sexta-feira, 30 de março de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 509)

Aniversário do Poeta Zé Lucas em Março

Uma Trova de Ademar

Qual um Profeta eficaz,
digo, por querer-te bem:
Tu vais viver muito mais
que viveu Matusalém...
ADEMAR MACEDO/RN– (Para Zé Lucas)

Uma Trova Nacional


Zé Lucas não viveria
em alegria completa,
sem o sertão e a poesia
dando mais vida ao poeta.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova Potiguar


Contra o ente que fingisse
nutrir por nós, amizade,
bom seria que existisse
detector de falsidade.
–PEDRO GRILO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Chega a noite... Fecho as portas,
nosso amor cresce, querida,
e a calma das horas mortas
nos abre as portas da vida!...
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Uma Trova Premiada


2009 - Niterói/RJ
Tema - PRÊMIO - Venc.


Meu prêmio dentro da vida
foi fazer, na minha história,
de toda ilusão perdida
sempre mais uma vitória!...
–LARISSA LORETTI/RJ–

Simplesmente Poesia

Poemeto...
–HUGO ARAUJO/PE–


se a vida é uma pintura
o meu quadro é de revolta
pois dei várias pinceladas
numa natureza morta

... mas depois analisei
quão errado eu estou
a tinta da nossa vida
foi jesus que fabricou

aproveite então e pinte
colorindo uma tela
agradecendo ao divino
e pintando uma aquarela

Estrofe do Dia

Com a inspiração que navega
nas ondas da sua mente,
Zé Lucas sempre carrega
um mar de versos pra gente;
e quem ler sua poesia
sente uma doce magia
que só o seu verso traz;
e com rimas sempre novas,
ninguém no mundo faz trovas
como as Trovas que Ele faz!...
–ADEMAR MACEDO/RN– (Para Zé Lucas)

Soneto do Dia

José Lucas de Barros...
–DELCY CANALLES/RS–


Doze de março. Como eu gostaria
de poder abraçar-te, meu amigo,
de chegar em Natal, bem no teu dia!
Mas é sonho! Em verdade, não consigo!

E, com teus acadêmicos, queria
junto com Rose e, também, contigo,
poder falar de trova e de poesia
e deste afeto que trago comigo!

Aqui, no Sul, rodeada de coxilhas,
lembrarei nossa troca de sextilhas
e de trovas nascidas da afeição!

Tu sabes que eu te estimo de verdade,
que existe, entre nós, tanta amizade,
que não há mais distâncias, meu irmão!

J. G. de Araújo Jorge (Verão, Compromisso com a Felicidade)


Uma vez um amigo meu estranhou que “chovesse tanto” em minha poesia. A chuva -disse-me ele - é uma constante em vários poemas, e em todos os seus livros. Curioso com a observação passei os olhos por minha obra. Mas se constatei, realmente, que escrevi muitos poemas sugeridos pelos dias de chuva, nem por isso, homem que sou dos trópicos, escapei às influencias poderosas do sol, do verão.

Confesso até meu “estranho remorso” num poema de “Eterno Motivo”:

“Às vezes, quando escrevo feliz uma poesia,
me assalta um estranho remorso, incompreensível,
que não sei de onde vem:
Quem sabe? Pode ser que esse meu canto de alegria
faça mal a alguém...
meu irmão triste, meu irmão doente,
perdoem-me a cantiga frívola e contente,
que me fugiu dos lábios na manhã alvissareira
de verão...
Ela brotou sem querer na minha felicidade!
É que eu trago uma cigarra cantadeira
e imprudente/ dentro do coração!”.

Um dos sonetos meus mais difundidos é justamente aquele “Bom dia Amigo Sol!” que está no mesmo livro. Lembram-se?

Bom dia amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara!
Deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!

Entra! Vem surpreende-la quase nua,
doura-lhe as formas de beleza rara,
na intimidade que a deixei, repara
que a sua carne é branca como a lua!

Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho...
Que não repares no seu desalinho
nem no ar, cheio de sombras, de cansaços...

Entra! Só tu possuis esse direito
de surpreende-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito...

Ainda no mesmo livro, além do “Desejos na Manhã de Sol”, há uma verdadeira declaração de amor à manhã, vale dizer ao dia, ao sol: “A manhã é a minha namorada.” “Ela entrou no meu quarto trêfega e contente/ e com seus dedos de sol tocou nos vidros e metais/ mexeu em tudo que viu/ e espiou para os lençóis da minha cama desfeita.../ Depois, fugiu.../ Lá se foi pelo caminho com as mãos cheias de pássaros/ levada pela aragem numa doida correria,/ rasgando seu vestido/ de galho em galho.../ e as contas do seu colar espatifando-se no espaço/ eram gotas de orvalho...”/.

