quarta-feira, 28 de março de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 505)

Praia dos Ingleses - Florianópolis/SC

Uma Trova de Ademar

Meu momento mais sofrido
retirei da minha história,
mas vive ainda escondido
nas gavetas da memória.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Na beleza da alvorada
quando o sol desperta o dia,
no clarão da madrugada,
minha alma canta em poesia!
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Uma Trova Potiguar


Vida: caminho que alcança
na esquina a sua metade;
de um lado, vive a esperança,
do outro, dorme a saudade.
–MARA MELINNI GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na mão esquerda lembranças
refletem fidelidade:
são as duas alianças
cravejadas de saudade!
–EDMILSON FERREIRA MACEDO/MG–

Uma Trova Premiada


2011 - Nova Friburgo/RJ
Tema - RECADO - M/E


Guardo ainda o teu recado,
mesmo com tristes lembranças...
Pedaço de meu passado
alimentando esperanças...
–IVONE PRADO/MG–

Simplesmente Poesia

Calçadão de Minha Rua...
–CAROLINA RAMOS/SP–


Alvinegra passarela
em mosaicos definida...
sempre que passo por ela,
a repassar me convida.

Calçadão de minha rua,
a imitar ondas do mar...
à luz do sol ou da lua,
aonde irás me levar?!

Meu destino, irrelevante,
me fez boa caminheira
e assim vou seguindo adiante,
até quando Deus o queira!

Calçadão de minha rua,
talvez que em dia já breve,
minha vida, que se estua,
não te pise... nem de leve!

E, então, guardarás silente,
nos mosaicos desgastados,
passos meus... passos de ausente
... marcas de passos passados..

Estrofe do Dia

Ó bom Deus, eu vos peço piedade,
para que minha dor não cresça tanto
conservai no meu peito esta saudade
não deixeis meu senhor que vire pranto;
se eu chegar a sentir dentro de mim
toda minha saudade levar fim
como um cacho de espuma na procela,
persistir em viver seria o cúmulo
dois vencidos iriam para o túmulo
minha saudade comigo e eu com ela.
–DINIZ VITORINO/PB–

Soneto do Dia

Mulher, Verbo Amar...
–FRANCISCO MACEDO/RN–


Mulher, obra-prima do Pai Criador,
Mulher, já nasceu - criação preferida,
mulher, mãe, amante, alicerce da vida,
mulher, sobretudo, um exemplo de amor...

Maria, mulher, foi por Deus, escolhida,
seu ventre tão puro, cedeu ao senhor,
gerou o seu filho do próprio calor,
mulher e rainha... A missão foi cumprida.

Mulher soberana, também sofredora,
rainha do lar, mas, também professora,
matérias diversas, nasceu pra ensinar.

O verbo divino, em seu ventre habitou,
e em todos os tempos, porque consagrou,
de todos os verbos, o seu verbo é amar!...

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 504)


Uma Trova de Ademar

É a natureza sentindo
a dor no pulmão da terra,
e as matas, tristes, ouvindo
o ronco da motosserra!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Numa volúpia de amante,
estuante de emoção,
o colibri cintilante
beijava a flor em botão.
–ADAMO PASQUARELLI/SP–

Uma Trova Potiguar


Depois de muitas andanças,
e tanta ilusão perdida,
vejo lindas esperanças
orvalhando minha vida.
–REINALDO AGUIAR/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Da vida, no grande coro,
eis nosso destino atroz:
seguirmos de choro em choro,
até chorarem por nós!
–TASSO DA SILVEIRA/PR–

Uma Trova Premiada


2011 - Nova Friburgo/RJ
Tema - RECADO - M/E


Nas armadilhas da vida
às vezes, o amor mais lindo,
dá seu recado, e em seguida,
manda um outro, desmentindo.
–ALBA CRISTINA C. NETO/SP–

Simplesmente Poesia

Poemeto.
–ORACY DORNELLES/RN–


Voar
Voar em V
como ponta de flecha

Voar em V
como o vento
mítico

Voar em verso
e voltar
oracícaro.

Estrofe do Dia

Eu peço a Deus, todo dia,
numa prece comovida:
se eu merecer um castigo,
tire-me a própria comida,
mas não me tire a alegria
do convívio da poesia,
que é o sonho melhor da vida!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Soneto do Dia

Meus Conflitos
–OLGA MARIA DIAS FERREIRA/RS–


Amargo pranto escorre em minha face,
enorme dor sufoca este meu peito,
saudade imensa, já, não mais desfaz-se,
nem abandona as sombras do meu leito..

A nuvem negra deste desenlace,
mostra-me a cor de nosso lar desfeito,
e luto intenso em minha alma faz-se,
na falta deste amor... quase perfeito..

Ah, meus conflitos já cristalizados,
revelam mágoas, dores e pecados,
numa constância e impertinência louca...

Pelos momentos, já, ultrapassados,
por tantos sonhos por nós dois sonhados,
nesta saudade... beijo a tua boca!

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 503)


Uma Trova de Ademar

No outono, o comportamento
da folha, nos irradia,
pois, mesmo atirada ao vento
não perde a sua magia...
ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Doce trova, companheira:
criatura e criação,
chega de toda maneira
e aporta em meu coração!
–CARMEN PIO/RS–

Uma Trova Potiguar


Onde há fé, nada termina...
Jesus Cristo, o Redentor,
lá do céu, abre a cortina
enchendo o mundo de amor!
–EVA GARCIA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


À primeira claridade,
da manhã fresca e bonita,
a nossa bela cidade
desperta alegre e se agita
–SERAFIM FRANÇA/PR–

Uma Trova Premiada


2010 - Brag. Paulista/SP
Tema - CAMINHADA - Venc.


Nesta ambígua caminhada
há mistério e não me iludo:
-“Não sinto medo de nada,
mas tenho medo de tudo!!!”
–ANTONIO COLAVITE FILHO/SP–

Simplesmente Poesia


M O T E :
Eu fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela.
HUGO ARAUJO/PE–

G L O S A :

–GILSON MAIA/RJ–

Parece-me que a sorte, por maldade,
sempre quis perturbar a minha vida.
Minha amada zanzando na avenida
Eu fumando o cigarro da saudade
Mudarei, bem depressa, da cidade,
pra tentar esquecer essa mazela.
Ai que sina madrasta, chorumela!
Ergo os olhos aos céus, mas que ironia,
continuo fumando, noite e dia,
e a fumaça escrevendo o nome dela.

Estrofe do Dia

A maior pena da vida
para todos é uma só;
seja pobre, seja rico
a vida termina em pó;
e apenas a morte, apenas,
é quem aplica tais penas
e aplica sem pena e dó!
–LUIZ DUTRA/RN–

Soneto do Dia

Coisificadas
–HAROLDO LYRA/CE–


Hoje é comum mulher tirar a roupa
pra revelar nas bancas de jornal,
despudoradamente o colossal
segredo da virtude, já tão pouca.

Desnuda-se, aos apelos do mural;
na crapulosa folha a pose louca
que a revista conduz de boca em boca
e faz dessa mulher coisa venal,

que assim exposta nua à sordidez;
dependurada à espreita do freguês,
nem percebe aonde e como vai chegar.

Mas chega ao pai, os sonhos carcomidos,
por ver da filha os garbos preteridos,
e oferecida a quem puder pagar.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 502)


Uma Trova de Ademar

É na Fé que eu me doutrino;
diferente dos ateus...
Minha vida e meu destino
entrego nas mãos de Deus!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Ao contemplar teu sorriso,
fruto de nossa amizade,
meu peito toca seu guizo,
de pura felicidade!
–NEMÉSIO PRATA/CE–

Uma Trova Potiguar


Após, intensa jornada
e como que, por crendice,
a mocidade exultada,
sede lugar a velhice.
–FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Jamais será diferente
minha atitude contigo,
que a amizade é permanente:
só trai quem não era amigo.
–ELTON CARVALHO/RJ–

Uma Trova Premiada


2010 - Brag. Paulista/SP
Tema - CAMINHADA - Venc.


