domingo, 29 de janeiro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 458)

Pôr do Sol em Salvador/BA

Uma Trova de Ademar

Eu guardei no coração
frases que você compôs,
escritas sobre o colchão
no amanhecer de nós dois!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Entre bombas, na trincheira,
tremendo, o pobre rapaz
abraça a branca bandeira
numa súplica de paz !
–ANTONIO COLAVITE/SP–

Uma Trova Potiguar


Em noites frias, não canto,
mas a chuva, de bom grado,
tamborila um acalanto
no zinco do meu telhado.
–UBIRATAN QUEIROZ/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Nunca motejes do pobre
nem dos defeitos que vês;
por igual o céu nos cobre:
— cada qual como Deus fez.
–SOARES BULCÃO/CE–

Uma Trova Premiada


2008 - Ribeirão Preto/SP
Tema: Inclusão - Vencedora - 1o. Lugar


Tenham todos terra e teto,
sem preconceito ou fronteira
e que haja amor, não decreto,
para a inclusão verdadeira!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP

Simplesmente Poesia


M O T E :
Tu és o monstro da terra.
Eu sou a pomba da paz.

G L O S A:
Subo serra, desço serra,
ando o deserto nocivo
para dizer incisivo:
Tu és o monstro da terra,
anjo mau de toda guerra
sedutor, vil e sagaz
todo pecado te apraz
e antes que tu digas, Não!
Sou Jesus, te dou perdão...
Eu sou a pomba da paz.
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Estrofe do Dia


Pra quem de Deus se aproxima,
existe um plano perfeito,
pois o seu filho ele estima
e trata com muito jeito,
embora até haja penas,
aflições muitas, centenas,
ele sempre nos conforta,
pra cada porta que fecha,
ele sempre abre e deixa
escancarada outra porta.
–RAYMUNDO SALLES/BA–

Soneto do Dia

Nunca Mais
–ANALICE FEITOZA DE LIMA/SP–


Não voltes a bater à minha porta.
Cansei do teu amor, cansei de tudo.
Minha esperança agora está tão morta
Que já esqueci teus lábios de veludo.

Que arranjes outro alguém, pouco me importa.
Com teu amor eu nunca mais me iludo.
De ti resta a lembrança que conforta.
E outra ilusão será meu novo escudo.

De ser palhaço o coração se cansa.
Feriste meu orgulho, agora basta!
Gastei todo o meu sonho de esperança.

Não mais te quero, nem que tu destruas
De minha vida essa vontade vasta,
E nem que eu morra de saudades tuas!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor
Trova Premiada obtida nos XXI Jogos Florais de Ribeirão Preto

Monteiro Lobato (Reinações e Narizinho) - Pena de Papagaio - III - A partida


Alta madrugada os meninos pularam da cama, vestiram-se, e, pé ante pé, dirigiram-se ao pomar sem que dona Benta percebesse coisa nenhuma. Emília foi atrás, muito tesinha, também na ponta dos pés. O Visconde, de canastra às costas, fechava o cortejo. Assim que abriram a porteira, ouviram um canto de galo do lado do pé de goiaba.

— Cocóricó!

Pedrinho reconheceu a “voz”.

— É ele! — exclamou. — Já está à nossa espera no ponto marcado.

Correram todos para lá, mas como nada vissem, pararam desnorteados. Nisto um segundo cocoricó se fez ouvir no alto da goiabeira. O menino invisível, além de guloso, não perdia tempo...

— Você está aí em cima? — perguntou Pedrinho, de nariz para o ar.

— Não está “vendo”? — respondeu a voz. — Acostume-se a saber onde estou sem me ver — e para dar a primeira lição atirou com uma casca de goiaba bem na cara de Pedrinho, dizendo: — Aprendeu?...

— Aprendi — respondeu Pedrinho rindo. — Agora desça, que quero apresentar minha prima Lúcia e os outros.

— Não é preciso. Sei que Lúcia é essa de narizinho arrebitado.

A outra é a tal Emília, marquesa de Rabicó. Só não conheço o de cartolinha e canastra às costas.

— Este é o ilustre senhor Visconde de Sabugosa, um sábio.

— Que é que ele sabe ? — perguntou a voz, arrumando com outra casca de goiaba na cartola do Visconde.

Todos no sítio consideravam o Visconde um grande sábio, mas na realidade ninguém sabia o que ele sabia. Por isso atrapalharam-se com a pergunta. Mas Emília, que não se atrapalhava com coisa nenhuma, disse logo, toda espevitada:

— Ele sabe embolorar muito bem. Fica todo verdinho por fora, quando quer. É doutor em bolor.

Desta vez quem se atrapalhou foi a voz, que com certeza nunca tinha ouvido falar em bolor.

De repente — pluf! barulho de alguém que pula de árvore ao chão. Era a “voz” que havia descido, plantando-se no meio deles.

— Estamos na hora — disse ela. — Temos de partir antes que o sol nasça. Que é do mapa?

Pedrinho tirou do bolso o mapa e apresentou-o. A voz pegou-o, abriu-o e ficou a ver.

Narizinho arregalava os olhos. Aquele mapa que se abria no ar como que por si mesmo, e ficava parado, pareceu-lhe uma coisa extraordinária. O misterioso menino era invisível, mas não tornara invisíveis os objetos que pegava.

Isso deu imediatamente uma idéia a Pedrinho.

— Lembrei-me duma coisa — disse ele. — Como é muito enjoado lidar com um companheiro de viagem que a gente não pode ver, proponho que você traga uma pena no chapéu. Pela pena saberemos onde você está.

— Seria ótima a idéia — respondeu a voz — se eu usasse chapéu. Mas não uso coisa nenhuma sobre o corpo, se não todos me perceberiam e de nada valeria ser invisível.

— Ai, que vergonha! — exclamou Emília tapando a cara com as mãos. — Que não dirá dona Benta quando souber que estamos em companhia dum ente que não usa roupas?

— Deixe de ser idiota, Emília — ralhou Narizinho. — Você não entende nada de criaturas invisíveis.

Não podendo usar a pena no chapéu, que não tinha, Pedrinho propôs que a amarrasse à testa com um fio. Foi aprovada a idéia. Mas onde arranjar pena e fio?

— Tenho uma de papagaio na minha bagagem — gritou Emília. — Arreie a carga, Visconde, e abra a canastra.

O Visconde arriou a canastra, abriu-a e passou à boneca a pena de papagaio e um rolinho de fio de linha. A pena foi atada à testa do menino invisível e desde esse momento não houve mais dificuldade em lidar com ele. A pena flutuante no ar indicava a sua presença.

— Viva o Peninha! — gritou Emília — e aquele grito foi um batismo. Dali por diante só o iriam chamar assim — o Peninha.

Resolvido aquele ponto, trataram de partir. Para isso o menino invisível tirou dum saquinho certo pó de pirlimpimpim. Deu uma pitada a cada um, e mandou que o cheirassem. Todos o cheiraram — sem espirrar, porque não era rapé. Só Emília espirrou. A boneca espirrava com qualquer pó que fosse, desde o dia em que viu tia Nastácia tomar rapé. Assim que cheiraram o pó de pirlimpimpim, que é o pó mais mágico que as fadas inventaram, sentiram-se leves como plumas, e tontos, com uma zoeira nos ouvidos. As árvores começaram a girar-lhes em torno como dançarinas de saiote de folhas e depois foram se apagando. Parecia sonho. Eles boiavam no espaço como bolhas de sabão levadas por um vento de extraordinária rapidez. Ninguém falava, nem podia falar, a não ser a boneca, que em certo ponto gritou:

— Preciso mais pó, Peninha! Sinto que estou caindo!

— É que estamos chegando — respondeu a voz.

De fato. A tonteira começou a passar e as árvores foram se tornando visíveis outra vez. Segundos depois sentiram terra firme sob os pés. Tinham chegado. Os meninos abriram uns olhos do tamanho de goiabas.

Olharam em torno. Um rio de águas cristalinas corria por um vale de veludo verde. Na beira do rio, um carneirinho branco preparava-se para beber. Ao fundo, alta montanha azul erguia-se majestosa, e entre o rio e a montanha era a floresta.

— Estamos no País das Fábulas, também chamado Terra dos Animais Falantes — explicou Peninha. — Vamos começar aqui a nossa viagem pelo Mundo das Maravilhas.
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – IV - O Senhor de La Fontaine

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sábado, 28 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 68 – Angelica Vilella Santos (SP)

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Bloco do Amor)


Marca a cadência o tambor,
Já repica o tamborim,
Eu sou do bloco do amor,
Quero ser seu pierrô,
Seu palhaço e arlequim!

Quero ser seu mestre-sala
E sambar com muita arte,
Você segura o estandarte
Sambando livre e contente
Mostrando pra toda gente
Sua bela retaguarda -
Sua comissão de frente!