Sim, mas terei de confessar que a noite é a minha companheira, e com ela as madrugadas. Sou um nostálgico do silêncio das sombras. A luz grita, o sol atordoa. O verão é um desafio constante. Parece jogar-nos na cara todos os instantes: “Vê se consegues ser claramente feliz como eu!”

Um dia de verão é um compromisso com a felicidade. E ai dos que não podem sintonizar o coração com a harmonia e a luminosidade do mundo ao redor. São esmagados. Por isso escrevi aquele “Manhã para se Ser Feliz” que está em “Espera”.

Esta é uma manhã para se ser feliz
em algum lugar, de algum modo
- é uma manhã para se ser feliz...

Esta é uma manhã para dois, para dois juntos
abraçados e tontos num remoinho,
não como nós, eu aqui, diante do sol, das árvores, de tudo
envergonhado porque estou sozinho...

Esta é uma manhã que me fala de ti
na transparência do ar,
neste azul do céu, imaculado,
na beleza das coisas tocadas de sonho
e imaterialidade...

Uma manhã de festa
para se ser feliz de verdade!
Esta é uma manhã
para te ter ao meu lado...
Quando Deus fez uma manhã como esta
estava com certeza apaixonado!”

E eis a razão das fugas constantes para os dias de chuva, dias que parecem feitos para a solidão; quando mesmo sozinho, não sabe tão funda a tristeza. Ficou-me na alma e no ouvido, além do mais, aquele rumor da chuva nos telhados de zinco da minha infância, no Acre. Daí, entre tantos, aquele poema em forma de oração, do “Cantiga do Só”:

Irmã chuva, com teu manto cor de cinza
teus olhos embaciados
teus gestos mansos,
solidária com as nossas fadigas
que acaricias nosso tédio com teus dedos molhados
e embalas nosso coração sussurrando baixinho doces cantigas...

Irmã chuva, que sempre vens quando ficamos doentes
de sol
ou de alegrias,
exaustos de verão e de calor,
e que, com teus gestos suaves e compressas frias
acalmas nossa fronte ardente
e adormeces nosso amor...

Irmã chuva... Que bom teres chegado assim, tão calma...
Pareces que adivinhas a aflição da minha alma...
Ainda bem, que mansamente
E inesperadamente,
Vieste me ver...

Irmã chuva, que aconchegas o coração da gente,
para a gente adormecer…

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 508)

Lual em João Pessoa/PB

Uma Trova de Ademar

Almoço e janto poesia.
E, neste meu universo,
mastigo um pão todo dia
amanteigado de verso!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Partes, levando a metade
da metade que eu já sou,
deixando inteira a saudade
na metade que restou...
–DIVENEI BOSELI/SP–

Uma Trova Potiguar


Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida.
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
–PROF. GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


A mulher sempre é mais pura,
mais bonita e mais completa,
quando a ponho na moldura
dos meus olhos de poeta.
–ORLANDO BRITO/MA–

Uma Trova Premiada


2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema - SAUDADE - M/H


Partiu, deixando o seu traço
no meu caminho dos sós…
- A saudade é esse espaço
que existe sempre entre nós.
JOSÉ VALDEZ C. MOURA/SP–

Simplesmente Poesia

As Duas Flores
–CASTRO ALVES/BA–


São duas flores unidas
são duas rosas nascidas
talvez do mesmo arrebol,
vivendo, no mesmo galho,
da mesma gota de orvalho,
do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
de um passarinho do céu..
como um casal de rolinhas,
como a tribo de andorinhas
da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
que em parelha descem tantos
das profundezas do olhar...
como o suspiro e o desgosto,
como as covinhas do rosto,
como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
numa eterna primavera
viver, qual vive esta flor.
juntar as rosas da vida
na rama verde e florida,
na verde rama do amor!

Estrofe do Dia

Se você é pessimista
orgulhoso e prepotente,
aprenda a vergar a alma
se quiser viver contente;
ouça a paz que lhe convida,
toda reforma da vida
começa dentro da gente.
–GERALDO AMANCIO/CE–

Soneto do Dia

Amigo! Um irmão que a gente escolhe...
FRANCISCO NEVES MACEDO


Fazer escolhas, nesta minha vida,
é o dia a dia que se faz dever,
e quando eu erro vem todo um sofrer,
mas, se a escolha é banal, fica esquecida.