Sem conter as mãos ousadas,
por meu corpo te aventuras
em noturnas caminhadas
de prazeres e loucuras...
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Simplesmente Poesia

Todo Dia
–JUSSARA GABIN/PR–


Todo dia,
no mesmo compasso,
toco minha vida.
Curo as feridas
e busco um espaço.
Não guardo rancor,
nem mágoa de amor,
tristeza ou cansaço.
Tenho na algibeira
pedrinhas preciosas,
nas mãos, um rosa,
colhida no jardim.
Sou peça importante
neste mundo inconstante
que escolheram pra mim.

Estrofe do Dia

O mundo se encontra bastante avançado,
a ciência alcança progressos em soma,
na grande pesquisa que fez o genoma
todo o corpo humano já foi mapeado;
No mapeamento foi tudo contado:
Oitenta mil genes se pode contar,
A ciência que faz chover e molhar,
faz clone de ovelha, faz cópia completa;
duvido a ciência fazer um poeta
cantando galope na beira do mar...
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

Sonetos.
–SÍLVIO VALENTE/BA–


Amo o soneto porque é molde antigo
para dizer as cousas sempre novas;
porque depois de não sei quantas provas,
um pudor virginal guarda consigo.

O soneto é mais puro do que as trovas.
sim, Bem-Amada, eu nele apenas digo
tudo que é nobre em mim, tudo que aprovas
e é meu prêmio na vida, e é meu castigo.

É fino e breve, e tem segredos de arte;
uma pureza, enfim, tão cintilante
que, quando um dia desejei cantar-te,

os teus encantos rútilos, diversos,
pus em soneto; e desde aquele instante,
só sei rimar-te com quatorze versos.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 501)


Uma Trova de Ademar

O carisma verdadeiro
não se compra, ele é um dom!
Bem melhor que ter dinheiro
é ter carisma... E ser bom!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


No teatro, hoje em ruínas,
tantos sonhos eu plantei,
que as lembranças peregrinas
nem percebem que parei...
–LUIZ ANTONIO CARDOSO/SP–

Uma Trova Potiguar


Este conceito traduz
um céu de muito esplendor:
– “amor é facho de luz”
– “perdão é bênção de amor!”
JOAMIR MEDEIROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Pôs-se fim na pagodeira,
resta a cinza, em despedida,
que o vento da Quarta feira
vai levando na avenida!
PEDRO WILSON ROCHA/CE–

Uma Trova Premiada


2010 - Brag. Paulista/SP
Tema - CAMINHADA - Venc.


Nas caminhadas que fiz
pela vida atribulada,
aprendi que ser feliz
é viver de quase nada!...
–ALMIRA GUARACY REBÊLO/MG

Simplesmente Poesia

Em Preto e Branco
–CARMEN CARDIN/RJ–


Eu aposto nas emoções praticadas
Da ternura: ela atravessa fronteiras!
Amo o sabor das coisas delicadas,
Amo o valor das coisas verdadeiras.

Em cada muito, do pouco que faço
Em cada tudo, do nada que sinto,
A surpresa de viver trai o meu traço:
Dizendo a verdade, eu minto.

No rubor da minha face me afugento
(Ás vezes têm-se o nada e este é tanto!)
O carmim dos meus lábios é sedento
A maquiagem dos meus olhos é o pranto

Não faço planos, desconheço o que é promessa:
Nada tenho, nada sou, nada sei...
Nada peço, tudo quero, tenho pressa:
O artifício do Amor é a minha lei!

Estrofe do Dia

Me sinto prisioneiro
nas rédeas do teu destino,
me tornei um peregrino
por esse amor bandoleiro;
a ausência do teu cheiro
maltrata o meu coração,
por não sentir mais paixão
fiz voto de castidade;
no cabresto da saudade
amarrei minha ilusão.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

Ninguém...
–JOÃO UDINE/CE–


Ninguém entende a alma de um poeta!
É um enigma sondá-la e entendê-la.
O mundo vil, em desencanto, a veta,
Só porque o bardo diz ouvir estrela...

Ninguém entende a alma de um poeta!
Ninguém entende o seu poetar divino.
Ninguém entende a sua luz e meta
A transcender no verso cristalino...

O vate canta o que o céu clareia:
O mar, o sol, a lua, a branca areia,
E o perfume oloroso de uma flor...

Ah, o poeta canta e mui delira
Ao tocar, com amor, as cordas da lira,
Do seu pequeno e desmedido amor!

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 500)


Uma Trova de Ademar

A mais triste solidão
que os seres humanos tem
é abrir o seu coração,
olhar... E não ver ninguém!
ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Sofre o revés mais que justo
quem da ambição não se esquece
ao tentar a todo custo
conquistas que não merece.
–CEZAR AUGUSTO DEFILIPPO/MG–

Uma Trova Potiguar


A noite cai machucada
por tantas cenas de horror,
que os olhos da madrugada
abrem vermelhos de dor!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Não paras quase ao meu lado...!
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida..
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Uma Trova Premiada


1985 - Nova Friburgo/RJ
Tema - BRINQUEDO - 1º. Lugar


Infância é um brinquedo usado
que um dia a vida resolve
tomar um pouco emprestado
e nunca mais nos devolve!
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Simplesmente Poesia

Motivo.
–CECÍLIA MEIRELES/RJ–


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Estrofe do Dia

Seu doutor com licença e com respeito,
sou um pobre coitado e sem ciência,
tenha um pingo se quer de consciência
e reconheça também o meu direito.
Mesmo estando sofrendo neste leito
eu imploro ao senhor, não me agrida!
Mostre a luz, o caminho e a saída,
não cometa este ato tão medonho
nem maltrate um poeta e nem seu sonho,
que um poeta sem sonho, não tem vida.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

Ouvir Estrelas
–OLAVO BILAC/RJ–


"Ora direis ouvir estrelas! Certo
perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muita vez desperto
e abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
a via láctea, como um pálio aberto,
cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora! "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas".

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 499)


Uma Trova de Ademar

Sem grana até pra o café,
doeu, eu sei, mas foi fato...
Eu mandei cortar um pé
pra economizar sapato...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Ao chegar no beleléu,
mostra, o bebum, seu espanto:
- Não tem boteco no céu?
E as pingas que eu dei pro santo ?!?
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP

Uma Trova Potiguar


Minha sogra além de feia,
é lúcifer em formato!
Que a aranha tecendo a teia
desvia do seu retrato.
–DJALMA MOTA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Pra botar fogo na gente
é assim que a mulata faz:
em cima estufa pra frente,
em baixo estufa pra trás!
–JOUBERT DE ARAÚJO SILVA/RJ–

Uma Trova Premiada


2011-Belo Horizonte/MG
Tema: FOGO - M/E


Bem malandro é o Ademar,
de “fogo”, quase caindo,
entra de costa em seu lar
pra fingir que está saindo.
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

Estrofe do Dia


Fiz de tudo nesta vida
só pra te fazer feliz;
dei-lhe tudo o quanto quis
dinheiro, casa e comida,
dei carinho e dei guarida
te deixei toda alinhada
e você de pá virada
dizendo que me detesta;
na boca de quem não presta
quem é bom não vale nada!
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

Argumento de Defesa
–BASTOS TIGRE/PE–


Disse alguém, por maldade ou por intriga,
que eu de Vossa Excelência mal dissera:
que tinha amantes, que era "fácil", que era
da virtude doméstica, inimiga.

Maldito seja o cérebro que gera
infâmias tais que em cólera maldigo!
Se eu disse tal, que tenha por castigo
o beijo de uma sogra ou de uma fera!

Senhora! pondo a mão sobre a consciência,
minha palavra, impávida, protesta
contra essa intriga da maledicência!