Quero cair na folia,
Sambar, levantar poeira,
Vou até raiar o dia
Da manhã de quarta-feira!

Vou tomar todas geladas,
Lembrar que a vida existe.
Só paro de madrugada
E, junto com minha amada,
Esquecer que o mundo é triste...

E quando a festa acabar,
O Rei Momo for deposto,
Volto de novo pro posto,
Do sonho vou acordar,
A vadiagem acabou!
É hora de trabalhar...

São Fidélis "Cidade Poema"/ RJ

Fonte:
Poema enviado pelo autor

A. A. de Assis (Trovia de Fevereiro – n. 146)



Inesquecíveis

Triste sina dos mortais
é ver, assim malfadadas,
lado a lado almas rivais,
almas gêmeas separadas...
ALBERCYR CAMARGO

Tua carta inesperada
tantas lembranças me trouxe,
que eu vivi de um quase nada
um quase tudo tão doce!...
ANALICE FEITOZA DE LIMA

Eu penso, quando anoitece,
vendo o céu todo em fulgor,
que cada estrela é uma prece
aos pés de Nosso Senhor!
COLOMBINA

A velhice é idade linda,
e não me assusta jamais...
Só não gosto mais ainda
porque ela é curta demais!...
DOM NIVALDO MONTE

Ah, saudade, esta verdade
jamais a gente abandona:
vai-se a dona da saudade,
fica a saudade da dona!
MAIA D’ATHAYDE – PE

Não foste a minha metade
pois jamais me deste um “sim”,
mas fizeste que a saudade
fosse a metade de mim!
JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO – RJ
Parabéns trovador Gerson Cesar Souza, autor da letra
do Hino da Campanha da Fraternidade de 2013.


Brincantes

O canibal, sem alento,
tentando a fome aplacar,
no dia do casamento
comeu a noiva... no altar!
ANTÔNIO J. SIQUEIRA – PA

“Não há pão? Comam brioche!",
disse a rainha ao seu povo.
Antes um pão que o deboche,
de preferência... com ovo.
DIAMANTINO FERREIRA – RJ

Que há semelhança bastante
entre os dois, eu não descarto:
lua tem quarto minguante,
velho é minguante no quarto...
JOSÉ FABIANO – MG

O terapeuta sugere:
– “Apimente” a relação!
Mas a mulher interfere:
– “Tô” fora!... Pimenta, não!
LUCÍLIA DECARLI – PR

Prometer é ato falho,
mas na política pode:
– a cada macaco um galho,
– a cada cabrita um bode...
OSVALDO REIS – PR

Ao se banhar num riacho,
distraída, minha prima
lembrou da peça de baixo
quando tirava a de cima...
RODOLPHO ABUDD – RJ

A ratazana e o ratinho
brigaram feio, de fato:
foi ciúme do vizinho,
que, na verdade, era um “gato”!
SELMA SPINELLI – SP

“Pescar, pra mim, é mania,
e é estranho que a esposa deixe...”
Ele vai pra pescaria
e ela vai “vender seu peixe”.
THEREZINHA BRISOLLA – SP

Líricas e filosóficas

Ah, poeta, como é lindo
teu trabalho, e quão fecundo...
– Noite e dia produzindo
sonhos novos para o mundo!
A. A. DE ASSIS – PR

Bilhete é sempre um recado
para ser dado escondido
a um alguém apaixonado
por outro alguém proibido!
ADEMAR MACEDO – RN

Quem tem musa inspiradora
faz quantas trovas quiser,
exaltando a sedutora
que sonha em ter por mulher!
AMILTON MACIEL – SP
Trova humorística é um modo engraçado, mas inteligente,
de dizer alguma coisa às vezes séria. – Colbert Rangel Coelho


Se a rima não é perfeita,
com certeza tem um rito:
o artífice sempre a ajeita
e o verso se faz bonito.
ANDRÉA MOTTA – PR

À noite vou namorar:
da lua já nem preciso...
Só quero ver teu olhar
fascinando o meu sorriso.
ARI SANTOS DE CAMPOS – SC

O amor, para muita gente,
é diversão perigosa.
Quem não sabe ser prudente
transforma em espinho a rosa.
ARLENE LIMA – PR

Pelo bem que me fizeste,
meu amor, muito obrigado...
Deste-me a prova inconteste
de que estou vivo... e acordado!
BRUNO PEDINA TORRES – RJ

A estrada foi destruída,
num desvio se tornou;
a paixão não permitida
nesse atalho enveredou.
CIDA VILHENA – PB

Empilhados na memória,
um a um, mesmo à distância,
escreveram linda história
os meus brinquedos de infância.
DELCY CANALLES – RS

Voltas... E eu acho tão triste
a emoção de disfarçar
que por mim, já que partiste,
nem precisavas voltar...
DIVENEI BOSELI – SP

Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar;
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
DOROTHY J. MORETTI – SP

O destino, sobretudo,
numa visão alongada,
é uma incerteza de tudo
ante a certeza do nada!
EDUARDO A. O. TOLEDO – MG

Deu-me as asas o Senhor
e, ao voar pelo infinito,
vou buscar meu grande amor,
o meu sonho mais bonito.
ELIANA JIMENEZ – SC

A escuridão, por mais densa,
também nos traz coisas belas:
sem luz se ama, se pensa,
dá-se mais valor às velas.
ELIANA PALMA – PR

Qualquer que seja o motivo
que a razão nos tente impor,
não se passa o corretivo
quando um erro é por amor!
ELISABETH SOUZA CRUZ – RJ

No mar revolto da mente
teu vulto baila na espuma:
momento louco em que a gente
sonha com o amor que se esfuma.
EVANDRO SARMENTO – RJ

Quando à tarde, ao pôr do sol,
tu te sentires tristonho,
busca teu novo arrebol
no arrebol de um novo sonho!
FRANCISCO GARCIA – RN

Se a solidão é doença
e eu só, tão debilitado,
só basta a tua presença
para que eu fique curado!
FRANCISCO PESSOA – CE

Deus, em toda a sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
GISLAINE CANALES – PR
O difícil no fácil é criar algo dentro da simplicidade
que deve caracterizar a trova. – Maria Thereza Cavalheiro


A vida é tão passageira,
para que tanto segredo?
Se você me ama, inteira,
revele ao mundo, sem medo!
GLÉDIS TISSOT – SC

Quem se perde em devaneios
não vê que o tempo, ao passar,
vai girando e, em seus volteios,
não volta ao mesmo lugar...
HERMOCLYDES FRANCO – RJ

De manhã o sol me acorda
e à noitinha me adormece.
Um “reloginho” sem corda
cujo toque nos aquece.
HUMBERTO DEL MAESTRO

Numa estrada colorida,
ou na trilha empoeirada,
se a família segue unida,
é suave a caminhada.
ISTELA MARINA – PR

A madrugada é o instante
em que o sol, com ousadia,
induz a noite – gestante –
a dar à luz... novo dia!
JAIME PINA DA SILVEIRA – SP

Que tu estejas presente,
junto a mim, é o que desejo,
inda que seja somente
o tempo exato de um beijo!
JEANETTE DE CNOP – PR

Nos momentos de perigo,
de amargura e solidão,
que conforto é o ombro amigo
e o abraço de um irmão!
JESSÉ NASCIMENTO – RJ

Este conceito traduz
um céu de muito esplendor:
– “amor é facho de luz”
– “perdão é bênção de amor!”
JOAMIR MEDEIROS – RN

Neste mundo tão mesquinho,
benditas as mães, meu Deus,
que dão amor e carinho
a filhos que não são seus.
JOÃO COSTA – RJ

As verdadeiras lições
que a mim meu pai ensinava
não vinham dos seus sermões,
mas de quando ele calava.
J. B. XAVIER – SP

Tanta gente em si perdida
entre sombras se escondendo.
Cada dia é outra vida
que em disfarces vai morrendo…
JOSÉ FELDMAN – PR

A idade, a chegar de manso,
respeitando o meu cansaço,
põe cadeiras de balanço
nas tardes por onde eu passo...
JOSÉ OUVERNEY – SP

Fez-se inverno em minha vida.
Nem luar... nem luz... só breu!
Desde a tua despedida
já nem sei mais quem sou eu.
LUIZ ANTONIO CARDOSO – SP

Nos momentos de perigo,
revés ou só de aflição,
revela-se o bom amigo
num puro estender de mão.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH – PR

Em meus rascunhos guardados,
não há mistérios... Porque
nos versos que são lavrados
o tema é sempre... você!
MARIA LÚCIA DALOCE – PR

As mães são divinas plantas
que deram flores, sementes.
Para Deus são todas santas,
com milagres diferentes.
MARIA NASCIMENTO – RJ

