousada,
trazendo a felicidade.
Andréa Motta – PR

Tudo em ti pede carinho,
pela graça que tu és...
– Amo o teu corpo inteirinho,
beijável da testa aos pés!
Bruno Pedina Torres – RJ

No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
se estás longe, ele se arrasta;
se perto, corre demais”
Carolina Ramos – SP

Eu queria ser feliz,
Deus me deu sabedoria;
era simples aprendiz,
virei mestre da alegria.
Carmem Pio – RS

Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto sofro por você!
Conceição de Assis – MG

Um coração que se isola
cava a própria solidão
e não há melhor escola
que o convívio com o irmão.
Dáguima de Oliveira – MG

Tua amizade é tão bela
que confrange o coração.
Por isso me lembro dela
no momento da oração!
Diamantino Ferreira – RJ

Poeta mantém acesa
a chama do amor fecundo,
minimizando a tristeza
e as dores cruéis do mundo.
Djalma Motta – RN

Procure espalhar, na vida,
alegria em sua estrada,
que a alegria dividida
é sempre multiplicada!
Domitilla B. Beltrame – SP

A saudade se embaraça
e a paixão se intensifica...
Não pelo instante que passa,
mas pelo instante que fica!
Eduardo A. O. Toledo – MG

Eu não preciso de ajuda!
Quem essa frase repisa,
meu amigo, não se iluda,
é o que dela mais precisa...
Élbea Priscila – SP

Abra a porta, deixe a luz
resgatar seu coração.
Vá sem medo, faça jus
a viver nova paixão.
Eliana Jimenez – SC

Feito internauta voraz,
tu clicas minha paixão,
e eu não sou sequer capaz
de deletar a intenção!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Gerador de paz e calma,
que dispensa cerimônia,
o livro é o jantar da alma
nas noites claras de insônia.
Flavio Stefani – RS

Ao longo deste ano distribuímos trovas à mão-cheia.
Ajudamos o mundo a sonhar, pensar, sorrir. Missão cumprida.

Toda tarde o passarinho
bate as asas, quando canta.
Quanto mais longe do ninho,
mais afinada a garganta!
Francisco Garcia – RN

Espremam o coração
deste vate trovador,
e vocês conhecerão
o doce suco do amor!
Francisco Macedo – RN

Os sonhos da mocidade
são diferentes dos meus...
O jovem quer liberdade
e eu quero estar preso a Deus!
Francisco José Pessoa – CE

Um mundo melhor... queria,
para deixar aos meus netos,
onde imperasse a alegria
numa transfusão de afetos!
Gislaine Canales – SC

Nesta terra que volteia
sob ditames divinos,
somos meros grãos de areia,
transitórios inquilinos.
Humberto Del Maestro – ES

A velhice, meu irmão,
não é uma questão de idade.
É quando vai-se a ilusão
e vem chegando a saudade.
Jaime Pina da Silveira – SP

A falsa humildade é feia,
raramente é uma façanha;
geralmente é um grão de areia
se dizendo uma montanha.
J.B. Xavier – SP

Transformou nosso destino
uma pequena criança,
pois junto a Jesus menino
nasceu no mundo a esperança!
Jeanette De Cnop – PR

Grato por sua amizade,
pelo incentivo e carinho;
ter amigo é, na verdade,
jamais caminhar sozinho.
Jessé Nascimento – RJ

Na saliência do seu ventre
quanta promessa...esperança...
Que a luz do amor se concentre
na vida dessa criança!
João B. X. Oliveira – SP

Os meus versos se calaram,
à saudade sucumbi;
minhas lágrimas secaram
de tanto chorar por ti...
João Costa – RJ

Ontem... florestas... encanto...
flores a desabrochar.
Hoje... pinheiros em pranto,
grito parado no ar!
José Feldman – PR

Depois que ela me deixou,
foi pra longe e não mais veio;
a saudade atravessou
meu coração pelo meio!
José Lucas de Barros – RN

Alma serena... e que abriga
velho sonho que vagueia...
parece varanda antiga,
onde a saudade passeia!
José Messias Braz – MG

A idade, a chegar de manso,
respeitando o meu cansaço,
põe cadeiras de balanço
nas tardes por onde eu passo!
José Ouverney – SP

Partiu, deixando o seu traço
no meu caminho dos sós...
A saudade é esse espaço
que existe sempre entre nós.
José Valdez – SP

Enquanto a chuva, lá fora,
escorre pela vidraça,
choro meu pranto que, embora
passando a chuva, não passa.
Laérson Quaresma – SP

Na pouca pressa que tens
de aliviar minha saudade,
enquanto espero e não vens,
transcorre uma eternidade!
Lucília Decarli – PR

Não foi perto, nem distante
o nosso amor ideal;
nasceu da luz de um instante
e se tornou imortal!
Luiz Carlos Abritta - MG

Um abraço a todos os divulgadores de trovas.
Graças a eles os nossos versos rodam mundo.