Indague a amigos meus; qualquer atesta
que eu acho e sempre achei Vossa Excelência
feia demais para não ser honesta...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 498)

Uma Trova de Ademar

Já cansado, de voz rouca,
ao encontrá-la novamente
minha emoção não foi pouca,
Apenas... Foi diferente!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Nosso sonho deu em nada,
mas nosso amor ergue a voz,
em busca de outra alvorada
que vive dentro de nós!
–RODOLPHO ABUDD/RJ–

Uma Trova Potiguar

Sorrindo, escondo uma dor
que ela deixou em meu peito;
e o peito guarda um amor
que teima em não ser desfeito.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Saudade – lembrança triste
de tudo que já não sou...
Passado que tanto insiste
em fingir que não passou!
–EDGAR BARCELOS/RJ–

Uma Trova Premiada


2010 - Brag. Paulista/SP
Tema: CAMINHADA - Venc.


O reencontro... a caminhada...
a lua seguindo os dois...
a chama reavivada,
e o resto... eu conto depois...
–DARLY O. BARROS/SP–

Simplesmente Poesia

Falta de Ar
–J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC–


Há dias que posso passar sem sol, sem luz,
sem pão,
sem tudo enfim...

( Tenho até a impressão de que não preciso de nada...
... nem mesmo de mim...)

Mas há dias, amor... ( e parece mentira)
- nem eu sei explicar o porquê
de tão grande aflição -

em que não posso passar sem Você
um segundo que seja!
- de repente preciso encontrá-la, é preciso que a veja -

- Você é o ar com que respira
meu coração !

Estrofe do Dia

Fui feito sob medida
para amar e ser feliz,
mas o destino não quis
que eu fosse feliz na vida;
com minha alma enternecida
e um coração sofredor
digo com todo amargor;
ninguém amou do meu tanto...
Eu nasci para ser santo,
mas me fazem pecador!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Via Crucis
–MARIA NASCIMENTO CARVALHO/RJ–


Foste embora e eu, sedenta de carinhos,
tentando alimentar minha ilusão,
fingia encontrar rosas nos espinhos
com que marcaste a minha solidão...

Depois, tentei seguir outros caminhos,
mas, sem achar a tua direção,
na “VIA CRUCIS” longas dos sozinhos
deixei pedaços de alma e coração...

E, nessa andança inútil, sem destino,
provei a dor cruel do desatino
e todo o dissabor dos desenganos...

Não te encontrei. Por isso, em poucos meses,
meu coração parou milhões de vezes,
minha alma envelheceu mais de cem anos...

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 497)

Antigo Mosteiro em Mossoró/RN

Uma Trova de Ademar

O amigo que nos quer bem
é aquele que, sem temor,
oculta uma dor que tem
e vem sanar nossa dor...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Ouço no vento o lamento
dos solitários tristonhos
que viram, da vida, o vento
amarrotar os seus sonhos!
–MARISA RODRIGUES FONTALVA/SP–

Uma Trova Potiguar


Meu cartão de identidade
está dentro de meu ser;
e, em meus olhos, a verdade
todo mundo pode ver.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quando na igreja, te fita,
tão meiga e linda rezando,
o próprio santo se agita
com medo de estar pecando.
–RENATO MARTONE JUNIOR/SP–

Uma Trova Premiada


2010 - Ribeirão Preto/SP
Tema: VIAGEM - 5º Lugar


Se a vida é apenas passagem
quero que me façam jus;
na minha última viagem
deixem que eu veja Jesus!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Simplesmente Poesia

Despedida.
–THALMA TAVARES/SP–


No aceno discreto e mudo
que entre lágrimas fizeste,
teus olhos disseram tudo
do amor que nunca disseste...
Por esse amor eu desnudo
meu coração rude e agreste,
que se transforma em veludo
ante o teu olhar celeste.
Mas assim que tu partiste
a vida se fez mais triste
e o mundo um tédio medonho.
Sempre que lembro o teu pranto,
minha alma se encolhe a um canto
e chora a morte de um sonho.

Estrofe do Dia

A pior das piores sacanagens
que se pode a um poeta praticar
é roubar-lhe o direito de narrar
em seus versos, poemas e mensagens,
a beleza bucólica das paisagens
sobre a relva orvalhada e colorida,
sem ter isso o poeta não tem vida,
fica triste abalado e bem tristonho;
quer matar um poeta, mate um sonho,
que um poeta sem sonho se liquida.
–JUNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

A Solidão
–GABRIEL BICALHO/MG–


Trago comigo, neste corpo lasso,
as marcas do que fui, meu desatino.
Se tive uma mulher em cada braço,
não tive o grande amor do meu destino.

A solidão me sobe, passo a passo,
quando subo as ladeiras do Divino
e pesa mais que fardo este cansaço,
como dobres de morte em cada sino.

Ai!, quem me dera, nesta noite fria,
qual vate ilustre que também vadia,
revê-la agora como outrora a vi!

Tamborilava os dedos na agonia
de quem morre um pouquinho todo dia,
compondo os versos que não lhe escrevi!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A. A. de Assis(Revista Virtual Trovia n. 147 - março 2012)


Inesquecíveis

De compromissos te esquivas
mas é fácil de notar,
que o prazer do qual me privas
vive escrito em teu olhar...
Analice Feitoza de Lima

Riquezas tenhas tão grandes,
e tal bondade também,
que ao redor donde tu andes
não fique pobre ninguém.
Augusto Gil

Hoje eu sei que foi loucura...
Mas ao louco que fui eu
devo o pouco de ternura
que o bom senso não me deu.
Cesídio Ambroggi

Ah se eu pudesse saber
qual a mulher que ele quer!
Que não iria eu fazer
para ser essa mulher?
Magdalena Léa

O poeta, em sua lida,
ainda que o mundo o afronte,
tem sempre um sopro de vida
que o leva além do horizonte...
Milton Nunes Loureiro

Saudade!... Foto em pedaços,
que eu colei, com mão tremida,
tentando compor os traços
de quem rasgou minha vida!...
Waldir Neves

A grande páscoa será aquela que marcará a passagem de um mundo
sem alma para um mundo onde haja espaço para o amor e a poesia.


Brincantes

Maria, o que foi que eu fiz
para ficares queimada?...
– Ainda pergunta, infeliz?
Há tempo não fazes nada...
Istela Marina – PR

Casamento de verdade
pouca gente ainda procura:
querem ter a propriedade
sem pagar pela escritura!
Jotão Silva – RJ

Depois de um beijo molhado,
sentiu algo diferente...
Perguntou ao namorado:
– Onde foi parar meu dente?
Mª Lúcia Godoy Pereira – MG

Afoita, entra de cabeça,
e ao se dar conta declara:
– Por incrível que pareça,
o que eu quebrei... foi a cara!!!
Mª Madalena Ferreira – RJ

Quando a feia se “embeleza”,
mas o resultado é trágico,
diz o espelho – que se preza:
– Ela pensa que sou mágico!...
Renato Alves – RJ

Da abelha o casal tem tudo:
primeiro o mel da paixão;
segunda fase – abelhudo;
terceira fase: – ferrão!...
Roza de Oliveira – PR

Líricas e filosóficas

Entre o pássaro e o poeta
há perfeita identidade:
seu canto só se completa
se há completa liberdade.
A. A. de Assis – PR

Saudade é tarde chorando
um tempo em que foi aurora,
ao ver a noite levando
o brilho do sol embora.
Adélia Vitória Ferreira – SP

Versos já fiz – não sei quantos –
relembrando a mocidade...
Hoje servem de acalantos
para ninar a saudade.
Ademar Macedo – RN

Costumo dizer que a trova
é diminuta poesia,
mas que sempre põe à prova
a nossa sabedoria.
Agostinho Rodrigues – RJ

Ah, se eu pudesse algum dia
ter asas para voar...
Quem sabe talvez iria
em tua boca pousar!
Almir Pinto de Azevedo – RJ

Quero sim, você diz não!
Assim é tudo impossível...
Não quero viver em vão,
nessa dúvida terrível.
Benedita Azevedo – RJ