Um carro, um disco, um anel, uma bebida,
uma mulher, um livro para ler,
a nossa fé, time para torcer,
uma viagem, um som, uma comida.

Fiz tantas vezes essa escolha errada,
usei o livre-arbítrio para nada!
mas, quem está na chuva, que se molhe...

Há uma escolha que é definitiva,
e eu me baseio nesta afirmativa:
Amigo é aquele irmão que agente escolhe.

José Feldman (Até Mais, meu Irmão) - Dedicado a Chico Macedo

quinta-feira, 29 de março de 2012

Trova Triste - Francisco Neves de Macedo (RN)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 507)


Uma Trova de Ademar

Tem homem com maus intentos,
que, por maldade ou desdém,
às vezes, gasta quinhentos
para o outro não ganhar cem...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Se a vida é a maior graça,
que do bom Deus recebemos,
ergamos a nossa taça
enquanto vida nós temos.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar


Meu olhar ficou defronte,
ao seu olhar, de repente...
E este encontro se fez ponte
entre os corações da gente.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Faço versos se estou triste,
faço versos de alegria,
a minha alma não resiste
aos apelos da poesia.
–CORA LAYDNER/RS–

Uma Trova Premiada


2004 - Nova Friburgo/RN
Tema - REFÚGIO - 1º Lugar


Baú velho, tampo torto,
Cartas e fotos mofando...
- refúgio de um sonho morto
Que eu vivo ressuscitando!...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Simplesmente Poesia

Libertação
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–


Cortei as amarras,
soltei o meu barco,
tracei nova rota...
Disse adeus ao velho cais,
e, qual errante arrais
navego outros mares...
Quero ancorar em ignoradas margens,
desbravar uma diferente terra,
encontrar novas paisagens,
descobrir o segredo do outro lado da serra...
Correr leve e solta
pelas brancas areias de novo sonho
já não mais tristonho,
e, quem sabe, olhos nos olhos,
mãos nas mãos,
viver um amor inesperado,
entregar os beijos que não dei
escrever os versos que guardei!...

Estrofe do Dia

Minha vida tem sido uma peleja,
quando venço um problema outro aparece,
quando alguém me ajuda outro me esquece,
toda mão que eu encontro me apedreja;
procurei um vigário na igreja
disse: padre eu só vim me confessar,
disse o padre você tem que pagar
uma conta que deve a natureza;
minha vida é um filme de tristeza
que eu deixei de assistir pra não chorar.
–BIU SALVINO/PB–

Soneto do Dia

O Ideal
–LUIZ OTÁVIO/RJ–


Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista !
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista !

Trabalha com fervor, de forma avara !
Que sejas no teu sonho um grande egoísta !
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista !

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a Deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado ! ...

J. G. de Araújo Jorge ("Vamos Voltar Pra Casa ?")


Uma hora "sagrada" para mim é a hora da volta. A hora de voltar para casa. Acredito que seja uma "hora sagrada" para quase todos os homens.

Ao fim do dia de trabalho, de preocupações, de luta, atirado ao mundo ilimitado de interesses e ambições, aquela expectativa de paz, de aconchego, do seu pequeno mundo entre quatro paredes.

Os ingleses tem uma doce palavra que define esse porto de volta - "home".

É o nosso lar.

Tenho uma pena infinita daqueles que não podem voltar, ou não tem para onde voltar. São como pássaros que tivessem que permanecer em vôo, sem o embalo de um ramo, ou a quentura de um ninho.

Na pressa do retorno, no fim da jornada, quando procuro os meios de condução, vez por outra surpreendo na ruas, nos bancos das praças, os vultos indigentes dos que não voltam, dos que terão de ficar, dos que vêem chegar a noite, indiferentes ao estranho burburinho humano que lembra o dos pardais, nas árvores da cidade.

Então, não consigo evitar que um pensamento amargo turve o meu apressado egoísmo. E uma tristeza inevitável esvoaça por momentos como uma borboleta negra que entrasse por uma janela aberta.

Todos nós, diariamente, ao entardecer, somos como marinheiros de nós mesmos; navios que se avizinham do porto de origem. ansiamos por avistar a paisagem do coração, por encontrar os que nos são caros, os que justificam as partidas de todo dia, o cotidiano exílio do trabalho.

