sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mário Zamataro (A Mania das Palavras)


Ilustração por Carlos Araújo 
(veja nota abaixo)
As palavras têm a mania de querer ultrapassar os dicionários. Não se trata de mania de grandeza, mas, sim, de sentido. Mania de não aceitar uma definição qualquer que as prenda a determinado sentido. O que é natural.

 Cada ser vivo experimenta sensações próprias em suas experiências vividas. Alguns vão além, inventam sensações e imaginam experiências. E dão a este tipo de combinação um poder ainda maior para a significação dos eventos da vida. As significações se encadeiam e se transferem de um ser vivo a outro, o que forma um conjunto infinito...

 As palavras nascem assim, das sensações experimentadas e inventadas. E vão se juntar a outras, interminavelmente, neste mesmo conjunto infinito da vida.

 No subconjunto da poesia, as significações são potencializadas. Ou seja, as palavras ganham potência. Talvez seja este o melhor contexto para a demonstração e compreensão desta mania “incurável” que as palavras têm. É onde a combinação de palavras e significações forma uma trama inesgotável de sensações e de possibilidades de sensações; sugere a invenção de experiências; engendra imagens de matizes antes impossíveis; amplia as dimensões do mundo!

 Viva a mania das palavras!
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Nota:
Essa ilustração - ouvindo e procurando palavras num dicionário - foi criada para um livro didático (Língua Espanhola) da Editora Ática. Até o cachorro participa...

Fontes:

Manuel Bandeira (Poesias Infanto-Juvenis)



Ilustração de Robson Corrêa de Araújo

COTOVIA

- Alô, cotovia! 
 Aonde voaste,
 Por onde andaste,
 Que saudades me deixaste?
 - Andei onde deu o vento.
 Onde foi meu pensamento
 Em sítios, que nunca viste,
 De um país que não existe . . .
 Voltei, te trouxe a alegria.
 - Muito contas, cotovia!
 E que outras terras distantes
 Visitaste? Dize ao triste.
 - Líbia ardente, Cítia fria,
 Europa, França, Bahia . . .

 - E esqueceste Pernambuco, 
 Distraída?

 - Voei ao Recife, no Cais
 Pousei na Rua da Aurora.

 - Aurora da minha vida
 Que os anos não trazem mais!

 - Os anos não, nem os dias,
 Que isso cabe às cotovias.
 Meu bico é bem pequenino
 Para o bem que é deste mundo:
 Se enche com uma gota de água.
 Mas sei torcer o destino,
 Sei no espaço de um segundo
 Limpar o pesar mais fundo.
 Voei ao Recife, e dos longes
 Das distâncias, aonde alcança
 Só a asa da cotovia, 
 - Do mais remoto e perempto
 Dos teus dias de criança
 Te trouxe a extinta esperança,
 Trouxe a perdida alegria. 

A ONDA

A onda
a onda anda
 aonde anda
 a onda?
 a onda ainda
 ainda onda
 ainda anda
 aonde?
 aonde?
 a onda a onda

BELO BELO

 Belo belo minha bela
 Tenho tudo que não quero
 Não tenho nada que quero
 Não quero óculos nem tosse
 Nem obrigação de voto
 Quero quero
 Quero a solidão dos píncaros
 A água da fonte escondida
 A rosa que floresceu
 Sobre a escarpa inacessível
 A luz da primeira estrela
 Piscando no lusco-fusco
 Quero quero
 Quero dar a volta ao mundo
 Só num navio de vela
 Quero rever Pernambuco
 Quero ver Bagdá e Cusco
 Quero quero
 Quero o moreno de Estela
 Quero a brancura de Elisa
 Quero a saliva de Bela
 Quero as sardas de Adalgisa
 Quero quero tanta coisa
 Belo belo
 Mas basta de lero-lero
 Vida noves fora zero. 

ORAÇÃO PARA AVIADORES

Santa Clara, clareai
 Estes ares.
 Dai-nos ventos regulares,
 de feição.
 Estes mares, estes ares
 Clareai.