O mar da vida parece
que às vezes quer me afogar,
mas Deus, que nunca me esquece,
atira a boia no mar!
Carolina Ramos – SP

Eu confesso hoje, sem medo,
que este amor em mim guardado
não é só o meu segredo,
é também o meu pecado!
Clenir Neves Ribeiro – RJ

Sou rainha afortunada,
você meu rei, meu senhor.
Doce ilusão implantada
no reino do nosso amor!
Conceição Abritta – MG

Uma página arrancada,
jogada ao léu, esquecida:
assim sou eu – quase nada –
no livro da sua vida!
Conceição de Assis – MG

Não sou ave nem sou peixe,
nunca aprendi a nadar,
mas peço a Deus que me deixe
num dia desses voar!
Diamantino Ferreira – RJ

Inútil, desagradável,
tornar alguém diferente,
para que seja ajustável
aos interesses da gente.
Djalma da Mota – RN

O nosso amor escondido,
sem promessa de aliança,
tem o sabor proibido
do fruto da vizinhança!...
Domitilla B. Beltrame – SP

“O que é o amor?”, me perguntas,
e, em coro, os anjos entoam:
“São duas pessoas juntas
que se amam e se perdoam!”
Eduardo A.O. Toledo – MG

Sol e mar... calor, beleza...
vêm mostrar à humanidade
que o homem e a natureza
têm a mesma identidade.
Eliana Jimenez – SC

O nosso beijo envolvente,
na rotina que amanhece,
é o apelo mais urgente
para que a noite se apresse!
Elisabeth S. Cruz – RJ

Ao tempo que está passando,
peço: – Vá mais devagar!
E ele segue me esnobando,
fingindo não me escutar.
Francisco Macedo – RN

A velhice que me encurva
desacelera meus passos,
torna a minha visão turva...
Apoio? Só nos teus braços.
Francisco Pessoa – CE

A saudade da saudade
varreu de mim a alegria,
levando a felicidade
que eu pensava que existia!
Gislaine Canales – SC

Quando uma lágrima cresce
e cai dos olhos de um pai,
pesa tanto que parece
ser a própria dor que cai.
Héron Patrício – SP

Olho o céu. A lua, um lume,
se desloca magistral...
Nunca vi um vaga-lume
tão soberbo e pontual.
Humberto Del Maestro – ES

Não dou conselhos na luta
que cada um realiza,
pois o tolo não escuta
e o sábio jamais precisa.
J. B. Xavier – SP

A presença do Senhor
se faz sentir plenamente
desde a beleza da flor
à humildade da semente.
Jeanette De Cnop – PR

Amor, dádiva divina,
semente humilde e perfeita;
a luz que nos ilumina
pela caminhada estreita!
João B. de Oliveira – SP

Dê vida ao seu dia a dia,
dedicando-se as labor.
Trabalho gera alegria,
quando é feito com amor!
Jorge Fregadolli – PR

Amor há no coração
que é feito brasa apagando.
Se vai virando carvão,
surge a saudade soprando...
José Fabiano – MG

Vivo em busca de carinho,
em castelos de ilusão...
Tanto tempo estou sozinho,
quem me aquece é a solidão.
José Feldman – PR

O mar, nas lutas que travo
ao dar combate à procela,
parece um cavalo bravo
e a jangada, a minha sela!
José Messias Braz – MG

De uma forma muito astuta,
a mentira nunca falha:
Hoje atinge a quem a escuta,
amanhã, a quem a espalha...
José Ouverney – SP

Meu corpo colado ao teu...
dois seres: um sentimento!
Sonho que sobreviveu
apenas em pensamento...
Luiz Antonio Cardoso – SP

Não pergunte a um trovador quantas trovas ele
já escreveu. Pergunte-lhe quantas trovas já leu.


Segue o tempo, indiferente,
pela idade, em despedida...
Passa, mas deixa presente
o doce encanto da vida!
Mara Melini Garcia – RN

Sonhar quando a gente dorme
é comum e é natural.
A diferença é enorme
é quando o sonho é real.
Maria Lúcia Fernandes – RJ

Muito pouco foi preciso
para em Deus acreditar.
No encanto do teu sorriso
eu vejo o céu se espelhar.
Mª Luíza Walendowsky – SC

Às vezes, tudo exigimos
que Deus faça a todo custo,
sem pensar que o que pedimos,
tornaria Deus injusto.
Maria Nascimento – RJ

Reticências: uma frase
que alguém pensa mas não diz...
justamente aquele "quase"
que nos faria feliz.
Mª Thereza Cavalheiro – SP

Tenho por certo, em verdade,
bem vivo, embora pungente,
que a mais pungente saudade
é aquela de alguém presente!
Maurício Friedrich – PR

Cortina lembra passado
e nela não vou mexer.
Tenho até muito cuidado:
eu a lavo sem torcer.
Messody Benoliel – RJ

Toda mentira promete
o que não pode lhe dar;
só à verdade compete
fazer justiça e mostrar.
Mifori – SP

Por estar na solidão, / tu de mim não tenhas dó. / Com trovas
no coração, / eu nunca me sinto só. – Luiz Otávio


Neste mundo em que a atitude
poderá causar um mal,
a prudência é uma virtude
de expressão universal.
Nei Garcez – PR

Sonhos são bolas infladas
pelos ares da ilusão,
que os espinhos das estradas
vão fincando pelo chão...
Nilton Manoel – SP

No rosto, um leve sorriso
disfarça a dor da saudade...
– Há vezes em que é preciso
fingir a felicidade.
Olga Agulhon – PR

Da despensa de Deus Pai,
sou mordomo e sou fiel;
só quem pensa que Ele trai
vira as costas para o céu.
Olivaldo Júnior – SP

A tristeza em minha casa
está num quarto vazio.
De dia a saudade abrasa,
à noite mata de frio.
Roberto Acruche – RJ

Contemplo o céu para vê-las
com um respeito profundo,
pois na raiz das estrelas
eu vejo o dono do mundo.
Rodolpho Abudd – RJ

Piedade infeliz tem sido...
Com santa piedade orava
pelo seu amor bandido,
que, sem piedade, matava.
Rose Mari Assumpção – PR

No refúgio desmanchamos,
quando ficamos a sós,
esses nós que carregamos
no fundo de todos nós!
Selma Patti Spinelli – SP

Um abraço grande a todos os divulgadores de trovas.
Sem eles os nossos trabalhos não seriam conhecidos.


Nada mais nos aproxima...
e, nessa ausência de afeto,
nós somos trova sem rima
e sem sentido completo!
Sérgio Ferreira da Silva – SP

Sim, eu sou paranaense,
com orgulho e "pé vermeio";
e aprendi que a vida vence
quem pra aqui com garra veio.
Sinclair Casemiro – PR

Eu penso em mãos carinhosas,
espero um beijo faceiro;
quero sussurros e rosas
e um romance por inteiro.
Therezinha Tavares – RJ

Na vida vivo tentando
tornar meu mundo risonho,
pois a tristeza vem quando
existe ausência de um sonho.
Vanda Alves – PR

Em tédio avassalador
daqueles que não têm cura,
num minuto o Trovador
transforma tudo em ventura!
Vânia Ennes – PR

Meu diário! Em tuas folhas
morrem desejos sem fim...
Pago o preço das escolhas
que outros fizeram por mim.
Wanda Mourthé – MG

Não sei como Deus sabia,
mas deu-me, quando nasci,
a família que eu queria
e os amigos que escolhi.
Wandira F. Queiroz – PR

Sabiá de peito roxo,
passarinho cantador...
Seus gorjeios sem muxoxo
são melodias de amor!
Vidal Idony Stockler – PR
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J. G. de Araujo Jorge (Uma Estrela Para Você)


É hora da gente pensar como no poema: “Um dia...”

Um dia... E para nós há sempre um dia
que tudo modifica de repente,
dando outro rumo, inesperadamente,
ao caminho que a gente percorria...