Pobre vai de pé no chão,
de carona, só por sorte.
Rico estaciona o carrão
e caminha por esporte...
MARINA VALENTE – SP

Qual um sol assim já posto,
totalmente num ocaso,
meu coração por desgosto
chorou nosso fim de caso.
MIFORI – SP

Xeroquei a sua imagem
e guardei na minha mente;
sempre na minha abordagem
é você que está presente.
NEIVA FERNANDES – RJ

Carrego pouca bagagem
porque na vida aprendi
que, mesmo longa a viagem,
preciso apenas de ti!
OLGA AGULHON – PR

Ao ver-te, só de passagem,
em minha vida vazia,
me sinto escrava da imagem
de uma louca fantasia.
OLGA FERREIRA – RS

Quem cultiva uma amizade
dentro do seu coração
pode morrer de saudade
mas nunca de solidão.
OLYMPIO COUTINHO – MG

Quando o vento, aos meus ouvidos,
sopra as palmas do coqueiro,
pareço ouvir os gemidos
das dores do mundo inteiro.
RENATO ALVES – RJ

Dos instantes devotados
a cada luta vencida,
todos estão retratados
no painel da minha vida.
ROBERTO ACRUCHE – RJ

Ter amor é coisa boa
por alguém que está presente,
pois, indo embora, a pessoa
leva um pedaço da gente.
ROBERTO TCHEPELENTYKY – SP

Oh que mensagem tão bela
o mar na praia nos traz
ao encerrar a procela
em brancas ondas de paz!...
ROZA DE OLIVEIRA – PR

Do nascer à despedida,
ele é sal e sol na estrada,
ele é luz em nossa vida,
sem amor não somos nada...
SÔNIA DITZEL MARTELO – PR
Na tribo dos trovadores, entre irmãos te sentirás.
Quanto mais fraterno fores, melhor trovador serás! (aaa)


O convite amarelado,
que o envelope resguardou,
traz lembranças do passado
que nem o tempo apagou.
SÔNIA MARIA SOBREIRA – RJ

Enquanto o teu ventre sofre,
menino de muitas fomes,
teu patrão guarda no cofre
o lucro do que não comes.
THALMA TAVARES – SP

Ah, juventude, quem dera
trazer-te sempre comigo,
numa eterna primavera
no meu peito, seu abrigo.
THEREZINHA TAVARES – RJ

Devemos andar na linha
e com prudência também:
"tino e caldo de galinha"
não fazem mal a ninguém!
VANDA ALVES DA SILVA – PR

Sou vaso, às vezes quebrado...
mas, cada vez, Deus permite
que eu volte a ser restaurado,
com Seu amor sem limite!
VANDA FAGUNDES QUEIROZ – PR

As melhores gargalhadas
chegam sempre de repente,
em cenas abobalhadas,
e tomam conta da gente...
VÂNIA ENNES – PR

No ser a força do ser,
na flor o encanto da flor...
Na vida o rico saber
congrega paz, luz e amor!
VIDAL IDONY STOCKLER – PR

Canto meu canto de amor,
canto meu canto de paz!
– É próprio do trovador
pôr no verso o que lhe apraz...
ZENAIDE MARÇAL – CE
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J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 12a. Parte


" REVOLVER "

Tu me tomas-te, encantada,
em tuas mãos,
(como um menino a um revolver de brinquedo)
com uma alegre ingenuidade...
..........................................................................
Só que ainda não te apercebeste
que é um revolver de verdade…

"RIO-ME"

Rio-me, e entretanto, eu sei que estou doente
que um cansaço de tudo às vezes a alma invade,
e de repente, sou como um mendigo ao fim do dia
sem ter para onde ir, à hora em que todos voltam...

Rio-me, e entretanto, eu sei que às vezes choro
sem lágrimas, sem pranto, só por dentro, e sinto
que a vida de repente é uma coisa sem nada
que lhe possa explicar um segundo que seja!

Rio-me, e entretanto, a vontade que tenho
é de às vezes deitar-me na rua, e esperar
que um vento sopre a luz dos meus olhos, mais forte,

e acabe de uma vez com o que nunca devera
um dia começar, se o fim que se anuncia
ninguém sabe seu nome: é vida, sonho, ou morte?

" SABEDORIA "

Não te percas em vã filosofia....
O negócio é viver..... Vive primeiro!
O pouco que alcançaste é o verdadeiro,
e o resto, sonho só, - tudo utopia.

Deixa passar o que não pode ser!
A esperança do vão, é doentia...
Ergue a mão ao que a mão pode colher
e ao que está longe, esquece e renuncia......

Se tiver que chegar o inesperado
colhe-o, que essa é a atitude de quem vence:
saber colher o bem predestinado.....

A Vida é o mais efêmero dos bens
nela em verdade, nada te pertence,
nem sabes aonde vais...... nem de onde vens....…

" SEM QUERER... "

Tu nada dizias...

Mas eu precisava saber
para aplacar minha dor...

Foi então que toquei tuas mãos
sem querer...

Tuas mãos, tão frias...
- Obrigado, meu amor...

" SILÊNCIO "

E porque tudo
queremos dizer...

Nunca temos tempo
de dizer nada…

" SINAL ERRADO... "

Teus olhos verdes,
traiçoeiros,
indicavam passagem livre...

Segui...

Era o abismo…

" SÓ "

Lá fora há um luar triste
molhando tudo...

Será o luar
ou serão os meus olhos ?

" SOLILÓQUIO AMARGO "

As vezes (e estamos em nossas vidas, naturalmente,
vivendo dias e noites, dias e noites
há tanto tempo . . . )

- e, de repente, um pensamento amargo e insólito
toma conta de mim.

Um dia - e ele chegará - um de nós terá
que partir,
e o outro, vai ficar.

Eu? Você? Quem terá que se despedir
sem dizer para onde? Quem terá que ficar
sem dizer para que?

Imagino esse dia, - e um estranho pavor me paralisa
por alguns momentos.
Não concebo minha vida sem Você,
e, - desculpe-me - tenho mais pena de Você
se for eu que tiver que ir embora.

Ha tantos anos vimos trazendo nossas vidas como uma vida só,
e de tal modo as juntamos que o dia em que tivermos que separá-las
a que ficar, será um simples destroço, um pedaço mutilado de vida
incapaz de sobreviver.

Para que, meu Deus? a gente construir com duas vidas
um destino só,
fazer esse trabalho dias e noites, de tantas pequeninas coisas
aparentemente insignificantes,
de momentos de puro prazer, de horas de lenta agonia,
construí-to lentamente, como quem estivesse fazendo uma
obra para sempre,
e, subitamente - sem o menor aviso, sem a menor razão,
depois de tanta coisa juntada, e sonhada, e sofrida,
uma força maior - como uma faca - corta tudo ao meio
e uma metade se enterra, e a outra metade, de pé, se desmorona
como um auto-mausoléu de areia?
.....................................................................................................
Eu te agradeço, Senhor, que este pensamento
só raramente me venha, e logo o sopres além...

Que seria de mim, afinal, se ele pousasse por mais tempo
em minha vida?

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Pedro Malasartes (Outras do Malasartes)


Andando Malasartes por uma estrada, encontrou-se com um pobre, que lhe pediu esmola. Deu um vintém ao pobre, e este que não era outro senão Nosso Senhor fez-lhe presente de um gorro vermelho, declarando-lhe que só ele Malasartes e ninguém mais poderia pôr a mão naquele objeto.

Tempos depois, cansado de vaguear pelo mundo, entendeu Malasartes de dar um passeio ao céu. Para lá se encaminhou, e depois de três dias de viagem batia no portão de São Pedro.

O santo porteiro perguntou lá de dentro quem era, e ele respondeu; perguntou o que desejava, e respondeu. O santo negou-lhe a permissão pedida; mas o viajante tanto rogou, tanto chorou que ele sempre consentiu em entreabrir a porta para que espiasse um pouco. Mal vê a fresta, Malasartes atira o gorro pra dentro e começa a gritar:

-Quero o meu gorro, quero o meu gorro!

São Pedro prontifica-se a ir buscá-lo, mas o burlão protesta:

-Não pode ser, só eu posso pegar no meu gorro. Ninguém mais, só eu. São ordens de Nosso Senhor.

São Pedro tratou de certificar-se da verdade, e veio a saber que Malasartes não mentia. Não havia outro remédio: deixou-o entrar para apanhar o gorro.

Assim Malasartes conseguiu entrar no céu. Mas não se demorou lá muito tempo...

=======================

Um dia chegou para Malasartes a hora de ir para o outro mundo, e de nada lhe valeu a esperteza; teve que marchar.

Quando se viu no estradão da eternidade, pensou no que faria e resolveu, em primeiro lugar, ir bater à porta do céu.