Santa Clara, dai-nos sol.
 Se baixar a cerração,
 Alumiai
 Meus olhos na cerração.
 Estes montes e horizontes
 Clareai.

Santa Clara, no mau tempo
 Sustentai
 Nossas asas.
 A salvo de árvores, casas,
 E penedos, nossas asas
 Governai.

Santa Clara, clareai.
 Afastai
 Todo risco.
 Por amor de S. Francisco,
 Vosso mestre, nosso pai,
 Santa Clara, todo risco
 Dissipai.

Santa Clara, clareai.

A ESTRELA 

Vi uma estrela tão alta, 
 Vi uma estrela tão fria! 
 Vi uma estrela luzindo 
 Na minha vida vazia. 

 Era uma estrela tão alta! 
 Era uma estrela tão fria! 
 Era uma estrela sozinha 
 Luzindo no fim do dia. 

 Por que da sua distância 
 Para a minha companhia 
 Não baixava aquela estrela? 
 Por que tão alto luzia? 

 E ouvi-a na sombra funda 
 Responder que assim fazia 
 Para dar uma esperança 
 Mais triste ao fim do meu dia. 

D. JANAÍNA 

D. Janaína
 Sereia do mar
 D. Janaína
 De maiô encarnado
 D. Janaína
 Vai se banhar.

 D. Janaína
 Princesa do mar
 D. Janaína
 Tem muitos amores
 É o rei do Congo
 É o rei de Aloanda
 É o sultão-dos-matos
 É S. Salavá!

 Saravá saravá
 D. Janaína
 Rainha do mar.

 D. Janaína
 Princesa do mar
 Dai-me licença
 Pra eu também brincar
 No vosso reinado.

BALÕEZINHOS

Na feira do arrabaldezinho 
 Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor: 
 - "O melhor divertimento para as crianças!" 
 Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres, 
 Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.

No entanto a feira burburinha. 
 Vão chegando as burguesinhas pobres, 
 E as criadas das burguesinhas ricas, 
 E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

Nas bancas de peixe, 
 Nas barraquinhas de cereais, 
 Junto às cestas de hortaliças 
 O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras, 
 Os tomatinhos vermelhos, 
 Nem as frutas, 
 Nem nada.

Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a 
 [única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa: 
 - "O melhor divertimento para as crianças!" 
 E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um 
 [círculo inamovível de desejo e espanto. .

TREM DE FERRO

Café com pão
 Café com pão
 Café com pão

 Virgem Maria que foi isto maquinista?

 Agora sim
 Café com pão

Agora sim
 Café com pão

 Voa, fumaça
 Corre, cerca
 Ai seu foguista
 Bota fogo
 Na fornalha
 Que eu preciso
 Muita força
 Muita força
 Muita força

 Oô..
 Foge, bicho
 Foge, povo
 Passa ponte
 Passa poste
 Passa pato
 Passa boi
 Passa boiada
 Passa galho
 De ingazeira
 Debruçada
 Que vontade
 De cantar!

 Oô...
 Quando me prendero
 No canaviá
 Cada pé de cana
 Era um oficia
 Ôo...
 Menina bonita
 Do vestido verde
 Me dá tua boca
 Pra matá minha sede
 Ôo...
 Vou mimbora voou mimbora
 Não gosto daqui
 Nasci no sertão
 Sou de Ouricuri
 Ôo...

 Vou depressa
 Vou correndo

Vou na toda
 Que só levo
 Pouca gente
 Pouca gente
 Pouca gente…

Fonte:

Antonio Carlos Viana (Tia Darci Ouve Vozes)