E então, a hora inesperada de alegria
se transforma em tristeza, rudemente,
ou a dor se desfaz, e a alma sente
imprevisto prazer que não sentia.

Ouço falar assim desde menino
e me deixo ficar, sempre esperando,
por esse estranho dia do destino...

E às vezes, esta espera me intimida,
porque não sei o que trará, nem quando
chegará esse dia à minha vida...


Não me lembro. Mas talvez tenha escrito este soneto num fim, ou num começo de ano, quando inexplicavelmente nos deixamos ficar com a alma em suspenso, como se alguma coisa tivesse, ou estivesse para acontecer. Fim de ano é época propícia às velhas superstições. Todos nós, mesmo os mais céticos, os mais materialistas, percebemos que nosso pretensioso racionalismo se turva, que resíduos místicos vêm à tona agitados sabe-se lá por que misteriosos elementos.

Afinal, a Terra completou mais uma volta em torno do Sol, tal qual fazia nos tempos dos faraós egípcios, e dos “patesis” sumérios. O que não impediu que muitos povos, através da história, comemorem o ano solar de formas diversas, como os gregos, os russos, os mulçumanos, os judeus. Mas todos nós, povos cristãos, o festejamos da mesma maneira e na mesma ocasião, desde a reforma gregoriana.

E então, a 31 de dezembro, à meia-noite, atordoados pelo rumor da alegria nos salões e nas ruas, por entre contos fetichistas e marchinhas carnavalescas, ressurgem em nós crenças e temores que julgávamos desaparecidos. Já não discutimos a força dos signos, nem as previsões dos horóscopos.

De súbito, acreditamos no Destino e na Felicidade, que ganham a força de entidades, de uma efêmera religião que nasce e morre ao espocar das garrafas de champanha, ou enquanto se derretem as velas de cera dos rituais pagãos a Iemanjá, à beira do mar.

Há um transe coletivo, em que todos se engolfam, nas festas de passagem de ano.

Vagamente se acredita que alguma coisa está terminando, e que algo de novo se inicia, e com esse algo de novo, novas oportunidades, novas possibilidades diante da vida. Você já experimentou se analisar naquelas horas, naqueles momentos, em que se comemora o Ano Novo?

Subitamente o Destino está presente, como um deus. É o Deus-Destino ao qual festejamos, diante de quem comparecemos, como as almas dos mortos egípcios, no tribunal de Osíris. E se não nos confessamos, e se não estamos em penitência pelos nossos erros e pecados, esperamos que ele nos absolva de tudo, e que nos dê aquela felicidade que ainda não conseguimos conquistar.

Exaltei-o nas quadrinhas:

Deus poderoso, maneja
nosso mundo pequenino...
Quem, por mais forte que seja,
tem mais força que o Destino?

Que somos nós? Indefesos
pobres bonecos, sem pés...
O Destino nos tem presos
aos seus estranhos cordéis...


E isto porque, todos nós, a cada nova manhã

Saímos, pelos caminhos
quais D. Quixotes, bisonhos,
lutando contra os moinhos
de vento, dos nossos sonhos!


A verdade é que, ao fim de cada ano, a cada ano novo, não podemos fugir às sugestões que a oportunidade suscita. Há um fato astronômico ? trezentos e sessenta e cinco dias, cinco horas, quarenta e nove minutos e doze segundos ? o tempo necessário para o nosso velho planeta completar a sua volta em torno do Sol, mas criamos com isso todo um mundo complexo de implicações emotivas e imaginosas, e então, sentimos, como se realmente nós também começássemos uma “volta” nova em nossas vidas. Mas, em torno de quê?

O fato é que realimentamos o coração de desejos. Que poderoso manancial de sonhos e esperanças há nesta simples expressão: Ano Novo! E todos nós nos desejamos, ardentemente, com estranha convicção: um feliz Ano Novo! Levantamos no tempo (o que é o tempo?) uma barreira quase material: o que passou, passou! Sim, há um ano novo, e poderá haver também uma vida nova. Estamos, na realidade, desejando: Feliz Vida Nova para Você!

E nessa hora de festa, é como se todos se sentissem obrigados a ser felizes. Como se temessem a tristeza como uma doença, ou como se receassem aparecer diante dos seus deuses com as máscaras de suas dores e de seus desenganos. As claridades que estão no céu não são apenas as de um novo dia, mas as de uma felicidade entressonhada, nunca tarde demais para chegar.

Estranho. Nessas ocasiões me acovardo. As festas coletivas me intimidam. Receio não ter forças nem condições para sintonizar com as grandes felicidades.

Naquele exato momento, entre o ano que finda e o que nasce, quando uma onda de alegria contagia a todos, quase que indistintamente, fico à margem, numa invisível praia solitária, como um náufrago. À toa, sem saber que fazer da vida. Uma das horas mais pungentes para mim, inexplicavelmente, é sempre aquela em que os ponteiros se casam na meia-noite do dia 31 de dezembro de cada ano. Enquanto sobem foguetes, espocam garrafas de champanha, tinem taças, ouvem-se cantos, bocas se beijam, abraços se estreitam, não consigo evitar meu invencível e súbito estado de levitação interior, entre atordoado a atônito.

Tal como no carnaval, ou no Natal, o último dia do ano me apanha sempre desprevenido. O encontro com essa felicidade barulhenta, exibicionista, que estoura como um petardo, me paralisa. Caio em mim, e sinto-me de repente, fundo, distante de todos, incapaz de segui-los, de entrar em seus “ranchos” e “blocos”. Como já escrevi, certa vez: Me sinto cada vez mais no “bloco do eu sozinho”. Desculpem-me esta cinza com que escrevo. Alguma coisa ainda se queima, e o vento trouxe. Resta o consolo de que alguma coisa ainda há para queimar, para arder. Podia ser pior.

Francamente, sou um homem incapaz de “entrar no Ano Novo”. Não sei que gostaria de fazer, quem gostaria de encontrar. Talvez porque não consiga mesmo distinguir essa “última noite” do ano de todas as outras noites. Não gosto das datas vermelhas dos calendários. Gosto dos feriados que a vida, avaramente, cada vez mais avaramente, decreta para mim. Meu Ano Novo começa qualquer dia e qualquer hora.

Me lembro, por exemplo, de que esse último dia do ano, enquanto a festa atordoante se diluía na noite, e pulsava em todos os segundo, eu me sentia um homem banal, perdido, sem contatos com a Terra. Receio muito que esteja me tornando, cada vez mais, um homem difícil, nesses tempos difíceis.

Mas, de coração, desejo felicidades para todos vocês.

Afinal o Ano Novo é um estado de espírito. Que o tenham, festejando como um Natal - algo novo que nasce, que brilha como uma estrela.

Sim, desejo a todos vocês uma estrela brilhante, neste Ano Novo que se inicia!

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 496)

Monte do Galo - Carnauba dos Dantas/RN

Uma Trova de Ademar

Sem ter interlocutores,
aos Trovadores, diria:
quem faz trovas, são doutores,
com mestrados em poesia!!!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


“Mãe-Natureza!” – eis o nome
de quem, em nome do amor,
gera o fruto e estanca a fome
do seu próprio predador!
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova Potiguar


Certo vaqueiro, tristonho,
já vencido pela idade,
afaga, como num sonho,
seu alazão – a saudade...
–REVOREDO NETTO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Tão calmo e frio eu te vejo,
que tristemente recordo:
acordava com o teu beijo
e hoje nem vês quando acordo...
–NYDIA IAGGI MARTINS/RJ–

Uma Trova Premiada


2009 - Cantagalo/RJ
Tema: SERTÃO - 6º Lugar

Sou sertanejo e não nego
crestei meus pés neste chão.
Nestas marcas que carrego ,
carrego o próprio sertão!
–PROF. GARCIA/RN–

Simplesmente Poesia

Não Sei
–ROLDÃO AIRES/SP–


Não sei se são os teus olhos,
ou se o teu jeito inocente,
faz com que eu sinta, pelo
meu corpo inteiro, algo que
não sentia, alguma coisa
diferente.
Me pego às vezes, pelos cantos
a falar, palavras que há muito
não dizia.
Sinto que renovo-me,
que procuro uma maneira,
de poder vir a possuir um novo
sonho para ser vivido,
um novo amor, que dentro tenho,
e não pode ser contido.