Lá foi; mas São Pedro, assim que o enxergou, deu-lhe com a porta na cara. Então deliberou ir ao inferno; foi, bateu, mas o porteiro, dando com o homem que surrava até os diabos, tratou de fechar o portão com quantas trancas havia e foi correndo avisar o seu rei.

Houve um rebuliço dos diabos no inferno: pavor e correrias por todos os cantos. O próprio Satanás tremeu; mas, recuperando o sangue frio, pensou, pensou e ordenou que se deixasse entrar o hóspede. E disse-lhe:

-Eu não quero você no inferno, Malasartes; você, além do que já fez, ainda é capaz de vir aqui revolucionar a minha gente.

– Tenha paciência, seu Satanás, mas aqui estou e aqui fico.

– Então vou fazer uma proposta: que se decida o seu destino pela sorte do jogo. Aceita?

-Feito!

-Se você perder, irá diretinho para o caldeirão.

– Está dito. E se eu ganhar, você me paga com uma das almas que lá estão fervendo.

Começaram o jogo, e cada qual fazia o possível para passar a perna no outro. Mas Pedro Malasartes era mais esperto e ganhou a primeira partida, depois a segunda e assim outras.

Satanás, vendo que não podia derrotar o parceiro e que ia perdendo almas sobre almas, postas em liberdade por Malasartes, mandou botar o insuportável para fora do inferno.

Malasartes andou vagando como alma penada, muito tempo, sem saber onde havia de se aboletar.. Até que um dia teve uma idéia e tocou de novo para o céu. Chegando à porta do céu, tomou uns ares muito humildes, e bateu devagarinho. São Pedro abriu um postigo, enfiou a cabeça e perguntou:

-Quem bate a estas horas?

-Sou eu, meu santo…

-Eu, quem? Diga o que quer, e toca!

-Será possível que o meu santo padroeiro não me reconheça… Pois eu sou o Pedro Malasartes.

– Malasartes?! Outra vez?! Já não lhe disse que o seu lugar não é aqui?

-Não se zangue, meu santo, meu grande santo… Sei muito bem que nunca entrarei neste lugar de glória…

-Então vamos ver, o que quer?

Malasartes, com muita brandura e muita lábia, pediu ao santo que entreabrisse ao menos a porta, um bocadinho, só para que pudesse espiar por um momento a beleza do céu. Tanto pediu e tanto fez que São Pedro o atendeu. Então, mais que depressa Malasartes atirou o chapéu pela fresta.

São Pedro bufou e descompôs o patife, e tanto barulho fez que começaram a ajuntar-se magotes de anjos e de justos ali junto da porta.

Acontece que o chapéu era um objeto terreno, além de estar muito sujo, e ninguém no céu lhe podia tocar. Mas Pedro Malasartes reclamava o chapéu, não abria mão, e enfim, para encurtar, não houve jeito senão, permitir-lhe que entrasse.

E o malandro, entrou, muito contente, com ar vitorioso.

Mas o atrevimento não ficou sem castigo. Levaram o tal para junto de um monte enorme de milho e mandaram-no contar os grãos um por um. Malasartes, que remédio! Começou a contar, a contar, a contar, e levou um mundo de tempo a amontoar os grãozinhos para um lado. Quando já estava acabando a contagem, veio um anjo e misturou tudo. E Malasartes teve de contar de novo… E até hoje lá está contando e recontando os grãos de milho, sem acabar nunca.

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 457)

Por do Sol em Santos/SP
Uma Trova de Ademar

Em Trovas vou viajando,
num simpósio de amizade,
aprendendo e praticando
lições de fraternidade.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


O amor de mãe é sublime,
que se chega à conclusão:
Se amar ao filho for crime
nenhuma mãe quer perdão.
–CARLOS AIRES/PE–

Uma Trova Potiguar


A gente paga a comida,
a gente paga a cachaça,
paga por tudo na vida
mas Amizade é de graça...
–HELIODORO MORAIS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Família – escola que traz,
com muitas lições de vez,
todo o bem que a gente faz
e todo o mal que se fez.
–CORNÉLIO PIRES/SP–

Uma Trova Premiada


2010 - Brag. Paulista/SP
Tema: CAMINHADA - Venc.


Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
–PROF. GARCIA/RN–

Simplesmente Poesia

UM CONTO DE: BARTOLOMEU CAMPOS QUEIROZ/MG
“HOMENAGEM PÓSTUMA”


Há muitos e muitos anos, não muito longe daqui,
vivia uma menina que sonhava em ter a Lua.
E, por mais que a mãe lhe dissesse que a Lua ficava longe e era fria,
mais a menina chorava e pedia. Para distrair a filha, a mãe tecia e bordava seus
vestidos com luares de prata, pacientemente.
O pai enfiava em fios de seda pérolas brancas e lisas, cultivadas em conchas,
para o colar da menina. Mas nada trazia a felicidade para a filha, que sonhava, dia e noite,
noite e dia, em ter a Lua, mesmo sendo longe e fria.
Muitas vezes, buscando consolar a menina, a mãe dizia: Filha minha, o caminho da Lua
é muito dentro da noite. Em seu escuro, além de estrelas e constelações,
grandes dragões cortam as estradas com raios, trovões e labaredas.
Nas nuvens da noite dormem morcegos com asas longas, capazes de esconder
outros vampiros e demônios. Mas nada desviava o desejo da menina de morar na Lua,
mesmo sendo longe e fria.
Uma tarde o pai não voltou do trabalho. Perdeu-se nas sombras da floresta
colhendo os frutos mais saborosos, fabricados pela ternura das estações,
para presentear à filha. A noite já andava alta, e a mãe, debruçada na janela,
com os olhos fixos no caminho que traria o esposo, caiu em um sono grande e mais profundo
que o firmamento. E a menina, sonhando com a Lua, aproveitou o descuido dos pais
e tomou o caminho de São Tiago, buscando a Lua, longe e fria.
A estrada era feita de neblina e poeira de estrela, brilhante como o vidro.
Mas entre uma estrela e outra havia o nada. E o nada era imenso e vazio.
Ela assentou-se na primeira estrela, debruçada sobre a noite. Muito triste, começou a chorar.
E seu intenso pranto choveu por sobre a Terra. E eram tantas as lágrimas que um oceano,
salgado e misterioso, se formou. A mãe da menina, com medo de se afogar,
pediu ajuda aos céus e transformou-se em espírito das águas.
O pai, sem a esposa e a filha, cheio de amor, salvou-se em um pequeno barco
e passa as noites e noites navegando nos mares, procurando a mulher e a menina querida.
Naquela noite, os soluços da menina chamaram a atenção de um cavaleiro
que galopava pelas estradas de São Tiago. Escutando o pranto, cheio de pena,
aproximou-se da menina. Adivinhando o seu desejo de ter a Lua, mesmo sendo longe e fria,
oferece-lhe ajuda. A menina montou na garupa do cavalo branco.
E, como o cavaleiro era São Jorge, não foi difícil chegar à Lua.
E até hoje, se a noite é clara, a menina desce com a Lua para
o fundo dos mares, rios e oceanos,
visita o espírito das águas e ilumina o caminho para o pescador de estrelas.

Estrofe do Dia

Que o seu lar se transforme num pomar
onde os solos mais férteis, mais humosos,
gerem frutos sadios, saborosos,
sem a água da chuva lhe faltar;
você próprio se empenhe em cultivar
sem fazer concorrência com ninguém,
dando às plantas o zelo que convém
prá que possa colher milhões de quilos;
e no final da colheita dividi-los
com os pobres famintos que não têm.
–PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Soneto do Dia

Apelo
–ENO TEODORO WANKE/PR–


Eu venho das lições dos tempos idos
e vejo a Guerra no horizonte armada.
Será que os homens bons não fazem nada?
Será que não me prestarão ouvidos?

Eu vejo a humanidade manejada,
em prol dos interesses corrompidos.
É mister acabar com esta espada
suspensa sobre os lares oprimidos.

É preciso ganhar maturidade
no fomento da paz e da verdade,
na supressão do mal e da loucura...