 Quando tia Darci voltou a ouvir vozes, eu não era mais tão criança. Ninguém lhe deu atenção. Diziam que era meio pancada só porque era solteirona. Minha mãe dizia que era falta de homem, que, se ela tivesse um ao lado, ia ver coisas bem mais interessantes, não ia ficar prestando atenção em vozes do outro mundo. Mas eu sentia verdade na voz de tia Darci. Quando ela disse que uma nova prova ia começar para a família, todo mundo ficou nervoso, mas preferiu disfarçar, dizendo que espíritos não voltam, se é que há espíritos. Como tia Darci viu que só eu deixava transparecer confiança em suas palavras, se pegou comigo e me chamava sempre que recebia um recado do além. Eu perguntava como era a voz. Ela dizia que não chegava a ser uma voz assim como quando a gente fala. Era uma coisa que se espalhava dentro dela, que ficava azucrinando e só lhe dava descanso quando ela parava tudo o que estivesse fazendo para escutar. Ela vivia fazendo jejuns e tinha certas comidas que não comia nem amarrada, dizia que lhe quebravam as forças. Seu maior sonho era ter as chagas de Cristo nas mãos. Ela lera isso numa revista, um padre italiano sangrava assim e fazia milagres.

 Um dia perguntei a ela o que a voz falava de mim. Ela disse para eu não ter medo do futuro, mas que tomasse cuidado com os inimigos que se fazem de amigos e a gente nem desconfia. Que inimigos? Por enquanto só o menino vizinho, que vivia pegando no meu pé porque no pião eu era imbatível. "Começa por aí", ela falou. Passei a olhar o tal vizinho com olho torto. Ele vinha me chamar para brincar e eu dizia que não, tinha muita tarefa da escola pra fazer, precisava molhar as plantas do quintal, que se morresse uma roseira a culpa ia ser minha... É chato a gente mentir. Ele não se conformava e marcava então pra depois que eu terminasse minhas tarefas. Na verdade, eu não queria mais brincar com ele. Depois que tia Darci adivinhou que alguém ia se queimar com uma panela de água quente e meu irmão se queimou todo no peito, 0 que ela dizia não podia ser desprezado.

 Leonardo, o tal vizinho, veio brincar de pião num fim de tarde que quase terminou no hospital. Ele jogou o pião de um jeito que o bico caiu em cima do meu pé e fez um furo feio. Tia Darci falou que eu precisava levar a sério o que ela dizia, não fosse como os outros, que viviam zombando dela. E viviam mesmo. No almoço, todos à mesa, meu pai era o primeiro a desacatá-la de forma grosseira: "Que é que esse pato está lhe dizendo agora, Darci?". A gente via que ele estava indo além dos limites. "A mim está dizendo que está muito gostoso", respondia ele mesmo, com aquela risada sem controle, de fazer saltar carocinho de arroz por cima da gente. Tia Darci olhava para ele e eu via nos olhos dela um misto de raiva e compaixão. Havia na gaveta do armário dela um livro de são Cipriano, o Livro negro, que minha mãe dizia só servir para fazer mal aos outros. Eu era doido para folheá-lo, mas tia Darci não deixava. Dizia que ali havia remédio para tudo, até para a pessoa não ficar careca. Eu quis saber como era, para aplicar a fórmula, se eu precisasse um dia, mas ela nunca me deixou nem pegar nele.

 De manhã, todos nós ficávamos esperando tia Darci sair do quarto pra perguntar o que ela havia escutado durante a noite. Não era sempre que isso acontecia. Minha mãe só queria 05 números do bicho, era viciada. Tia Darci dizia que os espíritos não gostam de jogo e que, se minha mãe quisesse ganhar, fosse escutar as vozes dela, porque todos temos vozes que zelam por nós, é só querer escutá-las. Corno éramos crianças, ela dizia só coisas boas: eu iria ser escritor, Deo vai ser engenheiro, Caco vai ser um pintor famoso, Lia vai ser doutora, Nenzinho vai ser advogado.

 Num dia de muita chuva, todo mundo dentro de casa, tia Darci levantou a mão direita pedindo silêncio. Olhei pra ver se tinha alguma chaga. Não tinha. Nessas horas, ela se empertigava toda, parecia mais alta do que era, era a mais alta da família, muito magra, o rosto encovado, talvez de tanto sofrer com a descrença dos outros. Tinha os cabelos curtinhos, ela mesma os cortava com uma gilete, era uma pessoa toda sem vaidade. De longe, se estivesse de calça comprida, qualquer um pensava que era um rapazinho. Acho que o nome moldou seu corpo, porque Darci tanto podia ser nome de homem ou de mulher. Só quando falava, aparecia a sua feminilidade, uma voz doce e bonita, que puxava os cânticos nas novenas de junho.