Em muitos trechos de minha poesia tenho fixado as emoções que essa hora me suscita. Sou um homem que acha que, até mesmo nas viagens de puro prazer, a grande alegria é a volta. Quase se poderia dizer que a gente parte antegozando hora de retornar., transformar as uvas colhidas no vinho doce das lembranças, servido entre amigos.

Tal como se diz dos namorados: que brigam pelo prazer de fazer as pazes. Uma viagem é uma "briga de namorados" com a vida. A gente larga o que gosta, para sentir saudades, e voltar mais apaixonado ainda.

Gostaria de citar para vocês os muitos poemas que escrevi, cantando a alegria de voltar. Sim, bem sei que tenho muitos outros poemas falando do desejo de partir, de perder-me em dionisíacos descaminhos. Mas, no fundo mesmo, o que prevalece é o sentido das raízes que prende o homem ao seu chão, que lhe permite, nos momentos de pausa, crescer e encher-se de flores, frutos e pássaros.

Na exígua moldura desta página, eis duas faces de um mesmo canto.

Tiro primeiro, de "Harpa Submersa" um trecho de :

COLÓQUIO PROSAICO

Porque as coisas que me cercam se impregnam de poesia,
porque lhes transmito minha convivência
é que posso amá-las e senti-las com a perspectiva
da minha emoção.
Oh, felizes são aqueles que encontram os objetos amados
nos seus lugares, ao seu redor,
e possuem o Dom de transubstanciar-se em seu próprio mundo
cercado por uma imensa família
mesmo em solidão.

Seres de nosso mundo
os jarros, os quadros, os livros, as cortinas,
a janela, a cama, a mesa,
são velhos companheiros - formas estáticas de pensamentos-
são velhos confidentes, testemunhas silenciosas
de nossos conflitos,
estátuas de mil figuras e personagens
representando-nos em mil instantes diversos...

Cada um, é um momento múltiplo, onde se agrupam tantas idéias
tantas conjeturas e solilóquios,
fazem parte de nossa vida e se encontram nela, vivos
como a cena no personagem.

Depois, de "a Outra Face" este monólogo lírico que intitulei:

Meu Mundo

Toda tarde digo para mim mesmo:
afinal, eis o meu mundo.

O mesmo beijo, o mesmo quarto claro, com seu assoalho brilhando
refletindo o meu passo;
as mesmas paredes brancas me envolvendo com afáveis gestos de paz;
o mesmo rádio silencioso, entre livros empilhados, a mesma estante fechada
que a um gesto meu descobre tesouros como velha mala de pirata.

Afinal, eis o meu mundo.
A mesma insubstituível companhia, a mesma presença até quando longe dos olhos,
a mesma voz perguntando, a mesma voz respondendo,
o mesmo odor suave da janta, do tempero cozinhando,
a mesma impressão de quem chega de ombros nus e veste ajudado
um macio agasalho.

Afinal, eis o meu mundo.
Como o pescador solitário, diante do primeiro ramo:
- afinal, eis a terra!

E por isso é que acho que defini a felicidade naqueles dois versos de um poemeto de "A Sós":

Gostaria de poder de repente te dizer:
- vamos voltar pra casa!

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 506)


Uma Trova de Ademar

Nesta gravura se encerra
uma verdade de fato:
se acaso esse mouse emperra
o gato não pega o rato!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Tendo a plástica da Estela
pele “daquele lugar”...
vira e mexe a cara dela
tem vontade de sentar...
–CÉSAR AUGUSTO DEFILIPO/MG–

Uma Trova Potiguar


De tanto ver a Maroca,
todo dia na janela,
cheio de ciúme, o Joca,
botou o ferrolho nela...
–FRANCISCO BEZERRA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Toda mulher que é gorducha
tem um recurso só seu:
Ao vestir-se, grita: “Puxa...
como esse troço encolheu!”
–MAGDALENA LEA/RJ–

Uma Trova Premiada


2009 - Nova Friburgo/RJ
Tema - CINQUENTÃO - 5º Lugar


Tentando aparentar trinta,
o cinquentão se “ferrou”.
Comprou um estoque de tinta,
mas… o cabelo acabou.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Simplesmente Poesia


M O T E:
Não posso vencer a morte,
mas irei de má vontade.


G L O S A:
Mesmo que eu pareça forte
como um touro premiado,
serei um dia enterrado,
Não posso vencer a morte,
do Rio Grande do Norte
levarei muita saudade...
Promessas de eternidade
me fazem crer noutra luz.
Eu sei que é pra ver Jesus,
mas irei de má vontade.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia


Na vida de Michael Jackson
Eu sei o que aconteceu:
Não tinha fama, arranjou
Era pobre, enriqueceu
Era preto, ficou branco
Mudou de cor e morreu!
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

Só a Morte...
–MEDEIROS E ALBUQUERQUE/PE–


"Se me desdenhas, sinto que faleço,
De nada mais pode servir-me a vida;
De ti e só de ti me vem, querida,
Todo o alento vital de que careço.