Que a estrutura econômica da guerra
se faça em pó! E reinem sobre a Terra
os frutos do trabalho e da fartura!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Francisco Cândido Xavier (Trovadores do Além) Parte 5


201
Em toda parte encontramos
Este princípio divino:
Deus faz o tempo uniforme,
O homem faz o destino.
LUCÍDIO FREITAS

202
No lar – palácio ridente
Dos mais belos que há nomundo -,
Se o perdão mora na frente,
A paz reside no fundo.
ALBERTO FERREIRA

203
Há na morte uma saudade
Que ninguém no mundo explica:
Quem fica, chora quem foi;
Quem foi, lamenta quem fica.
JOSÉ ALBANO

204
Do Além, onde a luz nos guia,
Sem que se saiba porquê,
Tudo aquilo que se via
É a casca do que se vê.
BENEDITO CANDELÁRIA IRMÃO

205
Felicidade é uma lei
Que se cumpre sem reclamos
Só temos felicidade
Na medida da que damos.
JÔNATAS BATISTA

206
Amor, quando é verdadeiro,
Quanto mais dor mais ardente...
Quanto mais pedras na fonte,
Tanto mais dura a corrente.
TEOTÔNIO FREIRE

207
Mãe distante eternamente?!...
Isso nunca sucedeu.
Toda mãe está presente
Nos filhos que Deus lhe deu.
CELESTE JAGUARIBE

208
Considera os dissabores
Quais furacões de fumaça...
Poeira de muita cores
Que sufoca, ensina e passa...
OSCAR BATISTA

209
Horrível transe sacode
As forças do coração,
Quando a vida diz que pode
E a morte afirma que não.
FRANCISCO OTAVIANO

210
Ser mãe – amor vivo e brando –
É ser fonte de alegria
A desgastar-se, cantando,
Nas pedras de cada dia.
MARIA CELESTE

211
Matemática esquisita
Acerta contas no Além!...
A dor que nos parasita
Multiplica o nosso bem.
BERNARDO DE PASSOS

212
Aviso dos mais profundos,
Conceito dos mais felizes:
Nunca digas o que sabes
Sem que saibas o que dizes.
TELES DE MEIRELES

213
Mãezinha – planta celeste,
Anjo que chora sorrindo -,
Teu filho é a flor que puseste
No ramo de um sonho lindo.
MEIMEI

214
Passado é presente agora
Ante o futuro sem fim.
A vida passou por fora
Mas ficou dentro de mim.
LUÍS MURAT

215
Cada qual no bem que possa.
Céu não se alcança de salto,
Roseira produz no chão,
Estrela brilha no Alto.
LOBO DA COSTA

216
Extingue, paciente e brando,
O mal, a sombra, a mentira...
O rio lava, cantando,
A pedra que se lhe atira.
VIRGÍLIO BRANDÃO

217
Se a afeição te envolve em chama,
Não sigas rindo à matroca,
Porque a hera também ama
O arbusto que ela sufoca.
ANÍSIO DE ABREU

218
Beleza apenas no corpo,
Exaltada a figurino,
É um cheque tamanho grande
Com crédito pequenino.
JOVINO GUEDES

219
Cessa o pranto que te corre,
No instante do grande adeus!...
Há muita gente que morre,
Rendendo graças a Deus.
FIDÉLIS ALVES

220
Felicidade sem fim?...
Só se encontra indagação.
Quem procura diz que sim,
Quem procurou diz que não.
ALBERTO FERREIRA

221
Na Terra, a vida é batalha,
Não te enganes, senda afora.
Quem chora, às vezes, gargalha,
Gargalha, às vezes, quem chora.
MILTON DA CRUZ

222
Mãe triste que luta e chora,
As suas lágrimas são
As pérolas cor da aurora
Na concha do coração.
ANTONIETA SALDANHA

223
Sem afeto imaginário,
O amigo diz o que sente.
O futuro adversário
Bajula constantemente.
LOPES FILHO

224
Sou teu... Ampara-me e esquece...
Já não busco o que se foi.
Basta me digas em prece:
- “Filhinho, Deus te abençoe!...”
JOSÉ BARTOLOTA

225
Não olvides que a criança,
No caminho, vida afora,
Vai devolver-te, mais tarde,
O que lhe deres agora.
CASIMIRO CUNHA

226
Em todo e qualquer caminho,
O bem, que jamais se cansa,
Na ponta de cada espinho
Põe a rosa da esperança.
EUGÊNIO SAVARD

227
Na luta, fala, mas fala
A fala que ampara e ensina.
Doente que fala muito
Desnorteia a Medicina.
DERALDO NEVILE

228
Sepulcros – sombra, deserto...
Jazigos – riqueza em vão...
Quanto Espírito liberto
Acorrentado no chão!...
CORNÉLIO PIRES

229
No caminho onde a ilusão
Cobrou a tempo o que é seu,
A morte apenas enterra
O afeto que já morreu.
JOSÉ ALBANO

230
Da menor felicidade
Só há o sinal que eu dou:
Onde aparece a saudade,
Felicidade passou.
ADERBAL MELO

231
Nada pede, nada espera
A bondade quando é pura.
Quem dá para receber
Maneja o laço da usura.
RODRIGUES DE CARVALHO

232
Na fazenda grande e bela,
O rico e duro senhor
Renasceu, volvendo a ela,
Por simples cultivador.
AMÉRICO FALCÃO

233
Há quem abusa e se gaba,
Mas esquece ( e é sempre assim)
Que quando a festa se acaba
A conta é paga no fim.
SOARES BULCÃO

234
Meu amor por tí é tanto,
Tem tanta fé, tanto brilho,
Que apenas para fitar-te
Amanhã serei teu filho.
JOVINO GUEDES

235
Depois da morte, a tristeza
Não é ver o bem perdido...
Mudança não é surpresa,
Tristeza é ser esquecido.
HELVINO DE MORAIS

236
Quanto agora me comovo!
Tolo, quisera morrer,
Mas quero nascer de novo
Para dormir e esquecer.
ALCEU WAMOSY

237
Ai do lume da afeição
Que não fica na amizade!...
Quanto maior a paixão,
Menor a felicidade.
SOUZA LOBO

238
Suor de todo momento –
Vida elevada de plano.
Dia atolado na rede –
Suicídio cotidiano.
DELFINA BENÍGNA DA CUNHA

239
Fraqueza!... Triste fraqueza,
Igual à minha não vi.
Sei que não devo buscar-te
E vivo pensando em ti.
TARGÉLIA BARRETO

240
A Terra é um trem com apoio
Nos trilhos do Eterno Bem.
Quem nasce toma o comboio,
Quem morre desce do trem.
TONINHO BITTENCOURT

241
Estuda, contentte e brando,
Esta mensagem fraterna:
Sem a dor aconselhando,
A alegria desgoverna...
LINDOLFO GOMES

242
Enquanto a luz não se oponha
A sombra da fantasia,
Sempre vigia quem sonha,
Sempre sonha quem vigia.
ANTÔNIO SALES

243
Coração, serve e perdoa,
Esquece ofensas e mágoas...
A fonte, de pedra em pedra,
Retira o lodo das águas.
ARTUR RAGAZZI

244
Dois de Novembro assinala
Contradições de doer...
O vivo busca lembrar,
O morto quer esquecer.
EUGÊNIO RUBIÃO

245
Atormentei-te, querida!...
Hoje debalde te louvo...
Agora, para encontrar-te,
O jeito é nascer de novo.
JOSÉ NAVA

246
Verdade clara e sabida
Que muita encrenca nos poupa:
Nem a roupa mostra a vida,
Nem a vida mostra a roupa.
EMÍLIO DE MENEZES

247
Ninguém decifra o problema,
Por mais que mexa e remexa:
Só temos felicidade
Na lembrança que ela deixa.
ANTÔNIO AZEVEDO

248
Louva no corpo fugace
A luz do pranto que escorre
Da esperança de quem nasce,
Da agonia de quem morre.
SEBASTIÃO RIOS

249
Prazer na carne! Façanha,
Jogo de achar e esconder!...
No mundo, quem perde ganha,
Quem ganhou vem a perder.
BERNARDO DE PASSOS

250
A saudade, além do mundo,
Na alegria da amplidão,
Parece espírito cravado
No cerne do coração.
DA COSTA E SILVA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

Lendas e Contos Populares do Paraná (Paranaguá)


PARANAGUÁ
A Lenda do Pirata Zulmiro


A incandescida imaginação do vulgo sempre inclinado ao maravilhoso, acolhe e acaricia sedutoras e extravagantes lendas, como essa do pirata Zulmiro, que chegou a convencer meio mundo da existência de tesouros que esse suposto ladrão do mar, após abandonar uma vida aventurosa e inçada de crimes, teria ido esconder num sítio dos arredores de Curitiba.

A esse misterioso personagem se prende a fama dos tesouros da ilha da Trindade, divulgada na década de 1920 por um farmacêutico paulista possuidor de velho documento com a indicação do lugar exato onde, no solitário rochedo, distando 300 léguas da costa do Espírito Santo, jaziam as fabulosas riquezas, produto das piratarias exercidas no Atlântico pelo famoso flibusteiro.

Zulmiro, segundo o dono do documento, seria nome de guerra, arranjado para ocultar a verdadeira personalidade de um Lorde, talvez filho segundo de alguma das grandes casas da Inglaterra, ingressado jovem na marinha do seu país e da qual desertou nos agitados dias do primeiro quartel do século retrasado, na Europa sacudida pelas guerras napoleônicas, para entregar-se às criminosas atividades do ofício de pirataria.