Estrofe do Dia

Sinto falta da voz de Gonzagão
decantando a canção "TRISTE PARTIDA"
que retrata a família e sua vida
apos retirar-se do Sertão.
Já não ouço Luiz Rei do Baião
cantando "DEPOIS DA DERRADEIRA"
Dominguinhos, sanfona de primeira
Genival e o "ROCK DO JUMENTO";
Precisamos fazer um movimento
Em defesa da música Brasileira.
–RODRIGUES LIMA/SP–

Soneto do Dia

Tempo de Amar
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–


Se a gente olhar a vida com carinho,
inda que more embaixo de uma ponte,
verá flores à margem do caminho
e sorrisos de estrelas no horizonte.

Quem sabe ouvir o borbulhar da fonte
e o sereno trinar de um passarinho
já não se entrega à dor, mesmo defronte
de ingratidões, de pedras e de espinho.

Nem a velhice pesa, quando a gente
se faz jovem no espírito e na mente,
cultivando a alegria de viver,

e, na existência pecadora e santa,
escuta a voz de um coração que canta
o amor que o tempo não logrou vencer.

Teatro da Terra (O Ciclista, de Karl Valentin) 1 a 11 de Março


Maria João Luís encena e encarna Karl Valentin, autor maior da dramaturgia alemã.

Valentin, artista dos sete ofícios cria, fotografa, representa, filma, escreve, enquanto a sua Alemanha atravessa duas guerras mundiais, sempre atento ás dificuldades que um pais em guerra impõe, sem se conformar com a tendência que a propaganda nazi alinhava com a superioridade da raça ariana, foi por isso censurado e esquecido. Só a partir dos anos 70, com traduções francesas, é redescoberto e reconhecido como um dos maiores autores cômicos de sempre.

O Teatro da Terra leva à cena o seu humor corrosivo e irreverente para que não caia outra vez no esquecimento, este talento gigante, muitas vezes apelidado como o Charles Chaplin dos dadaístas de Munique.

de 1 a 11 de Março

4ª a Sábado às 21h30 | Domingos às 16h00


Teatro Cinema de Ponte de Sor

Info e reservas
967 710 598 | 242 292 073
teatrodaterra@gmail.com

bilhetes preço único: 7€

texto Karl Valentin
tradução Maria Adélia Silva Melo e Jorge Silva Melo
encenação Maria João Luís
com Inês Pereira, Maria João Luís, Pedro Mendes, Joaquim Rocha, João Fernandes
cenografia Maria João Luís
figurinos Maria João Castelo
dir. produção e luz Pedro Domingos


Com os melhores cumprimentos
Pedro Domingos
(Direcção de Produção)


TEATRO DA TERRA
CENTRO DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA DE PONTE DE SOR, CRL
Herdade do Colmeal, Ribeira das Vinhas
7400-070 Galveias
+351 967 710 598
teatrodaterra@gmail.com | https://teatrodaterra.wordpress.com

Escritório de Produção
Av. da Liberdade, 64
7400-218 Ponte de Sor
+351 242 292 073

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

J. G. de Araújo Jorge (Uma Casa na Lembrança)


Com a mecanização avassalante da vida moderna, muitas vezes me pergunto qual será a imagem do lar do futuro?

A dona-de-casa trabalha fora, absorvida por mil e uma preocupações estranhas ao seu tradicional mundo doméstico; desaparecem as empregadas; os apartamentos se resumem a cubículos, com peças únicas, escamoteáveis, armários embutidos, sofás e poltronas-camas, quitinetes; aparelhos elétricos capazes de improvisar papas liquidificadas à guisa de refeições. Os filhos amontoam-se em camas-beliches, em espaços exíguos de camarotes de navio.

Amanhã, numa sociedade-síntese, em que se unirão as conquistas do conforto capitalista ao sistema de vida socialista, como sobreviverão o homem, a mulher e os filhos?

Francamente, não sei se serão agradáveis as casas dos nossos tetranetos. E quando digo casa, na me refiro apenas ao espaço onde nos recolhemos depois da luta de cada dia, mais justamente aos elementos humanos que a compõem e que, somados, transforma a casa em lar.

Confesso que não gosto de imaginar essa casa solitária, despojada de tantos valores tradicionais, espécie de robô habitado, onde as coisas acontecem sumariamente, a simples toques mágicos, sem a presença necessária e o calor da convivência humana.

Lembro-me de como me senti, certa vez, num pós-operatório, imobilizado num leito de hospital, ligado por tubos que me alimentavam e satisfaziam necessidades, numa cama que se mexia por mim.

Temo que a casa do futuro desumanize o homem. Tire-lhe uns restos de paisagem que ainda resistem como decoração. A intromissão da máquina em nossa vida particular vai reduzindo ao mínimo as perspectivas desse poético mundo prosaico que é o mundo de nossas casas, tão rico de belezas singelas em seu aconchego e em sua tranqüilidade.

A casa do futuro talvez acabe tornando o homem mais solitário que o faroleiro, montado numa penha perdida, em mar alto.

E como será esse homem que prescinde de seus semelhantes, que vive cercado de instrumentos, alimentando-se de pastilhas, procriando por inseminação artificial, em companhia de seres que estarão mais longe de seu espírito que os planetas de seu universo?

Não acredito que a dona-de-casa feliz seja a dona-de-casa sem casa, sem empregadas, para quem os afazeres naturais que constituem a sua vida e a sua alegria se transformem em gestos mecânicos, em atos frios e automáticos.

Eu, por mim, gosto das casas grandes, antigas, impregnadas de histórias, de tradições. Numa delas deixei minha infância, minha adolescência. E quando falo de casas antigas, lembro-me da casa de meu avô, o casarão dos Tinoco, na Rua da Piedade, em Bota-fogo. Está num poema:

“Me lembro da minha rua
velha rua da Piedade
Mudou pra Clarice Índio
Clarisse Índio do Brasil;
o nome de alguma dama
muito importante, quem sabe?
Muito importante, quem viu?”

(A Outra Face).

Bem que o guardo na memória, abrindo suas janelas altas, com grades de ferro, para a rua; o jardim lateral, a grande amendoeira, as acácias; e ao fundo, como uma vaga reminiscência das senzalas, as casas das empregadas. E me ocorrem visões de nossa velha aristocracia patriarcal.

Os romances de Manuel de Macedo e de Alencar fixaram para sempre os aspectos e a paisagem dessa sociedade de fins do século passado. Casas com telhados coloniais; janelas com gelosias românticas; amplas varandas com cadeiras de balanço, com redes preguiçosas, arrastando franjados no assoalho; quintais com uma infinita variedade de árvores, cada vez mais raras: abieiros, caramboleiras, sapotizeiros; salas-de-visitas com lustres e candelabros como jóias cintilantes, espelhos bisotês, estofados rococós; uma quantidade de quadros, salas, corredores, onde os filhos dos senhores brancos andavam de cambulhada com toda uma gama de mulatinhos vivos, filhos das escravas, das mucamas, às vezes com o senhor branco, cuja elástica moral era a do “faça o que eu digo e não o que eu faço...”

O casarão do meu avô Tinoco era, evidentemente, mais recente, mas recendia a sociedade patriarcal, quase ao tempo dos “sinhôs” e das “sinhás”, quando os maridos tratavam respeitosamente as esposas por Vossa Mercê... Lá estava, junto ao quarto de dormir, o oratório dedicado a Nossa Senhora da Conceição, com a candeia de azeite sempre acesa, as jarras com flores, a palha benta.