 Ficamos então em silêncio, e tia Darci foi se empertigando toda, foi ficando distante de todos nós, seus olhos deixavam transparecer que não era coisa boa 0 que ela estava ouvindo. O silêncio era total na sala e dali a pouco ela veio voltando lentamente, sacudiu a cabeça e disse: "Coisas graves vão acontecer nesta casa". Minha mãe disse logo: "Por que você não pega só as boas?". "Não depende de mim", ela respondeu, e saiu da sala. Depois de ouvir as tais vozes, tinha de tomar um banho de sal grosso para se livrar das energias negativas que ficavam em seu corpo. Se não tomasse, caía numa prostração feia que só o doutor conseguia curar com muita conversa no quarto escuro e bolinhas de homeopatia. Ela dizia que só se dava bem com elas, os outros remédios a fariam perder a capacidade de ouvir. Foi assim com um antibiótico que tomou para um ferimento na perna. Passou meses sem ouvir vozes. Da família, era a mais estudada, fora até o Normal, mas não se formou, pois começou a ouvir as tais vozes ainda no primeiro ano e isso atrapalhou tudo. Espalharam sua fama de feiticeira e ela foi ficando malvista por todos, até que desistiu da escola. Podia até ter vivido da sua mediunidade, mas nunca quis, dizia que não se cobrava pelo que era dado de graça por Deus. Por Deus?, retrucava minha mãe, sempre incrédula.

 Naquele dia, uma das coisas que tia Darci falou quando voltou do banho foi que meu pai deveria tomar cuidado. Devia adiar aquela viagem que ele ia fazer em outubro. Se ele fosse, não voltaria. Falou direto, acho que de tanta raiva que tinha dele, já que os dois viviam se pegando por qualquer tolice. E que a voz tinha dito que dele só restaria a malinha de ferramentas. Melhor não viajar. Pela primeira vez minha mãe deu ouvidos a tia Darci e fez tudo pra meu pai deixar aquela viagem pra depois, quando os espíritos soprassem tempo bom. Ele disse que, se fosse esperar pelos espíritos, a gente morria de fome. Precisava ir ao Rio resolver problemas de um emprego que tinha largado, trabalhar mais um pouco pra juntar dinheiro e depois voltava de vez pra morar com a gente e abrir uma torrefação de café. O olhar de tia Darci em cima dele parecia de pena.

 A gente estava almoçando quando o assunto voltou à baila. Meu pai, com seu jeito ríspido, falou: "Agora mesmo é que eu vou. Quero ver se essas vozes estão falando a verdade". Achei que ele não devia ter falado assim, tia Darci já havia acertado comigo no caso de Leonardo. A malinha de ferramentas no canto da sala me pareceu sinistra. Nada fez meu pai desistir da viagem.

 Era outubro, bem no começo, ele nem se despediu da gente, só vi a porta bater e minha mãe ficar chorando na sala. Ela o amava muito, mesmo sendo ele um pobretão, como ela mesma dizia. Passou a primeira semana e nenhuma notícia dele. Passou a segunda, e a mesma coisa. A família começou a se inquietar. Como saber o que tinha acontecido? Tia Darci, mais calada do que nunca.