Até que um dia, capturado o seu navio por um vaso de guerra britânico, descobriu o comandante deste no capitão prisioneiro um antigo colega da Escola Naval, resolvendo, para não enforcá-lo, como mandavam as leis penais inglesas, desembarcá-lo na costa mais próxima (a Barra de Paranaguá), sob condição de se internar no continente e nunca mais aparecer. Deu-lhe três libras esterlinas e uma Bíblia, únicos haveres com que contou o infeliz para fazer vida nova no país, que então se ensaiava para a independência. Seria nessa época que o estranho personagem, rumando ao planalto por julgar perigosa a permanência à beira-mar, foi assentar residência em Curitiba, de onde não mais saiu, falecendo em avançada idade, entre os anos de 1880 e 1882, conforme o testemunho de coevos que nos afirmaram, em 1910, tê-lo conhecido numa chácara do Pilarzinho, originando-se deste fato a suspeita de estarem ali enterrados os supostos tesouros.

Provado que realmente existiu na Curitiba dos meados do último século um estrangeiro, cuja vida se cercava de grande mistério, e se este era o indivíduo egresso da marinha inglesa ao qual faz referência a narrativa do farmacêutico Barbosa, neto do funcionário imperial que residia no Paraná, do pirata recebera a confidência do seu passado e a Bíblia com os “croquis” da ilha da Trindade, assinalando o local do tesouro. Fica esclarecida a impossibilidade de existir este no Pilarzinho, pois o fato de haver Zulmiro aqui desembarcado apenas com as três libras da generosa dádiva do seu compatriota e antigo camarada, exclui toda a hipótese de subir ao planalto carregando as riquezas.

Na época era mui comum aportarem ao Brasil indivíduos fugidos ao ajuste de contas com a justiça do país natal e que para refazerem a vida no virgem ambiente americano, e esquecerem o tenebroso passado, tinham a cautela de não revelar a verdadeira identidade.

Saint-Hilaire, em 1820, visitando Paranaguá encontrou na ilha da Cotinga um alemão de avançada idade, ali estabelecido há muito tempo e “que havia sido muito atormentado por faltas contra a disciplina e os costumes”, diz o notável botânico francês. Perguntou-lhe o que o fizera vir a um país tão afastado do seu. “Erros, extravagâncias”, respondeu-lhe, lacônico, o exilado.

Como esse, outros muitos teriam acostado ao nosso país, e daí a possibilidade da vinda do enigmático inglês do Pilarzinho, cujo nome Zulmiro não seria por ele adotado, tratando-se de provável corruptela indígena de Saulmers (pronuncia-se Sulmir).

A dúvida, porém, ocorre quanto à qualidade de antigo pirata que se lhe atribui, bastando recorrer a argumentos cronológicos para provar o infundado de tal suposição: dado o falecimento de Zulmiro em 1882, aos 90 anos de idade prováveis, teria ele nascido em 1792 e supondo que com 20 anos, no mínimo, tenha desertado da frota de guerra inglesa, temos 1812 para início da sua carreira criminosa, mas numa época em que a pirataria já estava praticamente abolida no Atlântico, permanecendo apenas no litoral dos Estados barbarescos ao norte da África, até que a conquista francesa a extinguiu de vez. O corso, forma legal de pirataria autorizada por governos em guerra para causar danos ao inimigo e o tráfico de escravos, esse sim estava em vigor.

As repúblicas americanas em luta pela independência, concediam cartas de corso aos que se propunham perseguir e saquear navios espanhóis. E a indústria do transporte de negros da África para venda no Brasil e nos Estados meridionais da América do Norte, se exercia franca e prosperamente, sem embargo da perseguição dos cruzeiros ingleses.

Encantada

Quase todos, por certo, conhecem a gruta que existe na Ilha do Mel, no recanto denominado Encantada. Muitos namorados deixam seus nomes entrelaçados nas paredes interiores, que constantemente são visitadas pelo mar. (Essas visitas têm determinado a morte de muitos incautos).

O povo da região conta que vive nessa gruta uma linda princesa encantada. E que esta, irada, pune com a morte os afoitos, invasores de seu pequeno reino.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 456)

Por do Sol na Praia de Santa Monica - Guarapari/ES
Uma Trova de Ademar

“Eu te amo”, já me disseste.
Que sentimento fugaz!
Pois esse amor que me deste
P’ra mim foi pouco demais!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


A sorte é que vim de fora,
não moro aqui, de verdade;
meu lema é outro e nest'hora
percebo a realidade!...
–CIDINHA FRIGERI/PR–

Uma Trova Potiguar


Nas mãos... as unhas vermelhas
inspiram doce pecado.
Intensas, puras centelhas,
na pele do meu amado.
–IEDA LIMA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na visão enlouquecida
que os encontros transcenderam,
teu corpo era um Avenida
que meus lábios percorreram...
–CONCHITA MOUTINHO/PR–

Uma Trova Premiada


2009 - Cantagalo/RJ
Tema: SERTÃO - 3º Lugar


Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
–RENATO ALVES/RJ–

Simplesmente Poesia

Não me Deixes
–THALMA TAVARES/SP–


O teu perdão não tem preço
se vem do teu coração.
Eu só não sei se mereço
o preço do teu perdão

Mas meu amor te conheço
tão bem quanto a minha mão.
Por isso eu não estremeço
nem penso em desilusão.

Tu sabes quanto te quero!
Bem por isso é que eu espero
que não me deixes assim.

Sei que vais me perdoar
porque não vais aguentar
viver tão longe de mim!

Estrofe do Dia

Vai ficando distante a mocidade
e eu não posso evitar, por mais que tente;
o passado se alonga a todo instante
e o futuro reduz-se de repente.
Já não sei se dirão que fiquei louco,
mas cem anos de vida é muito pouco
para os sonhos que tenho pela frente.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Soneto do Dia

Amor Cigano
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–


Na imensidão de um céu azul, sereno,
onde o luar rebrilha soberano,
o vento leve corre doce, ameno,
nas belas noites de um amor cigano.

E no mistério de um fugaz aceno,
ouve-se a voz vibrante de um gitano
que, a sorrir, em leve tom verbeno,
canta o prelúdio de um amor cigano.

É a magia de um momento lindo!
Onde as estrelas lá no céu infindo,
unem as almas sem nenhum engano.

E entrelaçados ao sabor do vento,
vivem o encanto de mais um momento
nos belos sonhos de um amor cigano.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Guerra Junqueiro (O Rabequista)


Em tempos muito remotos, os habitantes de urna grande cidade levantaram uma igreja magnífica a Santa Cecília, padroeira dos músicos.

As rosas mais vermelhas e os lírios mais cândidos enfeitavam o altar, O vestido da santa era de filigrana de prata e os sapatinhos eram de ouro, feitos pelo melhor ourives que havia na cidade. A capela estava constantemente cheia de peregrinos e devotos.

Uma vez foi lá em romaria um pobre rabequista, pálido, magro, escaveirado. Como a jornada tinha sido muito longa, estava cansado, e já no seu alforje não havia pão, nem dinheiro no bolso para o comprar.

Assim que entrou na capela, começou a tocar na sua rabeca com tal suavidade, com tanta expressão, que a santa ficou enternecida ao vê-lo tão pobre e ao escutar aquela música deliciosa. Quando terminou, Santa Cecília abaixou-se, descalçou um dos seus ricos sapatos de ouro e deu-o ao pobre músico, que tonto de alegria, dançando, cantando, chorando, correu à loja de um ourives para lho vender, O ourives reconhecendo o sapato da santa, prendeu imediatamente o rabequista e conduziu-o à presença do juiz. Instauraram-lhe processo, julgaram-no, e foi condenado à morte.

Chegara o dia da execução. Os sinos dobravam lastimosamente, e o cortejo pôs-se em marcha ao som dos cânticos dos frades, que ainda assim não chegavam a dominar os sons da rabeca do condenado, que pedira, como última graça, o deixarem-lhe tocar na sua rabeca até ao último momento. O cortejo chegou defronte da capela da santa e, quando pararam, suplicou o triste desgraçado que o levassem lá dentro para tocar a sua derradeira melodia.

Os padres e os chefes das escoltas consentiram e o rabequista entrou, ajoelhou aos pés da santa, e debulhado em lágrimas começou a tocar. Então o povo, maravilhado e aterrado, viu Santa Cecília curvar-se de novo, descalçar o outro sapato e metê-lo nas mãos do infeliz músico. A vista deste milagre, todos os assistentes levaram em triunfo o rabequista, coroaram-no de flores, e os magistrados vieram solenemente prestar-lhe as mais honrosas homenagens.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Amosse Mucavele (Martelamento do Rio)


Rio do silêncio das ondas do rio. Onde suas águas guardadas em gavetas aguardam pela hora do discurso. O rio chora pelo silencioso curso da sua voz em movimento rectilíneo.