Só a morte é possível, se perdida
Eu vir tua afeição. Nenhum apreço
Darei a tudo mais, se o que mereço
É teu desprezo, em paga à minha lida."

Ela não respondeu... Por fim, notando
Que contra a sorte é inútil que se teime
Resolvi não morrer. E tão tranquilos

Foram os meus dias, que eu me rio quando
Penso no que ontem vi: ontem pesei-me
E achei, num mês, que eu engordei três quilos!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Marina Colasanti (Que Escritor Seria Eu Se Não Tivesse Lido? )


George Dawson tinha 98 anos quando aprendeu a ler. E tinha 102 quando, em maio deste ano, publicou seu primeiro livro. Dawson é descendente de escravos do Texas, e sem Ter lido nada antes, sem Ter qualquer bagagem literária, escreveu a história da sua vida nos anos 20 e 30. Escreveu, sem que nenhum livro lhe ensinasse a fazê-lo, a história mis complexa que existe, a de uma vida humana.

Li sobre a façanha de Dawson no jornal e me perguntei: o ele teria escrito se tivesse começado a ler na infância? E também me perguntei: tivesse sido leitor contumaz desde menino, teria igualmente se tornado escritor?

É provável que não. A leitura não nos conduz fatalmente à escrita- o que, convenhamos, é ótimo, porque ninguém agüentaria tantos escritores -. A leitura, como uma agência de publicidade, desdobra à nossa frente “depliants” de mundo maravilhosos, e nos conclama, e os estimula, e deserta nossos desejos. As possibilidades de escolhas se multiplicam. Vocações que sem ela dormitariam, para sempre ignoradas, despertam. E partimos, graças às asas da literatura, para as mais diversas profissões. Às vezes, até para a de escritor.

Eu não me tornei escritora porque era leitora. Eu me tornei escritora porque comecei a escrever.

A leitura, que habitou minha vida desde cedo quando consigo lembrar, não medisse, vai Marina ser isso ou aquilo. Mas a pessoa que eu era aos 15 anos, barro cozido e assado por tantas pequena chama literárias, queria ser pintora.

E pintora fui, durante bons anos. Dedicada, apaixonada, feliz com meu fazer, segura da minha escolha. Até que cheguei aos 23. Continuava achando que tinha uma vocação e estava até me dando bem na vida com ela. Mas decidi que precisava ganhar dinheiro. E fui trabalhar em jornal.

Não seria questão de abandonar a vocação. Tratava-se de abrir uma porta, deixado a pintura pendurada atrás dela, à espera.

Entrei na redação levando apenas uma bolsa pendurada no ombro, e óculos guardados na bolsa. Uma ‘foca”, sem bola no nariz. Um jovem principiante que havia feito um curso acelerado de datilografia para não passar vexame de catar milho. Assim me apresentei, e assim me viram. Eu não ouvi, nem meus colegas, mas depois que soube comigo haviam entrado o menino Tom e o índio que o perseguia, os acordes do órgão do Capitão Nemo, o silêncio na cabeça de Ulisses enquanto via as sereias cantarem, os rebanhos de carneiros descendo em transumância na Provença de Giono, o vento nas pás do moinho de Quixote, uma galinha perseguida num Domingo pela mão de Clarice, uma pedra no meio do caminho, uma “madeleine' , um gato de botas.

Comecei a escrever porque puseram uma Olivetti na minha frente, um monte de papel, e me mandaram fazer a matéria. Isso ainda não era escrever, evidentemente. Mas empoleirados no alto das divisórias de vidro lateado daquela redação, Pinocchio, Raskolnikov, Ricardo Coração de Leão, Gregório Samsa, D'Artagnan e Mr Gatsby esfregaram as mãos. Estava na hora de começarem a empurrar.

E assim fez-se, ou abriu-se, em mim outra vocação.

Como para George Dawson, também me pergunto: eu teria sido escritora se não tivesse sido leitora? Mas é uma pergunta que não procede porque equivale a por em questão toda uma vida. Então seria que perguntar: eu teria sido escritora se não tivesse saído da África onde nasci? E se não tivesse saído da Itália, onde me criei, e não tivesse vindo para o Brasil, onde comecei a escrever? É quase como perguntar, sabendo de antemão que não encontrarei resposta: que escritora teria sido eu se não tivesse sido leitora?