 Como ela havia previsto, meu pai nunca mais voltou. Só errou quanto à maleta de ferramentas, que se perdeu para sempre. Assim que soube da notícia, tia Darci sumiu de casa, e só muitos anos depois é que descobrimos seu paradeiro, quando já estávamos crescidos. Ela estava morando num asilo, numa cidade do interior. Fui visitá-la. Parecia bem tratada, de banho tomado. Engordara muito. Ali sentada na varanda, parecia um velho índio do Oeste, com uma trança branca descendo pelo ombro esquerdo. Não a reconheci. A imagem que me ficara era a de uma mulher seca, de cabelo cortado bem curtinho. Não deu a menor bola para. mim, apenas sorriu quando falei quem eu era. Minha voz quase não saía para dizer que nossa vida tinha sido muito difícil, que agora estava tudo bem. Que minha mãe tinha acertado na loteria e que todo mundo tinha se formado, mas em carreiras diferentes das que ela predissera. Num determinado momento, pensei que ela ia falar, apenas movimentou os lábios sem conseguir articular nada. Só fez esboçar um sorriso. Fiquei pensando se alguma voz lhe teria dito que ela acabaria assim, em silêncio total. Me despedi e, pela primeira vez, uma voz me disse que eu nunca mais a veria. Morreu meses depois. Fui lá pegar seus pertences, entre eles o Livro negro de são Cipriano. Pregada numa das páginas, uma foto de meu pai de paletó branco, ainda bem jovem e bonito, e em outra a de minha mãe, com os olhos furados.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 593)


Uma Trova de Ademar 

Saudade, dor cruciante 
que nos maltrata demais... 
Palavra sempre constante 
nas Trovas que a gente faz! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

As paixões são como os ventos 
com efeitos especiais, 
que surgem serenos, lentos, 
depois viram vendavais! 
–Almira Guaracy Rebêlo/MG– 

Uma Trova Potiguar 

Seca: quanta desventura
enche a terra de tristeza!
O homem sofre, mas a cura
vem da própria natureza.
–Mara Melinni/RN– 

Uma Trova Premiada 

2012  -  P/ Uma Vida Melhor/SP 
Tema  -  TREM  -  1º Lugar 

Temperança é uma virtude,
que todos deviam ter!
Tão rara na juventude!
Tão necessária ao viver! 
–Delcy Canalles/RS– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Sobre os rochedos medonhos 
dos mares da minha vida, 
foi o batel dos meus sonhos 
que se quebrou na batida!... 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

Uma Poesia 

Viver de fazer poesia 
sempre foi minha rotina, 
acho que herdei do meu “mano” 
esta sacrossanta sina; 
pois quando o verso sai fraco, 
“Macedo” pega o bisaco, 
desse do céu e me ensina... 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia

AUSÊNCIA DE COR
-Delcy R. Canalles/RS-

É triste o inverno do amor!
As emoções vão-se embora
e o mundo, quase sem cor,
desfalece a cada hora!

Quando chega o desamor
que, às vezes, vem sem demora,
o homem, que é só langor,
fica triste, sofre e chora!

E a Primavera florida,
querendo saudar a vida,
desabrocha em lindas flores!

Mas não basta a natureza,
mostrar-se em sua beleza,
se, na alma, há ausência de cores!

(Menção honrosa Estadual - tema: Cor - III Jogos Florais de Caxias do Sul, 2012)

Fontes:
As mensagens poéticas são elaboradas por Ademar Macedo.
Exceto este último soneto, que inclui audaciosamente (sem consultar o Ademar, pelo horário avançado), adicionado para que o leitor não se sinta desfalcado do conteúdo total das Mensagens Poéticas.

42º Jogos Florais Internacionais Nossa Senhora do Carmo (Resultado Final)


QUADRAS

1º Prémio: Maria de Fátima Soares de Oliveira = Juiz de Fora - MG

2º Prémio: Elen de Novais Felix = Rio de Janeiro – RJ

3º Prémio: Domitilla Borges Beltrame = São Paulo – SP

MENÇÕES HONROSAS:

António Isidoro Viegas Cavaco = Faro, Portugal

Argemira Fernandes Marcondes = Taubaté - SP

Ernesto Silva = Aljezur, Portugal

Florinda da Conceição Dias B. Almeida = Porto, Portugal

Francisca Coelho Graça, Gambelas = Faro, Portugal

Glória Marreiros = Portimão, Portugal

Hermoclydes S. Franco = Rio de Janeiro – RJ

Izo Goldman = São Paulo - SP

João Francisco da Silva = Tiago dos Velhos, Portugal

José Gabriel Gonçalves = Carcavelos, Portugal

Júlio Silva Máximo Viegas = Queijas, Portugal

Maria Amélia Brandão de Azevedo = Estoril, Portugal

Maria José dos Santos C. Afonso = Faro, Portugal

Maria de Lourdes Agapito da Silva = Lisboa, Portugal

Maria de Lourdes T. Amorim = Lisboa, Portugal

Marina Gomes S. Valente = Bragança Paulista – SP

Renato Manuel Bravo Valdeiro = Estremoz, Portugal

Victor Manuel Capela Batista = Barreiro, Portugal

LÍRICA

1º Prémio: ...

2º Prémio: Maria Romana Costa Lopes Rosa = Faro, Portugal

3º Prémio: Donzília da Conceição R. Martins = Paredes, Portugal

MENÇÕES HONROSAS:

André Telucazu Kondo = Caraguatatuba – SP

Therezinha de Jesus Lopes = Juiz de Fora - MG

SONETO

1º Prémio: Maria Madalena Ferreira = Magé - RJ

2º Prémio: Glória Marreiros = Portimão, Portugal

3º Prémio: Alba Helena Corrêa = Niterói - RJ

MENÇÕES HONROSAS:

António Isidoro Viegas Cavaco = Faro, Portugal

Dolores Guerreiro Costa = Portimão, Portugal

Judite da Conceição Nunes Higino = Portimão, Portugal

Manuela Odete Barata das Neves = Faro, Portugal

Maria Aliete Viegas Cavaco Penha = Faro, Portugal

Maria Amélia Brandão de Azevedo = Estoril, Portugal

Renata Paccola = São Paulo – SP

GLOSA

1º Prémio: ...

2º Prémio: Maria Aliete Viegas Cavaco Penha = Faro, Portugal

3º Prémio: Maria Ruth de Brito Neto = Lisboa, Portugal

MENÇÕES HONROSAS

Alvaro Manuel Viegas Cavaco = Loulé, Portugal

António Isidoro Viegas Cavaco = Faro, Portugal

Manuel Bonfim = Olhão, Portugal

PROSA

1º Prémio: Maria João Lopes Gaspar Oliveira = Coimbra, Portugal

2º Prémio: Gabriel de Sousa = Lisboa, Portugal

3º Prémio: Judite da Conceição Nunes Higino = Portimão, Portugal

MENÇÕES HONROSAS:

Donzília da Conceição R. Martins = Paredes, Portugal

Ernesto Silva = Aljezur, Portugal

Glória Marreiros = Portimão, Portugal

Maria Hortense Jesus C. Maria = Fuseta, Portugal

Maria José dos Santos C. Afonso = Faro, Portugal

- Prémio Casa Museu Professora Maria José Fraqueza

Donzília da Conceição R. Martins = Paredes, Portugal

- Prémio Especial Nossa Senhora do Carmo

Judite da Conceição Nunes Higino = Portimão, Portugal

Maria Amélia Brandão de Azevedo = Estoril, Portugal

Maria Teresa Aguilar = Aljezur, Portugal

- Prêmio Jovem Autor

Yvette Batalha Leite, São Paulo - SP

Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Silvia Araújo Motta (Caderno de Trovas)



Que pena ver passarinhos, 
em seu lar, engaiolados... 
Cantam SAUDADES dos ninhos 
dos áureos tempos passados. 

Nunca mais vou te esquecer! 
Perfumaste meu CAMINHO, 
pois, fizeste renascer 
a flor do lençol de linho. 

Naquele LENÇOL de linho 
ficou o perfume do amor, 
das carícias, do carinho, 
da saudade, flor da dor. 

Se você não posso ter 
guardarei o seu PERFUME 
na flor que posso colher 
pra não perder o costume. 

A SAUDADE perfumada 
na estrada que não conheço 
vem da flor apaixonada 
dos lençóis que não esqueço. 

Na estrada que já conheço 
tem perfume de SAUDADE, 
pois teu amor não mereço: 
-Só uma sincera amizade. 