E a copa e a cozinha, enormes, fervilhantes de empregadas e tias (nesse tempo eu tinha 16!) nos dias de festas, onde pontificava a Maria Cozinheira e seus quitutes! Minha infância está presa à memória pelo paladar. Falar nela é ficar com água na boca, e lembrar-me da hora do lanche, quando a grande mesa da sala-de-jantar (nosso reino encantado!) ficava rodeada por minha avó, tias, primos, primas e suas amigas. Lá estavam os biscoitos de polvilho, os rocamboles, os pãezinhos de minuto, de bolos, as tortas, por entre bules fumegantes de chocolate, café, chá, leite. E nos aniversários e festas vinham os quindins, canudinhos de coco, baba-de-moça, as ameixas recheadas, bolos de nozes, que sei eu?

Sim, ficou-me no coração a nostalgia das casas-grandes, povoadas pelo bulício e a algazarra de tantos parentes e amigos, numa época em que as próprias empregadas como que faziam parte da família também. Até hoje com a carapinha algodoada, ainda vive a Maria Cozinheira, mãe-preta de nossa infância, que recorda com os olhos marejados de lágrimas aquele tempo. E não me esqueci também da Juventina, da Conceição, da Adriana, e até das babás, moças e roliças, que me ajudaram em algumas primeiras “lições de coisas...” Não sei como serão as casas do futuro, cada vez mais apartamentos, ou “apertamentos”. Mas não trocaria, por nada deste mundo, algumas das casas da minha infância, intactas, de pé, nas ruas da memória e do coração.

As casas são como seres que nos envolvem, com suas paredes, nos abrigam e protegem; nos falam; partilham de tantos dos nossos momentos; nos amam e passam, e às vezes morrem, como entes queridos.

Assim ficou o velho casarão de meu avô Tinoco: não como uma casa comum, mas como a lembrança de um primeiro amor, ideal que nunca se esquece e que não morre nunca!

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 495)


Uma Trova de Ademar

A minha fé não se abala
e sinto uma força estranha
toda vez que alguém me fala
sobre o sermão da montanha!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

A mentira mais fingida
que aprendi desde criança,
foi ouvir, que pela vida,
quem espera sempre alcança!
–EDUARDO A. O. TOLEDO/MG–

Uma Trova Potiguar

Gotinhas d'água na aurora
sobre a mata destruída,
traduzem pranto que chora
a Natureza agredida.
–CLARINDO BATISTA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Uma Trova Premiada

2009 - Cantagalo/RJ
Tema: SERTÃO - 13º Lugar


Este silêncio enlutando
de cinzas o pobre chão...
é a voz do sertão chorando
a morte da plantação.
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Simplesmente Poesia

Quem
–ISABEL CÂMARA/MG–


Quem diante do amor
ousa falar do Inferno?
Quem diante do Inferno
ousa falar do Amor?
Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama de Baudelaire.

Estrofe do Dia

Como a onda que bate e deixa espuma
teu encanto chegou de sobressalto
invadindo meu mundo de assalto
como o vento que passa e deia a bruma;
teu sorriso me acalma e me perfuma
transformando meu mundo mais perfeito,
se te amar demais é meu defeito
mas a alma se sente aliviada;
teu olhar é trovejo de invernada
que inunda a vazante do meu peito.
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Soneto do Dia

Mocidade Efêmera
–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–


Reparaste, algum dia – na fumaça
que de um cigarro evola – em espirais?...
não poderás em breve vê-la mais,
de célere e fugaz que ela esvoaça...

Mas, nesse breve instante, à mente lassa,
quanta saudade e sonhos divinais
que tu não podes esquecer, jamais,
não vêm, enquanto aquele fumo passa!...

E assim, tão breve quanto o fumo, a vida
passa tão rápida e despercebida
que o nascimento e a morte são rivais;

tudo se esvai, tudo sucumbe e passa;
e parte, junto aos rolos de fumaça,
a mocidade – que não volta mais!...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Alerta Sobre as Postagens

Esta semana, em virtude de que estarei mudando de residência, as postagens poderão ser irregulares. Procurarei ao menos manter uma certa regularidade, dentro do possível das Mensagens Poéticas do Ademar Macedo, para que não fiquem muito desatualizadas.

Espero a compreensão dos leitores do blog, caso ocorra algum dia sem postagem.

Estando instalado na nova residência, volto às postagens normais.

Aproveito este para solicitar aos irmãos trovadores de Minas Gerais que me enviem suas trovas ou dos trovadores mineiros falecidos ou não, para o lançamento do Minas Gerais Trovadoresco.

Obrigado
José Feldman

J. G. de Araújo Jorge (Um "Quadro " de Rimbaud)

Escrevi uma vez: um poema, um quadro, uma estátua, uma partitura, existem, têm vida própria, como um organismo, independente do artista que os criou.    Na realidade,  um poema tem sangue, nervos, coração, voz, alma, fala, comove, tal como ser, tal como o próprio homem. Daí um poeta chileno, Vicente Huidobro ter afirmado:

    “Um poema és um poema, tal como uma naranja és uma naranja y no uma manzana.”

A arte é o reverso da grande criação. Deus morre nos homens todos os dias. O artista se eterniza todos dias, em sua obra. O eterno criou o efêmero; o efêmero cria o eterno. Na realidade tudo é eterno e efêmero:  o artista, mortal, cria “seres” eternos; Deus eterno, cria seres  mortais.

Ocorreram-me estas idéias no dia em que me dispus a realizar as primeiras traduções. Preparava os originais da antologia que publicaria com o título de “Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou”.    

Lançaria o primeiro volume, só de sonetos brasileiros,  mas  queria  completar a obra,  com  um  volume de sonetos  estrangeiros.

Nossos leitores têm muito poucas oportunidades de conhecer a poesia de outros povos. Raros podem ler o francês, o inglês, ou mesmo o espanhol. Pedi, pois, a escritores, poetas, meus amigos, que me ajudassem. O que vinha encontrando, já realizado no passado,  pelos poetas românticos  e parnasianos,  era pouco, ou de difícil aceitação.  As traduções encontram-se  eivadas  de preciosismos, palavras mortas, expressões em completo desuso.                                                                  

Desde o momento, entretanto, em que comecei a receber a colaboração de meus amigos, senti-me na obrigação de participar também do livro, não apenas como seu idealizador, mas com alguns trabalhos. Tratava-se de uma experiência inteiramente  nova  para  mim,  mas,  que não se dissesse depois, que eu estava apenas explorando a produção alheia. E pus mãos a obra.                                     

Convenci-me, então, que traduzir é uma tarefa apaixonante. Não se trata de um simples  jogo  de  palavras.Em  sua  realização,  opera-se  uma  verdadeira “reencarnação” literária. Não trocamos apenas o corpo do poema  -suas palavras-,  de  um   idioma  para  outro,  mas  sopramos-lhes  um  novo   espírito,  o nosso, ao tentarmos captar a inspiração do original. E cada poema que sentimos, que se comunica conosco, que de alguma forma se identifica com a nossa sensibilidade, transforma-se num desafio, naquele justo momento em que nos dispomos a trocá- lo por um material diferente, para reconstruí-lo num idioma diverso.                     

Há no trabalho de recriação, todas as alegrias da verdadeira criação.                    

Surpreende-nos a emoção de suas revelações, quando  as vamos  descobrindo, assim como um arqueólogo em suas escavações, saboreando os detalhes do seu achado, um a um, a proporção que o vai vislumbrando.                                          

Foi  o  que  se deu, por   exemplo,  quando  me  dispus  a  escalar  as   alturas rimbausianas, atendendo a um concurso promovido pela página literária de um de nossos matutinos. Tratava-se de traduzir um soneto de Rimbaud; “Lê dormeur du Val”. E a escolha recaira intencionalmente, sobre uma das peças mais difíceis do grande  simbolista,  não  apenas  pela  sua   peculiar semântica poética, mas pela própria complexidade sintática de sua escola literária.                                          

Aceitei o desafio. Estava justamente com a “ mão na massa ”. Mandei a tradução, com um pseudônimo, e afinal para a minha surpresa, “entre mais de mil trabalhos lidos e selecionados”, como acentuou a Comissão julgadora, acabei saindo vencedor.