A leitura me ensinou, antes de mais nada, a gostar de papale, a amar papel escrito, a perseguir tipologias. Ne ensinou a precisar da presença física dos lvros. Não fosse isso, e a viade escritora seria uma condenação, com oslivros que se multiplicam incessantemente, enchendo a casa, empilhando-se sobre as mesas, as cadeiras, o chão, e os papéis, os papéis que contrariamente ao que se alardeou no início da era da informática não desapareceram mas parecem cada ida mais abundantes.

A leitura me ensinou a viver com a leitura. Me viciou em leitura, me fez procurar a vida nos livros com a mesma intensidade com que a procurava fora deles.

Se eu não tivesse sido leitora precisaria de um talento infinitamente maior, para escrever. Não tendo afiado o ouvido às palavras, que trabalhoso seria apertar sozinha, uma por uma, todas as cravelhas.

Mas as palavras escritas- que não são as mesmas palavras da fala, embora irmãs, porque criadas para andarem juntas naquela exata ordem e não em outra, já eu ó naquela ordem o valor de uma contamina a outra- as palavras escritas, eu dizia, infiltraram-se em mim junto com os outros aprendizados, quando eu ainda não sabia ler. Minha mãe lia para mim. E a música da voz da minha mãe fundia-se com a música das palavras que ela lia.

Talvez justamente isso, o fato da minha ler em vez de contar, tenha marcado a minha escrita. Pois nunca me senti levada a escrever de forma oralizante; pelo contrário, o inusitado que mantendo o texto perfeitamente compreensível e familar confere um frescor de coisa nova e uma intonação poética, sempre foi a minha busca. O texto não é para mim ferramenta para contar uma história. Mais justo seria dizer que a história é pretexto para construir o texto.

Hoje leio como se fizesse trialto. Acordo e perco no mínimo um hora lendo os jornais. Depois vou para o escritório e começo a ler o material de trabalho. Na hora do almoço, se estiver sozinha, encosto um livro no copo cheio d'água, que não bebo para não perder o suporte. E dia afora vou lendo e escrevendo. Ma sou atleta indisciplinada, capaz de perder um tempo enorme com leituras inúteis, deixar cada mínima consulta de pesquisa alongar-se indefinidamente porque não consigo me ater somente ao que procurava, e gastar em leituras menores o tempo que deveria reservar para ler ou reler os clássicos. E, o que é pior, tenho a impressão- prefiro não dizer a certeza- de esqueço a maioria do que leio.

Quando menina, e mesmo depois quando jovem, lia como se descesse as corredeiras num bote. Deixava-me levar, jogada de um lado a outro pela narrativa, transportada, na espera ansiosa da cachoeira que a qualquer momento despencaria comigo assombrando meu coração.

Eu usava lápis, jamais teria ousado riscar um livro, por meu que fosse. E por isso, não pela sacralidade do livro, mas porque não me passava pela cabeça eu me fosse permitido, que me fosse devido interagir diretamente junto ao texto- a palavra interagir sequer se usava-. A idéia de que a minha opinião pudesse Ter lugar, e valor, ao lado daquilo que que havia sido escrito pelo autor não me aflorava.

Quando passei a usar o lápis, tornei-me outra leitora. Ou melhor, quando me tornei outra leitora, passei a usar o lápis. Não desço mais, entregue, nas corredeiras. Sou seu vigilante. Analiso a força das águas, sua direção, a profundidade. Meço a transparência, procuro o que nela se move. Vou sim com ela, e me encanto, e me deixo molhar pelas espumas. Mas a qualquer remanso indevido, a qualquer turvação, minhas orelhas se erguem atenta, meu lápis se apoia na margem. Anoto, controlo. Por um instante não estou sendo levada, botei um pé para fora do bote.

Tornei-me interlocutora do autor. As margens às vezes são estreitas demais para as conversas que tenho com ele. E me acontece fazer uma crítica, ir a diante, ver que a crítica não se justifica, voltar atrás apagar o que eu havia anotado. Como se pedisse desculpas ao autor pela falta de confiança. Não estou mais lendo sozinha como lia. estou lendo por cima do ombro dele.

A leitura atravessou minha juventude em blocos. Como se um trem me varasse a cada vez com seus vagões. Eram comboios de paixão. Um autor entreva na minha vida, eu me enamorava e, depois do outro , ia lendo todos os seus livros.