A SAUDADE de um amor 
sempre vem e nos tira a paz 
e o bichinho desta dor 
faz coçar, ferida traz.

Sei que a SAUDADE não mata, 
mas sei do que ela é capaz,
traz dor quando o amor desata 
e ao roer, ferida faz. 

Sei que a SAUDADE incomoda 
e até parece infinita 
mas quando o amor volta, 
a roda gira feliz, é bendita. 

SAUDADE traz à presença 
alguém que já foi embora, 
tristeza leva à descrença, 
por isso, nossa alma chora. 

Quando a tristeza me invade 
ponho o sonho no barquinho 
canto o fado da SAUDADE 
e espero o mar de carinho. 

Saudade não tem idade... 
na criança ou mocidade, 
só guarda felicidade 
e vem na MATURIDADE. 

Temos muito que fazer 
para conquistar o amor... 
mas difícil é concorrer 
com quem só tem DESAMOR. 

Só quem teve bons momentos, 
diz o adágio popular, 
tem SAUDADE e, em pensamentos, 
sofre sem poder falar. 

No teu JARDIM do prazer 
plantei sementes de amor, 
mas hoje quero esquecer 
a saudade até da flor. 

Palavras joguei ao VENTO... 
Estão a chorar no espaço! 
-Vou buscá-las! Não agüento 
ficar sem laço e abraço! 

O AMOR põe sonhos reais 
nas asas inquebrantáveis 
não se preocupa com os ais, 
nem com rimas mensuráveis. 

O café com RAPADURA
tem dos médicos receita, 
porque tristeza ele cura 
se é dado à pessoa eleita. 

Eu quis tanto ser feliz... 
que uso máscara de Rei... 
mas o CARNAVAL me diz, 
que em mim, valor eu não dei. 

O mundo dá tantas voltas, 
é pontual numa esfera; 
No verão não tem escoltas, 
traz SAUDADES da galera. 

Outono do Amor? SAUDADE: 
dos prazeres, da delícias... 
Inverno? Infelicidade: 
só por falta das carícias, 

Vivemos juntos a aliança 
de um perfeito CASAMENTO, 
mas nasceu outra criança 
só da amante...Não agüento! 

Autocrítica me alcança, 
bom senso, no pensamento: 
-SAUDADE sem esperança, 
já não permite lamento 

Vou viver sem meu amor, 
porque agora só me resta, 
esperar passar a dor 
que sofri “naquela festa.” 

Trago a lembrança caiada
que deu-me a paz esperada,
mas no SEPULCRO, adornada
a alma vive atormentada.

A esperança chega e canta 
o que o amor quer ouvir, 
na paixão que faz-de-conta 
faz o CORAÇÃO sorrir. 

Toda FLOR marca a presença 
de uma ternura sem par 
e carrega a antiga crença 
do amor que se quer doar. 

A solidão passo-a-passo 
vai deixando-me tristonho... 
já não sei mais o que faço 
para ativar o meu SONHO. 

Ninguém sabe quem tu és, 
nem que te faço RAINHA, 
quando vou aos Cabarés 
por curto tempo...só minha. 

As FLORES da nossa casa 
murcharam, sem primazia; 
a saudade vem e me arrasa 
ao ver a jarra vazia. 

As perdidas ESPERANÇAS 
renascem a cada dia 
porque recolho as lembranças 
e delas faço poesia. 

Eu sinto com tua voz, 
a falar aos meus OUVIDOS, 
que o amor que existe em nós 
já tem frutos conhecidos. 

Está vendo, meu amor, 
aquela ESTRELA a piscar? 
Ela espanta minha dor 
porque brilha em teu olhar.

Fonte:
MOTTA, Sílvia Araújo. A Trova e o Trovador. 2ª ed. Belo Horizonte, MG: 2010.

Francisco José Pessoa /CE (Lamento da Serra)


Eu sou a SERRA  mãe das aroeiras
Você que passa e nem sequer me vê
Se delicia com a cor do ipê
E com o cheiro vindo de ingazeiras
Com o balançar alegre das palmeiras
Com o chão molhado que me faz mais terra
Foi nosso Deus quem fez e Ele não erra
Um campo vasto de belas gardênias
De cedro angicos Senhor,  peço vênias
Ensine o homem replantar a SERRA.