Eu trabalhava com cuidado. Para me manter, tanto quanto possível, fiel, não apenas à idéia central do soneto, mas à beleza das imagens, e a certos detalhes, indispensáveis à visão do conjunto e ao efeito final. E porque tentei reproduzir o ritmo dos versos, tive que sacrificar alguns elementos clássicos: adotei versos brancos (sem rimas, portanto), e não respeitei a cesura interna dos alexandrinos. No que diz respeito, aliás, a tonicidade, Rimbaud adotou liberdades que eram comuns entre os simbolistas.

Mas o soneto é uma pequena obra-prima. E Rimbaud, nele, não é apenas o poeta, mas  se desdobra  no  músico  e   no  pintor,  pela  sonoridade  de   alguns vocábulos, suas relações dentro dos versos, e pelo colorido do quadro esboçado.

Sim, trata-se de um pequeno quadro, descrito por um passeante, que avista a cena à distância, vai se aproximando encantado, e... o imprevisto final. O leitor o acompanha  despreocupado,  e  participa  da  emoção   do poeta  ante o desfecho surpreendente. Eis o “encontro” com                                                                       
LE DORMEUR DU VAL

C’est un trou de verdure, où chante une rivière
accrochant follement aux herbes des haillons
I’argent, oú le soleil, de la montangne fière
luit. C’est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue
et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
dort; il est étendu dans l’herbe, sous la nue,
pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
sourirait un enfant malade, il fait un somme.
Nature, berce-le chaudement: il a froid!

Les parfuns ne font pas frissonner sa narine;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine,
tranquile. Il a deux trous rouges au côté droit.
    E a tradução:
O ADORMECIDO DO VALE

É uma clareira verde, onde canta um riacho
prendendo alegremente às ervas seus farrapos
prateados; onde o sol da orgulhosa montanha
brilha. É um verdadeiro a espumar claridades.

Um jovem soldado, a boca aberta, e a cabeça
descoberta a molhar-se na erva fresca, azul,
dorme; está estirado ao chão, a céu aberto,
pálido no seu leito verde, à luz que chora.

Os pés nos lírios roxos, dorme. E sorri como
sorriria uma criança enferma, em sono leve.
Natureza. - aconchega-o bem: êle tem frio!

Os perfumes não mais lhe excitam as narinas;
Dorme ao sol; tem a mão abandonada ao peito.
Dois rubros orifícios sangram-lhe à direita.

Repito: uma tradução é uma estranha e singular “reencarnação” em palavras.

Ninguém discutirá, está claro, que o original é o original, a cópia a cópia, a tradução a tradução. Mas, na medida do possível, quando as figuras de linguagem, as  imagens,  são  reconhecíveis;  quando  as   palavras  comunicam,  e t êm correspondentes nos dicionários; quando suas combinações fixam símbolos e realidades subjetivas universais, sem projeções esotéricas ou hermetismos pessoais,  uma  tradução pode  ser   tentada, de poeta para poeta, com bons resultados. Mas, só entre poetas. Como no caso de uma “transfusão” de sangue, só possível com sangues do mesmo tipo.                                                                 

Então vale a pena tentar.

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Gladis Deble/RS (Livro de Poemas)

BIOGRAFIA

Se o espelho conservasse as imagens
Eu desfilaria sem roupas
por extensas paisagens
mas o espelho não tem memória.
Não retém o formato dos corpos,
tão pouco devolve o feedback
das histórias vividas.
Da aparência de ontem
nem a sombra,
Na dispersão dos ventos
nenhum oi.
No pequeno infinito
do espelho do meu quarto
cruzo as asas...
Ao descer a cortina
pinto a boca distraída,
Não sei porque fui esquecer
a senha desse acesso.
Só os trevos cultivados
em torno da retina
continuam a gravar
minha biografia.

LÁPIS

Emcaixado confortável
bailando entre meus dedos
grava marcas no papel
este objeto delgado.

Fino lenho preparado
com recheio de grafite
traz a história preservada
torna a arte permanente.

A terna função de escriba
que assumo intuitiva,
não mais me torna cativa
dos sonhos que construí.

Seguindo o velho roteiro
dos sonhos que encoragei
Surgiu o esboço vivo,
no poema me libertei.

Esta pequena varinha
que carrego como fada
vai desenhando o caminho
risca o lápis minha estrada.

A POESIA

A poesia salta da idéia
e cria vida própria.
Sonda lugares fantásticos,
descreve outras paisagens

Percorre distantes países
pensa novas matrizes
dança e reluz
como grão de poeira
projetado na luz.

Descreve trajetória errante
esmiuça sentimentos alheios,
redescobre lugares
que nunca esteve,inventa matizes.
Abraça todos os povos,
faz acordos com o insólito.

A poesia saltitante itinerante
navega na rede,traduz signos gravados
para o mundo ela escapa...
depois de cansado seu corpo de letras,
enroscada na folha como bicho inocente
adormece no livro protegida na capa.

PASTORIL

Apascentei rebanhos nas encostas
conduzi os animais a boa aguada
trouxe ramos de alecrim e flor do campo.
Compuz versos singelos na caverna
junto as cabras espiando o chuvisqueiro
e a neblina pondo a capa na campina.

A luzir a lanterna nos caminhos
rodopiei audaz,desviando o precipício
onde rolam pedras sózinhas no desfiladeiro.

A voz do bosque atraente me chamando
para um encontro mágico na fonte
com água transparente e oração
margeiam musgos, fungos na vertente
santuário verde onde em versos pastoris
esparramei minha canção.

GARATUJAS

Da grafite silenciosa
surgem figuras reais,
rabisco na santa paz
imagens do inconsciente.

O desenho em fragmentos
surge livre no papel
faz deliciosos os momentos
pensando num tal rapaz.

O fundo dessa gravura
de tal forma é texturado
que parece usar recursos
da velha xilogravura.

Rabiscos que crio hoje
tentando fazer desenhos
fugiram pela tangente.
E a imagem que eu queria
desmanchou-se em garatujas
virou pequena poesia.

DAS NAVEGAÇÕES...

Se teu olhar oblíquo descobrisse
a viagem que acontece a revelia
eu nem me atreveria a explicar.

Esfarelo versos na ponta dos dedos
adormeço salpicada de vontades
no afã de te encontrar ...

Acarinho certas verdades
escovo a cabeleira revolta
querendo ancorar conforto.

Desdobrada e solitária
sigo a jornada, embora
navegues em mim

Nunca nós dois atracaremos
nossos barcos para dormir
juntos no mesmo porto.
Fonte:
http://gladisdeblepoesia.blogspot.com/

Gladis Deble

Gladis Cleonice Veloso Deble reside em Bagé, RS. Professora de artes e ativista cultural.

Formada em Educação Artística e Artes Plásticas com Pós-graduação em Arte-educação pela Urcamp-Universidade da Região da Campanha.

Foi presidente da AGA Associação Gaúcha de Arte-educação de 1987 até 1990.

Participou da oficina de Arte dramática do CENARTE da Urcamp.

Realizou projetos para a Secretaria Municipal de Cultura Desporto e Lazer como o 'Passeio Poético por Bagé' destacando os locais históricos da cidade e sua rica arquitetura.

Promoveu atividades culturais com jovens na comunidade da Colônia Nova.

Cultura alemã e gaúcha e características do povo da fronteira,[Uruguai e Brasil] no município de Aceguá.

Peça de teatro 'Nós Aceguá e o Meio Ambiente'.

Publicou seus poemas na Antologia da Poemas a Flor da Pele, lançada em Bento Gonçalves no XVII Congresso Brasileiro de Poesia.

É conselheira do CPERS Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul.

Tem uma página no site;Poemas a flor da pele.ning, e os blogs;www.danacd.blogspot.com www.gladisdeblepoesia.blogspot.com