Escrito com a tinta selvagem e o dolorido trilho em paralelo tracejado em pleno ziguezaguear das suas assombrosas margens

Aberta a boca para o discurso: a voz do rio seca torna-se num eterno guardador de silêncios.

Um homem,
Uma canoa ,
2 linhas paralelas

O verso do olfato do crocodilo descreve o perfil da presa

No
Silencioso trilho do rio

Uma cova
A mesma cova ardia em plena hora do discurso vazio
No meio do rio uma pá continua a uma velocidade da luz com o seu curso vertical. O redemoinho pesca a água de uma forma circular.
––––––––––––––––––-
Amosse Mucavele pertence ao Movimento Literário Kuphaluxa
*"Dizer, Fazer e Sentir a Literatura"*

Sede:
Centro Cultural Brasil-Moçambique, nº 1728,
Caixa Postal nº 1167.
Maputo, Moçambique

Celulares: +258 82 27 17 645 e +258 84 57 78 511
*Email:* kuphaluxa@gmail.com
*Internet:* kuphaluxa.blogspot.com e literatas.blogs.sapo.mz

Monteiro Lobato (Reinações e Narizinho) - Pena de Papagaio - II - Preparativos


Depois voltou para casa a correr, aflito por contar a Narizinho o estranho acontecimento. E desfiou tudo, num atropelo.

A menina abriu a boca.

— Mas que jeito tinha ele? — indagou ela, ardendo em curiosidade.

— Como posso saber, se era invisível? A voz parecia de menino. Disse que tem minha altura e minha idade. Gosta de cantar como galo, tal qual Peter Pan. Desconfiei que fosse Peter Pan, mas a voz declarou que não, que nem de nome o conhece.

— É extraordinário! — murmurava Narizinho, olhando para o mapa aberto no chão. — Venha ver, Emília.

A boneca, que estava brincando de esconder com o Visconde, veio depressa, muito tesinha, toe, toe, toe. Olhou para o mapa, fez suas críticas e, dando com o chiqueirinho de Rabicó, berrou:

— Ande, Visconde, venha ver uma coisa! E como o Visconde não viesse logo, correu a buscá-lo e fincou-o no mapa com tanto estouvamento que furou o Mar dos Piratas.

Depois de olhado e reolhado e decorado aquele mapa, Pedrinho pensou nos preparativos.

— Temos de resolver tudo já, porque amanhã de madrugada é a partida. Antes de mais nada preciso saber quem vai e quem não vai.

— Acho que devemos ir todos, menos Rabicó — opinou a menina. — Rabicó está muito malcriado. Vai Emília, vai Faz-de-conta, vai o Visconde...

— Faz-de-conta, não! — berrou a boneca. — Tenho vergonha de andar com uma feiúra daquelas. O Visconde, sim, porque preciso dele.

Venceu a opinião da boneca. Faz-de-conta ficava e o Visconde ia.

— E a bagagem? — lembrou a menina. — Valerá a pena levar alguma?

— Acho que não — disse Pedrinho. — O menino invisível é da marca de Peter Pan, dos tais que sabem dar jeito a tudo e fazem surgir o que é preciso. Foi essa a minha impressão.

Ficou resolvido não levarem nada.

— Muito bem — disse Pedrinho. — Nesse caso, tratemos de dormir mais cedo, porque temos de sair de madrugadinha.

Dona Benta estranhou aquela ida para a cama tão antes da hora e disse para tia Nastácia: “Temos novidades amanhã!...”

Só Emília não foi dormir. A boneca tinha idéias especiais sobre tudo, e tudo fazia diferente dos outros. Por isso resolveu levar bagagem e passou parte da noite a arrumar uma célebre canastrinha de couro que dona Benta lhe dera. Botou dentro uma pena de papagaio, uma perna de tesoura de unha encontrada no lixo, o famoso alfinete de pombinha que filara da negra e mais quitandas.

— A gente precisa se precatar — dizia ela no meio do quarto, de mãos na cintura, repetindo uma frase que tia Nastácia usava muito. Vendo que não havia esquecido de coisa nenhuma, tratou de fechar a canastra. Não pôde. Estava cheia demais.

— Visconde! — berrou. — Venha me ajudar a “espremer” esta malvada.

O pobre Visconde de sabugo cada vez mais verde de bolor e todo duro de reumatismo, veio lá do seu canto, gemendo.

— Sente-se em cima e esprema a tampa até arrebentar.

Felizmente para o Visconde não foi preciso tanto. A canastrinha teve dó dele e deixou-se fechar antes que o pobre sábio rebentasse.
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – III - A partida

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 455)

Por-do-sol em Maringá/PR
Uma Trova de Ademar

Traz alentos, novas vidas,
muda a cor da plantação;
a chuva sara as feridas
que a seca faz no sertão.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Nem sempre a felicidade
vem da vitória ou da fama:
pode estar numa saudade
ou nos sonhos de quem ama!
–JEANETTE MONTEIRO DE CNOP/PR–

Uma Trova Potiguar


Reconduzindo incertezas
em meus momentos tristonhos,
aprisiono as fraquezas
na fortaleza... dos sonhos!
–MARA MELINNI/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Amor que nunca se olvida
guarda sempre a mesma sorte:
ligação de vida em vida,
saudade de morte em morte.
–LÍVIO BARRETO/CE–

Uma Trova Premiada

2010 - Ribeirão Preto/SP
Tema: MADURO - M/H


Homem maduro tem força;
firme, enfrenta ondas e ventos.
Por mais que os anos distorça
jamais perde os bons momentos.
–NILTON MANOEL/SP–

Simplesmente Poesia


MOTE :
Nem em lombo de jumento
eu boto carga pesada;
–ZÉ DE CAZUZA/PB–


G L O S A:
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–

Saudade, assim, não aguento,
pra mim é peso demais.
Vivo chorando no cais.
Nem em lombo de jumento
eu vejo igual sofrimento.
Minh’alma já está cansada
dessa tristeza danada.
Por culpa da tua ausência,
no baú da paciência,
eu boto carga pesada.

Estrofe do Dia

Eu não posso afirmar que sou um vate,
muito menos dizer: sou menestrel,
só por vezes escrevo algum cordel;
sou uma pedra, e sem nenhum quilate,
sou rebolo... talvez de algum combate;
tendo assim no caminho utilidade,
quão mil outras que tem em quantidade!
meu caminho é torto, e não tem reta,
a virtude maior para um poeta
é saber preservar a humildade!
–ZÉ SALVADOR/CE–

Soneto do Dia

Conflito
–CAROLINA A. DE CASTRO/PE–


Eu tenho dentro d’alma o romantismo
das vagas, o mistério atro das matas,
a vastidão sinistra de um abismo,
o murmúrio contínuo das cascatas...

Eu tenho n’alma a trepidez de um sismo,
a languidez da voz das serenatas,
a solidão da noite, e esse lirismo
na melodia triste das sonatas...

Eu tenho n’alma um fúnebre lamento,
o silvo melancólico do vento,
uma cratera muito tempo aberta...

Eu tenho dentro d’alma a sensação
de uma vida que morre em lentidão,
e de uma estranha morte que desperta!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Pedro Malasartes no Céu


Cansado de vagar pelo mundo, Malasartes resolveu dar um passeio ao céu, onde chegou com três dias de viagem. Bateu no portão do paraíso e esperou. Pouco depois ouviu a voz de São Pedro:

-Quem é?

-Sou eu.

– Eu quem?

-Pedro Malasartes.

– Que vem você fazer aqui no céu?

-Vim dar um passeiozinho. Quero ver essas belezas aí de dentro.

– Não pode ser, moço. No céu não entra ninguém vivo.

-Tenha piedade, São Pedro, só quero dar uma espiadinha…

-Nada, não é possível!

-Ora, abra, São Pedro, abra por favor… é só um instante… Deixe-me ao menos botar a cabeça aí dentro…

E tanto pediu e rogou, que São Pedro, já abalado, ou caceteado, entreabriu-lhe a porta para que espiasse.

Malasartes deitou-se, mais que depressa, de barriga para baixo, com os pés voltados para a porta, e foi-se deslizando para dentro do céu.

São Pedro protestou, mas o Malasartes retrucou-lhe que o santo se havia comprometido a deixá-lo meter a cabeça no céu, e era o que estava fazendo.. O chaveiro celeste não teve remédio senão conformar-se, porque palavra de santo é como a de rei, não volta atrás; e o caso é que quando a cabeça de Malasartes penetrou no céu já estava o corpo dele inteirinho…

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 4


FLEURY, Luiz Gonzaga. História de índios.