A cada dia que passa,
muda minha realidade,
meus sonhos viram fumaça,
amores viram saudade.
Luiz Hélio Friedrich – PR

Zune o vento – na janela...
Zumbe a abelha – no jardim...
Zarpa a nau – rumo à procela...
- Zomba a saudade... de mim!...
Ma. Madalena Ferreira – RJ

A saudade é um bem guardado
que nos volta, de repente,
num presente do passado,
quando o passado é presente.
Maria Nascimento – RJ

Não há fronteira na vida
que separe um grande amor,
quando a ponte foi erguida
pelas mãos do Criador.
Olga Agulhon – PR

Oferecendo a miragem
de uma vida sem escolta
o vício vende passagem
para a viagem sem volta.
Olympio Coutinho – MG

De que estranho ingrediente
será a saudade composta,
que maltrata tanto a gente
e assim mesmo a gente gosta!
Pedro Ornellas – SP

Dos instantes devotados
a cada luta vencida,
todos estão retratados
no painel da minha vida.
Roberto Acruche – RJ

Embora livre, sozinho,
não conheço liberdade...
– Fui presa do teu carinho,
hoje estou preso à saudade!
Rodolpho Abbud – RJ

Prestigie sempre os novos trovadores.
Deles depende muito a trova para ter futuro.

Minha infância – que linguagem!
Se no céu relampejava,
eu sentia, nessa imagem,
que Deus me fotografava!
Roza de Oliveira – PR

Se a realidade me abate,
jamais me dou por vencida:
vou à luta, entro em combate
e, com fé, enfrento a vida!
Thereza Costa Val – MG

Meu coração não se expande.
Chora sozinho e sem queixa...
Sabe quando o amor é grande
pela saudade que deixa.
Therezinha Brisolla – SP

É tão vazia a paisagem,
e nem um vulto se vê...
Mas, sem ver qualquer imagem,
consigo enxergar você!
Vanda Fagundes Queiroz – PR

Vence valores, de fato,
quando em meio à discussão,
se revolta de imediato,
mas, na ofensa... dá o perdão!!!
Vânia Ennes – PR

Palavras, rica mistura
que o livro sempre nos traz,
em direção à cultura,
com a leveza da paz.
Vidal Idony Stockler – PR

Somos velhos caminhantes...
a doçura nos invade;
namoricos vão distantes,
fica o flerte da saudade!
Wagner Lopes – MG

Sem outra opção que a rotina
de esperar-te sempre em vão,
minhas noites de neblina
só gotejam solidão...
Wanda Mourthé – MG

Nós, os trovadores, felizes somos, e a todos
queremos ver felizes também. Neste Natal e sempre.

Visite e participe da Trova-Legenda de Eliana Jimenez - http://poesiaemtrovas.blogspot.com

Faça uma visitinha aqui → http://aadeassis.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 411)


Uma Trova Nacional

Com essa boca molhada
e esse aroma de hortelã,
mal disfarças a noitada,
ao beijar-me de manhã...
–LOURDES PAIVA/SP–

Uma Trova Potiguar

A saudade é um trem alado
que transporta, inconsciente,
a bagagem do passado
para o vagão do presente.
–RENATO CALDAS/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Rio de Janeiro/RJ
Tema: CONVITE - M/E

O convite amarelado,
que o envelope resguardou,
traz lembranças do passado
que nem o tempo apagou.
–SÔNIA MARIA SOBREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Um sonho que me extasia
e me traz muita esperança,
é ver livros de poesia
nas mãos de toda criança.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Buscando a calma na vida,
nos meus roteiros tristonhos,
achei a calma perdida,
perdido em meus próprios sonhos!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

A Luz da Lua Branca.
–MIFORI/SP–

A luz da lua branca me fascina
espreitando nossos beijos.
Sua chuva de prata me alucina
aumentando meus desejos.
Amor! Quando a luz da Lua
em sua janela bater,
lembre-se de que sou só sua
e sua serei até morrer!

Estrofe do Dia

A poesia está na reta
da estrada, em cima da ponte,
está na luz das auroras
que nascem por trás do monte,
está no calor das fráguas
e no soluço das águas
que se despedem da fonte.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Soneto do Dia

Realidade e Sonho
–CONCEIÇÃO A. C. DE ASSIS/MG–

Sonho contigo e penso em casamento,
pois sou “certinha” para uma aventura
e voa o sonho nesse encantamento
pensando num futuro de ternura.

E ponho endeusamento em tua figura,
querendo ser real meu sentimento,
mas esse meu desejo não perdura
se volto à realidade o pensamento.

A vida a dois... Amar ... Mas que trabalho!
Fogão e pia; as mãos cheirando a alho...
Camisa limpa, com botões, passada...

Casa arrumada, tudo a tempo e hora...
E a liberdade, nela já não mora...
Melhor sonhar, sonhar não custa nada!

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