Foi assim desde menina. Bem pequena ainda, devorei Salgari inteiro e imitando suas histórias brinquei de pirata e de índio americano, Sole Ridente era o meu nome na tribo. Lá pelos onze anos me banqueteei com Verne. Depois fui indo. que furacão na minha alma quando encontrei Dostoievski! Eu ansiava o dia inteiro pelos momentos que iria encontrar com ele. Foram meses e meses de neve, sofrimento e nomes cheios de vogais. Depois os americanos; a sedução daquele trem que parecia interminável, os vagões de Hemingway, dos Passos, Steinbeck trazendo-me um mundo novo, seco de frases curtas, um mundo sem volutas, especialmente revelador para mim, italiana encharcada e barroco. Amei Giono, ocupei com ele toda a prateleira da estante. E pouco antes de esbarrar com a minha própria escrita, esbarrei com Proust. Foi um fecho glorioso para minhas leituras de juventude.

Mas também fui leviana, traindo meus grandes amores com amores passageiros, “ficando” com um livro ou outro, só pelo prazer de uma noite. Sim, cometi pecados de juventude, gostei de M. Dely, e acreditei que “To et Moi” de Paul Geraldy fosse bela poesia. Chorei com Ayn Rand. E li muito Mistério Magazine de Ellery Queen, embora o mesmo tempo economizasse dinheiro da mesada para comprar a revista “ Senhor” e ler os contos de Clarice.

Hoje os trens são mais raros , e não percorro todos os vagões. Se gosto de um autor, leio primeiro um livro, atravesso em diagonal um ou dois livros mais, para certificar-me e para Ter uma idéia de conjunto, dispenso os outros. Não tenho mais paixões. Tenho apreço, admiração. Leio, reconheço a qualidade, me entusiasmo. Mas entusiasmo não é a mesma coisa que paixão, entusiasmo é uma categoria profissional. A escrita roubou-me o arrebatamento da leitura.

Houve um tempo em que cada livro que me chegava era um Cavalo de Tróia, de cuja barriga sairiam, na solidão do meu quarto, invasores bem vindos. Depois aprendi a desventrar a barriga do cavalo ainda na livrara, de pé, percorrendo o índice e vendo o que continha. Já não levo nenhum mistério para o quarto, os habitantes do livro/cavalo são gentis convidados, quando não reféns que manterei comigo só quando me interessarem. Nenhum me invadirá.

E se ler escondido depois da hora de dormir, na clássica cena da lanterna acesa debaixo das cobertas, era duplo prazer, de leitura e transgressão, ler tornou-se com o tempo dupla culpa, pois me sinto culpada se, escrevendo, deixo de ler, tendo tantos livros à minha espera.

Com freqüência me perguntam quais as marcas dessas leituras na minha escrita. E eu própria me surpreendo com a sensação de que não existem, pelo menos não claramente identificáveis. Me parece impossível que se possa dizer olha a patinha de fulano ali, olha o focinho de fulana aqui. Pois eu não usei patas ou focinhos alheios para compor minha linguagem, embora os usasse para despertas a emoção que, mais tarde, viria a servir de base para a construção dessa linguagem.

Nunca quis escrever como alguém, por mais que gostasse da sua escrita. Talvez pensasse inconscientemente que não seria capaz, que aquilo não estava em mim.

Embora tivesse tantos romances e livros de aventura, nunca quis escrever nem uma coisa nem outra; meu desejo de escrita sempre esteve centrado na ourivesaria do texto curto.

E nenhum dos meus queridos realistas despertou em mim o desejo de imitá-los. Poe, que li menos que Verne, deixou em minha juventude uma marca mais funda, introduzindo-me no mundo fantástico. Um mundo que eu já havia freqüentado através os contos de fadas na voz de minha mãe. E que, adulta, reencontraria em Borges, em Cortazar, em Calvino, em Buzzati.

Pode parecer ingratidão, mas não tenho e nunca tive ídolo. À medida que avançava nas leituras e na profissão, porém, percebi que pertencia a uma família. Sou parente daqueles escritores que deram um passo além do real, e ali fundaram sua realidade. Sou irmã dos que reencontraram seu mundo somente no inconsciente, ou no papel impresso.