Relata duas histórias, sendo que a primeira delas, intitulada Araci e Moacir, tem como contexto a época do Descobrimento do Brasil. Nela, Araci, indiazinha Tupinambá, e Moacir, cujo pai é português e a mãe índia, após terem perdido seus amigos em um ataque dos índios Tupinambá, são obrigados a viver com estes por um bom tempo. A segunda, O Curumim do Araguaia, é uma história cheia de lances emocionantes, na qual Joãozinho e seu tio viajam de jangada pelo rio Araguaia, onde são atacados pelos índios Xavante.

FONTA, Sérgio. Passageiros da estrela.

Narra a história de amor entre dois jovens: Cuaraci e Iaci. Mas o temido feiticeiro Acauã e seu ajudante, Curupira, raptam Iaci, levando-a para longe de Cuaraci. Inconformado, ele resolve ir em busca de Iaci, juntamente com seu melhor amigo, Japu, e, após passarem por muitos perigos e dificuldades, Cuaraci tem de volta o seu grande amor. Inclui pequeno glossário de palavras indígenas.

FONTES, Narbel; FONTES, Ofélia. Cem noites Tapuias.

Narra a aventura do menino Quinquim, que é raptado pelos índios Xavante. Na aldeia, conhece a professora Joana Bororo, que também havia sido raptada. Após cem dias na aldeia dos Xavante, finalmente chegam os homens da Vila de Poxoreu, inclusive o pai de Quinquim, que fica emocionado ao rever o filho.

FONTES, Ofélia; FONTES, Narbel. O gigante de botas.

Descreve a história de Anhangüera e do capitão Ortiz, que guiam uma bandeira pelas matas goianas rumo à Mina dos Martírios. A natureza é cenário dessa aventura em que os bandeirantes enfrentam índios e traições no próprio grupo.

FREI BETO. Uala, o amor.

Conta a história de um índio, chamado Uala, que está conversando com seu amigo rio e ouve seus temores sobre o homem branco. Vê o acampamento dos homens e máquinas sujando e machucando a floresta. Vê a enchente avançar em direção à aldeia e destruí-la. Uala fica triste e raivoso, sente que precisa tomar providências com urgência! E se pergunta: por que o homem branco não consegue perceber a agonia da natureza quando a está matando?

GALDINO, Luiz. Um índio chamado Esperança.

Conta a história de um indiozinho que vive no Rio Uaupés, com seu avô, no tempo em que macaco é gente e bicho fala. O menino vive triste, porque não tem nome. E, porque ninguém sabe o seu nome, tudo que faz é perguntar: “por que eu não tenho nome?”. Sai à procura de seu nome e, ajudado por um jumento, descobre que ele foi roubado por um urubu.

GALDINO, Luiz.Terra sem males.

Aborda o contato entre índios e não-índios, retratando os malefícios advindos do abandono de suas terras, das mudanças de costumes, bem como da devastação da natureza.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Juntos na aldeia.

Apresenta, em linguagem simples, um discurso para abordar a questão indígena de uma forma que emociona o leitor infantil, pela possibilidade de conhecer mais de perto as situações cotidianas e os rituais vividos por crianças, jovens e adultos, pertencentes a quatro povos indígenas: Kamayurá, Zoé, Tiriyó e Waiãpi.

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Viagem ao mundo.

Narra situações que retratam o cotidiano e rituais vividos por crianças e jovens pertencentes aos seguintes povos indígenas: Bororo, Xikrin, Xavante, Nambikwára e Kadiwéu.

GUEDES, Luiz Roberto. Lobo, lobão, lobisomem.

Traz como pano de fundo uma aventura num acampamento de verão. O andarilho Maneco diz para a garotada que o professor Tiago Lobo é filho e neto de lobisomem. A suspeita vai crescendo e se transformando em medo. Há uma fera assassina na Montanha dos Lobos, refúgio de índios, bichos e berço da lenda do povo lobo. Quando o terror atacar, numa noite de tempestade, todos precisarão de muita coragem para salvar suas vidas.

GUIMARÃES, Márcia Meyer. Curupira.

Narra a lenda do Curupira, que é um menino peludo, de cabelos vermelhos e pés virados para trás. É um gênio guardião de floresta, e passeia por ela montado num veadinho. O Curupira protege as fêmeas grávidas e seus filhotes. Ele permite a caça, mas somente quando os homens caçam para alimentar-se.

GUIMARÃES, Márcia Meyer. Iara.

Narra a lenda da Iara, que é a senhora das águas doces. Ela vive no fundo dos rios, nas cachoeiras e lagos. Dizem que sua voz é maravilhosa, encanta todos que a ouvem. Quando quer se fazer visível, Iara toma a forma de uma mulher de pele branca, cabelos verdes e muito compridos.

HELENO, Guido. A lenda da noite.

Conta uma das mais belas histórias do folclore brasileiro, a qual se passa na época em que a noite não existia e o sol tomava conta do céu o tempo todo.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 11a. Parte


" PEQUENINA... "

Sim, és pequenina...
E sendo mulher, lembras mais
às vezes, uma menina...

Uma menina cheia de sonhos
vãos...

Sim, és pequenina...
(como gosto que sejam as mulheres
para melhor caberem em minhas mãos...)

" PERGUNTA TOLA "

Afinal
(para o meu bem
ou para meu mal)

- encontrar Você
para quê ?

" PRESENÇA... "

Se esta página onde escrevo
fosse um espelho, meu amor

... estaria embaciada ainda
pelo teu calor…

" PRÍNCIPE ENCANTADO "

Ontem
Me senti Príncipe Encantado
quando você me encontrou...

E ao Vê-la
em sua ingenuidade sonhadora,
em sua desprevenida beleza,
fiquei a lastimar antecipadamente a sorte
de mais uma Princesa…

" QUANTO A MIM... "

Bom é saber que me esqueceste,
e descobrir (para meu mal
ou para meu bem?)
que eu apenas te amei...

Que tu fosses feliz
foi afinal
o que sempre desejei
e quis...
........................................................................

Não choro, não me lamento
de nada sinto falta...

... E para que falar em sofrimento
se a noite vai alta…

" RECEIO... "

I

Às vezes receio ( e talvez falte pouco)
que esse ímpeto que vem do coração
com uma força estranha,
extravase em ternura quente
como as lavas de um vulcão pela vertente
de uma montanha...

Receio que transborde
esse ímpeto louco, que domo
nas profundezas do Ser
e é fogo, em meu olhar...

E eu ponho tudo a perder...
Tudo... Eu que há tanto tempo me contenho
não sei como,
a esperar...

I I

Nesse silêncio me aprisiono
e me acovardo,
nesse silêncio me guardo...

Por mim, por ti, por nós dois,
é melhor que não venha a palavra,
que eu fique mudo...

Se te dissesse a primeira palavra
talvez depois
fosse capaz de tudo…

" REMORSO ? "

Por que há de ser assim o amor,
sempre desajustado
em nossas vidas?

Esta ternura que tanto te cativa
uma outra inutilmente a desejou
e bem que a mereceu....

Perdoa, amor... Mas essa ternura
que te dou,
é remorso talvez, sentimento de culpa,
que seu eu?

Prodigalizo-te o que por tanto tempo
neguei, sem explicação,
a quem tanto se deu, e desesperada se foi
sem qualquer explicação…

" RESTOS DE NAUFRÁGIO... "

Me lembro de teus gestos de criança, teus olhos garços,
teus cabelos louros despenteados
pela aragem fria,
me lembro de tua perturbação adolescente
naquele dia...

E da expressão de teu olhar
sempre que me encontrasse,
quando o amor era um primeiro rubor de alvorada
em tua face...

S então eu fosse teu e tu fosses minha
eu, puro, sem passado, a esperar pelo mundo;
tu, a imagem da própria ingenuidade
em seu canto inicial,
nosso amor teria sido um céu azul, profundo,
onde dois pássaros esvoaçassem
antes do pouso nupcial...
.............................................................

Maldade do Destino... Coisas da Vida em seus desígnios...
nem pudeste ser minha e nem pude ser teu...
(Ah! aquele instante dos instantes
que irremediavelmente se perdeu!)
- em que este amor teria sido o amor perfeito
como as manhãs de abril nas montanhas distantes...

E hoje que tens cansado o corpo e a alma entregas
em gestos lassos,
com esse jeito de quem tem pago pelo pouco
que tem recebido,
um doloroso preço,
- hoje, enfim, que te tenho em meus braços,
eu, também, sou um saturado, um perdido,
e já não te mereço...

Depois de tantas voltas inúteis, nossas vidas
que ventos estranhos desarvoraram
sobre o mar,
são como os restos de um naufrágio
que as ondas dispersaram
e ao fundo de uma mesma praia
foram dar...

Restos... somos restos de nós mesmos
a boiar...

Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.