Vê-se a queimada fogo desumano,
Matando o solo me tornando infértil
Que seja ela o último projétil
Que com furor me atinge todo ano
E vem a chuva pro meu desengano
Pois depois dela vem a construção
De moradia nobre em profusão
Que na justiça faz seus desafio
Enquanto no meu leito os velhos rios
Mudam tristonhos sua direção.

Eu sou a SERRA, outrora verdejante
Que me adornava com pés de café
Nas serranias de Baturité
Foi num passado tempo  não distante
Que meu pedido ecoe retumbante
Cada serrano não se faça omisso
Que todos tenham como compromisso
Salvaguardar meus animais a flora
A cachoeira que sem água chora
A lenta morte deste meu Maciço.

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A Serra de Baturité é uma formação do relevo cearense, também conhecida como Maciço de Baturité, localizada no centro-norte do Ceará que engloba 13 municípios. Baturité tem uma área verde de 32,9 mil hectares protegida por lei. A pluviosidade é uma das mais altas do Estado (1.088 milímetros por ano).


Inúmeras trilhas e cachoeiras como a do Frade, no Sítio da Volta, Poço das Moças e a do Jordão. 


 Do alto do mirante no Pico Alto, a uma altitude de 1.115m, é possível contemplar vales, montanhas, rios e barragens, e um por do sol fabuloso.


O ecossistema inclui as plantas nativas (eucalipto, pinus, ingá e flores diferentes) e animais (tucanos, curiosidades, cobras e anfíbios) do Atlântico.

Fontes:
Poema enviado pelo autor.
Informações sobre a Serra de Baturité =http://www.hoteis-em-fortaleza.com/serra-de-baturité

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 592)


 Uma Trova de Ademar 

Fé, palavra pequenina, 
que possui forças tamanhas. 
Quem a tem, se determina 
até a mover montanhas! 
–Ademar Macedo/RN– 

 Uma Trova Nacional 

É contrastante a ironia,
nesta verdade contida:
lindo o entardecer do dia,
triste o entardecer da vida! 
–Gislaine Canalles/SC– 

 Uma Trova Potiguar 

A roça da minha vida 
com muito amor adubei; 
e a safra dela colhida 
com mais amor replantei. 
–Tarcísio Fernandes/RN– 

 Uma Trova Premiada 

2011  -  CTS-Caicó/RN 
Tema  -  PEGADA  -  7º Lugar 

Ela chega e me incendeia, 
mas é ventura fugaz, 
como pegadas na areia 
que a onda vem e desfaz. 
–João Costa/RJ– 

 ...E Suas Trovas Ficaram 

Quebrado o grilhão do agravo 
o júbilo então me invade. 
Porém continuo escravo: 
escravo da liberdade. 
–Alfredo Valadares/MG– 

 Uma Poesia 

Com toda a força do peito, 
quero soltar minha voz 
pelos quadrantes do mundo, 
em verso firme e veloz 
que percorra, num só dia, 
o rio da poesia, 
da nascente até a foz. 
–José Lucas de Barros/RN– 

 Soneto do Dia 

M U T A Ç Õ E S. 
–Dorothy Jansson Moretti/SP– 

Longe, no céu tão diáfano e sereno,
as nuvens brincam de fazer figuras;
traçam imagens, erguem esculturas,
vivo painel sobre o horizonte ameno. 

Um cavaleiro em sólida armadura,
na torre de um castelo aguarda o aceno;
além, um monstro a baforar veneno,
aqui, mansa ovelhinha toda alvura. 

Tal como as nuvens o destino é incerto,
em nossa vida as ilusões se agitam,
juntas, no tempo, às horas de amargura. 

Vento que insufla a areia no deserto,
mas cessa, enfim.. e em nossa alma palpitam
os anseios de paz e de ventura.