Fonte:
Simpósio Internacional Transdisciplinar de Leitura/ 2000. Leia Brasil
http://www.leiabrasil.org.br/old/simposio/escritor_lido.htm

Carlos Lúcio Gontijo (O Obscuro Fogaréu das Vaidades)


Não me perguntem aonde ir para encontrar leitores, pois nunca soube. As bibliotecas estão sempre vazias, as livrarias repletas de autores estrangeiros e livros de autoajuda, enquanto a literatura brasileira sobrevive com a simples e costumeira citação de grandes autores, que verdadeiramente também são muito pouco lidos. Não entendo também de busca de recursos para se editarem livros, porque nunca obtive sucesso nessa empreitada, consciente de que a política cultural brasileira só favorece aos que se acham sob os holofotes da mídia, o que determina fluxo volumoso de recursos para as mesmíssimas celebridades e famosos de sempre. Todavia, em torno desse assunto, as discussões se prendem mais ao calor obscurantista do fogaréu das vaidades que à luz da real busca de soluções.

Houve um tempo em que concursos literários lançavam novos talentos, mas hoje eles só servem para propiciar alguma pequena edição ao ganhador, o que representa significativa glória num país em que as editores não investem nem apostam em novos autores (digo isso no tocante ao ato de se fazer conhecido, uma vez que existe gente com idade avançada e sem qualquer trabalho editado), obrigando aos que pretendem tirar a sua obra da gaveta, em tempo de democrática ditadura de intensa propagação do grotesco ou, no mínimo, de valor cultural duvidoso, que por sua vez leva adultos, adolescentes e crianças a dançarem na boquinha da garrafa. Infelizmente, entre nós, o esmero tecnológico da imagem digital chegou às ?nossas? televisões antes de as mesmas implantarem qualidade em sua rede de programação.

Se eu fosse tangido pela busca de fama e sucesso não estaria me movendo para editar o meu 14º livro nem disposto a investir quantia, para mim volumosa, em meu site, que agora em junho próximo, neste ano de 2012, completará sete anos. Uma vez que, hoje, o que determina notoriedade são a inventiva e o comportamento esdrúxulo ou completamente anômalo e contrário aos chamados bons costumes, tratados como desnecessários ditames ultrapassados.

A dilapidação promovida ao senso comum que norteia a convivência em sociedade vem exatamente dos órgãos que deveriam atuar em sua defesa. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário se consideram (e se põem) acima da nação brasileira, que sabiamente os julga pelo produto final que a ela é apresentado. Vem daí a generalização da reclamação popular, pois quando uma prestação de serviço não é satisfatória o consumidor recorre ao PROCON contra a loja vendedora ou a fábrica produtora, não lhe sendo exigida a indicação de nomes ? ao produtor da mercadoria defeituosa cabe, se assim o desejar, a descoberta do funcionário responsável pela ocorrência!

Ou seja, a má prestação de serviço advinda da ação dos Três Poderes é problema relativo a todos aqueles que o integram. Cabe a cada um deles e mais especificamente aos que se nos apresentam como a parte boa, reclamando da constante acusação generalizada, agirem em prol da devida apuração. Afinal, não se trata de seres inanimados; não são maçãs sadias enfiadas, involuntariamente, em saco de aniagem em meio a frutos putrefatos...

Em ambiente assim perverso, no qual os que deveriam dar o exemplo insistem em não dá-lo, assisto ao cotidiano crescimento da cultura do levar vantagem em tudo, que vai levando a tudo de roldão. Para onde olho eu vejo podridão: é político com dinheiro na cueca, na meia, no porta-malas, no banco do carro; são favorecimentos e desvios de recursos públicos em montante inimaginável, mas que pode ser dimensionado pela paisagem de abissais carências sociais que nos rodeia.

Quem sou eu, pequeno escriba, para perder o fio da meada, abandonar a literatura menor que realizo (mas que é a minha vida) à beira do caminho, depois de tão longa caminhada. Só me resta mesmo impor-me alguns sacrifícios em nome do invisível, do que não se vê: a energia imaterial do halo da alegria de efetivar o exercício de um dom, ainda que as palavras me pareçam jogadas ao léu. E é exatamente sob esse sentimento que lançarei meu novo trabalho literário, o romance ?Quando a vez é do mar? (um livro de 400 páginas), no dia 27 de abril, às 19:30, na Associação Mineira de Imprensa, à Rua da Bahia, 1.450, em Belo Horizonte.

Enfim, sou brasileiro comum. Faço parte desse povo que, apesar dos governantes e dos poderes, consegue sobreviver e driblar as pedras atiradas em seu caminho. Termino então repetindo reflexão de Sigmund Freud, grande explorador da alma humana: “Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.”

www.carlosluciogontijo.jor.br

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